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18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/17 ARQUEOLOGIA AULA 4 Prof.ª Ana Luíza Berredo 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/17 CONVERSA INICIAL O que é patrimônio? Quem define o que é patrimônio? Existem legislações para isso? Como se acha um sítio arqueológico e o que deve ser feito em relação a ele? Essas são apenas algumas das principais perguntas que são feitas aos arqueólogos e que incitam a curiosidade das pessoas. Nesta aula, abordaremos a cronologia das medidas que proporcionaram à arqueologia uma atuação mais ampla, normatizada e ancorada na legislação brasileira. Serão apresentadas as primeiras leis de proteção ao patrimônio que são datadas do início do século XX até a Constituição de 1988. TEMA 1 – O QUE É PATRIMÔNIO? “Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos preservar: são os monumentos, as obras de arte, as festas, músicas, danças, os folguedos, as comidas, os saberes, os fazeres e os falares. Tudo enfim que produzimos com as mãos, as ideias e a fantasia” (Fonseca, 2001, p. 69). A declaração de Cecília Fonseca abre o tema Patrimônio, em resumo, significa um conjunto de bens que tem relevância tanto em sua expressão material quanto imaterial. De acordo com José Gonçalves (2005), o patrimônio deve ter uma ligação com a população de tal forma que ultrapasse a sua visitação ou visibilidade. Para esse autor, o patrimônio deve ter: ressonância, materialidade e subjetividade. Quadro 1 – Patrimônio, para Gonçalves (2005) Ressonância Materialidade Subjetividade Diálogo ou interlocução entre os produtores do saber e as instâncias que os Seu valor está em transformar o referido bem na noção antropológica da cultura, a saber “em favor de noções mais abstratas, Entendida como a relação entre o patrimônio e a autoconsciência individual e coletiva, ou seja, “pressupõe sempre alguma forma específica de 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/17 protegem (Iphan, Estado, Museus) tais como estrutura social, sistema simbólico etc. (Gonçalves, 2005, p. 21) continuidade entre passado, presente e futuro”. (Gonçalves, 2005, p. 31) Fonte: elaborado com base em Gonçalves, 2005. 1.1 PATRIMÔNIO MATERIAL O patrimônio material consiste em construções materiais, como prédios, monumentos, obras de arte ou a própria paisagem, que podem ser visualizados em diversas áreas do globo terrestre por onde tenha a incidência humana. As construções arquitetônicas modernas são exemplos de um patrimônio material, como é o caso do Teatro da Paz, localizado em Belém-PA, símbolo de uma época em que a exploração da borracha na Amazônia estava no seu auge, o que acarretou investimentos à cidade. Figura 1 - Teatro da Paz em Belém, Pará: monumento arquitetônico e cultural, construído no século XIX, símbolo do período áureo da exploração da borracha na Amazônia Créditos: Juerginho/Shutterstock. 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/17 Outro exemplo de patrimônio material é o monumento em homenagem à Zumbi dos Palmares, personagem histórico símbolo da resistência quilombola. O monumento está instalado na região da Praça XI, no centro do Rio de Janeiro, e representa uma marca da luta antirracista em uma área conhecida como Pequena África, que abriga parte significativa da histórica afro-brasileira. Figura 2 – Monumento Zumbi dos Palmares: estátua em homenagem à Zumbi dos Palmares, líder brasileiro, símbolo da resistência negra e quilombola Créditos: A.Paes/Shutterstock. 1.2 PATRIMÔNIO IMATERIAL O patrimônio imaterial corresponde a saberes, crenças, usos, costumes, danças, expressões e manifestações culturais que fazem parte da vida das pessoas. Ele se transforma com o tempo e é mantido por meio da memória e da oralidade (Brayner, 2007). Um dos exemplos de patrimônio imaterial é a literatura de cordel, que surgiu entre os povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartaginenses, saxões e chegou à Península Ibérica no 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/17 século XVI. Os portugueses foram os responsáveis por desembarcar essa prática cultural no Brasil, mais especificamente em Salvador, durante a colonização. Inserido em nossa cultura, no século XIX, tornou-se uma forma de expressão da cultura brasileira, trazendo contribuições da cultura africana, indígena, europeia e árabe, entoando as tradições orais, a prosa e a poesia (Sesc Rio, 2020). Figura 3 – Literatura de Cordel é um gênero literário que recebeu o título de patrimônio imaterial brasileiro em 2018 Créditos: Ramonparaiba/Shutterstock. Outro exemplo de patrimônio imaterial pode ser representado pela culinária e pelos produtos derivados de matérias-primas brasileiras, como é o caso da Cajuína, uma bebida feita do suco de caju e que agrega práticas tradicionais e socioculturais de uma comunidade. Ela é considerada um patrimônio imaterial do estado do Piauí desde 2014. 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/17 Figura 4 – Cajuína, bebida do estado do Piauí reconhecida como patrimônio imaterial e cultural brasileiro por simbolizar a hospitalidade e os laços existentes entre as famílias produtoras (Iphan, 2014) Créditos: Helissa Grundemann/Shutterstock. TEMA 2 – LEIS DE PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO E SEUS PROCESSOS HISTÓRICOS As leis de proteção do patrimônio arqueológico estão intimamente ligadas a processos históricos e aos governantes que promulgam tais legislações. O órgão que regulamenta as questões patrimoniais no Brasil atualmente é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que foi criado como uma vertente do governo federal para a proteção de todo o patrimônio brasileiro. Suas origens remontam à primeira metade do século XX. 2.1 PRIMEIROS DECRETOS 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/17 O primeiro Decreto-Lei foi promulgado pelo governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1934), intitulado Decreto n. 24.735, de 14 de julho de 1934 (Brasil, 1934), correspondente às origens do Iphan, que na época recebeu a alcunha de Inspetoria de Monumentos Nacionais (IMN) e que teve como suas principais funções a proteção e manutenção do patrimônio histórico nacional. De acordo com Pereira (2017), um pouco antes de estabelecer a ditadura do Estado Novo, a Inspetoria foi extinta por meio da Lei n. 378, de 13 de janeiro de 1937, quando foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), vinculado ao Ministério da Educação e Saúde Pública. 2.2 REGULAMENTAÇÃO DO SPHAN Com base no Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), Vargas definiu o patrimônio histórico e artístico e estabeleceu as linhas gerais sobre tombamento (Brasil, 1937). Nesse movimento, obras de arte foram tombadas, além de instituições religiosas barrocas como as presentes no estado de Minas Gerais (Pereira, 2017). O patrimônio histórico e artístico nacional é constituído pelo conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da histórica do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (Brasil, 1937) Figura 5 – Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais: um dos primeiros bens tombados individualmente em âmbito nacional em 1938, após o Decreto 25/1937 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/17 Créditos: Ukrolenochka/Shutterstock. De acordo com Fausto (2012), após essa lei foi instituída uma das primeiras legislações modernas sobre a proteção do patrimônio (não apenas arqueológico), que foi influenciada pelas discussões ocorridas durante a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Cabe destacar que o decreto é baseado em um contexto ditatorial,populista de Vargas em que interessava vangloriar o patrimônio brasileiro, inflamar o nacionalismo e afirmar a identidade nacional. TEMA 3 – LEI DA ARQUEOLOGIA Na década de 1960, o presidente do Brasil era Jânio Quadros, conhecido por ser carismático e ter um apelo favorável à população. Ele investiu no populismo e nacionalismo, de modo que criou uma lei específica para a proteção dos bens arqueológicos. 3.1 LEI N. 3.924/1961 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/17 Segundo Garcia (2005), a Lei n. 3.924, de 26 de julho de 1961 (Brasil, 1961), correspondia à tentativa do governo de promover a proteção dos bens arqueológicos, ainda que inspirada no tom nacionalista, para a construção de uma cultura brasileira na qual imperaria a defesa dos interesses do povo. Cabe destacar que, de acordo com Pereira (2017), essa lei refere-se apenas aos bens de origem pré-histórica, uma vez que os estudos sobre a arqueologia histórica ainda eram incipientes. Conforme observado no art. 2.º dessa Lei, consideram-se monumentos arqueológicos ou pré- históricos: As jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos da cultura dos paleoameríndios do Brasil, tais como sambaquis, montes artificiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias, grutas, lapas e abrigos sob rocha, sítios-cemitérios, aldeamentos, inscrições rupestres ou locais com sulcos de polimentos de utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios (Brasil, 1961) Figura 6 – Rocha marcada com sulcos de polimento, também conhecida como oficinas líticas, em um sambaqui do litoral brasileiro 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/17 Créditos: Onemorefootage/Shutterstock. Em virtude da proteção dos materiais pré-coloniais, essa lei também ficou conhecida como Lei do Sambaqui, sendo referenciada como um grande marco legal da arqueologia brasileira cujo pesquisador Luiz de Castro Faria foi um dos seus grandes entusiastas. 3.2 LUIZ DE CASTRO FARIA (1913-2004) Castro Faria foi antropólogo, pesquisador do Museu Nacional do Rio de Janeiro, além de gestor público engajado nos debates sobre o valor científico dos monumentos arqueológicos e a importância de uma proteção específica para sítios, jazidas e inscrições rupestres. De acordo com Lucieni Simão (2009), ele fazia parte de um grupo de cientistas e intelectuais preocupados em conter a destruição dos sítios arqueológicos e em pesquisar as características da cultura material desses povos. Simão (2009) chama atenção para a aproximação entre Castro Faria, Rodrigo Melo Franco de Andrade, diretor do Sphan e o modernista Mário de Andrade (1893-1945), diretor do Departamento de Cultura do município de São Paulo. Esse encontro possibilitou a aproximação e o diálogo entre essas personalidades cujo interesse comum era preservar os bens arqueológicos. Cabe destacar que Mário de Andrade tornou-se um dos principais articuladores da Agência Nacional de Proteção do Patrimônio. Figura 7 – Luiz de Castro Faria (Arquivo de História da Ciência – MAST/MCT) 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/17 Créditos: CC/PD. TEMA 4 – LICENCIAMENTO AMBIENTAL E CONSTITUIÇÃO DE 1988 A questão ambiental começou a ser melhor observada a contar da década de 1970, quando ocorreu a Assembleia Geral das Nações Unidas, também conhecida como Conferência de Estocolmo, na qual foi criado o Dia Mundial do Meio Ambiente. Nesse evento, foi assinada uma declaração cujo objetivo era alertar a população e os governantes sobre a importância da preservação dos recursos naturais e a necessidade de leis que garantissem um desenvolvimento sustentável (Santos, 2022). O aumento das discussões ambientais motivou a criação do licenciamento ambiental como uma forma de regulamentação de atividades que atinjam diretamente o meio ambiente. O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo realizado por órgão ambiental competente, que pode atuar no âmbito federal, estadual ou municipal e que atua para licenciar a instalação, ampliação, modificação e operação de atividades e empreendimentos que utilizam recursos naturais, ou que sejam potencialmente poluidores ou que possam causar degradação ambiental (Pereira, 2017, p. 108) 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/17 4.1 RESOLUÇÃO N. 001, DE 23 DE JANEIRO DE 1986 A Resolução n. 001, de 23 de janeiro de 1986, foi criada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, e normatizou as etapas e os procedimentos em que uma obra era enquadrada no licenciamento ambiental. O licenciamento é um dos instrumentos de gestão ambiental estabelecido pela Lei federal n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, também conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Fepam, 2017). O licenciamento ambiental visa minimizar danos ao meio ambiente e prever ações em caso de desastres relacionados à implantação de determinadas atividades como mineração, construção de rodovias e estradas. Além disso, para que essa proteção se efetive, estabeleceu-se que nos licenciamentos ambientais seria produzida uma série de estudos de fauna, botânica, geologia, arqueologia e socioeconômicos, que são enviados aos órgãos envolvidos no licenciamento ambiental: Iphan, Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e Fundação Palmares, que emitem licenças para a instalação da obra. São implantados Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (Rima) ou o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) (Pereira, 2017, p. 109) Além da resolução sobre o licenciamento ambiental, o principal instrumento da regulamentação das normas do nosso país surgiu no final da década de 1980. 4.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 A Constituição de 1988 foi promulgada no processo de redemocratização do Brasil, após o período da Ditadura Militar, e assegurou uma maior proteção aos bens arqueológicos, incluindo-os como pertencentes à nação. “De modo que todo patrimônio brasileiro deva ser acessado e seu usufruto pela população do país deve ser permitido sem restrições ou cerceamento de seu acesso” (Pereira, 2015). O art. 216 da Constituição de 1988 promulga a definição de patrimônio cultural: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (Pereira, 2017, p. 113) 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/17 O parágrafo 1.º desse artigo ainda ressalta que o poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. No parágrafo 5.º, ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos (Brasil, 1988a). Nesse sentido, a Constituição de 1988 foi fundamental para fortalecer as definições de patrimônio e garantir sua preservação, prevendo até punições para aqueles que provocarem atentados contra o patrimônio. TEMA 5 – ATENTADOS AO PATRIMÔNIO E REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE ARQUEÓLOGO Os relatos de danos ao patrimônio público são comuns, especialmente em razão de uma forma equivocada de se pensar patrimônio público, como algo que está dissociado de nós. Essa forma de pensar leva muitas vezes à depredação de bens materiais e imateriais e, de acordo com a Constituição,podem ser alvo de punições. 5.1 CRIMES AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO A destruição, o tráfico ou a venda de material arqueológico são considerados crimes no Brasil, conforme atesta o art. 216, parágrafo 4.º da Constituição de 1988, em que se identifica que os danos e as ameaças ao patrimônio cultural serão punidos na forma da lei. As punições acarretadas por infrações ao patrimônio cultural são importantes para alertar e mostrar que é direito e dever da comunidade cuidar dos bens públicos e se apropriar deles, de modo que se tenha familiaridade e proximidade com o patrimônio. Tal medida visa aproximar a comunidade e também torná-la responsável, incluindo-a como fiscalizadora dos bens. Isso faz-se necessário, por exemplo, em uma situação em que é identificada a comercialização de bens arqueológicos, na qual a população pode e deve intervir, avisando às autoridades, como o Iphan, do uso indevido de patrimônio da União. A depredação do patrimônio público pode acarretar aos envolvidos punições penais conforme indica o Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, art. 163: destruir, inutilizar 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/17 ou deteriorar coisa alheia, acarreta em pena de detenção, de um a seis meses, ou multa (Brasil, 1940): “III – contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos” (Redação dada pela Lei n. 13.531/2017). 5.2 REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE ARQUEÓLOGO A luta pela regulamentação da profissão começou em 1987, ou seja, durou mais de 30 anos, e teve no artigo “A regulamentação da profissão de arqueólogo no Brasil: histórico de uma luta que ainda não acabou”, de Tânia Andrade Lima (2000), um dos grandes manifestos pela defesa da profissão. A regulamentação da profissão ocorreu após diversas tentativas e propostas ao Senado Federal, que promulgou no dia 18 de abril de 2018 a Lei 13.653, que “Dispõe sobre a regulamentação da profissão de arqueólogo e dá outras providências”. Nas disposições do capítulo II, art. 2.º, cabe destacar: O exercício da profissão de arqueólogo é privativo: aos diplomados em bacharelado em arqueologia por escolas oficiais; aos diplomados em arqueologia por escolas estrangeiras reconhecidas pelas leis do país de origem; aos pós-graduados por escolas ou cursos devidamente reconhecidos pelo Ministério da Educação, com área de concentração em arqueologia, com dissertação de mestrado ou tese de doutorado sobre arqueologia e com pelo menos dois anos consecutivos de atividades científicas próprias do campo profissional da arqueologia, devidamente comprovadas (Brasil, 2018) No art. 3.º estão listadas as atribuições do arqueólogo: I – Planejar, organizar, administrar, dirigir e supervisionar as atividades de pesquisa arqueológica; II – Identificar, registrar, prospectar e escavar sítios arqueológicos, bem como proceder ao seu levantamento; III – Executar serviços de análise, classificação, interpretação e informação científicas de interesse arqueológico; IV – Zelar pelo bom cumprimento da legislação que trata das atividades de arqueologia no país; [...] IX – Orientar a realização, na área de arqueologia, de seminários, colóquios, concursos e exposições de âmbito nacional ou internacional, fazendo-se neles representar (Brasil, 2018) NA PRÁTICA 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/17 O conteúdo desta aula é bastante específico sobre a legislação que rege e ampara o trabalho a ser desenvolvido nas pesquisas arqueológicas. À primeira vista, o campo legislativo pode parecer distante da arqueologia, mas são assuntos que estão completamente imbricados e conectados já que afetam direta ou indiretamente a população, em se tratando especialmente da preservação do patrimônio cultural. Recomendamos fazer o exercício de escolher um patrimônio cultural de sua cidade, justificar sua escolha e contar a história de quando e por que esse bem recebeu esse título. FINALIZANDO Nesta aula, aprendemos que a legislação de proteção dos bens públicos soma positivamente para educar a comunidade sobre o patrimônio e aproximá-la desse contexto. Além disso, as leis e os decretos que foram instituídos no século XX determinaram a forma como é tratado o patrimônio e como devem atuar os profissionais que trabalham para a sua preservação. A determinação do que é ou não patrimônio cabe ao julgamento de uma instância superior, que é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas é possível que a população se mobilize e faça um pedido a essa instituição para tornar um patrimônio qualquer paisagem, expressão cultural ou bem material que seja de interesse da sua comunidade, com vistas a que ela possa se apropriar dos bens para melhor preservá-los. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988a. _____. Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Rio de Janeiro, 6 dez. 1937. _____. Decreto-Lei 24.735, de 12 de julho de 1934. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 14 jul. 1940. _____. Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. 18/04/23, 20:34 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/17 _____. Lei n. 13.653, de 18 de abril de 2018. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 19 abr. 2018. _____. Lei n. 3.924, de 26 de julho de 1961. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 jul. 1961. _____. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. MAST – Museu de Astronomia e Ciências Afins. Luiz de Castro Faria. 1 foto, pb. Disponível em: <https://centrodememoria.cnpq.br/publicacoes3.html>. Acesso em: 30 jan. 2022. _____. Ministério da Educação e Saúde Pública. Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Portaria n. 07, de 1.º de dezembro de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 dez. 1988b. BRAYNER, N. G. Patrimônio cultural imaterial: para saber mais. Brasília: Iphan, 2007. CAJUÍNA é o mais novo patrimônio cultural brasileiro. Iphan, 15 maio 2014. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/286>. Acesso em: 30 jan. 2022. FAUSTO, B. História do Brasil. 14 ed. atual. e ampl. São Paulo: Edusp, 2012. 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