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SALES AND OPERATIONS PLANNING - UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA SALES AND OPERATIONS PLANNING - AN EXPLORATORY RESEARCH Giselle Ladeira Macarineli José Antonio da Silva Jr. Ruhan Peter Rodrigues Moser1 RESUMO Considerando o aumento do uso de ferramentas de Planejamento e Controle da Produção por empresas Brasileiras, este artigo, desenvolvido a partir de uma pesquisa exploratória, tem por objetivo descrever como ocorre o Processo de Planejamento de Vendas e Operações, bem como seus resultados, vantagens e desafios. Palavras-Chave: Sales And Operations Planning; S&OP; Ciclo S&OP. ABSTRACT Considering the increased use of planning and control tools Production by Brazilian companies, this article developed from exploratory research aims to describe how is the Sales and Operations Planning process and its results, benefits and challenges. Keywords: Sales And Operations Planning; S & OP; S & OP cycle. 1. INTRODUÇÃO Mercados estão em constante mudança e as organizações devem estar preparadas para enfrentar cenários cada vez mais amotinados com a tomada de decisão rápida e acertiva. Para isso, elas têm se munido de técnicas a fim de atingir as metas estabelecidas pela estratégia de planejamento da organização, se destacar entre a concorrência, otimizar o processo produtivo e aumentar a margem de lucro sem 1 Graduandos do Curso de engenharia de Produção na Instituição de ensino Superior do Espírito Santo-IESES, Faculdade Multivix, Cachoeiro de Itapemirim-ES. interferir na qualidade final do produto e/ou serviço oferecido ao mercado consumidor. É assíduo o uso de ferramentas que analisam isoladamente as informações contidas na estratégia de planejamento, o que pode resultar em decisões tendenciosas e afetar departamentos da organização comprometendo o resultado geral da mesma. Partindo dessa premissa de distúrbios do planejamento, surge a necessidade de um direcionamento da organização a partir do entrosamento entre os setores de forma a tomar decisões que considerem as interdependências entre eles. Pelo uso do processo de Planejamento de Vendas e Operações, o S&OP, esses distúrbios podem ser minimizados e as mudanças internas da organização gerenciadas de forma a alcançar as metas estabelecidas na estratégia corporativa. E é por isso que empresas no mundo, e também no Brasil, tem o utilizado após descobrirem suas vantagens em realizar sistematicamente o processo de planejamento. Segundo pesquisa promovida pelo Aberdeen Group, desenvolvida em regiões de países desenvolvidos, como América do Norte e Europa, 92% das 380 organizações que compunham a amostragem, já possuíam em seus modelos de gestão um processo de S&OP. Em outra pesquisa conduzida pelo Forrester Research e retratada em “O Retrato do Processo de S&OP no Brasil”, foi constatado que 82% das organizações da amostragem de 28, afirmaram já possuir o processo em uso, 4% não o possuíam mas consideravam sua implementação e, 14% não possuíam plano algum de implementação do processo. Essa tendência foi reafirmada após pesquisa realizada pela Axia Consulting em parceria com a Ciclo desenvolvimento, mas dessa vez com a divulgação de dados que comprovam que, ainda que muitas empresas brasileiras já tenham investido na implementação do S&OP em seus planos de negócio, a maioria tem se deparado com dificuldades na implementação do processo. Segundo a pesquisa, também retratada em “O Retrato do Processo de S&OP no Brasil”, das 90 empresas de diversos setores e posição na cadeia de valor, 77% utilizam o processo, mas apenas 40% das que o possuem estão satisfeitas com seu desempenho. O mesmo ocorre em empresas americanas onde, de acordo com pesquisa realizada pela Supply Chain Menagement Review em janeiro de 2009, conduzida por interesse da IBM e Oracle, os resultados apontam que cerca de um terço das empresas não tem sucesso com os programas de S&OP ou apresentam resultados não satisfatórios. Aos resultados negativos em questão, são atribuídos possíveis fatores internos, como a ausência de apoio pela alta gerência, integração interfuncional e treinamentos, dentre outros e, também fatores externos de seu macro ambiente como os socioculturais, político-legais, tecnológicos, demográficos e econômicos. Quanto aos fatores econômicos, de acordo com Pires, a organização pode ser afetada principalmente por fatores ligados à estabilidade e economia do país, como é o caso do Brasil. Esses fatores externos ou internos podem resultar em falhas no processo e tornar os resultados não satisfatórios para as organizações, mas quando bem implementado, o processo pode trazer grandes retornos operacionais e financeiros. 2. PROCESSO DE S&OP Ao longo do tempo, o Plano de Vendas e Operações (em inglês, Sales and Operation Planning) recebeu várias nomenclaturas, tais como Planejamento Agregado de Produção, Planejamento Estratégico de Produção, Planejamento de Vendas e Produção, entre outros. Podemos definir o S&OP como um processo liderado pela alta gerência que tem como objetivo avaliar e revisar previsões de demanda, suprimentos, mudanças no portfólio de produtos, planos estratégicos e financeiros. O processo é realizado mensalmente em nível agregado, em um horizonte de 24 meses. O processo de tomada de decisão realinha o plano tático em todas as áreas funcionais da empresa, apoiando estratégia, metas e objetivos da companhia. (Wight, 2009) O S&OP está presente em um dos níveis de planejamento mais altos do MRP II (Planejamento de Recurso de Manufatura, no inglês Manufacturing Resources Planning), o nível de “comando” (CORRÊA, 1960), responsável por gerir a organização e definir o desempenho da mesma a partir de um planejamento estratégico realizado por um período de longo prazo, cuja tomada de decisões parte da alta direção. Figura 1 – Esquema geral do MRPII Fonte: CORREA, 2010, p. 151. Os participantes que compõem a equipe de S&OP estão alocados nas várias áreas funcionais da empresa e devem ter autonomia o suficiente para auxiliar na tomada de decisões que irão definir o desempenho da organização. As áreas em questão são a alta administração, vendas, marketing, manufatura, engenharia ou P&D (Pesquisa & Desenvolvimento), finanças e recursos humanos; cada qual com um diretor, participante obrigatório nas reuniões de planejamento e, potenciais participantes que respondam pelos processos e atividades desenvolvidos em cada área. Figura 2 – Participantes Sugeridos do Processo de S&OP Fonte: Adaptado de Correa, 2010p. 174. A equipe de S&OP será responsável por elaborar estratégias de planejamento. Cada área deverá ter suas atribuições pré-estabelecidas a fim de contribuir com o alcance dos objetivos propostos pelo plano estratégico da empresa. Área Participantes Obrigatórios Potenciais Participantes Alta Administração Diretor Geral Vendas Diretor de Vendas Gerente de Vendas Gerente de atendimento ao Cliente Gerente de Distribuição Gerente de Assistência Técnica Marketing Diretor de Marketing Gerentes de Produto Gerente de Demanda Manufatura Diretor de Manufatura ou Industrial Gerente Industrial, de Produção ou de Fábrica Gerente de Suprimentos Gerente de Garantia da Qualidade Engenharia ou P&D Diretor de Engenharia ou P&D Gerente de Desenvolvimento Gerente de Métodos e Processos Finanças Diretor Financeiro Gerente de Orçamento Gerente de Custos Recurso HumanosDiretor de Recursos Humanos Gerente de Pessoal Figura 3 – Atribuições de responsabilidades a equipe de S&OP Fonte: Elaborado pelo autor. A elaboração do projeto estabelece três níveis de estratégia: estratégia corporativa, estratégia do negócio e estratégia funcional. A estratégia corporativa trata da tomada de decisões a nível estratégico, as quais deverão ser formuladas e executadas a longo prazo pela organização em sua totalidade. A estratégia do negócio trata da tomada de decisões a nível tático, as quais deverão ser formuladas e executadas por cada departamento a médio prazo de forma a contribuir com o planejamento estratégico da organização. E a estratégia funcional trata da tomada de decisões a nível operacional que deverão ser formuladas e excitadas a curto prazo em cada tarefa, operação ou atividade da empresa de forma a contribuir com o planejamento tático da empresa. Responsáveis Atribuições Alta Administração Plano do negócio Vendas e Marketing Previsão de demanda e elaboração de planejamento de demanda Manufatura Programa mestre de produção, envio de pedidos, controle de inventário e aquisição de materiais Engenharia ou P&D Definição do produto a ser ofertado no mercado Finanças Planos Financeiros e atividades relacionadas Recurso Humanos Mão-de-obra A interdependências entre os níveis de estratégia, faz com que o S&OP permita a integração vertical e também horizontal entre os diferentes níveis de planejamento em uma organização. No que diz respeito a integração vertical, as decisões a serem tomadas devem considerar os níveis de decisão da organização de forma que o planejamento operacional, a ser desenvolvido nas atividades executadas diariamente, contribuam para o plano tático e este por sua vez contribua para o plano estratégico, de modo que os objetivos a longo prazo sejam alcançados com êxito. Quanto a integração horizontal, trata-se das decisões que envolvem diferentes áreas de um mesmo nível estratégico, considerando suas atividades distintas e interdependência de forma que atuem direcionados a um único objetivo em comum, a meta corporativa da organização, e a tomada de decisões para uma área não reflita negativamente em outra. Figura 3 – Integração entre níveis de decisão e áreas da empresa. Fonte: Elaborado pelo autor. 3. FASES DO CICLO DE S&OP Antes de iniciar a prática do ciclo do Plano de Vendas e Operações, deve-se definir os parâmetros necessários para o desenvolvimento do processo já que a definição prévia facilita a tomada de decisões. A definição desses parâmetros compõe um documento denominado Política de S&OP, que inclui, entre outros aspectos, os objetivos do processo, um sumário das principais fases com as responsabilidades de cada área, o cronograma das principais fases e a agenda das reuniões, os participantes obrigatórios e aqueles potencialmente convocáveis, a política para a definição de famílias de produtos, o horizonte de planejamento a ser considerado, os períodos de congelamento do planejamento, os resultados esperados de cada ciclo do processo e os procedimentos da revisão crítica e aprimoramento. (CORREA, 2010, p. 173) O horizonte de planejamento do S&OP é de longo prazo, podendo variar de 12 a 24 meses, com um período de planejamento de 01 a 02 meses. Esse horizonte de planejamento deve ser o suficiente para que todas as áreas da organização possam providenciar os recursos necessários para atender os objetivos da política definida. (CORREA, 2010). De acordo com autores que tratam a respeito do tema, tais como Corrêa, Lapide e Wallace, um ciclo de S&OP ocorre em cinco etapas sucessivas a serem executadas em um período, geralmente mensal, e repetidas continuamente até que se alcance os objetivos propostos pelo planejamento estratégico da organização, o que pode levar de 01 a 02 anos. Figura 4 – Ciclo do S&OP Fonte: Adaptado de Corrêa, 2010, p. 187. Figura 5 – Horizonte de Planejamento do S&OP Fonte: Adaptado de Corrêa, 2010, p. 186. Antes de iniciar o ciclo, a organização deve definir grupos ou famílias de produtos que se adequem à manufatura, à engenharia e ao marketing e contribuam para uma tomada de decisão mais rápida e eficiente. A primeira etapa consiste no levantamento de dados referentes a vendas, estoques e produção, fornecidos por todas as áreas da empresa em uma data pré-definida e em seguida agregados por família de produtos. Esses dados servirão como base para análises quantitativas e qualitativas ao decorrer do ciclo. A segunda etapa consiste no planejamento de demanda. A partir dos dados adquiridos na primeira etapa, a área de vendas e marketing elaboram o planejamento da demanda e a previsão de vendas para cada família de produtos no período. A terceira etapa consiste no planejamento de produção. A partir do planejamento de demanda elaborado na segunda etapa do ciclo, a área de manufatura faz o planejamento da produção ao longo do horizonte de planejamento, considerando a capacidade e níveis de estoques de recursos necessários para produção que atenda a demanda prevista, especialmente de recursos considerados críticos como equipamentos ou mão-de-obra, que podem mudar ao decorrer do processo e devem ser revistos periodicamente. A quarta etapa consiste na reunião preliminar de S&OP. Nesta etapa a área financeira analisa a coerência entre os projetos de demanda e de suprimentos elaborados nas duas etapas anteriores e determina o impacto financeiro decorrente dos planos, como receitas e fluxo de caixa por exemplo. É nessa etapa que ocorre o equilíbrio de demanda e suprimentos e portanto, podem haver alterações nas famílias dos produtos, previsões de demanda e metas estipuladas a equipe de manufatura. Ao fim da etapa, devem ser relacionadas as recomendações pelos setores envolvidos a serem apresentadas a alta gerencia, incumbida da tomada de decisão final. A quinta e última etapa consiste na reunião executiva de S&OP, com pauta antecipadamente entregues aos participantes, onde a alta gerência realiza a avaliação da coerência e do consenso entre as propostas de planos funcionais desenvolvidos pelas áreas da organização nas etapas que precedentes, e valida as decisões as decisões sugeridas pelos gerentes. É nesta etapa que são avaliados: O nível de serviço a clientes, como a disponibilidade de produtos que atendam a demanda e prazos de entrega dos mesmos; Os níveis de estoque, como a capacidade do estoque, material em processo e produtos acabados; O desempenho da área comercial a partir do plano de vendas e a precisão da previsão da demanda; O desempenho da área de manufatura no que diz respeito a produtividade e cumprimento do plano de produção; e O cumprimento dos planos de desenvolvimento e introdução de novos produtos. Como resultados esperados ao fim de cada ciclo, tem-se dentre outros: Estabelecimento das metas mensais de faturamento; Projeção de lucros; Projeção de estoques; Fluxo de caixa projetado; Estabelecimento de orçamentos de compras e despesas de capital; e Definição de limites de tolerância para variações no MPS. Nesta etapa são revistas as decisões e elaborados novas estratégias de planejamento tático e operacional para o próximo ciclo de forma a atender as expectativas do planejamento estratégico da reunião. Por fim, os planos são comunicados a todos os envolvidos no processo, vindo a contribuir para o PlanoMestre de produção (do inglês, Master Production Schedule - MPS). Quando bem realizado, o ciclo S&OP pode trazer benéficos como: Redução de estoques; Integração interfuncional entre as áreas da organização; Otimização do fluxo de informações; Maior assertividade nas previsões de vendas; e Equilíbrio entre demanda e suprimentos. Mas para que isso ocorra é necessário que a alta gerencia apoie e se dedique ao processo, que haja uma agenda estruturada das reuniões, a consideração de fatores externos, o estabelecimento de planos integrados, a delegação das responsabilidades e a dedicação dos participantes com o processo. 4. CONCLUSÃO Ainda que se trate de um processo recente, o S&OP quando bem aplicado pode contribuir para a otimização dos processos e maximização da margem lucrativa de uma organização, ainda que os resultados esperados sejam alcançados por meio de um horizonte de planejamento a longo prazo e exijam comprometimento dos participantes do processo com a contribuição para o processo de acordo com suas atribuições por área de atuação, considerado um dos maiores desafios para sucesso de implementação. 5. REFERÊNCIAS BREMER, C.F; AZEVEDO, R.C; MATHEUS, L.F. O retrato do processo de Sales & Operations Planning (S&OP) no Brasil - parte I. Revista Mundo Logística. Jul/Ago, 2008. CORRÊA, Henrique Luiz; GIANESI, Irineu Gustavo Nogueira; CAON, Mauro. Planejamento, Programação e Controle da Produção: MRPII/ERP, conceitos, uso e implantação. Atlas, 1997. HOLLMANN, R.L; RCHA, L.C.R; DO CARMO, L.F.R; THOME, A.M.T. RESULTADOS OBTIDOS COM A APLICAÇÃO DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE VENDAS E OPERAÇÕES (S&OP). 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TAC, Curitiba, v. 1, n. 2, art. 2, pp. 55-67, Jul./Dez. 2011.
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