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li> C C '" ~ c Entendao significado contidonasgrandesobras. I ?. ? ?. ? AlegoriadaSabedoriaedaForça:A EscolhadeHércules FrançoisBoucher(sobreoriginaldePaoloVeronese)c.1750 .,;ou :J"'-::>Q. '"o '"ooo>- <t'" ! UJ'"> :J o.<t 5" !!; e ~"j If"~ VIRTUDE EAPARÊNCIA (ACAMINHO DO MODERNO).Todoo significadodeobrasdeBotticelli,Rafael,Tintoretto,Bosch,El Greco eoutrosgrandesartistasdosséculosXIII aoXVIII. De terçaadomingo, das 11às 18h:quinta atéas20h. Av. Paulista, 1578 :: (11) 3251-5644:: www.masp.art.br ~ IIMII Mercedes-BenzMASP SUMÁRIO CAPA: O Ray Massey/Stone/Getty Images 6 A psicologiada forma HELMUT E. LÜCK A palavraGestalt,alemãesemtraduçãoexataem português,refere-seaoqueé"expostoaoolhar";segundoa teoria,o todo"ésempremaiorqueasomadesuaspartes" 12 A neurologiadaestética VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Apesardadiversidadedeestilos,háprincípiosuniversais daarte- umaespéciede"gramática"daestética,análogaàs sintaxespropostaspelolingüistaNoamChomsky 16 Paradoxos da percepção VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Seduasfontesdiferentesdeinformaçãosãoincoerentesentre si,o cérebrodá importânciaàqueparecermaisconfiável, com baseemexperiênciasacumuladas- evai ignorara outra 20 Buscasdo olhar VILAYANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Experiênciascompontoscegosindicamquenossosistema nervosodetestaovácuo- eprocurafugirdele 26 O fascíniodo espelho VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Imagensespecularesajudampessoasamputadasaamenizar oueliminaradorfantasma;experimentomostraa importânciadacomparaçãodeinformaçõessensoriaispara a imagemcorporal 32 .. . . .., .. ..-- 32 Imagensambíguas VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS- RAMACHANDRAN Ilusõesvisuaisatiçamacuriosidadeepermitem diversasinterpretações;o sistemanervoso,porém, anseiaporrespostaseseconcentraem umasóalternativa 36 Nuancesdo cinza ALAN GILCHRIST Jogosdesombraecontrastefazemcomqueuma únicaformaacinzentadapareçaterdiferentestons, dependendodoqueestiveraoredor 42 Ver paracrer VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS- RAMACHANDRAN Ao alteraro sombreamentoeafontedeluzfazemos comqueimagenspareçammudardeformaelugar. Nãoacredita?Experimentei 46 Mecanismos da estabilidade visual VILAYANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS- RAMACHANDRAN Porqueo mundonãoparecepularquandonossas retinassemovem?Essaadequaçãoaparentemente corriqueiraexigetrabalhocerebralespecífico 50 Ilusões móveis VILAYANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS- RAMACHANDRAN Ao "enganar"neurôniosespecializadosemdetectar estímulosquesedeslocam,certasimagensnosfazem percebermovimentoondeelenãoexiste www.mentecerebro.com.br3 ... .... 54 A dançadaslistras VILAYANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Buscamospadrõesparaapreenderestímulosvisuais;alguns experimentossimpleselucidamprocessosneurológicos complexosusadosparacaptaro movimentodosobjetos 58 Filtrosdapercepção VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN A manipulaçãodeimagenscomalgoritmospromoveilusões visuaissurpreendentesetambémexplicacomonossosistema visualdecompõeo quevêemdiferentesfreqüênciasespaciais 62 Brincandocompesose medidas VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN A ilusãovisualconfundeoscentrosneuraisenosfazcrerque umobjetosejadiferentedoquerealmenteé;experiências simplesedivertidasmostramcomoissoacontece 66 No prumo certo VILAYANUR s. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Paracalcularaposiçãorelativadosobjetos,océrebrousa estratégiascomplexasquecomparaminformaçõessensoriaisantes dedecidiro queestádepéeo queestádecabeçaparabaixo 70 Transparentee óbvio VILAYANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Utilizamosrecursosneurológicossofisticadosparaprocessar informaçõessobreacoreo brilhodosobjetos- masnem semprenossasconclusõesseguemasleisdafísica 76 Cores ilusórias JOHN S. WERNER, BAINGIO PINNA E LOTHAR SPILLMANN Experimentosqueenvolvempercepções visuaissugeremqueanoçãodeeor estáassociadaàsformas eàprofundidade;os diferentestonssão sensaçõescriadaspelo cérebro 4 MENTE&CÉREBRO .ARMADILHAS DA PERCEPÇÃO www.mentecerebro.com.br DIRETORGERAL:ALFREDONASTARI DIRETOREXECUTIVO:EDIMILSONCARDIAL DIRETORADOGRUPOCONHECIMENTO: ANACLAUDIAFERRARI ESPECIALARMADILHASDAPERCEPÇÃO REDAÇÃOMENTE&:CÉREBRO (redacaomec@duettoedltoriai.com.br) EDITORA:GláuciaLeal REVISÃO:LuizRobertoMaltaelauraRocha EDITORADEARTE:SimoneOliveiraVieira ASSISTENTESDEARTE:TatianeSantosdeOliveira, MarcellaShollejulianaFreitas PESQUISAICONOGRÁFICA:SilviaNastari(coordenação), GabrielaFarcettaeMarianaCarneiro ASSISTEN]EDE~EDAÇÃO:ElenaReginaPucinelliRodrigues PRODUÇAOGRAFICA:MoysesJesuseEduardoSantos TRATAMENTODEIMAGEM:CarinaVieiraeCintiaZardo . ~ SpektrumderWissenschaft Verlagsgesellschaft,Slevogtstr.3-5 69126Heidelberg,Alemanha EDITOR:CarstenKõnneker DIRETORES-GERENTES:MarkusBossleeThomasBleck Mente&CérebroéumapublicaçãodaEdiouro, Segmento-DuettoEditorialLtda.,comconteúdo internacionalfornecidopelaG&:G,soblicençade ScientificAmerican,Inc. RuaCunhaGago,412- cj.33- Pinheiros- SãoPaulo,SP CEP:05421-001- Tel.:(11)) 2713-8150 Fax:(11)2713-8197 DuetIo """"" COMITÊ EXECUTIVO JorgeCarneiro,EdimilsonCardial, LuizFernandoPedrosoeAlfredoNastari PUBLICIDADE (publicidadeconhecimento@duettoeditorial.com.br) GERENTEDEPUBLICIDADEEPROJETOSESPECIAIS: RobertaPalma EXECUTIVOSDECONTAS:AnaPaulaMiranda eWalterPinheiro (publicidademec@duettoeditorial.com.br) CIRCULAÇÃOEMARKETlNG GERENTEDEMARKETING:RenataMarques ASSISTENTES:julianaMendeseRenataFurtado GERENTEDEASSINATURAS:DavidCasas ASSISTENTE:AntonioCarlosdeAbreu GERENTEDEVENDASAVULSAS:CarlaLemes NÚCLEOMULTIMíDIA GERENTE:MarianaMonné REDATORA:SabrinaWenzel WEBDESIGNER:AnahiModeneis CONTROLADORIAEGESTÃO DIRETORA:MônicaGomes GERENTEFINANCEIRO:AndreasRüthschilling CENTRALDEATENDIMENTOAOASSINANTE BRASIL:(11)2713-8100 (atendimento@duettoeditorial.com.br) NOVASASSINATURAS (queroassinar@duettoeditorlal.com.br) EDiÇÕESAVULSASEESPECIAIS: (edicoesavulsas@duettoeditorial.com.br) EdiçãoEspecialn'16, ISSN1807-1562.Distribuiçãocom exclusividadeparatodoo BRASIL: DINAPS.A.RuaDr. KenkitiShimomoto,1678.Númerosavulsospodem ser solicitadosaojornaleiro,àcentraldeatendimentoao leitorpeloleI. (11)2713-8100,ounositewww.lojaduetto. com.br,aopreçodaúltimaediçãoacrescidodocustode postagem. DIRETOR RESPONSÁVEL: AlfredoNastari fVi ANER \llfww,e".r.olg,br rllrPrP NEM SEMPREÉO QUE PARECE guemnuncaolhouparaumafigura ejurouqueelasemovimentava,quandonaverdaeestavabemparadaàsuafrente?Ou ao contrário:teve(aindaqueporalgunssegundos) acertezadequeumcírculooucilindroestavam parados,mas,defato,giravam?Sim,realmente nossosolhospordiversasvezesseenganam- e nosconfundem.Mastambémajudamacompre- enderofuncionamentodocérebro. Experiênciascompontoscegos,espelhos, cores,figurasgeométricas,obrasdearteimpro- váveistêmmostradoqueépossíveliludirosistema cerebral.Nãoporacaso,imagensquedesafiama lógica,comoasdoartistagráficoholandêsMau- ritsCornelisEscher(1.898-1.972)conhecidopor suasxilogravuraselitografiasquerepresentam construçõesimpossíveis,preenchimentoregular doplano,exploraçõesdoinfinitoemetamorfoses depadrõesgeométricosqueseentrecruzamese transformamgradualmenteemformascomple- tamentediferentes(vejaimagensnositewww. im-possible.info/english/art/index.html). Essasinteraçõesentrepercepção,sistema visual,leisdafísicaeestéticatêmsidotemade estudodospesquisadoresdoCentrodoCérebro edaCogniçãodaUniversidadedaCalifórnia, emSanDiego,VilayanurS. Ramachandran esuamulher,DianeRogers-Ramachandran - autoresdamaiorpartedostextosdestaedição. Segundoosneurocientistas,apesardaidéiatão difundidaquecremosnaquiloquevemos,por vezesnossocérebrotrabalhatambémnosentido inverso:enxergamosaquiloemqueacreditamos. O mecanismoperceptualnosfazcompreender umaúnicaGestalt(ouforma),assimilando aseventuaiscontradições.Ou seja:épossível apreciarotodo,aindaquealgumasdesuaspartes nosincomodemUustamenteemrazãodenossa impossibilidadecognitivadeintegrá-Ias).Nas páginasa seguir,osestudiososdessestruques dapercepçãonosconvidamadesvendaralguns mistérioseabrincarcomosprópriossentidos,por meiodeexperimentossimpleseintrigantes. ASCENDINGAND DESCENDING/ M. C. Escher Boaleitura,boasdescobertas! GláuciaLeal, editora g/aucia/ea/@duettoedítoría/.com.br www.mentecerebro.com.br5 A psicologiaI a orma A palavraGestalt,alemãesemtraduçãoexata emportuguês,refere-seaoqueé "expostoao olhar";segundoateoria,o todo"ésempre maiorqueasomadesuaspartes" POR HELMUT E. LÜCK professor de psicologiada Universidadeà Distânciade Hagen,Alemanha. J JUmarosaéumarosaéumarosa."A poetisaamericanaGertrudeStein,autoradessecélebreenunciado,nãotinhamuitoaver coma teoriadaGestalt.Não obstante,emseu célebreverso(dopoemaSacredEmily,de 1913) eladávazãoa umaconstataçãoquesobreveio tambéma algunspsicólogosde seutempo.As quatroletrasr,o, s,a nãoconstituememnossa mentesimplesmenteumapalavra:evocamaima- gemdaflor,seucheiroe simbolismo- proprie- dadesnãoexatamenterelacionadasàsletras.Em suma:criamumaforma,umaGestalt.A palavra, alemã,significa"0 queé colocadodiantedos olhos,expostoaoolhar".Adotadahojenomundo todo(esemtraduçãoparao português),refere- sea um processode dar forma,de configurar. Deacordocomateoriagestáltica,nãosepode terconhecimentodo"todo"pormeiodesuaspar- tes- esimdaspartespelotodo,poiso todoémaior queasomadesuaspartes.Issoequivaleadizerque "A+B"nãoésimplesmente"(A+B)",massimumter- ceiroelemento"C",quepossuicaracterísticaspró- 6 MENTE&CÉREBRO.ARMADilHAS DA PERCEPÇÃO prias. A esseaspectosedáo nomedesupersoma. Um segundoaspectoconsideradopelaGes- talt é a transponibilidade:independentemente dos elementosque constituemdeterminado objeto,reconhecemosali umaforma(Gestalt). Admitimos,porexemplo,queumacadeiraéuma cadeira,sejaelafeitadeplástico,metal,madeira ou qualqueroutra matéria-prima.Em outras palavras,a formasobressai. O psicólogoaustríacoChristianvon Ehren- fels (1859-1932)apresentouessesdois cri- térios, supersomae transponibilidade,pela primeira vez em 1890, em uma disserta- ção apresentadana Universidade de Graz. Um dosprincipaisrepresentantesdaGestalt daEscoladeGraz(quetambémrecebeuo nome de "teoriada produção")foi Max Wertheimer (1880-1943).Elegostavadeilustrarosprimórdios experimentaisdapsicologiadaGestaltcomuma históriaquedevetersepassadoporvoltade1910: nofipaldoverão,Wertheimerviajavadetremde VienaparaalgumlugardoestadodaRenânia.Du- I. AS LETRAS R, O, S, A constituemmaisque uma palavra:evocam imagem,perfume e simbologia da flor Quandoa ilusãode6ptica eraesclarecida aosvoluntários do teste,a impressãonão sedissipava: pareciase tomarainda maisnítida ranteopercurso,meditavasobre a visualizaçãodo movimento. Quandolhe ocorreu,num dadomomentodaviagem,que podiaprovocaraquelaspercep- çõesartificialmentecom uma espéciederápidopiscarconse- cutivodeluzes,comoépossível fazernoestroboscópio,Werth- eimer desceuintempestiva- menteemFrankfurtecomprou umaparelhoquenaépocaera tidocomoumbrinquedopara criançase começoua realizar osprimeirosexperimentos.Em seguidaentrouemcontatocom psicólogoFriedrichSchumann (1858-1940),da Universidade de Frankfurt,queenviouseu assistenteWolfgang Kõhler (1887-1967)aoquartodehotel deWertheimer.Nãofoipreciso muitoparaquetodososenvol- vidosseconvencessemdeque osprofessoresdeveriamrealizar oexperimentojuntosnolabora- tóriodeSchumann. É difícil saberse tudo se 8 MENTE&CÉREBRO.ARMADilHAS DA PERCEPÇÃO passouexatamenteassim.Tal- vezWertheimerjá tivesseanos antesaintençãodedesenvolver umnovotipodeestroboscópio emparceriacomSchumann.De qualquermodo,os primeiros experimentosdo pesquisador daGestaltdeFranfkurtassumi- ramumaformaconcretanoiní- ciodoséculoXX. Emumasérie detestes,Wertheimermostrou aosvoluntáriosdoestudodois estímulos,emrápidaseqüência: noprimeiropodiaservista,do ladoesquerdodeumagravura, umalinhahorizontal;nosegun- do,haviaumalinhahorizontal do mesmocomprimento,àdi- reita.Seambasasimagensfos- semmostradasalternadamente, surgiaa intervalosdecercade 60 milésimosde segundosa impressãode um movimento aparente,como se as linhas oscilassemdeum ladoparao outro,comoum limpadorde pára-brisa. Nesse experimento,se a mudançade imagensforainda maisrápida,os estímulossão vivenciadoscomosimultâneos - ambasaslinhastremeluzem aparentementeaomesmotem- po.Sóquandoarepresentação dedeterminadafreqüêncianão étranspostasetemaimpressão decontinuidade:vê-seorauma linha,oraaoutra,cadaqualem umlocaleposição.Wertheimer deuao movimentopercebido emseqüênciamaisrápidaade- nominaçãode"fenômenophi". A tentativadevisualização do movimentopor Werthei- mermarcao início da escola maisconhecidada psicologia da Gestalt.AlémdeWerthei- mer,fizerampartedelaWol- fgangKõhler e Kurt Koffka (1886-1941).Nos anos20, as pesquisasse expandirampela Alemanhae numerosostraba- lhos deramnovoimpulsonão só à pesquisada percepção, masàpsicologiadeformageral. Nas origensdasescolasde Frankfurte de Berlim- dife- rentementedo quesetinhana deGraz- estavamformas(Ges- talten).Segundoseusteóricos, aspessoasnãoas"produziam" comodadosfundamentaisdos sentidose, tampouco,elasse constituíamparalelamentea estes;asformaseramconside- radaselasprópriasasunidades fundamentaisdavidaanímica. Desdeo começoWerthei- merevitoufalaremilusãoda percepçãocomo fenômeno phi. Reconheceuque parao observadornão importavase o movimentopercebidoera produzidopor doisestímulos semelhantese sucessivosou por um deslocamentoeficaz. Nem mesmoquandoseescla- reciao efeitoaosvoluntários queparticipavamdostestesea ilusãoera"desmascarada",elase dissipava- pelocontrário:após o esclarecimento,o fenômeno phiera,nãoraro,percebidocom maiornitidez. Adeusaosdogmas OspsicólogosdaGestaltdesen- volveramumprogramateórico pararefutardogmasda fisio- logia dos sentidos.Pesquisas pioneirasdeWolfgangKõhler com antropóidesenfatizaram quenãosóapercepçãohumana, mastambémnossasformasde pensare agir funcionam,com freqüência,de acordo com os pressupostosda gestalt. Atendendo à solicitaçãodo médicoberlinenseMax Roth- mann,aAcademiaPrussianade Ciênciasinstalouem 1913,na ilhadeTenerife,nasCanárias, I ~ - umaestaçãoparao estudodo comportamentode macacos. No postode experimentação eramestudadasascapacidades dosanimaisemcondiçõesseme- lhantesàsnaturais.O filósofoe psicólogoalemãoCarl Stumpf (1848-1936)nomeouKõhler diretorda estação,apesarde naépocaelenãotermaisque 26anosequasenenhumaexpe- riênciaembiologiaepSicologia deanimais. Os experimentosdeKõhler foramreconhecidosquando g comprovaramqueoschimpan- ~ zéstêmcondiçõesderesolver ~problemascomplexos,como5 i conseguiralimentosqueestão ~ foradeseualcance:parape-~ ~garbananasdeumcacho,por i exemplo,empilhavamcaixas ~e usavamvaras.Um macaco ~ ruivochegoua acoplarduas ~ varetasdebambua fimdese ;aproximarde umaguloseima. I Fatomenosconhecidoéque, í mesmoantesde Kõhler,Leo- I nardT. Hobhousehaviareali- 1zadoexperimentossemelhantes ~ naInglaterra.Kõhlerprocedeu ; demaneirasistemática,proto- Icoloucuidadosamentetodos ~osresultadose filmoualguns. ~Maisdecisivoparao seuêxito, ~ entretanto,foi terencontrado ~ esclarecimentosconvincentes paraas suasobservações.Se- gundoométodode"tentativae erro",parachegarmosàsolução corretadedeterminadoproble- manãoé necessárioumlongo períododeexperimentação. Paraosmacacos,pareceque a"fichacai"muitorapidamente; ajunçãodeobjetivoemeiosde auxíliopermitemquesedê a Gestalt.Kõhlerdenominouo conhecimentoresultantedessa experiênciade "perspectiva". Quase concomitantemente aosestudosde percepçãode Wertheimer,comquemKõhler, de Tenerife,manteveestreitocontatopor correspondência, revelava-seaaçãosagaz,movida pelousoda inteligência,como fenômenodaGestalt. No zoológico Kõhlerjáhaviapesquisadogran- de partede seuschimpanzés submetidosa testequando,em meadosde1914,irrompeuaPri- meiraGuerraMundial.Mesmoa Espanhatendosemantidoneu- tradurantetodoo conflito,ele sópôdedeixara ilhaem1920. Vezporoutra,funcionáriosbri- tânicoschegavamacogitarque Kõhlerseriaumespiãoalemãoe apesquisacomoschimpanzés, nadamaisqueumpretextopara queseconstruíssenasIlhasCa- '\ náriasumapistadepousopara aviõesalemães. O planooriginalde cons- truirumaestaçãoparaestudar animaisdostrópicosnaufragou coma inflaçãodo pós-guerra. E em1920mesmoosmacacos foramenviadosparao zoológi- co de Berlim.QuandoKõhler publicouum livro sobresua pesquisa,noanoseguinte,obte- vegrandevisibilidade.Durante anoseleseesforçouparatera comprovaçãode quenemsó a percepçãoe o pensamento seguiamos princípiosdaGes- talt, mastambéma atividade UMACADEIRAéumacadeira, sejaelafeitadeplástico,metal, madeiraouqualqueroutra matéria-prima.Emoutraspalavras, aformasobressai , 8t PIONEIROSDACESTALT: KurtKoffka(1886-1941); Kurt lewin (1890-1947); WolfgangKõhler(1887- 1967)e MaxWertheimer (1880-1943) www.mentecerebro.com.br9 Naorigem dasescolasde Frankfurte Berlimestava apreocupação coma percepção doqueera captadopelos olhos;seus seguidores evitavamo t /I 'I - /Iermo 1usao cerebralobedeciaaumalógica fundamentalsemelhante. Em1922,Kõhlerfoinomea- do sucessorde Carl Stumpf na direção do Instituto de PsicologiadeBerlim.Comisso, teveinícioadinastiadapsico- logiadaGestalt.O periódico Psych%gischeForschung(Pes- quisapsicológica),co-editado porKõhler,erao seuprincipal veículodedivulgação.Outras importantessedesdapesquisa psicológicadaGestaltnaAle- manhaforama Universidade deGiessen,queem 1918con- vidouKurtKoffkaparacompor seuquadrodocente,bemcomo a de Franfkurt,que acolheu Wertheimerem1929. Esteúltimotrouxecontri- buiçõessignificativasparaa psicologiadopensamento.Seu livropóstumode 1945(edição alemãde 1957)sobreo pensar produtivo- hoje se falariaem criatividade - documentao intensointercâmbiointelectual entreelee Freudaté1933.Já Kurt Koffkasalientouautilida- dedateoriada Gestaltparaa psicologiadodesenvolvimento. Com issosabe-sehoje quea leituraéumprocessointegrale queaseqüênciadeestágiosdas letrastomadasindividualmente, passandopelaspalavras,che- Cartadeprotesto Pacientenão!cliente Nadécadade40,o psicanalistaberlinensedeorigemjudaicaFritz Perls(1893-1970)deixouaAlemanhae mudou-seprimeiropara aÁfricado Suledepoisparaos EstadosUnidos,ondedesenvol- veua Gesta.lt-terapia,em oposiçãoà psicanálise.Com basena fenomenologiae no existencialismoeuropeus,com influências daobradeSartreeNietzsche,suafundamentaçãopartedaidéia de queo homemé o principalresponsávelpor suasescolhase pelaformacomoconduzsuavida.Segundoessaabordagem,a pessoanãoé, portanto,um"paciente",masum"cliente". gandoatéassentençasinteiras, poucocorrespondeao quese passanapercepçãohumana. Aindaantesdachegadados nazistasao poderKoffkaemi- grouparaos EstadosUnidos, ondesetornouumdosprimei- rospartidáriosdapsicologiada Gestalt.Depoisde o próprio Wertheimere do psicólogoe filósofoKurtLewin(1890-1947) teremsidoobrigadosa deixar aAlemanha,foiavezdeWolf- gangKõhlersairdo país.Com isso,a psicologiada Gestalt perdiaospioneirosqueacondu- ziamemterritórioalemão. Sempromoção Do outroladodo Atlântico, seusrepresentantesdepararam comumambientecientífico completamentediferente.Nos EstadosUnidos,haviaporpar- tedosbehavioristasinúmeras WolfgangKõhlerfoi o únicoprofessoracadêmicodepsicologiana Alemanhaa criticarabertamenteo regimenazista,mesmonão sendojudeu.Quandomuitosde seuscolegasda universidadese aproximavam,daideologiade Hitlere váriosassistentesseusdo InstitutodePsicologiadeBerlimforamobrigadosasedesligar,ele publicou,em28deabrilde1933,umacartaabertano Deutschen AllgemeinenZeitung,criticandoasperseguiçõesacientistaspormo- tivosétnicosepolíticos.Doisanosdepois,porém,tambémemigrou paraosEstadosUnidos,ondelecionouecoordenoupesquisasno SwarthmoreCollege,Pensilvânia.Morreuem11dejunhode1967, emsuafazendaemEnfield,NewHampshire. 10 MENTE&CÉREBRO'ARMADILHASDA PERCEPÇÃO críticascontraos psicólogos alemãesdaGestaltquediscor- davamdasteoriastradicionais daconsciênciadefendidaspor Wilhelm Wundt. A situação era agravadapelo fatode os exiladosquasenãopoderem trabalharem estabelecimen- tosbemconceituados- e nas pequenasinstituiçõesdificil- mentetinhamdireitoaalguma promoção.Por tudoisso,esse ramoda psicologiatevepapel irrelevantedurantemuitotem- po nosEstadosUnidos. No fim da décadade 50, quandohouveintensadivulga- çãodapsicologiaamericanana Alemanha,aGestaltfoi "reim- portada",emborao interesse da geraçãomaisjovem fosse direcionado principalmente Q)e'''rã. in 'Deutfcorcant'~.. I-r..r. .)". 'r"r' u. '''~hl..r.Unlo.~'I. ti, m'l.1,IIIJtll 'Rilnnrf. blt '11," 7'Hlli41811) h'~ltt..n. 64fo(IIm,,,,, "" fUlm,,! "".1111til"" 11,r t.. '1"111',6'" 11"'oJ.1,.''''.'Ir ~"t'II. )If' .i , IItf,il' "'&Ut ... bi, ,. Ol'IIJI"".,,, jltt..., 1.1Ialt ~tr h, fi'. h'IIIIUII 'tll'l. Jl'hr. Jtol",'". ttlt.bil'fJ jlr ilt.jrH. "tll." 1111)~.nJfj" hlUlh..t""'''' tDrrtn flnD. 1tI1I~ollrlll tk'o1l1l1liU'QlIitirr 'Jro1~1rPClltt/o1h,)li.fJt'~:/"~I. !J:IIJf '01111"""11tr/"",r". noo, fir ftrn~.all:~" "~fJI 'Ultlll'll lir ""11'".tII' OI:8or"", ittlhb:lI. tll:.t. I1I 1011.::'lllIa )111Hi..!l11I~"'I:I.r.11110~btr ZOll'lC'~"'I;~ 11I11rllt:m (!Ihfl '111!lI, ~olll'lI, ~C'r,. t"",., '1:"Ui' ":'mrllllr" ~tt:':. tllll., 14'(11I.11"flllli ia "~O'h'r,. 'ltiulo'i,~ " If''')rll ibrt..: rrlui-ftitllllh 10llrll ti"r ".'AII.,. 2't rt71r)AtlOft, IIIrlu, Uf &rll'l "'trr. _IIUI.U.. Iftil h~ Iclll,. rlll.1t1t),"1I"tl.trlfllt I\t.rr~r fi" 1001'~lI",t"'r Gil (1Jt1'''''IfJ'l!1""10 'tltlbol'lrll flU. 1Iur'III.l.In'lIltlln,rr.blltll. "o'ri.. rI 00' fAit .r~,Jn,J'1I lil. "'Ir ,. "O,. '6.lIft 'r'll '",1111.'11;fir totnt"nNI.." ""O~II*. hrdt l;trr.ttt'. !'rlltid!'lItlO I. UII', Ifk:IlIIt,l1 '111l";ltl !ltrialo"'.rN. ' fll'l'Ii:,.h btn'''',olir. trlli1lliwtolllr ..~JII'ol~r ~'II Rhlb U',. I'rtlct ..".. ..," r8fr "'lItlO" ""IIIII4It", C'frjo1lt~tllil" '1I1I'h'II 2m. k, !SD"t' "<lI/)/,jr :ti,'ilHAI"","'tllrq 11''1111,lllr'" "". rr..~.~ SlOllttll"IIUI''' ,o. 1tlll.fl; ,iI ...r Ioi.:ltttlllt ar. "'11 rUIUI.ltn. ... lIioit ~4~1 4.'j.wotT,. I" b.I:ltll. "li' 'ur 1It" "'''brrr rlft, 2"bfnrtr/rll"bh.1tt~ir Irrll. "~r ... tlr ".1("r'I..", '1:.'uII 1'1Ia.11 1Il4.:trllr1t11C'8 .." kl ~lIlIr Iot, .311di Ir.a(1tll Dtr""tntIJI'II. &0 1/1 _ ~ $ ~ -<: i ::J , ~~ parateoriasbehavioristasdo aprendizado,diagnósticose classificaçõesdapersonalidade, pSicologiasocialexperimental epsicoterapias. Cenasdecrianças Nosanos20haviaoutra"escola daGestalt":a dapsicologiada totalidadegenéticadeLeipzig. Felix Krueger (1874-1948), assistentede Wundtem 1910, nomeadoseusucessor,defen- deu a concepçãode que os sentimentostinham"qualidades gestálticas".Kruegercontrapôs aisso,porumlado,ateoriados elementosde seu professor, Wundt; por outro, criticou, nosexperimentosdaEscolade Berlim,o fatodeaintuiçãonão serlevadaemconta. Hoje,a psicologiada tota- lidadedeLeipzigé tidacomo metodologicamenteobtusae conceitualmenteumtantoanti- quada.Mesmoascontribuições deKruegeredeseucolaborador FriedrichSander(1889-1971) caíramemdescrédito,poisam- bosestavamvinculadosà ideo- logianacional-socialista,paraa qualchegaramatransferirsuas idéias,imprimindonelaso viés deum"todopopular". Sander,por exemplo,es- creveuem 1937quea "elimi- naçãodovermeparasitáriodo judaísmotinhasuajustificação profundanessavontade de umaforma(Gestalt)purapor partedo ser alemão".Con- siderandoisso,é de admirar queele e outros psicólogos datotalidadenãotenhamde- moradoa recuperarsuasca- deiraslogoaosprimeirosanosdaAlemanhado pós-guerra. Há aindaoutra variante significativada psicologiada Gestaltquenãodeveseresque- ~ :." I cida:a teoriadoscampos.No iníciodo séculoXX, asforças de campojá eramconhecidas dateoriadagravitaçãoedaeIe- trodinâmica;nadécadade20,o conceitoerautilizadopelafísica e pelasciênciassociais.Kurt Lewinseinteressoupelaidéia e tentoulhedardenominações específicas:no início falouem "teoriadinâmica",depoisem "psicologiadevetortopológi- co"e,porfim,adotouo termo "teoriadoscampos". O cernedopensamentode Lewiné bastantesimples:uma pessoa(P) estáemumespaço vital(Ev),ondehádeterminados elementos- lugares,objetos, outraspessoas- queapresentam aeladesafiopositivoounegati- vo(tambémchamadovalência). A pessoase senteatraídaou repelidaporeles.Algumasáreas do espaçovitalnãooferecem acesso'direto;naverdadesão obstruídasporbarreirase,para chegaraelas,éprecisotranspor regiõescomvalêncianegativa. Alémdisso,duasáreaspodem ~- assumirumcaráterdedesafiode forçaequiparável-eassimcon- correremumascomasoutras. Lewin mantevea descri- çãomatemáticadosprocessos psicológicosbemno cernede suaproposta.Ele tendiapara umalinguagem"Iogicamente condicionada,que refletiria todososoutrosmeiosdeauxí- lioconhecidosdapsicologia"e faziausodatopologia.Durante muitosanosele filmoudocu- mentáriosnosquaismantinha pessoasem"camposdeforças" deseusafetos,conflitoseações davontade(emgeral,crianças desuaprópriafamíliaemsitu- açõesdeconflito),masamaior partede seusfilmescaiu no esquecimento.Lewin filmava osseuspequenossemqueeles o percebessem,influenciado pelocineastarussoSergeiEi- senstein(1898-1948).Por ter registradocenasdascrianças desdequeeramrecém-nasci- dasatéa adolescênciaacabou criandoum documentário de caráterúnico. nec o CINEASTA Sergei Eisenstein(foto) influenciouo trabalho de Kurt lewin IstoéGestalt.John O.Stevens.Summus Editorial,1977. 25anosdepois - Gestalt-terapla, pslcodramae terapiasneo- relchlanasnoBrasil. S. Perazzo,S. Ciornai e L. M. Frazão.Ágora, 1995. ArteeGestalt - Padrõesque convergem.Janie Rhyne.Summus Editorial,2000. www.mentecerebro.com.br11 A neurologia da estética Apesardadiversidadedeestilos,háprincípiosuniversaisda arte- umaespéciede"gramática"daestética,análogaàs sintaxespropostaspelolingüistaNoamChomsky POR VlLAYANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN Neurocientistas,trabalhamno Centro do Cérebroe da Cognição da Universidadeda CalifómiaemSanDiego.FazempartedogrupodeconselheirosdaScientificAmericanMind. TRADUÇÃO: Julio deOliveira Oqueéarte?Ébemprovávelqueexistamtantasdefiniçõesquantoartistase críticos.E seapalavratemtantasconotaçõesémelhor- do pontodevistacientífico- nosrestringirmosàneuro- logiadaestética.Afinal,asformaspercebidascomo belase artísticasvariamde umaculturaparaoutra. E gostonãosediscute.O aromado marmite(pasta feitadelevedurae extratosvegetais),porexemplo,é procuradodemaneiraávidapelosingleses,masécon- sideradorepulsivoparaamaioriadosamericanos.O mesmoseaplicaàspreferênciasvisuais;pessoalmente, nãoencontramosnenhumapeloespecialnasobrasde PabloPicasso.Maséinegávelquemuitosseencantam comseutrabalho.Apesardadiversidadedeestilos, muitosseperguntamseháalgumtipo deprincípios universaisqueregemproduçõesconsideradasartísticas. Teríamosuma"gramática"inatadaestética,análoga àssintaxesuniversaisparalínguaspropostapelolin- güistaNoam Chomsky,do Institutode Tecnologia deMassachusetts? A respostapodesersim.Nós sugerimosqueleis "universais"daestéticapodemtranscendernãoapenas 12 MENTE&:CÉREBRO .ARMADILHASDA PERCEPÇÃO fronteirasculturais,mastambémdeespécies.Seriauma coincidênciaacharmospássaroseborboletasatraentes emboraelestenhamevoluídoparaagradarseusiguais - e nãoanós? Em 1994,meioqueporbrincadeira,criamosuma listaumpoucoarbitráriadas'1eis"daestética,daqual descreveremosseis:agrupamento,simetria,estímulos hipemormais,mudançadepico,isolamentoeresolu- çãodeproblemasperceptuais. Vamosconsiderarprimeiroo agrupamento.EmA (verPág.14),vocêtemasensaçãodeseusistemavisual lutandoparadescobrirejuntarfragmentosaparente- mentenãorelacionadosdeumúnicoobjeto- nesse casoum dálmata.Quando os fragmentoscorretos seajeitamem seuslugares,sentimosumasensação gratificante.Sugerimosqueessaexperiênciaagradável sejabaseadanasmensagensdiretasenviadasparaos centrosdeprazerdosistemalímbicoquereconhece: "Aquiestáalgoimportante,presteatençãol"- uma exigênciamínimaparaaestética.Estilistaseconsultores demodatrabalhamcomo princípiodoagrupamento -, mesmosemsedarcontadequeestãoutilizandoum princípiobiológicoancestralpara sugerira combinação.E sugerem umadeterminadaecharpepara combinarcomo vestido. O agrupamentoevoluiupara derrotaracamuflageme,deforma maisgeral,detectarobjetosem ambientesbagunçados.Imagine umtigreescondidoatrásdafolha- gem(D/napág.15).Tudoqueseu olhocaptasãofragmentosdetigre. Mas seusistemavisualpresume quetodasessaspartesnãopodem serparecidaspor cOincidência,e entãoeleasagrupapara"montar" a figura- epassaentãoaprestar atençãonela. A evoluçãotambémtemum dedonacriaçãodaatraçãoda simetria.Na natureza,amaioria dos"objetosbiológicos"(presas, predadoreseparceiros)sãosimé- tricos.Éfundamental,portanto,ter umsistemadealertaprecocepara chamaraatençãoparaasimetria - o que favorecea açãorápida e apropriadaemcadasituação. Essaatraçãoexplicao fascínioda simetria,sejaparaumacriança quebrincacomumcaleidoscópio, sejaparao imperadorJahan,que construiuo Taj Mahal(B)para imortalizarsuabelaesposa,Mu- mtaz.Essacaracterísticatambém podeseratraenteporqueparceiros assimétricoscostumamtermaus genesouparasitas.Já predadores simétricosparecemmaissaudáveis epodemrepresentarperigomaior, portantoéprecisoficaratento;por outrolado,presasqueapresentam esseaspectocostumamparecer maisapetitosas. Umaleiuniversalmenosóbvia é a do estímulohipemormal.O etólogoNikolaas11nbergen, da Universidadede Oxford, notou hámaisde 50 anosque filhotes degaivotasuplicavamporcomida bicandoo bico da mãe,que é castanho-clarocom um ponto www.mentecerebro.com.br13 ~.........-.. 14 MENTE&CÉREBRO.ARMADILHASDA PERCEPÇÃO Sefilhotesvennelho.Quandoseparadosda porseutrabalhosobrepadrõesde bomretrato.Característicasque degaivota mãe,ospássarosrecém-nascidoscomportamentoanimal.) fazemumrostoespecífico(por tambémbatiamdemaneirafer- Nósnãosabemosporqueesse exemplo,o deTomCruise)dife- tivessemuma vorosanumbicosemnenhuma efeitoocorre,masprovavelmenterenteda"média"decentenasde galeria,talvez gaivota conectadaa ele, apre- resultadamaneirapelaqualneurô- rostosmasculinossãoamplificadas sentadopelo pesquisador.Esse niosvisuaiscodificamainfonnação defonnaseletiva,demaneiraque pendurassem comportamentoinstintivosurgiu sensorial.O modocomoelessão o resultadopareçamaiscomo umavareta porque,como passardemilhões programadospodefazercom atordoqueseuprópriorosto.Em com faixas deanosdeevolução,océrebrodo querespondamdemaneiramais 1998,o filósofoWilliamHirstein, filhote"aprendeu"queumacoisa poderosaaumpadrãoestranho, doElmhurstCollege,eumdenós naparedee longacomumpontovennelho enviandocomissoumaespécie (Ramachandran)sugerimosqueas provavelmente significamãeecomida. dechoquedesatisfaçãoaosistema célulasnocérebrodomacacoque Tinbergendescobriuquepo- límbicodopássaro. sesaberespondema rostosindi- pagariamcaro deriaproduzirasbicadassemum Maso quetemumsuperbico viduais(taiscomoJoe,o macho'"iii parater bico.Umavaretalongacomum avercompercepçãodefonnas alfa)irãoresponderdefonnaainda pontovennelhoservia.Osneurô- e arte?Se filhotesde gaivota v maisvigorosaaumacaricaturado essaobra niosvisuaisnocérebrodo filhote tivessemumagaleria,talvezeles rostodoqueaooriginal.Essaforte ::E '"... ã;... '" obviamentenão sãomuitodeta- pendurassemumagrandevareta respostafoi agoraconfinnadaem fi: o-' Ihistasquantoàsexigênciasexatas comfaixasnaparedee provavel- ... '"experimentospor Doris Tsao,da < ...:z: 9v doestímulo.Masentãoelefezuma mentepagariamcaroparateruma UniversidadeHarvard. ....< .:.; S descobertaincrível.Quandoera obra dessas.A arte,de maneira <:z: :I:< mostradoumlongopedaçofinode parecida,estimulacolecionadores Menos é mais ::E ...'" cartolinacomtrêsfaixasvennelhas, ainvestirmilharesdedólaresnuma Nós nosvoltamosparaoutro prin- j:..... ,-' o filhotemostravapreferênciapor pinturasementenderporqueelaé cípio:o isolamento.Certamente,I:! > 2'" .. esseestímuloestranhoaumbico tãocativante.Por tentativae erro muitosartistasconcordarãoque,às ...'" !!... c real. Sem perceber,Tinbergen - etambémporcriatividade-, os vezes,naarte,"menosémais".Um Q... ...Q .. tinhatopadocomo quechama- artistasmodernosdescobriram pequenorabiscodeumnupodeser a a mosde "superbico".(Mais tarde, fonnasdeutilizaraspectosidios- bemmaisbelodoqueumafotogra- '" c'" ;...> em 1973,ele recebeuo Prêmio sincráticosdagramáticaperceptual fia 3-D emcoresdeumamulher :; :;c NobelemFisiologiaouMedicina primitivadocérebro,produzindoo nua.Porquê?Essefenômenonão >'" o equivalente,parao sistemanervoso contradiz a mudançade pico? ... .'" . 01 " humano,davaretacomfaixaspara Para resolveressacontradi- ... ! Q o filhotedagaivota. ção em particular,precisamos '"<:z: Um princípio relacionado, lembrar de que nosso cérebro v ... chamadode mudançade pico, tem recursosde concentração Q < representaumpapelnaapreciação limitados- um "engarrafamento" Vi...I-'" da caricaturaou mesmode um deatençãoocorreporqueapenas ov umpadrãodeatividadeneural podeexistiraomesmotempo.Aí entrao isolamento.Um rabisco ouesboçoplanejadodemaneira inteligente(C)permiteaosistema visualdeslocartodasuaatenção parao queé necessário- istoé, parao contornoouformadonu ~. - semser"distraído"portodosos;) ~ outroselementosirrelevantes(cor, ~ textura,sombraetc.)quenãosão ~ cruciaisparaa belezada forma;) ~ transmitidaporseustraços.o ~ Evidências desseponto dez ::J vistavêmdecriançasautistascom } habilidadesespeciais,taiscomo ::J Nadia.A meninaproduziudese-Q ~ nhosincrivelmentebelos,talvez ~ porque,comoa maiorpartede ~ seucérebrofuncionademaneira ~ abaixodaideal,elapodetertido ~ umaespéciede ilha detecido ~ cortical"poupado"em seulobo.. f parietal,umaregiãoresponsável ~ pelosensodeproporçãoartística. ~ Portanto,elapodiaempregarde ~ fonnaespontâneatodososseus g recursosde atençãoparaesse Z " 'd I d " d d« mouo e arteresguara o. ~ (Depoisde ela ter crescidoe ganhadooutrashabilidadesso- ciais,suashabilidadesartísticas desapareceram.)BruceMiller,da UniversidadedaCalifómia,São Francisco,mostrouqueatémes- mopacientesadultosquesofre- ramumadegeneraçãodoslobos frontaisetemporais(chamadade demênciafronto-temporal)de repentedesenvolveramtalentos artísticos,possivelmenteporque agorapodemalocartodasua atençãonoloboparietaL Outra"lei"relacionadaà es- téticaé o esconde-esconde(ou resoluçãodeproblemaspercep- tuais).No séculoIX, o filósofo indianoAbhinavaguptadescobriu oqueohistoriadordearteaustrí- aco-britânicosirEmstGombrich comprovounoséculoXX. Uma pessoadesnudaquetemapenas braçosoupartedoombroproje- tando-sedetrásdeumacortinade chuveiroouqueestáatrásdeum véudiáfanoémuitomaissedutora do queumnu completamente descoberto.Da mesmaforma queaspartespensantesdonosso cérebrogostamdasoluçãode problemasintelectuais,o sistema visualparecegostardedescobrir umobjetoescondido.A evolução pareceterseencarregadodeque opróprioatodebuscarumobjeto escondidosejaagradável,não apenasno"ahá"finaldereconhe- cimento- paranãodesistirmos cedodemaisemnossabusca.De outraforma,nãoprocuraríamos umapresaouparceiropotencial vislumbradoparcialmenteatrásde arbustos,deumanévoadensaou detecidostransparentes. Cadavislumbreparcialde umobjeto(D)inspiraumabusca -levandoaum"míniahá"- que enviaumamensagemderetorno parainfluenciarestágiosiniciais do processamentovisual.Essa mensagememrespostaincita maisbuscase- depoisdevárias dessasiteraçõese "míniahás" - chegamosao prazerfinaldo reconhecimento.O estilista demodae artistasinteligentes tentamevocartantasdessassen- sações,ambigüidades,mudanças de pico e paradoxosquanto possívelnaimagem. Essaconcepçãocomporta aindaaspectosmaisevasivosda estética,tal comoa "metáfora visual"- umaressonânciapraze- rosaentreoselementosvisuaise simbólicosdeumaimagem.Entre aestéticadosfilhotesdegaivota eabelezasublimedeumMonet, temosumalongajornadaatéreal- menteentendero processamento visuqlnocérebro.Enquantoisso, nossosestudosnosproporciona- ramvislumbresirresistíveisdoque podeaparecer,inspirando-nosa continuarnossabusca. ... -== Innervlslon:an exploratlon01art andthe braln.Semir Zeki.OxfordUniversity Press,2000. A brleftour 01human consclousness.V. S.Ramachandran.Pi Press,2005. www.mentecerebro.com.br15 f " "J f \ '\. -t\ '\ \ \;':( 'Iv( ( I Paradoxos,..; daperCepçaO Seduasfontesdiferentesde informaçãosão incoerentesentresi,o cérebrodá importância à queparecermaisconfiável,combaseem experiênciasacumuladas- evaiignorara outra POR VILAVANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN P aradoxos- nosquaisa mesmainformação podelevaraduasconclusõescontraditórias - nosoferecem,aomesmotempo,prazere tormento.Sãofontedefascinaçãoe frustração, querenvolvamfilosofia(considereo paradoxode Russell,"Estafraseé falsa"),ciênciaoupercepção. O ganhadordo PrêmioNobel,PeterMedawar, disseumavezquetaisquebra-cabeçastêmomesmo efeitoparaumcientistaouumfilósofoqueocheiro deborrachaqueimandotemparaosengenheiros: deflagramumavontadeirresistíveldedescobrira causa.Nacondiçãodeneurocientistasquepesqui- sampercepção,nossentimoscompelidosaestudar anaturezadascontradiçõesvisuais. Vamosexaminaro casomaissimples.Seduas fontesdiferentesdeinformaçãonãosãocoerentes umacomaoutra,o queacontece?Certamenteo cérebrodaráimportânciaparaaqueformaiscon- fiávelemtermosestatísticos,evaisimplesmente ignoraraoutra.Porexemplo,sevocêolharaparte dedentrodeumamáscaraocaà distância,verá o rostocomonormal-istoé,convexo- embora suavisãosinalizedemaneiracorretaqueamás- 16 MENTE&CÉREBRO. ARMADILHAS DA PERCEPÇÃO caraé,naverdade,ocaecôncava.Nessecaso,a experiênciaacumuladado cérebroemrelaçãoa rostosconvexossobrepujaevetaapercepçãoda ocorrência- incomum- deumrostooco. Mais irresistíveissãoassituaçõesnasquais a percepçãocontradiza lógica,levandoa "figu- rasimpossíveis".O pintore litógrafobritânico WilliamHogarthcrioutalvezumadasprimeiras dessasfiguras,noséculoXVIll (A)(verpág.18). Umabrevevisãodessaimagemnãosugerenadade anormal.Masumainspeçãomaisatentarevelaque elaéimpossívelemtermoslógicos.Outroexem- ploéo"forcadododiabo",ouenigmadeSchuster (B).Taisimagenslevantamquestõesprofundasso- brearelaçãoentreapercepçãoearacionalidade. Nos temposmodernos,o interessepor tais efeitosfoi emparterevivido peloartistasueco OscarReutersvard.Conhecidocomoo paidas figurasimpossíveis,ele desenvolveuinúmeros paradoxosgeométricos,incluindoa "escadaria interminável"eo "triânguloimpossível".Essesdois tan1bémforamdesenvolvidosdemaneirainde- pendenteporLioneleRogerPenrose,osfamosos paie filhocientistas;a figura C, mostrasuaversãodo queé agorachamadocomumentede triângulodePenrose. O artistaholandêsM. C. Escherencaixoudeformadiver- tidataisfigurasemsuasgravuras explorandooespaçoeageome- tria.Considerea escadariade Escher,figuraD: nenhumaparte isoladada escadariaparece incoerenteouambígua,maso conjuntotodoé impossívelem termoslógicos.Você poderia subira escadariaeternamente eaindaassimandarsempreem círculos,nuncachegandoao topo.Issosimbolizaacondição humana:procuramosdeforma perpétuaaperfeição,masnunca chegamosmesmolá! Essaescadariaseriarealmente umparadoxoperceptual?Istoé, océrebroéincapazdeconstruir umapercepçãocoerente(ousi- naldepercepção)porqueeletem desimultaneamenteconsiderarduaspercepçõescontraditórias? Achamosquenão.A percepção, quasepordefinição,temdeser unificadaeestávelemqualquer dadoinstante,porquetodoseu propósitoé levara umaação apropriadadanossaparteguiada porumameta.Realmente,alguns filósofossereferiramàpercepção comouma"prontidãocondicio-~ nalparaagir",o quepodeparecer~ ~ umexagero. .. Apesar da visão comum ~ d " , .1 2 e nosvemosaquIo emque~acreditamos",osmecanismos:I perceptuaisestãorealmenteI» nopilotoautomáticoenquanto computame sinalizamvários aspectosdo ambientevisual. Vocênãopodeescolhervero quequerver.(Seeulhemostrar um leãoazul,você vai vê-Io comoazul.Vocênãopodedizer "Euescolhovê-Iocomodourado porqueé assimquedeveser".) Ao contrário,o paradoxona figuraD surgeprecisamente www.mentecerebro.com.br17 o 10 18 MENTE&CÉREBRO'ARMADILHASDA PERCEPÇÃO porqueo mecanismopercep- tual realizaumacomputação estritamentelocalquesinaliza "escadasascendentes",enquanto seumecanismoconceptual/inte- lectualdeduzquêé impossível em termoslógicos para tal escadariaascendenteformar umcircuitofechado.A metada percepçãoécomputardeforma rápidaasrespostasaproximadas quesãoboaso suficientepara asobrevivênciaimediata;você nãopodeconsiderarseo leão estápertooulonge.A metada concepçãoracional- dalógica - é tomaro temponecessário paraproduzir umaavaliação maisprecisa. Em conflito Sãoasfigurasimpossíveis(com exceçãodo triângulo,ao qual voltaremosmaistarde)parado- xosgenuínosdentrododomínio dapercepçãoemsi?É possível argumentarqueapercepçãoem sipermanece,oupareceperma- necer,internamenteconsisten- te,coerenteeestávelequeuma percepçãoparadoxalgenuínaé umoximoro.A escadarianãoé maisumparadoxodo quever umailusãovisualtal como a Müller-Lyer(verfiguranocanto inferioresquerdo),naqualduas linhasdeigualcomprimentopa- recemdiferir- massemedirmos asduaslinhascomumarégua poderemosnosconvencer,pelo menosintelectualmente,deque elassãodecomprimentoidên- tico. O conflitoé justamente entreapercepçãoeo intelecto, nãoumparadoxogenuínoden- tro da própriapercepção.Por outrolado,"Estafraseé falsa" éumparadoxointeiramenteno campoconceitualllingüístico. Outra percepçãocativante é o efeitocolateralde movi- mento.Sevocêencararporum minutofaixasmovendo-seem umadireção(ver"A dançadas ~ listras",nestaedição)eentãotrans-~ ferir o olhar paraum objeto i estacionário,oobjetoparecerá~ se movernadireçãoopostaà ~ em queas faixasse moviam. ~ Esseefeito surgeporqueseu sistemavisualtemneurônios dedetecçãodemovimentoque sinalizamdireçõesdiferentes, e as faixasque se movemo tempotodo emumadireção "causamfadiga"nosneurônios quenormalmentesinalizariam aquelesentido.O resultado é um "ricochete"quefaz até objetosestacionáriosparecerse moveremnadireçãooposta. No entanto,curiosamen- te, quandovocê olha parao objeto,ele dáa impressãode estarsemovendoparaumlado, masnãoparecechegara lugar Q ~ , ~8z .'" . ~51~ :, .c:~I ~ iL ~ci) ~~ Q . ~~I~~ ~;1 ~01 ~ ~I~0, ~ %1 .:.i".~> "';;81 :: ~ I Q u ~~ ~ u;, . 15::11 ~~I :::g~N ~Q!'" , ~~ Q o ~~ I ":('::J~o nenhum;nãoháprogressopara umameta.Esseefeitoé, com freqüência,apregoadocomo umparadoxoperceptual:como algo pode parecerse mover, masnãomudardelugar?Mas, denovo,apercepçãoemsinão é paradoxal;emvezdisso,ela sinalizacomsegurançaqueo objetoestásemovendo.É seu intelectoquededuzqueelenão estáse mexendoe pressupõe umparadoxo. e ~ ~ c t ~ ~ ~ Fronteirasdacognição ~ Considerea situaçãoinversa gbem mais familiar. Você sabe ~ (deduz) que o ponteiro das 5horas do seu relógio está se8 ~ movendo, embora ele pareça ~ parado.Não estáse movendo ~ rápidoo suficienteparaexcitar g osneurôniosdetectoresdemo- ~ vimento.Mas ninguémchama § o movimentodo ponteiro das~ :E:horas de paradoxo. e Há casos-limite,como o exemplificadono forcadodo diabo.Nessequadro,algumas pessoaspodem"ver"o todo numúnicoolhar.As próprias deixasperceptuaislocaiseglo- baissãopercebidascomouma únicaGestaltcomcontradições internas.Ou seja,é possível compreendero todonumúnico olhar e apreciarsuanatureza paradoxalsempensarnisso. Essesquadrosnos lembram que,apesardanaturezamodular quaseautônomadapercepção e de suaaparenteimunidade ao intelecto,a fronteiraentre apercepçãoeacogniçãopode tornar-seindistinta. Com o triânguloimpossí- vel acontecealgosemelhante. Comomostradopeloneuropsi- cólogoRichardL. Gregory,da UniversidadedeBristol,naIn- glaterra,vocêpodeconstruirum complicadoobjetoem3-D (F) queiráproduziraimagememG só quandovistodeumângulo particularmenteprivilegiado. Desseânguloespecífico,oobje- topareceserumtriângulonum únicoplano.Massuapercepção rejeitataiseventosaltamente improváveis,mesmoquando seuintelectoestáconvencido desuapossibilidade(depoisde tersidoapresentadoàvisãoem G). Portanto,mesmoquando entendemosconceitualmente a formaincomumdo objetoF, continuamosa vero triângulo fechado(G),emvezdoobjeto (F)quenaverdadeo origina. Como alguémpodetestar essasnoçõesdemaneiraempí- rica?Na escadariadeEscher,é possívelexploraro fatodequea percepçãoévirtualmenteinstan- tânea,enquantoacogitaçãoleva tempo.Alguémpoderiaapre- sentaroquadroporumperíodo curto- umtempoinsuficiente paraqueacogniçãoseative- di- gamos,umdécimodesegundo seguidopor umestímulomas- carador(queevitaacontinuação doprocessamentovisualdepois daremoçãodafiguradeteste).A previsãoseriaqueaimagemnão maispareceriaparadoxala não serqueo estímulofosseencom- pridadode maneiraadequada. O mesmopodesertentadopara o forcadodo diabo,quetem maiorprobabilidadedeserum paradoxoperceptualgenuíno. Nessecaso,a máscarapoderia nãosercapazde "dissecá-Io" emdoisestágios(percepçãoou cognição)distintos,podendose resumiraumaquestãodeescala ou complexidade.Quaisquer quesejamasorigensdo para- doxo, ninguémdeixade ficar intrigado por essesquadros enigmáticos.Elesexcitamnos- sossentidose desafiamnoções derealidadeeilusão. nec o artista holandêsM. C. Escher utilizounoções deespaçoe geometriaem suasgravuras, criandoefeitos inusitadosque simbolizam acondição humana: procuramos aperfeição, masnuncaa atingimos A Newamblguous figure:athree-stlck clovis. D. H. Schuster emAmericanjoumalof Psychology,vol.77,pág. 673,1964. lhe Intelllgenteye. RichardL Gregory. McGraw-HiII,1970. Maisfigurasambíguas estãodisponíveisem www.im-possible.info/ english/art/index.html www.mentecerebro.com.br19 Buscasdo olhar Experiênciascompontos cegosindicamque nosso sistemanervosodetestao vácuo- e procurafugirdele POR VlLAYANUR S. RAMAOfANDRAN E DIANE ROGERS-RAMAOfANDRAN Vemoso mundode dois pontosprivi-legiadosligeiramentediferentes,quecorrespondemàs posiçõesde nossos dois olhos. Há pequenasdiferençasentreas imagenscaptadasporcadaumdeles;diferenças quesãoproporcionaisà profundidaderelativa dosobjetosno campovisual.O cérebropode mediressasdiferenças,operaçãocujoresultado éavisãoestéreoouestereopsia. Paraterumaidéiadesseefeito,estendaum braçoapontandoparaum objetodistante.En- quantomantémo braçoestendido,abrae feche cadaum dos olhos alternadamente.Perceba comoseudedomudaemrelaçãoaoobjeto,fato 20 MENTE&CÉREBRO.ARMADIlHAS DA PERCEPÇÃO que ilustraa disparidadehorizontalentreos globosoculares. Dispositivosde visualizaçãoque se apro- veitavamda estereopsiaparacriar ilusõesde profundidadeem imagensde paisagens,em monumentosarquitetônicose atéemimagens pornográficassetornarampopularesnossalões vitorianos.AsobrasdoartistaholandêsMaurits CornelisEscher(1898-1972)sãobomexemplo daestereopsiaaplicadaàsartesgráficas. Um fatopoucocomentadosobrea visãoes- téreoé que,aindaquevejamosduasimagensde ummesmoobjeto- umapormeiodecadaolho -, percebemosapenasum.De formasimilar,se tocamosamesmamaçãcomas duasmãos,sentimosumafrutae nãoduas.Assim,asimagensdos olhosdevemser"fundidas"em algumapartedocérebroparadar origemàpercepçãodeumitemunitário.Podemosformularas seguintesquestões:oqueocorre quandoos olhoscontemplam coisasinteiramentediferentes? Perceberemosumamistura? Tenteo seguinteexperi- mento.Pegueunsdessesóculos deleituraquesecompramem farmácia.Fixenumadaslentes umfiltrovermelhoe naoutra, um verde;depoiscoloqueos óculos. O que você verá se olharparaumobjetobranco? Se fecharum dosolhos,verá verdeou vermelho,conforme oesperado.Masesevocêabrir osdoisolhos?As duascoresse misturarãono cérebroprodu- zindooamarelo,comoo fariam se misturadasopticamente? (Vale lembrarque vermelho e verde produzem marrom quandomisturamospigmentos,~ comotintas.Masquandomis- ~ turamosluzes,projetando-as1 numatela,essascoresresultam1 noamarelo.) ~ Vocêvaiverumacoisade! cadavez.Surpreendentemente, o objetosurgealternadamente vermelhoeverde.Osolhospa- recemgentilmenteserevezar, comoseevitassemoconflito.O fenômenoéchamadoderivali- dadebinoculareoefeitoésimi- laràquelequevemosno cubo www.mentecerebro.com.br21 o cérebro utilizapartes dasimagens de cadaolho que fazem IIsentidollcomo umpadrão holísticopara combiná-Ias corretamente CUBODENECKER (obaixo):revezanAento dosolhosevita rivalidadebinocular. Ao lado,fusãode inAagens:o cérebro extraifragnAentosdas ImagensquefazenA sentido COnAOUnA padrãoholístico deNecker(verilustraçãoabaixo). Para a pessoaque vê, pode parecerqueessasexperiências perceptivasdinâmicassurgem porqueo próprioobjetoestá mudando.Mas o estímuloé perfeitamenteestável.O que alteraé o padrãodeatividade cerebral,queproduzasaltera- çõesperceptivase a ilusãode umobjetoinstável. É possívelusara rivalidade binocularcomoumapoderosa ferramentapara explorar a questãomaisgeral de como o cérebroresolveconflitosde percepção.Tentemosoutro experimento.Emvez deduas coresdiferentes,apresentemos à visãoduassériesde listras perpendicularesentre si. O resultadoseráumagradeou assériesentrarãoemconflito? A respostaé:àsvezesveremos as sériesalternadas,àsvezes ummosaicode listras,comas seçõesdas imagensdos dois olhosentrelaçadas.Jamaisve- remosumagrade. Teoricamente,poderíamos fazeresseexperimentoposi- cionandolistrasverticaisparao olhodireitoehorizontaisparao esquerdoemumvisorestéreo. Massevocênãotiverum,po- demosimprovisaralgoparecido (verilustraçãonapág.aolado).Basta posicionarumadivisória,umpe- daçodepapelão,porexemplo, no limiteentreduasimagens. Agoracoloqueseunarizperto dadivisória,detalformaqueo olho esquerdomireexc\usiva- menteumaimagemeo direito, aoutra.O quevocêvaiversão listrasalternadasouummosaico flutuante,nãoumagrade.Com a prática,pode-sedispensara divisóriae aprendera "fundir livremente"as duasimagens, convergindoou divergindoos olhos.Olhar paraa pontade umlápisameiocaminhoentre asimagenseafacepodeauxiliar esseaprendizado. Depois de aprenderesse truque,novosexperimentos serãopossíveis.Sabemos,por exemplo,quediferentesáreas docérebroestãoenvolvidasno processamentodacoredaforma das imagens.Podemosassim questionar:a rivalidadeocorre separadaouconjuntamentepara essesdoisaspectos?E seolhar- mosaslistrasdoolhoesquerdo atravésde um filtrovermelho e asdo olhodireitoatravésde um verde?Haveráentãouma rivalidadede cor e outra de forma.Elasocorremdemaneira independente,de tal modo que a cor do olho esquerdo seemparelhacomaslistrasdo 'olho direito, ou elassempre "concorrem"sincronicamente? A respostaéqueasrivalidades ocorremconjuntamente.Dito de outra forma:a rivalidade se dá entreos própriosolhos e não no processamentodas coresou formas. Discose baldes Masnemsempreissoéverdade. Dêumaolhadanasimagensda páginaanterior.A figuraapre- «-a II II â'. ' ". _... ':-,",",...-. - .;'" ...'" '"..z... ;j .. u o" C ----- "... ;: z Z:J: !2. >- zZ:J: !2. 22 MENTE&CÉREBRO.ARMADIUiAS DA PERCEPÇÃo ~ ~% w~ QUANDOCADAOLHOvêdiferentespadrões delistras,o resultadonãoéumaimagem entrelaçada,masummosaico sentadaa cadaolho misturaa facedeummacacocomfolhas verdes.De formaintrigante, seo cérebrofundeasimagens há umaforte tendênciapara completaro macacoou a fo- lhagem,mesmoqueissoexijaa reuniãodefragmentosdecada umdosolhosparacompletaros padrões.Nessecaso,océrebro utiliza partesdasimagensde cadaolhoquefazem"sentido" comoumpadrãoholísticopara combiná-Iascorretamente. Retomemosà estereopsia, isto é, o cálculo da profun- didade relativa de imagens provenientesde dois olhos cujasposiçõesno espaçosão ~ ligeiramentediferentes.Neste i casoas imagensse fundeme,Q ~emvezdarivalidade,temosa 1 profundidadeestéreo.É digno 5 de notaquedurantemilênios ~ aspessoasnãoreconheceram ~ a estereopsia,pressupondo, ~ provavelmente,queobenefício ~deterdois olhos resideno fato Q ] deque,seperdermosum,nosIr . ;. restanaoutro.Esseargumento ~tempelo menos500anos, ~considerandoque foi usado porLeonardodaVinci.O fato dequeo cérebrofazusodela foi descobertopelo médico inglês Charles Wheatstone (1802-1875).É possívelelabo- rarumexemplodadescoberta dele com o desenhode um baldevistode cima.Quando fundimosasimagensdosdois olhos(usandoa fusãolivreou um cartão divisório), surge um discocinza quecircunda o círculo externo,dando-nos a impressãode que estamos suspensosnoar. Mas precisamosrealmente dafusãoparaqueaestereopsia ocorra?A questãopodeparecer ingênua,pois nossaintuição sugerequesim.No entanto,a intuiçãoestáequivocada.Três décadasatrás,AnneTreisman, da Universidade Princeton, L\oyd Kaufman,da Universi- dadede Nova York, e um de nós (Viláyanur) mostraram, de formaindependente,quea rivalidadepodecoexistircom aestereopsia,pormaisqueisso pareçaparadoxal. Para entendero fenôme- no, considereo diagramada imagemacima.Ele apresenta dois fragmentos de listras dispostashorizontalmenteem direçõesopostasem relação aoscírculosexternos.Quando o cérebrofundeessescírculos, algoextraordinárioacontece. Veremoso fragmentointeiro flutuando,massomenteum fragmentopor vez,porqueas listrassãoortogonais.Em ou- traspalavras,o cérebroextrai o sinalestéreodosfragmentos comoumtodo, interpretando as porçõesindividuaiscomo gotas,masos fragmentospa- recemrivalizar. A informaçãosobrea lo- calizaçãodos fragmentosna retinaé extraídapelocérebro e produzestereopsiamesmo queapenasa imagemde um dosolhossejavisívelporvez. É comosea informaçãosobre umaimageminvisívelpudesse, entretanto,gerarestereopsia. Essa "forma de rivalida- de" ocorre em umaáreado cérebrodiferenteda estere- opsia,de modo que as duas podemcoexistiremharmonia. A correlaçãoentreelasnavisão www.mentecerebro.com.br23 o nívelde informação queo cérebro assimila enquanto observamos o mundoé pequeno . Atençãoparaovazio Nossapercepçãodo mundode- pende,numgrausurpreendente, do trabalhode adivinhaçãoin- teligentedocérebro.A imagem brancaovalqueexcitasuaretina podetersidoproduzidaporum ovo, um discoindinadoperfei- tamentedrcular,ouumnúmero infinitodeformasintermediárias colocadasno grauexato.Ainda assim,nossocérebro"acolhe" instantaneamentea resposta certa.Fazissoutilizandocertas premissasa respeitodasestatís- ticasdo mundonatural- supo- siçõesquepodemserreveladas porilusõesvisuais.Omodocomo lidacomvaziosinexplicáveisna imagemretiniana- umproces- so c"amadopreenchimento -fomeceumexemploadmirável desseprinápio.Vocêpodecom- prová-Iousandoo pontocego deseuolho.Examineailustração (a).Comoolhodireitofechado, olheparaocentrodoquadrado brancoinferior.Segureapágina a 30emdorostoe lentamente aproxime-ae afaste-a.A uma certadistândaodiscoàesquer- dadesaparece.Elecainoponto cegodoseuolhoesquerdo,um pequenofragmentodaretina chamadodiscoóptico,despro- vidodereceptores. O físicovitorianosi,David Brewsterficouimpressionado como fato de o desapareci- mentododisconãodeixaruma sombraescuraou umburaco vazioemseulugar.Aregiãoque correspondeaodiscoé"preen- chida"pelofundocolorido.EleatribuiuesseprocessoaDeus,o "ArtíficeDivino". Atémesmoumalinhareta quecorreatravésdoseuponto cegonãoé interrompidano meio,comosepodeverfazendo o mesmoexerácio,destavez, porém,olhandoparao qua- dradobrancosuperiorem(A). O segmentofaltanteda linha aparececompleto.Écomoseo cérebroconsiderassealtamen- te improvávelqueduaslinhas curtaspudessemficardecada ladodopontocegoporsimples acaso.Ascélulasnoscentros visuaissãoestimuladascomo seriamcasoa ba"a estivesse completa,e dessaformavocê vêumalinhacontínua. O pontocegoé surpreen- dentementegrande,quasedo tamanhodenoveluascheiasno céu.Experimentefecharoolho esquerdoe olharemvoltada salacomodireito.Comalguma prática,vocêpoderá"mirar" seupontocegoparaqualquer objetopequenoefazê-Iodesa- parecerdocampovisual.O rei Carlos11daInglaterracostuma- vamirarseupontocegopara a cabeçadosprisioneirospara "decapitá-Ios"visualmentean- tesdaverdadeiradegola. Qualéograudesofisticação doprocessodepreenchimento? Seo meiodeumacruzcairno pontocego,eleserápreenchi- do? E os padrõesrepetitivos dotipopapeldeparede?Com e 24 MENTE&CÉREBRO.ARMADILHASDA PERcEPÇÃO 41) apenasalgunspincéisatômicos coloridose folhasde papel, vocêpodeexploraroslimitesdo preenchimentoe as"Ieis"que regemo processo.Voudescre- veralgunsexemplos,mastente inventarosseus. Em(8),o seupontocego cainocentrodeumX forma- do porumalongalinhaverde quecruzaumapequenalinha vermelha.Sevocêfor comoa maioriadaspessoas,veráque somenteamaiordasduaslinhas écompletadaatravésdoponto cego.(Noentanto,nãoédlfídl preenchera partefaltantede linhacurtaseelaforconsiderada emsimesma.)Esseexerááosim- plesdemonstraque,sobcertas condições,o preenchimento baseia-semaisnaintegraçãode informaçãoaolongodetodoo comprimentoda linhaquena informaçãoespadalmenteadja- cente.Emoutrasdrcunstândas, océrebropreencheapenasoque estáimediatamenteemtomo dopontocego.Sevocêmirao pontocegodoseuolhoesquer- donocentrodeumarosquinha amarela,veráumdiscoamarelo emvezdeumanel;o amarelo faz o preenchimento.O mais notávelé quea mesmacoisa aconteceem(C);a maioriadas pessoasvêodiscoamarelosaltar visivelmentecontraumfundo de papelde paredede anéis amarelos.Emvezdeextrapolar opadrãorepetitivodeanéis,seu sistemavisualrealizaumcômpu- toestritamentelocalepreenche apenaso amarelohomogêneo noentomoimediatododisco. Porémissonemsempreé verdade,comosevêem(D).Ob- serveailusóriafaixaverticalque correatravésdaslinhashorizon- taisparalelas.Mireopontocego doseuolhoesquerdonodisco azulparafazê-Iodesaparecer. Vocêpreencheos segmentos ausentesdaslinhashorizontais quecorrematravésdo ponto cego?Oupreencheafaixailusória vertical?A respostadependedo espaçamentodaslinhas. Porqueaconteceopreenchi- mento?Époucoprovávelqueo sistemavisualtenhadesenvolvi- doessacapacidadecomo único objetivode lidarcomo ponto cego(afinal,o outroolhonor- malmentefaza compensação). Opreenchimentodeveantesser manifestaçãodoquechamamos interpolaçãodesuperfície,uma habilidadequesedesenvolveu paracomputarrepresentações desuperfíciesecontornoscontí- nuosdomundonatural-mesmo aquelesàsvezesparcialmente ocultos(porexemplo,umgato vistoatravésde umacercade tábuasespaçadas,pareceumgato inteiro,enãoumfatiado).Fisio- logistas(especialmenteLeslieG. Ungerleider,doInstitutoNacional deSaúdeMental,RicardoGatass, daUniversidadeFederaldo Rio deJaneiroe CharlesD. Gilbert, daUniversidadeRockefeller) começamaexploraro mecanis- moneurológicodesseprocesso monitorandoo modopeloqual neurôniossimplesdoscentros visuaisrespondemaobjetospar- dalmenteencobertospeloponto cegoouporocIusoresopacos. Seficarenjoadode brincar comseupontocegonatural, tenteisto.Noladodireitodatela dalV coleumpequenopedaço (0,5cmdediâmetro)decartolina brancacomumpontopretono centro.Depois,ligueaTVemum canalqueestejaforadoarpara quevocêpossaverapenas"pin- gos"brilhantes.Coleumpedaço grossodepapel-cartãocinza(o maispróximopossíveldotomda chuvadepingosdaTV)acercade 12cmdocartãobranco.Fiquea ummetrodoaparelho.Seabriros doisolhoseolharfixamentepara o pequenopontopretodurante 15segundos,o quadradocinza desaparecerácompletamente,e aárea"desocupada"serápreen- chidapelospingos-vocêtemalu- cinaçõescomospingosondeeles nãoexistem!O extraordinárioé queseagoravocêolharparauma paredecinza,veráumpedaço quadradodepingosbrilhandona regiãoemqueo preenchimento ocorreu.Atéumasolitáriabolha vermelhavistacontraumfundo debolhasverdesdesapareceda mesmaforma- asverdesfazem o preenchimento.O cérebro,ao queparece,detestaovácuo. Essasexperiênciasmostram comoérealmentepequenooní- veldeinformaçãoqueocérebro assimilaenquantoobservamos o mundoeoquantoelepróprio fornece.Ariquezadanossaexpe- riênciaindividualéimensamente ilusória;naverdade,nós"vemos" muitopoucoe dependemosdo trabalhodeadivinhaçãotreinado parafazero resto. o binocularnormaléumacoinci- dência,nãoumanecessidade.A descobertadequedeterminada informaçãovisualpodeserpro- cessadainconscientementeem umcaminhocerebralparalelo lembraaenigmáticasíndrome neurológicadavisãoàscegas. Um pacientecom lesão no córtexvisualécompletamente cego:nãopodeperceberum foco de luz. Mas elepodeal- cançá-Ioe tocá-Iousandoum caminho paralelo que evita o córtex visual (necessário paraa percepçãoconsciente) e projetadiretamenteparaos centroscerebrais,quesãouma espéciede piloto automático queguiamamão. Um experimentosimilar poderia,emtese,serelaborado para a rivalidadebinocular. Quandoaimagemdeumolho é inteiramentesuprimidadu- rantea rivalidade,talvezfosse possívelalcançare tocaruma manchaapresentadaàquele z olho,aindaqueelasejainvisível ~parao olhosuprimido.:z: ~ O fenômenodarivalidadez ~ éumnotávelexemplodecomoo ~ podemosusarexperimentos ~relativamentesimples para ~ obtergrandesinsightssobreo 2 processamentovisual. ner: Stereopsls generatedwlth JuleszpattersIn splteof rlvalry Imposedby colourfllters.V.S. RamachandraneS. Sriram,emNature, vol.237,págs.347- 348,1972. Blnocularvlslon andstereopsls.lan P.HowardeBrian J.Rogers.Oxford UniversityPress,1995. Blnocularrlvalry. DavidAlaise RandolphBlake (orgs.).MIT Press, 2004. www.mentecerebro.com.br25 OY~dD~3dVOSVH1IOVV\jH'V.O~83~p~3IN3V\j9Z ~ \. (/ II ,. ..- ~,.".\ ,.. (/ / \~ / I I1 1I r ,. H \ """'"-- ofascíniodo Imagensespecularesajudampessoasamputadasa amenizarou eliminara dorfantasma;experimentomostraa importânciada comparaçãode informaçõessensoriaisparaa imagemcorporal POR VlLAYANUR S. RAMACHANDRAN E DIANE ROGERS-RAMACHANDRAN os espelhosinspiramfascíniopeculiardesdequeumdosprimeirosancestraishominídeosolhou seureflexonuma poçade águae percebeuumamisteriosacor- relaçãoentreosprópriosmovimentos(sentidos internamentepor meioda propriocepção)e o feedbackvisual.Mais misteriosaaindaé nossa capacidadede"refletir"sobrenósmesmos,oque nostornaos primeiroprimatasintrospectivos. Estahabilidadeéexpostademaneirasmuitodís- pares:desdeNarcisoolhandoo próprioreflexo numlagoatéa realidadevirtualque,de certa forma,nostransportaparaforadocorpo. Uma dasmaisintrigantesdescobertasdas neurociênciasforamos neurônios-espelho,que nospermitem"adotaro pontodevistadooutro", literalmente,e quemsabeaté"olhar"apartirda posiçãoestratégicade outra pessoa.É como seo cérebroestivesseexaminandoseupróprio espelhointerno. Há cercadedezanososneurocientistasEric L.AltschulereSteveHillyer,daUniversidadeda CalifórniaemSanDiego,eumdenós(Vilayanur) descrevemosumanovasíndromeneurológica chamadaagnosiaespecular.O problemaé ca- racterizadopelaincapacidadedepacientes- que sofreramderrameslevesnohemisfériodireito- nãosaberemqueaimagemdeumobjeto,refleti- danoespelho,ésóumaimagem.Surpreenden- temente,elestentampegaro "objeto"repetidas vezes,comosenãoconseguisseminibirumato reflexo,embora,dopontodevistamental,essas pessoassejamabsolutamentesaudáveis.Esse fenômenonos faz pensarnosmistériosentrerealidadee ilusão,nafragilidadeimplícitanessa relaçãoe no quantoos espelhossãoprofunda- menteenigmáticos. Sensações cruzadas Vocêpodebrincarcomreflexosparaexplorara magiadeles.Comececonstruindoumacaixade espelho(verquadropág.28).Projetamosessacaixa originalmenteparatratarpacientesquesofreram derrameou que,apósumaamputação,sentem dor nomembro-fantasma;masqualquerpessoa podesedivertirfazendooexperimentoconsigo próprioecomosamigos. Normalmente,nossossentidos- comoa www.mentecerebro.com.br27 PERCEPÇÃO DA própriaimagem éatualizadacom exerádosnacaixa deespelhos visão,aaudiçãoeapropriocep- ção - trabalhamemrazoável concordância.Mensagensori- ginadasnessesdiferentescanais sensoriaisconvergemparaos girosangulare supramarginal do lobo parietaldo cérebro, ondeconstruímosnossa"ima- gem corporal". Nos demais primatas,essasduasestruturas estãofundidasnumúnicogiro, no lóbuloparietalinferior. Na espéciehumana,entre- tanto,dadaa importânciadas interaçõessensoriaiscruzadas - tambémchamadasinter- modais-, esselóbulocresceu muitoesedividiuemdois.Foi assimqueessemacacopelado se tornoucapazde tão vasta sofisticaçãotecnológica- um macacoquenãotentaapenas 28 MENTE&CÉREBRO.ARMADIlHAS DA PERCEPÇÃO alcançaros amendoins,mas tambémasestrelas. Voltemos à caixa de es- pelho. Comece com o lado reflexivovoltadoparaadireita. Depoiscoloqueamãoesquerda no ladoesquerdodo espelho, de modoquefiqueocultada suavisão;eponhaamãoclireita no ladodireito,deformaami- metizarcomprecisãoapostura e localizaçãodamãoesquerda escondida.Agoraolhenoespe- lho o reflexodamãodireita;a sensaçãoquesetemédeestar vendoa mãoesquerdareal,o queéobviamenteumailusão. Continue olhando o es- pelho e movaas duasmãos de formasincronizada- em círculosouabrindoefechando os dedos,por exempio- de maneiraqueamãorefletidae a ocultaestejamem perfeita sincronia.Entãoparedemovi- mentarapenasamãoesquerda (oculta)e, ao mesmotempo, continue mexendoa direita lentamente:gire-a, faça um acenoouagiteosdedos- mas mantenhaa esquerdaimóvel. Agoravemo instantemágico: por alguns momentosvocê veráamãoesquerdasemover, emboraa sinta imóvel.Sur- preendente,não? O cérebro abominacontradições. Incongruência sensorial Prepare-separaalgomaisdes- concertante:movaa mãoes- querda oculta e, ao mesmo tempo, mantenhaa direita imóvel. A sensaçãoé ainda maisestranhaquandovisãoe propriocepção"sechocam". A seguir, ainda olhando o espelho,peçaaumamigoque ~seguresuamãodireita.Você ~ verá sua"mãoesquerdavir- tual"sendotocada,enquanto a mãoesquerdareal,atrásdo espelho,permanecelivre.Com esteconflitosensorialpeculiar, algumaspessoassentemamão esquerdacomo se estivesse anestesiada- porquevêemo toque,masnãoo sentem. Um outro tipo de incon- gruênciasensorialacontece quando você olha sua mão atravésdeumalentecôncava, o queadeixabemmaislongae menor.Issoporsisójáprovoca umestranhamento,massevocê movê-Iaou agitaros dedos,a sensaçãosetornaráaindamais paradoxale fantasmagórica.É comoseestapartedo corpo não lhe pertencesse,umaes- péciede experiênciafora do corpo.O mesmoacontecese, duranteumacaminhada,você olhar seuspés atravésdesse tipodelente.Elesvãoparecer maislongos,magroseelásticos, comoseestivessemseparados docorpo. Essasexperiênciaspodem sermuitodivertidas,mastêm tambémgrandeimportância teóricae clínica.Quandoum braçoé amputado,o paciente continuaa sentirvividamente suapresença,aconhecidasín- dromedo membro-fantasma. Muitos delesacreditampo- der movimentá-Iolivremente. Como explicaressasensação ilusória?Quandovocêmovea mão,centrosdecomandomo- tornaregiãofrontaldocérebro enviamumsinalqueatravessa amedulaespinhale chegaaté osmúsculos.Aomesmotempo, umacópiadessecomandovai parao lobo parietal, região querecebefeedbackvisuale proprioceptivo.Assim, se o membroé perdido,nãoexiste feedbacksensorial,mas,ainda assim,a cópiado comandoé enviadaao lobo parietale in- terpretadapelocérebrocomo movimentosdo fantasma.Por razõesque nãocompreende- moscompletamente,alguns pacientessão incapazesde "mover"seumembro-fantasma e dizemque ele está"parali- sado".Outros relatamdor ou "congelamento"em posição nãousual. Mas como um fantasma podeestarparalisado?Muitos dessespacientestiveramante- riormenteumalesãonosnervos quesaemdamedulaespinhale inervamosmúsculosdo braço, oquedeixouo membropara- lisado,porémintacto.Sempre queocórtexpré-motorenvia- vao comandoparamovê-Io, recebiaumfeedbackvisuale proprioceptivoquedizia:"Não semova".Essamensagemacaba sendogravadanocérebrocomo umaformade"paralisiaapren- dida",umaespéciedememória queé transferidaaofantasma. Paralisia aprendida Seriapossíveltrazero fantas- madevoltaàvidafornecendo aopacienteumfeedbackvisual todavezquetentassemovê-Io? Essaestratégiapoderiaaliviar ador?Emumartigode 1996, descrevemosatécnicadacaixa deespelho.O paciente"colo- ca"seufantasmaparalisadode um lado e a mãonormaldo outro;depoisolhanoespelho enquantorealizamovimentos simétricos(batendopalmas, por exemplo).O espelhoda caixadáa ilusãovisualdeque o fantasmafoi ressuscitadoe semoveemperfeitasincronia comoscomandosdocérebro. Em muitospacientes,a sen- sação de cãibra desaparece pela primeiravez em anos; em outros,o fantasmasome completaepermanentemente, juntocomador. Sugerimosque tais pro- cedimentospodemser úteis tambémparaoutrosquadros clínicos, como derrameou distoniafocal,doençaneuro- lógicaqueprovocacontrações muscularesinvoluntárias.Estes efeitos foram confirmados recentementeemensaiosclí- nicosrealizadoscomtécnicas de imageamentocerebralpela neuropsicólogaHerta Flor, do InstitutoCentraldeSaúde Mental da Universidadede Heidelberg,Alemanha. A dor fantasmaé muito desagradável,masbemmenos freqüentequeoderrame,ouaci- dentevascularcerebral(AVC), r a principalcausade invalidez nosEstadosUnidos.Causadas porproblemasvasculares,lesões nasfibrasnervosasquevãodo córtexàmedulaespinhalpodem levarà paralisiatotalde uma das metadesdo corpo. Será queexistealgumcomponente daparalisiaaprendidanoAVO Talvezo inchaçoe inflamação iniciaiscauseminterrupçãotem- poráriadatransmissãodesinais que,combinadacomaevidência visualde paralisia,levaa uma formadeparalisiaaprendidaque sesomaàparalisiarealcausada pelalesãonervosa. Em 1999, recorremos à caixadeespelhoparatratara paralisiasecundáriaao AVc. Testamosnove pacientese constatamosumarecuperação incrível,considerandoqueesse tipo de paralisiageralmenteé incurável.Imaginávamosque célulasmultimodais(direta- menteconectadasà saídavi- PLASTICIDADE NEURAL: impacto na reabilitação de quemsofreu amputaçãoou derrame www.mentecerebro.com.br19 A mãofantasma Emalguns casos,se o médico tocasseamão verdadeira,o pacientenão apenasviaa fantasmasendo tocada,como tambémsentia essetoque Vocêpodeserconvencidode quesenteumafalsamãocomo sefosseasuaprópria.Parades- cobrirporsimesmo,peçaaum amigoquesesenteaumamesa pequena.Useumadivisãover- tical,comomostraailustração - umpedaçodecartolinaé o bastante.Apóiea suamãodi- reitanamesadeformaquenão possavê-Ia,atrásdadivisória. À vista,coloqueumamãode plástico- dasquesecompram emlojasdebugigangasoude fantasias.Peçaaseuassistente quetoquesuamãoescondida usandoalternadamenteapon- ta do dedoe, compequenos tapas,a mãoaberta,numa seqüênciaaleatóriadetoques comotapa,tapa,tapa,ponta dodedo,tapa,pontadodedo, ponta do dedo. Ao mesmo tempo,emperfeitasincronia, eledevefazero mesmocoma mãofalsa. Se continuarnesseritmo por 20ou 30segundos,algo fantasmagórico acontece: a estranhasensaçãode que vocêrealmentesentea mão falsa.Porqueaconteceisso? MatthewBotvinickeJonathan Cohen,entãona Universida- 30 MENTE&CÉREBRO.ARMADILHASDA PERcEPÇÃo de de Pittsburghe na Uni- versidadeCarnegieMellon, reportarama chamadailusão da mãodeplásticoem1998, sugerindoquea similaridade físicaentreamãoverdadeiraeadomodeloésuficientepara enganarocérebroefazercom queeleatribuaas sensações detoqueaosmembrosfalsos. Elesacreditamqueessailusão éforteobastanteparasuperar a pequenadiscrepânciaentre a posiçãode suaverdadeira mão,marcadapelaarticulação deseucorpoe pelosrecepto- resmusculares,ealocalização damãodeplásticoregistrada porseusolhos. Mas a histórianãoacaba aqui.Maisoumenosnamesma épocaemqueBotvinicke Co- henobservaramoefeitodamão deplástico,nósenossoscolegas WilliamHirsteine Kathleen CarrieArmeida Universidade da Califórnia,emSanDiego, descobrimosoutrapeculiari- dade:o objetotocadoporseu ajudantenãoprecisasequer parecercomsuamão.Épossível produziro mesmoefeitosim- plesmenteacariciandoamesa. Façaa experiência:destavez peçaa seucolegaqueacaricie e toquea superfíciediantede vocêenquantofazmovimen- tosequivalentesemsuamão escondida.(Sea utilizaçãoda mesanãofuncionar,pratique comumamãodebrinquedoe depoisvámudandoparaomó- velo)Compaciência,vocêvaiter sensaçõesdetoqueproveniente dasuperfíciedemadeiraàsua frente.A ilusãoficaaindamais intensasevocêcobriro tampo da mesacomumatoalhade plásticoparaimitarasqualida- destáteisdapele. Essailusãoé extraordina- riamentearrebatadoranapri- meiravezquevocêadescobre. Mascomooscientistaspodem tercertezadequevocêagora assimilouamesaàimagemdo seucorpode modoperceptí- vel?No ano passado,Armei e umdenós(Ramachandran) descobrimosque, umavez desenvolvidaa ilusão,sevocê "ameaçar"amesaouamãofal- safingindoquevaidesferir-lhe umgolpe,apessoaestremece e até começaa suar,como fariaseestivesseenfrentando umaameaçaverdadeiraaoseu própriocorpo.Demonstramos essareaçãoobjetivamente registrandoumasúbitadimi- nuiçãonaresistênciaelétricada pelecausadapelatranspiração - a mesmarespostada pele galvânicausadaemtestesde detectoresdementira.Écomo sea mesafosseincorporadaà imagemdocorpodeformaa ~ seconectarcomcentrosemo- ~ ~cionaisdo cérebro;a pessoa ~senteaameaçacontraamesa i comosefosseumaameaçaa ~elaprópria. SENTE-SEÀ MESAeobstrua avisãodeumdeseusbraços. Coloqueàvistaumafalsamão. Sealguémtocaramãoartificial, vocêteráa impressãoilusóriade perceberotoque A SENSAÇÃOilusóriachegaa provocaralteraçõescorporaiscomo aumentodatranspiração Essasilusõesdemonstram dois princípios importantes subjacentesà percepção.Em primeirolugar, a percepção baseia-seamplamentena ex- traçãodecorrelaçõesestatísti- casdosestímulossensoriais.Ao sentirquesuamãoescondida sofrepequenosgolpese vera mãodeplásticoouamesasen- dotocadasdamesmamaneira, seucérebrosepergunta"Qual éaprobabilidadedequeesses dois conjuntosde seqüências aleatórias(namãoescondidae namesaoumãofalsavisíveis) sejamidênticossimplesmente poracaso?Nenhuma.Porisso, a outrapessoadeveestarme tocando". Emsegundolugar,os me- canismosmentaisquefazem essascorrelaçõesbaseiam-seem processosautomáticospouco suscetíveisaointelectodenível maiselevado.Cominformações reunidasporsistemassensoriais, o cérebrofazseusjulgamentos semcogniçãoconsciente.Até mesmooconhecimentodeque umamesanãofazpartedoseu corpoé abandonadoà luz da decisãodapercepçãoilusóriade queé.Oseu"conhecimento"de queissoéimpossívelnãoimpe- deailusão. Essaexperiênciafoiinspirada por umtrabalhoanteriorque realizamoscompacientesque tinhammembrosfantasmas. Depoisqueumapessoaperde umbraçopor acidenteou do- ença,elapodecontinuarasentir suapresença.Comfreqüência, o membrofantasmapareceter sidocongeladonumaposiçãoes- tranhamentedolorosa.Pedimos aumpacientequepusesseseu braçoesquerdofantasmaà es- querdadeumespelhocolocado emposiçãoverticalnumamesa àsuafrente.Depoiselecolocou seubraçodireitointactonolado direito,deformaqueseureflexo eravistonoespelhosuperposto aodofantasma,criandoailusão visualde queo braçoquefal- tavahaviasidorestaurado.Se o pacientemovesseseubraço direito,eleviao fantasmase mover.O extraordinárioé que isso"animava"o fantasmade maneiraqueeleosentiamover- setambém- aliviandoàsvezes a câimbra.Aindamaissurpre- endente:emalgunscasos,seo médicotocasseamãoverdadei- ra,o pacientenãoapenasviaa fantasmasendotocada,como tambémsentiaessetoque.Mais umavezo cérebroconsidera poucoprovávelqueessacombi- naçãode impressõessensoriais sejacoincidência;dessaforma, eledefatosenteotoqueemsua mãofantasma. Considereas implicações dessasilusões.Todosnósatra- vessamosavidafazendoconjec- turascomo"Meunomesempre foi José"ou "EunasciemSão Paulo".Todasessasconvicções podemserquestionadaspor váriasrazões.Porém,umapre- missaquepareceestaralémde qualquerquestionamentoé a dequevocêestáancoradoem seucorpo.Entretanto,subme- tido durantealgunssegundos aotipodeestimulaçãocorreta, até mesmoessefundamento axiomáticoé temporariamente abandonado,quandoa mesa parecetornar-separtedevocê. ComodisseShakespearecom propriedade,nósrealmenteso- mos"amatériadequeossonhos sual,proprioceptivae motora, esimilaresaosneurônios-espe- lho),dormentesapóso AVC, estavamsendoreavivadaspelo feedbackvisual ilusório do espelho. Este resultado foi tambémreproduzidoemen- saiosclínicos realizadospor doisgruposindependentes,um deleschefiadopelapsicóloga Jennifer A. Stevens,à época naUniversidadeNorthwestern e no InstitutodeReabilitação de Chicago, e o outro pelo neurologistaChristianDohle, do HospitalUniversitáriode Düsseldorf,Alemanha. Tambémsabemosque,em- borafibrasmotorasdo córtex cruzematéo ladoopostodo corpo (orientaçãocontralate- ral),outrasinervamo mesmo lado(orientaçãoipsilateral).Por quefibrasintactasnãopodem "substituir"aslesionadasquan- do ocorreum derrameé um enigmaquepersistehá muito tempo.Umapossibilidadeéque elassejam"recrutadas"pelouso do espelho.Em casopositivo, concluiremosqueos espelhos nãosãoúteisapenasparaos ilusionistas,mastambémpodem revelarcomoo cérebrointegra diferentesinformaçõessenso- riais. Igualmenteimportante, o feedbackvisual- vindode espelhosouderealidadevirtual - podeserclinicamenteútil paraa recuperaçãode déficits neurológicoshámuitoconside- radosincuráveis. nec ~ Phantomlimbs, neglectsyndromes, repressedmemo- riesandFreudian psychology. V. S. Ramachandran,em IntemationalReviewof Neurobiology,vai. 37, págs.291-333,1994. www.mentecerebro.com.br31 Imagens ambí uas Ilusõesvisuaisatiçama curiosidadee permitemdiversasinterpretações;o sistema nervoso,porém,anseiapor respostase se concentraem umasó alternativa POR VlLAYANUR S. RAMAOIANDRAN E DIANE ROCiERS-RAMAOIANDRAN Océrebrodetestaa ambigüidade.Apesardisso,somoscuriosamenteatraídosporela.Não é poracasoquetantasilusões visuaisfamosasexploramaduplaconotaçãoeex- citamnossossentidos.Resolverquestõesdeflagra umaondadeprazernamente,semelhanteàquela quevivenciamosnomomentoemqueresolvemos umproblema.Taisobservaçõeslevaramo físico, psicólogoe oftalmologistaHermannvonHelm- holtz(1821-1894)amostrarqueapercepçãotem muitoemcomumcomaresoluçãodeproblemas intelectuais.Maisrecentemente,aidéiafoirevistae defendidapeloneuropsicólogoRichardL.Gregory, daUniversidadedeBristol,Inglaterra. Aschamadasfigurasbiestáveis- comoailusão dosrostos/vaso(verfiguraanapág.34)- sãocom freqüênciaanunciadasnoslivrosescolarescomo 32 MENTt&CÉREBRO.ARMADIlHAS DA PERCEPÇÃO . exemplobásicodamaneiracomoinfluênciasde cimaparabaixo(conhecimentoou expectativas preexistentes)decentrossuperioresdo cérebro - emquecódigosperceptuaissãoregistrados - podeminfluenciarapercepção. ConsidereosimplescasodocubodeNecker(ver figuraenapág.35).Vocêpodeveressailusãodeduas maneiras:como cuboviradoparacimaouvirado parabaixo.Comumpoucodeprática,é possível alternaràvontadeumaeoutradessaspercepções intercambiáveis(aindaassim,ébastantedivertido quandoessavariaçãosedádemaneiraespontânea, provocandoasensaçãodequesecaiunuma"pega_ dinha").Na verdade,o desenhoécompatívelnão apenascomduasinterpretações,comoemgeralse acredita;defatoháumconjuntoinfinitodeformas trapezoidaisquepodemproduzirexatamentea .. mesmaimagemretiniana,mas
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