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Organização dos Poderes O poder é a força que o Estado tem de impor a todos sua vontade. No exercício do poder ele realiza três funções distintas, seja legislando, criando normas que devem ser obedecidas por todos, seja executando essas leis, exercendo funções administrativas, ou exercendo sua função judicial, quando o Estado resolve conflitos. O poder não se separa, portanto, o termo “separação de poderes” é inadequado, pois o poder é uno e indivisível. O que se separa, na verdade, são as funções que o Estado exerce. Dentro desse contexto, temos o princípio da separação de poderes. O primeiro a identificar o exercício de três funções foi Aristóteles, porém, ele não propôs uma forma de separação das funções, pois acreditava na cumulação de poder nas mãos de uma única pessoa. Vejamos a separação de governo proposta por Aristóteles: Forma pura Forma impura O poder em prol do bem comum, sempre objetivando o interesse público. Se o governante desvirtua o exercício do poder, beneficiando apenas alguns. Monarquia – um titular do poder. Tirania – aquele que desvirtua o uso do poder. Aristocracia – forma de governo que pertence a um grupo, e que é exercida em prol do bem comum. Oligarquia – desvio da Aristocracia. Democracia – poder utilizado para o bem de todos. Demagogia – poder utilizado em nome de alguns. Hoje, as formas de governo, a partir dos ideais de Maquiavel (século XV-XVI) é a monarquia e a república. Já no século XVII, Rousseau, no período Iluminista, há uma mudança radical do pensamento do continente europeu, passando o homem a ser o centro, não podendo ser tratado como instrumento. Para conviver em sociedade, é necessária a criação do Estado, devendo ser delegada parte do poder para este. Na obra “Contrato Social”, toda a sociedade firmou um contrato no qual aceitamos abrir mão de parcela da soberania do poder no mais alto grau, entregando ao Estado para que ele exerça o poder e possa exercer a ordem em prol de todos. Após, John Locke (Inglaterra), influenciado pelas teorias de Rousseau, traça um modelo insipiente de separação de poderes. Ele também acredita que o homem nasce bom e é contaminado com as experiências que ele adquire durante a vida. Portanto, o homem pode se tornar corrupto se exercer sozinho muito poder. A origem do constitucionalismo moderno se deu com Montesquieu, na obra “O espírito das leis”, na qual ele traçou a teoria de separação dos poderes. Ele acredita que quando o homem acumula muito poder ele é desvirtuado. Daí a necessidade de separar o poder em órgãos distintos, de modo autônomo e independente entre si. Ø Princípio da separação de poderes Montesquieu diz que é necessário separar e dividir as funções que o Estado exerce dentre órgãos independentes e autônomos entre si, de modo que o poder seja exercido de forma equilibrada (harmônica) e que não haja a sobreposição de um órgão sobre o outro. Consta no art. 2º da CF/88 esse princípio, sendo, inclusive, cláusula pétrea (art. 60, § 4º, VI, CF/88). Essa separação não é estática, havendo uma relação entre os poderes, até para ser possível que eles se controlem entre si. Isso ficou conhecido como o sistema de “freios e contrapesos”. É necessária a criação de mecanismos de controle recíproco entre os poderes, de forma a permitir a fiscalização mútua entre os mesmos, impedindo a sobreposição de um sobre o outro, bem como de forma a viabilizar o equilíbrio e a igualdade entre eles. A Constituição Federal trouxe instrumentos de controle recíproco entre os poderes, por exemplo, vemos o Poder Legislativo sendo controlado pelo Executivo quando o Presidente da República exerce o poder de vetar um projeto de lei elaborado pelo Congresso Nacional. Ainda, quando o Legislativo cria uma lei inconstitucional, o Poder Judiciário tem o poder de declarar sua inconstitucionalidade. Por sua vez, o Poder Executivo é o mais controlado, por exemplo, através do controle externo da administração pública exercido pelo Poder Legislativo com auxílio do Tribunal de Contas. Por fim, o Poder Judiciário também é controlado, na medida em que o próprio processo de nomeação e escolha dos ministros do STF é realizado pelo Presidente e aprovado pela maioria absoluta do Senado. Feitas as considerações gerais, passamos a análise de cada um dos poderes. Ø PODER LEGISLATIVO O Poder Legislativo tem por função típica elaborar as leis e atos normativos. As regras que regem os estados são disciplinadas pelo Legislativo e, pelo princípio da legalidade, segundo o qual ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei, de forma que somente a lei cria um direito e impõe obrigações. No Brasil, outra função típica exercida pelo Poder Legislativo é a fiscalização, ou seja, o controle externo da administração pública. Em suma, temos que o Legislativo faz o controle da legalidade, da legitimidade e da economicidade dos atos da administração pública. Os poderes em geral exercem suas funções típicas, mas também exercem, de forma excepcional, funções atípicas. § Princípio da simetria: as normas que traçam a estrutura e organização do Estado devem ser adotadas de forma paralela por todos os entes federativos. § Congresso Nacional: no âmbito da União, o legislativo é representado pelo Congresso Nacional, que é bicameral, pois temos duas casas, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Os deputados são representantes do povo, e o período de mandato (4 anos) é chamado de Legislatura. Por outro lado, o Senado representa os estados, sendo três senadores por cada, sendo de 08 anos o período do mandato. Ademais, enquanto a Câmara se renova por inteiro a cada legislatura, no Senado a renovação se dá alternadamente por um terço e dois terços a cada legislatura. § Assembleia Legislativa: temos os deputados estaduais. O número de deputados estaduais será três vezes o nº de deputados federais até 12. Quando chegar em 12, para cada deputado federal, acrescenta um deputado estadual. Em relação ao subsídio do deputado estadual, a regra é que será no máximo 75% do que recebe um deputado federal. § Câmara Municipal ou Câmara dos Vereados: vide arts. 29 e 29-A da CF/88. Ø Congresso Nacional ð Sessões Legislativas: reuniões que ocorrem no Congresso Nacional. § Ordinária: é o período anual em que o Congresso se reúne, de forma ordinária e comum. Ela vai de 2 de fevereiro a 17 de julho e 1º de agosto a 22 de dezembro. Durante esse período o Congresso se reúne. Essa sessão ordinária não encerrará até que seja aprovada a lei de diretrizes orçamentárias, portanto, o Congresso Nacional não pode entrar no recesso parlamentar. Esse período de recesso é de 23 de dezembro a 1º de fevereiro e 18 de julho a 31 de agosto. § Extraordinária: durante o recesso parlamentar, excepcionalmente, pode haver sessões legislativas extraordinárias. Somente em hipóteses excepcionais previstas na CF pode ocorrer a sessão extraordinária, quais sejam, mediante convocação do presidente do Senado Feral, em caso de autorização da decretação de estado de sítio, defesa e autorização federal. Essas medidas são decretadas pelo Presidente da República, devendo ser submetidas pelo controle do Congresso. Se o Congresso estiver em recesso, deve ser convocada uma sessão legislativa extraordinária para apreciar a medida. Outra situação que enseja a convocação pelo presidente do Senado é para o compromisso de posse do presidente e vice-presidente. Ainda, o Presidente da República, do Senado, da Câmara de Deputados e por maioria de uma das casas podem convocar a sessão extraordinária diante de uma situação urgente e de relevante interesse nacional. Durante a sessão extraordinária o Congresso só irá deliberar sobrea matéria pera a qual foi convocado. § Exceção: a expedição de medida provisória, hoje, não autoriza a convocação extraordinária, entretanto, convocada por outro motivo, a sessão extraordinária não poderá ser dissolvida enquanto não apreciar a MP que estiver em pauta. § Posicionamento do STF: os parlamentares recebem ajuda de custo quando convocados para a assembleia extraordinária, mas não recebem indenização. Ø Órgãos ð Mesa diretora: a mesa será escolhida na sessão preparatória no dia 1º de fevereiro pela respectiva Casa, num mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo dentro da mesma legislatura (período de 4 anos em que é renovada a Casa). § Princípio da unicidade da legislatura: pela unicidade, cada legislatura é autônoma em relação a outra. Portanto, goza de autonomia para disciplinar e se organizar, não ficando vinculada à legislatura passada. § Composição da mesa diretora no Congresso Nacional: a presidência é exercida pelo Presidente do Senado. Os demais cargos serão exercidos alternadamente, dentre membros da Câmara e do Senado, de acordo com o cargo que ocupam em suas respectivas Casas. ð Comissões parlamentares: são órgãos colegiados, compostos por um número restrito de parlamentares responsáveis por analisar certas matérias e sobre elas opinar e emitir pareceres. As comissões parlamentares são importantes para agilizar o procedimento da Casa. § Comissões permanentes: estão previstas no regimento interno da Casa, e não se encerram nem mesmo com o fim da legislatura. As principais comissões permanentes são as chamadas comissões temáticas. Elas servem para facilitar e viabilizar a vida dos parlamentares, pois os projetos de leis chegam nas respectivas casas e devem ser deliberadas pelo Plenário, portanto, as comissões temáticas elaboraram pareceres sobre os projetos. ü Delegação interna corporis – art. 58, § 2º, CF/88 – certas matérias cujo regimento interno dispensa o Plenário podem ser deliberadas no âmbito das comissões. § Comissões temporárias: são as criadas com prazo certo e objeto determinado. As comissões temporárias se extinguem de três formas: a) com o término do prazo; b) com o esgotamento do objeto; e c) com o fim da legislatura, tendo em vista o princípio da unicidade da legislatura. Uma comissão parlamentar temporária muito importante é a Comissão Parlamentar de Inquérito, prevista no art. 58, § 3º, CF/88. ð Comissão parlamentar de inquérito: comissão temporária, com prazo certo e objeto determinado. Tem por função fiscalizar atos da administração para verificar irregularidades. A função de fiscalizar é típica do Poder Legislativo. Vejamos o art. 58, § 3º, CF/88: “as comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores”. § Criação: pelo requerimento de, no mínimo, um terço dos membros da respectiva casa. Se o requerimento for da Câmara, é necessário o voto de um terço dos deputados, e se for do Senado, um terço dos senadores, ainda, se for uma CPI mista, ou seja, uma CPI do CN formada por deputados e senadores, é necessário um terço de deputados mais um terço de senadores. Se a CPI for criada com o requerimento de um terço dos membros, nem mesmo o presidente da casa ou a maioria podem obstar seu prosseguimento. § Prazo: a CF/88 exige que o prazo seja certo, devendo ser estipulado no momento de sua criação. Não pode ocorrer a criação de uma CPI com prazo indeterminado. Entretanto, pode haver prorrogações sucessivas, também com prazo certo. § Objeto: o objeto deve ser específico e determinado. A CPI investiga irregularidades com repercussão na esfera pública. Importante destacar sobre a possibilidade de redirecionamento da CPI para investigar fato novo diverso do que fundamentou sua instauração, em regra, não se admite. No entanto, o STF entende que seria possível se o fato for conexo com aquele objeto da investigação. § Conclusões: quando a CPI investiga e chega a uma conclusão, os relatórios devem ser encaminhados às autoridades competentes, as quais tomarão as providências cabíveis. § Poderes da CPI: o art. 58, § 3º da CF/88 refere que a CPI tem poderes investigatórios de autoridade judicial, no entanto, a discussão consiste no fato dos poderes investigatórios serem das autoridades policiais, e não de autoridade judicial. Assim, temos que a CPI pode adotar medidas capazes de formar o entendimento sobre determinado fato. Não pode Pode Em regra, a CPI não poderá adotar as medidas que se submetem à cláusula de reserva de jurisdição, ou seja, medidas que só podem ser determinadas pelo juiz. 1) medidas cautelares (arresto e sequestro de bens, decretar a indisponibilidade de bens etc.); 2) quebrar a inviolabilidade do domicílio, determinado uma busca e apreensão; 3) sanções às pessoas (prisões, perda do cargo, multa, advertência etc.), inclusive, não pode quebrar sigilo telefônico; 4) decretar prisão, exceto prisão em flagrante, pois qualquer um pode dar voz de prisão em flagrante delito. 1) Requisitar documentos; 2) determinar perícias, exames, vistorias, etc.; 3) convocar e ouvir pessoas, comuns ou autoridades públicas, e colher seus depoimentos; 4) quebrar sigilo bancário e fiscal; e 5) sigilo de dados telefônicos não se confunde com interceptação (conteúdo da conversa). Os apontamentos levantados valem, também, para as CPIs municipais. Observação: a CPI municipal não tem poderes para quebrar sigilo bancário e fiscal. § Direitos dos depoentes: as testemunhas e investigados têm direito a ser assistido por advogado, assim como de consultar seu advogado a qualquer momento. Os investigados têm direito ao silêncio e de não produzir prova contra si mesmos. Por sua vez, as testemunhas têm o dever de dizer a verdade, só sendo invocado o direito de não produzir prova contra si mesmo quando seu testemunho possa incriminá-la. Esse direito de não produzir prova, segundo o STF, se estende aos familiares dos investigados. ð Parlamentares: § Imunidades: são prerrogativas inerentes à função exercida pelos membros dos poderes, visando garantir uma atuação livre, independentes dos mesmos. ü Material: § Inviolabilidade parlamentar: os parlamentares são invioláveis pelos votos e opiniões proferidos no exercício do mandato. Essa prerrogativa se refere a uma irresponsabilidade civil, penal e administrativa. Essa imunidade não se restringe ao Congresso Nacional, podendo o parlamentar estar em qualquer local. § Vereador: a inviolabilidade se restringe aos limites do município, sendo sua única imunidade. ü Formais: § Imunidade para prisão: o parlamentar não pode ser preso, salvo em caso de flagrante por crime inafiançável e sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Na prisão em flagrante por crime inafiançável os autos da prisão devem ser remetidos dentro de 24h para a respectiva Casa do parlamentar, a qual irá decidir sobre a prisão, por voto da maioria absoluta. § Imunidade para o processo propriamente dito: antes, o processo criminal em face de um parlamentar dependia de autorização da respectiva Casa, hoje, não mais. Entretanto, somente em crimes ocorridos após a diplomação, por iniciativa do partido e pelo voto da maioria absoluta da sua Casa, em 45 dias,pode haver a sustação do processo. § OBSERVAÇÃO: todas as imunidades se iniciam com a diplomação, a qual ocorre antes mesmo da posse. § Foro por prerrogativa de função: essa prerrogativa de função faz com que os parlamentares sejam julgados por autoridades específicas. Ainda, a prerrogativa de foro só dura enquanto durar o mandato, sendo assim, a perda do cargo e da função importa na perda da prerrogativa, sendo remetido o processo à autoridade competente. Essa prerrogativa é apenas para processo criminal. Parlamentar Crime Órgão julgador Deputados Federais e Senadores Crime comum STF Deputados Federais e Senadores Crime de responsabilidade Congresso Nacional: deputados federais na Câmara de Deputados e Senadores no Senado Federal. Deputados Estaduais e Distritais Crime comum TJ do estado ou TJ do DF Deputados Estaduais e Distritais Crime de responsabilidade Assembleia Legislativa do Estado: deputados estaduais; e Câmara Legislativa do DF: deputados distritais. Vereadores Não tem essas prerrogativas, salvo a inviolabilidade limitada à circunscrição do seu município. Demais considerações: § Para a incorporação dos parlamentares nas forças armadas, ainda que em tempo de guerra, é necessária a autorização da respectiva Casa; § Não estão obrigados a depor sobre o que souberem em razão do exercício do mandato; § Os parlamentares não podem perder o cargo enquanto estiverem afastados para exercer os seguintes cargos: ministro de estado; secretário estadual e municipal, governador de território ou chefe de emissão diplomática em caráter permanente, ou quando estiverem afastados para tratar de interesse particular pelo prazo de 120 dias. § O parlamentar será substituído por seus suplentes, os quais substituirão os deputados e senadores quando estiverem afastados do cargo por mais de 120 dias, ou para exercer alguma das funções acima citadas. Ainda, se houver a perda do cargo, o suplente deverá assumir o cargo. Se não houver mais suplentes para serem chamados e faltar mais de 15 meses para o término do mandato, novas eleições serão convocadas. De outro lado, faltando menos de 15 meses para o mandato encerrar, a casa seguirá com parlamentares a menos. Os suplentes não têm as prerrogativas dos parlamentares, salvo se estiverem no cargo. § Perda do mandato – art. 55, CF/88: 1) Cassação: decorre de um processo no âmbito da sua respectiva Casa, sendo respeitado o contraditório e a ampla defesa. a) Violação do art. 54, CF/88 – impedimentos; b) Quebra do decoro parlamentar; c) Sentença penal condenatória transitada em julgado; d) Quando deixar de comparecer a mais de um terço das sessões legislativas; e) Decretação pela Justiça Eleitoral; e f) Quando houver a perda ou suspensão dos direitos políticos. 2) Extinção do mandato: a mesa diretora identifica uma causa de perda do mandato e declara a extinção. ð Função fiscalizatória: a função fiscalizatória realizada pelo Poder Legislativo é típica, sendo um exercício de controle externo e recíproco entre os poderes. Esse controle diz respeito à legalidade, à legitimidade a à economicidade dos atos da administração, ou seja, é uma verificação se os atos administrativos estão de acordo com a lei, se veiculam o interesse público e se importam no menor custo possível para a administração pública. O controle é realizado em diversas áreas: administrativo, financeiro, operacional, contábil e patrimonial. § Controle: I. Interno: é o controle que cada órgão realiza dentro do próprio órgão, sendo um poder- dever. II. Externo: é o controle que um poder faz sobre o outro, sendo exclusividade do Poder Legislativo. O Tribunal de Contas é o órgão que auxilia e colabora com o Poder Legislativo na sua função fiscalizatória. Lembrando que o Tribunal de Contas é um órgão autônomo, não exercendo função jurisdicional, portanto, suas decisões não fazem coisa julgada.
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