Buscar

Resumo do Livro PLT -> Carlos Montano natureza do serviço social

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO NEOLIBERALISMO 
MU DANÇAS N A S UA BASE DE SUS TEN TAÇÃO FU NCION AL-
O CU P ACI O NAL * 
Carlos Eduardo Montaño ** 
O presente trabalho tem por objetivo contribuir ao debate crítico do que estamos 
denominando a base de sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social e a 
possibilidade de sua (auto)definição no atual contexto da profissão. 
Nele se analisa a já referida base de sustentação no marco da gênese do Serviço 
Social e se aportam certos elementos do contexto atual (globalização, neoliberalismo, 
mudanças no mundo do trabalho) para a caracterização de suas variações na realidade 
presente. Finalmente, se procede à algumas sinalizações prospectivas sobre o devir 
imediato da profissão. 
1. A base de sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social 
A análise do contexto sócio-político e econômico no qual se desenvolve a 
emergência do Serviço Social nos obriga a considerar a gênese de nossa profissão não 
como uma derivação de anteriores formas de caridade e filantropia, mais técnica, 
organizada e sistemática que suas “protoformas” − senão como o resultado de um processo 
histórico, vinculado a um certo momento do desenvolvimento das lutas de classes. 
1.1.- Efetivamente, a consideração de um Serviço Social, como uma etapa 
profissionalizada da caridade − tese sustentada por Kruse, Ander-Egg, Kisnerman, Ottoni 
Vieira, Boris A. Lima, dentre outros1 − nos levaria a pensar no surgimento de uma 
profissão apenas como o resultado da ação de indivíduos (Mary Richmond, Gordon 
Hamilton, e outros) que procuraram tornar mais eficiente a ação que vem sendo 
desenvolvida, desde o passado, por outros indivíduos (Vicente de Paula, Tomás de Aquino 
etc.). Aqui, a coerência desta análise leva a considerar, como o faz Ottoni Vieira, qualquer 
 
* Tradução de Yolanda Guerra 
** Doutor em Serviço Social e Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 
Conferencista e Professor Visitante em diversos países latino-americanos. Autor dos livros: A Natureza do 
Serviço Social (Cortez, 2007), Microempresa na era da globalização (Cortez, 1999) e Terceiro Setor e 
questão social (Cortez, 2002). É Coordenador da Biblioteca Latino-americana de Serviço Social (Cortez). 
Foi membro da Direção Executiva da ALAEITS (Associação Latino-Americana de Ensino e Pesquisa em 
Serviço Social, 2006-2009) e atualmente é Coordenador Nacional de Relações Internacionais da ABEPSS 
(Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, 2008-2010). Bolsista CAPES para 
estudos de pós-doutoramento no Instituto Superior Miguel Torga (Coimbra, Portugal) em 2009-2010. 
1. Uma compilação crítica sobre a maneira de pensar a gênese do Serviço Social encontra-se em Montaño, 
2007. 
 1
forma de ajuda como antecedente profissional e como processo que derivou no 
desenvolvimento do Serviço Social. 
Neste âmbito, a discussão não considera o contexto no qual se desenvolve esta 
profissão como explicativo de sua gênese, apenas, na melhor das hipóteses, se situa 
historicamente este fenômeno sem que ele redunde numa análise exógena, estrutural, do 
surgimento do Serviço Social. Não se analisa as lutas das classes fundamentais como 
substrato no qual se elaboram projetos de sociedade antagônicos, vinculando nossa 
profissão, tal como tantas outras2, ao predomínio hegemônico de uma delas, a alta 
burguesia. Não se analisa o Estado como instrumento do referido projeto de classe, senão 
apenas o concebe como o campo privilegiado de emprego destes profissionais. Em 
definitivo, esta maneira de interpretar a gênese do Serviço Social (como profissionalização 
da filantropia) contêm − apesar de heterogêneo no que se refere a seus interlocutores3 − 
uma perspectiva particularista, endógena ou intrínseca e a-histórica: o Serviço Social como 
profissão se estuda a partir de si mesmo (a esse respeito, ver Montaño, 2007). 
1.2- Contrariamente, desde uma perspectiva histórica, a gênese do Serviço Social se 
entende -da mesma forma em que se deve compreender para qualquer profissão − como o 
resultado de um processo sócio-histórico, condensado nas lutas que travam as classes 
fundamentais, vinculado à fase monopolista do capitalismo. 
Nessa maneira de compreender o surgimento do Serviço Social − desenvolvida por 
Iamamoto, Netto, Faleiros, Manrique, Martinelli4 − são os atores sociais e instituições: 
classe burguesa, Estado, classe trabalhadora, sindicato, Igreja etc., e não certos indivíduos 
(tal como na perspectiva anterior), os que se fazem presentes no quadro histórico que 
configura e marca a gênese deste ator social: o assistente social. Aqui, o contexto 
emoldurado pelas lutas de classes em torno de projetos de sociedade antagônicos, na etapa 
monopolista do capitalismo, se apresenta como o marco explícito do surgimento do Serviço 
Social. 
Efetivamente, a fração de classe hegemônica, na virada do capitalismo 
concorrencial para sua fase monopolista, precisa dotar de legitimidade o sistema sócio-
econômico e político que a sustenta. Desta forma, diante do aumento de conflitividade − 
real ou potencial -, produto do desemprego, das precárias condições de trabalho, da queda 
do salário real e frente ao aumento da organização popular, especialmente sindical, a 
hegemonia burguesa amplia o Estado (ver Coutinho, 1987), retirando a exclusividade das 
lutas de classes da órbita econômica e da sociedade civil e levando-a também à esfera 
 
2. Ver o estudo de Lukács (1968) sobre o surgimento da sociologia e as ciências sociais particulares na sua 
obra “O assalto à razão”, ver também a análise que Foucault (1979) faz do nascimento da medicina em 
“Microfísica do Poder”. 
3. Não se pode comparar a perspectiva teórico-metodológica revolucionária de Boris Alexis Lima com o 
ecletismo teórico, a rigidez metodológica e o relativo conservadorismo político de Ezequiel Ander-Egg, 
por exemplo. No entanto, no que se refere a consideração da emergência do Serviço Social, ambos 
navegam no mesmo barco. 
4. Autores, em sua maioria, de origem brasileira. 
 2
política e estatal. Assim, a lógica vinculante que representa a participação democrática5 
deveria institucionalizar as disputas políticas e econômicas, reduzindo o fator crítico e 
revolucionário das lutas de classes. Neste marco democrático se desenvolvem lutas em 
torno da ampliação dos direitos civis (liberdades individuais), políticos (participação 
democrática) e sociais (legislação trabalhista, maior participação na distribuição dos bens 
produzidos) (a esse respeito ver Marshall, 1967). 
Dentro deste contexto de conflitos institucionalizados é que surgem as políticas 
sociais como instrumentos de legitimação e consolidação hegemônica que, 
contraditoriamente, são permeadas por conquistas da classe trabalhadora. 
Efetivamente, estas políticas sociais se constituem em instrumentos privilegiados de 
redução de conflitos, já que contêm conquistas populares, sendo que estas são vistas como 
concessões do Estado. Tudo indica que a preservação destas políticas sociais e a 
incorporação dos sujeitos a elas é um resultado de uma espécie de acordo, de um “pacto 
social”: o Estado concede estes benefícios a população carenciada em troca de que esta 
última aceite a legitimidade do primeiro. 
Aparece assim, a função social ou assistencial das políticas sociais: a prestação de 
serviços sociais e assistenciais − educação e saúde públicas, complementos salariais, 
serviços comunitários etc. − e sua decorrente função política: a legitimação do Estado, a 
diminuição e institucionalização das manifestações dos conflitos sociais. 
Essas políticas sociais desenvolvem uma importante função econômica: 
confirmando a “desresponsabilização” do capitalista na reprodução da força de trabalhoque contrata, as políticas sociais permitem a redução salarial, na medida em que o 
trabalhador não tem como único recurso para satisfazer suas necessidades vitais o salário 
que recebe por seu trabalho, senão que agora conta também com os serviços sociais e 
assistenciais que oferece o Estado. Nesse processo, o que seria de responsabilidade única 
do capitalista na reprodução da força de trabalho, é transferido para o Estado e socializado 
por este, na medida em que obtém os recursos para as políticas sociais através dos impostos 
que recaí entre a população. Com isto, a acumulação de capital se consolida e aumenta, de 
modo que os custos do capital variável (força de trabalho) são reduzidos para o capitalista. 
(Sobre as funções das políticas sociais ver Pastorini, in Montaño, 2007). 
Mas, estas políticas sociais não são desenhadas a partir de uma perspectiva de 
totalidade da sociedade, a qual entenderia a realidade social como histórica e estrutural. 
Pelo contrário, a racionalidade burguesa, fundamentalmente depois dos sucessos de 1848, 
incorpora uma visão recortada, pulverizada da realidade. Aqui surgem as ciências sociais 
particulares ( a este respeito, ver Lukács, in: Netto, 1992b); aqui se deseconomiza e se 
despolitiza a esfera social; se deseconomiza a política e se despolitizam as relações 
econômicas, como se a sociedade pudesse ser entendida a partir de “recortes” da realidade 
 
5. Num regime democrático, a participação social, eleitoral, etc., faz com que os membros da sociedade 
aceitem as decisões estatais como legítimas, inclusive, apesar de contrariar seus interesses. As regras do 
jogo democrático referem a que todos os membros tem o direito (ou a obrigação) de participar com seu 
voto nas decisões e que, portanto, esta última, adotada pela maioria, deve ser respeitada pela/s minoria/s, 
as quais devem submeter-se a tal veredicto. 
 3
(sobre a racionalidade burguesa e o Serviço Social ver Guerra, 1995). Desta forma, com 
esta perspectiva segmentada da realidade, as políticas sociais se constituem em 
instrumentos focalizados em cada uma das “questões sociais” fragmentadas, 
transformando-se em respostas pontuais (ver Netto, 1992: Cap. I). 
Assim, para o desenvolvimento destas políticas sociais fragmentadas, dois atores 
são necessário: por um lado, um profissional que as planifique e as desenhe (a partir dos 
conhecimentos teóricos e das orientações políticas de outros atores); por outro, um 
profissional que se encarregue da implementação de tais instrumentos estatais. 
Desta forma, o Serviço Social surge, dentro desta segunda perspectiva, como aquela 
profissão cuja função social remete à execução terminal das políticas sociais segmentadas 
(ver, sobre este aspecto, Iamamoto in: Iamamoto e Carvalho, 1991; Netto, 1992; Montaño e 
Pastorini, 1995). Aparece, então, como um ator subalterno e com uma prática basicamente 
instrumental. Seu campo privilegiado de trabalho é o Estado (subordinado, ademais dos 
cientistas, a uma lógica político-burocrática) e a sua base de atuação é conformada pelas 
políticas sociais. 
Aqui recai, pois, a base de sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social: 
um profissional que surge dentro de um projeto político, no marco das lutas de classes 
desenvolvidas no contexto do capitalismo monopolista clássico, cujo meio fundamental de 
emprego se encontra na órbita do Estado, este último contratando-o para desempenhar a 
função de participar na fase final da operacionalização das políticas sociais. Ali radica sua 
funcionalidade e, portanto, sua legitimidade (uma substantiva análise sobre a 
“instrumentalidade do Serviço Social” se encontra em Guerra, 1995). 
2. Alterações no contexto sócio-econômico e político frente ao projeto 
neoliberal 
Algumas questões contextuais devem ser minimamente analisadas para que se 
possa considerar a situação atual do Serviço Social frente ao neoliberalismo e sua 
perspectiva de futuro. Questões que tem a ver com alterações no âmbito da inserção 
ocupacional do assistente social: o Estado, donde emana sua legitimidade funcional (ver 
Montaño, 2007: 2.2. do cap. I), pontualizações referidas às transformações do mundo do 
trabalho, afetando não apenas a situação dos sujeitos com os quais se vincula 
profissionalmente, as classes que vivem do trabalho (ver Antunes, 1995), senão também 
gerando importantes mudanças em sua condição de trabalhador assalariado, finalmente, 
questões relacionadas com as substantivas variações macro-estruturais, tanto políticas 
quanto econômicas e sociais, conhecidas sob a denominação de globalização. 
Questões estas que afetam substantivamente a base de sustentação funcional-
ocupacional do Serviço Social que devem ser consideradas para poder determinar a 
magnitude de suas conseqüências sobre a realidade ocupacional do assistente social, a 
funcionalidade e a legitimidade da profissão. 
 4
Estes aspectos serão tratados separadamente somente para efeitos analíticos, na 
verdade eles expressam manifestações diversas de um mesmo processo: o desenvolvimento 
do capitalismo, em sua fase monopolista atual (tardia, consolidada e madura). 
2.1- Mudanças no mundo do trabalho 
Primeiramente, devemos assinalar que o projeto neoliberal, − cujos antecedentes 
teóricos datam dos escritos de Hayek, em 1944 (O caminho da servidão) e que começa a ter 
impacto político com a “experiência” chilena de 1973, até alcançar nos anos 80 a quase 
totalidade do mundo ocidental -, representa a resposta do capitalismo ocidental a uma rede 
de fatores econômicos e políticos a nível mundial. 
Efetivamente, as transformações ocorridas no mundo do trabalho não são alheias 
aos fundamentos da proposta neoliberal, nem a seus impactos políticos. Estas alterações- na 
organização da produção, no gerenciamento da industria, nas relações contratuais de 
trabalho, na comercialização − tem como fundamento a reestruturação produtiva 
(particularmente, o modelo de produção japonês, concebido inicialmente por Ohno, na 
indústria automotriz Toyota). 
Diversos fatores conjunturais da economia japonesa nos anos 50-60 (que aqui 
excede nossos objetivos) constituem o marco no qual se desenvolve o chamado 
“toyotismo”. A empresa japonesa enfrentava crises financeiras num país com um reduzido e 
heterogêneo mercado e sem capacidade de exportação. Devia reduzir-se, pois, os custos de 
produção de forma diferente ao usualmente feito dentro do modelo taylorista/fordista; 
assim, surge a necessidade de recortes no pessoal ocupado e na infraestrutura industrial. 
- Esta redução da força de trabalho é possível, em primeiro lugar, pelo 
desenvolvimento tecnológico. Este último alcança um nível de sofisticação tal que deriva 
no fenômeno conhecido como automação da produção, ou seja, o acirramento da 
substituição da mão de obra pela máquina automática, pelo robô, estes “conduzidos” por 
uma forma de “inteligência” não humana: o computador. É com este último avanço da 
tecnologia que se alcança o ponto mais alto da “desumanização” da produção. Se desde a 
Revolução Industrial a máquina suplanta e substitui o homem, este nunca pode ser 
totalmente eliminado do processo produtivo dada a necessidade de comando humano sobre 
a máquina. Esta, sem a manipulação do homem, nada podia fazer. A informática veio 
ocupar, através do comando pré-programado de atividades- desenvolvido nos software -, 
este papel. Com este panorama, não somente o trabalhador manual resulta supérfluo, senão 
muitos cargos gerenciais, de inspeção, de engenharia industrial, administrativos, resultam 
prescindíveis. 
As conseqüências do desemprego estrutural que derivam deste fato são 
verdadeiramente estremecedoras. 
- Por outro lado, a redução do pessoal do “chão de fábrica” deve ser buscada sem 
que isto afete o volume de comercialização de empresa, o que redundaria naperda do lucro 
para o capitalista. Muito pelo contrário, o volume de comercialização deve manter-se e até 
crescer. A forma de reduzir pessoal e infraestrutura sem afetar a comercialização se 
 5
constitui, na proposta de Ohno, na mais significativa alteração das relação trabalhistas. Se 
no capitalismo desenvolvido, para o modelo fordista a base contratual é a relação de 
“assalariamento”, agora o vínculo tende a ser a de “subcontratação” 
Efetivamente, as indústrias incorporam o modelo da “fabrica mínima”: pouco 
pessoal de “chão de fábrica”, poucos capatazes, inspetores e hierarquias intermediárias, 
redução do pessoal administrativo e de serviços, prédios menos dispendiosos, diminuição 
do investimento em máquinas etc. Desta maneira, em primeiro lugar, os funcionários são 
contratados por serviços prestados, por trabalho à demanda e não por sua participação em 
uma jornada completa independentemente da flutuação da demanda do mercado ou da 
safra6, cria-se assim a “empresa unipessoal” ligada a empresa matriz, a que, na verdade, 
realiza as mesmas funções que o antigo funcionário assalariado (geralmente se trata da 
mesma “pessoa física” apesar de diferente “pessoa jurídica”) porém com maior carga de 
trabalho, para obter o equivalente de seu salário e direitos anteriores7. Em segundo lugar, a 
empresa matriz pode reduzir capital variável e constante sem diminuir sua produtividade e 
comercialização subcontratando empresas produtivas, desta forma já não é necessário 
produzir dentro da industria, senão que se pode comprar a produção de outras empresas, 
assim o que a empresa matriz compra não é a força de trabalho, muito cara (dado os 
direitos trabalhistas) e conflitivas (dada a organização sindical), senão o produto do 
trabalho, as mercadorias prontas e em bom estado, elaboradas por empresas subcontratadas. 
Com estas novas características a empresa matriz evita grandes investimentos, diminui 
custos e adequa sua produção (em quantidade e qualidade) às variações do mercado (sobre 
isto ver Montaño, 1995). 
- Por último, e em função do que se dissemos anteriormente, o contrato de trabalho 
deve ser − tal como surge do modelo japonês e como é incorporado pelos apologistas do 
neoliberalismo − modificado. Este não deveria ser tão rígido, senão que seria preciso 
“flexibilizar o contrato de trabalho”. A rigidez deste contrato − com seus direitos 
trabalhistas, com seus “altos custos para o capitalista”, com seus sindicatos fortes − só 
traria, segundo os neoliberais, conseqüências negativas a ambas as “partes” da relação: 
para o capitalista geraria um elevado investimento, um risco imensurável para seu capital, 
altos custos de produção (por “elevados” salários, direitos trabalhistas etc.), em definitivo, 
perda de lucros e até, talvez, uma crise financeira que poderia levar a empresa a uma 
quebra; para o trabalhador, esta rigidez derivaria em elevações do desemprego8. Assim, 
deveriam criar-se postos de trabalho com baixos salários de base incrementados pelas 
compensações, prêmios, comissões etc., com isenção ou renuncia de benefícios trabalhistas, 
com precariedade com relação à permanência no cargo, ou seja, que reflitam relações 
contratuais flexíveis, de tal modo que implique em redução dos custos de produção da força 
de trabalho ao capitalista e na maleabilidade da quantidade de trabalho pago em funções 
das variações da demanda de mercado. 
 
6. O que permite à empresa diminuir a “porosidade” do trabalho, os tempos perdidos e a pagar somente o que 
precisa e quando precisa. 
7. Os benefícios obtidos pelos direitos trabalhistas (Lei de 8 horas, Salário por férias, Indenização por 
dimensão etc.). 
8. Entre as teses mais difundidas pelos neoliberais, como explicação do elevado desemprego (na verdade, 
derivação direta da automação da produção e das receitas neoliberais) figura a idéia de que este é 
conseqüência da rigidez do contrato de trabalho. 
 6
- Todos estes elementos derivam não só no já referido aumento sem precedentes do 
desemprego estrutural, mas também na perda do nível de poder político-sindical, em 
dimensões inéditas do capitalismo. 
2.2.- A Globalização, ou “mundialização do capital” 
As alterações na organização da produção e comercialização desenvolvidas em 
torno da industria japonesa (e repercutindo em todos os chamados “Tigres Asiáticos”) 
determinaram um lugar privilegiado da economia desta região no processo de 
mundialização ou globalização da economia. 
Efetivamente, custos mais baixos e flexibilidade nos contratos de trabalho e na 
produção (derivados da subcontratação) determinam uma melhor adaptação ao 
heterogêneo e variante mercado global: a empresa matriz pode responder as demandas 
diversas em quantidade e qualidade dos mercados nos diversos países. 
- Neste sentido, a relação de subcontratação de empresas permite algo inédito na 
história da produção: a globalização da produção. Assim, hoje se pode produzir (e de fato 
assim se faz) uma mercadoria montando peças produzidas em vários países, através da 
subcontratação de empresas no estrangeiro. Este fenômeno permite a empresa matriz 
subcontratar as empresas que produzem melhor e mais barato não só a nível nacional, senão 
no mundo inteiro. Desta maneira, um produto determinado pode ser confeccionado a partir 
de subprodutos (peças), cada um deles procedentes de um país diferente em função das 
vantagens que, para cada peça, ofereçam esses países. 
Desta forma, as empresas asiáticas ingressam a uma concorrência de mercado 
mundial em melhores condições: melhores preços, produtos adequados às particularidades 
de cada mercado e com melhores níveis de produtividade. 
Assim, para adequar-se às vantagens de competitividade que supõe a subcontratação 
e organização da produção japonesa, e incorporá-las aos padrões de produção ocidental, o 
neoliberalismo propõe desenvolver uma versão própria desta forma de produção, conhecida 
como “terceirização” ou “partner ship”. 
- Por outro lado, o processo de globalização política, produzido paralelamente à 
mundialização da economia, deriva na perda da autonomia e do poder político dos Estados 
nacionais. A presença, no cenário político mundial, de organizações transnacionais (OEA, 
ONU, Gatt, Nafta etc.) de instituições financeira (FMI, BM) e de empresas multinacionais, 
muitas delas com um PIB ou movimentos financeiros maiores que a maioria dos Estados 
nacionais minimiza o impacto das decisões destes últimos, não só nos temas que afetam o 
globo ou a certas regiões, senão em questões de interesse apenas para uma determinada 
nação. 
Mas esse fenômeno não se apresenta de forma homogênea para todos os países, o 
poder político de um governo como o dos Estados Unidos continua sendo de grande 
impacto (nacional e mundial), tanto no boicote político-econômico que realiza a Cuba 
(impedindo suas empresas de exportar à esta ilha) quanto nas barreiras que impôs na 
 7
importação de veículos de origem japonesa. Evidentemente, este não é o peso político que 
sustenta os governos dos países de terceiro mundo. Na realidade, a perda de autonomia dos 
Estados Nacionais é uma realidade muito mais relevante para os países periféricos. 
Neles os fundamentos democráticos perdem espaço e legitimidade, as decisões 
emanadas de processos democráticos nacionais são subordinadas às decisões unilaterais 
tomadas por organismos transnacionais9. Com este panorama, a participação popular, o 
controle do povo sobre os organismos e autoridades estatais, a disputa política nacional, as 
decisões tomadas pelos representantes do povo, perdem conteúdo e relevância, estas nações 
sucumbem aos “caprichos” de instituições como o FMI; a OPEP etc. 
Esta perda real da legitimidade democrática permite ao neoliberalismo, herdeiro de 
uma tradição antidemocrática10, opor-se atal sistema de governo, contrapondo, como o faz 
Hayek, a liberdade à justiça social. Aqui, esta última, obtida através da ação e intervenção 
do Estado, estaria atentando contra o valor supremo: a liberdade. 
2.3- A contra-reforma do Estado 
Com um sistema político e econômico “globalizado”, como foi descrito 
anteriormente, com Estados nacionais e seus sistemas de governos democráticos cujas 
autonomias são minimizados, particularmente na sua esfera da proteção social, com 
relações econômicas que não precisam ser controladas por um organismo central e sem a 
necessidade de incentivos e complementos salariais para reverter a tendência ao 
subconsumo, a existência de um Estado de bem-estar social se torna não apenas supérflua e 
desnecessária, como também negativa aos olhos dos neoliberais. Cria-se, no dizer de Netto, 
um “Estado mínimo para o social e máximo para o capital”, aonde, conforme Wacquant 
(2002), a redução do “Estado Social” se acompanha da ampliação do “Estado Penal”. 
Assim a proposta de contra-reforma do Estado deita raízes desde um ponto de vista 
econômico quanto político. Por um lado, o Estado não deve, para os neoliberais, intervir na 
“liberdade” econômica, no livre jogo do mercado; por outro, a igualdade e justiça sociais se 
convertem, para os partidários das fórmulas neoliberais, nos verdadeiros adversários de tal 
“liberdade”. 
- A contra-reforma do Estado significa, então, para as teses neoliberais, 
primeiramente o ataque frontal aos fundamentos democráticos das decisões nacionais, a 
partir da intervenção, não democrática11, de organismos transnacionais nas questões de um 
país. 
- Por outro lado, a contra-reforma do Estado significa a não participação deste no 
“livre” jogo econômico do mercado (nem intervindo nas relações trabalhistas, nem 
 
9. Claro exemplo dele são as negociações sobre a dívida externa que, individualmente, realizam os Estados 
Nacionais com o FMI e seus impactos sobre la política econômica desses países. 
10. Recordemos que a corrente Liberal surge com uma enérgica resistência aos valores democráticos (sobre 
isto ver, Bobbio, 1993). 
11. A conotação do “não democrático” para nada manifesta, neste caso, uma valorização ideológica; ela, pelo 
contrário, expressa a ausência de debate e confronto de interesses. 
 8
controlando os preços dos produtos, nem regulando os salários, nem estabelecendo 
barreiras alfandegárias para importações etc.). Esta não intervenção estatal nos assuntos 
econômicos se fundamenta na já anunciada perda de autonomia estatal e diminuição da 
legitimidade democrática, mas ela deriva, entre outras coisas, em um aspecto substancial e 
de enorme relevância em nossas sociedades, a saber: 
- A privatização de empresas estatais, a qual significa um aspecto específico da não 
intervenção estatal: o Estado não deve participar, para os neoliberais na atividade 
econômica com empresas públicas e, menos ainda, em alguns ramos essenciais da produção 
e de serviços, detendo o monopólio de certas atividades (telefonia, energia elétrica, 
combustíveis, segurança pública etc.). Aqui a proposta é passar às mãos privadas o que era 
de propriedade pública. O Estado, segundo surge das receitas neoliberais, não precisaria 
(nem deveria) investir tanto em atividades econômicas, o que leva a uma diminuição da 
arrecadação dada a redução da atividade econômica de empresas públicas, agora 
privatizadas, caindo, em definitivo, o montante dos recursos estatais (não gasta mas 
tampouco não ganha). 
Novamente vemos como esta receita varia segundo se trate de economias de centro 
ou de periferia. É o caso da recente venda da empresa estatal de energia elétrica do Brasil 
(Light) “privatizada” e comprada maioritariamente por uma empresa estatal francesa. 
- Mas, como apontamos anteriormente, uma das conseqüências das privatizações de 
empresas estatais é a queda da arrecadação do Estado por vias não impositivas. Se a isto 
agregamos a tão mentada reforma tributária − donde se reduzem os impostos diretos 
(permanece basicamente a carga sobre o salário), aumentando proporcionalmente a 
tributação indireta (fundamentalmente dirigida ao consumo) − chegamos a que o Estado 
não arrecada recursos minimamente suficientes como para manter seus gastos. É nesse 
sentido que se propõe a redução do gasto público e particularmente, a diminuição dos 
recursos destinados às políticas sociais. 
Efetivamente, a aparente “inviabilidade financeira” dos Estados nacionais que o 
neoliberalismo pretende denunciar, leva a que este se dedique apenas as atividades 
essenciais para garantir a “liberdade” do mercado: segurança pública (as vezes convertida 
no “regime de segurança nacional), defesa de fronteiras, repressão sindical. 
As áreas sociais, neste caso, devem ser passadas também na esfera da sociedade 
civil (devem ser privatizadas) e/ou reduzidos seus recursos 
3. A crise na base de sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social 
Temos visto como a partir das inovações dos modelos de produção japonês, tem se 
produzido significativas alterações nas relações trabalhistas na organização da produção, na 
automação do trabalho, no interior das industrias ocidentais. Estas alterações (adaptações 
ocidentais de métodos e processos japoneses) significam respostas a situação de vantagem 
competitiva da produção/comercialização dos países do Tigre Asiático frente ao conhecido 
fenômeno da globalização. Assim, a “terceirização” de áreas da produção, administração e 
 9
serviços, a “flexibilização” do contrato de trabalho (com perda do salário de base e dos 
direitos trabalhistas), o aumento do desemprego estrutural a partir da substituição de mão 
de obra por maquinarias, derivado da “automação” e do desenvolvimento da tecnologia, 
tudo isso produz enormes alterações nas condições de trabalho, na qualidade de vida, na 
facilidade/dificuldade de encontrar emprego para as pessoas que constituem a heterogênea 
classe trabalhadora, a “classe que vive do trabalho” (ver Antunes, 1995). 
Vimos também como a resposta neoliberal a esta realidade ( as vantagens 
produtivas e comerciais do Tigre Asiático frente à globalização) se traduz não só nas 
alterações na esfera produtiva, senão também, e fundamentalmente, na orientação, 
dimensão e funções do Estado. É assim que contamos com a minimização estatal, a 
privatização de empresas públicas, a não intervenção do Estado nos aspectos econômicos 
que devem desenvolver-se no “livre” jogo do mercado, a redução do gasto público, esta 
última especialmente centrada na diminuição dos recursos destinado a área social: políticas 
sociais e assistenciais. 
3.1- Desta maneira, podemos formular nossa primeira hipótese de trabalho, através 
da qual estudaremos a situação de uma especial categoria profissional, o Serviço Social, 
frente a esta realidade fortemente permeada pelas receitas neoliberais. 
1ª hipótese: Se, primeiramente, no atual contexto, podemos verificar 
transformações substantivas no mundo do trabalho (a tecnologia, a organização e as 
relações de produção) de forma tal que afetam a realidade (material e espiritual) da 
“classe que vive do trabalho”, ou seja, dos beneficiários centrais das políticas 
sociais, se, em segundo lugar, constatamos enormes transformações nas orientações 
dos Estados nacionais (os quais passam de uma perspectiva de “bem estar social” a 
uma orientação neoliberal), ou seja, no organismo prestador de serviços, e se, 
finalmente, as políticas sociais conformam mediações entre Estado (beneficiante) e 
classes trabalhadoras (beneficiários) e que se comportam como instrumentos do 
primeiro, então podemos afirmar que, conseqüentemente, as políticas sociais, no 
atual contexto neoliberal, global e produtivo, são substantivamente alteradas em 
suas orientações e em sua funcionalidade. 
- É assimque, em primeiro lugar, a orientação das políticas sociais é alterada de 
forma significativa. Por um lado elas são privatizadas, retiradas paulatinamente da órbita 
do Estado (passam ao âmbito da sociedade civil − Igreja, ONGs, Instituições de Apoio, 
Organizações de vizinhos etc.)12; por sua vez essas políticas sociais são focalizadas (contra 
o princípio universalista, elas se destinam hoje, apenas a uma população carente de 
 
12. Se realiza uma separação entre esferas econômica, social e política. A primeira é des-politizada enquanto 
a esfera social é des-economizada e des-politizada e finalmente a órbita política é des-economizada. Desta 
maneira esta “economia” (quase assimilada à contabilidade) deve estabelecer-se apenas no mercado, único 
que garante (segundo as teses neoliberais) a “liberdade” dos indivíduos; por outro lado, este tipo de 
“política” (entendida apenas como as relações estabelecidas e institucionalizadas nas regras do jogo 
democrático-representativo) deve desenvolver-se no marco do Estado e com a participação da população 
representada pelos partidos políticos; e finalmente, o “social” (entendido como as relações interpessoais e 
intersubjetivas estabelecidas no marco da vida cotidiana) deve desenvolver-se na fração da esfera da 
sociedade civil não mercantilizada: Igrejas, famílias, organizações de vizinhança, ONGs., escolas, etc. 
 10
determinado serviço pontual − o que redunda, como veremos a seguir, numa baixa de 
qualidade do mesmo para essas pessoas que dependem do apoio estatal), e, finalmente, elas 
são também desconcentradas (o que implica apenas numa descentralização executiva, 
mantendo uma centralização normativa e administrativa e uma excessiva centralização 
econômica) (sobre o tratamento das políticas sociais no neoliberalismo, ver Pastorini, 1995: 
189-256, também pode ser consultado Laurell (org.), 1995 e VV. AA., 1995). 
- Em segundo lugar, os serviços sociais, a assistência estatal, as subvenções de 
produtos e serviços de uso popular, os complementos salariais etc., se vêem fortemente 
reduzidos em quantidade, qualidade e variabilidade. Se o Estado está (como pretendem 
nos fazer crer os neoliberais) “quebrado”, “falido”, desfinanciado e − produto das 
privatizações − sem possibilidade de obter recursos de outras vias que não as obrigações 
tributárias (fundamentalmente dirigidas ao consumo), então, este Estado não poderá (nem 
deverá, segundo a estirpe neoliberal) destinar importante volume de financiamento às 
políticas sociais e serviços assistenciais. Apenas desviará parcos recursos para cobrir 
alguns serviços não prestados por instituições não governamentais ou privadas, ou 
destinados (focalizados) a quem não tem condições de contratá-los privadamente. Assim, 
estes “serviços estatais para pobres” se transformam em “pobres serviços estatais”. 
Aqueles que tiverem condições de contratá-los na órbita privada terão bons serviços, quem 
não puder fazê-lo e, então, tenha que recorrer a uma prestação de serviços estatais, receberá 
um tratamento de má qualidade, despersonalizado. 
- Finalmente, podemos verificar um terceiro fator que expressa significativas 
alterações na funcionalidade13 (sobre este aspecto ver Pastorini, 1995:244-256). 
Por um lado, como foi expresso nos parágrafos anteriores, a função social e 
assistencial das políticas sociais tem sido significativamente alterada, dada a variação de 
suas orientações, o que redunda em detrimento da qualidade, quantidade e variedade de 
políticas sociais, agora oferecidas focalizadamente a grupos pontualmente carentes. 
Por outro lado se verificam, dentro deste contexto, profundas alterações na 
significação e peso específicos da função política destes instrumentos estatais. Esta função 
referia basicamente, no marco dos Estados de bem estar, à legitimação do sistema político e 
econômico mediante a minimização e institucionalização dos conflitos potenciais ou reais. 
Agora, dada a hegemonia neoliberal, como afirma Pastorini, “tanto a regra democrática 
quanto as políticas sociais vão perdendo peso em relação ao mercado. (...) a democracia, 
como elemento legitimador, vai perdendo protagonismo por diferentes motivos. Por um 
lado, essa perda surge da crescente globalização tanto política quanto econômica que faz 
com que cada vez mais os diferentes Estados nacionais percam autonomia e liberdade. (...) 
Por outro lado, o mercado vai ganhando dia a dia espaços da democracia (...)” (Pastorini, 
1995: 250-251)14. 
 
13. Nos referimos à significação, à extensão, e não ao fundamento da funcionalidade, a qual permanece 
relativamente invariado. 
14. Para Kennet Arrow, um liberal, “há dois mecanismos principais para realizar eleições sociais: a votação e 
o mercado”. Segundo Alford e Friedland, “esta distinção conceitual é quintaessencialmente pluralista, não 
somente pela divisão da sociedade em esferas política e econômica separadas, senão também por causa da 
 11
Mas também a função econômica das políticas sociais é alterada significativamente. 
Se estas operam, segundo já foi assinalado, como socializadoras dos custos de reprodução 
da força de trabalho, retirando a responsabilidade absoluta do capitalista e assumindo o 
Estado parte dela, hoje esta função, na medida em que as políticas sociais são focalizadas à 
populações pontualmente carenciadas, se vê reduzida em sua amplitude e abarcabilidade. 
Estas, ao não alcançar a totalidade da população − senão pelo contrário, excluindo de sua 
órbita a população que pode auto-sustentar-se, tanto como aquela que apresenta carências 
em todas as suas necessidades e que resultaria muito dispendiosa e desnecessária integrá-la 
ao sistema − relativizam o peso desta funções, agora é fundamentalmente o próprio 
trabalhador quem tem o encargo de reproduzir-se como força de trabalho15. 
3.2- No marco desta realidade para as políticas sociais, definiremos nossa segunda 
hipótese, com o fim de caracterizar a atual base de sustentação funcional-ocupacional do 
Serviço Social. 
2ª hipótese: Se as políticas sociais se constituem em fator de sustentação 
funcional-ocupacional dos assistentes sociais (sua funcionalidade, sua 
instrumentalidade, sua legitimidade) e se estas se foram significativamente alteradas 
no atual contexto sócio-econômico e político (suas orientações e funcionalidade) 
podemos, pois, afirmar que a base de sustentação funcional-ocupacional do Serviço 
Social tem sofrido (ou ainda está sofrendo) transformações relevantes. 
- Desta maneira, as alterações nas orientações e funcionalidade das políticas sociais 
corroem a base de sustentação funcional-ocupacional da profissão do assistente social. Se 
este profissional tem a função social (que o legitima funcionalmente ante o organismo que 
o contrata, o Estado, e o legitima popularmente frente à população beneficiária16), de 
intervir na fase terminal das políticas sociais (hoje com relativa participação no desenho e 
avaliação daquelas, assim como intervindo também fora da órbita do Estado, em ONGs, em 
empresas etc. − apesar de que a maior parte ainda atue como se fazia tradicionalmente, ou 
seja, no âmbito do Estado e vinculados à execução destas políticas sociais) e se estas foram 
redefinidas e reduzidas (em sua quantidade, qualidade e variedade), então este profissional 
não será tão requisitado quanto antes, dada a redução de seu campo de intervenção17, dado 
o redimensionamento das suas funções. 
 
equiparação da votação e mercado como recursos para a agregação das preferências” (in Alford e 
Friedland, 1991: 72-73). 
15. Consolidando, assim, o processo de desresponsabilizaçãodo capitalista por reproduzir a força de trabalho: 
primeiro, totalmente de atribuição do capitalista; logo, com o Welfare State, dividindo com o Estado (e 
através dele, toda a sociedade) esta responsabilidade; agora, nas mãos do próprio trabalhador. 
16. Sobre isto ver Montaño, 2007: 2.2 do Cap. 1. 
17. Serra propõe, como que seguindo Palma (1985) (que entende a administração de serviços como a base 
material da ação educativa do assistente social), a idéia de uma “crise de materialidade” do Serviço Social 
(ver Serra, 1987). Entendemos que a complexidade desta “crise” nos obriga a pensar nas repercussões à 
nível da legitimação da profissão, de sua funcionalidade e significação social, de sua situação 
ocupacional, etc., superando a mera “materialidade”. A nosso ver, esta “crise de materialidade” não 
deriva numa “hipertrofia da função sócio-educativa”; esta última também está en crise no meio da real 
crise na “base de sustentação funcional-ocupacional”. 
 12
Vale dizer, se o assistente social surge como um profissional necessário para 
implementar um instrumento estatal (as políticas sociais) considerado fundamental a uma 
determinada estratégia, promovida pelos setores hegemônicos, de legitimação do sistema e 
de aumento da acumulação do capital e se estas perdem paulatinamente a importância que 
tinham, dadas as variações atuais na estratégia daquelas classes hegemônicas, então estes 
profissionais poderão ir passando a ser cada vez mais prescindíveis, menos necessários. Seu 
campo de trabalho na esfera estatal vai se reduzindo. Assim, as alterações nas políticas 
sociais dentro do contexto neoliberal não somente são prejudiciais as classes populares, 
beneficiárias de tais mecanismos, como também repercutem negativamente no 
(des)emprego do assistente social. 
No entanto, esta afirmação, que se expressa como tendência desde que a categoria 
profissional não se posicione frente a este quadro, não deve ser hoje alarmante. Como 
afirma Netto, 
“quando se consideram as características estruturais da sociedade brasileira e sua 
modalidade de inserção no sistema capitalista contemporâneo, independentemente 
dos rumos políticos imediatos, verifica-se que a demanda objetiva de uma profissão 
como o Serviço Social não tende a se contrair” (Netto, 1996:115) (sublinhado 
nosso). 
Segundo esse autor, diversos fatores18 se congregam para “constituir um quadro 
societário que, objetivamente, garanta espaços aos assistentes sociais” (Ibidem). 
- Este fenômeno, de idêntica maneira que em outras categorias de trabalhadores 
assalariados, tem como contrapartida o conhecido (e já mencionado) processo de 
terceirização. Efetivamente, este profissional (seja funcionário público ou assalariado do 
setor privado) começa a ser terceirizado. Desta maneira, podemos afirmar que o Serviço 
Social começa a viver um processo de “liberalização” profissional transformando 
progressivamente, para alguns casos, o assistente social − cuja característica básica na 
relação de trabalho é a de ser um trabalhador assalariado − em um profissional liberal. 
Assim, os assistentes sociais são cada vez mais, contratados como “empresas 
unipessoais” por serviços prestados. Este fenômeno nos reafirma a concepção de que este 
profissional é, essencialmente, um trabalhador, dada a co-participação, conjuntamente com 
todos aqueles que vendem sua força de trabalho, nesta tendência à terceirização. 
- Estes dois fenômenos anotados anteriormente (as tendências do aumento do 
desemprego profissional e a terceirização) confluem num determinado processo que 
podemos caracterizar como de tendência à re-filantropização do Serviço Social. 
É que, em primeiro lugar, a privatização das políticas sociais leva a que estas 
sofram um processo de multifragmentação: não apenas a fragmentação ocasionada pela 
 
18. A dinâmica das relações capitalistas, as implicações da brutal concentração da propriedade e da renda, os 
padrões de inclusão/exclusão social, os impactos de uma urbanização veloz e descontrolada, a ruptura 
acelerada das relações familiares tradicionais, o perfil demográfico do país, a necessidade de mecanismos 
de cobertura proteção macro e microsocias. Ver Netto, 1996: 115. 
 13
setorialização das políticas sociais (de saúde, trabalhistas etc.) já típica desde a gênese 
destes instrumentos estatais (ver Netto, 1992. Cap. I), como também, a atual fragmentação 
originada a partir de sua implementação a nível privado, em geral, destinadas a pequenas 
parcelas da população e de forma descoordenada. 
Em segundo lugar, com esta descoordenação das políticas sociais 
multifragmentadas e implementadas por instituições privadas, os assistentes sociais que ali 
atuam tendem, cada vez mais, a uma prática também descoordenada, intervindo em micro-
espaços e sem sequer poder (ou querer) ter uma repercussão a nível nacional, nem sequer 
em esferas setoriais. 
Finalmente, estas organizações tem duas alternativas básicas: ou vendem serviços à 
população assistida, se autofinanciando e reproduzindo a organização, ou então, prestam 
serviços gratuitos, obtendo financiamento do estrangeiro. No primeiro caso, se trata de uma 
entidade, se não comercial, muito próxima da lógica empresarial de compra-venda de 
mercadorias (serviços) e que só atenderá a quem possa pagar por ele. No segundo caso, se 
trata de uma moderna versão da agência de caridade, reproduzindo a quase totalidade das 
características voluntaristas das velhas práticas organizadas de filantropia e caridade 
desenvolvidas no seio da sociedade civil. 
Aqui, a re-filantropização do Serviço Social aparece como corolário das 
privatizações destas políticas sociais, de seu retorno à orbita da sociedade civil, e das 
características voluntaristas que envolvem as organizações e os profissionais. 
4.O Serviço Social frente ao século XXI: perspectivas para a alteração (auto 
estabelecida) da base de sustentação funcional-ocupacional da profissão 19 
Com isto não estamos sustentando que fosse possível a total auto-definição da base 
de sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social. Afirmar tal coisa significaria estar 
assumindo, para o futuro imediato da profissão, a mesma postura que a desenvolvida na 
primeira tese sobre a gênese e legitimidade, entendendo que os únicos atores fundamentais 
para tanto seriam os próprios membros da profissão, o que redundaria numa análise 
endógena desta base de sustentação (como se pudesse estudar a profissão através de “seu 
próprio destino”).20 Pelo contrário, nossa perspectiva, já a afirmamos, é exógena e 
histórica, os atores fundamentais para tal projeto profissional são as categorias e classes 
sociais. No entanto, sustentamos que é possível (e necessário) que a profissão como um 
todo debata e participe ativamente na definição de sua base de sustentação funcional-
ocupacional, podendo-se converter em um destes atores21. 
 
19. Um contundente estudo, com a preocupação de analisar as perspectivas do Serviço Social, está em Netto, 
1996; ver também, Iamamoto, 1998. 
20. Como Natálio Kisnerman, que pretende compreender a história do Serviço Social a partir da evolução do 
“seu próprio destino” (1980: 11). 
21. Como afirma Netto, “as profissões não podem ser tomadas apenas como resultados dos processos 
macroscópicos − devem também ser tratadas cada qual como corpus teóricos e práticos que, condensando 
 14
- Efetivamente, o Serviço Social pode e deve converter-se em sujeito determinante 
de tal processo, através da definição de uma Regulamentação Profissional, de um Código 
de Ética, mediante a organização de eventos para o debate teórico-político, onde se discuta 
a significação política da prática profissional, onde se gere um desenvolvimento 
substantivo do conhecimento sobre a realidadee que redunde em situar a profissão em 
termos de igualdade acadêmica e status funcional com as demais disciplinas sociais, 
mediante a alteração dos currículos, adequando-os à realidade que vivemos e à necessidade 
de maior capacitação profissional, através de estratégias que permitam ao assistente social 
o aumento do seu poder específico a nível organizacional, podendo negociar melhor suas 
propostas e o colocando em melhores situações dentro da organização, mediante a 
participação em atividades de análises teórica, de definição da política organizacional, de 
planejamento social e de avaliação dos serviços prestados pela organização. 
Enfim, desenvolvendo o nível acadêmico (teórico-prático) e político da profissão 
(coletivamente) e do profissional (individualmente) para realizar com maior competência 
sua tarefa, dando respostas mais sólidas às demandas postas pela sociedade. 
- Por outro lado, o Serviço Social, e os assistentes sociais de cada organização 
(privada ou estatal)e de cada área, devem atribuir-se o papel de sujeitos neste processo − 
assumindo essa dupla coragem: cívica e intelectual das quais nos fala Netto (1996:119) -, 
acabando com a inércia funcional. Este profissional tem um papel transcendente na 
denúncia frente a opinião pública e aos organismos competentes , das transformações que 
sofrem as políticas sociais e os serviços prestados pelas organizações. 
A denúncia de um profissional perito em certa área, conhecedor da realidade dos 
beneficiários e sabedor dos recursos com os quais conta o Estado, se converte numa arma 
fundamental para contribuir a frear o avanço desta caminhada neoliberal que vivem ainda 
hoje nos países latino-americanos. O assistente social deve estar ao atualizado sobre as 
privatização das políticas sociais, da diminuição dos recursos destinados a elas, da perda de 
qualidade dos serviços prestados, e este profissional não pode, conhecendo tal realidade, 
ser apático a este fenômeno, muito pelo contrário, deve participar na defesa férrea das 
políticas sociais (em quantidade, qualidade e variabilidade), dos recursos estatais 
destinados ao social, dos princípios democráticos, deve denunciar o mau uso de recursos, a 
corrupção etc. 
Se a população é beneficiária de tais serviços, conseqüentemente ela tem o direito 
de conhecer , avaliar e determinar sobre o destino destas políticas sociais, o assistente 
social a ela vinculado tem o dever cívico e o compromisso ético-político de favorecer, 
mediante sua intervenção profissional, os mecanismos para tornar isso possível. 
- Em terceiro lugar, um importante desafio para romper com o imobilismo 
operatório, com a realidade subalterna e subalternizante do Serviço Social, que frente a este 
contexto atual tende a se aprofundar, representa a incorporação das novas demandas 
surgidas de problemáticas emergentes, de forma tal que estes novos desafios convoquem 
 
projetos sociais (donde emanam suas inelimináveis dimensões ídeo-políticas), articulam respostas 
(teleológicas) aos mesmos processos sociais” (Netto, 1996: 89). 
 15
originais alternativas de intervenção e de estudos rigorosos e críticos, desencadeando uma 
preocupação para que a profissão apreenda esses fenômenos, investigando, dialogando e 
debatendo com quem produz conhecimento original desde as diversas disciplinas sociais22. 
Nestas novas realidades, cujas práticas profissionais estão ainda desprovidas de 
vícios tradicionais, recai a possibilidade mais forte de alterar substantivamente a função 
social e a imagem que o Serviço Social traz como herança desde sua emergência23. 
Com esta preocupação, Guerra propõe “distinguir as intervenções profissionais 
dirigidas as situações imediatas, daquelas que se encontram abertas aos fenômenos 
emergentes” (Guerra, 1995:200)24. 
É neste sentido, que o primeiro passo para quebrar com o conservadorismo no 
campo da intervenção profissional, assumindo a responsabilidade e o desafio de enfrentar 
as demandas novas ou emergentes, significa imbuir-se do conhecimento crítico sobre a 
dinâmica da realidade. Neste conhecimento do social, o diálogo com as teorias sociais em 
geral deve ser fluído e constante. E para manter uma relação horizontal com as demais 
disciplinas sociais, o Serviço Social como um todo deve produzir também conhecimento 
teórico científico sobre as relações e questões sociais, deve aportar elementos ao debate 
teórico e não apenas recebê-los de fora (como é costume se fazer fundamentalmente nas 
áreas temáticas tradicionais de intervenção profissional) e, ainda, deve pesquisar a 
realidade social. 
 
22. Como manifestamos em outra oportunidade, entendemos que “1- O Serviço Social deve abrir-se novos 
espaços profissionais; 2- Ele deve detectar novas demandas, ou demandas potenciais, não tradicionais e 
conhecer (pesquisando) seu processo, sua gênese, etc. Somente assim poderá formular propostas 
profissionais racionais e operativas de intervenção; 3- Em muitos casos somente poderá investigar-se estas 
novas realidades; a qual não se deve desprezar por considerá-las ‘sem aplicabilidade’, ‘pura’ ou 
‘inespecífica’ ao Serviço Social. Na verdade é incerto pensar que possa existir conhecimento sem 
aplicabilidade; sempre, ainda que seja a médio prazo, o conhecimento é útil. Quiçá o inútil é o 
conhecimento que se gera para ocupar espaços nos tantos arquivos não consultados da burocracia” 
(Montaño et alii, 1993: 99). 
23. Como afirma Iamamoto, “é necessário apreender as demandas potenciais gestadas historicamente, 
contribuindo assim para recriar o perfil profissional do Assistente Social, indicando e antecipando 
perspectivas ao nível da elaboração teórica, da pesquisa ou da intervenção profissional, perspectivas 
capazes de responder às exigências de um projeto profissional coletivamente e historicamente situado” 
(1992: 104) (sublinhado nosso). 
24. Para esta autora, “no primeiro caso, ao atuar no nível do imediato, a ação profissional pode limitar-se à 
manipulação de variáveis do contexto empírico, já que os resultados esperados não extrapolam a 
perspectiva de recuperar o índice de ‘normalidade’ necessário ao (re)estabelecimento da ‘ordem’ vigente. 
Neste nível (o do empírico) as análises não ultrapassam a aparência dos fenômenos (...). No segundo, para 
atender aos fenômenos emergentes, a intuição, a sensibilidade, a repetição das experiências, a utilização 
de modelos não bastam. O significado semântico da palavra aponta-nos que ‘emergente’ contempla a 
necessidade de (re)conhecer os processos que se insinuam, que se encontram latentes aos fenômenos, (...), 
para o que o assistente social tem que deter um conjunto de saberes que extrapola a realidade imediata e 
lhe proporcione apreender a dinâmica conjuntural e a correlação de forças manifesta ou oculta. Aqui, as 
ações profissionais tendem não apenas a dar resposta à necessidade imediata como também a vincular-se 
aos projetos sociais das classes que mediatiza” (Guerra, 1995: 200). 
 16
No entanto, a prática do assistente social, por ser sincrética25, por atuar nas esferas 
particulares da realidade, segmentadas em “questões sociais”, toma para si, como sendo um 
campo de intervenção próprio, algumas dessas problemáticas estilhaçadas, deixando para 
outras profissões a realidade “macro”. Assim, na lógica de “não invadir par não ser 
invadido” (ver Montaño, 1996), se produz não só uma ruptura entre áreas de conhecimento 
− como se a realidade fosse possível de pulverizar em “micro-realidades” parciais (ao estilo 
pós-moderno) -, como também, uma segmentação entre profissões científicas e técnicas. 
O desafio não é simples, no entanto, já tem sido assumido por diversosprofissionais, especialmente depois da segunda metade dos anos 80. Nesta empresa está em 
jogo o futuro da profissão. Porém, não recai na investigação o único fator determinante do 
desenvolvimento profissional. Este deve repercutir na formação profissional − ou seja, é 
preciso que professores e alunos incorporem o produto do conhecimento original e crítico 
da realidade na atividade docente − e na reciclagem e atualização dos profissionais de 
campo. Para incidir na definição da base de sustentação funcional-ocupacional do Serviço 
Social deve articular-se os centros de formação com a pesquisa criativa e rigorosa sobre os 
fenômenos emergentes; pouco contribui a pesquisa se ela não passar a formar parte do 
acervo real da profissão, atualizando os conhecimentos dos assistentes sociais e estudantes. 
- Finalmente, um quarto elemento que, pensamos, permite ao assistente social 
participar na definição de sua base de sustentação funcional-ocupacional, de forma tal de 
romper com a lógica controladora da população e mantenedora do sistema, que vem de sua 
gênese e que se auto-reproduz no presente (ver sobre a auto-reprodução, Montaño, 1996: 
Cap. 2), refere à busca de novos espaços laborais, de inserção profissional. 
Mais do que a possibilidade do Serviço Social auto-estabelecer sua base de 
sustentação, este aspecto é vital à permanência futura da profissão. Efetivamente, se o 
Estado, empregador fundamental deste profissional, tende a ser “minimizado”, se as 
políticas sociais, instrumentos centrais de intervenção do assistente social, são 
paulatinamente esvaziadas de recursos, e se o Estado benfeitor e as políticas sociais 
conformam uma estratégia de hegemonia (que legitima e atribui a tradicional base de 
sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social) que cada vez mais é substituída pela 
estratégia hegemônica do “livre mercado”, então, como já foi anunciado, estes profissionais 
tendem a perder seu postos de trabalho dentro da órbita estatal. Resulta imprescindível, 
então, que o Serviço Social assuma também o desafio de discutir novas fontes de emprego, 
novos campos de intervenção (além dos tradicionais): ONGs, movimentos sociais, 
associações, empresas, organizações comunitárias etc. 
Não obstante, não se pode pensar que a saída laboral do Serviço Social está em 
apostar nas ONGs, pois isto, como afirma Netto, significaria “desconhecer os graves riscos 
do pluriemprego” (Netto, 1996: 122). 
 
25. Netto entende que “a problemática que demanda a intervenção operativa do assistente social se apresenta, 
em si mesma, como um conjunto sincrético; sua fenomenalidade é o sincretismo − deixando na sombra la 
estrutura profunda daquela que é a categoria ontológica central da própria realidade social, a totalidade 
(1992: 91). 
 17
Pareceria que a alternativa laboral para a profissão se apresenta da seguinte forma: 
ou, por um lado, o assistente social se mantém realizando tarefas instrumentais simples, 
subordinadas, o que redundaria na confirmação da tendência a exclusão deste profissional 
da órbita de um Estado que pretende minimizar-se e dotar-se de maior eficiência (o que 
obrigaria o assistente social a buscar postos de trabalho na órbita privada), ou, por outro 
lado, o Serviço Social participa ativamente na definição de sua base de sustentação 
funcional-ocupacional, desenvolvendo atividades mais complexas, as que demandam 
destrezas e qualificações mais sofisticadas. Neste último caso, o profissional de Serviço 
Social pode manter-se como um ator necessário para o desempenho de funções estatais: 
execução, mas também desenho de políticas sociais, investigações sobre a realidade que 
envolve os usuários daquela, a avaliação de projetos, vínculo organização-população etc. 
É nesse sentido que Iamamoto se refere a definição de um projeto profissional que, 
condicionado pela realidade histórica, seja capaz de dar respostas às novas demandas, tanto 
a partir da lógica do mercado de trabalho, no contexto das organizações de caráter patronal, 
quanto “de reconhecer e conquistar novas e criativas alternativas de atuação, expressão das 
exigências históricas postas diante dos profissionais pelo desenvolvimento das sociedade 
nacionais” (Iamamoto, 1992: 104). 
Desta maneira, a capacitação profissional, o desenvolvimento de uma investigação 
substantiva, o aumento do status e poder político do profissional nas organizações que 
permitam não só executar senão desenhar as políticas sociais, a incorporação de demandas 
emergentes e a discussão do mercado de trabalho definindo novos cenários laborais, todos 
estes (não poucos) desafios, são urgentes e emergenciais ao Serviço Social. No adequado 
tratamento deles, acreditamos, está a possibilidade de ter uma substantiva participação real 
na definição de sua base de sustentação funcional-ocupacional. 
BIBLIOGRAFIA 
ALFORD, Robert e FRIEDLAND, Roger. Los poderes de la Teoría. Capitalismo, 
Estado y Democracia. Ed. Manantial; Buenos Aires, 1991. 
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?. Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade 
do mundo do trabalho. Cortez Ed.; São Paulo, 1995. 
_________________. “Dimensões da crise e as metamorfoses do mundo do trabalho”, in 
Revista Serviço Social & Sociedade N° 50; São Paulo, 1996. 
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. Ed. Brasiliense; São Paulo, 1993. 
COUTINHO, Carlos Nelson. Dualidade de poderes. Estado, revolução e democracia na 
teoria marxista. Ed. Brasiliense; São Paulo, 1987. 
FOUCAULT, Michael. Microfísica do Poder. Graal; Rio de Janeiro, 1979. 
GUERRA, Yolanda. A Instrumentalidade do Serviço Social. Cortez Ed.; São Paulo, 1995. 
 18
IAMAMOTO, Marilda Villela e DE CARVALHO, Raul. Relações sociais e serviço 
social no Brasil. Esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 
Ed. Cortez; São Paulo, 1991. 
IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e conservadorismo no serviço social. Ensaios 
críticos. Ed. Cortez; São Paulo, 1992. 
__________. O Serviço Social na contemporaneidade. Trabalho e formação profissioinal. 
São Paulo, Cortez, 1998. 
KISNERMAN, Natálio. 7 estudos sobre serviço social. Ed. Cortez & Moraes; São Paulo, 
1980. 
LAURELL, Ana Cristina (org.). Estado e Políticas Sociais no Neoliberalismo. Cortez 
Ed. − CEDEC; São Paulo, 1995. 
LUKÁCS, Georg. El asalto a la razón: la trayectoria del irracionalismo desde Scheling 
hasta Hitler. Grijalbo; Barcelona, 1968. 
MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe Social e Status. Zahar Ed.; Rio de Janeiro, 1967. 
MONTAÑO, Carlos Eduardo et alii. “La investigación sobre la pesca del camarón: 
aproximación a una nueva demanda y un nuevo campo de intervención 
para el Trabajo Social”; in Demandas y oportunidades para el Trabajo 
Social. Nuevos escenarios y estrategias. EPPAL; Montevidéu, 1993. 
MONTAÑO, Carlos Eduardo. O papel sócio-econômico das pequenas e micro-empresas. 
Uma alternativa de desenvolvimento ou uma estratégia de sobrevivência. 
Dissertação de Mestrado, UFRJ-Mimeo; Rio de Janeiro, 1995. 
_________________. A Natureza do Serviço Social. Cortez, São Paulo, 2007. 
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. Ed. Cortez; São Paulo, 
1992. 
_________________ (org.). Lukács. Ed. Ática − Col. Grandes Cientistas Sociais Nº 20 − 
Sociologia; São Paulo, 1992b. 
_________________. “Transformações societárias e Serviço Social − notas para uma 
análise prospectiva da profissão no Brasil”, in Revista Serviço Social & 
Sociedade N° 50; São Paulo, 1996. 
PALMA, Diego. La práctica política de los profesionales. El caso del trabajo social. 
CELATS; Lima, 1985. 
PASTORINI, Alejandra. “O Teatro das Políticas Sociais. Autores, atores e espectadores 
no cenário neoliberal”. Dissertação de Mestrado; UFRJ-Mimeo. Rio de 
Janeiro, 1995. 
SERRA, Rose Mary Sousa. “A crise da materialidade do Serviço Social”, in RevistaServiço Social & Sociedade Nº 41. Cortez; São Paulo, 1987. 
VV. AA. Pós-neoliberalismo. As Políticas Sociais e o Estado Democrático. Ed. Paz e 
Terra; Rio de Janeiro, 1995. 
WACQUANT, Loic. “A ascensão do Estado penal nos EUA”; in Wacquant, L. Discursos 
sediciosos: crime, direito e sociedade. Rio de Janeiro, Revan, 2002. 
 19

Outros materiais