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* Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Hannah Arendt Prof. Jorge Freire Póvoas * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Hannah Arendt - Filósofa alemã (1906 – 1975) Foi perseguida pelo nazismo e exilada nos Estados Unidos em 1941 onde faleceu após trabalhar em universidades americanas no campo da Filosofia Política. Elaborou uma definição de poder tendo como característica a não inclusão da violência como elemento constitutivo. Sua obra registra a luta contra o poder violento. Entende o poder como a capacidade de alcançar um acordo quanto à ação comum, no contexto da comunicação livre sem violência. A convivência pacífica entre os homens propicia a ação conjunta, sendo ela geradora de poder. Prof. Jorge Freire Póvoas * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito A convivência entre os homens é indispensável para a geração do poder. O indivíduo que se isola, renuncia ao poder e torna-se impotente diante dele. A geração do poder é conseqüência da ação conjunta dos homens, que propicia, pelo discurso, a revelação de cada indivíduo em sua singularidade. A ação não violenta é a única forma de ação que possibilita o encontro dos homens pela palavra. A ausência de violência é necessária para a descoberta de uma meta comum que sirva como elemento aglutinador. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Usar a palavra somente para atingir um fim específico, faz com que ela perca sua característica de elemento aglutinador. Quando não existe convivência as pessoas são apenas a favor ou contra os outros, por exemplo na guerra, onde se empregam meios violentos para alcançar objetivos em proveito de seu lado e contra o inimigo. A não violência é requisito importante para a geração do poder advindo do agir conjunto. A violência destrói o poder, mas não o cria ou o substitui, pois para ele ser gerado, exige a convivência, e a violência está baseada na exclusão da interação/cooperação com os outros. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Onde há sociedade há poder. A idéia de poder por vezes acontece de estar unida a de violência. O poder violento, ou seja, a associação de poder com violência é um desvirtuamento conceitual do poder. O poder corresponde à habilidade humana não só para agir, mas agir em harmonia. O poder não é propriedade de um indivíduo. Pertence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo permanece unido. Quando se diz que alguém está no poder, se refere ao fato de que ele foi empossado por pessoas para agir em seu nome. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito O poder que funciona na base de jogos de aceitação, encontra-se ameaçado de extinção, cedendo espaço para a violência. A violência não depende de consentimento mas da capacidade técnica de gerar sofrimento e submissão. O poder deixa de existir quando entra em ação referências que destrói o debate. Debate que se caracteriza como elemento de convivência entre os homens. Ceder espaço para a força é negar o princípio da ação e da busca de consensos através da introdução de instrumentos de submissão e de abuso da condição humana. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito A força que acompanha a violência é o que torna a sutileza da política algo que se pode deixar de lado, em momentos que a violência predomina. Em um confronto entre o poder e a violência quem cede? Será que o poder e suas artimanhas de atuação entre os homens são mais eficientes que a bala de canhão? Politicamente com a perda do poder torna-se uma tentação substituí-lo pela violência. Violência e poder não são a mesma coisa e sim opostos, pois quando um está forte o outro está ausente. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito No séc. XX a personagem que exerceu de forma prática, a teoria sobre o poder de Hanna Arendt foi Gandhi. A não violência é aspecto importante no pensamento de Gandhi, que a define utilizando da palavra ahimsa em sânscrito (uma das mais antigas línguas clássicas da Índia). É apropriado resistir e atacar um sistema, mas sabendo que isto equivale a atacar a si mesmo, por sermos filhos do mesmo Criador. Menosprezar um ser humano é prejudicar não apenas um ser, mas o mundo inteiro. Ghandi cria o termo satyagraha da união das palavras satya (verdade) e agraha (estar conectado), para definir sua doutrina política. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito O ahimsa (não violência) é a forma de ação da satyagraha (estar conectado a verdade), que se diferencia de modo radical da resistência violenta. A doutrina da satyagraha visa a conquista da libertação coletiva e individual. Gandhy usa o termo swaraj para expressar essa libertação. Swaraj: palavra sânscrita que expressa liberdade. Tem uma conotação espiritual, significando a liberdade da ilusão, do temor e da ignorância, o que requer um autoconhecimento e domínio de si próprio. Gandhi aplica a idéia dessa libertação espiritual do indivíduo para o campo da libertação política coletiva. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Gandhi foi visto como um dos idealizadores da desobediência civil no episódio conhecido como a Marcha do Sal, que mobilizou toda a Índia no ano de 1930. Aos 60 anos, Ganhdi parte de Dandi (vila localizada a oeste da Índia) acompanhado de 78 seguidores em marcha para protestar contra as taxas de impostos (cobrados pelos britânicos aos indianos) que incidia sobre a coleta do sal. De acordo com a regulamentação do governo britânico que assumiu o monopólio da coleta e da manufatura do sal, na Índia, era cobrado pesados impostos pelo governo britânico ao povo indiano. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Gandhi escolhe o sal como objeto da marcha por ser ele artigo de primeira necessidade das camadas populares e oprimidas da população indiana. A desobediência civil foi iniciada por Gandhi, que desafia o monopólio do governo britânico, desrespeitando a lei ao coletar sal natural da costa da Índia. A marcha em Dandi foi acompanhada por milhares de seguidores (percorrendo a pé mais de 500 km em 24 dias), resultando na prisão de Gandhi. Ao eleger o ahimsa (não violência) como princípio de ação, Gandhi opta por uma Ética onde não se justifica a violação do ser humano. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Para Hannah Arendt os homens são livres por possuírem o dom da liberdade enquanto agem. Assim, ser livre e agir são a mesma coisa. A liberdade não equivale ao livre-arbítrio, mas se relaciona com a ação. Homens e mulheres tornam-se livres, ao exercitarem a ação e decidirem, em conjunto, seu futuro comum. O poder tem como elemento essencial a não violência, sendo esta definição ajustada à idéia de liberdade enquanto campo do exercício da ação. Ao explicar sua noção de liberdade, Hannah recorre à polis grega, afirmando ser ela o espaço onde a liberdade pode se manifestar. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito A liberdade não é funcional, ou seja, seu exercício não pressupõe determinado fim. Como no satyagraha de Gandhi, sua prática é uma tentativa da busca da verdade, não estando ela predeterminada, mas surgindo durante a prática. Tanto em Arendt quando em Gandhi a liberdade é um meio para tornar a ação efetiva. Para manter a possibilidade da prática da liberdade, os seres humanos devem preservar o espaço público, necessitando para isto que exista a manutenção da cidadania. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito Hannah chama cidadania de “o direito a ter direitos”, sendo o exercício da cidadania o “meio criador” do espaço público que torna possível a liberdade. Uma ação fundamental para evitar o totalitarismo é a preservação do “direito a ter direitos”. A nacionalidade é um vínculo jurídico que une o ser humano a determinado Estado. Cada Estado determina o modo de aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade. Antes do surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), a nacionalidade era uma condição prévia para o exercício da cidadania. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito O apátrida (que não possui nacionalidade) era considerado como um não cidadão, o que implicava o não reconhecimento de seus direitos. É o surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos -DIDH que reintegra o apátrida ao mundo do direito. No sistema do DIDH, o apátrida não perde seus direitos fundamentais e continua podendo exercer os direitos em igualdade com os nacionais do país no qual reside. O apátrida tem liberdade de praticar sua religião e a educação religiosa de seus filhos, ter acesso aos tribunais, ao ensino elementar, a legislação do trabalho e seguros sociais. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito A condição para o reconhecimento de um ser humano como sujeito de direito no sistema DIDH deixa de ser o vínculo jurídico com o Estado e passa a ser sua existência como ser humano. O fato da existência vincula o homem, a mulher e a criança à ordem jurídica internacional, passando o ser humano a ser sujeito de direito desta ordem. Este fato amplia o espaço público, pressuposto do exercício da liberdade, que não está mais reduzido a “cidade-estado” dos gregos, mas amplia-o para o espaço do mundo. Hannah estabelece uma discussão sobre o poder como consenso participativo e dialogal, trazendo uma nova forma de pensar a política. * Prof. Jorge Freire Póvoas * * Prof. Jorge Freire Póvoas * Filosofia do Direito A política deixa de ser vista como algo utilitário, com interesse de alcançar determinado fim e transforma-se na construção do espaço público, no qual manifestar-se-á a singularidade de cada ser no momento da ação. A manifestação conjunta do agir traçará os nortes da vida coletiva daquela específica comunidade. Onde há política, há espaço público; onde há espaço público, há diálogo; onde há diálogo, há direitos. A ação política de Gandhi e o Direito Internacional dos Direitos Humanos são tentativas de construção da política delineada por Hannah que visa a libertação de todos nós. É no campo da ação garantido pela política que se realiza a liberdade.
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