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1 CONGRESSO NACIONAL DE EXECUÇÃO PENAL RIO DE JANEIRO - 03 e 05 de setembro de 2003 A EXECUÇÃO PENAL E O SISTEMA PENITENCIÁRIO - POLÍTICA PENITENCIÁRIA NACIONAL ÂNGELO RONCALLI DE RAMOS BARROS Diretor do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça Inicialmente é importante fazer uma breve abordagem sobre a ação do Departamento Penitenciário Nacional, subordinado ao Ministério da Justiça, cujas atribuições estão definidas no art. 72 da Lei de Execução Penal (nº 7.210/84): § Acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo o território nacional; § Inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços penais; § Assistir tecnicamente as unidades federativas na implementação dos princípios e regras estabelecidas nesta lei; § Colaborar com as unidades federativas, mediante convênios, na implantação de estabelecimentos e serviços penais; § Colaborar com as unidades federativas para a realização de cursos de formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do condenado e do internado. A Lei Complementar nº 79, de 07 de janeiro de 1994, que criou o Fundo Penitenciário Nacional, foi importante no sentido de estabelecer fontes de recursos e meios para financiar e apoiar as atividades e programas de modernização e aprimoramento do Sistema Penitenciário Brasileiro. Ainda, definiu a forma de aplicação desses recursos. Vejamos: 2 Art. 3º Os recursos do Funpen serão aplicados em: I - construção, reforma, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais; II - manutenção dos serviços penitenciários; III - formação, aperfeiçoamento e especialização do serviço penitenciário; IV - aquisição de material permanente, equipamentos e veículos especializados, imprescindíveis ao funcionamento dos estabelecimentos penais; V - implantação de medidas pedagógicas relacionadas ao trabalho profissionalizante do preso e do internado; VI - formação educacional e cultural do preso e do internado; VII - elaboração e execução de projetos vo ltados à reinserção social de presos, internados e egressos; VIII – programas de assistência jurídica aos presos e internados; IX - programa de assistência às vítimas do crime; X - programa de assistência aos dependentes de presos e internados; XI - participação de representantes oficiais em eventos cient íficos sobre matéria penal, penitenciária ou criminológica, realizados no Brasil ou no exterior; XII - publicações e programas de pesquisa científica na área penal, penitenciária e criminológica; XIII - custos de sua própria gestão, excetuando-se despesas de pessoal relativas a servidores públicos já remunerados pelos cofres públicos. Desde a criação do Funpen foram repassados aos Estados, por meio de convênio, R$ 776.487.847,16 (até junho de 2003). A crise no sistema penitenciário brasileiro pode ser medida pelo alto índice de reincidência criminal, pela superlotação, pelas péssimas condições de habitabilidade das prisões, pelo tratamento desumano dispensado às pessoas presas, pela insuficiência de 3 recursos humanos e capacidade gerencial. Tudo isto aponta às autoridades e a sociedade a necessidade urgente de mudanças. A população carcerária brasileira determinada no último censo penitenciário de 1995 girava em torno de 148.000 presos. Passados oito anos esse número atingiu a marca de 301.000 presos. O crescimento da população carcerária, sem a necessária infra-estrutura, faz com que as prisões sejam rotuladas de sucursais do inferno, universidades do crime e depósitos de seres humanos. Portanto, o encarceramento puro e simples não produz nenhum efeito, pois não apresenta condições para a harmônica integração social do condenado, como preconizada na Lei de Execução Penal. Punir, encarcerar e vigiar não bastam. É necessário que se conceda às pessoas de quem o Estado e a sociedade retiraram o direito à liberdade, os meios e formas de sobrevivência que lhes proporcionem as condições de que precisam para reabilitar-se moral e socialmente. Outro fator preocupante é o perfil do preso. A maior parte da massa carcerária brasileira é composta de jovens em idade ativa (no Paraná 58,5% têm menos de 30 anos); e de baixa escolaridade (no mesmo Estado 57,6% não concluiu o ensino fundamental) 1. Esses dados são importantes para se analisar a reincidência criminal, pois muitos não conseguem inserção no mercado de trabalho após o término da pena, por falta de preparo profissional e preconceito. Também merece registro que a questão penitenciária esteve, por muitos anos, ausente da agenda política tanto no nível federal quanto estadual. Era um problema tratado apenas no âmbito da polícia e da justiça e a sociedade se contentava apenas com a prisão do criminoso. 1 Dados do Estado do Paraná disponíveis no site www.pr.gov.br/pr 4 O senso comum é que, na prisão, o preso deve sofrer mais que o castigo definido pela justiça para pagar pelo crime cometido. É o sentimento de vingança sobrepujando o sentimento de justiça. Claro é que a sociedade, a cada agressão sofrida, passa a defender mais punições como forma de proteção e como saída para a redução da criminalidade. Não se percebe que as prisões, ainda insubstituíveis e necessárias para muitos tipos de criminosos, devem, na perspectiva da reintegração social desses indivíduos, criar os meios e ambiente que favoreça o tratamento penal. Nessa perspectiva de reorientação do sistema penitenciário nacional é que se deve pensar a política penitenciária e criminal, associando-a as políticas públicas dirigidas a outros segmentos da sociedade, como saúde, educação, geração de emprego e renda etc. Para tanto, é indispensável debater a questão com as instituições, a sociedade e os políticos, formatando um novo sistema penitenciário nacional calcado no planejamento, na formação e especialização dos recursos humanos, na competência gerencial e tecnológica. No campo do tratamento penal é preciso estabelecer novos paradigmas e conceitos. Vejamos: 1. definir nova arquitetura para as prisões que harmonize a necessidade da custódia e da segurança, com o indispensável tratamento penal voltado para a reintegração social das pessoas presas; 2. instituir novos conceitos de gestão penitenciaria baseado no conhecimento e competência; 3. agregar tecnologias tanto nas estruturas físicas das prisões quanto no trabalho dos funcionários penitenciários, buscando melhorar a eficácia; 4. estabelecer mecanismos mais eficazes de participação e controle da sociedade no apoio à execução penal; 5 5. regionalizar, em cada Estado, o sistema penitenciário de forma que nas micro-regiões seja possível o cumprimento da pena, principalmente, nos regimes fechado e semi-aberto evitando, assim, que o preso de uma determinada região seja transferido para cumprir pena em outra região. Esse procedimento evitará, também, que presos de menor grau de periculosidade conviva com outros de maior periculosidade. Outra questão importante nessa proposição refere-se a migração das famílias para o local de cumprimento de pena do seu ente familiar com impacto no agravamento dos problemas urbanos e sociais – invasão de áreas urbanas, favelas, desemprego etc.
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