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Apostila Completa Historia do Brasil 2

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HISTÓRIA DO BRASIL II12
UNIMES VIRTUAL
Aula: 01
Temática: O contexto do século XVIII
Primeiramente, devemos analisar o contexto europeu do fi-
nal do século XVIII e todo o conjunto de ações que repercu-
tiram diretamente na América Latina e, conseqüentemente, 
no Brasil. Entre as principais transformações ocorridas nesse período po-
demos citar: a Independência dos Estados Unidos — antiga colônia ingle-
sa — em 1776, e a Revolução Francesa em 1789.
No campo econômico, começava a surgir a Revolução Industrial inglesa, a 
qual iria abalar todo o sistema mercantilista. Segundo Boris Fausto, a cria-
ção de novas fontes de energia, o surgimento e aparelhamento industrial 
e um eficiente desenvolvimento agrícola, colaboraram para transformar a 
Inglaterra na maior potência mundial do período. Colaboraram para isso 
a ampliação do seu mercado consumidor, a utilização de tarifas protecio-
nistas para seus produtos e os acordos comerciais feitos, principalmente, 
com as Américas espanhola e portuguesa.
A independência norte-americana e a Revolução Francesa ressoaram por 
toda a Europa e também nas Américas, o que influenciou ideologica e poli-
ticamente vários paises, entre eles o Brasil. Isso mudou as relações entre 
metrópole e colônia e abriu espaço para o surgimento de movimentos de 
independência nas colônias e de adaptação do sistema liberal, porém, não 
de modo homogêneo em todos os novos países.independentes. 
O Brasil colônia no final do século XVIII: início da administração 
pombalina
Devemos analisar como esses fatos repercutiram em Portugal e no Brasil 
colônia. Nesse período, Portugal não caminhava igualmente como seus 
vizinhos europeus. Era um país com certo atraso no desenvolvimento 
econômico, pois vivia em constante conflito com a Espanha e dependia 
da Inglaterra, em vários sentidos, inclusive para a proteção militar. .Essa 
proteção era interessante para a Inglaterra, que via o Brasil como um 
importante mercado para exportação de produtos e aquisição de matérias-
primas ou produtos tropicais. 
A ascensão de Dom José I ao trono português, em 1750, trouxe grandes 
mudanças para o Brasil, principalmente após a nomeação do ministro Se-
bastião José de Carvalho e Melo — mais conhecido como Marquês de 
HISTÓRIA DO BRASIL II 13
UNIMES VIRTUAL
Pombal. No período de 27 anos em que esteve no governo português, 
tentou tornar mais eficiente a administração e política portuguesa, além 
de melhorar o aproveitamento das colônias portuguesas.
 
No Brasil, Pombal criou duas companhias de comércio: 
Grão Pará-Maranhão, em 1755, e a Pernambuco-Paraíba, 
em 1759. O objetivo da Companhia de Comércio do Grão 
Pará era transformar e desenvolver a região Norte, onde se poderia desen-
volver e produzir produtos que eram consumidos e apreciados em vários 
locais da Europa. Entre eles, pode-se destacar o cacau e o algodão, que 
poderiam ser transportados pelos navios da companhia. A companhia de 
Pernambuco-Paraíba tinha a mesma proposta da primeira, só que na re-
gião Nordeste — a idéia era aproveitar a posição geográfica da região 
mais próxima da Europa.
A política implementada por Pombal prejudicou alguns setores e privile-
giou outros. O seu programa econômico sofreu alguns reveses:
O programa econômico de Pombal foi em grande me-
dida frustrado porque, em meados do século XVIII, a 
Colônia entrou em um período de depressão econômi-
ca que se prolongou até o fim da década de 1770. As 
principais causas da depressão foram a crise do açú-
car e, a partir de 1760, a que da produção do ouro. Ao 
mesmo tempo que as rendas da Metrópole caíram, 
cresciam as despesas extraordinárias destinadas a 
reconstruir Lisboa, destruída por um terremoto em 
1755, e a sustentar as guerras contra a Espanha, pelo 
controle da extensa região que ia do sul de São Paulo 
ao Rio da Prata (FAUSTO, 1995, p. 110)
 
Um dos pontos fortes da política pombalina foi diminuir a de-
pendência de Portugal em relação às importações e aos pro-
dutos industrializados, principalmente os ingleses, o que pro-
moveu um incentivo para instalar manufaturas na metrópole e até mesmo na 
colônia brasileira. Pombal promoveu várias mudanças político-administrati-
vas no Brasil - algumas polêmicas que iremos tratar na aula seguinte.
HISTÓRIA DO BRASIL II14
UNIMES VIRTUAL
Aula: 02
Temática: Medidas controversas e o final 
 da administração pombalina
 
Uma das medidas implementadas por Pombal foi a transfe-
rência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro. Outra 
medida foi a organização e o apoio para a formação de cien-
tistas e pesquisadores para estudar os vários recursos naturais das terras 
brasileiras, com o principal objetivo de levantar produtos interessantes e 
comercializáveis. O estímulo inicial foi dado para as ciências naturais. Um 
grande número de estudiosos formados, principalmente, na Universidade 
de Coimbra ou de Lisboa, tinham como tarefa estudar várias regiões brasi-
leiras e analisar a possibilidade de produção e extração de matéria-prima 
para a metrópole, indo do potencial agrícola ao mineral. A importância 
dos roteiros produzidos, no final do século XVIII, e das informações neles 
contidas está analisada no texto abaixo: 
Esses relatórios de viagem devem ser estudados 
como mais de um aspecto da tomada de contato dos 
brasileiros com a realidade de sua terra, embora não 
se destinassem a serem divulgados, mas apenas a 
servir de instrução ao governo, dada a política de sigi-
lo e a intenção de Portugal de manter o Brasil fechado 
para o mundo [...]. (DIAS, 2005, p. 71)
 
Uma das mais polêmicas medidas da administração pom-
balina foi a expulsão dos jesuítas de Portugal e suas terras, 
incluindo o Brasil. A expulsão foi feita pela lei de 3 de setem-
bro de 1759, que rompeu com uma relação de mais de duzentos anos entre 
os religiosos e a coroa portuguesa. Podemos considerar a ação política 
portuguesa a partir do seguinte ponto de vista: o objetivo da medida era 
centralizar a administração e impedir ações livres, como a da Companhia 
de Jesus, cuja atuação nem sempre condizia com os interesses da coroa. 
É preciso lembrar que a expulsão dos jesuítas não foi um ato isolado da 
coroa portuguesa. Na mesma época, a Companhia de Jesus foi banida de 
vários países da Europa. 
Isso nos leva a outra questão importante que pode ter contribuído para a 
medida: a expulsão dos jesuítas foi acompanhada pelo confisco dos bens de 
uma das mais ricas ordens da Igreja. Portugal confiscou as extensas proprie-
dades que eram pontos estratégicos de fronteira, e as propriedades urbanas 
foram leiloadas para grandes detentores de terras e ricos comerciantes.
HISTÓRIA DO BRASIL II 15
UNIMES VIRTUAL
Finalmente, devemos citar a extinção da escravidão indígena pelas leis de 
1755 e 1758. A intenção de Portugal com isso era integrar os indígenas 
à civilização portuguesa, para um maior controle de áreas afastas, e im-
pedir rebeliões dos cativos. Foi autorizado também o casamento entre os 
brancos e índios, algo que não visto com bons olhos pelos jesuítas. Desse 
modo, várias aldeias seriam transformadas em vilas e seriam administra-
das pelo poder regional ligado a Portugal. 
 
O afastamento dos jesuítas acarretou um grande problema 
relacionado ao ensino na colônia, pois, diferentemente da 
coroa espanhola, a portuguesa não via com bons olhos o 
surgimento de uma elite letrada no Brasil. Desde meados do século XVI, 
a América Espanhola já possuía algumas universidades no Peru e no Mé-
xico, enquanto, no Brasil, os grandes proprietários e comerciantes tinham 
de enviar seus filhos para estudar em Portugal ou em outros países da 
Europa, uma vez que em território brasileiro as primeiras faculdades surgi-
ram somente no século XIX. Os poucos locais de ensino podiam ser encon-
trados em seminários, como no caso de Olinda e nos chamadosclubes 
intelectuais no Rio de Janeiro e Bahia. (FAUSTO, 2003, p. 112)
 
As medidas impostas pelo marquês de Pombal aos jesuítas 
estavam, de certo modo, ligadas a um movimento de con-
trole sobre as instituições sociais que apresentavam uma 
certa dependência ou autonomia e algum poder. Tais medidas contaram 
com o apoio da Igreja e do Papa Clemente XIV, que extinguiu a Companhia 
de Jesus em 1773. A companhia de Jesus voltou à cena religiosa apenas 
em 7 de agosto de 1814.
O marquês de Pombal foi destituído quando Dona Maria I assumiu o trono 
em 1777. Ele foi acusado por roubo e fraude, julgado culpado e desterrado 
em 1781.
HISTÓRIA DO BRASIL II16
UNIMES VIRTUAL
Aula: 03
Temática: Reinado de Dona Maria e os movimentos 
 de rebeldia na colônia
 
Com o reinado de Dona Maria I, iniciou-se um período de mu-
danças no âmbito político e administrativo em Portugal e suas 
colônias: foram extintas as companhias de comércio, proibi-
das fábricas ou manufaturas de tecidos na colônia — à exceção da tecela-
gem rústica dos panos usados para o vestuário dos escravos africanos. 
Durante o reinado de Dona Maria I, tentou-se continuar ou aprofundar as 
reformas político-administrativas com o objetivo de lançar Portugal nos 
novos rumos da economia ocidental e proteger o colonialismo mercantil. 
Alguns setores da economia se salvaram, o que gerou um certo impulso 
nos anos posteriores, beneficiados principalmente por fatores ocorridos no 
panorama mundial e pelo pioneirismo português:
O reinado de Dona Maria I e do Príncipe Regente Dom 
João, ao contrário do anterior, beneficiou-se de uma 
conjuntura favorável à reativação das atividades agrí-
colas da Colônia: a produção de açúcar valorizou-se 
e se expandiu, favorecida pela insurreição dos escra-
vos em São Domingos. Além disso, uma nova cultura 
ganhou força. O algodão, desenvolvido pela compa-
nhia de comércio pombalina e incentivado pela guer-
ra de independência dos Estados Unidos, transformou 
o Maranhão, por algum tempo, na mais próspera da 
América portuguesa (FAUSTO, op. cit, p. 113 )
Primeiros movimentos de independência e rebeldia
Os acontecimentos ocorridos no mundo ocidental geraram e influenciaram 
vários movimentos de rebeldia em algumas regiões do Brasil, nas últimas 
décadas do período colonial. Não devemos confundi-los com revoltas que 
pretendiam a emancipação de Portugal ou com movimentos homogêneos 
e com uma linha ideológica definida. Em geral, foram contestações e rebe-
liões de âmbito regional e de caráter distinto, principalmente, porque ainda 
não havia no Brasil a idéia de nação integrada e interligada. Entre essas re-
voltas estão a Inconfidência Mineira, 1789; Conjuração de Alfaiates, 1798; 
a Revolução de Pernambuco, 1817 — já com a família real no Brasil.
Os movimentos separatistas foram surgindo, principalmente, a partir do 
descontentamento dos setores da sociedade colonial, cujos interesses 
passaram a ser prejudicados pelos interesses da metrópole. As camadas 
HISTÓRIA DO BRASIL II 17
UNIMES VIRTUAL
que mais contestaram a relação com a metrópole foram os grandes pro-
prietários de terras e de escravos, comerciantes, artesãos, militares de 
baixa patente, além de órgãos político-administrativos.
 
A influência ideológica vinha principalmente da França e 
do liberalismo, além da Revolução Americana. Porém, de-
vemos tomar cuidado ao analisar as idéias impetradas por 
essas revoltas, pois elas eram apropriadas pelas elites locais e utilizadas 
segundo seus interesses. Esse arcabouço intelectual era usado muitas ve-
zes como justificativa que camuflava os interesses da elite regional.
Devemos nos lembrar:
Esses movimentos não podem ser usados como exemplos do surgimento 
da consciência nacional. São revoltas com objetivos distintos e de regiões 
diferentes, desencadeados por mineiros, pernambucanos, baianos, aristo-
cratas e a população humilde, com identidades e sentimentos de pertenci-
mento regional, não existia a idéia de ser brasileiro no contexto de nação. 
Seriam etapas pelas quais a sociedade brasileira passou até a atingir a 
consciência de nação e sua identificação com ela.
 
Nas próximas aulas iremos estudar e analisar as duas mais 
importantes revoltas acontecidas no final do século XVIII, 
que repercutiram em movimentos posteriores, durante o sé-
culo XIX e, até mesmo, no início da República. 
HISTÓRIA DO BRASIL II18
UNIMES VIRTUAL
Aula: 04
Temática: Inconfidência Mineira
A Inconfidência Mineira, como foi dito anteriormente, foi uma 
revolta de caráter regional, isto é, movida pelos interesses da 
elite local em relação à administração portuguesa da região. 
A revolta envolveu personalidades da elite local e contou com o apoio da 
uma tropa regular que estava aquartelada na região. Entre os integrantes es-
tavam alguns dos homens mais ricos e de grande reputação da capitania. 
Os problemas haviam começado durante o governo de Pombal, quando a 
sociedade mineira entrou em crise, principalmente, pela queda da produ-
ção do ouro na região e pela política de arrocho fiscal da metrópole, que 
insistiu na cobrança do quinto, apesar da queda na produção do ouro, 
forçando cada habitante a contribuir como uma cota adicional. 
O alferes Joaquim José da Silva Xavier era uma exceção entre os inte-
grantes abastados. Entrara na carreira militar, em 1775, com o posto in-
ferior e inicial do regimento. Exercia o ofício de dentista, surgindo, assim, 
o apelido de Tiradentes. Dentro da conspiração, Tiradentes teve um papel 
fundamental. Por meio do seu secundário ofício comunicava-se com a 
elite mineira sem levantar suspeitas. Tinha também como função instigar 
a população a apoiar o levante.
Todos os principais integrantes tinham motivos pessoais para o levante. 
Sentiam-se acuados e ameaçados de perder seus patrimônios por força 
das ordens de Martinho de Melo e Castro, ministro da rainha Dona Maria 
I e pela mudança de governador na província em 1782. Luís da Cunha 
Menezes, o novo governador, exigia a cobrança do pagamento das dívidas 
atrasadas e contraídas pela elite mineira. Tiradentes, por sua vez, sentiu-se 
prejudicado ao perder no período o comando de um importante destaca-
mento de Dragões que patrulhava uma estrada na Serra da Mantiqueira.
Com a nomeação de um novo governador, o Visconde de Barbacena, a 
situação ficou ainda mais complicada, pois recebeu ordens de garantir o 
recebimento do imposto anual de cem arrobas de ouro – cobrança que 
ficou conhecida como Derrama. 
Derrama: era um imposto que teria de ser pago, indivi-
dualmente, pelos habitantes da capitania, caso não fosse 
alcançada a quota de ouro anual estipulada pelo governo 
HISTÓRIA DO BRASIL II 19
UNIMES VIRTUAL
como tributo. Lembremos que neste período Minas Gerais passava por um 
declínio da extração do metal.
As dívidas adquiridas pela elite originaram-se da seguinte maneira: du-
rante o período colonial, era comum repassar a função de arrecadação 
de impostos para particulares que tinham relação com o poder público. 
Ao arrecadar o valor estipulado pela coroa, eles ficavam com a diferença, 
porém, muitas vezes, nem chegavam a completar o montante exigido, ori-
ginando as dívidas com a coroa.
Os conspiradores planejaram esperar o dia da derrama para agir — em 
fevereiro de 1789. Com a ajuda do regimento dos Dragões, o governador 
seria assassinado e proclamada a república. O papel de Tiradentes seria 
promover a agitação pública junto com outros companheiros. A declara-
ção de independência seria lida juntamente com o anúncio da morte do 
governador. A capital da nova República deveria ser São João del Rei.
O plano não chegou a ser posto em prática. Em março de 1789, o gover-
nador decretou suspensa a derrama e os revoltosos foram denunciados 
por Joaquim Silvério dos Reis, que tinha motivos particularespara essa 
ação: era um devedor da coroa. Logo após, foram decretadas as prisões 
dos conspiradores. O processo ocorreu na então capital da colônia, Rio de 
Janeiro, e terminou em abril de 1792.
 
A coroa portuguesa, na tentativa de demonstrar seu poder 
fazendo com essa punição servisse de exemplo, decretou a 
forca para todos os réus. Porém, mais tarde, Dona Maria I 
voltou atrás e enviou uma carta de clemência, através da qual transformou 
a pena em banimento, exceto no caso de Tiradentes. No dia 21 de abril 
de 1792, o réu Joaquim José da Silva Xavier foi enforcado numa grande 
demonstração de força da coroa. Seu corpo foi esquartejado e sua cabeça 
exposta em Ouro Preto.
 
A Inconfidência Mineira foi acontecimento regional que, 
aparentemente limitado e com pouca possibilidade de êxi-
to, adquiriu um grande impacto na história do país. Pode-
mos pensar também que o movimento foi usado pela elite mineira como 
subterfúgio para que fosse possível alcançar seus interesses de um modo 
disfarçado de um movimento republicano e popular.
Todo o espetáculo e demonstração de força impetrada pela coroa com o 
objetivo de minar quaisquer outras possibilidades de levante não se con-
cretizaram. Na verdade o resultado foi o contrário, pois a memória do le-
HISTÓRIA DO BRASIL II20
UNIMES VIRTUAL
vante permaneceu viva e os conspiradores foram vistos com simpatia e 
como heróis.
A força simbólica da Inconfidência foi usada principalmente pelos republi-
canos como campanha contra a monarquia. A figura de Tiradentes seria 
alçada a mártir da república e mitificada — a imagem parecida com a de 
Jesus Cristo. 
 
Os principais integrantes do levante e seus interesses:
• José de Alvarenga Peixoto: endividado com a coroa.
• José da Silva de Oliveira Rolim: padre; tinha contra si uma ordem de 
banimento de Lisboa; traficante de escravos e diamantes. Tentou obter 
junto ao visconde de Barbacena uma ordem banimento contra ele, o que 
não conseguiu, e essa mágoa o teria levado a aderir à conspiração. 
• Carlos Correia de Toledo e Melo: vigário, rico proprietário de terras, 
com trabalhos na mineração e senhor de muitos escravos; teve muitos 
problemas com o governador Melo e Castro.
• Francisco de Paula Freire de Andrade: comandante do regimento de 
Dragões; era perseguido e acusado por Melo e Castro.
• Joaquim Silvério dos Reis: denunciou a conspiração em troca do per-
dão das suas dívidas.
• José Álvares Maciel: filho do capitão-mor de Vila Rica, tinha várias 
dividas em atraso.
• Domingos de Abreu Vieira: negociante português, detinha dívidas junto 
à coroa.
HISTÓRIA DO BRASIL II 21
UNIMES VIRTUAL
Aula 05
Temática: A Conjuração dos Alfaiates
A Conjuração dos Alfaiates foi um movimento baiano, acon-
tecido em 1798, quase dez anos depois da Inconfidência Mi-
neira. Entre seus integrantes havia pessoas de origem hu-
milde: negros libertos, mulatos, artesãos, soldados, profissionais liberais 
etc. O movimento recebeu esse nome, porque dois de seus líderes eram 
alfaiates: João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos 
Lira. Outros dois líderes eram soldados: Lucas Dantas e Luís Gonzaga das 
Virgens. A revolta dos alfaiates também tem sido chamada de Conjuração 
ou Inconfidência Baiana. Outra liderança importante foi o médico Cipriano 
Barata que, diferentemente dos outros participantes, não tinha origem hu-
milde. Voltaremos a falar sobre ele, uma vez que Barata tomou parte de 
outros movimentos sociais no Nordeste. 
 
A revolta teve motivações semelhantes aos outros movi-
mentos e rebeliões ocorridos no Brasil, no século XVIII: des-
contentamento com o poder central metropolitano e pelas 
condições de vida da população da capital baiana. A cidade de Salvador 
sofria com a falta e com o alto preço dos alimentos. A população saqueava 
açougues por falta de comida, como foi o caso do saque da carne destina-
da ao general-comandante de Salvador.
As propostas dos conspiradores eram o rompimento com a metrópole, a 
instalação da República na Bahia, o fim da escravidão e o aumento dos 
soldos dos militares de baixa patente, entre outras reivindicações. Um 
aspecto distinguia este levante em relação aos demais movimentos da 
época: a conjuração baiana foi a primeira revolta popular e com caráter 
republicano da história do Brasil.
A revolta não chegou a ser concretizada. porque no dia 12 de agosto de 
1798, os membros do movimento saíram às ruas distribuindo panfletos, 
pregando um levante geral e a instalação de um governo independente e 
republicano. A manifestação alertou as autoridades, que reagiram imedia-
tamente e realizaram perseguições e prisões. 
Os quatro líderes de origem humilde foram julgados e condenados ao en-
forcamento e esquartejamento. Outros receberam penas de prisão e bani-
mento na costa da África. Cipriano Barata foi absolvido e solto.
HISTÓRIA DO BRASIL II22
UNIMES VIRTUAL
O suporte ideológico do movimento vinha de uma associação literária, 
formada em Salvador, que discutia as idéias iluministas e os problemas 
sociais que afetavam a população baiana. A associação teria sido criada 
pela loja maçônica Cavaleiros da Luz, da qual participavam diversas perso-
nalidades da região, entre eles Cipriano Barata e outros intelectuais.
Um dos temores das autoridades portuguesas era que acontecesse na 
Colônia sul-americana o que ocorreu em São Domingos no Caribe, onde 
uma revolta de escravos, iniciada em 1791, deu origem à independência 
do país sob um governo comandado pelos próprios negros. São Domingos, 
que era uma colônia francesa, transformou-se no Haiti. A Bahia tinha con-
dições semelhantes ao Haiti: um grande contingente de negros e mulatos, 
aproximadamente 80% da população da capitania. 
Igualmente, a Inconfidência Mineira, a Conjuração dos Alfaiates nem che-
gou perto do seu objetivo, mas permaneceu na lembrançca por seu valor 
simbólico e contestatório. Um movimento que tinha à frente a população 
humilde e de escravos, que lutaram por melhores condições de vida.
 
Como vimos, os movimentos sociais do século XVIII tinham 
interesses distintos e regionais, somente se assemelham 
pelo descontentamento com o poder central, não existia uma 
idéia homogênea de nação a ser construída. O rompimento com a metrópo-
le, como veremos, não ocorreu por meio de uma revolução, mas por meio de 
um processo, sobretudo político, iniciado com a chegada da família real ao 
Brasil e com a abertura dos portos às nações amigas. Esses eventos deram 
início a uma certa modernização na capital da colônia , o que, juntamente 
com outros fatores, acelerou o processo de independência. 
HISTÓRIA DO BRASIL II 23
UNIMES VIRTUAL
Aula: 06
Temática: A chegada da Família Real ao Brasil
Com parte da Europa dominada pela França, a Inglaterra 
era a única potência européia capaz de barrar a expansão 
francesa. Sabendo disso, Napoleão Bonaparte, imperador 
da França, impôs um bloqueio que visava barrar o comércio dos países 
europeus com a Inglaterra. Portugal foi intimado a aderir ao bloqueio sob 
pena de invasão. Diante da recusa portuguesa, em novembro de 1807, 
a França invadiu o território luso, seguindo em direção à capital, Lisboa. 
Nesse período, Portugal era governado por D. João — que assumira o co-
mando desde que Dona Maria I, a rainha mãe, fora afastada do trono por 
demência, em 1792. O então príncipe regente, acordado com a Inglaterra, 
decidiu pela transferência de da corte para o Brasil.
 
Durante muito tempo a história tratou a fuga da família real 
portuguesa para o Brasil como uma demonstração de co-
vardia, temperada com uma certa dose de atrapalhação, 
dando à cena um certo tom de comédia. Porém, atualmente, a historiogra-
fia tende a considerar o caso como exemplo de esperteza política do então 
príncipe regente. Primeiramente, o Brasil já vinha se destacando entre os 
domíniosportugueses; em segundo lugar, D.João escapou de ser deposto 
por Napoleão, como havia acontecido com o rei espanhol. Em meio ao 
clima revolucionário que se estendeu pela Europa após a Revolução Fran-
cesa, o regente português foi um dos poucos a manter a coroa. 
D.João trouxe para o Brasil todo o aparato administrativo da coroa, o te-
souro real, uma impressora e uma grande biblioteca (que daria origem à 
Biblioteca Nacional). 
 
Durante os dias de 25 e 27 de novembro de 1807, cente-
nas de portugueses embarcaram em direção ao Brasil. Entre 
eles havia várias personalidades, funcionários reais, minis-
tros, juízes, membros do exército, da marinha e da nobreza lusitana. Os 
navios portugueses contaram com a proteção de vários navios ingleses 
até a chegada ao Brasil. Alguns administradores e colonos de outras lo-
cais do império português — como Angola ou Moçambique — também 
migraram para o Rio de Janeiro. 
HISTÓRIA DO BRASIL II24
UNIMES VIRTUAL
A viagem da corte portuguesa, segundo consta, não teria sido nada fácil 
e confortável:
Houve muita confusão no embarque, e a viagem não 
foi fácil. Uma tempestade dividiu a frota; os navios es-
tavam superlotados, daí resultando falta de comida e 
água; a troca de roupa foi improvisada com cobertas 
e lençóis fornecidos pela marinha inglesa; para com-
plementar, o ataque dos piolhos obrigou as mulheres 
a raspar o cabelo. Mas esses aspectos novelescos 
não podem ocultar o fato de que, a partir da vinda 
da família real para o Brasil, ocorreu uma reviravolta 
nas relações entre a Metrópole e a Colônia (FAUSTO, 
1995, p. 121)
Abertura dos portos às nações amigas
Com a chegada da corte portuguesa, um dos primeiros atos de D. João foi 
a abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Isso ocorreu em 28 
de janeiro de 1808, o que beneficiou quase exclusivamente os interesses 
ingleses, facilitando assim a entrada de seus produtos em um novo merca-
do consumidor. Outras concessões foram feitas à Inglaterra: em 1810, foi 
assinado um novo tratado que estipulava o imposto alfandegário de 15% 
aos produtos e 16% aos portugueses, gerando dessa maneira inúmeros 
protestos, já que os produtos portugueses não poderiam concorrer com os 
ingleses que eram de melhor qualidade; a Inglaterra recebeu autorização 
para extrair madeiras brasileiras para construção de navios; e os ingleses 
que moravam no Brasil receberam a garantia de serem julgados somente 
pelas leis e pelas autoridades inglesas. 
As vantagens concedidas à Inglaterra aumentaram ainda mais o descon-
tentamento dos comerciantes locais. O Brasil foi abarrotado de produtos 
ingleses, já que esses eram impedidos de entrar na Europa pela França de 
Napoleão.
 
A abertura dos portos teve conseqüências importantes 
para a história do Brasil, pois, a partir de então, iniciou-se a 
emancipação política brasileira, pois, com a capital do impé-
rio português tomada pelos franceses, o Brasil passou a tratar diretamente 
com as outras nações. Esse período marcou também o começo da forte 
influência inglesa no Brasil e, mais do que isso, os negócios sendo feitos 
diretamente com outras nações pôs um fim no chamado pacto colonial por 
meio do qual a metrópole portuguesa detinha o monopólio de todas as ne-
gociações feitas com o Brasil. Essa nova situação atendeu aos interesses 
de certos grupos de latifundiários e de comerciantes. 
HISTÓRIA DO BRASIL II 25
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Para a Colônia, como já foi dito, a vinda da família real significou moder-
nização. O príncipe regente revogou o Alvará de 1785 de D. Maria I, que 
proibia a produção manufatureira no Brasil. Tal medida ampliou a liberdade 
econômica da então colônia. Ofereceram-se incentivos e estímulos para 
importação de materiais para a indústria da lã, da seda e do ferro, além de 
motivar a entrada de máquinas mais modernas no Brasil.
 
A influência inglesa cresceu a ponto de obrigar Portugal a 
firmar um tratado chamado Tratado de Navegação e Co-
mércio, de 1810, pelo qual a coroa portuguesa se compro-
metia a limitar o tráfico de escravos de suas colônias e até extingui-lo 
completamente. 
HISTÓRIA DO BRASIL II26
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Aula: 07
Temática: A colônia vestida de metrópole
A corte portuguesa chegou ao Brasil em 11 de março de 
1808, o que desencadeaou um surto migratório em direção 
às terras brasileiras:
A parcimônia de dados disponíveis não permite que 
se meça precisamente o fluxo migratório em direção 
à nova corte sul-americana. Mas é possível captar as 
mudanças comparando os dados dos censos efetu-
ados na cidade em 1799 e 1821. Entre uma e outra 
data, a população urbana, excluídas portanto as fre-
guesias rurais do município, subiu de 43 mil para 79 
mil habitantes. Em particular, contingente de habitan-
tes livres mais que dobrou, passando de 20 mil para 
46 mil indivíduos. (ALENCASTRO, 1997, p. 13)
Após estabelecer-se no Rio de Janeiro, iniciou-se a reorganização admi-
nistrativa e o estabelecimento da burocracia do Estado, como a nomeação 
dos ministros. Foram sendo recriados paulatinamente todos os órgãos 
do Estado português: os ministérios do Reino, da Marinha e Ultramar, da 
Guerra, Assuntos Estrangeiros e o Real Erário, que, em 1821, mu¬dou o 
nome para Ministério da Fazenda.
Todo o aparato administrativo da coroa portuguesa ressurgiu no Brasil. O com-
plexo político-administrativo apareceu na colônia, principalmente, para empre-
gar a corte portuguesa que veio junto com a família real e para respaldar o 
príncipe regente na administração do império português, longe de Lisboa. 
A transferência do aparato administrativo português trouxe algumas im-
portantes conseqüências para o Brasil, principalmente a de deixar de ser 
administrado exteriormente pela metrópole. Com a transferência da corte, 
o Brasil se tornou o centro de decisões no mundo colonial português.
Com a presença da corte no Rio de Janeiro, os latifundiários passaram a ter 
mais chances de participar e, se possível, influenciar as decisões do governo. 
Entre as instituições criadas durante o período de permanência da corte no 
Rio de Janeiro, podemos citar:
O Banco do Brasil: foi fundado em 12 de outubro de 1808 para servir 
como instrumento financeiro do Tesouro Real. No entanto, sua criação se-
HISTÓRIA DO BRASIL II 27
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ria para atuar como instituição creditaria de setores do comércio, indústria 
e agricultura. Por meio dele o governo pôde emitir papel-moeda, suprindo 
assim suas necessidades, custeando as despesas da casa real, judiciário, 
exército, pensões e soldos.
Biblioteca Nacional: quando deixou Lisboa com destino ao Brasil, a família 
real trouxe consigo todo o acervo da Livraria Real, com cerca de 60.000 
peças, entre livros, manuscritos, estampas, mapas, moedas e medalhas. A 
partir de 29 de outubro de 1810, a Biblioteca Nacional foi estabelecida no Rio 
de Janeiro. Inicialmente, a consulta era permitida apenas aos estudiosos, 
mediante consentimento régio. Foi liberada ao público geral em 1814.
Jardim Botânico: foi formado com o objetivo de aclimatar as especiarias 
vindas das Índias Orientais em 13 de junho de 1808. Primeiramente, foi cha-
mado de Jardim de Aclimação. Encantado com a exuberância da natureza 
do lugar, D.João instalou o Jardim, que, em 11 de outubro do mesmo ano, 
passou a se chamar Real Horto. Foi aberto à visitação pública após 1822.
No âmbito militar, o governo português realizou expedições à Guiana 
Francesa, numa clara provocação à França, logicamente influenciado pela 
Inglaterra. Fez algumas intervenções na área do Prata, na região fronteiri-
ça, a partir de 1811, época em que foi anexada a Banda Oriental e criada a 
Província da Cisplatina, em 1821. 
Antes de prosseguir, vale a pena ler as considerações do 
historiador Luiz Felipe de Alencastro sobre a questão do na-
cionalismo no Brasil, sentimento importanteem movimen-
tos de independência e de formação do Estado Nacional. 
Desde a formação colonial até o século XIX, o Brasil era dividido em uni-
dades distintas que não possuíam uma ligação entre si. Cada região obe-
decia diretamente à metrópole. Com a transferência da corte para o Rio 
de Janeiro, criou-se uma noção de unidade territorial. Essa transmissão 
político-administrativa de poderes teve como conseqüência o surgimento 
do conceito de unidade de que se necessitava.
Utilizei o termo brasileiro de forma destacada para 
lembrar, como já foi dito, que não existia ainda a idéia 
de pertencimento e de unidade nacional, mas sim, o 
de identificação regional. Porém a partir desse mo-
mento, aquela diversidade regional que existia desde 
o século XVII, vai ser abalada pela constante presença 
estrangeira no Rio de Janeiro após 1808: “[...] o Rio 
de Janeiro como uma grande eclusa, recanalizando 
os fluxos externos e acomodando os regionalismos 
num quadro mais amplo, pela primeira vez verdadei-
ramente nacional [...]”. (ALENCASTRO, 1997 p. 24)
HISTÓRIA DO BRASIL II28
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Aula: 08
Temática: A vida cultural na corte brasileira
A vida cultural da capital da colônia, Rio de Janeiro, mudou 
muito depois da chegada da Família Real. Houve mudanças 
até mesmo em relação aos padrões estéticos. Duas das prin-
cipais novidades foram o aparecimento da imprensa e o acesso aos livros. 
Tais inovações colaboraram com a proliferação de idéias e ideologias. 
Acostumados a certos requintes em Lisboa, a Família Real e a corte trou-
xeram um vasto aparato cultural para a cidade: foram criados teatros, bi-
bliotecas, academias literárias e científicas. A população do Rio de Janei-
ro, durante o período da permanência de D. João, praticamente dobrou. 
Entre os habitantes estavam estrangeiros de várias nacionalidades, mas, 
sobretudo, portugueses, além de grandes proprietários que vieram se es-
tabelecer na cidade.
Entre as escolas científicas podemos citar: Escola de Comércio, Escola 
Real de Ciência, Artes e Ofícios, Academia Militar e da Marinha. No cam-
po das artes foi organizada uma Academia Imperial de Belas Artes com a 
chegada da Missão Artística Francesa de 1816.
 
A Missão Artística Francesa de 1816
A Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro foi criada por um de-
creto, em 1816, por iniciativa de Antônio de Araújo Azevedo, o Conde de 
Barca, que teve a idéia de fundar uma academia ou escola de ciências e artes 
de acordo com o modelo francês. De acordo com esse modelo o objetivo era 
aprimorar e ampliar o gosto pelas artes e introduzir o ensinamento de alguns 
ofícios, tidos como fundamentais para o desenvolvimento material do país.
Os principais nomes da missão eram: Nicolas-Antoine Antônio Taunay, 
pintor de paisagens e batalha; Jean Baptiste Debret, pintura histórica; Au-
guste Marie Taunay, escultor; Auguste Henri Victor Grandjean Montigny, 
arquiteto; Simon Pradier; arquiteto; Francisco Ovide, músico compositor.
Os artistas vieram precipitados pelos recentes acontecimentos políticos 
na Europa. Com a queda de Napoleão I, o exílio de David, pintor neoclás-
sico francês, e a restauração bourbônica, em 1815, muitos artistas sofre-
ram com as perseguições, por serem estes bonapartistas. Desgostosos na 
HISTÓRIA DO BRASIL II 29
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França, procuraram novos horizontes profissionais. Havia a idéia de formar 
no Brasil uma colônia de artistas a fim de estimular o desenvolvimento 
industrial e cultural do país.
Embora tenha sido criada por meio do decreto de 1816, a Academia 
Imperial de Belas Artes só passaria a funcionar com uma certa regula-
ridade a partir 1826. Durante esses dez anos, as atividades se resumiram 
a algumas aulas de Debret. Durante a construção do palácio da Acade-
mia, os artistas dedicaram-se, principalmente, a obras particulares e a 
trabalhos dedicados à pintura histórica para coroa portuguesa. A pintura 
histórica e o neoclacissismo desenvolvidos na Academia influenciaram a 
formação de inúmeros artistas nacionais. 
Os artistas estrangeiros foram responsáveis pela inserção do ensino ar-
tístico no Brasil e influenciaram vários artistas brasileiros, durante todo o 
século XIX e início do XX. Foram responsáveis por projetos arquitetônicos 
e por ensino profissional. Os pintores retrataram as paisagens e cenas do 
cotidiano do Brasil, principalmente Debret, que foi o pintor mais impor-
tante da primeira geração da Academia Imperial. Um de seus primeiros 
trabalhos no Brasil foi a organização dos festejos de aclamação de Dom 
João VI. No período em que esteve no Brasil se interessou por cenas do 
cotidiano, pela vida social e política brasileira, e, sobretudo, a vida cotidia-
na dos escravos. 
 
A imprensa
A imprensa, que fora proibida durante séculos no Brasil, foi difundida com 
a chegada da corte, com funcionamento das primeiras tipografias. Houve 
a fundação da Imprensa Régia, responsável pelas primeiras publicações 
no Brasil. Um dos primeiros periódicos publicados foi A Gazeta do Rio de 
janeiro que, fundada em 10 de setembro de 1808, contava com a proteção 
das autoridades e se limitava a publicar assuntos referentes à corte. 
O Correio Braziliense, editado em 1808, diferenciava-se dos outros perió-
dicos por ser liberal e fazer oposição ao governo. Dirigido por Hipólito José 
da Costa, o jornal não era impresso no Brasil, mas em Londres.
O “Correio Braziliense” entrava clandestinamente, nos 
porões dos navios que transportavam mercadorias e 
escravos. Todo o cerco da Coroa Portuguesa ao in-
cipiente jornalismo brasileiro temia a propagação de 
ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que fer-
vilhavam na Europa, especialmente na França, com 
os quais Hipólito mantinha uma certa identidade.
HISTÓRIA DO BRASIL II30
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Os dois jornais tinham posições ideológicas antagô-
nicas. Fugindo da Inquisição, Hipólito pregava a liber-
tação do Brasil dos domínios de Portugal; enquanto 
a Gazeta, dirigida por Frei Tibúrcio José da Costa, 
funcionava como um diário oficial da Corte. Quando 
nasce, 308 anos após o “descobrimento”, a Imprensa 
tupiniquim já vem cerceada, fato que vai marcá-la em 
vários períodos históricos, culminando com a Lei da 
Mordaça, quase 200 anos depois. (ARAÚJO, 2004)
HISTÓRIA DO BRASIL II 31
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Aula: 09
Temática: O Brasil no caminho dos viajantes
A vinda da corte portuguesa e a abertura dos portos bra-
sileiros às nações amigas em 1808 possibilitaram a entra-
da, na colônia, de diversos viajantes estrangeiros. Muitos 
deles participaram e foram responsáveis por expedições científicas com 
o objetivo de explorar e conhecer o país e suas especificidades, a partir 
de uma visão intelectual reflexiva que se anunciava desde o século XVI, 
com prolongamento no século XIX, engendrando uma cultura simultane-
amente artística e científica. Desse modo, construíram visões de mundo, 
auto-imagens, estereótipos étnicos, sociais e geográficos, de ambientes 
alheios aos seus.
 
O Brasil e a América Latina foram o destino de várias expe-
dições de cunho científico, o que suscitou uma espécie de 
redescoberta do Brasil pelos viajantes. A aspiração cientí-
fica levou viajantes europeus a diversas partes do mundo em busca do 
conhecimento natural. Tal postura fazia parte de certas tendências totali-
zadoras que surgiram durante o século XVIII, embasadas em um discurso 
de “anticonquista” por meio do qual o naturalista europeu legitimava sua 
presença em várias regiões do mundo, isto é, pela importância do conhe-
cimento e da pesquisa científica. Essa narrativa naturalista teve enorme 
força ideológica durante todo o século XIX e permaneceu até nossos dias. 
Entretanto, deve-se considerar que a visão de conhecimento era intrinse-
camente eurocêntrica.
Alguns viajantes partiram de uma antropologia crítica, adaptando o siste-ma classificatório das ciências naturais à análise etnográfica. Esses olha-
res e estereótipos eram pautados na desqualificação e homogeneização de 
populações nativas, principalmente de sua história e cultura. As narrativas 
de viagem e as produções pictóricas podem ser um bom exemplo disso.
 
A maior influência do pensamento científico e naturalista eu-
ropeu foi o alemão Alexandre von Humboldt. Estudioso das 
ciências naturais, ele partiu do porto espanhol de La Coruña, 
em 1799, com proteção do governo espanhol, em direção ao continente 
americano. Seus escritos inspiraram novas visões da América, além de 
revelar a amplitude da rica natureza dos trópicos. Sua influência inspirou 
HISTÓRIA DO BRASIL II32
UNIMES VIRTUAL
estudiosos e viajantes nos dois lados do Atlântico. Humboldt foi proibido de 
entrar em território brasileiro devido à política de proteção da coroa portu-
guesa, preocupada em preservar seus territórios e suas riquezas naturais.
Considerado uma pessoa de extraordinário vigor e habilidade na ilustra-
ção, Humboldt estruturou suas jornadas e temas de estudo e despendeu a 
energia de uma vida inteira para sua realização. Devotou sua vida e fortuna 
em suas viagens e escritos, os quais assumiram proporções épicas.
 
Os métodos de análise desses cientistas naturalistas servi-
ram como fulcro ideológico para vários viajantes europeus 
que desembarcaram no Brasil, com o objetivo principal de 
fazer experimentos e pesquisas sobre os recursos naturais do país, pois 
esta seria uma das poucas regiões da América desconhecida por euro-
peus. Os primeiros pesquisadores europeus a entrar em território nacional 
foram Thomas Lindley, em 1802, e John Mawe, em 1807.
Alguns desses viajantes criaram referências de acordo com seu repertório 
cultural. Dessa maneira, construíram olhares muitas vezes preconceituo-
sos e depreciativos em relação à sociedade e aos costumes brasileiros. 
Os viajantes procuraram revelar aos europeus os aspectos da nossa pai-
sagem, da nossa fauna, flora e dos habitantes do novo mundo.
Muitos desses viajantes consideravam as populações nativas atrasadas; 
interpretavam a resistência ao trabalho disciplinado como preguiça e seu 
modo de vida como barbárie. Desse modo, no pensamento de alguns eu-
ropeus, sua presença na América se justificava, exatamente, pela neces-
sidade de disciplinar e conduzir essas populações à civilização, conforme 
os padrões europeus. O tempo cíclico e irregular das culturas indígenas 
locais deveria ser substituído pelo tempo linear, abstrato e contabilizável 
da sociedade capitalista. 
 
A construção iconográfica e a narrativa produzida pelos via-
jantes constituíram um novo campo de estudo para a histo-
riografia como documento e para os professores de História 
como ferramenta de ensino. As imagens e a literatura dos viajantes são 
constantemente encontradas em livros didáticos e acadêmicos e podem 
ser analisados os códigos de vestimentas, da cultura material, do cotidia-
no, da etnografia e paisagens de ambientes do período.
Entre os cientistas estrangeiros que passaram por aqui e construíram re-
ferenciais narrativos e pictóricos sobre o Brasil, podemos citar: o médico 
sueco Gustavo Beyer, em 1813; o botânico francês August de Saint-Hi-
HISTÓRIA DO BRASIL II 33
UNIMES VIRTUAL
laire, em 1817; os alemães Johann Baptist Spix e Karl Friedrich Philipp, 
1817; o diplomata russo, Barão Georg Heirich von Langsdorff, 1822; entre 
muitos outros.
 
Um exemplo de uma narrativa de um viajante europeu ex-
traído do diário do Barão Langsdorff faz uma análise sobre o 
interior brasileiro:
“Aqui há sempre muitas coisas que ensejam a refle-
xão de pensadores, filósofos e não eruditos, patrões 
e empregados. Estamos às voltas com muitas dificul-
dades e despesas, prestes a iniciar uma viagem de 
pesquisa de grande parte perigosa. Vamos percorrer 
um caminho nunca antes percorrido. É como se esti-
véssemos diante de um véu escuro: vamos abando-
nar o mundo civilizado para viver no meio de índios, 
tigres, onças, tapires, macacos e outros animais”.
HISTÓRIA DO BRASIL II38
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Aula: 10
Temática: Da categoria de Reino Unido a Portugal 
 ao liberalismo brasileiro
 
Em uma jogada tipicamente política, Dom João elevou o 
Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. As-
sim, o Brasil deixava de ser uma simples colônia e ganhava 
status de reino ligado a Portugal. Um dos fatores que influenciaram essa 
decisão foi a onda de movimentos de emancipação que assolava a Amé-
rica Espanhola. A elevação do Brasil a Reino Unido criou as bases de uma 
certa autonomia administrativa da colônia.
 
Após a derrota de Napoleão, foi realizado o Congresso de 
Viena. Em 1815, os países vitoriosos, em sua maioria mo-
narquias absolutistas, tinham receio de que os movimentos 
iluministas e liberais se propagassem por seus domínios. Para evitar essa 
disseminação e manter o controle sobre as fronteiras foi estabelecido um 
pacto militar entre Rússia, Prússia e Áustria, chamado Santa Aliança. Hou-
ve uma vasta reação antinapoleônica em toda a Europa. O Congresso de 
Viena tinha como objetivo reorganizar o mapa político e territorial europeu, 
segundo os interesses do absolutismo. Pelo princípio da legitimidade, o 
poder retornaria aos monarcas depostos pelos revolucionários franceses.
Os movimentos liberais propunham a descentralização do poder dos mo-
narcas e maior liberdade econômica:
Segundo a historiadora Emilia Viotti da Costa, o liberalismo 
europeu foi originalmente uma ideologia burguesa, vincula-
da ao desenvolvimento do capitalismo e à crise do mun-
do senhorial. As noções liberais iriam surgir devido às lutas da burguesia 
contra os abusos da autoridade real, os privilégios do clero e da nobreza, 
os monopólios que inibiam a produção, a circulação, o comércio e o tra-
balho livre. Na luta contra o absolutismo, os liberais defenderam a teoria 
do contrato social, afirmando a soberania do povo e a supremacia da lei, e 
propuseram a divisão de poderes, defendendo formas representativas de 
governo. Para destruir os privilégios corporativos, converteram em direitos 
universais a liberdade, a igualdade perante a lei e o direito de propriedade. 
Aos regulamentos que inibiam o comércio e a produção opuseram a liber-
dade de comércio e de trabalho.
HISTÓRIA DO BRASIL II 39
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Segundo o Congresso de Viena, o princípio da legitimidade da coroa por-
tuguesa não seria legal, pois o congresso reconheceria apenas Portugal 
como sede do reino português e não o Brasil. O Brasil era reconhecido 
apenas como colônia, e, por esse motivo, o congresso legitimaria a monar-
quia portuguesa somente diante do retorno do príncipe regente a Lisboa. O 
impasse foi solucionado após a elevação do Brasil a reino, o que permitia à 
corte permanecer no Brasil. Essa decisão acarretou conseqüências contro-
versas para Dom João, pois, dessa maneira, inibia qualquer emancipação 
política do país em relação a Portugal, mas, por outro lado, promoveu uma 
grande insatisfação em Portugal e nos portugueses que viviam no Brasil.
Com relação ao liberalismo brasileiro, devemos tomar certo cuidado ao 
analisar, pois somente pode ser compreendido dentro da lógica e realida-
de brasileira. O movimento liberal brasileiro importou os princípios e as 
fórmulas políticas européias, mas as adaptou às suas realidades. Segundo 
Emília Viotti, as mesmas palavras podem ter significados diferentes em 
contextos distintos, ou seja, devemos ir além de uma análise formal do 
discurso liberal e, dessa maneira, relacionar a retórica à prática liberal, po-
dendo, assim, definir a especificidade do liberalismo brasileiro, seria então 
preciso desconstruir o discurso liberal (COSTA, 1999, p. 132).
 
Os principais adeptos do liberalismo no Brasil foram as 
pessoas que tinham interessesligados à economia de ex-
portação e importação e os grandes proprietários de terras. 
Por outro lado, esses homens desejavam libertar-se de Portugal para que 
pudessem realizar o livre comércio com outras nações, mas queriam man-
ter certas tradições inabaladas, como a estrutura de produção, sistema 
escravista, o sistema de clientela etc. Tais valores eram contrários ao libe-
ralismo europeu, surgindo então um “liberalismo conservador brasileiro”.
HISTÓRIA DO BRASIL II34
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Resumo - Unidade I
Na primeira unidade procuramos ampliar o debate a respeito 
do final do período colonial e as transformações e conseqü-
ências para o Brasil com relação à chegada da família real. 
Foram abordadas as temáticas que relacionam a transferência da admi-
nistração portuguesa, a política implementada e as revoltas que surgiram 
na colônia no final do século XVIII e início do XIX. Tivemos como proposta 
combinar fatores externos que foram decisivos e, muitas vezes, responsá-
veis pelos fatos ocorridos no Brasil.
Nessa primeira unidade, portanto, você pôde estudar alguns aspectos da 
transformação da sociedade brasileira, do final do século XVIII. 
 
Referências Bibliográficas
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil: Impé-
rio. São Paulo: Cia. das Letras, 1997, Vol. II.
COSTA, Emilia Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisi-
vos. São Paulo: Editora Unesp, 1999.
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político 
brasileiro. Rio de Janeiro: Globo, 1987.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
FRAGOSO, João L. R.; FLORENTINO, Manolo. O arcadismo como projeto: 
mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil do Rio de Ja-
neiro 1790-1840. Rio de Janeiro: Diadorim, 1993.
 
Link
ARAÚJO, Ed Wilson. 200 anos da imprensa no Brasil, 50 anos do Jornal 
Pequeno. Disponível em: http://www.piratininga.org.br/artigos/2004/01/
araujo-jornalpequeno.html - último acesso em 15/01/2007.
HISTÓRIA DO BRASIL II40
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Aula: 11
Temática: A Revolução Pernambucana de 1817
A presença da corte no Brasil não assegurou o fim dos atritos 
entre a colônia e o poder central, pelo contrário, surgiram no-
vos acontecimentos que geraram insatisfação, principalmen-
te, no Nordeste. O país já não era mais comandado por um príncipe regente, 
mas por um monarca. Com o falecimento de Dona Maria I, em 1816, o reino 
de Portugal passou a ser comandado pelo proclamado rei D. João VI.
Havia no Brasil um consenso de que a corte portuguesa fa-
vorecia os interesses dos portugueses residentes no Brasil, o 
que gerou muito descontentamento e críticas. Um outro grupo 
descontente era formado pelos militare,s porque, para compor os exércitos, 
D. João VI reservou os melhores cargos e patentes para portugueses. 
Como razão para o descontentamento na colônia, existia também a alta 
carga tributária que deveria cobrir todos os gastos da corte e as missões 
militares promovidas pelo monarca na região do Prata.
Entre março e maio de 1817 eclodiu no Nordeste uma grande insurreição, 
com foco principal em Pernambuco, mas com focos também no Ceará, 
Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Esse movimento, também cha-
mado de revolução, durante 74 dias, proclamou o fim do domínio portu-
guês naquelas regiões. Entre os integrantes estavam várias camadas da 
sociedade: militares, proprietários rurais, juízes, artesãos, comerciantes 
e padres. A população humilde viu no movimento a oportunidade de me-
lhorar sua condição de vida. Já os grandes proprietários de terras viam a 
possibilidade de se libertarem do controle imposto pela coroa portuguesa. 
Resumidamente, o grande impulsionador do movimento no Nordeste foi o 
antilusitanismo e o desfavorecimento regional. A região atravessava um 
momento economicamente difícil com a queda do preço do açúcar e do 
algodão, além da alta da mão-de-obra escrava. 
Em Pernambuco, o governador Caetano Pinto de Miranda havia sido de-
posto e organizado um governo provisório no Recife. O embasamento in-
telectual do movimento veio das idéias liberais, do modelo republicano e 
dos ideais da Revolução Francesa, porém não tocaram no problema da es-
cravidão. Os revoltosos tentaram ganhar apoio junto aos Estados Unidos, 
Inglaterra e Argentina com o envio de mensageiros.
HISTÓRIA DO BRASIL II 41
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O monarca Dom João VI agiu rapidamente, organizou um exército e uma 
esquadra que bloqueou os revoltosos no Recife e em Alagoas. As lutas 
se desenrolaram mostrando o despreparo e a inferioridade numérica dos 
insurgentes que resistiram bravamente, ainda que não tenham conseguido 
vencer as tropas portuguesas. Prontamente, foram feitas prisões e execu-
tados os esquartejamentos dos líderes do movimento, que durou pouco 
mais de dois meses no total. 
A adesão de várias províncias do Nordeste não foi o suficiente para o 
sucesso do movimento, houve falta de apoio e participação popular. Além 
disso, os rebeldes não tinham um preparo militar para enfrentar as tro-
pas portuguesas. Muitos dos insurgentes das camadas mais abastadas 
nordestinas, na verdade queriam manter seus privilégios na região e não 
montar um governo embasado em um modelo republicano com participa-
ção popular. Eles pretendiam continuar usufruindo os direitos e o controle 
que haviam conquistado ao longo dos anos.
 
D. João VI teve de enfrentar problemas também em Portu-
gal, onde vinha crescendo a cada dia o movimento liberal, 
como veremos na próxima aula. 
HISTÓRIA DO BRASIL II42
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Aula: 12
Temática: Problemas para o novo monarca e o início 
 do movimento de independência
 
Com a decisão de permanecer no Brasil, Dom João VI en-
frentou forte pressão de Portugal e dos portugueses que es-
tavam por aqui, principalmente, dos adeptos das idéias libe-
rais que tinham se espalhado por toda a Europa, a despeito das tentativas 
de conter essa expansão, por parte das monarquias absolutistas. Devido 
ao descontentamento com o monarca, em agosto de 1820, estourou em 
Portugal uma revolução liberal inspirada no iluminismo. O movimento libe-
ral vinha ganhando simpatizantes e destaque na metrópole. 
Da revolução de 1820, participaram vários setores da sociedade, incluindo 
os militares, que se revoltaram devido à crise política desencadeada pela 
ausência da corte e dos setores administrativos; os militares não aceita-
vam a presença de oficiais ingleses no alto escalão militar.
No final de 1820, de posse do poder, os revoltosos tomaram diversas me-
didas de cunho liberal. Convocaram uma junta provisória para governar e 
votaram uma Constituição baseada em princípios liberais. Foi estabelecido 
um novo critério de representação conforme o número de habitantes, ten-
do o Brasil o direito a 70 deputados, num total de 200. Além disso, foram 
criadas as juntas governamentais que seriam leais à revolução, abrangen-
do assim todas as capitanias, chamadas províncias a partir de então. Esse 
movimento provocou repercussão no Brasil, segundo Boris Fausto:
Foram os militares descontentes que iniciaram o mo-
vimento de 1820 em Portugal. Foi também entre os 
militares que ocorreram as primeiras repercussões do 
movimento no Brasil. As tropas se rebelaram em Be-
lém e em Salvador, instituindo aí suas juntas governa-
mentais. No Rio de Janeiro, manifestações populares 
e das tropas portuguesas forçaram o rei a reformular 
o ministério, a criar juntas onde elas não existiam e a 
preparar as eleições indiretas para as Cortes.
Naquela altura, a principal questão que dividia as opi-
niões era o retorno ou não de Dom João VI a Portu-
gal. O retorno era defendido no Rio de Janeiro pela 
“facção portuguesa”, formada por altas patentes mi-
litares, burocratas e comerciantes interessados em 
subordinar o Brasil à Metrópole, se possível de acor-do com os padrões do sistema colonial. Opunha-se a 
HISTÓRIA DO BRASIL II 43
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isso e ao retorno do monarca o “partido brasileiro”, 
constituído por grandes proprietários rurais das capi-
tanias próximas à capital, burocratas e membros do 
Judiciário nascidos no Brasil. Acrescentem-se a eles 
portugueses cujos interesses tinham passado a vin-
cular-se aos da Colônia: comerciantes ajustados às 
novas circunstâncias do livre comércio e investido-
res em terras e propriedades urbanas, muitas vezes 
ligados por laços de casamento à gente da Colônia. 
(FAUSTO, 1995, p. 130, 131)
Essa revolução, que acabou gerando o fim do absolutismo português, foi 
chamada Revolução Liberal do Porto — cidade portuguesa onde teve iní-
cio o processo revolucionário. 
 
Com o trono ameaçado, Dom João VI retornou a Portugal em 
abril de 1821, com quatro mil portugueses e com o ouro do 
Banco do Brasil. No Brasil, em seu lugar deixou seu filho e 
príncipe regente Dom Pedro. Nas eleições para os representantes do Brasil 
nas Cortes foram eleitos alguns nomes que figuraram como personagens 
importantes na história política do país, entre eles : Cipriano Barata, Muniz 
Tavarez, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Padre Feijó. 
Um fato interessante que devemos observar é que Dom João VI retornou 
para Portugal do mesmo modo que partira em 1807, ou seja, pressionado 
e obrigado.
HISTÓRIA DO BRASIL II44
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Aula: 13
Temática: Os fatores que levaram 
 à independência brasileira
 
No decorrer de 1820, vários acontecimentos fortaleceram 
no Brasil o desejo de rompimento com o domínio português, 
mas o principal talvez tenha sido a determinação portugue-
sa para o retorno imediato do príncipe regente, D. Pedro. 
 
A exigência portuguesa desencadeou um movimento políti-
co que tinha como objetivo impedir que o príncipe retornas-
se para Portugal. 
A decisão de Dom Pedro de ficar no Brasil foi anunciada no dia nove de 
janeiro de 1822 — episódio que ficou conhecido como “Dia do Fico”— e 
representou um caminho sem volta. Os procedimentos e atos após tal 
atitude selaram definitivamente uma ruptura com os portugueses. Portugal 
não aceitou passivamente a recusa do príncipe. Tropas portuguesas tenta-
ram forçar seu embarque, mas foram detidas.
As tropas portuguesas infiéis ao príncipe foram prontamente obrigadas 
a deixar o Brasil. Esse fato deflagrou a preocupação de formação de um 
exército brasileiro. 
Após “o Fico” foi criado um ministério composto por portugueses, mas 
sob o comando de um brasileiro, o ilustre José Bonifácio de Andrada e Sil-
va que, juntamente com seus irmãos, tornou-se personalidade importante 
no período e no estabelecimento da independência brasileira. 
 
José Bonifácio era um defensor de idéias progressistas, 
com muitos planos no campo social; defendia a gradativa 
extinção da escravidão, uma reforma agrária moderada e a 
entrada de imigrantes no Brasil. No âmbito político destacou-se como libe-
ral conservador e monarquista convicto, contando com o apoio de parcela 
da elite dominante brasileira. 
Em abril de 1822, o príncipe regente decidiu que as ordens que vinham 
de Portugal só teriam valor se fossem aprovadas por ele — essa decidão 
ficou conhecida como “cumpra-se”. Em junho do mesmo ano, Dom Pedro 
HISTÓRIA DO BRASIL II 45
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convocou uma Assembléia Nacional Constituinte que teria como finalida-
de fazer novas leis para o Brasil. Essa medida provocou um grande abalo 
nas Cortes, uma vez que representava o rompimento institucional do Brasil 
com Portugal. 
 
Conservadores e radicais
Para os conservadores, o Brasil deveria procurar maior autonomia em rela-
ção à Portugal, partindo apenas em última instância para um rompimento 
definitivo ou independência. A forma de governo proposta era a monar-
quia constitucional, com representação limitada, para que fosse possível 
manter a ordem social.
Para a ala radical, que incluía os monarquistas e os chamados “extrema-
dos”, haveria caminhos diferentes para contornar a crise. Os monarquistas 
se preocupavam com maiores liberdades, como a liberdade de imprensa, 
e com maior participação popular. Os extremados partiam do princípio de 
que a independência se associava à República.
 
Enfim a independência
Com a convocação da Constituinte, deu-se o primeiro passo para o 
processo de rompimento com Portugal. Os governos provinciais foram 
aconselhados a não mais empregar no serviço público funcionários que 
viessem de Portugal. A atitude de maior vulto, no entanto, foi a declara-
ção de Dom Pedro de que as tropas vindas de Portugal seriam declaradas 
inimigas no Brasil.
O governo português, como última tentativa de pressionar o príncipe re-
gente, deu-lhe um ultimato. Em agosto de 1822, enviou uma carta na qual 
exigia o retorno imediato a Portugal e a anulação da convocação da As-
sembléia Nacional Constituinte. Nos mesmos despachos que haviam che-
gado de Portugal, acusavam de traição os ministros. 
Quando esses documentos chegaram, D. Pedro estava em São Paulo — 
onde tinha ido apaziguar um clima de revolta. Dona Leopoldina e José 
Bonifácio enviaram, prontamente, mensageiros para alcançá-lo e colocá-lo 
a par das notícias e imposições portuguesas.
No dia 7 de setembro de 1822, D. Pedro foi alcançado em São Paulo às 
margens do riacho do Ipiranga, onde lhe foram entregues as cartas. Conta-
se que o “grito de independência” foi dado logo após a leitura das cartas. 
HISTÓRIA DO BRASIL II46
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Em primeiro de dezembro de 1822, então com vinte e quatro anos, D. Pe-
dro foi coroado imperador do Brasil e recebeu o título de D. Pedro I.
 
O Brasil se tornara independente em relação a Portugal, 
mantendo o regime monárquico, diferentemente dos vizi-
nhos sul-americanos que haviam se tornado independentes 
e optado pelo regime republicano. As diferenças não ficaram apenas na 
opção do regime de governo. O que causava maior espécie era a manu-
tenção de um herdeiro do trono português no comando da nova nação 
independente. 
A independência não alterou significativamente a vida da população humil-
de, ao menos no primeiro momento. A independência não trouxe a moder-
nização que se esperava, especialmente porque foi mantida a instituição 
responsável, em grande parte, pelo atraso do Brasil e pela dificuldade de 
construir uma nação moderna. 
HISTÓRIA DO BRASIL II 47
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Aula: 14
Temática: A consolidação da Independência 
 e o início do Primeiro Reinado
 
O primeiro grande problema do novo governo foi constituir 
um exército nacional. O número do efetivo existente era 
muito baixo e o exército desorganizado, portanto, desprepa-
rado para enfrentar as tropas portuguesas. Uma das soluções encontradas 
foi a contratação de mercenários na Europa com o objetivo de organizar 
um novo exército brasileiro capaz de enfrentar as guerras de independên-
cia. O oficial francês, Pedro Labatut, foi nomeado por Dom Pedro I para 
organizar as tropas brasileiras. Antes mesmo da Independência, Labatut 
exercera um papel na organização das tropas e nos combates às tropas 
portuguesas que estavam no país desde 1808. 
 
As regiões em que aconteceram os principais combates fo-
ram o Sul e o Nordeste. No Sul, na região da Província da 
Cisplatina, houve confrontos com tropas portuguesas, que 
acabaram sendo expulsas em novembro de 1823. 
Na Bahia, ocorreram os maiores combates e, conseqüentemente, o maior 
número de mortos. A vitória das tropas nacionais contou com a ajuda de 
milícias formadas por grandes proprietários de terras. Os portugueses fo-
ram expulsos em 2 de julho de 1823. 
Os pesquisadores acreditam que a maior proximidade, inclusive cultural, 
do Nordeste com Portugal, poderia explicar a concentração da resistência 
nessa região. Entretanto,devemos nos lembrar de que houve combates 
também no Maranhão e no Pará, na região Norte. 
 
O reconhecimento no plano internacional
Os Estados Unidos foram a primeira nação a reconhecer a independência 
brasileira, em maio de 1824. A Inglaterra adotou o reconhecimento logo de-
pois, obviamente, por ter vários interesses econômicos no Brasil, já que o 
novo país era o seu terceiro mercado externo. Segundo alguns historiadores, 
a Inglaterra demorou a reconhecer a independência brasileira, porque tenta-
va pressionar o governo brasileiro quanto à extinção do tráfico negreiro.
HISTÓRIA DO BRASIL II48
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O reconhecimento português ocorreu em agosto de 1825 com o intermédio 
da Inglaterra, que propôs um acordo segundo o qual, em troca do reconhe-
cimento, o Brasil pagaria a Portugal uma indenização, ou seja, ressarciria 
a antiga Metrópole em dois milhões de libras. Esse acordo é considerado 
a primeira dívida externa brasileira, já que o montante da indenização foi 
financiado junto a bancários ingleses. 
 
A Inglaterra faria também as suas exigências, entre elas, a 
da renovação de tratados assinados por Dom João VI em 
1810. Tais tratados, como vimos, beneficiavam os produtos 
ingleses. Com o consentimento brasileiro a Inglaterra continuou a se be-
neficiar de vários privilégios comerciais. No plano internacional, o Brasil 
superou a subordinação política de Portugal, mas continuou subordinado 
economicamente aos ingleses. 
 
Com o reconhecimento internacional resolvido, era a hora 
de resolver os problemas internos, ou seja, colocar em or-
dem o plano de organizar um novo país. Era preciso criar 
instrumentos constitucionais para dar legitimidade para o novo governo. 
Em maio de 1823, a Assembléia Constituinte se reuniu no Rio de Janeiro 
— capital do Império — com a proposta de redigir a primeira Constituição 
brasileira. O sistema eleitoral e a elaboração da Constituição serão o tema 
das aulas seguintes.
HISTÓRIA DO BRASIL II 49
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Aula: 15
Temática: A nova Constituinte
As eleições para a Assembléia Constituinte estavam sendo 
preparadas antes mesmo da proclamação da independên-
cia. Em maio de 1823, Dom Pedro abriu a sessão da câmara 
usando uma frase do monarca francês Luís XVIII: a constituição deveria 
ser digna dele e do Brasil. Com essa frase D. Pedro revelaria suas predis-
posições autoritárias. 
 
Os deputados eram de diferentes regiões do Brasil e repre-
sentavam diferentes grupos da sociedade brasileira, com 
interesses também distintos. A assembléia foi formada por 
fazendeiros, ricos comerciantes e membros da classe média. Os debates 
giravam em torno de três tendências ou correntes: 
Liberais moderados: ligada aos grandes proprietários de terras e aos ricos 
comerciantes, não viam com bons olhos a participação popular, mas defen-
diam uma certa modernização e a manutenção da monarquia centralizada. 
Liberais radicais: também chamados “liberais exaltados” ligados princi-
palmente às classes médias urbanas — pequenos comerciantes, jornalis-
tas, funcionários públicos e profissionais liberais — pregavam uma maior 
participação da população, e, sobretudo, defendiam a federação, chegan-
do a cogitar o regime republicano. 
Partido português: esse grupo representava os interesses dos ricos co-
merciantes portugueses que tinham negócios no Brasil. Muitos deles se 
sentiram prejudicados com a independência, principalmente com a con-
corrência com os produtos ingleses que, cada vez mais, ganhavam espa-
ço. Entre seus interesses estava a recolonização do Brasil.
As relações entre o imperador e a Assembléia foram tumultuadas. Os li-
berais concordavam em pelo menos um ponto: na diminuição do poder do 
imperador. A oposição concentrava-se no Partido Brasileiro e, para dimi-
nuí-la, D. Pedro costumava adotar a política de oferecimento de cargos no 
governo. Entretanto, essa estratégia não conseguiu amenizar as críticas 
da oposição e os conflitos se acirraram. 
HISTÓRIA DO BRASIL II50
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Juntos, os moderados e os radicais tinham um maior número de votos 
contra o imperador e esse número representava uma limitação para suas 
tendências absolutistas. Então, no dia 12 de novembro de 1823, o impera-
dor mandou os militares cercarem a Assembléia e prender vários deputa-
dos — inlcuindo os três Andradas. Por ordem de D. Pedro I, a Assembléia 
Constituinte foi dissolvida de maneira arbitrária.
 
Leia a seguir uma análise de Raimundo Faoro sobre as rela-
ções de poder nessa fase do Império: 
A assembléia constituinte não conseguiu estruturar a 
ordem política, de modo a conciliar, organicamente, 
o imperador ao país. O soberano, segundo o modelo 
tradicional de Avis e Bragança, queria ser o Estado, 
defensor de seus interesses e sentimentos, sem a 
intermediação de órgãos representativos. Os povos 
fazem o rei, mas não podem limitar-lhe o poder ou 
cassá-lo, porque, segundo a doutrina que sustentou 
a ascensão de D. João IV, “a lei da verdadeira jus-
tiça ensina que os pactos legítimos devem guardar 
e que as doações absolutas valiosas não se podem 
revogar”. A teoria liberal, de outro lado, fundada no 
mesmo dogma, não admite a irrevogabilidade do pac-
to, nem o incondicionalismo da outorga de poder. Os 
constituintes, consciente ou inconscientemente, reza-
vam todos por iguais letras: entre o rei e a nação não 
havia duas peças pertencentes ao mesmo corpo, que 
cumpria ajustar, soldar, fundir. O soberano e o país 
eram realidades diversas e separadas, cujo encontro 
se daria pela adesão ou pelo contrato, desconfiadas 
as partes da conduta de uma e outra, tendente o im-
perador ao despotismo e os representantes da nação 
à anarquia. (FAORO, 2000, p. 326)
HISTÓRIA DO BRASIL II 51
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Aula: 16
Temática: Constituição de 1824
Após a dissolução da Assembléia Constituinte, o imperador 
promulgou uma Constituição em 25 de março de 1824. A 
sua proposta apresentava semelhanças em relação ao pro-
jeto apresentado pelos deputados. A Constituição foi imposta pelo monar-
ca em uma clara demonstração de força: 
Antes de entrar no exame da Constituição, dois pon-
tos devem ser ressaltados. Um contingente ponde-
rável da população – os escravos – estava excluído 
de seus dispositivos. Deles não se cogita, a não ser 
obliquamente, quando se fala de libertos. O outro pon-
to se refere à distância entre os princípios e a prática. 
A Constituição representava um avanço, ao organizar 
os poderes, definir atribuições, garantir direitos indi-
viduais. O problema é que, sobretudo no campo dos 
direitos, sua aplicação seria muito relativa. Aos direi-
tos se sobrepunha a realidade de um país onde mes-
mo a massa da população livre dependia dos grandes 
proprietários rurais, onde só um pequeno grupo tinha 
instrução e onde existia uma tradição autoritária. 
(FAUSTO, 1995 p. 149)
Pela Constituição de 1824, o governo foi definido como monárquico, here-
ditário e constitucional e afirmava que “o Império é a associação política 
a todos os cidadãos brasileiros”. A religião católica foi definida como a 
religião oficial do Império. 
Entretanto, a marca mais característica da Constituição de 1824 foi a insti-
tuição do Poder moderador, um quarto poder, ao lado do Executivo, Legislati-
vo e Judiciário. Este quarto poder era exclusivo do monarca e, por seu inter-
médio, o imperador controlava a organização política do Império do Brasil. 
Diferentemente das constituições liberais que tendiam a diminuir o poder 
dos monarcas, a primeira Constituição brasileira fez o contrário. A divisão 
dos três poderes foi criada justamente para descentralizar o poder. 
 
Relações de poder na nova Constituição
O poder legislativo foi separado em Câmara e Senado. A eleição para as 
duas casas ocorria de forma diferenciada. Na Câmara a eleição dos repre-
HISTÓRIA DO BRASIL II52UNIMES VIRTUAL
sentantes era para um mandato temporário; no caso do Senado o man-
dato era vitalício. A escolha dos senadores era feita da seguinte forma: 
confeccionava-se uma lista com os três nomes mais votados da província 
para que o imperador escolhesse um deles para o cargo. Desse modo, o 
imperador tinha o poder de moldar o Senado, minimizando a atuação dos 
rivais políticos.
O poder Judiciário pela Constituição de 1824 permitia que houvesse inter-
ferência direta do imperador, pois cabia a ele a escolha dos magistrados 
mais importantes.
 
Com relação ao voto, era censitário e indireto. Indireto porque 
os eleitores escolhiam um corpo eleitoral em eleições primá-
rias; o corpo eleitoral elegia os deputados. Era censitário, por-
que o direito de voto estava vinculado a algumas exigências legais:
A eleição para a Câmara de Deputados se processava 
da seguinte forma. Nas eleições primárias, votavam 
os cidadãos brasileiros, inclusive os escravos liber-
tos, mas não podia votar, entre outros, os menores 
de 25 anos, os criados de servir, os que não tivessem 
renda anual de pelo menos de 100mil-réis provenien-
tes de bens de raiz (imóveis), indústria, comércio ou 
emprego. Os votantes, tivessem renda de, no mínimo, 
200 mil-réis anuais e não fossem escravos libertos. 
Os escolhidos nessas eleições primárias formavam o 
corpo eleitoral que elegeria os deputados. Os esco-
lhidos nessas eleições primárias formavam o corpo 
eleitoral que elegeria os deputados. Para ser candida-
to nessa segunda etapa, as exigências aumentavam: 
além dos requisitos anteriores era necessário ser 
católico e ter uma renda mínima anual de 400 mil-
réis. Não havia referência expressa às mulheres, mas 
elas estavam excluídas desses direitos políticos pelas 
normas sociais. Curiosamente, até 1882 era praxe ad-
mitir o voto de grande número de analfabetos, tendo 
em vista o silêncio da Constituição a esse respeito. 
(FAUSTO, 1995, p. 151)
Os presidentes das províncias e os ministros também eram escolhidos por 
D. Pedro I. Foi instituído um Conselho de Estado, que era composto por 
conselheiros vitalícios nomeados pelo imperador, com idade mínima de 
quarenta anos e uma renda mensal de no mínimo 800 mil-réis. 
A idéia de Poder Moderador teria sido baseada numa pro-
posta do filósofo liberal Benjamin Constant, que pregava a 
criação de um quarto poder do Estado. O “poder modera-
HISTÓRIA DO BRASIL II 53
UNIMES VIRTUAL
dor”, segundo o filósofo, garantiria estabilidade aos outros três (Executivo, 
Legislativo e Judiciário). No caso da monarquia, haveria a separação com 
o Poder Executivo, que seria exercido por um conjunto de ministros. O mo-
narca agiria apenas em disputas mais sérias entre os poderes, nesse caso, 
em nome do interesse nacional. Como vimos, não foi isso que ocorreu no 
império brasileiro. D. Pedro I assegurou a ele todos os poderes administra-
tivos, agindo de forma deliberada e centralizadora. 
HISTÓRIA DO BRASIL II54
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Aula: 17
Temática: A Confederação do Equador
A primeira reação de grande vulto após as atitudes autoritá-
rias do imperador veio, mais uma vez, da região Nordeste. 
Nos primeiros séculos da colonização brasileira, Pernambu-
co era a mais rica das capitanias, com uma grande produção açucareira 
que fez a fortuna de muitos senhores de engenho. O declínio se deu, a 
partir do século XVIII, com o aumento da concorrência internacional. O 
problema trouxe perdas consideráveis a vários produtores que esperavam 
o apoio do governo central. A falta desse apoio deu origem a grandes res-
sentimentos dos pernambucanos em relação ao governo imperial. 
A província de Pernambuco ainda não se recuperara dos 
acontecimentos que seguiram a rebelião de 1817, quando o 
imperador decretou a dissolução da Assembléia Constituin-
te. As atitudes do imperador fomentaram um novo levante contra as idéias 
centralizadoras do novo monarca. As idéias republicanas permaneciam no 
ar, assim como antilusitanismo. Essas idéias tinham o apoio de Cipriano 
Barata — que retornara da Europa. 
O imperador, por sua vez, ganhara muitos desafetos, como os irmãos An-
drada, que haviam sido companheiros do imperador e, a partir das medi-
das intempestivas do monarca, passaram a fazer-lhe dura oposição. Nessa 
época, a imprensa já adquirira certa importância e tornou-se palco de toda 
essa disputa política. 
Um dos principais opositores ao império, e com grande 
aceitação popular, foi o frei Joaquim da Silva Rabelo, tam-
bém conhecido como frei Joaquim do Amor Divino e mais 
tarde como frei Caneca. Ele havia tido um papel de destaque na revolta 
pernambucana de 1817. Frei Caneca teve uma infância humilde. Rece-
beu educação no Seminário de Olinda, onde teve contato com as idéias 
iluministas e liberais. Tornou-se um homem de grande respeito na região. 
O jornal dirigido por ele — Tifis Pernambucano — era um dos principais 
veículos de oposição ao governo. 
O estopim da crise em Pernambuco aconteceu com a no-
meação de um novo presidente da província fiel a D. Pedro 
I. Diante dessa medida arbitrária do imperador, Olinda e Re-
cife se rebelaram. A Confederação do Equador foi proclamada em dois de 
HISTÓRIA DO BRASIL II 55
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junho de 1824, por Manuel de Carvalho. Carvalho chegou a buscar a ajuda 
norte-americana, pedindo que fosse mandada uma frota ao porto do Recife 
contra a presença de navios ingleses e franceses. 
A Confederação do Equador tinha como proposta transformar em repúbli-
cas federativas Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e 
Pará. A revolta teve o apoio da população.
 
D. Pedro I organizou a reação contra os revoltosos. Os com-
bates duraram cerca de três meses, com violentos comba-
tes em várias cidades. Mais uma vez as tropas do governo 
foram mais eficientes militarmente do que a dos revoltosos. A Confedera-
ção foi derrotada em todas as províncias do Nordeste, mas foi derrotada, 
definitivamente, no mês de novembro de 1824. 
Os revoltosos foram punidos severamente. Um tribunal escolhido pelo 
imperador condenou várias pessoas à morte, entre elas, Frei Caneca que, 
apesar de inúmeros apelos, não obteve a clemência do imperador. Frei Ca-
neca não foi enforcado porque o carrasco se recusou. Foi, então, fuzilado 
por um pelotão, logo depois de ser excomungado. 
 
Essa Confederação foi um movimento importante, que marcou 
profundamente o Primeiro Império, e trouxe conseqüências e 
descontentamentos que levaram à abdicação do imperador. 
HISTÓRIA DO BRASIL II56
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Aula: 18
Temática: A derrocada de D. Pedro I
Como se justifica a relação de amor e ódio existente entre D. 
Pedro I e as diferentes camadas da população brasileira no 
século XIX? Em 1824 ele foi aclamado herói nacional. Após 
sete anos, em 1831, saiu de cena pressionado e com a figura abalada, 
forçado a renunciar, em favor do filho, e retornar a Portugal. Analisaremos 
os vários motivos que levaram à ascensão e queda do imperador.
 
Como vimos, o absolutismo do imperador angariou muitos 
inimigos e levou ao descontentamento várias camadas da so-
ciedade. Além dos problemas internos, sua política externa foi 
questionada e tornou-se alvo de severas críticas, no campo político-social. 
O problema teve início com sua atuação na rebelião da Cisplatina — hoje 
território uruguaio — anexada ao Império em 1821 por Dom João VI. A 
rebelião tinha como objetivo a independência da região que pretendia ligar-
se às Províncias Unidas do Rio da Prata, hoje território argentino. 
O imperador declarou guerra à Cisplatina em 1825. O conflito durou dois 
anos e foi um desastre militar para os brasileiros, o que acarretou numa 
catástrofe financeira para o país. A paz chegou com a intermediação da 
Inglaterra, que tinha interesses econômicos nas duas regiões. Com o fim 
do confronto e a separação

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