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Literatura Brasileira III
Revisão AP3
Seguem alguns tópicos e observações acerca do conteúdo presente nas Unidades 1 a 9, com ênfase especial nas unidades centrais do semestre. Espero que seja um auxílio para o estudo de todos.
Quaisquer dúvidas, entrem em contato pela sala da tutoria.
Unidade 2
No século XVIII, surge uma elite em Minas Gerais que é responsável por intensas transformações na vida social do país. Palácios, mansões e igrejas são construídos, ostentando o máximo luxo, com obras de artistas, como Antonio Francisco Lisboa (o “Aleijadinho”) e Manuel de Ataíde.
A partir da segunda metade do século XVIII, começa a se processar uma reação aos excessos da estética barroca, em prol de um retorno aos padrões clássicos em matéria de arte e literatura: o Arcadismo. 
Um grupo de escritores praticava a chamada poesia árcade. Vivendo na região aurífera de Minas Gerais, esses escritores eram intelectuais ilustrados, imbuídos das ideias de progresso científico e social típicas do “Século das Luzes”. Embora constrangidos pelas situações precárias da vida cultural na colônia portuguesa, eles encaravam a prática da literatura como um passo decisivo para o desenvolvimento da cultura erudita no Brasil. Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Manuel Inácio da Silva Alvarenga e Basílio da Gama tentavam inscrever o Novo Mundo no código letrado.
Não satisfeitos em procurar um espaço próprio que relativizasse a programação social imposta pelo poder da metrópole, que destinava aos sujeitos coloniais uma vida cultural indigente (como forma de opressão e controle social), esses poetas e intelectuais ainda tentaram se agrupar em sociedades literárias nas quais fossem fomentados o debate e a educação – o que era verdadeiro tabu na sociedade colonial do século XVIII. 
Desse modo, a atuação dos intelectuais árcades foi importante para se tentar diminuir os atrasos no processo de desenvolvimento cultural, ao mesmo tempo em que estabelecia padrões literários parecidos com as tendências vigentes no mundo ocidental. Como frisa Antonio Candido, “tais manifestações constituíram um ponto de partida decisivo para a cultura de todo o país, porque em virtude das características do Barroco e do Neoclassicismo estabeleceram uma opção universalizante, traduzida na linguagem civilizada do Ocidente, em terra semibárbara como era o Brasil daquele tempo na quase totalidade” (CANDIDO, Antonio. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Editora Ática, 1989, p. 52). 
Unidades 3 e 4
O projeto de construção material e ideológica do Brasil como nação autônoma, iniciado com a Independência (1822), é acelerado durante o reinado de dom Pedro II, que, coroado em 1841, governou o Brasil até 1889. 
Como reflexo dos novos tempos, tem lugar uma cultura de salão, em que as camadas privilegiadas reuniam-se para festas e saraus em espaços privados, funcionando como espaço de convívio entre letrados e aristocratas. Era um modelo de sociabilidade entre indivíduos da mesma classe econômica influenciado, tal como ocorrera no século anterior, pela cultura letrada europeia, sobretudo francesa.
Como exemplo da prosa do Romantismo, temos A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, foi sucesso de público por conta tanto da trama simples e sentimental como da ambientação local. Com uma heroína morena (em contraste com as pálidas e loiras heroínas europeias), foi uma obra publicada em folhetim, uma prática francesa, mas também tem um tom local, visto que representa o Segundo Reinado e oferece informações importantes para a reconstituição do imaginário do período, sobretudo pelo registro de práticas sociais cotidianas pelas quais é possível vislumbrar os valores morais e culturais das elites brasileiras naquele momento histórico: são expressos o casamento, os saraus, as festas, o consumo de itens importados e etc.
Já a poesia do Romantismo, com ênfase no Romantismo negro, temos Álvares de Azevedo: um leitor atento não apenas do Romantismo europeu (sobretudo Byron, Victor Hugo, Chateaubriand e Musset) como também de Shakespeare e Goethe. Desse modo, há referências claras a poesia produzida na Europa. Noite na taverna, sua obra mais famosa, é dividido em sete capítulos, sendo aberto por uma epígrafe retirada do drama Macário, no qual a personagem principal dialoga com Satã. Percebe-se que Noite na taverna é marcado por um teor lúgubre, tematizando a transgressão e o erotismo desviante. Assim, Alvares de Azevedo concentra-se em uma literatura de tom universalista, como poucos elementos locais. Ele tematiza os grandes conflitos que marcam a psique humana, como a morte, a decadência, o amor e a loucura. Sua literatura relaciona-se com um espaço que é menos o espaço físico que o espaço mental onde se desenrolam as paixões inconscientes do homem. 
Por outro lado, o Naturalismo traz os ideais europeus no romance O cortiço, de Aluísio Azevedo. Como bem observou o crítico Antonio Candido, o romance naturalista O cortiço é estruturado segundo dois movimentos básicos e complementares: de um lado, está “o determinismo estrito, que mostra a natureza (meio) condicionando o grupo (raça) e ambos definindo as relações humanas na habitação coletiva”; e de outro, “o mecanismo de exploração do português, que rompe as contingências e, a partir do cortiço, domina a raça e supera o meio” (CANDIDO, 1993, p. 140). O romance faz uso das teorias raciais em voga em sua época. Como já dito antes, a ideia da superioridade da raça branca em relação à raça negra era considerada um dado atestado pela pesquisa científica. Assim, no romance naturalista a determinação racial (conforme definida pela ciência da época) acaba interferindo de forma decisiva na personalidade e nas atitudes das personagens. Há um tom de pessimismo na obra, visto que a miscigenação racial e o clima tropical são vistos como elementos negativos.
Unidade 6
Com a reorganização do espaço urbano da cidade, a sociedade fluminense procura apagar as marcas locais que ainda identificam o Rio de Janeiro com o Império escravocrata recém-extinto. A obra de João do Rio está intimamente ligada a este momento de mudanças e euforia, além de dialogar com os clássicos da literatura universal, com ênfase na literatura francesa. 
Veja o texto a seguir:
História de gente alegre
 O terraço era admirável. A casa toda parecia mesmo ali pousada à beira dos horizontes sem fim, como para admirá-los, e a luz dos pavimentos térreos, a iluminação dos salões de cima contrastava violenta com o macio esmaecer da tarde. Estávamos no Smart-Club, estávamos ambos no terraço do Smart-Club, esse maravilhoso terraço de vila do Estoril, dominando um lindo sítio da praia do Russel — as avenidas largas, o mar, a linha ardente do cais e o céu que tinha luminosidades polidas de faiança persa. Eram sete horas. Com o ardente verão ninguém tinha vontade de jantar. Tomava-se um aperitivo qualquer, embebendo os olhos na beleza confusa das cores do ocaso e no banho víride de todo aquele verde em de redor. As salas lá em cima estavam vazias; a grande mesa de baccarat, onde algumas pequenas e alguns pequenos derretiam notas do banco — a descansar. O soalho envernizado brilhava. Os divãs modorravam em fila encostados às paredes — os divãs que nesses clubes não têm muito trabalho. Os criados, vindos todos de Buenos-Aires e de S. Paulo, criados italianos marca registrada como a melhor em Londres, no Cairo, em New-York, empertigavam-se. E a viração era tão macia, um cheiro de salsugem polvilhava a atmosfera tão levemente, que a vontade era de ficar ali muito tempo, sem fazer nada. (...) Que curioso aspecto! Havia franceses condecorados, de gestos vulgares, ingleses de smoking e parasita à lapela, americanos de casaca e também de brim branco com sapatos de jogar o foot-ball e o lawn-tennis, os elegantes cariocas com risos artificiais, risos postiços, gestos a contragosto do corpo, todos bonecos vítimas da diversão (...) 
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Glossário: 
Baccarat – bacará: jogo de cartas de origem francesa, em que tomam parte vários jogadores, ganhando o grupo que, com duas ou mais cartas, perfizer o total de pontos mais próximo de nove;
Divã - espécie de sofá ou canapé de origem persa, sem encosto ou braço;
Faiança persa - cerâmica persa brilhante, com efeitos metálicos;
Foot-ball – futebol, em inglês;
Lawn-tennis - tênis de gramado, em inglês;
Modorrar– ficar sonolento (em sentido figurado no texto, significa que os caficar abandonado;
Salsugem- maresia;
No fragmento acima, é visível a presença de marcas elitistas na configuração do espaço: há um terraço que representa um espaço de pessoas ricas e de paisagem límpida, com uma vista admirável, “dominando um lindo sítio da praia do Russel — as avenidas largas, o mar, a linha ardente do cais e o céu que tinha luminosidades polidas de faiança persa”, ou seja, avenidas aprazíveis, sem a presença das classes mais pobres. Os elementos que lembram a necessidade de se copiar os franceses são o divã e a mesa de baccarat, jogo de origem francesa, além do vocabulário “em francês” utilizado pelo narrador. Percebe-se que os nativos e pobres não aparecem neste terraço idílico: mesmo os criados não aparentam ser do Brasil, o que constituiria um ambiente cosmopolita, estruturado para não denotar nenhuma influência brasileira. Devido ao apagamento das classes mais pobres, é possível afirmar que neste fragmento há, portanto, a clara delimitação entre as classes sociais do Rio de Janeiro. 
Esse apagamento das classes mais pobres representa o novo perfil urbano da então capital da República brasileira, que demoliu os redutos da escravidão e dispersou o aglomerado das massas pobres trabalhadoras. As populações carentes são banidas para os subúrbios ou para regiões menos prestigiadas da cidade, enquanto as ruas abrem espaço para os automóveis.

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