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José Herval Sampaio Júnior Pedro Rodrigues Caldas Neto Manual de PRISÃO E SOLTURA Sob a Ótica Constitucional DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA De acordo com: • Últimas reformas processuais penais • Projeto de Lei 4.208/2001 – novas medidas cautelares 2.ª edição revista, atualizada e ampliada Download gratuito no site da editora: Doutrina, Jurisprudência e modelos de peças processuais ANEXO PRÁTICA PROCESSUAL SUMÁRIO 1. BREVES ANOTAÇÕES SOBRE OS MODELOS ............................................. 3 2. MODELOS EM ESPÉCIE ................................................................................. 4 2.1 ATOS DO ADVOGADO ............................................................................. 4 2.1.1 Modelo de petição em relaxamento de prisão em fl agrante ............ 4 2.1.2 Modelo de petição de liberdade provisória vinculada com fi ança .... 8 2.1.3 Modelo petição requerendo liberdade provisória vinculada sem fi ança ................................................................................................ 11 2.1.4 Modelo de petição em revogação de prisão preventiva ................... 14 2.1.5 Modelo de petição em habeas corpus ............................................. 18 2.1.6 Modelo de petição de ação de indenização por danos morais e materiais ........................................................................................... 21 2.2 ATOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................................ 35 2.2.1 Modelo de parecer em liberdade provisória ..................................... 35 2.2.2 Modelo de parecer em revogação de prisão preventiva .................. 38 2.2.3 Modelo de requerimento de Decretação de Preventiva ................... 41 2.2.4 Modelo de parecer em ação de indenização por prisão processual ... 45 2.2.5 Modelo de Homologação de Prisão em Flagrante de Delito ............ 50 2.3 PRONUNCIAMENTOS JURISDICIONAIS ................................................ 52 2.3.1 Modelo de Relaxamento de Prisão em Flagrante de Delito ............. 52 2.3.2 Modelo de decisão de concessão de fi ança .................................... 54 2.3.3 Modelo de decisão de concessão em liberdade provisória sem fi ança ................................................................................................ 56 2.3.4 Modelo de decisão decretando prisão temporária ........................... 56 2.3.5 Modelo de decisão decretando prisão preventiva ............................ 62 2.3.6 Modelo de decisão em Revogação de Prisão Preventiva ................ 65 2.3.7 Modelo de decisão de pronúncia com decreto de prisão preventiva na ocasião ........................................................................................ 69 2.3.8 Modelo de decisão condenatória recorrível com decisão mantendo custódia ............................................................................................ 76 2.3.9 Modelo de decisão concedendo de Liminar em Habeas Corpus ..... 79 2.3.10 Modelo de Sentença de Concessão da Ordem de Habeas Corpus .............................................................................................. 82 2.3.11 Modelo de audiência com requerimento, opinamento e decisão em relaxamento de prisão .................................................................... 85 2.3.12 Modelo de sentença em ação de indenização por prisão processual ..................................................................................... 89 MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 3 PRÁTICA PROCESSUAL 1. BREVES ANOTAÇÕES SOBRE OS MODELOS O presente material tem a pretensão de tentar auxiliar os iniciantes na vida forense, uma vez que são cediças as difi culdades encontradas por aqueles que, mesmo detentores do conhecimento técnico jurídico, por ainda não terem laborado junto à práxis forense, costumam enxergar na prática processual uma difi culdade, que, na realidade, é apenas aparente, pois é plenamente possível que a partir das lições teóricas bem compreendidas se possa aplicá-las sem qualquer problema, bastando para tanto que se utilize de alguns referenciais, sendo esse o nosso objetivo, guiá-los de modo que os leitores possam se sentir seguros na feitura dos atos processuais atinentes à prisão e soltura. Os modelos, a seguir apresentados, têm o escopo de reproduzir, de forma simplifi cada, o conteúdo daquelas peças jurídicas de uso mais freqüente na seara dos pleitos e das decisões pertinentes ao temário deste livro. Buscou-se, assim, confeccionar as peças, dentro da simplicidade hipotética que envolve os casos criados, imprimindo o seu indispensável viés constitucional, na linha do modelo constitucional de processo penal adotado, devidamente de acordo com as últimas reformas processuais, enquanto premissa para desenvoltura dos capítulos deste livro, de modo que os leitores percebam a aplicação prática de todos os delineamentos postos como comandos indissociáveis ao operário do direito no trato da prisão e soltura. Os modelos propostos, assim, guardam similitude, justamente, para comprovar o que será percebido pelos leitores, que os fundamentos cons- titucionais são antecedentes lógicos que devem obrigatoriamente guiar o aplicador do direito, daí porque, as adaptações compreendem a função do Advogado, do representante do Ministério Público e do Juiz. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 4 Quanto aos modelos em si, é imperioso que se esclareça que, para o caso prático concreto, devem os leitores fazer a sua devida adequação. Vale lembrar que, com o fi to de facilitar a leitura da peça, se informou especifi cadamente aos usuários, em cada parágrafo, a necessidade de fazer as adequações pertinentes ao modelo. No entanto, nos casos mais essenciais, destacou-se no corpo de cada peça processual a pertinência da adequação, trazendo maiores elementos. Frisa-se ainda que a fi losofi a deste trabalho é, justamente, induzir ao operário do direito, seja ele Advogado, Promotor ou Juiz, a necessidade de fundamentar a partir dos elementos concretos, e nunca se fazer remissões abstratas de expressões normativas, quer constitucionais ou não, sem a devida concatenação com as peculia- ridades de cada caso, pois são justamente elas que irão justifi car ou não a prisão provisória da pessoa. Preferiu-se a técnica da repetição suave da argumentação jurídica, constitucional, legal e particularizada, pelo que será possível observar, que sem se descurar da fundamentação do caso à realidade concreta de sua aplicação, sinteticamente, explicitada em cada peça, equilibrou-se, pelo manejo de linguagem não cansativa, uma peça concisa, porém plenamente capaz de substanciar as diversas atividades jurídicas, tudo na linha da campanha hodiernamente existente de simplifi cação da linguagem jurídica. Por outro lado, prestigiou-se a força atual dos precedentes, motivo pelo qual em cada peça viu-se enxertada uma jurisprudência na linha ado- tada na parte teórica, com intuito de estimular o leitor ao novo modelo que o Direito Brasileiro tende a incrementar, com a assunção das decisões judiciais como fonte direta do Direito, já que as Súmulas e jurisprudên- cias, de um modo geral, são uma realidade com a qual os operários do Direito terão que se acostumar, principalmente nessa matéria, na qual o STF vem hodiernamente se manifestando com caráter orientador de toda a atuação judicial. 2. MODELOS EM ESPÉCIE 2.1 Atos do advogado 2.1.1 Modelo de petição em relaxamento de prisão em fl agrante Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ (colocar a Vara Criminal) Vara Criminal da Comarca de _________/____ (colocar nome da Comarca e Estado): Ref. ao Proc. ____________ (colocar o número do processo) MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL5 Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu), individualizado em autos de Inquérito Policial instaurado em seu desfavor, por força de auto de fl agrante de delito, tombado sob o número de registro cronológi- co _____________ (preencher com o número do processo ou inquérito), por defensor constituído, ut instrumento de mandato junto, com endereço para intimações na ___________(colocar o endereço), vem perante Vossa Excelência requerer o RELAXAMENTO DA CUSTÓDIA FLAGRAN- CIAL contra o mesmo imposta, tudo o que, procede com fulcro no artigo 5.º, inciso LXV, da Constituição Federal e forma prescrita no artigo 302 do Código de Processo Penal, consoante razões de fato e de direito, a seguir delineadas: 1. O Requerente, em 1.º de janeiro de 2009, restou autuado em fl agrante delitivo, pela suposta prática do tipo penal previsto no artigo 155, § 1.º, do Código Penal. (narrar a situação que ensejou o fl agrante, mencionando data e tipo penal em que incurso o fl agranteado) 2. Constata-se, contudo, a ilegalidade da custódia fl agrancial imposta ao fl agranteado, conquanto a situação em que ocorrida à prisão do peti- cionante, não se enquadra em quaisquer das situações legais prescritas no artigo 302 do pergaminho processual penal, não se vislumbrando, assim, regularidade no ato do seu encarceramento precoce, já que a prisão sequer atende as formalidades recentemente alteradas pela reforma processual no tocante a imediata comunicação que se deve fazer a autoridade judiciária. (Adaptar a redação ao caso concreto, e esta última parte só deve ser inse- rida caso se verifi que irregularidade formal no tocante ao descumprimento da imediata comunicação a autoridade judiciária, o que infelizmente ocorre na maioria dos casos) 3. O requerente é acusado de crime de furto e já se encontra preso precocemente, não obstante, quando de sua detenção, ocorrida no dia se- guinte ao fato e sem qualquer perseguição, foi encontrado sem a posse de qualquer objeto que o ligue ao delito, tornando por demais questionável a legalidade, no aspecto substancial, do seu encarceramento, na realidade, verdadeiramente arbitrário. (adaptar a redação ao caso concreto) 4. A Constituição Federal, sob os auspícios do postulado da presunção de não-culpabilidade, fazendo valer o Estado Constitucional Democrático de Direito, assegurou no inciso LXII do seu artigo 5.º, o direito indivi- dual fundamental de que “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada”. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 6 5. A fi nalidade da providência legal é justamente permitir, quando da prisão fl agrancial – única modalidade de encarceramento precoce, admitida no ordenamento processual penal, sem prévia e fundamentada análise ju- risdicional –, o rápido controle judicial de sua regularidade formal, como condição de sua continuidade, o que infelizmente não ocorreu neste caso. (na esteira do dito na última parte do comentário supra, somente no caso de ataque a esta formalidade, já que o modelo se aplicará quando não presente a situação de fl agrância no aspecto substancial) 6. Compulsando os autos, assim, constata-se não preenchidas as condições mínimas necessárias à regularidade do ato de encarceramento precoce obsequiado na via administrativa do fl agrante de delito. 7. Com efeito, colhe-se do auto de prisão, que o ilícito penal a qual foi imputado o fl agranteado, teria ocorrido no período do descanso noturno, tanto que incidente na capitulação da autoridade policial, a ma- jorante do § 1.º do artigo 155 do Código Penal, tendo, contudo, a prisão do inculpado, somente ocorrido na manhã seguinte e, consoante a própria narrativa do condutor, sem que houvesse perseguição. (adaptar a redação ao caso concreto, mostrando que na situação em que se combate também não se comprovou a materialidade do estado de fl agrância) 8. Outrossim, consoante já narrado, impõe-se observar que não foi encontrado na posse do fl agranteado qualquer bem que pudesse relacioná- lo ao ilícito penal em apuração, tudo, a perfazer clara, a inocorrência de qualquer fi gura fl agrancial que autorizasse a detenção prévia, mesmo que, sob o amplo delineamento dos doutrinariamente denominados quase fl agrante e fl agrante presumido, modalidades de custódia precoce adotadas no Direito Processual Positivo Pátrio, ex vi da inteligência contida nos incisos III e IV, do artigo 302, do Código de Processo Penal. (adaptar a redação ao caso concreto) 9. A prisão em fl agrante de delito, única modalidade de encarce- ramento precoce no Direito Pátrio, que ocorre sem prévia averiguação judicial, é via excepcionalíssima de constrição à liberdade, cujos requisi- tos legais devem vir muito bem demonstrados em elementos concretos, sem o que, erige-se o aprisionamento indevido em ato ilegal, passível de correção incontinenti pelo aplicador da lei, ex vi do preceito contido no inciso LXV, do artigo 5.º, da Constituição Federal, que erigiu em sede de direito e garantia fundamental individual a premissa de que toda prisão ilegal deve ser imediatamente relaxada pela autoridade judicial que dela tome conhecimento. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 7 10. Em casos análogos já decidiu assim o Superior Tribunal de Justiça dentro da linha constitucional de necessidade de se apontar os elementos concretos: CRIMINAL. HC. HOMICÍDIO QUALIFICADO E INCÊNDIO. FLA- GRANTE IMPRÓPRIO. NULIDADE. ESTADO FLAGRANCIAL NÃO CONFIGURADO. PACIENTE PRESO EM SUA RESIDÊNCIA NO DIA SEGUINTE AO CRIME. AUSÊNCIA DE PERSEGUIÇÃO. RELAXAMENTO DETERMINADO, COM A RESPECTIVA SOLTURA, MEDIANTE CON- DIÇÕES. AUSÊNCIA DE PROVAS DA PARTICIPAÇÃO DO RÉU NOS CRIMES. IMPROPRIEDADE DO WRIT. REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. QUALIFICADORAS. EXCLUSÃO. TEMA NÃO ANALISADO PELA CORTE DE ORIGEM. SUPRESSÃO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS DO ACUSADO. INOCORRÊNCIA. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA, E, NESSA EXTENSÃO, CONCEDIDA EM PARTE. I. Hipótese em que o impetrante sustenta a ilegalidade do fl agrante, eis que o paciente só teria sido preso no dia seguinte ao crime, sem que houvesse sido perseguido. II. Tendo o réu sido encontrado em sua própria residência, no dia seguinte aos eventos, não resta caracterizado o estado de fl agrância exigido. III. Fato que não se adéqua à hipótese de fl agrante impróprio, bem como às demais modalidades de fl agrância previstas no rol taxativo do art. 302 do CPP, pois, quando da sua prisão, o paciente não estava cometendo as infrações ou sequer havia acabado de cometê-las, não tendo ainda sido apreendido, logo após os crimes, em circunstância que fi zesse presumir ser ele o autor dos delitos. IV. Pronúncia que não trouxe fundamentação hábil a respaldar a segregação, limitando-se a referir à gravidade do delito e ao fato de ter o paciente permanecido preso durante a instrução. V. Não obstante o posicionamento reiterado desta Corte no sentido da manutenção do acusado na prisão, após a sentença de pronúncia, se foi mantido preso durante toda a instrução processual, não deve prevalecer tal entendimen- to no caso dos autos, pois, como visto, a prisão em fl agrante mostra-se ilegal. VI. A impetração sustenta a ausência de provas da participação do acusado, contudo, a aferição dos argumentos apresentados demandaria análise do conjunto fático-probatório, inviável em sede de habeas corpus. VII. A via estreita do writ é incompatível com a investigação probatória, nos termos da previsão constitucional que o institucionalizou como meio próprio à preservação do direito de locomoção, quando demonstrada ofen- sa ou ameaça decorrente de ilegalidade ou abuso de poder. VIII. No que tange à apontada impossibilidade de comunicação das qualifi cadoras, não se conhece da alegação,pois não há acórdão do Tribunal a quo a respeito do assunto, motivo pelo qual o exame do tema por esta Corte confi guraria indevida supressão de instância. IX. Denúncia que atende aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, uma vez que se vislumbra a exposi- ção do fato criminoso, com suas circunstâncias, assim como a qualifi cação do acusado, a classifi cação do crime, além do oferecimento do rol de testemunhas. X. Ausência de qualquer imprecisão quanto aos fatos atribuí- dos ao paciente, hábil a impedir a compreensão da acusação formulada e MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 8 prejudicar a necessária defesa, tampouco exagero da narração fática. XII. Deve ser relaxado o fl agrante efetivado contra o paciente, determinando-se a imediata expedição de alvará de soltura em seu favor, se por outro motivo não estiver preso, mediante condições a serem estabelecidas pelo Julgador de 1º grau, sem prejuízo de que venha a ser decretada a custódia cautelar, com base em fundamentação concreta. XIII. Reconhecida a ilegalidade da prisão em fl agrante, resta prejudicado o argumento de excesso de prazo na custódia do réu. XIV. Ordem parcialmente conhecida e concedida em parte, nos termos do voto do Relator. (HC 66.616/SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 22/05/2007, DJ 25/06/2007 p. 264) Grifo nosso. (Indicar esse acórdão ou outro dentro dessa linha de não confi guração do estado de fl agrância) 11. Neste sentido, ante as circunstâncias em que se deu a prisão do requerente, nas quais se faz visível sua ilegalidade, por ausência de quadro de fl agrante de delito, mister é a cessação da manutenção do encarceramento precoce do fl agranteado, posto que medida de exceção e sempre passível de aplicação em interpretação temperada da norma processual em cotejo com o postulado constitucional da presunção de não-culpabilidade. 12. Deste modo, pelo argumentado, com fulcro na inteligência da disposição contida no artigo 5.º, inciso LXV, da Constituição Federal e artigo 302 do Código de Processo Penal, requer a Vossa Excelência que, reconhecendo o vício de que revestida a custódia fl agrancial vergastada neste pleito (indicar se o vício é material ou formal, ou então os dois na forma exposta nos comentários), se digne declarar sua ilegalidade, determinando, em conseqüência, o imediato relaxamento da prisão fl agrancial imposta em desfavor de Fulano de Tal (substituir pelo nome do detido); de tudo, ainda, determinando a expedição do competente alvará de soltura. São os termos em que, Pede e espera deferimento. (Data e local) Advogado – OAB ____ 2.1.2 Modelo de petição de liberdade provisória vinculada com fi ança Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ (colocar a Vara) Vara Criminal da Comarca de _________/____ (colocar nome da Comarca e Estado): Ref. ao Proc./Inq. ____________ (colocar o número do processo ou inquérito) MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 9 Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu), individualizado em autos de AÇÃO PENAL/INQUÉRITO defl agrado (a) em seu desfavor, tombado sob o número de registro cronológico _____________ (preencher com o número do processo ou inquérito), por defensor constituído, ut instrumento de mandato junto, com endereço para intimações na ___________,, vem perante Vossa Excelência requerer CONCESSÃO DE LIBERDADE PRO- VISÓRIA VINCULADA COM FIANÇA, tudo o que procede com fulcro no artigo 5.º, inciso LXVI, da Constituição Federal e na forma prescrita no artigo 321 e seguintes do Código de Processo Penal, consoante razões de fato e de direito, a seguir delineadas: 1. O Requerente, em 1.º de janeiro de 2009, restou autuado em fl agrante delitivo, pela suposta prática do tipo penal previsto no artigo 155, § 4.º, inciso II, do Código Penal, cujo auto fl agrancial restou for- malmente homologado por este juízo. (narrar a situação que ensejou o fl agrante, mencionando data e tipo penal em que incurso o fl agranteado) 2. Constata-se, contudo, a desnecessidade da manutenção da custódia cautelar, porquanto ausentes fatos desabonadores da vida pregressa do fl a- granteado, consoante demonstram os documentos juntos (juntar certidões, se o caso), não se vislumbrando, ainda, por outro lado, a conformação de qualquer elemento justifi cador do encarceramento precoce. (Argumento de reforço sempre é recomendável) 4. O requerente, outrossim, não se apresenta como elemento nocivo ao convívio social, conquanto apesar da prática delituosa que, em tese, lhe é imputada, dada sem qualquer violência à pessoa, no seu suposto conduzir delituoso, não se denotou maior periculosidade. 5. A Constituição Federal, sob os auspícios do postulado da presunção de não-culpabilidade, fazendo valer o Estado Constitucional Democrático de Direito, assegurou no inciso LXVI do seu artigo 5.º, o direito indivi- dual fundamental de que “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fi ança”. 6. No caso concreto, assim, tem aplicação a inteligência da expressão normativa preconizada no artigo 321 e seguintes do Código de Processo Penal, no que, recepcionada pelos valores constitucionais vigentes, re- comendam que, ausentes os motivos autorizadores da prisão preventiva, não se justifi ca a custódia cautelar, impondo-se a concessão da liberdade provisória mediante vinculação econômica. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 10 7. Frise-se, por fi m, em reforço argumentativo, não ser preciso um compulsar mais detido dos autos, para perceber que o requerente não é indivíduo contumaz na senda delituosa, bem assim, não se informa, repita-se, qualquer elemento processual que revele intenção de fuga ou atuação de modo à por em risco a conveniência da instrução processual, não sendo, assim, devido presumir que solto encontrará estímulos para delinqüência. 8. No caso em tela, pois, resulta inequívoca a aplicação das regras positivadas no Texto Constitucional e pergaminho processual penal, no que informam a obrigatoriedade de ser cessada a custódia cautelar do reque- rente, no que não demonstrada, nesse caso em concreto, a necessidade, razoabilidade e proporcionalidade da manutenção do seu encarceramento precoce. 9. Nesse sentido é o que já decidiu a nossa mais alta Corte de Justiça: EMENTA: HABEAS-CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. MEDIDA EXCEPCIONAL QUE EXIGE FUNDAMENTAÇÃO SUBSTANCIAL. POSSIBILIDADE DE LIBERDADE PROVISÓRIA MEDIANTE FIANÇA. CENSURÁVEL ANTECIPAÇÃO DA EXECUÇÃO DA PENA. 1. É de ter-se por razoavelmente fundamentada a decisão que decreta a prisão pre- ventiva tendo em vista a conveniência da instrução criminal, notadamente porque os acusados “foram presos por delitos devidamente demonstrados.” 2. Concedida medida liminar para determinar que os acusados aguardem em liberdade a prolação da sentença e não constando haverem concorrido para obstaculizar a instrução criminal, não subsiste razão para que a limi- nar seja cassada. 3. In casu, a privação da liberdade constitui censurável antecipação de execução provisória de eventual decisão condenatória, confl i- tando com o preceito constitucional contido no inciso LXI do artigo 5º. 4. Liberdade provisória que se impõe, mormente porque a pena se enquadra em quantidade que permite a fi ança. Habeas-corpus deferido. (HC 80.277, Relator(a): Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, julgado em 20/03/2001, DJ 04-05-2001 PP-00004 EMENT VOL-02029-03 PP-00581) (Citar este ou qualquer outro acórdão no sentido desejado, a título ilustrativo ou de reforço de argumentação). 10. Isto posto, pelo argumentado, requer a Vossa Excelência se dig- ne conceder ao Requerente, liberdade provisória vinculada com fi ança, em valor a ser fi xado por este juízo, tudo, ainda, a ser dado mediante compromisso de estilo, determinando a expediçãodo competente alvará de soltura. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 11 São os termos em que, Pede e espera deferimento. (Data e local) Advogado – OAB ____ Nota: O leitor deve atentar, quando o caso, se é a hipótese de ainda não ter sido defl agrada a persecução penal em juízo, bem assim, a pos- sibilidade do requerimento de concessão da fi ança ser dirigido à própria autoridade policial, muito embora, neste ponto, frise-se a preferência por um modelo de requerimento para a autoridade jurisdicional, conquanto os delitos que autorizam o Delegado a decidir quanto à fi ança, estão com- preendidos dentro do Micro Sistema dos Juizados Especiais Criminais, respeitadas as hipóteses do artigo 322 do Código de Processo Penal, cuja excepcional situação de cabimento do auto de fl agrante restou comentada no capítulo próprio. 2.1.3 Modelo petição requerendo liberdade provisória vinculada sem fi ança Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ (colocar a Vara Criminal) Vara Criminal da Comarca de _________/____ (colocar nome da Comarca e Estado): Ref. ao Proc. ____________ (colocar o número do processo) Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu), individualizado em autos de AÇÃO PENAL promovida em seu desfavor pelo Ministério Público Estadual/Federal (especifi car a parte ativa), cujo feito tem trâmite junto ao Juízo desta Vara Criminal, sob o número de registro cronológico _____________ (preencher com o número do processo), por defensor cons- tituído, ut instrumento de mandato junto, com endereço para intimações na ___________,, vem perante Vossa Excelência requerer CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA VINCULADA, sem fi ança, com esteio no artigo 5.º, inciso LXVI, da Constituição Federal e na forma do preceito contido no artigo 310, parágrafo único, do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito, a seguir delineadas: MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 12 1. O Requerente, em 1.º de janeiro de 2009, restou autuado em fl agrante delitivo, pela suposta prática do tipo penal previsto no artigo 14 da Lei 10.826/2003, cujo auto fl agrancial restou formalmente homologado por este juízo. (narrar a situação que ensejou o fl agrante, mencionando data e tipo penal em que incurso o fl agranteado) 2. Não houve requerimento de fi ança, tendo, ainda, o Ministério Público ofertado denúncia crime que restou recebida por este juízo. 3. O requerente ainda se encontra detido, apesar da patente des- necessidade da custódia cautelar, porquanto ausentes fatos desabonadores da vida pregressa do fl agranteado, consoante demonstram os documentos juntos (juntar certidões, se o caso), não se vislumbrando, ainda, por outro lado, a conformação de qualquer elemento justifi cador do encarceramento precoce. 4. O requerente, outrossim, é acusado que não se apresenta como elemento nocivo ao convívio social, conquanto apesar da prática delituosa que, em tese lhe é imputada no seu suposto conduzir delituoso, não se denotou maior periculosidade. 5. A Constituição Federal, sob os auspícios do postulado da presunção de não-culpabilidade, fazendo valer o Estado Constitucional Democrático de Direito, assegurou no inciso LXVI do seu artigo 5.º, o direito indivi- dual fundamental de que “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fi ança”. 6. No caso concreto, assim, tem aplicação a inteligência da expressão normativa preconizada no parágrafo único do artigo 310 do Código de Processo Penal, no que recepcionada pelos valores constitucionais vigentes. Destarte, ausentes os motivos autorizadores da prisão preventiva, não se justifi ca a custódia cautelar, impondo-se a concessão da liberdade provi- sória, com ou sem vinculação econômica. (Sempre é bom que se deixe o Juiz à vontade para impor uma fi ança como condição de garantia, ou seja, hoje, como visto, a tendência é se criar meios alternativos à própria restrição da liberdade, principalmente sendo essa provisória, logo a fi ança deve ser mais bem utilizada, inclusive o projeto de lei comentado na obra e que em breve será aprovado trata justamente de outras medidas cautelares, priorizando a fi ança) MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 13 7. Ora, não é preciso um compulsar mais detido dos autos, para se perceber claramente que o requerente não é indivíduo contumaz na senda delituosa, bem assim, não se informa qualquer elemento processual que revele intenção de fuga ou atuação de modo a por em risco a conveni- ência da instrução processual, não sendo, assim, razoável presumir que solto encontrará estímulos para delinqüência. Este tipo de fato deveria estar devidamente comprovado, mesmo que em probabilidade, o que não é o caso. 8. No caso em tela, pois, resulta inequívoca a aplicação das regras positivadas no Texto Constitucional e pergaminho processual penal, no que informam a obrigatoriedade de ser cessada a custódia cautelar do requerente, no que não demonstrada, no caso em concreto, a necessidade, razoabilidade e proporcionalidade da manutenção do seu encarceramento precoce. 9. Nesse sentido é o que já decidiu o STJ e a Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte: HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO QUALIFICADO – ROUBO CIRCUNS- TANCIADO – LIBERDADE PROVISÓRIA – DECISÕES DE PRIMEIRA E SEGUNDA INSTÂNCIA QUE SEQUER CITAM OS REQUISITOS LEGAIS – NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO COM DADOS CONCRETOS – BOAS CONDIÇÕES PESSOAIS – ORDEM CONCEDIDA. 1- A prisão processual é medida excepcional e deve ser mantida apenas quando devidamente amparada pelos requisitos legais, em observância ao princípio constitucional da não culpabilidade. 2- A ausência de qualquer destaque a fatos concretos distintos da própria prática delituosa, evidencia-se a ilegalidade da manutenção do cárcere. 3- Deve ser cassada a decisão monocrática indeferitória do pedido de revogação da prisão e o acórdão recorrido, que a confi rmou, para conceder- lhe liberdade provisória, determinando a expedição de alvará de soltura em seu favor, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que venha a ser decretada novamente a segregação, com base em fundamen- tação concreta. 4- Ordem concedida. (HC 96.516/PR, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 18/03/2008, DJe 14/04/2008) (Citar este ou qualquer outro acórdão no sentido, a título ilustrativo). MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 14 “PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO COM USO DE ARMA. PRISÃO EM FLAGRANTE. PEDIDO DE LIBERDADE PROVI- SÓRIA. INDEFERIMENTO. GRAVIDADE DO DELITO. INEXISTÊNCIA DE FATOS CONCRETOS. AUSÊNCIA DE MOTIVOS PARA A SEGRE- GAÇÃO CAUTELAR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. O indeferimento de pedido de Liberdade provisória deve ser fundamentado em elementos e fatos concretos, os quais, de modo objetivo, indiquem a necessidade da prisão preventiva com base em uma das hipóteses prescritas no art. 312 do CPP. 2. A mera gravidade do delito e simples considerações subjetivas não são sufi cientes para justi- fi car a custódia cautelar, sob o argumento da garantia da ordem pública e do prestígio da justiça, mormente quando o paciente é primário, com bons antecedentes, tem residência fi xa e profi ssão defi nida. 3. Ordem concedida.” (HC 2005.006191-7, j. 15.12.2005.) (Citar este ou qualquer outro acórdão no sentido, a título ilustrativo). 10. Na espécie, ante as circunstâncias do fato é, pois, possível aferir a desnecessidade da manutenção do encarceramento precoce do fl agrante- ado, ora requerente, posto que medida de exceção e sempre passível de aplicação, em interpretação temperada da norma processual em cotejo com o postulado constitucional da presunção de não-culpabilidade. 11. Isto posto,pelo argumentado, requer a Vossa Excelência, após colheita da manifestação prévia do Ministério Público, se digne conce- der ao Requerente, liberdade provisória vinculada sem fi ança, mediante compromisso de comparecimento aos atos do processo, de tudo, ainda, determinando, em seguida, a expedição de competente alvará de soltura. São os Termos em que, Pede e espera deferimento. (Data e local) Advogado – OAB ____ 2.1.4 Modelo de petição em revogação de prisão preventiva Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ (colocar a Vara Criminal) Vara Criminal da Comarca de _________/____ (colocar nome da Comarca e Estado): Ref. ao Proc. ____________ (colocar o número do processo) MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 15 Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu), individualizado em autos de AÇÃO PENAL promovida em seu desfavor pelo Ministério Público Estadual/Federal (especifi car a parte ativa), cujo feito tem trâmite junto ao Juízo desta Vara Criminal, sob o número de registro cronológi- co _____________ (preencher com o número do processo), por defensor constituído, ut instrumento de mandato junto (especifi car se for defensor dativo), com endereço para intimações na ___________,, vem perante Vossa Excelência requerer REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA decretada em seu desfavor, tudo o que procede na forma do artigo 5.º, inciso LVII, da Constituição Federal e artigo 316 do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito, a seguir delineadas: 1. O Requerente, que responde a processo criminal no qual lhe é imputada a prática do ilícito penal previsto no artigo 214 combinado com o artigo 224, alínea “a”, ambos do Código Penal pátrio e artigo 9.º da Lei n. 8.072/1990 (preencher conforme o tipo penal), tendo no dia 04 de março de 2009, na rua em que possui residência, sido detido e encarcerado precocemente, força de decreto de prisão de prisão preventiva da lavra deste Douto Juízo. (adequar o caso concreto conforme a necessidade) 2. A prisão processual, dada pela suposta necessidade de assegurar a aplicação futura da lei penal, foi motivada por provocação do órgão do Ministério Público, que, por sua vez, valeu-se de equivocada informação constante nos autos de Inquérito Policial, já que o requerente, diferen- temente do alegado, nunca se ausentou de onde reside, não havendo qualquer amparo em fatos que justifi que tal ilação. (narrar a situação que motivou, indevidamente, o decreto de prisão preventiva, ou seja, pode ter sido para garantia da ordem pública ou econômica ou então conveniência da instrução criminal) 3. A Constituição Federal, sob os auspícios do postulado da presunção de não-culpabilidade, fazendo valer o Estado Constitucional Democrático de Direito, assegurou no inciso LVII do seu artigo 5.º, o direito individual fundamental de que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”. 4. É a consagração, em berço constitucional, da natureza cautelar que deve envolver toda e qualquer prisão que anteceda a condenação transitada em julgado, que, assim, só será justifi cada quando fundada na demonstração, em cada caso concreto, da necessidade, razoabilidade e proporcionalidade do cárcere ao resultado útil do processo penal ou a própria segurança social. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 16 5. Foi, assim, recepcionado, em sua totalidade, o estatuído no artigo 316 do Pergaminho Processual Penal: “[...] O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verifi car a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá–la, se sobrevierem razões que a justifi que”. 6. Referida disposição legal, tem, pois, aplicação ao caso dos au- tos. 7. Ora, o decreto preventivo contra o referido réu, como dito, foi consubstanciado em requerimento do Ministério Público, no sentido da decretação de prisão preventiva, sob a assertiva de se encontrar o acusado Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu) em lugar incerto e não sabido. (adaptar conforme o caso e de acordo com uma das fundamentações) 8. Ocorre que, inconsistente, tal ilação inverídica não encontra qualquer suporte nos autos, bastando, a tanto, verifi car as condições em que foi materializada a ordem de prisão preventiva, donde se pode constatar que o réu foi preso, nesta cidade, sem qualquer difi culdade na sua localiza- ção pela autoridade policial, o que demonstra que jamais se ausentou do distrito da culpa, como, inicialmente fazia crer a informação do relatório fi nal de Inquérito policial. (adaptar conforme o caso) 9. Igualmente, é acusado que não pretende se ausentar do distrito culpa, máxima até da idade avançada que possui, ser nascido e criado nesta cidade e não possuir parentes em outros lugares. (adaptar conforme o caso, sempre apontando em específi co que não se encontra presente em nenhuma das situações previstas na expressa normativa do artigo 312, devendo, por conseguinte, ser aplicado o contido no art. 316 do CPP) 10. Afora estes dados concretos, já sufi cientes a jogar por terra a motivação da segregação processual, não há como se descurar do fato de que se tencionasse o acusado se subtrair à aplicação da lei penal, teria feito, pois oportunidades não lhes faltaram. O Inquérito Policial foi instaurado em 1.º de fevereiro de 2009, e este foi ouvido pela autoridade policial dois dias depois da instauração do procedimento investigativo, to- mando, assim, conhecimento do mesmo; sendo que a sua prisão preventiva somente foi decretada, após denúncia, em 04 de março de 2009, quando, então, o réu preso foi preso no mesmo dia da expedição do mandado de prisão, na rua onde reside. (adaptar conforme o caso) MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 17 11. Compreende-se, assim, que a situação do acusado Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu), que, inclusive, é possuidor de primariedade, bons antecedentes, residência fi xa e profi ssão defi nida, é de prisão ilegal, já que não existiu, em qualquer instante, intenção de se subtrair a aplica- ção da lei, nem há no processo qualquer fato concreto que neste sentido informe, de modo que é crível perceber, no seu caso, não se faz presentes as condições legais autorizadoras da sua custódia provisória, que, assim, por força do postulado constitucional da presunção de não-culpabilidade, urge ser cessada. 12. Nesse sentido é o que já decidiu o STF e por maioria, o Pleno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, em acórdão que teve em sua relatoria o Desembargador João Rebouças: EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PRISÃO PREVEN- TIVA. FUNDAMENTOS INIDÔNEOS. GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME, REPERCUSSÃO SOCIAL, CLAMOR PÚBLICO E HEDIONDEZ – Circunstâncias que não servem à decretação da prisão cautelar, consoante reiterada jurisprudência desta Corte. ILAÇÕES QUANTO À SENSAÇÃO DE DESTEMOR À LEI E DE INTRANQÜILIDADE SOCIAL – Igualmente, não justifi cam a medida excepcional de segregação ante tempus, a qual requer indicação de base concreta idônea. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL, FUNDADA NO RECEIO DA ELIMINAÇÃO DE PROVAS – Prolatada a sentença de pronúncia, há de afastar-se a justifi cativa do receio de eliminação de provas. O artigo 316 do Código de Processo Penal prevê a revogação da prisão cautelar, no curso do processo, quando exauridos os motivos de sua subsistência. OBSERVAÇÕES RESPEITANTES AO PERFIL DO PACIENTE – Não servem para fundamentar a prisão preventiva como garantia da aplicação da lei penal. Devem ser invocadas quando da análi- se das circunstâncias judiciais, para fi ns do cálculo da pena-base. Ordem concedida. (HC 86374, Relator (a): Min. EROS GRAU, Primeira Turma, julgado em 18/04/2006, DJ 06-10-2006 PP-00050 EMENT VOL-02250-03 PP-00559) (Citar este ou outro acórdão assemelhado) “CONSTITUCIONAL E PROCESSUALPENAL. HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. CRIME EM TESE DE PORTE ILEGAL DE ARMA. DENEGAÇÃO DE PLEITO DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR. AUSÊNCIA DE RAZÕES PLAUSÍVEIS PARA A MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO QUE NÃO SE COADUNA COM OS PRINCÍPIOS CAPITULADOS PELA ATUAL CARTA MAGNA. PERÍODO DE TRANSIÇÃO. POSSIBILIDADE DE REGULARIZAÇÃO OU ENTREGA DE ARMAS À POLÍCIA FEDERAL (LEI 10.826, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003 – DOU 23.12.2003). CONDIÇÕES PESSOAIS OBJETIVAS E SUBJETIVAS FAVORÁVEIS AO PACIENTE. COAÇÃO CARACTERIZADA. REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR. CO- MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 18 NHECIMENTO E PROVIMENTO DA ORDEM. Nos termos da Medida Provisória 174, de 18 de março de 2004, ainda não fi ndaram os prazos para regularização ou entrega de armas de fogo e considerar incidente, apesar de já vigente, o tipo do art. 21 da Lei de Regência, seria consagrar o absurdo, porque estaria a punir criminalmente o possuidor de arma de fogo sem registro, ainda dentro do prazo de que ele dispõe para fazer a entrega da mesma à Polícia Federal, passível até de indenização ou, a seu critério, promover a regularização do registro da mesma arma, cuja origem lícita poderia ser comprovada pelos meios de prova em direito admitidos.” (TJRN, HC, Relator: Des. João Rebouças, Publicação: 30.12.2004) (Citar este ou outro acórdão assemelhado) 13. Deste modo, diante situação evidenciada nos autos, devido é concluir da necessidade da revogação da prisão preventiva imposta ao acusado Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu), dês que revelada, em nova e clara ótica processual, não presentes motivos para que subsista o cárcere preventivo. 14. Isto posto, pelo argumentado, requer a Vossa Excelência, após ouvida regular do Ministério Público, não mais presentes as razões que ensejaram a decretação da custódia provisória do inculpado Fulano de Tal (substituir pelo nome do réu), com fundamento na inteligência do artigo 5.º, inciso LVII, da Constituição Federal e na forma prevista no artigo 316 do Pergaminho Processual Penal, se digne a revogar o decreto de prisão preventiva proferido, nos presentes autos, em face deste, restauran- do, assim, o status libertatis do requerente, de tudo, ainda, determinando a expedição de competente alvará de soltura. São os termos em que, Pede e espera deferimento. (Data e local) Advogado – OAB ____ 2.1.5 Modelo de petição em habeas corpus Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ (colocar a Vara Criminal) Vara Criminal da Comarca de _________/____ (colocar nome da Comarca e Estado): Ref. ao Inquérito ou Processo. ____________ (colocar o número do inquérito ou processo) MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 19 Sicrano de Beltrano (substituir pelo nome do advogado ou qualquer outra pessoa, em face da legitimidade ampla desta ação constitucional), nacionalidade (preencher), estado civil (preencher), profi ssão (preencher), residente e domiciliado à (fazer a devida individualização), vem à presen- ça de Vossa Excelência, com apoio no art. 5.º, LXVIII, da Constituição Federal e nos termos dos arts. 647 e 648, I, do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de HABEAS CORPUS com pedido de Liminar em favor de Fulano de Tal, nacionalidade (preencher), estado civil (preencher), profi ssão (preencher), portador da CI n.º (preencher), residente e domiciliado à ___(preencher), na cidade de (fazer a devida individualização), pelas razões de fato e de direito a seguir delineadas: 1. O paciente, por determinação do Delegado de Polícia local, se encontra preso desde o dia___ (preencher) do corrente mês e ano, con- forme comprova auto de prisão em fl agrante anexo (doc. 01), sofrendo injusta coação na sua liberdade de locomoção. (narrar com detalhes a situação fática do paciente e se necessário já indicar o tipo penal que lhe foi imputado) 2. Vê-se, claramente, que do dia da prisão do indiciado até a presente data já transcorreram 12 dias, tendo a autoridade coatora, por essa razão, transgredido o que determina o art. 10 do Código de Processo Penal, a qual prescreve de forma peremptória o prazo de 10 dias para a conclusão do inquérito, em se tratando de réu preso, o que caracteriza a ilegalidade da restrição nesse estágio, pois conforme comprova a certidão do escrivão de polícia ora acostada, os autos do inquérito ainda se encontram na De- legacia. (adaptar ao caso e atacando de frente a ilegalidade quer formal, como neste caso ou material) 3. Por outro lado, além da não remessa do referido inquérito ao Poder Judiciário, até a presente data, nem mesmo se concretizou a for- mação de culpa do indiciado, o que vem a ratifi car a necessidade de sua imediata liberação, pela fl agrante ilegalidade e abuso de poder, pois não se justifi ca que o paciente fi que preso, sem uma justa causa, sendo o caso, inclusive, de trancamento da peça investigativa, como se pode vê meritoriamente pelos elementos presentes no inquérito, que em momento algum apontam conclusivamente para a pessoa do paciente como autor do delito em desate. (adaptar ao caso) MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 20 4. Patente nesse caso que se conceda liminarmente a medida ora pleiteada, em razão da comprovação cabal da presença de todos os pres- supostos necessários para o seu deferimento, inclusive sem necessidade da ouvida da autoridade coatora. 5. A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra-se devidamente caracterizada nesta situação, pela não conclusão do inquérito dentro do decêndio legal e ainda o fato de não haver formação da culpa até este momento, motivos mais do que sufi cientes para a caracterização do fumus boni iuris. (adaptar ao caso) 6. Já a incidência do periculum in mora reside no simples fato de que a sua constrição atual indevida lhe causará danos irreparáveis, pois é cediço que a prisão precoce é circunstância excepcional e precisa restar devidamente comprovada e no caso presente, na realidade, em nenhum momento tal fato ocorreu, o que compete a Vossa Excelência fazer imediatamente cessar, concretizando o direito e garantia fundamental do paciente quanto a sua liberdade, sendo esse remédio heróico a garantia para a sua imediata fruição. 7. Não é outro o entendimento da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia, inclusive, assegurando liminarmente o direito fundamental de liberdade do cidadão, senão vejamos: “HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO PARA ENVIO DO INQUÉRITO POLICIAL. CA- RACTERIZA-SE CONSTRANGIMENTO ILEGAL QUANDO OS PRAZOS PROCESSUAIS NÃO SÃO OBSERVADOS E O EXCESSO NÃO É ATRI- BUÍDO À DEFESA, SUPERANDO CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE. CONDIÇÕES FAVORÁVEIS DO PACIENTE. DESNECESSIDADE DA CUSTÓDIA. INTEGRAÇÃO DA LIMINAR. CONCESSÃO DA ORDEM.” Relator: Des Antônio Lima Farias. (Citar este ou outro acórdão no sentido desejado) 8. Diante de todos esses fatos, devidamente comprovados de plano, requer se digne Vossa Excelência em conceder liminarmente a ordem de Habeas Corpus, expedindo-se o competente alvará de soltura, bem assim, após a colheita de informações da autoridade coatora, se digne de julgar procedente em sua totalidade o presente writ, concedendo, em defi nitivo, a ordem para o fi m de restabelecer o status libertatis do paciente, deter- minando, ainda, o trancamento do inquérito noticiado (verifi car se já é MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 21 o caso de ação penal) por patente ilegalidade e ausência de justa causa, devendo a autoridade coatora ser cientifi cada da decisão para adoção das providências pertinentes. São os termos em que, Pede e espera deferimento. (Data e local) Advogado – OAB ____ 2.1.6 Modelo de petição de ação de indenização por danos morais e materiais EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTORJUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS FAZENDÁRIAS DA COMARCA DE ___(preencher), ESTADO DO ___(preencher), A QUEM ESTA COUBER POR DISTRI- BUIÇÃO LEGAL: (Pode ser o caso de uma das Varas Federais em caso da prisão processual ter sido determinada pela Justiça Federal) Fulano de Tal, (preencher com nacionalidade, estado civil, profi ssão, CPF e Identidade), residência e domicílio (preencher), por intermédio de patrono bastante, ut instrumento de procuração junto (documento 01), com endereço para intimações no timbre, vem perante Vossa Excelência, com fundamento nas disposições vertidas na linguagem escrita dos artigos 186, 944, 953 e 954, do Pergaminho Civil Brasileiro e principalmente o artigo 37, § 6.º, da Constituição Federal, promover a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS em desfavor do ESTADO DO ___/ UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na ___(preencher), Cidade e Estado, pelos fatos e fundamentos jurídicos que a seguir se passa a expor. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 22 1. DOS FATOS 1.1. Aos __ dias de ____ de ____, por volta das _____ horas, quando se encontrava em sua residência almoçando em companhia de familiares, o requerente foi detido em face de decreto de prisão preventiva proferido nos autos do processo criminal n.___, que teve trâmite junto a ___ Vara Criminal/Federal desta Comarca/Seção Judiciária, acusado da perpetração dos crimes de roubo qualifi cado e bando armado; (adequar conforme o caso em tela) 1.2. Em razão deste encarceramento precoce foi recolhido a cadeia pública do município e, não obstante inocente da imputação criminal im- posta a sua pessoa, o que ao fi nal restou revelado na persecução penal criminal, permaneceu sob prisão provisória por longos 13 meses, conquanto somente em ___ de ____ de ____, (colocar a data da soltura) quando da prolação da sentença judicial da ação penal defl agrada em seu desfavor é que foi absolvido pelo reconhecimento expresso de negativa de sua autoria, culminando, então, apenas neste momento, de cabal prova da sua inocência, a determinação da expedição de alvará de soltura em seu favor, ressalvando-se que, desde o início de tal processo, sua defesa exaltava sua inocência. (adequar esta última parte com as peculiaridades do caso) 1.3. O cárcere indevido de que foi vitimado lhe trouxe seqüelas irremediáveis, posto que sofreu grandes prejuízos materiais, visto que fi cou todo este tempo sem exercer seu labor, impossibilitado de auxiliar fi nanceiramente sua família, a qual é pobre, o que lhe também impôs inegável lesão moral, conquanto que depois de solto, apesar de absolvido, por negativa expressa de autoria criminosa, não mais logrou da confi ança das pessoas em contratá-lo para prestação de seus serviços de serventia de pedreiro, haja vista que, desde então, está estigmatizado por força da sua prisão como autor de crime patrimonial; e (adequar conforme o caso em tela) 1.4. Que todas as agruras que vivenciou nestes últimos meses da sua vida foram responsabilidade da parte requerida, pois que de sua conduta de risco – e a Jurisdição assim também o é, não se podendo negar a natureza de serviço público – acabou por lhe acarretar inegável prejuízo material e moral, porquanto mesmo depois de absolvido em processo penal no qual foi indevidamente preso, não mais conseguiu retomar à antiga vida laboral que antes possuía, bem como ao seu convívio social, pois infelizmente o preconceito na nossa sociedade é indiscutível, nascendo daí a obrigação de reparação civil pelo Poder Público, conquanto comprovado o nexo causal ligando o evento danoso e atuação da parte ré. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 23 2. DO DIREITO 2.1. O Código Civil Brasileiro, tratando da responsabilidade civil extracontratual, prescreve que: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” 2.2. Com efeito, não é preciso ir muito longe, para se perceber que na espécie, em ___ de ___ de ___ (especifi car o dia da famigerada pri- são), o requerente foi detido em face de prisão processual indevidamente decretada em seu desfavor, tanto que ao fi nal da persecução penal restou confi rmada a sua inocência, tendo permanecido detido provisoriamente – e a prisão processual se deu em regime absolutamente fechado – por treze meses de reclusão completamente ilegal, que assim lhe impôs dor moral e prejuízo material, irreparáveis no plano fático, que necessitam ser repostos fi nanceiramente, ainda que tão somente como mitigação do sofrimento impingido. (adequar conforme o caso concreto) 2.3. Neste sentido é o que enuncia o artigo 954, inciso III, do mesmo diploma legal, no que consagra indenizável a lesão decorrente de ofensa à liberdade pessoal, quando oriunda, inclusive, da prisão ilegal – aqui a abranger qualquer forma de custódia indevidamente imposta a alguém – revelando-se cabível sempre que comprovada a ilegalidade da constrição, como sucede na segregação processual que imposta a quem acusado de crime terminou ao cabo da persecução penal informado inocente. 2.4. O contexto da responsabilização civil da demandada, igualmente, encontra amparo jurídico na aferição da atuação jurisdicional enquanto, também, função estatal jungida sob a égide da responsabilidade civil objetiva, que enquanto atividade pública se subsume a teoria do risco criado, contentando-se para a obrigação de reparação do dano eventual- mente imposto a terceiros, com a mera demonstração do nexo causal e a inexistência de causas de exclusão da responsabilidade, máxima que não demonstrada, em espécie, qualquer culpa do requerente/vítima da atuação prepotente e descabida do ente Estatal, ou ainda força maior que pudesse desobrigar a requerida de sua responsabilidade de ordem objetiva. 2.5. É o que disciplina o § 6.º do artigo 37 da Constituição Federal em vigor: MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 24 “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obe- decerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência e, também, ao seguinte: [...] § 6.º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” 2.6. De fato, referido dispositivo constitucional não dá margens a controvérsias quanto a sua aplicabilidade no caso presente, tendo o Supremo Tribunal Federal, em relação à responsabilidade civil do Poder Público, já afi rmado: “A teoria do risco administrativo, consagrada em sucessivos documentos constitucionais brasileiros desde a Carta Política de 1946, confere fundamento doutrinário à responsabilidade civil objetiva do Poder Público pelos danos a que os agentes públicos houverem dado causa, por ação ou omissão. Essa concepção teórica, que informa o princípio constitucional da responsabili- dade civil objetiva do Poder Público, faz emergir, da mera ocorrência de ato lesivo causado à vítima pelo Estado, o dever de indenizá-la pelo dano pessoal e/ou patrimonial sofrido, independentemente de caracterização de culpa dos agentes estatais ou de demonstração de falta do serviço público. Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfi l da responsa- bilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o eventus damni e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a ofi cialidade da atividade causal e lesiva, imputável a agente do Poder Público,que te- nha, nessa condição funcional, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional (RTJ 140/636) e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal (RTJ 55/503 – RTJ 71/99 – RTJ 91/377 – RTJ 99/1155 – RTJ 131/417). O princípio da responsabilidade objetiva não se reveste de caráter abso- luto, eis que admite o abrandamento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil do Estado, nas hipóteses excepcionais confi guradoras de situações liberatórias – como o caso fortuito e a força maior – ou evidenciadoras de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima (RDA 137/233 – RTJ 55/50).” 2.7. Na hipótese presente, tem-se que da análise acurada dos autos é possível perceber comprovado o evento lesivo, o dano sofrido pelo requerente e o nexo causal existente entre o evento e atuação do ente Público, que nem precisaria agir desidiosamente, como o fez, face da sua MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 25 natureza de atividade de risco, tudo a gerar a conseguinte responsabilidade de indenizar, que no caso em exame, independe de culpa, daí até mesmo desnecessário sua aferição, já que não presente, repita-se, qualquer das causas de exclusão de responsabilidade, a saber: o caso fortuito e a força maior, ou, ainda, a culpa da vítima. 2.8. As seqüelas sociais advindas ao autor da lide, em razão da pri- são processual que lhe foi imposta, foram gravíssimas, sendo inegáveis as difi culdades de que, após preso, acusado por crime patrimonial, tem tido para obter a confi ança de terceiros para contratá-lo para fazer serviços de pedreiro, sua profi ssão, em residências ou estabelecimentos de outras pessoas. (adequar conforme o caso nessa última parte) 2.9. Quem vai contratar para serviços dentro da sua casa ou local de trabalho alguém que rouba dos outros? 2.10. É este o triste fardo que o autor, pela atuação indevida da parte ré, tem sido obrigado a carregar. 2.11. A atuação da parte ré, assim, impingindo encarceramento precoce a quem ao fi nal da persecução penal se revelou inocente, foi conduta que resultou em iniludível prejuízo do autor e, portanto, obriga a reparação dos danos sofridos pelo mesmo, sabido que de muito já refutada a idéia de que a atividade jurisdicional, enquanto ato de soberania, pudesse fi car alheia a tal contexto de responsabilização civil estatal. 2.12. O Estado quando atua de modo a cumprir o seu dever de ministrar a Justiça, inclusive no afã de proteger o processo criminal, ins- trumento da manifestação do jus puniendi estatal, no que impõe prévio encarceramento processual a quem ainda é, por força de expresso dispo- sitivo constitucional, artigo 5.º, inciso LVII, presumidamente não culpado, exerce atividade de risco e, se da sua atuação derivam seqüelas àquele que acusado e previamente encarcerado, deve objetivamente responder pelos efeitos danosos trazidos pelo seu agir, ex vi, como já dito, o disposto no artigo 37, § 6.º, da Constituição Federal em vigor. 2.13. Quanto ao nexo causal entre a atuação da parte ré e o evento danoso que vitimou o autor, este salta aos olhos e não reclama maiores comentários. Não tivesse sucedido a constrição à liberdade de locomoção no curso da persecução criminal, os danos da tão-só defl agração da ação MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 26 penal em face do autor deste processo, réu do feito criminal, não teria ocorrido em tamanha intensidade. É a pura aplicação do critério da eli- minação hipotética das causas, aqui inteiramente cabível, que não oferta margens de controvérsias quanto ao liame que liga a ação da parte ré ao evento sofrido pelo autor. Nesse sentido começa a se posicionar a jurisprudência, senão vejamos: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABI- LIDADE OBJETIVA. PRISÃO ILEGAL. DANOS MORAIS. 1. O Estado está obrigado a indenizar o particular quando, por atuação dos seus agentes, pratica contra o mesmo, prisão ilegal. 2. Em caso de prisão indevida, o fundamento indenizatório da responsabilidade do Estado deve ser enfocado sobre o prisma de que a entidade estatal assume o dever de respeitar, in- tegralmente, os direitos subjetivos constitucionais assegurados ao cidadão, especialmente, o de ir e vir. 3. O Estado, ao prender indevidamente o indi- víduo, atenta contra os direitos humanos e provoca dano moral ao paciente, com refl exos em suas atividades profi ssionais e sociais. 4. A indenização por danos morais é uma recompensa pelo sofrimento vivenciado pelo cidadão, ao ver, publicamente, a sua honra atingida e o seu direito de locomoção sacrifi cado. 5. A responsabilidade pública por prisão indevida, no direito brasileiro, está fundamentada na expressão contida no art. 5.º, LXXV, da CF. 6. Recurso especial provido. (STJ, REsp 220982/RS, Primeira Turma, Ministro José Delgado, 22.02.2000, DJ 03.04.2000, p. 116). 2.14. Revelado, deste modo, a responsabilidade da parte ré em res- sarcir o autor nos danos patrimoniais e morais que sofreu, resta a delinear, apenas, a sua mensuração, forma e respectivo quantum monetário. 2.15. Começando pelo dano moral, força é convir que não é de hoje que o direito pátrio abraçou a possibilidade de reparação civil desse como valor autônomo e merecedor de tutela legal. 2.16. Neste passo é de se ter em conta que sob o prisma legal, todo aquele que se vir ultrajado em sua honra, em sua moral, em seu amor-próprio e suas afeições, por ato indevido de terceiro, tem a sua disposição um instrumento reparatório hábil, de caráter retributivo e ao mesmo tempo intimidador, que mesmo não possibilitando uma inteira res- tituição do status quo ante, permite, ao menos, que se minore a carga da ofensa produzida, desestimulando sua repetição, enquanto prática danosa ao convívio social. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 27 2.17. A reparação civil do dano moral, assim, enquanto direito in- dividual fundamental, no que o artigo 5.º, inciso X, do Texto Magno em vigor, instituiu-se a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, assegura o direito à indenização pelo dano, também, moral, decorrente de sua violação. No caso em tela, conformado na situação de imposição de prisão processual por treze meses a quem inocente, donde se impõe concluir que houve perturbação ao patrimônio imaterial do autor, do seu amor-próprio e suas afeições por fato decorren- te de atuação imputável única e exclusivamente à demandada. (Adequar conforme o caso nessa última parte) 2.18. Chega a ser desnecessário alongar comentários com relação à vivência de uma diminuição do patrimônio ideal do autor, conquanto, ser mais do que presumível que um jovem de 25 (vinte e cinco) anos, com profi ssão autônoma de servente de pedreiro, que vem a passar mais de um ano preso acusado de crimes de roubo e bando, mesmo que absolvido e solto ao fi nal da persecução penal, não vai mais encontrar, como não tem encontrado e fi cará demonstrado na instrução do feito, as oportunidades de trabalho que dantes sucediam, sofrendo, assim, inegável dor moral e, indubitável, afl ição pessoal. (Adequar conforme o caso) 2.19. Ora, Meritíssimo Juiz, antes da prisão o autor era constante- mente contratado para serviços próprios ao seu labor, sendo comum ter que trabalhar até aos fi nais de semana, tanto que lhe requisitavam seus serviços e, atualmente, após a sua prisão, nem na rua onde este reside, ao qual todos têm ciência da sua inocência e absolvição, consegue arranjar trabalho. (Adequar conforme o caso) 2.20. O fato do requerente não ter deixado de continuar a buscar trabalho, ao revés, agora se oferece para trabalhar e não tem êxito, o que antes não sucedia, não obstante o pesado infortúnio ocorrido em sua vida, fruto da enorme estigmatização que a prisão, mesmo quandosó processual, impõe; não pode confi gurar elemento capaz de apagar a dor infl igida pelas lesões sofridas, devendo, pois, se fazer passível de reparação no campo cível, não só para o fi m de alcançar o caráter retributivo minorador da afl ição imposta ao mesmo, mas, até, para o fi m de desestimular tais atu- ações, passíveis que são de gerar hipóteses como a do caso em exame, para cuja repetição no dia-a-dia, não pode contar com o silêncio do Poder Judiciário que as perpetra e depois não pode mais as encobrir. 2.21. Houve dano moral, este está caracterizado e deve ser indeni- zado. MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 28 2.22. Quanto ao dano material é este decorrente dos lucros cessan- tes, cuja matéria, a despeito, se encontra positivada nas disposições dos artigos 944 e 953, parágrafo único e 954, inciso III, do Código Civil Brasileiro, verbis: “Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.” “Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido. Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fi xar, eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.” “Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal: I – omissis; II – omissis; III – a prisão ilegal.” 2.23. Neste particular, transparece cristalino o nexo causal entre o dano advindo da prisão processual imposta à inocente e atuação da parte ré decorrente da doutrina do risco criado, não havendo o que tergiversar quanto à constatação, nos autos, da prova de dano patrimonial sofrido pelo autor, já que antes da sua prisão indevida, tinha uma renda mensal, de pelo menos dois salários mínimos, o que lhe permitia viver dentro de sua simplicidade e, ainda, auxiliar os seus familiares. (Adequar conforme o caso nessa última parte) 2.24. No caso em exame, relativamente aos lucros cessantes, percebe- se que estes estão quantum satis demonstrados, conquanto inegável que o cárcere provisório imposto ao autor, que implica por sua própria natureza de prisão processual em reclusão absoluta, gerou a completa impossibilidade de o autor continuar a exercer atividade laborativa. 2.25. Desta forma, é claro e evidente, que neste período de treze meses de prisão, o autor deixou de exercer seu labor e, por conseguinte, receber qualquer valor a que faria jus, cuja imprecisão de sua fi xação exata, pela sua condição de autônomo, não é obstáculo à pretensão autoral, MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 29 conquanto cabível a inteligência do preceito contido no parágrafo único do artigo 953 do Código Civil Pátrio, devido para as hipóteses em que não podendo o ofendido provar o prejuízo material, competirá ao Juiz fi xar, eqüitativamente, até o limite da extensão do dano, o montante da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso concreto. 2.26. Deste modo, no que concerne a fi xação do quantum pecuniário que deve ser alvo de ressarcimento pela dor impingida ao requerente a título de dano moral, este impõe ser fi xado no montante correspondente a R$ 350.000,00 (trezentos e cinqüenta mil reais), equivalentes a 1.000 (um mil) salários mínimos, conquanto, neste ponto, seja necessário conceber que o dano moral não se avalia mediante cálculo matemático-econômico, dês que impossível fi rmar tal equiparação e valores, aliás, em verdade, nada recuperará o tempo de vida perdido com a prisão indevida, prestar-se-á, contudo, a minimizar a dor da vítima mediante uma sensação agradável a qual se presume que a reparação pecuniária vai acarretar. 2.27. Trata-se, assim, de uma forma de estimação patrimonial do padecimento sofrido que, ainda, deve ter caráter dissuasório ao autor do dano, na situação em que informada a prisão do autor, mais do que ne- cessário, conquanto inúmeras as prisões processuais levadas a efeito em persecuções penais em face de destinatários de lides penais, que ao fi nal da persecução se informam comprovadamente inocentes. 2.28. Tem, assim, na estimação, a sua natureza, para o que a gravi- dade do dano, não podendo se prender a mero cálculo matemático, como, aliás, repita-se, ocorre na espécie dos autos e, que, como tal, deve ser fi xado em quantia que venha a servir às fi nalidades da reparação pelos longos treze meses de prisão processual imposta ao autor, sem que se analisasse a fundo as conseqüências que ora se busca compensar. (Adequar conforme o caso nessa última parte) 2.29. Os nossos órgãos ad quem, não discrepando de tal exegese, trilham idêntica exegese, senão vejamos: “Ao magistrado compete estimar o valor da reparação de ordem moral, adotando os critérios da prudência e do bom senso e levando em estima que o quantum arbitrado representa um valor simbólico que tem por escopo não o pagamento do ultraje – a honra não tem preço – mas a compensação moral, a reparação satisfativa devida pelo ofensor ao ofendido.” (TJPR, Rel. Des. Oto Luiz Sponolz, RP 66/206). MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 30 2.30. Ainda, no mesmo diapasão: “No dano moral, o pretium dolores, por sua própria incomensurabili- dade, fi ca a critério do Juiz, que fi xa o respectivo valor, de acordo com seu prudente arbítrio, o que não confi gura cerceamento de defesa do réu. Grande, portanto, é o papel do magistrado na reparação do dano moral, competindo-lhe examinar cada caso, ponderando os elementos probatórios e medindo as circunstâncias.” (Ac. 1.ª Câm. Civ. Do TJGO, no julgamento do AI 9518-3/180, j. 28.12.1995, RT 730/307). 2.31. Destarte, tendo em conta a situação social e familiar do autor, jovem trabalhador autônomo, que agora fi ca obrigado a buscar incessan- temente trabalho, quando anteriormente era costumeiramente procurado, inclusive em fi nais de semana, para exercer o labor que com esmero e dedicação sempre efetuou, sofreu inegável mágoa na sua própria afeição pessoal, bem assim, em face da constatada atuação Estatal, fruto, é fato, do risco administrativo que a envolve, donde não se informou culpa ex- clusiva ou mesmo concorrente da vítima. 2.32. Verifi cando, outrossim, que uma reparação irrisória não atenderá as fi nalidades da presente demanda, impõe-se a fi xação do quantum inde- nizatório – pelas agruras por que passou o autor num cárcere, e prisão não é lugar agradável ou que proporcione experiências positivas na vida de um cidadão – reclamado a título de danos morais de R$ 350.000,00 (trezentos e cinqüenta mil reais), equivalentes a 1.000 (um mil) salários mínimos, como condenação plausível, dês que até não se apresentará to- mada pela eiva da extravagância, dado a natureza de difícil reversão das lesões sofridas pela vítima. 2.33. Felizmente o Supremo Tribunal Federal recentemente começou a encampar a tese ora defendida, pois até então somente o STJ e alguns Tribunais de segundo grau assim pensavam, consoante pode se denotar abaixo: Erro judiciário. Responsabilidade civil objetiva do Estado. Direito à in- denização por danos morais decorrentes de condenação desconstituída em revisão criminal e de prisão preventiva. CF, art. 5º, LXXV. C. Pr. Penal, art. 630. O direito à indenização da vítima de erro judiciário e daquela presa além do tempo devido, previsto no art. 5º, LXXV, da Constituição, já era previsto no art. 630 do C. Pr. Penal, com a exceção do caso de ação penal privada e só uma hipótese de exoneração, quando para a condena- ção tivesse contribuído o próprio réu. A regra constitucional não veio para MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 31 aditar pressupostossubjetivos à regra geral da responsabilidade fundada no risco administrativo, conforme o art. 37, § 6º, da Lei Fundamental: a partir do entendimento consolidado de que a regra geral é a irresponsabilidade civil do Estado por atos de jurisdição, estabelece que, naqueles casos, a indenização é uma garantia individual e, manifestamente, não a submete à exigência de dolo ou culpa do magistrado. O art. 5º, LXXV, da Constituição: é uma garantia, um mínimo, que nem impede a lei, nem impede eventuais construções doutrinárias que venham a reconhecer a responsabilidade do Estado em hipóteses que não a de erro judiciário stricto sensu, mas de evidente falta objetiva do serviço público da Justiça. (RE 505.393, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 26-6-07, DJ de 5-10-07) PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. DANO MORAL. GARANTIA DE RESPEITO À IMAGEM E À HONRA DO CIDADÃO. INDENIZAÇÃO CABÍVEL. PRISÃO CAUTELAR. ABSOLVIÇÃO. ILEGAL CERCEAMENTO DA LIBERDADE. PRAZO EXCESSIVO. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA PLASMADO NA CARTA CONS- TITUCIONAL. MANIFESTA CAUSALIDADE ENTRE O “FAUTE DU SERVICE” E O SOFRIMENTO E HUMILHAÇÃO SOFRIDOS PELO RÉU. 1. A Prisão Preventiva, mercê de sua legalidade, dês que preenchidos os requisitos legais, revela aspectos da Tutela Antecipatória no campo penal, por isso que, na sua gênese deve conjurar a idéia de arbitrariedade. 2. O cerceamento ofi cial da liberdade fora dos parâmetros legais, posto o recor- rente ter fi cado custodiado 741 (setecentos e quarenta e um) dias, lapso temporal amazonicamente superior àquele estabelecido em Lei – 81 (oiten- ta e um) dias – revela a ilegalidade da prisão. 3. A coerção pessoal que não enseja o dano moral pelo sofrimento causado ao cidadão é aquela que lastreia-se nos parâmetros legais (Precedente: REsp 815.004, DJ 16.10.2006 – Primeira Turma). 4. A contrario sensu, empreendida a prisão cautelar com excesso expressivo de prazo, ultrapassando o lapso legal em quase um décuplo, restando, após, impronunciado o réu, em manifestação de inexistência de autoria, revela-se inequívoco o direito à percepção do dano moral. 5. A doutrina legal brasileira à época dos fatos assim dispunha: “Código Civil de 1916: Art. 159 – Aquele que, por ação ou omissão vo- luntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem fi ca obrigado a reparar o dano.” “Art. 1550 – A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e no de uma soma calculada nos termos do parágrafo único do art. 1.547. Art. 1551 – Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal (art. 1.550): (...) III – a prisão ilegal (art. 1.552). Art. 1552 – No caso do artigo antecedente, no III, só a autoridade, que ordenou a prisão, é obrigada a ressarcir o dano” Por sua vez, afere-se do Código Civil em vigor que: “Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão volun- tária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” “Art. 954 – A inde- nização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente. Pará- MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 32 grafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal: (....) III – a prisão ilegal.” Do Código de Processo Penal: “Art. 630 – O Tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indeni- zação pelos prejuízos sofridos; § 1º – Por essa indenização, que será li- quidada no juízo cível, responderá a União, se a condenação tiver sido proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela respectiva justiça. § 2º – A indenização não será devida: a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta impu- tável ao próprio impetrante, como a confi ssão ou a ocultação de prova em seu poder; b) se a acusação houver sido meramente privada.” 6. O enfoque jurisprudencial do tema restou assentado no REsp 427.560/TO, DJ 30.09.2002 Rel. Ministro Luiz Fux, verbis: “PROCESSO CIVIL. ERRO JUDICIÁRIO. ART. 5º, LXXV, DA CF. PRISÃO PROCESSUAL. POSTERIOR ABSOL- VIÇÃO. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. 1. A prisão por erro judiciá- rio ou permanência do preso por tempo superior ao determinado na sen- tença, de acordo com o art. 5º, LXXV, da CF, garante ao cidadão o di- reito à indenização. 2. Assemelha-se à hipótese de indenizabilidade por erro judiciário, a restrição preventiva da liberdade de alguém que posteriormen- te vem a ser absolvido. A prisão injusta revela ofensa à honra, à imagem, mercê de afrontar o mais comezinho direito fundamental à vida livre e digna. A absolvição futura revela da ilegitimidade da prisão pretérita, cujos efeitos deletérios para a imagem e honra do homem são inequívocos (no- toria no egent probationem). 3. O pedido de indenização por danos morais decorrentes de restrição ilegal à liberdade, inclui o dano moral, que in casu, dispensa prova de sua existência pela inequivocidade da ilegalidade da prisão, duradoura por nove meses. Pedido implícito, encartado na pre- tensão às perdas e danos. Inexistência de afronta ao dogma da congruência (arts. 2º, 128 e 460, do CPC). 4. A norma jurídica inviolável no pedido não integra a causa petendi. “O constituinte de 1988, dando especial rele- vo e magnitude ao status libertatis, inscreveu no rol da chamadas franquias democráticas uma regra expressa que obriga o Estado a indenizar a con- denado por erro judiciário ou quem permanecer preso por tempo superior ao fi xado pela sentença (CF, art. 5º, LXXV), situações essas equivalentes a de quem submetido à prisão processual e posteriormente absolvido. 5. A fi xação dos danos morais deve obedecer aos critérios da solidariedade e exemplaridade, que implica na valoração da proporcionalidade do quantum e na capacidade econômica o sucumbente. 6. Recurso Especial desprovido.” 7. A prisão ilegal por lapso temporal tão excessivo, além da violação do cânone constitucional específi co, afronta o Princípio Fundamental da Repú- blica Federativa do Brasil, consistente na tutela da Dignidade Humana, norma qualifi cada, que, no dizer insuperável de Fábio Konder Comparato é o centro de gravidade do direito na sua fase atual da ciência jurídica. 8. É que a Constituição da República Federativa do Brasil, de índole pós- positivista e fundamento de todo o ordenamento jurídico expressa como vontade popular que a mesma, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito ostentando como um dos seus fundamentos a dignidade da pessoa humana como instrumento realizador de seu ideário de construção de uma sociedade justa e solidária. 9. Consectariamente, a vida humana passou a MANUAL DE PRISÃO E SOLTURA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL 33 ser o centro do universo jurídico, por isso que a aplicação da lei, qualquer que seja o ramo da ciência onde se deva operar a concreção jurídica, deve perpassar por esse tecido normativo-constitucional, que suscita a refl exão axiológica do resultado judicial. 10. Direitos fundamentais emergentes des- se comando maior erigido à categoria de princípio e de norma superior estão enunciados no art. 5º da Carta Magna, e dentre outros, o que inte- ressam ao caso sub judice destacam-se: (...) LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; 11. A garantia in foco revela inequívoca transgressão aos mais comezinhos deveres estatais, con- sistente em manter-se preso um ser humano por quase 800 (oitocentos) dias consecutivos, preventivamente, e, sem o devido processo legal após excul- pado, com afronta ao devido processo legal. 12. A responsabilidade
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