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Transferencia na psicose Mecanismo erotomaniaco na psicose

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Transferência na psicose: erotomania
Palavras-chave: Transferência na psicose, erotomania, 
erotomania de transferência, tratamento possível.
Márcia de Souza Mezêncio
“No que se refere á transferência, repetidamente discutida, tudo 
indica que ela existe na psicose. Mas, diferentemente das neuroses, 
onde estas desenvolvem uma neurose de transferência, na psicose 
se desenvolve uma psicose passional. A este processo 
denominaremos erotomania de transferência, sendo a erotomania a 
modalidade do amor de transferência própria da psicose.” 
(BROCA, 1985)
A psiquiatria é uma referência obrigatória para a psicanálise e não só no campo 
específico das psicoses. A psicanálise constitui um campo distinto da psiquiatria, de sua 
tradição e seus laços com a medicina. Seus conceitos, no que se refere à definição das 
chamadas estruturas clínicas, foram trazidos de uma leitura e interpretação particular das 
categorias advindas da psiquiatria clássica. Ao definir neurose, psicose, perversão, a 
psicanálise opera uma apropriação de um saber construído pela psiquiatria. No entanto, não 
se institui em continuidade com o saber psiquiátrico.
Clérambault e as psicoses passionais
O conceito de erotomania tem sua origem nas descrições psiquiátricas de um tipo 
particular de delírio. Tomo como primeira referência o isolamento das “psicoses 
passionais”, feito por Clérambault na década de 1920. Referidas aos delírios paranóicos na 
tradição psiquiátrica clássica, serão tomadas por ele como um grupo distinto do grupo das 
paranóias.
Os antecedentes de Clérambault, na escola psiquiátrica francesa, são, de um lado, o 
trabalho de Sérieux e Capgras ao efetuar a distinção entre “psicose de reivindicação” e 
“delírio de interpretação”, e, de outro, o de Dide, que isola o grupo dos idealistas 
1
“passionais”1. Esses trabalhos introduzem a distinção entre os mecanismos de interpretação 
e as reações passionais. Esses autores serão referências importantes para o trabalho de 
Lacan sobre a paranóia2.
 Sérieux e Capgras, representantes da escola clássica francesa, realizam a adaptação 
das linhas mestras da concepção de Kraepelin — que, segundo Dide, despedaça a 
paranóia ao dar-lhe um sentido mais restrito — à preocupação de uma análise clínica e 
semiológica rigorosa, característica da tradição francesa (BERCHERIE, 1989:204). 
Descrevem, então, formas particulares de delírio, agrupadas sob a designação de paranóia, 
assentadas sobre uma constituição paranóica comum. O diagnóstico diferencial entre o 
delírio de interpretação e o delírio de reivindicação foi sendo construído a partir de 1902, 
assumindo sua forma final em 1909, com a publicação de Les folies raisonnantes et le 
délire d’interpretation. As características próprias do delírio de interpretação são: a 
existência de múltiplas interpretações delirantes, raras ou nenhuma alucinação, persistência 
da lucidez e da atividade psíquica, com extensão progressiva das interpretações. Já o delírio 
de reivindicação se organiza em torno de uma idéia primária prevalente, com poucas 
interpretações, estado de exaltação passional que leva a reações desproporcionais e atos, 
por vezes, violentos. As concepções delirantes são verossímeis, sem megalomania nem 
delírio de perseguição. Podem ser de caráter altruísta ou egoísta (BERCHERIE, 1989:200-
202). Predominam as idéias dos prejuízos sofridos, erotomania, ciúme, idealismo. 
DIDE (1913:72-73) pretende se afastar do tradicionalismo clássico e pensar uma 
nosologia que inclua os “idealistas passionais”, apreendidos a partir da autonomia da 
interpretação passional ou apaixonada, isto é, da sua diferença em relação à interpretação 
delirante que é, sobretudo, intelectual. A primeira constitui uma sistematização afetiva que, 
ao lado da integridade da personalidade e da noção de mundo exterior, desenvolve-se em 
torno de um ideal prévio e imutável. Todo o peso de sua concepção é colocado no ideal, ao 
qual se reduz toda a vida intelectual e que canaliza toda a atividade. Dide estabelece um 
quadro diferencial do idealismo passional com o delírio de interpretação, com os estados 
1 Adotamos a tradução proposta por Sérgio Laia que, em nota de tradução do trabalho de Dide (cf. DIDE, In: 
Opção Lacaniana, n.13, 1995), esclarece a preferência em traduzir passioné por “passional” e não por 
“apaixonado”, para preservar o objetivo nosográfico do autor.
2 LACAN (1932) situa a sua “paranóia de autopunição”, ao incluí-la na nosologia ao lado da “paranóia de 
reivindicação”. A referência a Dide é oposta à referência a Clérambault e sua concepção da erotomania. O 
ponto principal da divergência entre as duas concepções envolve o tema da sexualidade.
2
exaltados de mania e com algumas manifestações histéricas. Em relação à paixão normal, a 
diferença é de quantidade; é o excesso que pode se tornar patológico. Os idealistas se 
dividem em idealistas do amor, da bondade e idealistas da beleza, da justiça.
As chamadas psicoses passionais, para as quais Clérambault reivindica um lugar 
especial na nosografia, englobam os delírios de reivindicação, os delírios de ciúme e os 
delírios erotomaníacos. A descrição dos quadros das psicoses passionais por Clérambault se 
inicia pela separação dos delírios passionais dos delírios interpretativos. As características 
seguintes distinguem as duas formas de delírio, por seu início, sua origem, sua evolução. Se 
o paranóico delira com seu caráter, o passional delira com sua emoção, que serve à 
construção do nó central das formações delirantes. Não há uma dedução a partir de uma 
idéia mestra no interpretativo, como não há delírio passional sem um postulado. Dessa 
maneira, há uma localização restrita do delírio no passional, e uma extensão circular do 
delírio e de seus temas no paranóico (CLÉRAMBAULT, 1921:342-343).
Clérambault realiza também a demonstração de que os erotômanos não são nem 
reivindicadores nem idealistas passionais. A erotomania tem como ponto de partida o 
sentimento amor, sendo a querelância ou reivindicação secundária e contingente, 
procedendo assim uma inversão: ao invés de se fazer da paixão um caso particular de 
reivindicação, faz-se da reivindicação um caso particular de paixão. Ele adota os critérios 
diferenciais entre delírio de interpretação e delírio de reivindicação, definidos por Sérieux e 
Capgras — aos quais acrescenta a patogenia passional —, e os aplica na diferenciação entre 
delírio interpretativo e delírio erotomaníaco (CLÉRAMBAULT, 1921:344-345). Quanto à 
sugestão de Capgras de que os erotômanos deveriam ser considerados como uma forma do 
idealismo passional, isto é, sua forma amorosa, Clérambault considera que tais 
classificações não se sobrepõem, destacando o platonismo essencial dos erotômanos de 
Dide, contingente em sua própria descrição. Essencial, do seu ponto de vista, somente a 
paixão. Para ele, o mérito de Dide está em afirmar que os idealistas não são interpretativos 
(CLÉRAMBAULT, 1923:416).
Todos esses conceitos e concepções serão objeto de apaixonado debate entre 
Clérambault e seus pares. Ele insistirá no interesse de se operar com uma categoria 
específica correspondendo a um mecanismo particular de construção e instalação do delírio, 
baseado, inicialmente, na vontade e mantido por uma posição ativa do delirante. O caráter 
3
idealista é refutado por ele, que coloca em questão as descrições anteriores da erotomania 
com ênfase no platonismo, que considera acessório e não necessário ou, mesmo, fruto de 
observação pouco apurada, pelo clínico, de um traço de reticênciae dissimulação do 
doente.
Toda a pesquisa de Clérambault decorre de um problema eminentemente prático: 
seu trabalho na enfermaria especial da chefatura de polícia colocou-o diante das 
dificuldades de se distinguir um apaixonado mórbido de um normal, pela inexistência de 
uma descrição precisa do quadro e de um questionário, adequado e sistemático, para um 
delirante que conserva suas capacidades em situações exteriores ao campo afetado pelo 
delírio, o que levantava também a questão do risco representado por esses delirantes, uma 
vez não realizadas suas expectativas. Sua descrição é exaustiva e privilegiada, pois sua 
amostra recai exatamente sobre esses delirantes, insatisfeitos, que atentavam contra o 
objeto de sua fabulação, ou seja, que passavam ao ato agressivo e criminoso. 
CLÉRAMBAULT (1920) faz, então, uma descrição lógica do que ele nomeia “síndrome 
erotomaníaca” que se desencadeia a partir de um “postulado fundamental”, premissa 
geradora dos raciocínios, das quimeras, dos atos. Esse postulado se refere invariavelmente 
ao amor do objeto pelo sujeito. 
As concepções do delírio erotomaníaco se agrupam, de uma parte, em um 
postulado inicial e deduções desse postulado (todos dados relativos ao 
objeto), de outra parte, em temas imaginativos e interpretativos diversos 
(dados relativos aos incidentes da perseguição). (CLÉRAMBAULT, 
1921:338)3.
O delírio se desenvolve em três estágios: estágio da esperança, estágio de despeito, 
estágio de rancor. A evolução típica se inicia com uma fase de otimismo — que coincide 
com o estágio da esperança —, seguida de uma fase pessimista caracterizada, inicialmente, 
por um sentimento misto de ódio, em que predomina a ambigüidade conciliação/vingança 
— é o estágio do despeito —, que, por fim, se transforma em ódio verdadeiro, acusações e 
reivindicações — estágio do rancor. Como se vê, a reivindicação é tida como secundária e 
somente está presente na fase final do delírio.
A Erotomania Pura é para nós uma Síndrome Ideo-afetiva, de uma 
intensidade passional, na qual toda Ideação deriva do que nomeamos o 
3 “Les conceptions du délire érotomaniaque se groupent d’une part en un postulat initial et déductions de ce 
postulat (toutes données relatives à l’objet), d’autre part en thèmes imaginatifs et interprétatifs divers 
(données relatives aux incidents de la poursuite).”
4
Postulado, apresentando uma tal coerência que se reproduz em uma forma 
estereotipada, completa desde o início, suscetível de uma longa duração, 
se não crônica desde seu princípio. A única transformação que sofre é 
aquela do Amor em Despeito e depois em Ódio, acréscimos somente sob a 
forma de idéias ambiciosas e de perseguição polarizada. Seu Objeto é 
único, definitivo, visado desde o início de modo fixo, tônus elevado 
voltado para a ação. É incurável. (CLÉRAMBAULT, 1921:347)4.
Os traços constantes ou discriminantes da síndrome são: o postulado inicial — “Ele 
(o objeto) me ama: foi ele quem começou” —, e suas deduções de caráter mais imaginativo 
que interpretativo. Entre as deduções evidentes destacam-se: o objeto não pode ser feliz 
sem o sujeito, o objeto não está completo sem o sujeito, o objeto é livre. Outros temas 
derivados que se demonstram: vigilância e proteção contínuas do objeto, iniciativa do 
objeto, conversas indiretas com ele, seus recursos fenomenais, simpatia e interesse de todos 
pelo romance e, por fim, de importância capital e sempre presente, a conduta paradoxal e 
contraditória do objeto. Os componentes do sentimento gerador do postulado são o orgulho, 
o desejo (amor) e a esperança: a chamada “tríade afetiva”. Clérambault acentua a 
preeminência do orgulho sobre o amor e particularmente a especificidade sexual do 
orgulho, o que o faz reafirmar o caráter contingente do platonismo. Salienta o fato de que a 
submissão do objeto é uma submissão sexual; é o que distingue o sujeito: sua superioridade 
sexual é o que o torna amável e amado pelo objeto, uma vez que este é caracteristicamente 
superior, seja pessoal ou socialmente.
De grande interesse são as discussões acaloradas que ocorreram na Societé Clinique 
de Médicine Mentale, em torno das associações possíveis da síndrome erotomaníaca com 
outras psicoses, dos diagnósticos diferenciais, dos elementos discriminantes e necessários 
para uma precisão diagnóstica. Situam-se nessa discussão questões tais como: a erotomania 
constitui de fato uma síndrome, uma entidade mórbida autônoma, ou um sintoma, podendo 
ocorrer em quadros psicóticos variados, da paranóia à demência? Encontramos aqui as 
formulações de “erotomania associada”, “secundária” ou “prodrômica”, reservando-se o 
diagnóstico de “erotomania pura” para os casos em que se verificam o ponto de partida, 
4 “L’Érotomanie Pure est pour nous un Syndrome Idéo-Affectif, d’une intensité passionelle, dont toute 
l’Idéation dérive de ce que nous nommons le Postulat, présentant une telle cohérence qu’il se reproduit dans 
une forme stéréotypée ; complet d’emblée, susceptible d’une très longue durée, sinon chronique dès son 
principe; ne subissant de transformation que celle de l’Amour en Dépit, puis en Haine, et d’additions que 
sous forme d’idées ambitieuses et de persécution polarisées; comportant un Objet unique, définitif, envisagé 
dès le début d’une façon fixe; comportant un hypertonus subcontinu, extrêmement porté à l’action, et 
incurable.”
5
concepções e evolução bem definidos tal como descrito no quadro típico a que Clérambault 
chega, enfim, compondo o questionário adequado ao interrogatório desses pacientes. 
Clérambault insiste que não se deve confundir sintomas com mecanismos. O 
mecanismo da erotomania é tido como eminentemente psicológico e, por isso, superficial 
em relação às demais psicoses, baseadas no automatismo mental5. Utiliza-se de processos 
psicológicos normais, variando apenas em grau e intensidade. Os delírios interpretativos se 
apoiariam num “caráter paranóico”, um sentimento generalizado de desconfiança, que 
compromete a personalidade global do sujeito e cujo início não pode ser determinado. As 
síndromes passionais se caracterizariam por sua patogenia em componentes e mecanismos 
ideativos, de extensão polarizada, não comprometendo toda a personalidade, e início 
constituído por um nó “ideoafetivo”, no qual o elemento afetivo é uma emoção profunda e 
duradoura (CLÉRAMBAULT, 1921:342).
Nos casos secundários ou sintomáticos, ocorre freqüentemente uma mudança de 
objeto, e mesmo a escolha de objeto não é imposta como por “amor à primeira vista” — 
coup-de-foudre —, mas está sujeita ao cálculo, à adivinhação, determinada por intuição, 
interpretação ou alucinação auditiva. Essa chamada mudança de objeto surpreende 
Clérambault no momento em que ele passa a ser visado pelo delírio de um de seus 
pacientes. Ele diz, então, jamais ter podido imaginar uma tal situação. Para esse paciente, o 
médico ocupa um lugar persecutório, impedindo a realização de suas esperanças relativas 
ao objeto de seu delírio erotomaníaco (CLÉRAMBAULT, 1923:405). O médico, de fato, 
desconhece as categorias psicanalíticas e não opera com a transferência que é, no entanto, 
evidente nesse caso, em sua vertente persecutória. O fato não é isolado como decorrente da 
estrutura do enquadramento médico-policial do interrogatório, mas atribuído ao “caráter” 
do paciente a ele submetido. A surpresa de Clérambault não se deve ao desconhecimento de 
casos em que o médico é incluído no delírio, mas por se tratar de um caso de erotomania 
pura, no qual essa substituição não seria pensável.Nos casos mistos, ela não só é pensável 
como deve ser pensada. 
5 A definição da chamada síndrome S, síndrome do automatismo mental, foi concluída por Clérambault em 
1926. A partir de um processo orgânico, um núcleo lesional neuronal, são geradas respostas mentais, de 
produção espontânea, involuntária e mecânica. Inicialmente, o pequeno automatismo: intuições abstratas, 
vazio de pensamento, pensamentos impostos. Segue-se o grande automatismo: comentário dos atos, 
adivinhação e eco do pensamento, triplo automatismo – motor, “idéico” e “ideoverbal”. A síndrome antecede 
as alucinações verdadeiras e o delírio. Essa interpretação mecanicista se opunha a qualquer explicação 
psicológica da psicose. (CLÉRAMBAULT, 1919-1927)
6
A substituição de um novo Objeto ao atual merece ser vislumbrada. Ela se 
dará novamente à primeira vista? Provavelmente não. Ou se fará pela 
transferência do sentimento atual a um outro personagem real e próximo, 
por exemplo, o Médico, que será então declarado ser o abade? É possível, 
haveria fusão de dois sentimentos e subseqüentemente de duas idéias, em 
uma palavra, haveria a acumulação, ainda que transitória, de dois Objetos. 
Nós conhecemos fatos deste gênero. (CLÉRAMBAULT, 1921:355-356; 
grifo nosso)6.
Note-se o uso literal da palavra “transferência”. Mesmo que não se confunda seu 
uso com o do conceito psicanalítico homônimo, pode-se dizer que também conhecemos 
fatos desse gênero. Fatos que guiam a pesquisa psicanalítica sobre a transferência na 
psicose.
As referências de Freud: delírio paranóico 
Freud e Clérambault são contemporâneos. Como disse anteriormente, Freud opera a 
partir das categorias nosológicas da psiquiatria de seu tempo. Não é certo que ele 
acompanhasse as discussões que envolveram o trabalho de Clérambault, pois o mesmo não 
chegou a elaborar uma obra de fôlego durante sua vida. Seus textos, publicados nas 
revistas médicas francesas, eram apresentações de pacientes e discussões de casos, debates 
com os colegas. Eles foram organizados somente em 1942, após sua morte, em 1934, e a de 
Freud, em 1939, com a publicação de um volume editado por seus alunos e que reuniu suas 
Obras psiquiátricas. 
As referências de Freud à erotomania não a relacionam, em absoluto, com sua 
formulação do conceito de transferência. Aparecem na análise da Gradiva, de Jensen, e no 
texto sobre o presidente Schreber. 
Delírios e sonhos: a Gradiva de Jensen
No primeiro, intitulado Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen e publicado em 
1907, encontramos uma referência irônica e crítica ao procedimento psiquiátrico do 
diagnóstico. Freud não era psiquiatra, mas neurologista de formação. Seu interesse pela 
psicologia desviou-o dessa origem médica, levando-o a criar a psicanálise. Em 1907, ele 
6 “La substituition d’un nouvel Objet à l’actuel mérite d’être envisagée. Se fera-t-elle par nouveau coup de 
foudre? Très probablement non. Se fera-t-elle par transfert du sentiment actuel à un autre personnage réel, 
et proche, par exemple le Médicin, qui alors serait déclaré être l’abbé? C’est possible; il y aurait fusion de 
deux sentiments, et subséquemment de deux idées; en un mot il y aurait cumul, au moins transitoire, de deux 
Objets. Nous connaissons des faits de ce genre.”
7
está buscando consolidar sua invenção e fazer escola. O texto de Jensen, denominado 
Gradiva: uma fantasia pompeana7, fora publicado em 1903 e chega até ele através de Jung, 
com quem recém iniciara um relacionamento amistoso-científico, que manterá nos 
próximos anos. Freud se interessa pela pesquisa psiquiátrica, na busca de ampliar o 
conhecimento psicanalítico e estendê-lo ao campo das psicoses. A análise do texto 
literário em questão permite-lhe uma demonstração de sua teoria dos sonhos, bem como de 
sua relação com a formação de delírios. Entre o psiquiatra e o escritor criativo, Freud 
escolhe claramente o segundo, que considera “um precursor da ciência e, portanto, também 
da psicologia científica” (FREUD, 1907:50). Para ele, as descrições da mente humana feita 
pela literatura ensinam ao psiquiatra tanto quanto, ou mesmo mais, as descrições 
patológicas auxiliam o escritor em sua criação, sendo que um não pode esquivar-se do 
outro. 
Se ele considera o texto de Jensen perfeito como exposição imaginativa de um caso 
e do seu tratamento, não poupará críticas ao psiquiatra:
Um psiquiatra talvez incluísse o delírio de Norbert Hanold no vasto grupo 
da ‘paranóia’, classificando-o provavelmente como ‘erotomania 
fetichista’, já que seu traço mais saliente era uma paixão por uma 
escultura, e aos olhos desse psiquiatra, que tudo tende a ver pelo prisma 
mais grosseiro, o interesse do jovem arqueólogo por pés e posições de pés 
inevitavelmente passaria por ‘fetichismo’. Contudo, todos os sistemas de 
nomenclatura ou classificação dos diversos tipos de delírio de acordo 
com seu tema principal são de certa forma precários e estéreis. (FREUD, 
1907:51-52; grifo nosso).
Freud afirma suas reservas quanto ao diagnóstico puramente fenomenológico e 
descritivo, baseado nos temas patológicos, apontando sua pesquisa, no que se refere às 
psicoses, na determinação do mecanismo de defesa próprio e também no mecanismo de 
formação de sintomas. 
As fórmulas do delírio paranóico no caso Schreber
7 Existe uma tradução no Brasil, publicada por Jorge Zahar Editor, na coleção Transmissão da Psicanálise. O 
autor relata a história de um jovem arqueólogo alemão, Norbert Hanold, que, em virtude de seu trabalho e de 
seu isolamento, acaba por se apaixonar por um relevo que encontra em suas pesquisas, sendo atraído 
particularmente pelo modo singular do andar da jovem nele retratada. Em viagem a Pompéia, local de origem 
do relevo, o arqueólogo se enreda em uma trama de sonhos, fantasias e delírios, a partir do encontro com uma 
moça que ele vai considerar o fantasma da retratada pela escultura. Segue-se um trabalho de “cura pelo 
amor”. Na realidade, a tal moça pertence ao passado, mas ao passado infantil do próprio sujeito, e se 
encarregará de trazê-lo de volta à realidade, à saúde e ao encontro amoroso.
8
Essa direção é retomada no trabalho sobre o presidente Schreber, cujo capítulo III é, 
justamente, denominado Sobre o mecanismo da paranóia. Em seu primeiro parágrafo, 
encontramos um eco da questão precedente:
O caráter distintivo da paranóia (ou da dementia paranoides) deve ser 
procurado alhures, a saber, na forma específica assumida pelos sintomas: 
e esperamos descobrir que esta é determinada, não pela natureza dos 
próprios complexos, mas pelo mecanismo mediante o qual dos sintomas 
são formados ou a repressão é ocasionada. (FREUD, 1911:81; grifo 
nosso).
Nesse capítulo, Freud discute a nosologia existente, o diagnóstico do caso Schreber 
e propõe uma revisão das categorias nosológicas. É nesse contexto que apresenta sua versão 
da derivação gramatical das formas do delírio paranóico, aí incluído o delírio erotomaníaco. 
Ele parte da constatação de que o desejo subjacente à defesa pela doença paranóica deve ser 
reconhecido como um desejo homossexual latente ou recalcado. Freud não fala de 
erotomania em Schreber. Sua demonstração é no sentido de comprovar sua afirmação sobre 
a importância do desejo homossexual na paranóia, sendo as formas do delírio paranóico — 
erotomania, delírio de perseguição, delírio de ciúme, megalomania — geradas como uma 
defesa contra esse desejo. A derivação gramatical responde ao “recalque” do desejo 
homossexual correspondente à frase: “Eu, um homem, o amo (outro homem)” .Assim, 
propõe três formas de negação possíveis, incidindo sobre o verbo, sobre o objeto ou sobre o 
sujeito da frase. No delírio de perseguição, contradiz-se o verbo: “eu não o amo, eu o odeio, 
porque ele me persegue”; na erotomania, a contradição recai sobre o objeto: “eu não o amo, 
eu a amo, porque ela me ama”; a negação do sujeito ocorre no delírio de ciúmes, em suas 
duas versões, o delírio de ciúmes alcoólico: “não sou eu que amo o homem, é ela que o 
ama”, e o delírio de ciúmes da mulher: “não sou eu que amo as mulheres, é ele que as 
ama”. Uma quarta forma é também apontada, aquela que, ao negar a frase como um todo 
— “eu não amo ninguém, só amo a mim mesmo” —, oferece a fórmula do delírio de 
grandeza ou megalomania. Nas duas primeiras formas — perseguição e erotomania —, 
após a negação é acionado o mecanismo da projeção, com a atribuição ao outro do 
sentimento percebido internamente.
O comentário de LACAN (1958:548) sobre esse trecho incide sobre o fato de que as 
conseqüências lógicas da dedução freudiana são ignoradas por todos e também sobre o fato 
de que de que o próprio Freud descarta o mecanismo de projeção como insuficiente para 
9
dar conta do problema8. Mais adiante, LACAN (1958:573) nos adverte de que Freud falta 
ao seu próprio princípio — não sustentar a origem do delírio a partir de seus temas — ao 
relacionar o homossexualismo à idéia de grandeza. Freud se embaraça, segundo Lacan, por 
não ter ainda formulado o conceito de narcisismo, apesar de anunciá-lo através da discussão 
sobre o mecanismo de recalque próprio à psicose, que se refere à retirada da libido do 
mundo externo e seu retorno sobre o eu. 
As referências de Lacan: Aimée e Schreber
O interesse de Lacan pela erotomania está presente desde o princípio. Inicialmente, 
na tese de doutorado em Medicina, as relações da erotomania com a transferência são 
dedutíveis, apesar de não ser esse o eixo que Lacan acentua então. Com relação a Schreber, 
Lacan percebe a natureza erotomaníaca da relação com Deus no momento do seminário em 
que toma o caso para demonstrar as estruturas freudianas da psicose, mas levará dez anos 
para explicitar o caráter da relação com Flechsig e indicá-la como modelo das relações que 
o dispositivo analítico introduz entre o psicótico e o analista, o de uma “erotomania 
mortífera”. Essa condição é, segundo MILLER (1996:156), “efeito da epistemofania sobre 
o psicotizado — efeito, por sua vez, de paranoização: quem se oferece como suporte da 
epistemofania torna-se um objeto erotomaníaco.” Entendemos “epistemofania” como 
correspondente à posição de encarnação do saber, da qual Flechsig se apresenta como 
exemplo.
Aimée: posição erotomaníaca
A primeira referência de Lacan à erotomania é “pré-psicanalítica”. Em sua tese de 
doutorado, Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade, na qual trata do 
caso Aimée, Lacan apresenta um exaustivo inventário das concepções psiquiátricas acerca 
da paranóia. Ao localizar, teórica e conceitualmente, a criação do grupo das paranóias na 
nosografia psiquiátrica, faz, sem se referir ao nome de Clérambault, uma observação sobre 
a tentativa, “de modo bastante estranho”, de agrupar os delírios de reivindicação, os delírios 
de ciúme e a erotomania sob o nome de psicoses passionais, distinguindo-as das psicoses 
paranóicas (LACAN, 1932).
8 Para Freud, a projeção é secundária; além de não ser exclusiva da paranóia, não está presente em todas as 
suas formas.
10
Algumas páginas adiante, Lacan retomará o argumento e a discussão de 
Clérambault, sem, no entanto, concordar com o isolamento das psicoses passionais. 
Ressalta a importância de distinguir interpretação apaixonada de interpretação delirante, 
evidenciando a reação passional como um mecanismo de formação do delírio, bem como o 
seu determinismo psicológico, mérito que atribui a Clérambault. Contesta, no entanto, tal 
como Freud, que se deva classificar as doenças mentais pelo conteúdo do delírio, 
concordando com Capgras na proposição de que o quadro, dito passional, se incluiria 
perfeitamente nas categorias de interpretativos e reivindicadores, sendo, portanto, uma 
paranóia. O próprio fato de Clérambault admitir as formas mistas e associadas e a evolução 
da psicose passional para quadros polimorfos fornece o argumento a Lacan. 
Nesse momento, Lacan se opõe ao mecanicismo de Clérambault. O reconhecimento 
dele como seu “único mestre em psiquiatria” somente se dará muitos anos mais tarde, em 
outro contexto, no qual Lacan prestará homenagem ao agudo olhar clínico de seu mestre, à 
sua capacidade de observação e descrição, seu modo exaustivo de interrogar e fazer falar o 
doente (LACAN, 1955-1956). Mesmo o automatismo mental, rejeitado nesse primeiro 
momento, será colocado em posição central na teoria lacaniana da psicose, na oportunidade 
em que Lacan rompe com as categorias jaspersianas da compreensão e sustenta que não 
existe psicogênese em psicanálise. O automatismo mental será percebido, então, como uma 
metáfora, como a expressão do caráter exterior da linguagem e do automatismo do 
significante.
O caso relatado e comentado por Lacan em sua tese, o caso Aimée9, traz em sua 
própria denominação o traço distintivo da erotomania. Ela havia sido internada, aos 38 
anos, no Asilo de Sainte-Anne, após ter sido presa por haver cometido uma agressão e 
atentado contra a vida de uma famosa atriz de teatro. O perito concluiu que ela sofria de 
“delírio sistematizado de perseguição, à base de interpretações com tendências 
megalomaníacas e substrato erotomaníaco” (LACAN, 1932:150). Lacan a acompanhou por 
cerca de um ano e meio. Seu delírio de perseguição organizava-se em torno do temor de 
que algo acontecesse a seu filho e das dificuldades que lhe eram impostas em seu desejo de 
tornar-se escritora. Encontrava ameaças publicadas nos jornais, reconhecia fatos de sua 
9 Lacan se utiliza do nome de um dos personagens de um romance escrito por essa paciente. Aimée traduz-se 
por amada. Conforme MILLER (1991:15), “o nome é por si um diagnóstico, o nome de sua posição 
erotomaníaca”.
11
própria vida descritos nos romances de um conhecido escritor, em relação ao qual Lacan 
acredita que o delírio teria sido inicialmente de natureza erotomaníaca, passando ao estado 
de despeito. O objeto de sua escolha erotomaníaca era o Príncipe de Gales, ao qual enviou 
cartas e dedicou seus romances. Lacan acrescenta que “suas relações com seu médico não 
estão isentas de um eretismo de imaginação vagamente erotomaníaco” (LACAN, 1932: 
55).
Uma vez que recusa a erotomania como entidade autônoma, Lacan não se utiliza 
desse diagnóstico para o caso, forjando uma outra denominação, inexistente nos quadros 
clássicos, a de paranóia de autopunição10. Isso não significa que ignore ou despreze os 
traços manifestamente erotomaníacos de Aimée, mas somente que não os enquadra na 
descrição de Clérambault. Acentua suas características “clássicas”, tais como o 
platonismo e a situação superior do objeto escolhido. Não considera que o sentimento 
gerador do delírio fosse o orgulho sexual, mas um interesse homossexual11 ou “inversão 
psíquica”, “expressão do voto inconsciente da não-realização sexual e da satisfação obtida 
num platonismo radical” (LACAN, 1932:265).
É interessante notar que Lacan utiliza a teoria freudiana para fundamentar sua 
proposta diagnóstica, fazendo uma aproximação da teoria da libido com a concepção de 
personalidade que defende em seu argumento. Para ele, a teoria da libido e suas fixações 
evolutivas oferecemum substrato científico ao que as teorias psicológicas somente 
descrevem. Recorre também ao fragmento da análise do caso Schreber para derivar, a partir 
da fórmula da erotomania homossexual, os temas e as fórmulas delirantes de sua paciente, 
demonstrando que, mais que fórmulas gerais e até anedóticas, a dedução gramatical 
freudiana seria perfeitamente aplicável ao caso particular (LACAN, 1932:263-264).
Ainda uma observação e um recurso à psicanálise se referem à questão da cura e da 
curabilidade das psicoses e de seu tratamento, apresentando a psicanálise como indicação 
terapêutica em primeiro plano. Lacan reconhece que “a técnica psicanalítica conveniente 
para esses casos ainda não está, segundo o testemunho dos mestres, madura”, mas que 
10 A posteriori, Lacan atribuirá o diagnóstico de erotomania a Aimée. Em 1975, falando aos norte-americanos 
sobre sua entrada na psicanálise, fará referência ao caso paradigmático de sua tese, criticando seu próprio 
diagnóstico de paranóia de autopunição, que, então, considerará “bizarro” e excessivo em sua lógica de 
dedução do mal a partir de sua cura (LACAN, 1976:9-10). 
11 Nesse momento, Lacan abona a tese freudiana de que a causa ativadora da paranóia é uma defesa contra a 
homossexualidade.
12
casos foram analisados e descritos com bons resultados (LACAN, 1932:282). Ele indica o 
ponto central do problema: a transferência.
Assim, o dificílimo problema posto pela técnica atual ao psicanalista é o 
seguinte: urge corrigir as tendências narcísicas do sujeito por uma 
transferência tão prolongada quanto possível. Por outro lado, a 
transferência para o analista, despertando a pulsão homossexual, tende a 
produzir nesses sujeitos um recalcamento no qual a própria doutrina nos 
mostra o mecanismo maior do desencadeamento da psicose. Esse fato 
pode colocar o analista numa postura delicada. O mínimo que pode 
acontecer é o abandono rápido do tratamento pelo paciente. Mas em 
nossos casos, a reação agressiva se dirige com muita freqüência contra o 
próprio psicanalista, e pode persistir por muito tempo ainda, mesmo após 
a redução dos sintomas importantes, e para espanto do próprio doente. 
(LACAN, 1932:282-283; grifo do autor).
Penso que podem se localizar aqui as “pedras de espera” que, tal como Lacan 
aponta na obra de Freud como as suas intuições geniais, são também localizáveis em seu 
próprio trabalho. Pois a construção de um tratamento possível para a psicose vai se dar em 
torno desses pontos já assinalados por Lacan no trecho acima: as relações da transferência 
com o desencadeamento, a relação com o médico — seja de caráter persecutório ou 
erotomaníaco — que substitui o sintoma, constituindo o material primordial do tratamento: 
o sintoma analítico, ou seja, a transferência e as dificuldades de seu manejo.
Erotomania: questão preliminar
Lacan dedica um de seus seminários — o de 1955-1956 sobre as psicoses — e um 
de seus Escritos: De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose, texto 
de 1958, ao comentário do caso Schreber. Ele o faz retomando as coordenadas freudianas e 
elaborando seus próprios conceitos e operadores.
Ao iniciar o Seminário III: As psicoses, Lacan adverte que não se poderia falar 
rigorosamente de tratamento da psicose em Freud. Apesar de abrir o seminário com essa 
advertência, Lacan anuncia que o objetivo daquele ano de trabalho é concluí-lo com a 
discussão do tratamento possível do psicótico. Na Questão preliminar, dois anos depois, 
atualiza o tema no ponto em que Freud o havia deixado: pelo questionamento da 
inexistência de transferência do psicótico, apontando para a dificuldade de seu manejo.
É do caso, e da análise que Freud fez dele, que se destaca o tema da erotomania, 
deixando-se entrever o futuro desse conceito na prática clínica com psicóticos. Lacan 
13
critica o “inventário” das manifestações transferenciais e se preocupa em isolar o fenômeno 
“em referência às funções e à estrutura da palavra falada”, liberando “esse mecanismo 
transferencial de não sei que confusas e difusas relações de objeto”. Diz que seu objetivo, 
no seminário, incidia sobre a estrutura do delírio, o qual “pode ser considerado como uma 
perturbação da relação com o outro, e ele está portanto ligado ao mecanismo transferencial” 
(LACAN, 1955-1956:348).
A análise de Freud da derivação gramatical da fórmula da homossexualidade 
masculina é retomada e a conclusão para o caso de Schreber deduzida: “... não é a ele que 
eu amo, é um outro, um grande Ele, o próprio Deus, se inverte em ele me ama, como em 
toda erotomania.” (LACAN, 1955-1956:349). Erotomania divina, pois deus é seu objeto, 
com todas as particularidades do deus de Schreber. 
Lacan faz um resumo da posição de Freud. O delírio de Schreber está ligado à 
irrupção de um desejo homossexual, é uma defesa contra ele. É uma defesa bastante 
intensa, que acarreta ao sujeito os maiores sofrimentos. Freud relaciona a intensidade da 
defesa ao temor narcísico da perda implicada na prática homossexual. A solução pelo 
delírio permite ao sujeito uma reconciliação com esse desejo pela via de um delírio 
megalomaníaco de redenção. “O sujeito que se torna o objeto do amor do ser supremo pode 
por conseqüência abandonar o que lhe parecia à primeira vista o mais precioso do que ele 
devia salvar, a saber, a marca de sua virilidade” (LACAN, 1955-1956:350). Os problemas 
são, então, a castração, a referência fálica e a relação com o pai, dos quais Freud não abre 
mão. Lacan ressalta a prevalência em Freud das figuras paternas presentes no caso 
Schreber, que só se reconcilia com elas na configuração final do delírio e na figura maior 
do pai que é Deus.
Os operadores lacanianos, deduzidos de Freud, não são conceitos estritamente 
freudianos. Foi necessário, para Lacan, definir um novo campo conceitual, onde opera com 
os registros do real, do simbólico e do imaginário. O principal conceito para a clínica das 
psicoses será a “forclusão do Nome-do-Pai”.
O conceito de forclusão é forjado a partir de uma tradução interpretativa de rejeição 
(Verwerfung), noção que Freud utiliza já em 1894, mas que Lacan retira do caso do 
Homem dos lobos, no relato de um episódio alucinatório ocorrido na infância do paciente. 
A alucinação do dedo cortado, que Freud interpreta como uma rejeição da castração, é um 
14
não querer saber nada disso, além mesmo do sentido do recalque, sugerindo um mecanismo 
próprio para essa modalidade de não querer saber (LACAN, 1955-1956:22). Outra 
referência freudiana que Lacan utiliza para justificar seu conceito é o artigo A negativa 
(Die Verneinung) de 1925. Lacan explicita que considera justificada sua dedução, pois o 
contexto de articulação lógica do juízo de atribuição anterior ao juízo de existência o exige. 
A Behajung, afirmação primordial, introdução do bom no eu, institui o campo da 
simbolização e corresponde ao recalque primário. Em contrapartida, o campo de 
exterioridade ao eu institui-se a partir da expulsão daquilo que é mau (Ausstossung). A 
Verwerfung é definida por Lacan como uma não Behajung, como abolição simbólica, 
“rejeição de um significante primordial em trevas exteriores” (LACAN, 1955-1956:174). É 
o que dá sentido retroativo à formulação freudiana do mecanismo da psicose nos termos de 
que “aquilo que foi internamente abolido retorna desde fora” (FREUD, 1911:95). Por não 
haver sido simbolizado, o retorno se dá no real, na forma dos fenômenos elementares da 
psicose.
A metáfora paterna, apresentada na Questão preliminar,dá conta de uma tentativa 
de Lacan de articular as teorias freudianas do complexo de Édipo e da castração. Também 
Lacan trabalha o caso Schreber do ponto de vista edípico, pensa a psicose do ponto de vista 
da neurose. O Nome-do-Pai é deduzido do Édipo e atesta a passagem do sujeito pela 
castração. Pensado a partir da categoria do simbólico, organiza o campo da linguagem e 
faculta ao sujeito a neurose. O Nome-do-Pai, como um significante que substitui o 
significante do Desejo da Mãe, produz a significação fálica. Isso introduz um problema: 
como o gozo se torna significante? Como o gozo da mãe — velado sob o significante 
Desejo da Mãe — se torna significação fálica e fornece o ordenador para o gozo do sujeito? 
O problema subjacente à metáfora paterna é o de juntar libido e significante, as duas 
vertentes freudianas: a técnica do deciframento, da interpretação (significante) e a 
economia libidinal, da satisfação (vertente do gozo). Nesse sentido, a Questão preliminar 
prepara a mudança de perspectiva do ensino de Lacan, que passará da referência ao modelo 
da neurose e da estabilização para o modelo da psicose e da suplência, que inclui o registro 
do gozo e os fenômenos de corpo na concepção da cura (ALEMÁN LAVIGNE, 198-). 
No quadro de referência da primeira clínica, sustentada pela forclusão do Nome-do-
Pai, Lacan introduz também a noção de desencadeamento para designar a forma de irrupção 
15
da psicose. O que se rompe é a cadeia simbólica, pois falta a ela o significante do Nome-
do-Pai que é o seu ordenador.
É num acidente desse registro (simbólico) e do que nele se realiza, na 
forclusão do Nome-do-Pai no lugar do Outro, e no fracasso da metáfora 
paterna, que apontamos a falha que confere à psicose sua condição 
essencial, com a estrutura que a separa da neurose. (LACAN, 1958:582). 
Apesar de organizar teoricamente o campo da pesquisa sobre as psicoses, essas 
articulações não tiveram incidência imediata na clínica, pois reforçavam as indicações de 
prudência por identificar os riscos implicados no tratamento de psicóticos.
Dez anos mais tarde, por ocasião da publicação da tradução francesa das Memórias, 
em 1966, no pequeno texto de apresentação, Lacan se refere à relação de Schreber com seu 
médico, Flechsig, em termos de uma “espécie de erotomania mortífera” e que “não se trata 
de nenhuma ascese mística, nem muito menos de alguma abertura efusiva à vivência do 
doente, mas de uma posição à qual apenas a lógica da cura introduz” (LACAN, 1966:23). 
Lacan adverte o clínico, implicado como “sujeito-suposto-saber no sintoma”, que algo 
semelhante ocorre no laço do psicótico com o médico. A erotomania, portanto, decorre da 
estrutura e da lógica da relação analítica e tem conexão com a modalidade de transferência 
na psicose. Nessa Apresentação da tradução francesa das Memórias do Presidente 
Schreber, tem-se a introdução da oposição entre sujeito do significante e sujeito do gozo, 
que acarretará conseqüências para a clínica da psicose.
Com essas indicações, encaminha-se a pesquisa sobre a estrutura da transferência na 
clínica da psicose. O caráter mortífero é paradigmático, mas possibilita a abertura de uma 
questão sobre o manejo desse laço e a colocação em perspectiva da saída transferencial 
como uma solução possível. 
É assim que MILLER (1996:149) encerra seu comentário sobre as apresentações de 
pacientes de Lacan, perguntando: “quem explicará a transferência do psicótico?” Sua 
existência não é mais questionada, mas explicá-la é a condição de receber e tratar o 
psicótico. As tentativas de explicação têm uma história quase tão longa quanto a história da 
psicanálise. Entre os alunos mais próximos de Freud, os tratamentos de psicóticos não 
deixaram de ocorrer, mesmo que as publicações só viessem a surgir após a morte dele. Paul 
Federn12, por exemplo, publica somente em 1943 os relatos dos tratamentos por ele 
12 Paul Federn (1871-1950), psicanalista vienense. Atuou também nos Estados Unidos. Divergia da concepção 
de Freud quanto à inexistência de transferência na psicose e publicou suas idéias divergentes também quanto 
16
conduzidos desde 1905. Foi ele quem introduziu a expressão “psicose de transferência”, 
que vai ser largamente utilizada nos anos 50 pelos analistas da IPA, apesar de não 
corresponder ao conceito original de Federn e mesmo adotar acepções diferentes segundo 
os autores e as escolas. Também as formas de abordar essa “psicose de transferência” serão 
bastante variadas, ainda que tendo em comum uma concepção do tratamento orientada pelo 
imaginário. Em geral o conceito descreve a emergência, no tratamento, de sentimentos 
extremos e ambivalentes, e a percepção fusional da relação com o analista. No 
fundamental, é um conceito forjado como uma extensão da neurose de transferência para o 
campo da psicose. A psicose é tomada segundo o modelo da neurose grave ou do postulado 
de um núcleo psicótico comum (MALEVAL, 2002:324-325).
Para Lacan, como vimos, trata-se de uma apreensão estrutural, não fenomênica, da 
relação do psicótico com o médico. Por isso, estabelecer a diferença estrutural entre 
neurose e psicose implica a recusa de um conceito como o de “psicose de transferência”. O 
conceito que permite operar essa diferenciação é a forclusão do Nome-do-Pai. A 
erotomania de transferência é a dedução necessária, mas não deixa de ser problemática. 
Afinal, uma vez que se trata de uma erotomania mortífera e que pode levar ao 
desencadeamento, não é novamente um motivo para contra-indicar o tratamento? Longe de 
fornecer uma solução, não seria antes um obstáculo? O que a articulação desse conceito 
permite é a diferenciação radical entre o amor de transferência neurótico e o amor 
mortificante do psicótico. O amor na psicose é o “amor morto”, que implica “a abolição do 
sujeito” submetido a um Outro radicalmente heterogêneo (LACAN, 1955-1956:287). A 
erotomania responde por uma relação específica com o Outro, articulado em um delírio que 
arrisca situar esse Outro em lugar de perseguidor. 
A concepção a ser formada do manejo da transferência recomendada por Lacan é a 
questão preliminar ao tratamento do psicótico. Tirar as conseqüências terapêuticas dessa 
erotomania de transferência exige que se prossiga a investigação e que se estabeleça o que 
Lacan chamou de “outro centramento”.
Lacan assenta progressivamente as bases deste último mediante 
indicações dispersas, todas elas posteriores a 1964, fundadas, não em uma 
lógica significante, mas em uma axiomática do gozo: assim situa o 
psicótico como um sujeito fora de discurso, invadido por um gozo 
desordenado, cujos enunciados principais são holófrases e que é capaz de 
ao eu e à economia do investimento libidinal nas psicoses após a morte de Freud.
17
desenvolver uma ‘erotomania de transferência’. (MALEVAL, 2002:371-
372)13.
Os elementos necessários para a direção da pesquisa e do tratamento estão aí 
indicados. Não vou me estender aqui na definição dos conceitos forjados por Lacan no 
prosseguimento de seu ensino, apenas indicar que a ênfase inicial no registro simbólico será 
deslocada para o registro real com a formulação dos conceitos de objeto a e gozo. A ênfase 
deixa de estar no desencadeamento do significante, mas recai sobre a invasão de gozo. A 
divisão do sujeito é necessária para que ele não seja louco. Divisão pelo significante, mas 
também pelo objeto, que deve ser destacado pela operação da função fálica, que é a função 
que permite o limite do gozo. A desregulação do gozo psicóticodeve-se ao fato que o 
psicótico tem o objeto a no bolso e esse se presentifica na alucinação, nos sentimento de 
ser vigiado etc.
A conseqüência da tese de que a invasão de gozo produz o sofrimento do sujeito 
leva a propor a direção do tratamento pela via da regulação deste. A tarefa do analista é 
possibilitar ao sujeito essas regras.
A questão que repercute é a de saber qual o lugar do analista no trabalho de 
reconstrução do psicótico. Sabe-se que ele realiza grande parte do trabalho sozinho; o que 
faz, então, com que o analista possa ser-lhe útil? Penso que não se trata mais de discutir a 
existência da transferência na psicose, mas de saber o que ocorre com o fenômeno 
transferencial na entrada em análise do psicótico. Segundo Broca, trata-se de acolher a 
erotomania, que é a modalidade do amor de transferência próprio da psicose, posicionando-
se de forma a evitar que ela se torne uma psicose passional e resulte em uma passagem ao 
ato. Trata-se de ser útil ao esvaziamento de gozo buscado pelo psicótico. A partir de então, 
o que se buscará, no enquadramento do tratamento e da transferência, será oferecer ao 
psicótico um destinatário para seu delírio, um anteparo para um desencadeamento 
controlado, ou, como propõe BROCA (1985:128), uma psicose sob transferência. Não se 
está orientando por um puro otimismo terapêutico, mas pelo imperativo ético de acolher as 
demandas que chegam ao analista. Demandas que Michel Silvestre define em dois tempos: 
primeiro, demanda de significantes para organizar o mundo; segundo, demanda de regras 
13 “Lacan sienta progresivamente las bases de este último mediante indicaciones dispersas, todas ellas 
posteriores a 1964, fundadas, no ya en una lógica del significante, sino en una axiomática del goce: así, sitúa 
al psicótico como un sujeto fuera del discurso, invadido por un goce desordenado, cuyos enunciados 
principales son holofrases, y que es capaz de desarrollar una “erotomania de transferencia”.
18
para o gozo invasivo e desregulado (SILVESTRE, 1988). E que Colette Soler identifica 
como demanda de um testemunho para suas certezas (SOLER, 1993). Trata-se de 
“sustentar que o trabalho analítico com um psicótico não é nem vão nem é impossível” 
(MALEVAL, 2002:416)14.
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