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1 AULA 1 Conceito de Fisioterapia A sociedade não sabe, na verdade, o que é Fisioterapia e com que ela trabalha. A sociedade acha que trabalhamos com fraturas, problemas de derrames (acidente vascular encefálico), crianças que têm problemas para andar (encefalopatias crônicas da infância), problemas respiratórios (enfisema ou pacientes internados em hospitais), dentre outras complicações e técnicas de tratamento. Diante disso, vamos iniciar nossa aula explicando o que é Fisioterapia, mas caberá a você levar essas informações para a sociedade como um futuro fisioterapeuta. Vejamos a definição de Coffito: "É uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas, na atenção básica, média complexidade e alta complexidade. Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica, da biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia funcional, e da cinesia patológica de órgãos e sistemas do corpo humano e as disciplinas comportamentais e sociais" (COFFITO, 2013). Retomemos a introdução de nossa aula e o exemplo que demos do encontro entre você e sua tia. Acreditamos que sua resposta, quando questionado(a) sobre o que era a fisioterapia, foi: trata-se de uma ciência. Estamos certos? Normalmente, achamos que Fisioterapia é uma técnica, movimentos ou, até mesmo, reabilitação, mas estamos errados. A Fisioterapia é uma Ciência e, como Tal, tem como base as pesquisas desenvolvidas na área e está sempre em evolução. No Brasil, ela existe há quase 50 anos - é muito nova, se a compararmos com a medicina ou enfermagem - mas já evoluiu muito, como veremos em nossa disciplina. Vejamos algumas outras observações que devemos considerar a respeito do conceito de fisioterapia: Tratamento e prevenção A fisioterapia não somente trata, mas estuda, promove saúde funcional e previne disfunção de órgãos e sistemas de todo o corpo humano. A sociedade sempre a enxerga como tratamento e recuperação de lesões, mas a fisioterapia também previne e esse é um ponto positivo e importante, visto que quando prevenimos, não teremos pessoas incapacitadas funcionalmente e um menor número de pessoas internadas ou acamadas. Então, como futuros profissionais de saúde, temos que visualizar a prevenção e a promoção em saúde Cinesia O objeto de estudo da fisioterapia é a cinesia, o movimento relacionado à função de órgãos e sistemas do corpo humano. E por isso nosso diagnóstico é chamado de “diagnóstico cinesiológico funcional”, que teremos oportunidade de estudar mais à diante. Nosso olhar sempre será para detectar a função e a disfunção dos diversos órgãos. Para o médico, o 2 diagnóstico do paciente pode ser uma tendinite, mas o fisioterapeuta terá que investigar a causa (disfunção) que levou o paciente a adquirir a tendinite. Não tratamos a tendinite, mas sim, a sua causa – a disfunção, propriamente, dita. Daí, a nossa grande diferença dos outros profissionais de saúde. Atenção aos três níveis de complexidade A fisioterapia tem ações nos cuidados à saúde do indivíduo nos três níveis de complexidade. Na atenção básica, junto à promoção de saúde, com ações de educação na saúde, junto à prevenção de disfunções, de forma individual e coletiva. Também atua na atenção à saúde na média complexidade, em clínicas e consultórios, quando tratamos nossos pacientes e na alta complexidade, quando atuamos nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), em Institutos do Câncer e em Clinicas de Reabilitação, junto a equipes multidisciplinares. Mecanismos terapêuticos A fisioterapia faz uso de mecanismos terapêuticos próprios de sua área, com base nas ciências básicas. Utiliza procedimentos que envolvem o conhecimento de recursos físicos e naturais, de ação isolada ou conjunta, como a eletroterapia – uso da corrente elétrica, crioterapia – uso do gelo, termoterapia – uso do calor, hidroterapia – uso da água, fototerapia – uso da luz, massoterapia, cinesioterapia e mecanoterapia – uso do movimento, da cinesia - que teremos oportunidade de discutir nas aulas 6 e 7, exclusivas para discussões sobre recursos terapêuticos. Modelo biopsicossocial Outro aspecto relevante em seu conceito está relacionado à sua perspectiva que tem como referência o modelo biopsicossocial, com visão global do aspecto físico dos sistemas do corpo humano, além dos aspectos comportamentais e sociais. Ela proporciona uma visão integral do ser e do adoecer que compreende as dimensões física, psicológica e social. O ser humano não é só físico. Ele tem aspectos psicossociais que deverão ser levados em conta, tanto na avaliação, quanto em seu tratamento. Ele tem estória de vida, que deverá ser relevante, tanto em sua avaliação, quanto em seu tratamento. História da fisioterapia no mundo A Fisioterapia é uma ciência tão antiga quanto o homem. Surgiu com as primeiras tentativas de nossos ancestrais de diminuir uma dor esfregando o local dolorido e evoluiu ao longo da história da humanidade com a sofisticação, principalmente, das técnicas de exercícios terapêuticos, que eram largamente utilizados na recuperação dos soldados feridos na Grécia antiga e como ginástica de manutenção da saúde em Esparta. "Quando um homem se machucava durante a caça ou luta, ele esfregava o local com as mãos, para aquecê-lo, e mergulhava o membro machucado na água para aliviar a dor", na verdade, são os dois princípios básicos da fisioterapia até hoje: a massoterapia (massagem com as mãos) e a hidroterapia (tratamento com água). 3 Vamos ver a história da fisioterapia relacionada aos diversos momentos: Antiguidade período compreendido entre 4.000 a.C. e 395 d.C. - havia uma forte preocupação com as pessoas que apresentavam as chamadas "diferenças incomodas"; um termo utilizado para abranger o que na época era considerado "doença". Havia uma preocupação em eliminar essas "diferenças incomodas” através de recursos, técnicas, instrumentos e procedimentos. Os agentes físicos já eram utilizados para reduzir essas diferenças. Não existiam fisioterapeutas, mas os médicos na Antiguidade conheciam os agentes físicos e os empregavam em terapia. Já utilizavam a eletroterapia sob forma de choques com um peixe elétrico no tratamento de certas doenças (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999). Idade Média Relembrem das aulas de História no ensino média - as doenças eram consideradas como algo a ser exorcizado. Foi um período onde ocorreu uma interrupção dos estudos na área da saúde. A cultura e dominação religiosa eram muito presentes, gerando inúmeras consequências, dentre elas, a desvalorização do corpo e da própria saúde, pois, sendo o corpo considerado apenas como um mero recipiente do espírito caberia os cuidados e a valorização apenas ao espírito, a alma. Segundo Lindman (1975): “As ordens religiosas eram inimigas do corpo. Os hospitais da Idade Média tinham caráter eclesiástico, estavam junto dos mosteiros mais importantes e suas salas de enfermos encontravam-se imediatamente ao lado das capelas, havia, inclusive, altares na sala dos enfermos, não havendo local apropriado para a realização de exercícios”. Renascimento Volta a aparecer alguma preocupação com o corpo saudável, por ter sido um período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana (artes, filosofia e ciências). A cinesioterapia, um dos recursos da fisioterapia, ganhou teóricos e adeptos, a ponto de, no séculoXVII, terem surgido obras consistentes sobre os fundamentos da ginástica. Industrialização Após o Séc. XVIII - volta o interesse pelas "diferenças incomodas" - doenças. O novo sistema maquinizado aperfeiçoava a crescente produção industrial e trouxe o excesso e trabalho, onde a população oprimida era submetida às exaustivas e excessivas jornadas de trabalho. As condições alimentares e sanitárias eram precárias provocando novas doenças como as epidemias de cólera, tuberculose pulmonar, alcoolismo, e os acidentes do trabalho. Surge então a preocupação das classes dominantes para não perder ou diminuir a sua fonte de riqueza e bem estar gerados pela força de trabalho das classes baixas. Plágio. Século XX O exercício físico e as outras maneiras de atuar caracterizam a Fisioterapia no século XX. Durante a 2º Guerra Mundial surgem as escolas de Cinesioterapia, para tratar ou reabilitar os lesados, ou mutilados que necessitavam readquirir um mínimo de condições para retornar a uma atividade social integrada e produtiva. Essas escolas de centros de reabilitação surgem principalmente na Europa e América do Norte, onde essa realidade era cruel. 4 AULA 2 Introdução Como vimos na aula anterior, os anos pós-guerra deram início ao crescimento das clínicas de reabilitação, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos da América do Norte. Tínhamos muitos incapacitados pela guerra nesses países. No Brasil, não tivemos tantos, mas passávamos por alguns grandes problemas: em São Paulo, crescia o número de indústrias e também o de indivíduos acometidos pelos acidentes de trabalho. Este número, no Brasil, apresentava-se como um dos maiores da América do Sul, e essa expressiva faixa populacional precisava ser reabilitada para reintegrar o sistema produtivo do país. No Rio de Janeiro, tínhamos uma epidemia de poliomielite. Na década de 50, a incidência de poliomielite atingia índices alarmantes. Crescia o número de indivíduos portadores de sequelas motoras que necessitavam de uma reabilitação para sua inclusão na sociedade. Anos 50 no Brasil Nos anos 50, vivemos os governos de Getúlio Vargas (que se matou em 1954) e de Juscelino Kubitschek, os quais fomentaram o processo de industrialização nacional: pela substituição de importações (iniciado por Vargas); pela abertura ao capital externo para investimento; pelo planejamento estratégico (como no caso de JK.); pela construção de uma infraestrutura (como rodovias, hidroelétricas e aeroportos); pela promoção da indústria de base e de produção de bens de capitais, fundamentais para a produção nacional, Um dos símbolos maiores desse processo de modernização foi a construção de Brasília, nova capital do país, inaugurada no início dos anos 60. Anos 50 e a saúde no Brasil Mas e na área da saúde, quais foram as mudanças na década de 50? Dois fatos importantes devem ser considerados: a industrialização, favorecendo o adoecimento dos indivíduos, e o surto de poliomielite no Estado do Rio de Janeiro. Em 1951, surgiu no Brasil, na USP, o primeiro curso para a formação de técnicos em fisioterapia, pois já tínhamos alguns hospitais oferecendo atendimentos para reabilitação dessas pessoas. Nessa época, os serviços ofereciam tratamentos por agentes físicos – duchas, imersões, eletroterapia, fototerapia, ginástica médica – mas ainda não tínhamos fisioterapeutas no país. Trabalhavam nesses espaços médicos enfermeiros e educadores físicos, além dos técnicos de fisioterapia. Essa nova maneira de atuar ou de intervir nas condições de saúde do indivíduo ou da população foi, aqui no Brasil, dirigida de tal forma para a reabilitação que, em um determinado momento, a Fisioterapia parece ter sido entendida como sinônimo de assistência reabilitadora. Além desses, outros fatores contribuíram para fortalecer a Fisioterapia apenas como uma intervenção de reabilitação. Um grande erro, já que os fisioterapeutas atuam nos três níveis de atenção à saúde, como vimos na aula anterior. 5 DECRETO-LEI 938/69 Esse decreto, criado em 13 de outubro de 1969, provê sobre as profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Vejamos alguns artigos importantes dessa Lei: Assegura o exercício das profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional; Afirma que esses profissionais devem ser diplomados por escolas e cursos reconhecidos e que são profissionais de nível superior; Conceitua como atividade privativa do fisioterapeuta a execução de métodos e técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do cliente; Informa que todos aqueles que, até a data da publicação no presente Decreto-lei, exerçam sem habilitação profissional, em serviço público, atividade de que cogita o artigo 1º serão mantidos nos níveis funcionais que ocupam e poderão ter as denominações de auxiliar de fisioterapia e auxiliar de terapia ocupacional, se obtiverem certificado em exame de suficiência. A Fisioterapia no país de hoje É notório o crescimento e a contribuição que a Fisioterapia vem dando ao campo da saúde em nosso País. Ela, como ciência, é versátil, dinâmica e principalmente necessária. Os fisioterapeutas atuam nos níveis primário (atenção básica), secundário e/ou terciário de atenção à saúde. Vemos a Fisioterapia prestar seus serviços nas diferentes áreas e especialidades da saúde, tais como: cardiologia, pneumologia, neurologia adulto e infantil, pediatria, medicina intensiva, ortopedia, traumatologia, cirurgia, medicina desportiva, endocrinologia, dermatologia, ergonomia, reumatologia, doenças pulmonares, estética, geriatria, gerontologia etc. Com certeza, a Fisioterapia ainda é uma ciência em construção, cujos paradigmas se encontram abertos e em franca evolução. É uma profissão nova e em busca do conhecimento científico para suas ações. Preocupa-se com a comunidade menos favorecida e carente para ações de intervenção de saúde. A cada dia, cada vez mais, a Fisioterapia se solidifica e cria raízes através de uma base científica, firmando-se como Ciência, expandido-se na busca do oferecimento de uma atenção à saúde com qualidade e dignidade, caracterizando um novo perfil profissional nessa área de conhecimento humano, o qual se destaca, hoje, em termos de atuação e interesse. 6 AULA 3 Introdução Nessa aula iremos discutir a formação do profissional fisioterapeuta. Como é feita essa formação? Sobre que bases ela é feita? Qual é o profissional que queremos formar? E qual o profissional que o mercado espera receber? O mercado vem mudando nos últimos anos e atualmente, além do conhecimento, se fazem necessárias competências e habilidades para sua entrada e manutenção no mercado de trabalho. E isso vem presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação de Fisioterapia, que são normas obrigatórias para a formação do fisioterapeuta. Elas orientam o planejamento curricular dos cursos de Fisioterapia, fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Competências e habilidades de um fisioterapeuta para o mercado de trabalho: Conhecimento É o saber teórico. O conhecimento, em geral, está presente apenas na mente do profissional. O grande desafio dos indivíduos é transformar o conhecimento tácito, implícito, em conhecimento explicito e conseguir aplica-lo no seu cotidiano. O saber fazer deve ser conhecido, isso é vital para sobrevivência de um profissional no mercado de trabalho. Competência É o “saber fazer”. O ideal seria a junção de conhecimento e competência, mas essa combinaçãonem sempre é uma realidade. Muitas vezes quem tem o conhecimento não tem competência para executar. A competência, em regra, depende de prática, treino, erros e acertos. Por isso, a importância da pesquisa junto ao seu curso, das aulas práticas, do estágio, onde se aprende a aplicar o conhecimento. Habilidade Está ligada à ação. Não adianta ter conhecimento e competência e não ter habilidade - atitude. Atitude é querer fazer. Muitos profissionais estão poucos dispostos a ter atitudes de mudança. Sabem que se algumas coisas mudassem, o resultado final seria melhor. Mas para que mudar o que de certa forma está dando certo? Essa atitude é necessária para ocorrer à mudança. Atitudes são necessárias para se mudar paradigmas. Conhecimento se adquire estudando e competência e habilidade vêm com a prática. O grande problema que eu vejo é a falta de atitude, algo meio místico, algo que vem no DNA da pessoa, difícil de ser adquirido, difícil de ser aprendido. Está relacionado a valores, a condutas éticas. Observe que eu disse difícil e não impossível. Só que para ter atitude é necessário “atitude”. Está relacionada a tomadas de decisão, a gestão do processo, a liderança e principalmente a “aprender a aprender”, ou seja, uma educação continuada. 7 AULA 4 Introdução Os preceitos e ordenamentos jurídicos são influentes nas categorias profissionais e responsáveis pela organização do exercício da profissão. Isso quer dizer que o sucesso ou o fracasso do profissional também é dependente dos regulamentos jurídicos que o cercam. Por isso, é essencial para o fisioterapeuta o conhecimento sobre sua legislação e sobre a interferência desta em suas ações. É importante relacionar o profissional que queremos formar com as bases políticas da profissão. Isso reflete na sua presença e no respeito junto à equipe interdisciplinar. Um fisioterapeuta deve ter conhecimento e ser cumpridor das leis, das políticas públicas de educação e saúde. O Decreto-Lei 938/69 – legitimando a profissão O Decreto-Lei 938/69, de 13 de outubro de 1969, legitimou a profissão de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais no país. E por que as duas profissões foram legitimadas juntas? Devido a sua criação, que ocorreu na mesma época, em 1957. Podemos ter uma atenção especial para os Artigos 1º e 2º desse Decreto-Lei. Eles garantem pleno exercício profissional pelo fisioterapeuta, estabelecendo sua formação em nível superior. Incorpora, também, em seu Artigo 12, o fisioterapeuta numa nova situação em que seria considerado um profissional liberal: “É assegurado o exercício das profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, observado o disposto no presente”. (Art. 1º) ”O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional, diplomados por escolas e cursos reconhecidos, são profissionais de nível superior”. (Art. 2º) “O Grupo da Confederação Nacional das Profissões Liberais, constante do Quadro de Atividades e Profissões, anexo à Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, é acrescido das categorias profissionais de fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, ....”. (Art. 12º) Já em relação ao estabelecimento dos atos privativos do fisioterapeuta, o referido Decreto-Lei afirma: “É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente”. (Art. 3º). Encontramos duas questões que merecem reflexão: - Primeira questão: se o trecho “É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos...” for encarado ao “pé da letra”, poderíamos entender que o fisioterapeuta teria a garantia, a partir do Decreto-Lei, de ser o único responsável por tal execução, certo? - Segunda questão: refere-se às ações privativas do fisioterapeuta, descritas no trecho “... restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente”. Aqui, o documento aponta para uma particularidade que, desde os primeiros estudos sobre a Fisioterapia, encontra-se 8 arraigada e diretamente relacionada à profissão – a associação com a reabilitação. O que acabou reforçando uma concepção de que o trabalho do fisioterapeuta estaria restrito aos níveis de atenção à saúde na qual a capacidade física das pessoas já estivesse comprometida. Tais ações remetem a uma prática de saúde restrita à doença. Isso dificulta a percepção da sociedade para as práticas voltadas à prevenção e à promoção da saúde, em que a Fisioterapia também atua. COFFITO e CREFITOs Esse Decreto-Lei criou o COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) e os CREFITOs (Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional). A criação do COFFITO (1975), formado pelos próprios fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais deu poder de baixar atos e normas orientadores do exercício profissional e, assim, a autonomia das profissões estava garantida. Isso foi muito relevante para a profissão! A Fisioterapia se desenvolveu, criou corpo enquanto profissão, ampliando de forma significativa a sua participação no cenário da saúde. Identifique, junto ao site do COFFITO, o CREFITO de sua região e acompanhe os eventos e projetos. Resolução COFFITO 80 A Resolução COFFITO 80 buscou ampliar as atribuições do fisioterapeuta expressas na Resolução nº 08/78. Procurou adequar a Fisioterapia ao novo momento do cenário sanitário brasileiro. Muito mais do que tratar e reabilitar, o fisioterapeuta, a partir da Resolução COFFITO nº 80/87, tem o encargo de agir na direção do desenvolvimento das potencialidades funcionais do indivíduo para exercer suas atividades laborativas e da vida diária. Veja o que diz: “A fisioterapia é uma ciência aplicada, cujo objeto de estudos é o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgão, sistema ou função.” O Artigo 3º tem a preocupação de valorizar a avaliação fisioterapêutica. Ele afirma que o: “...Fisioterapeuta é profissional competente para buscar todas as informações que julgar necessárias no acompanhamento evolutivo do tratamento do paciente sob sua responsabilidade...”. Possibilitando a recorrência a outros profissionais da Equipe de Saúde, para solicitação de laudos técnicos especializados. Os fisioterapeutas podem, então, solicitar exames complementares para fechamento do seu “Diagnóstico Cinesiológico Funcional”. A diferença entre diagnósticos Você pode observar que o diagnóstico do fisioterapeuta é muito diferente do diagnóstico do médico, por exemplo. Ele sempre estará relacionado à cinesia – perda do movimento –, à perda da função de órgãos e sistemas do corpo humano. Exemplo: O paciente tem o diagnóstico médico de tendinite patelar, ou seja, um processo inflamatório no tendão patelar. O fisioterapeuta deverá investigar qual função está comprometida para levar à tendinite. O paciente pode ter um ilíaco (osso do quadril) posteriorizado em decorrência de encurtamento dos músculos isquitibiais (músculos posteriores da coxa) sobrecarregando o 9 tendão patelar e produzindo a tendinite. O fisioterapeuta diagnostica a função ou o movimento que causou o diagnóstico ou a funçãoque ficou comprometida. É um olhar muito diferente do olhar dos outros profissionais, por isso a sua importância dentro da equipe. A importância daanamnese para um diagnóstico preciso Por meio de uma avaliação fisioterapêutica, baseada em uma anamnese – coleta de dados do paciente – com o levantamento da queixa principal e com a execução de exames clínicos funcionais (inspeção, palpação e testes específicos), podemos fechar nosso diagnóstico. O fisioterapeuta pode solicitar exames complementares que possam auxiliar no diagnóstico cinesiológico funcional. Sejam eles: o eletrodiagnóstico para estudos da curva I/T, reobase, acomodação e cronaxia e os estudos funcionais pulmonares, incluindo ventilometria, manovacuometria, dinamometria computadorizada e ergometria. Lembrando que o diagnóstico dado por nós não interfere nos diagnósticos dados por outros profissionais (OLIVEIRA, 1997). Delegação de funções é proibido Já o artigo 4º traz uma proibição ao fisioterapeuta de atribuir ou delegar funções de sua exclusividade e competência para profissionais não habilitados ao exercício profissional da Fisioterapia. Ou seja, quem avalia, prescreve e trata com fisioterapia é o fisioterapeuta, e não podemos deixar outro profissional atuar com nossos recursos terapêuticos. E, quando virmos que o fisioterapeuta está delegando suas atividades para outras pessoas, devemos denunciá-lo ao Conselho. Assim protegeremos nossa classe profissional. 10 AULA 5 Introdução Quem define as regras de cada profissão são os próprios profissionais, não havendo qualquer ingerência governamental nesse aspecto. Afinal, ninguém melhor do que os próprios profissionais para saber de sua profissão. A existência dos Conselhos de Fiscalização das Atividades Profissionais, como o COFFITO, está ligada à proteção da sociedade contra os leigos inabilitados como também dos habilitados sem ética. Mas, se os conselhos desempenham papel tão importante para a sociedade, por que é corriqueiro ver um profissional falando mal do seu conselho? Creio que isso ocorra devido, principalmente, à desinformação dos próprios profissionais do que seja um conselho de fiscalização. É que muito antes de lutar pela sua própria categoria, os conselhos foram criados para defender a sociedade. Se os conselhos não existissem, casos como os de pacientes que morreram nas mãos de um médico sem especialização para realizar cirurgia plástica ou de pessoas que morreram ou ficaram sem seus imóveis devido ao desabamento do prédio em que moravam porque o engenheiro utilizou areia de praia, ou, ainda, de empresas que foram à bancarrota por causa da má gestão de administradores fariam parte do nosso cotidiano e não seriam exceções. O desconhecimento da real função dos conselhos leva o profissional a crer que, se ele paga o tributo, deve ser devidamente retribuído por meio da defesa de interesses de sua categoria. Grande erro. Para cada profissão regulamentada é criado um Conselho Federal com sede em Brasília. Também existem em cada estado conselhos regionais. Todos estão sob fiscalização contábil e financeira do Tribunal de Contas da União, por força do inciso II do artigo 71 da Constituição Federal. A Constituição Federal assegura a liberdade de exercício de qualquer atividade profissional ou econômica, desde que lícita e regulamenta os diversos ofícios e ocupações do país. Os Conselhos Profissionais foram criados a partir da década de 1950, como consequência do processo de regulamentação das profissões no Brasil para disciplinar, normalizar e fiscalizar a atividade profissional das respectivas categorias. Ele é o parâmetro mestre de defesa da Sociedade. O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) é um órgão de controle social, caracterizado como autarquia pública federal. 11 Funções do COFFITO Exercer o controle ético, social e científico através da normatização do exercício das profissões e das atividades da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional em todo o território nacional e das empresas prestadoras desses serviços assistenciais à população brasileira. Fiscalizar a ética de sua própria corporação para a promoção do bem estar social, funcionando como órgão de última instância de recursos para as mencionadas profissões. Ele protege a sociedade do mal profissional. Supervisionar e fiscalizar o exercício profissional buscando sempre qualidade e prestigio dessas categorias para uma assistência profissional independente, científica, ética e resolutiva. Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – CREFITOSs Os conselhos de fisioterapia e terapia ocupacional são encabeçados pelo órgão de nível federal (COFFITO) e atuam em todo o território nacional por meio de representações regionais (CREFITOs). Tanto o COFFITO quanto os CREFITOs são autarquias – ou seja, órgãos da administração pública com autonomia administrativa. O sistema COFFITO/CREFITO foi criado pela lei federal 6.316, em 1975 (visto na aula anterior) e tem como atribuições principais: regular, orientar e fiscalizar o exercício profissional de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Exerce controle ético-social da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional, protegendo a sociedade contra o exercício ilegal e/ou irresponsável dessas profissões. Cabe ao CREFITO: Já o COFFITO deve, entre outras atribuições, aprovar resoluções e julgar recursos relacionados a procedimentos éticos e administrativos. Temos, atualmente, 16 CREFITOs e cada Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, respaldado na Lei 6316 de 17 de dezembro de 1975, tem como finalidade precípua a fiscalização do exercício profissional de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais em sua área de jurisdição. Veja, a seguir, a área de jurisdição de cada CREFITO. De qual CREFITO você fará parte como fisioterapeuta: Associações e Sindicatos As associações são sociedades de cunho científico, criadas com o objetivo de auxiliar os profissionais e estudantes com atividades que agreguem valor aos seus currículos, como cursos, palestras, congressos e jornadas, encontros, simpósios e demais eventos científicos. 12 Elas devem cuidar da reciclagem dos conhecimentos técnico-científicos dos profissionais, tendo como objetivo atualizá-los diante de uma sociedade que exige cada vez mais qualidade, especialização, excelência e competência. Também oferecem apoio ao profissional que é proprietário de um serviço, com ferramentas de gestão que melhorem a desempenho de suas atividades. Já os sindicatos têm como missão principal a luta pela melhoria das condições de trabalho, da remuneração dos profissionais, das relações entre proprietários de empresas privadas, públicas e colaboradores, e à defesa da classe, entre outras atividades. Eles têm como atribuição específica verificar jornada ideal de trabalho do profissional, piso salarial, acordos anuais, fazendo prevalecer todos os direitos trabalhistas garantidos pela CLT. Diferença entre COFFITO e Associações Classistas Como já dito, os Conselhos profissionais foram criadas como prolongamento do Estado para o atendimento do interesse público. É preciso afastar a compreensão de que os conselhos profissionais existem para defender interesses de seus integrantes, o que não corresponde ao papel institucional que lhes foi atribuído pelo Estado. Os conselhos profissionais não são entidades sindicais ou associativas que representam os interesses de seus filiados ou associados. O dever legal dos conselhos profissionais é o de zelar pelo interesse público, efetuando, para tanto, nos respectivos campos profissionais,a supervisão qualitativa, técnica e ética do exercício das profissões liberais. Nesse contexto, é nítida a enorme responsabilidade social que os conselhos profissionais possuem. Com efeito, as entidades de fiscalização profissional, no exercício do poder de polícia, devem zelar pela preservação de dois aspectos essenciais, que são a ética e a habilitação técnica adequada para o exercício profissional. A polícia das profissões, exercida pelos conselhos profissionais, visa conferir à sociedade confiança e tranquilidade em sua relação com profissionais das mais diversas espécies. 13 AULA 6 Introdução Nesta aula, vamos iniciar a apresentação dos recursos utilizados pelo fisioterapeuta para a manutenção e a recuperação da função do corpo humano. Apresentaremos, primeiramente, a cinesioterapia, que é o tratamento através do movimento. Utilizamos os diversos tipos de movimentos para restaurar a função de órgãos e sistemas do corpo humano. É nosso carro chefe dentro dos recursos fisioterapêuticos. Também falaremos dos recursos terapêuticos manuais – a massoterapia, a drenagem linfática, entre outras técnicas e conceitos. Discutiremos os efeitos fisiológicos e os objetivos para usarmos cada recurso. Também teremos oportunidade de discutir os exercícios na água e seus efeitos no corpo humano. É o início de um conhecimento relevante para o futuro fisioterapeuta. Cinesioterapia Termo originário da cinemática – parte da física que estuda o movimento que, associado à terapia, fornece a definição da terapia pelo movimento. O corpo humano é formado por vários tipos de alavancas (articulações) e, a partir das ações osteomioarticulares, realizam-se os mais variados tipos de movimentos (alguns de extrema simplicidade em contraste com outros muito sofisticados). Em função de alguma doença neurológica, cardiovascular, reumatológica, óssea, pulmonar e de traumas de diversas etiologias, o indivíduo deixa de realizar esses movimentos de forma parcial ou até mesmo total, perdendo sua funcionalidade, sua autonomia. A fisioterapia, por meio dos conhecimentos de cinemática, cinesiologia e biomecânica, utiliza fundamentalmente a terapia por movimento ou o movimento terapêutico para a recuperação funcional do indivíduo, sempre pensando de forma ampla e não só na sequela ou nas sequelas apresentadas. De acordo com a fase evolutiva do paciente e com os objetivos que o fisioterapeuta tenha, os recursos cinesiológicos são utilizados de forma direcionada. Tipos de movimentos utilizados na Cinesioterapia Cinesioterapia passiva Significa que o fisioterapeuta realiza os movimentos perdidos pelo paciente, pois, nessa fase, ele não consegue realizá-los. É uma parte inicial do tratamento, mas importante para que o paciente não perca trofismo nem o movimento articular, mantenha o comprimento das fibras musculares, bem como o estímulo cortical do movimento a ser recuperado. Cinesioterapia ativo-assistida Nessa fase do tratamento, o paciente já apresenta algum vestígio real do movimento, mas não consegue realizá-lo de forma independente, utilizando compensações com outros movimentos e/ou posturas, além de realizá-los com incoordenação motora muitas vezes. 14 O fisioterapeuta realiza o movimento junto com o paciente. Às vezes, auxilia-o no final do arco de movimento ou na direção. Estimula-o a participar e controla a coordenação e a velocidade necessárias à realização da atividade. Cinesioterapia ativa livre Nessa fase do tratamento, o paciente consegue realizar o movimento de forma independente na sua totalidade, sem a participação do fisioterapeuta. Dependendo dos objetivos do exercício, podem ser trabalhados: resistência à fadiga, fortalecimento, isometria (contração muscular sem movimento articular), além de coordenação motora e equilíbrio associados. Cinesioterapia ativa resistida Nessa fase do tratamento, o paciente consegue realizar os movimentos de forma independente, mas há necessidade de melhorar resistência à fadiga e força muscular. Para isso, é avaliada a capacidade do músculo para a realização dos movimentos contra resistência, sendo esta mensurada em maior ou menor quantidade de acordo com o objetivo a ser alcançado. Há outras modalidades associadas e que são parte essencial das abordagens cinesioterápicas, as quais são amplamente utilizadas. Isometria Os chamados exercícios isométricos são realizados com contração muscular sem encurtamento de fibras. Muitos autores preconizam o uso de contrações isométricas breves, visando ao fortalecimento, enquanto outros utilizam contrações mais longas com o objetivo de melhorar o aporte sanguíneo ao músculo, melhorando as condições de resistência à fadiga e posterior fortalecimento isotônico (com encurtamento de fibras). Por exemplo, empurrar uma palma da mão contra a outra. Exercícios isocinéticos A contração isocinética ocorre quando a velocidade de movimento é constante, mantendo a força máxima durante todo o movimento. Pode ser concêntrica e excêntrica. Relaxamento e inibição no preparo para o alongamento Manipulações utilizadas para aliviar dor, tensão muscular e disfunções físicas associadas, incluindo cefaleias por tensão, pressão arterial elevada e sobrecargas respiratórias. Essas manipulações são realizadas pelo fisioterapeuta independentemente da fase evolutiva de qualquer tratamento cinesiológico. Alongamento Para que haja amplitude de movimento normal, é necessário haver mobilidade e flexibilidade dos tecidos moles que circundam a articulação, os músculos, o tecido conectivo e a pele, e mobilidade articular. As condições que podem levar ao encurtamento adaptativo incluem: imobilização prolongada, mobilidade restrita, doença do tecido conectivo e/ou neuromuscular, traumas, deformidades ósseas congênitas e adquiridas. As técnicas de alongamento visam à manutenção da amplitude reduzida, sendo feita de forma passiva e/ou ativa. 15 Métodos de manipulação articular e miofascial (fáscia muscular) Existem, atualmente, várias abordagens metodológicas que visam essencialmente à melhora de dores localizadas e difusas, assim como a alterações posturais em função de desequilíbrios osteomioarticulares – Cyriax, Maitland, Osteopatia, Diafibrólise percutânea, Pompage, trações (cervical, torácica, lombar), Mackenzie. Reeducação postural Os desequilíbrios das cadeias musculares levam a alterações das curvaturas da coluna vertebral no sentido antero-posterior e/ou lateral. Em outras situações, problemas ósseos são os causadores de alterações nessas mesmas cadeias, levando também a alterações posturais e desequilíbrios das cinturas pélvica e escapular, assim como o encurtamento de membros inferiores. As alterações posturais podem trazer consequências ao sistema cardiovascular e respiratório, além de dores e limitação funcional, muitas vezes graves. Reeducação postural global (RPG) As escolas francesas voltadas para a cinesioterapia possuem vasta experiência e tradição na análise postural e nas limitações corporais muito além de simples avaliação e tratamento. Vários teóricos podem ser citados nessa linha de trabalho: Therese Bertherat, Marcel Bienfait, Leopold Busquet, Mezieres, Godelieve Denys-Struyf. Philippe Souchard faz parte desse grupo de pesquisadores e idealizou um método no qual são utilizados os princípios das cadeias musculares associadas a posturas de correção, sempre com a participação fundamental do trabalho respiratório do diafragma, principalmúsculo inspiratório. 16 Mecanoterapia O termo significa a utilização de aparelhos e/ou utensílios que oponham resistência aos movimentos solicitados: Halteres de ferro com pesos graduados, caneleiras de resistência gradual (0,5Kg até 5Kg); Mesa para extensão de joelho com carga progressiva e flexão de perna sobre coxa; Sistema de polias de parede com resistência gradual; Aparelhos fixos para movimentos de braço e coxa contra resistência progressiva; Bicicletas ergométricas estacionárias com resistência gradual; Esteira com velocidade gradual e inclinação progressiva, indo da marcha até a corrida; Cicloergômetro de braço – realiza o movimento da bicicleta voltado para o fortalecimento de braços; Barras paralelas (com e sem obstáculos) – utilizadas para treinamento de marcha e coordenação; Escadas com dois tipos de degraus – utilizadas no treinamento de subida e descida de escadas com dois níveis de dificuldade em função da altura e da profundidade dos degraus. Vejamos, agora, alguns movimentos realizados no ambiente aquático: Hidrocinesioterapia Difere da hidroterapia, pois, nesse caso, são utilizadas as propriedades físicas da água de uma piscina aquecida para a realização de movimentos, isto é, são os princípios da cinesioterapia aplicados a um ambiente aquático; Cinesioterapia aquática Aqui, são utilizados os diversos tipos de exercício terapêutico, aproveitando as forças de empuxo, flutuação, densidade e temperatura da água para facilitar e/ou dificultar progressivamente a evolução do tratamento, incluindo, treinamento de marcha, alongamento e relaxamento muscular. Muitos movimentos só são possíveis se realizados na água, enquanto outros necessitam do solo. Em função disso, o tratamento aquático não anula o tratamento no solo, pelo contrário, os dois interagem sempre. 17 De forma mais direcionada à recuperação funcional do paciente, são aplicados métodos específicos que utilizam princípios diferentes com objetivos finais semelhantes: Método Halliwick Utiliza princípios da natação (nado livre e outros) aplicados à recuperação funcional de pacientes ortopédicos, amputados e com doenças neurológicas (sequelas de acidente vascular cerebral, lesões cerebrais infantis, entre outras); Método Watsu Proporcionalmente mais recente (criado em 1980), está baseado nos princípios do zen shiatsu aplicáveis na água. Não é propriamente um método voltado para a recuperação funcional, mas realiza, de forma ampla, alongamento e relaxamento de todos os segmentos corporais, servindo como proposta pré e pós em relação a outros métodos. Pode ser aplicado em pessoas sem alterações funcionais, como também com sequelas de doenças musculoesqueléticas e neuromusculares com boa resposta. Método Bad Ragaz Utiliza princípios da facilitação neuromuscular proprioceptiva na recuperação funcional. Essa facilitação foi organizada em um método de tratamento no solo, denominado método Kabat, em função do seu criador, o qual utiliza um sistema de movimentos em diagonal nos diversos segmentos corporais, visando facilitar a propriocepção neuromuscular na recuperação da função. Massoterapia Tratamento pela massagem (radical latino – massa: mistura úmida própria para fazer vasos e esculturas – e palavra latina – therapeía: tratamento). Originalmente, o termo foi utilizado na França – massage – por causa do tipo de movimento executado pelas mãos. 18 AULA 7 Introdução Os procedimentos da Fisioterapia contribuem para a prevenção, cura e recuperação da saúde. Para que o fisioterapeuta prescreva os recursos terapêuticos que serão utilizados, ele terá de proceder à elaboração do Diagnóstico Cinesiológico Funcional. Ele identifica a abrangência da disfunção, assim como acompanha a resposta terapêutica aos procedimentos indicados pelo fisioterapeuta. Já discutimos alguns na aula anterior e agora veremos outros, como a termoterapia, eletroterapia, fototerapia e temos outros, alguns não tão conhecidos – equoterapia/hippoterapia; acupuntura; cromoterapia; magnetoterapia; argiloterapia; geoterapia; talassoterapia, dentre outras. Diagnóstico Cinesiológico Funcional O diagnóstico cinesiológico funcional está previsto na Resolução COFFITO-80, tabela do SUS (que prevê a consulta fisioterapêutica) e no Referencial de Honorários Fisioterapêuticos. Alguns convênios já cobrem a avaliação fisioterapêutica. Nosso diagnóstico sempre tem como objeto de estudo a função. Vejamos: A Resolução COFFITO-80: Artigo 1º. É competência do FISIOTERAPEUTA, elaborar o diagnóstico fisioterapêutico compreendido como avaliação físico-funcional, sendo esta, um processo pelo qual, através de metodologias e técnicas fisioterapêuticas, são analisados e estudados os desvios físico- funcionais intercorrentes, na sua estrutura e no seu funcionamento, com a finalidade de detectar e parametrar as alterações apresentadas. Termoterapia O que é? A termoterapia consiste na aplicação de calor no local lesionado. Classificação: Pode ser classificada quanto à profundidade atingida: Superficial Compressas quentes e imersão - turbilhão (hidroterapia); radiação por infravermelho (fototerapia); banho de parafina e Forno de Bier. 19 Turbilhão Infravermelho Profunda Diatermia por ondas curtas; diatermia por micro-ondas; ultrassom terapêutico. Embora a sua regulação seja complicada, o aquecimento superficial é de fácil acesso, seguro e mais barato do que o profundo. Modalidades termoterápicas Condução: a transferência do calor é feita através do contato direto entre dois corpos, por exemplo a pele e uma compressa quente. É uma aplicação superficial que se limita à região cutânea, alcançando uma profundidade de 1cm aproximadamente, não alterando os tecidos mais profundos, exceto por reações reflexas. Convecção: é feita através de um intermediário, como o ar ou a água; é o movimento de moléculas móveis no meio de um fluido, ou seja, em líquido ou formação gasosa (turbilhão, forno de Bier, sauna); Conversão: trata-se da conversão de fótons, energia elétrica ou sônica em calor. Tem por base o efeito Joule, o qual utiliza a resistência dos tecidos quando da passagem da corrente elétrica para a produção de calor (ondas curtas, micro-ondas, ultrassom, infravermelho). No aquecimento profundo, ou diatermia, a transferência do calor é sempre feita por conversão. 20 Indicações A aplicação de calor superficial está indicada sempre que se pretenda analgesia, diminuição da rigidez articular ou peri-articular, diminuição do tônus muscular, relaxamento da musculatura lisa (por exemplo em cólicas gastrointestinais), resolução de infiltrados inflamatórios com remoção de produtos necróticos, estimulação trófica e facilitação de técnicas cinesiológicas (treino de aumento de amplitude articular e flexibilidade). Precauções e contraindicações Patologia inflamatória ou traumática aguda, hemorragias ou alterações da coagulação, vasculopatia aterosclerótica, áreas isquêmicas, patologia cardiovascular descompensada, patologia neoplásica (câncer) ou infecciosa, lesões dermatológicas, alterações da sensibilidade térmica, doentes sedados ou obnubilados, cartilagens de crescimento, útero grávido e cicatrizes ou feridas abertas. Crioterapia O que é? A terapia pelo frio, conjuntamente com a terapiapelo representa seguramente a mais antiga aplicação terapêutica de agentes físicos. O calor e frio são valiosos coadjuvantes na recuperação funcional, devendo ser combinados com as técnicas cinesiológicas e com uma eventual abordagem farmacológica – que será prescrita pelo médico. A crioterapia consiste na aplicação do frio com objetivos terapêuticos, produzindo efeitos locais e à distância, resultando na remoção do calor corporal e na diminuição da temperatura dos tecidos. Formas de aplicação Compressa de gelo; Compressa de gel frio; Imersão em gelo ou banho frio; Crio massagem; Sprays refrigerantes. 21 Indicações O frio pode ser aplicado quando se pretende analgesia, vasoconstrição com redução do fluxo sanguíneo, redução da inflamação e do edema na fase aguda de traumatismos ou queimaduras, redução do metabolismo celular, redução da hemorragia, diminuição da espasticidade, facilitação de técnicas cinesiológicas, normalização térmica em situações de hiperaquecimento muscular e estimulação da regeneração e do trofismo celular em patologias traumáticas crônicas. Precauções e contraindicações A crioterapia pode agravar a isquemia ao provocar uma redução adicional do fluxo sanguíneo e desencadear fenômenos vaso-espásticos. Deve ser evitada ou usada com precaução em vasculopatia aterosclerótica e zonas isquêmicas, fenômenos vaso-espásticos (doença de Raynaud), neuropatia diabética, patologia cardiovascular descompensada, alterações da sensibilidade cutânea, doentes sedados ou obnubilados, que não respondam à dor, alergia ou intolerância ao frio e feridas abertas. Com isso podemos observar que devemos optar pela crioterapia nos casos agudos e pela termoterapia (aquecimento) nos casos crônicos, na sua grande maioria. Eletroterapia O que é? Recurso terapeutico que toma por base a utilização da eletricidade, parte da física que estuda as manifestações elétricas. Classificação das correntes elétricas Contínua Quando é unidirecional, ou seja, os elétrons se deslocam em uma única direção. 22 Alternada Quando é bidirecional, ou seja, seus elétrons ora se deslocam em uma direção, ora em outra. Tipos de correntes elétricas Corrente galvânica É uma corrente contínua de fluxo de elétrons com direção e intensidade constantes e com efeitos polares. Também conhecida como corrente contínua e unidirecional. O fluxo de corrente se dá do negativo para o positivo. É a forma mais antiga de eletroterapia. Efeitos terapêuticos: Analgesia; Estimulação nervosa; Ação anti-inflamatória; Atuação nos transtornos circulatórios. Iontoforese Penetração de substância terapêutica através de pele íntegra por intermédio da corrente galvânica. Além do efeito da corrente elétrica ocorre também o efeito da substância utilizada. Conhecida também como ionização. Indicações: Principalmente em afecções nas quais a atuação da eletricidade e do fármaco se fazem necessários em conjunto. Contraindicações: Ocorrência de cefaleia, Vertigens; Irritações de pele; Perda de sensibilidade; Área cardíaca. Eletroestimulação funcional (functional eletrical stimulation – FES) Na prática clínica é denominada comumente FES.Em 1961, Liberson idealizou um gerador de pulsos cujos eletrodos estimulavam o nervo fibular, tendo sido colocados na fossa poplítea, promovendo o movimento de flexão dorsal do pé durante a fase de passagem, permitindo uma marcha mais eficiente. Vodovnik denominou essa técnica de FES. O objetivo da FES é promover contração em músculos privados de controle nervoso, resultando em movimento funcional.As contrações evocadas são obtidas a partir de vários pulsos elétricos de pequena duração aplicados com frequência controlada. Esses trens de pulso obtêm 23 contrações em condições mais fisiológicas sem riscos de queimaduras e o desconforto produzido pela exposição mais longa é eletricidade. Corrente Russa No final dos anos 70, os países da extinta União Soviética aumentaram o interesse pela eletroterapia, pois se afirmava que a ativação elétrica regular do músculo era mais efetiva que o exercício no fortalecimento do músculo esquelético em atletas de elite. Em 1977, Yakov Kots apresentou os resultados de uma pesquisa desenvolvida a partir de uma técnica de eletroestimulação que aumentou em 30 a 40% a força muscular de atletas de elite e cosmonautas, sendo que esses ganhos eram superiores aos obtidos apenas com a realização de exercícios. Outros benefícios observados pela técnica foram o aumento da resistência muscular e a alteração da velocidade das contrações musculares. A corrente originalmente utilizada foi do tipo alternada simétrica sinusoidal de 2500Hz que era modulada por burst (rajada – ciclo) a cada 10ms para fornecer 50bursts por segundo.Essa forma de estimulação foi comercializada como estimulação russa.Pode ser definida como uma corrente alternada de média frequência, a qual pode ser modulada por “rajadas” e é utilizada com fins excitomotores. Neurostimulação sensorial transcutânea (TENS) É uma técnica de neuroestimulação sensorial superficial, não invasiva e não lesiva, utilizando eletrodos transcutâneos, visando ao tratamento da dor.Apesar de poder provocar contrações musculares, seu objetivo principal é o controle da dor. Microcorrentes Tipo de eletroestimulação que utiliza correntes com parâmetros de intensidade na faixa dos microamperes e são de baixa frequência, podendo ser utilizada de forma contínua ou alternada. O modo normal de aplicação não consegue ativar as fibras nervosas sensoriais subcutâneas e, dessa forma, os pacientes não têm nenhuma percepção de sensação de formigamento, comumente relatada. Essa forma de estimulação elétrica tende a ser em nível subsensorial ou sensorial muito baixo, com operação abaixo de 1000microamperes.Em comparação com o TENS, a terapia com microcorrentes, além de eliminar a dor ou reduzi-la, acelera o processo de reparação tecidual. Fototerapia Laser : o que é? O termo laser significa Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation. É um tipo de radiação eletromagnética não ionizante, monocromática. Suas ondas propagam-se com a mesma fase no espaço e no tempo. Sua direcionalidade permite a obtenção de alta densidade de energia concentrada em pequenos pontos. Essas características proporcionam propriedades terapêuticas importantes (trófico regenerativas, anti-inflamatórias e analgésicas). Promovem um aumento na microcirculação local, na circulação linfática, proliferação de células epiteliais e fibroblastos, assim como aumento da síntese de colágeno. 24 Tipos de emissores Classicamente há três tipos de emissores de laser na fisioterapia: Hélio – Neônio (He-Ne ) – Longitude de onda 632.8mm; Arseneto de Gálio ( AsGa ) – Longitude varia de 760 a 830 mm; Dióxido de Carbono ( Co2 ) – Longitude de 10 000 nm (não é usado no Brasil). Efeitos Podemos resumir os efeitos nos seguintes: • Produção de ATP ( energia ); • Aumento da síntese de proteínas; • Inibição de prostaglandinas; • Melhora da micro-circulação; • Efeitos anti-inflamatórios. Contra indicações • Tumores; • Tromboses; • Flebite; • Arteriopatias graves; • Pele fotossensível. Ultravioleta o que é? São vibrações eletromagnéticas, produzidasatravés do aquecimento de um corpo, cujo comprimento de onda se situa na faixa de 1440ª até 3900ª. O fundamento da terapia UV está baseado em reações químicas, onde os fótons da radiação UV podem causar transições eletrônicas e produzir átomos excitados ou desassociados capazes de produzir essas reações químicas. A absorção do UV é muito pequena (não ultrapassa 1mm), não ultrapassando a epiderme. Efeitos fisiológicos: produção de eritema, pigmentação, estímulo à produção de vitamina D, potencialização do metabolismo de cálcio e fósforo, destruição celular, hiperplasia epidérmica, envelhecimento da pele. Efeitos terapêuticos: Bactericida. 25 AULA 8 Introdução A fisioterapia é uma ciência aplicada que estuda o movimento humano, em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas alterações patológicas, quer nas repercussões psíquicas e orgânicas, com a finalidade de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgãos, sistema ou função. O fisioterapeuta é capacitado a avaliar, reavaliar, prescrever tratamento físico funcional, próteses, dar diagnóstico, prognóstico, intervenção e alta. Nosso objeto de estudo é a cinesia e a função. Nosso olhar sempre estará voltado para a disfunção de órgãos e sistemas. Especialidades da área de saúde na Fisioterapia Sabemos que a fisioterapia é uma ciência aplicada que estuda o movimento humano, em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas alterações patológicas, quer nas repercussões psíquicas e orgânicas, com a finalidade de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgãos, sistema ou função. Em nossas aulas anteriores, vimos também que o fisioterapeuta é capacitado a avaliar, reavaliar, prescrever tratamento físico funcional, próteses, dar diagnóstico, prognóstico, intervenção e alta. Nosso objeto de estudo é a cinesia e a função. Nosso olhar sempre estará voltado para a disfunção de órgãos e sistemas. Devido a isso, é de extrema importância que o fisioterapeuta tenha o conhecimento de todas as áreas da fisioterapia. Fisioterapia dermatofuncional Atua em disfunções que afetam direta ou indiretamente o sistema tegumentar e a capacidade funcional do indivíduo. Antevê a prevenção, promoção e recuperação do indivíduo, no que se refere aos distúrbios endócrino/metabólicos, dermatológicos, circulatórios e/ou musculoesqueléticos. Pode-se atuar na atenção a saúde em alta complexidade junto a hospitais de grandes queimados, em consultórios e clinica dermatológica de cirurgias plásticas e de cuidados estéticos. Fisioterapia do trabalho Atua na promoção de saúde e prevenção de lesões relacionadas ao trabalho, assim como no resgate da saúde do trabalhador, sempre com uma visão funcional. Engloba conhecimentos de ergonomia, biomecânica e exercícios laborais (referente ao trabalho), sob o enfoque multiprofissional e interdisciplinar, com o propósito de melhorar a qualidade de vida do trabalhador. Atua em empresas e/ou organizações intervindo preventivamente e/ou terapeuticamente. Fisioterapia gerontológica Estuda, previne e trata as disfunções decorrentes do processo de envelhecimento, mediante a administração de condutas fisioterapêuticas, prevenindo quedas e promovendo a recuperação 26 funcional global de pessoas idosas. Uma área que tende a crescer em decorrência do envelhecimento populacional brasileira. Fisioterapia uroginecológica e obstétrica É uma especialidade que atua no tratamento das disfunções urogenitais como incontinência urinária e nas distopias genitais como os prolapsos – “bexiga caída”. É apontada como procedimento de primeira escolha no tratamento dessas disfunções, evitando ou retardando o processo cirúrgico. Administra procedimentos próprios que visam a conscientização corporal, eletroterapia, cinesioterapia e outros recursos na incontinência urinária e fecal masculina e feminina, no vaginismo, na endometriose, na tensão pré-menstrual, na dismenorreia (menstruação dolorosas), na dor pélvica crônica, entre outros. No período gestacional a atuação fisioterapêutica é muito importante, a fim de tratar as alterações posturais decorrentes da gravidez, a minimização do edema (inchaço) gestacional com auxílio da drenagem linfática manual e, ainda, a preparação da gestante para o período pós- parto, com exercícios de fortalecimento de períneo (região situada entre a vulva e o ânus) e músculos abdominais. Todo o cuidado durante a gestação vai ajudar na recuperação da puérpera (o pós-parto). Pode atuar em academias e maternidades, além de clinicas obstétricas e de cuidados estéticos. Fisioterapia neurofuncional Área da fisioterapia que estuda, previne, diagnostica e trata os distúrbios neurológicos que envolvem as funções neuromotoras; como por exemplo, pacientes que sofreram acidente vascular encefálico (AVE). A fisioterapia neurofuncional induz ações terapêuticas para recuperação de funções, dentre elas a coordenação motora, a força, o equilíbrio e a coordenação. A fisioterapia neurofuncional pode minimizar as deficiências advindas das doenças que acometem o sistema nervoso como: Paralisia cerebral; Esclerose múltipla; Acidente vascular encefálico (derrame cerebral); Doença de Parkinson, entre outras. Atua também preventivamente junto a hipertensos e diabéticos e promove educação na saúde junto a jovens, prevenindo os problemas relacionados a violências no trânsito, que podem resultar em TCE (traumatismo crânio encefálico) e lesões raquimedulares. Fisioterapia musculoesquelética Estuda, diagnostica e trata as disfunções musculoesqueléticas, de origem ortopédica, reumática ou decorrente de traumatismos. Tem como recursos a cinesioterapia (terapia do movimento), eletroterapia, termoterapia, hidrocinesioterapia para aumentar a capacidade de movimentação, estimular a circulação e diminuir as dores de pacientes com fraturas, traumas musculares e entorses. Fisioterapia respiratória Pode atuar tanto na prevenção/ promoção à saúde quanto no tratamento das pneumopatias (doença que afeta os pulmões) utilizando-se de diversas técnicas e procedimentos terapêuticos 27 quanto em nível ambulatorial, hospitalar ou de terapia intensiva. Tem o objetivo de estabelecer ou restabelecer um padrão respiratório funcional, reduzindo os gastos energéticos durante a respiração, capacitando o indivíduo a realizar as mais diferentes atividades de vida diária sem promover grandes transtornos e repercussões negativas em seu organismo. Utiliza técnicas e manobras que visam melhorar a dinâmica respiratória e a distribuição do ar inalado no pulmão, removendo secreções brônquicas, e obtendo assim um melhor desempenho respiratório. Além das técnicas manuais, existem diversos equipamentos que auxiliam na obtenção desses resultados. Fisioterapia cardiovascular Tem como objetivo a melhoria do condicionamento físico, qualidade de vida e redução dos fatores de risco associados a doenças cardiovasculares. O fisioterapeuta faz parte de uma equipe multiprofissional atuando na Educação na Saúde da comunidade. Na Reabilitação Cardíaca (RC) atua no conjunto das intervenções necessárias para fornecer ao doente cardíaco uma condição física funcional, psicológica e social o melhor quanto possível. Atua também nas disfunções vasculares, pós-cirúrgicos e na drenagem linfática. Fisioterapia pediátrica Utiliza uma abordagem com base em técnicas neurológicas e cardiorrespiratórias especializadas, integrando os objetivos fisioterápicos com atividades lúdicas e sociais, levando a criança a uma maior integraçãocom sua família e a sociedade. Pode atuar em creches (orientação a berçaristas, pais ou em estimulação ao desenvolvimento psicomotor das crianças), em consultórios e clinicas (crianças que apresentam atrasos ou distúrbios no desenvolvimento psicomotor), ou em hospitais e Unidades de Terapia Intensiva neonatal. Fisioterapia esportiva É uma área relacionada a equipe da medicina esportiva. Sua prática e métodos são aplicados na prevenção de lesões ou no caso de lesões já instaladas, com o propósito de recuperar a disfunção e devolver o atleta para a prática esportiva. O trabalho da fisioterapia desportiva é bastante diferente dos outros, pois tudo tem de ser muito rápido e funcionalmente mais efetivo, pois o atleta mais do que qualquer outro indivíduo precisará executar todas as funções do seu corpo, músculos, ossos e articulações, no máximo de potência e amplitude para execução perfeita de todos os movimentos. Fisioterapia da ATM (articulação temporo mandibular) Atua principalmente na saúde bucal em conjunto com a odontologia, tratando de disfunções da ATM. Por ser uma das articulações mais utilizadas de todo o corpo (abre-se e fecha-se a boca aproximadamente 1500 a 2000 vezes ao dia, durante os movimentos de falar, mastigar, deglutir, bocejar e ressonar), o tratamento fisioterapêutico em conjunto com o tratamento multidisciplinar, proporciona um alívio das condições sintomatológicas do paciente, buscando restabelecer a função normal do aparelho mastigatório. 28 Fisioterapia oncológica Desempenha um importante papel na prevenção, minimização e tratamento dos efeitos adversos do tratamento do câncer. É um dos procedimentos que estão sendo adotados, tanto após uma cirurgia de câncer como também durante todo o tratamento. Esse recurso pode ser utilizado em todos os casos, como nos de câncer de mama, tumores de cabeça e pescoço, além dos relacionados ao sistema músculoesquelético. A fisioterapia, quando iniciada precocemente, desempenha um importante papel na busca da prevenção das complicações advindas do tratamento do câncer, favorecendo o retorno às atividades de vida diária, e melhor qualidade de vida. Muitas vezes, a fisioterapia começa no período pré- operatório. O tratamento fisioterapêutico também é importante durante as fases de quimioterapia e radioterapia e também, nos cuidados paliativos. Fisioterapia preventiva escolar Ainda representa um campo de atuação que precisa ser melhor explorado pelo fisioterapeuta. Tem como principais focos de ação os aspectos relacionados à postura, problemas físicos (obesidade e sedentarismo), o estresse infantil e a inclusão social. O fisioterapeuta busca através de sua visão global e de seus conhecimentos a respeito do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), facilitar a aquisição/aprimoramento de certas habilidades e conceitos necessários, prévios ao processo de alfabetização. O fisioterapeuta agrega conhecimentos e capacidade de avaliação e planejamento de atividades que possam apoiar o professor no processo de alfabetização e inclusão do aluno. NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família) Promove atenção específica da fisioterapia junto às famílias, mas também age como educador e promovedor de ideias e ações que contribuam para o controle e prevenção das enfermidades. Atua nos condicionantes e determinantes do processo saúde/doença, com a compreensão que a promoção de saúde é resultante de um trabalho articulado envolvendo todas as esferas de governo e o controle social. Com conhecimentos sobre as doutrinas e processos organizativos do SUS, incorpora saberes e práticas na inserção do fisioterapeuta no Programa Saúde da Família, além de um entendimento sobre os conceitos e definições do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF). 29 AULA 9 Introdução A Oitava Conferência Nacional de Saúde (8ª CNS), cuja realização esteve diretamente vinculada ao movimento sanitarista, ocorreu em março de 1986, tendo como um de seus principais temas (senão o principal), a reformulação do sistema nacional de saúde. Em seu relatório final, a saúde foi definida, em sentido mais abrangente, como: “saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. [... Por não ser um conceito abstrato, saúde] define-se no contexto histórico de determinada sociedade e em um dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas”. E em maio de 1987, após a 8ª CNS e antes da criação do Sistema Único de Saúde, a Resolução COFFITO nº 80, por meio de atos complementares, buscou ampliar as atribuições do fisioterapeuta, expressas na Resolução nº 08/78, em uma perspectiva que procurou adequar a Fisioterapia ao novo momento do cenário sanitário brasileiro. Sistema de saúde brasileiro Intensas transformações no sistema de saúde brasileiro ocorreram nos últimos anos. Vejamos algumas importantes: Início da década de 80: Junto ao processo de redemocratização iniciado nos anos 1980, o país passou por grave crise na área econômico-financeira. No início da década de 1980, procurou-se consolidar o processo de expansão da cobertura assistencial iniciado na segunda metade dos anos 1970, em atendimento às proposições formuladas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava "Saúde para Todos no Ano 2000", principalmente por meio da Atenção Primária à Saúde. Final da década de 80: A 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em março de 1986, é considerada um marco histórico. Ela consagra os princípios preconizados pelo Movimento da Reforma Sanitária e o capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, promulgada em outubro de 1988, retrata o resultado de todo o processo desenvolvido ao longo desse período. Foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS) e determinando que "a saúde é direito de todos e dever do Estado" (art. 196). Sistema Único de Saúde – SUS O SUS é o sistema nacional de saúde brasileiro, regulamentado pelas Leis Orgânicas nº 8.080 e nº 8.142 de 1990, que trata das ações de saúde, organização e funcionamento dos Serviços (BRASIL, 1990). Por meio do SUS, as ações em saúde visam intervir nas condições de vida da população, com a finalidade de melhoria da qualidade de vida. A Lei 8.080, de setembro de 1990, prevê que as ações devem ser desenvolvidas e organizadas em uma rede de serviços regionalizada e hierarquizada. A tecnologia utilizada nas ações deve 30 ser adequada a cada nível, com mecanismos formalizados de referência e contra referência. Devem visar ao atendimento integral da população. A atenção básica passa, então, a ser compreendida como “porta de entrada” para o sistema de saúde, passando a ser defendida como o primeiro nível do cuidado. É representada por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. Nesse contexto, as organizações de saúde e as pessoas que nelas trabalham precisam desenvolver uma dinâmica de aprendizagem e inovação. Esse é primeiro passo: a capacidade crescente de adaptação às mudanças observadas no mundo atual. Devem-se procurar os conhecimentos e habilidades necessários e a melhor maneira de transmiti- los para formar esse novo profissional, ajustado à sociedade e a realidade atual. Deve estar preparado para acompanhar as transformações futuras.É esse um dos grandes desafios a serem enfrentados. Conceito de Saúde A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como sendo o estado de completo bem-estar físico, mental e social. Ou seja, o conceito de saúde transcende à ausência de doenças e afecções. A saúde de um indivíduo pode ser determinada pela própria biologia humana, pelo ambiente físico, social e econômico a que está exposto e pelo seu estilo de vida, isto é, pelos hábitos de alimentação e outros comportamentos que podem ser benéficos ou prejudiciais. Em outras palavras, a saúde pode ser definida como o nível de eficácia funcional e metabólica de um organismo em nível micro (celular) e macro (social). O estilo de vida, isto é, o conjunto de comportamentos adotados por uma pessoa, pode ser benéfico ou prejudicial à saúde. Por exemplo, um indivíduo que mantém uma alimentação equilibrada e que realiza atividades físicas diariamente tem mais hipóteses de desfrutar de uma boa saúde. Pelo contrário, as pessoas que comem e bebem em excesso, que não descansam o suficiente e que fumam, correm sérios riscos de sofrer doenças que poderiam ser evitadas. Em linhas gerais, a saúde pode dividir-se em saúde física e saúde mental embora, na realidade, sejam dois aspectos inter-relacionados. Fisioterapia e o Sistema Único de Saúde A saúde da população necessita da adequação dos profissionais de saúde. Para isso, as instituições de ensino superior (IES) em saúde, como a Estácio, surgem como importante instrumento para as ações do SUS. Com a finalidade de proporcionar a aproximação da Educação Superior com os desígnios do SUS, desde o ano 2000, as orientações para os cursos de graduação encontram-se pautadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais, que propõem a formação de egressos/profissionais de saúde com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. A Estácio tem um grande desafio em torno da formação dos seus profissionais. Como um caminho a ser seguido, os responsáveis por tal formação (docentes, supervisores de estágio e os próprios acadêmicos) devem estar imbuídos de um espírito transformador, comprometidos com 31 a sociedade, com a ética de suas ações e identificados com a necessidade de cumprimento do papel da profissão na área da saúde. Vejamos algumas considerações acerca da relação entre a formação de fisioterapeutas e o SUS: Temos poucas publicações acerca do tema – Fisioterapia e SUS; Os docentes, na grande maioria, são profissionais que atuam na saúde privada e na média e alta complexidades de atenção a saúde; Visualização das necessidades de saúde da população regional, contribuindo para a relevância social da universidade; Comprometimento do futuro profissional fisioterapeuta com os preceitos do SUS; Formação de fisioterapeuta crítico, cidadão, ético e generalista; Necessidade de olhar para os modelos de atenção à saúde como referência para a futura atuação do fisioterapeuta. Isto representa um grande desafio para o SUS e para as próprias instituições de ensino que tratam das necessidades de saúde da população. Concorda? No caso da fisioterapia mais especificamente vinculada à Saúde Coletiva, é interessante observá-la juntamente com o curso histórico da doença, no qual a prevenção tem uma hierarquia. Porém, neste caso, torna-se mais interessante atrelar a fisioterapia à Promoção de Saúde. 32 AULA 10 Introdução Na nova realidade do mercado de trabalho e com a globalização, muitos setores da economia sofreram fortes pressões para se adaptar aos novos temos. Novos empregos surgiram, exigindo qualificações dos trabalhadores diferentes das que existiam até então. Há uma grande demanda por profissionais com conhecimentos mais específicos. E isso não foi diferente com a Fisioterapia. Nesta aula, teremos a oportunidade de refletir sobre a atuação do fisioterapeuta e as competências e habilidades necessárias para ocupar esses espaços de atuação. Definição de saúde: revendo conceitos Vamos rever dois conceitos de saúde? Verificamos, então, que falar de saúde implica levar em conta, por exemplo, a qualidade da água que se consome e do ar que se respira, as condições de fabricação e o uso de equipamentos nucleares ou bélicos, o consumismo desenfreado e a miséria, a degradação social ou a desnutrição, estilos de vida pessoais e formas de inserção das diferentes parcelas da população no mundo do trabalho; envolve aspectos éticos relacionados ao direito à vida e à saúde, direitos e deveres, ações e omissões de indivíduos e grupos sociais, dos serviços privados e do poder público. A saúde é produto e parte do estilo de vida e das condições de existência, sendo a vivência do processo saúde/doença uma forma de representação da inserção humana no mundo. No Brasil, a Constituição legitima o direito de todos, sem qualquer discriminação, às ações de saúde, assim como explicita o dever do poder público em prover pleno gozo desse direito. Trata-se de uma formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços e das ações de saúde, baseada em princípios doutrinários que dão valor legal ao exercício de uma prática de saúde ética, que responda não a relações de mercado, mas a direitos humanos: 33 Mudanças no perfil da população brasileira O elevado crescimento populacional, o aumento da taxa de urbanização e a crescente expectativa de vida caracterizam a transição demográfica brasileira. O Brasil apresenta mudanças significativas no perfil populacional. Houve uma gradativa superação da fome e caminhamos para uma crescente prevalência da obesidade, migrando a principal preocupação da fome/desnutrição para o sobrepeso/obesidade. A obesidade, associada ao sedentarismo, apresenta-se como importante fator de risco para problemas de saúde como hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia etc. As doenças cerebrovasculares quase sempre deixam sequelas que levam à limitação da locomoção humana ou incapacidade física e funcional. Por exemplo: os Acidentes Vasculares Encefálicos (AVEs). O perfil de mortalidade da população brasileira no decorrer do século XX apresenta diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) e aumento dos óbitos por doenças do aparelho circulatório, por doenças neoplásicas (câncer) e por causas externas. Os episódios de violência, especialmente os acidentes de tráfego, além de produzirem considerável número de óbitos, possuem grande poder incapacitante e têm gerado grandes contingentes de sequelados. A dinâmica das transformações socioeconômicas, nas últimas quatro décadas, tem impactado profundamente no trabalho. A implantação da gestão “pelo estresse”, a crescente intensidade do trabalho, o aumento da pressão, do controle, da responsabilização, da competição entre os trabalhadores e da sobrecarga mental e emocional adoecem nossos trabalhadores. Crescem e diversificam-se as formas de sofrimento e as doenças ligadas ao exercício do trabalho: fadiga generalizada, dores musculares, estresse, ansiedade, angústia, depressão, medo, esgotamento profissional (síndrome de Burnout), síndrome do pânico, LER/DORT e problemas cardíacos. A população brasileira, antes considerada “jovem”, ou seja, com uma população predominantemente concentrada entre as idades mais novas, passou agora a ser considerada “adulta”, o que significa que o número de pessoas nas faixas etárias menores está menor e o número de pessoas mais velhas, maior. Essa
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