Buscar

A PROPÓSITO DA INTRODUÇÃO À CRÍTICA DA RAZÃO PURA DE KANT

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Revista Eletrônica Print by<http://www.funrei.br/revistas/filosofia>
Metavnoia. São João del-Rei, n. 1, p 84-91, 1998/1999
A PROPÓSITO DA INTRODUÇÃO À CRÍTICA
DA RAZÃO PURA DE IMMANUEL KANT
Acadêmico Neilson da Silva (PBIC-CNPq)
Orientador: Prof. Adelmo José da Silva (FUNREI-DFIME)
Resumo: O objetivo desse trabalho é fazer um comentário acerca da introdução à Crítica da
Razão Pura de Immanuel Kant. A introdução e também os prefácios da primeira e da segunda
edição da Crítica da Razão Pura constituem a propedêutica para uma melhor compreensão do
criticismo kantiano. Immanuel Kant assegura que a primeira fase da sua filosofia segue o exem-
plo das transformações ocorridas na ciência do seu tempo. Parodiando o método dos consagra-
dos físicos modernos, Kant limita todo o nosso conhecimento à experiência sensível. Depois,
seguindo o exemplo da química no que diz respeito aos processos de separação das substân-
cias, Kant divide o mundo filosófico em fenômeno e nôumeno. Por conseguinte, Ao descobrir que
a Terra não era o centro do universo, descobriu-se, também, o verdadeiro lugar do homem no
mundo do conhecimento; todavia é influenciado pela mudança de paradigma ocorrida na astro-
nomia que Kant realiza a chamada revolução copernicana na filosofia. Kant fez com que o con-
ceito de razão passasse por diversas modificações. O incondicionado conduz a razão à preten-
são orgulhosa de obter uma unidade absoluta dos fenômenos, o que segundo Kant é impossível.
A metafísica tradicional, que partia do pressuposto de poder conhecer os seus enunciados trans-
cendentes, encontra, em Kant, a impossibilidade de demonstrar, através da razão, os seus pres-
supostos de natureza puramente intelectual.
Palavras-chave: Razão. Paralogismo. Antinomia.
1. Introdução
 metafísica, que no passado fora
considerada a rainha de todas as
ciências, no mundo moderno
precisou de um novo conceito para se
sustentar. Daí resulta a importância de
Kant, pois foi ele quem dividiu o mundo
filosófico em fenômeno e nôumeno. Na
visão kantiana, o fenômeno é possível
de ser conhecido, quando se encontra
sujeito às formas a priori da sensibilida-
de, do entendimento e da razão; o nôu-
meno, Kant denomina coisa em si, não
podendo, em hipótese alguma, ser co-
nhecido, mas somente pensado. Não é
dada, ao homem, a capacidade de co-
nhecer o nôumeno, portanto, fica impos-
sibilitado o conhecimento acerca dos
diversos enunciados metafísicos: a per-
manência da alma, o mundo como tota-
lidade e a existência de um ser originá-
rio. Kant não tem como finalidade negar
a metafísica mas, sim, discutir a sua
impossibilidade como ciência puramente
teórica que visa a alcançar o incondicio-
nado. Além disso, Kant tem o mérito de
ter realizado uma síntese entre o racio-
nalismo dogmático e o empirismo cépti-
co, demonstrando que tanto a razão
como a experiência possuem limites. De
acordo com a sua filosofia crítica, aquilo
que se encontra para além do mundo
dos fenômenos, do universo da experi-
ência possível, não pode, de modo al-
gum, ser conhecido por meio das facul-
dades cognitivas do homem.
2. A Descoberta de Kant
No tempo de Kant, o mundo do conhe-
cimento encontrava-se diante de duas
correntes de considerável destaque: o
racionalismo dogmático e o empirismo
céptico. Essas correntes discutiam a
origem do conhecimento, porém o rigor
era igualmente válido em ambas as ar-
gumentações.
O racionalismo dogmático visava a co-
nhecer seus objetos absolutamente a
priori, defendia com rigor a origem do
conhecimento pela razão, fundamentado
no princípio das idéias inatas e no méto-
do dedutivo-matemático. Os dogmáticos
acreditavam no poder exclusivo da razão
e apoiavam-se nos domínios dos juízos
analíticos de explicação. Assim, através
do princípio de identidade, que apre-
senta universalidade e necessidade rigo-
rosas, pretendiam os racionalistas de-
monstrar a validade e a verdade acerca
dos seus pressupostos científicos. Nos
juízos analíticos, pela simples análise do
conceito, podemos determinar, anterior-
mente a qualquer experiência, o valor de
verdade de uma proposição. Com isso,
ao dizer que “o predicado B pertence ao
sujeito A como algo que está implicita-
mente contido nesse conceito A” [KANT,
1994, p. 42], formulamos um juízo de
explicação que possui uma verdade
objetiva. Entretanto, os juízos de expli-
cação dizem apenas o óbvio e nada
acrescentam ao nosso conhecimento. Na
proposição “a bola é redonda”, poder-se-
á considerar que o predicado ‘redonda’
está contido no conceito do sujeito ‘bola’.
Portanto, tal proposição é um juízo ana-
lítico, pois podemos saber a priori a ver-
dade desse juízo sem recorrer à experi-
ência. Todo o problema, segundo Kant,
reside no fato dos juízos de explicação
serem estéreis, isto é nada acrescentam
ao nosso conhecimento, por afirmarem
algo que já é essencial ao sujeito, provo-
A
86 SILVA, Neilson José da. A Propósito da Introdução à Crítica da Razão Pura ...
Revista Eletrônica Print by<http://www.funrei.br/revistas/filosofia>
Metavnoia. São João del-Rei, n. 1, p. 84-91, 1998/1999
cando assim um certo imobilismo no
universo das relações de conhecimento,
ou uma identidade do tipo a=a.
Ao contrário do racionalismo dogmático,
o empirismo céptico fazia severas críti-
cas à concepção de idéias inatas e bus-
cava compreender a ciência sempre por
meio dos juízos sintéticos, a posteriori,
juízos de experiência. Tais juízos são
capazes de acrescentar algo ao sujeito,
porque são progressivos e fornecedores
de conteúdo empírico. Kant chama a
esses juízos “sintéticos” devido ao fato
de possuírem o conteúdo retirado da
experiência sensível. Assim, os empi-
ristas cépticos defendiam o conheci-
mento pela experiência e emitiam juízos
de extensão, os quais possuem um pre-
dicado “B totalmente fora do conceito A,
embora em ligação com ele” [KANT,
1994, p. 42]. Porém, nos juízos sintéti-
cos, essa ligação não é pensada por
identidade do tipo a=a, mas do tipo a=b.
Além disso, os juízos de extensão forne-
cem matéria, conteúdo indispensável
para toda a relação de conhecimento
sintético. A questão a ser colocada é que
os juízos de extensão não são universais
nem necessários, uma vez que somente
posso pensá-lo por indução. Quando
digo que “a água entra em estado de
ebulição a 100º C” , por mais que eu
analise esse juízo não consigo, por iden-
tidade a=a, pensar o predicado contido
na essência do sujeito. Tenho, necessa-
riamente, que verificar vários casos par-
ticulares para somente a posteriori emitir
tal juízo.
Apesar de as duas posições conterem o
argumento de maneira rigorosa, Kant
encontra determinados juízos que são
formados tanto pelo elemento sintético
como pelo componente a priori. Nas
palavras de Kant, a proposição “toda
mudança tem que ter necessariamente
uma causa” nos conduz pensá-la de
modo analítico, devido ao fato de ser
rigorosamente universal e necessária;
porém, essa proposição é sintética a
priori, porque, apesar de ser universal e
necessária, o conceito de ‘mudança’
somente pode ser obtido através da ex-
periência1.
Como pudemos observar, temos de um
lado o juízo analítico, que possui univer-
salidade e necessidade, mas que é inca-
paz de nos acrescentar qualquer conhe-
cimento; de outro lado temos o juízo
sintético, tirado da experiência, que pos-
sui a capacidade de acrescentar conhe-
cimentos devido ao fato de possuir um
conteúdo de experiência, mas que não
posso, de modo algum, pensá-lo de
maneira universal e a necessária.
 
1 KANT, Introdução à C. R. Pura, 1994, p.
37.
Kant pretende superar essa dicotomia,
pois tanto uma posição como outra aca-
baram por deixar um abismo que divide
as relações de conhecimento. As duas
posições, o racionalismo dogmático e o
empirismo céptico, separaram a razão
da matéria, os conceitos do conteúdo.É
o próprio Kant quem reconhece que
“sem a sensibilidade, nenhum objeto nos
seria dado; sem o entendimento, ne-
nhum seria pensado. Os pensamentos
sem conteúdos são vazios; intuições
sem conceitos são cegas” [KANT, 1994,
p. 89]. O conhecimento é, para Kant,
síntese a priori. Somente a síntese a
priori pode reunir o fenômeno, que é
intuído na sensibilidade e o conceito, que
é efetivado no entendimento. O fenôme-
no fornece uma multiplicidade nas for-
mas da sensibilidade e as formas do
entendimento faz a síntese de maneira a
fornecer a unidade. Logo, para que haja
conhecimento, precisamos tanto da ex-
periência, fornecida pela nossa faculda-
de de sensibilidade, como também do
conceito, fornecido pela nossa faculdade
de entendimento.
O conhecimento como síntese a priori é
possível, uma vez que ele pode dar
tanto a universalidade e a necessidade
rigorosa como a matéria ou conteúdo
proveniente do mundo exterior. Esta é a
descoberta genial de Kant: o juízo sinté-
tico a priori, que reúne o conteúdo e a
forma. A síntese concretizada por Kant
supera, no entanto, através dos juízos
sintéticos a priori, a concepção raciona-
lista dogmática pautada em juízos de
explicação e a concepção empirista cép-
tica fundamentada nos juízos de exten-
são. Porém, a filosofia kantiana tem
ainda o objetivo de verificar a possibili-
dade de aplicação de tais juízos, ao
mundo do conhecimento. Somente as-
sim, o filósofo poderia avaliar a validade
de sua descoberta e formar as bases
para todo os seus pressupostos gnosio-
lógicos.
2. 1. Os Problemas do Conhecimento:
A questão aqui colocada é, no entanto, a
possibilidade ou não da validade e da
aplicabilidade dos juízos sintéticos a
priori, no mundo do conhecimento. Se-
gundo Kant, “todo o nosso conhecimento
começa pelos sentidos, daí passa ao
entendimento e termina na razão, acima
da qual nada se encontra em nós mais
elevado que elabore a matéria da intui-
ção e a traga a mais alta unidade de
pensamento” [KANT, 1994, p. 298]. São
as formas a priori existentes no homem
que permitem o conhecimento. Em ou-
tras palavras, a estrutura humana é
constituída de tal modo que as faculda-
des de conhecimento possibilitam a ex-
plicação do condicionado que é forneci-
do pelo mundo fenomênico.
É influenciado pela revolução copernica-
87 SILVA, Neilson José da. A Propósito da Introdução à Crítica da Razão Pura ...
Revista Eletrônica Print by<http://www.funrei.br/revistas/filosofia>
Metavnoia. São João del-Rei, n. 1, p. 84-91, 1998/1999
na que Kant entende o sujeito como
elemento unificador de todo o conteúdo
fornecido pelos sentidos. “Ao invés de
fazer o espírito gravitar em torno das
coisas, Kant mostrou que as coisas gi-
ram em torno do espírito. A natureza é,
em parte, obra do homem, de sua sensi-
bilidade e do seu pensamento”2. É fun-
damentado nesse princípio que Kant faz
uso do termo “transcendental” e não do
“transcendente”. O transcendental são as
condições do sujeito e as suas faculda-
des a priori que possibilitam toda a rela-
ção de conhecimento. O elemento trans-
cendente, por sua vez, é incondicionado,
não pode ser objeto de conhecimento,
pois ele transcende, de maneira a ultra-
passar, as faculdades de conhecimento
do homem. A consciência do homem
permite a ele próprio estabelecer a uni-
dade na multiplicidade fornecida pelo
mundo sensível.
Kant pergunta se os juízos sintéticos a
priori são possíveis na matemática e na
física. No primeiro caso, temos a estéti-
ca transcendental que verifica se pode-
mos aplicar os mesmos juízos à Mate-
mática pelas formas da sensibilidade. No
segundo momento, na analítica trans-
cendental, Kant investiga se é possível
aplicar os juízos sintéticos a priori à físi-
ca, por meio das formas do entendi-
mento.
Na estética transcendental, Kant trata da
sensibilidade enquanto faculdade que
possibilita as intuições dos objetos. As
formas a priori da sensibilidade são o
espaço e o tempo existentes no sujeito.
O espaço existe objetivamente para
ordenar as coisas existentes fora do
sujeito. O espaço não existe nas coisas e
sim no homem. O tempo, da mesma
maneira, existe no sujeito e tem como
função ordenar internamente as intui-
ções. O mundo exterior é caótico e as
formas a priori da sensibilidade, o espa-
ço e o tempo são, portanto, a condição
para a realização de qualquer experiên-
cia. Assim, “as sensações podem ser
intuídas uma ao lado de outra (espaço)
ou uma colocada antes ou depois de
uma outra (tempo). Fora destas duas
formas a priori universais e necessárias
da sensibilidade não é possível conceber
nenhuma experiência”3. Portanto, para
Kant, a intuição empírica “é a apreensão
imediata das sensações ordenadas nas
formas a priori do espaço e do tempo.
Na intuição do espaço podemos dese-
nhar as figuras da geometria, como na
intuição do tempo podemos construir os
números com a adição de sucessivas
unidades”4. O que é importante notar é o
fato de que a intuição não conceitua o
 
2 CHALLAYE, 1966, p. 196.
3 SCIACCA, 1968, p.189-90.
4 Idem.
objeto; ela é, unicamente, uma primeira
fase do processo cognitivo. É da noção
de espaço e de tempo que verificamos a
possibilidade de se aplicarem os juízos
sintéticos a priori à matemática.
Quando pensamos a proposição
“7+5=12”, à primeira vista iludidos pela
garantia da sua universalidade e neces-
sidade poderíamos pensar que ela é
analítica a priori. Porém, por mais que
analisemos o conceito da soma desses
fatores, jamais encontraremos o seu
produto. Portanto, “temos que superar
estes conceitos, procurando a ajuda da
intuição correspondente a um deles, por
exemplo os cinco dedos da mão” [KANT,
1994, p. 47]. Poder-se-á considerar que
o espaço e o tempo que permitem a
matemática são a priori, mas os mesmos
sem as coisas não fazem sentido. O
espaço sem os objetos é vazio de conte-
údo, o tempo sem a seqüência sucessiva
dos dados não é capaz de fazer nenhu-
ma síntese. Segundo Kant, as intuições
puras da sensibilidade, o espaço e o
tempo, possuem uma realidade empírica
quando se referem aos fenômenos e
uma idealidade transcendental por existi-
rem no homem como formas da sua
sensibilidade independentemente das
coisas exteriores. Com isso, podemos
concluir que é possível a Matemática
como ciência, pois ela admite que lhe
sejam aplicados, com rigorosa validade,
os juízos sintéticos a priori através das
intuições puras da sensibilidade, o espa-
ço e o tempo.
Na analítica transcendental, Kant trata
do entendimento enquanto faculdade
que possibilita a formação dos conceitos.
O entendimento representa uma segun-
da fase na marcha do conhecimento.
Existe a sensibilidade que pode intuir
mas que não é capaz de conceituar. Há
o entendimento que é capaz de concei-
tuar mas que não é capaz de intuir. No
entanto, para que haja conhecimento,
conceitos e intuições não podem sepa-
rar-se de modo algum.
O Mito da Caverna de Platão propõe a
existência de dois mundos, o sensível e
o inteligível, entretanto, na concepção de
Georges Pascal, em Kant, não existe
“outro mundo que não seja o sensível; e
é isto, precisamente, o que toda a análi-
se do entendimento irá demonstrar”5.
Através do entendimento, Kant deseja
explicar como seriam possíveis os juízos
sintéticos a priori na Física, ou seja,
como é possível a Física como ciência,
como síntese a priori. Ao estabelecer as
relações acerca das doze categorias,
(totalidade, pluralidade, unidade, afirma-
ção, negação, limitação, substancialida-
de, causalidade, ação recíproca, realida-
 
5 PASCAL, 1996, p. 61.
88 SILVA, Neilson José da. A Propósito da Introdução à Crítica da Razão Pura ...
Revista Eletrônica Print by<http://www.funrei.br/revistas/filosofia>
Metavnoia. São João del-Rei, n. 1, p. 84-91, 1998/1999de, necessidade e possibilidade), Kant
procura demonstrar que a Física é a
aplicação dos conceitos do entendimento
aos objetos fornecidos pela intuição. O
primeiro passo do conhecimento, as
formas a priori de primeiro grau, deno-
mina-se intuição e a segunda fase do
processo, ou seja, as formas a priori de
segundo grau, chama-se categorias do
entendimento. O que garante à Física,
universalidade e necessidade rigorosas
são, no entanto, as próprias categorias.
Para Kant, o mundo exterior é desorde-
nado e é, portanto, o homem o detentor
das faculdades que possibilitam, de certo
modo, a organização dessa realidade.
No tempo de Kant, os progressos das
ciências experimentais eram visíveis e
concretos. Com isso, o filósofo demons-
trava um certo otimismo, tendo em conta
as revoluções científicas. Tal conclusão
pode ser compreendida como uma ten-
tativa de superação do ceticismo empi-
rista e do dogmatismo racionalista. Kant
ao demonstrar a possibilidade de uma
ciência dos fenômenos, fundamentada
nas formas da sensibilidade e do enten-
dimento, verifica a possibilidade do co-
nhecimento dos vários objetos limitados
pela experiência sensível. Assim, a
filosofia kantiana termina por resolver,
segundo o seu sistema, a problemática
essencial do conhecimento, ou seja, a
validade e a aplicabilidade dos juízos
sintéticos a priori na matemática e nas
ciências naturais. Ainda que Kant tenha
operado uma verdadeira revolução na
gnosiologia, o seu objetivo principal não
consiste em fundar uma teoria do co-
nhecimento, mas completar seu sistema
filosófico investigando a natureza dos
enunciados da metafísica. Portando, fica
ainda uma indagação: é possível aplicar
juízos sintéticos a priori à metafísica?
Em outras palavras é possível uma me-
tafísica como ciência? Kant agora pre-
tende saber quais são os limites da ra-
zão humana.
2.2. Os Problemas da Metafísica: Kant
expõe, na Crítica da Razão Pura, a dia-
lética transcendental, que trata da im-
possibilidade da metafísica como conhe-
cimento do nôumeno. Na ordem das
condições, a tentativa arrogante de
completar de modo absoluto a unidade
dos fenômenos leva a razão a buscar o
incondicionado e ultrapassar os seus
limites, chegando assim, a uma ilusão
natural, conhecimento aparente e inevi-
tável. Poder-se-á até mesmo considerar
que as idéias de alma, tratadas na psi-
cologia racional, as idéias de mundo,
discutidas na cosmologia racional, e as
idéias de Deus, demonstradas pela teo-
logia racional, não podem de modo al-
gum ser explicadas pela racionalidade.
Para se entender, com precisão, o pro-
blema geral da metafísica, precisamos
compreender a diferença existente entre
fenômeno e nôumeno. O primeiro é,
para Kant, a coisa tal como ela nos apa-
rece, o indeterminado, que constitui os
vários elementos do mundo sensível ou
fenomênico, é aquilo que as faculdades
cognitivas do homem podem perceber e
trazer à unidade dando origem ao co-
nhecimento. Ao segundo, Kant denomina
“coisa em si”, “coisa incognoscível” ou
“ser de pensamento”, que não pode, em
hipótese alguma, ser conhecido. Para
que haja conhecimento, o objeto não
pode ser desprovido de conteúdo; o
nôumeno é uma idéia da razão que não
se sujeita às formas inseparáveis da
sensibilidade e do entendimento huma-
no. Ora, se o nôumeno não é objeto de
conhecimento, também não podemos
aplicar a ele os juízos sintéticos a priori.
A crítica de Kant estabeleceu que tais
juízos somente podem ser aplicados ao
mundo sensível; são válidos unicamente
para objetos de conteúdo concreto. Os
limites do conhecimento são, portanto, a
experiência sensível. A metafísica como
ciência é impossível; diz Kant:
o fato da metafísica até hoje se ter mantido
em estado tão vacilante entre incertezas e
contradições é simplesmente devido a não se
ter pensado mais cedo neste problema, nem
talvez mesmo na distinção entre juízos analí-
ticos e juízos sintéticos. A salvação ou ruína
da metafísica assenta na solução deste pro-
blema ou numa demonstração satisfatória de
que não há realmente possibilidade de resol-
ver o que ela pretende ver esclarecido
[KANT, 1994, p. 49].
No tempo de Kant, a metafísica já esta-
va renegada a segundo plano e foi jus-
tamente o seu fracasso que deixara
aberto o caminho ao ceticismo. As pre-
tensões de se conhecer o incondicionado
conduz, necessariamente, a infinitas
contradições.
Para demonstrar os paralogismos, ar-
gumentos contraditórios, acerca das
idéias de alma e de Deus, e as antino-
mias, conflito entre duas afirmações
demonstradas ou refutadas com igual
rigor, referentes à idéia de mundo, Kant
estabelece que “se alguém dissesse que
todo corpo cheira bem ou não cheira
bem, então ocorre uma terceira alterna-
tiva, ou seja que ele de modo algum
cheira (emite odores), e desse modo
ambas as proposições conflitantes po-
dem ser falsas” [KANT, 1988, p. 80].
Com isso, Kant pretende apontar toda a
contradição existente nas proposições
que tentam afirmar certos conhecimen-
tos metafísicos acerca das coisas em si
mesmas.
Kant comporta-se como crítico severo
diante da Psicologia Racional, pois esta
acredita ser possível conhecer a alma
destituída do corpo. Kant demonstra
quatro paralogismos cometidos pela
89 SILVA, Neilson José da. A Propósito da Introdução à Crítica da Razão Pura ...
Revista Eletrônica Print by<http://www.funrei.br/revistas/filosofia>
Metavnoia. São João del-Rei, n. 1, p. 84-91, 1998/1999
psicologia racional. Segundo Adolfo Bo-
naccini, O paralogismo principal é
aquele que se refere à substancialidade
da alma, depois de demonstrada que a
alma é substancia o psicólogo racional
deriva analiticamente a simplicidade, a
personalidade e a imortalidade da alma6.
A Psicologia Racional transforma “a
unidade subjetiva da consciência, que
serve de fundamento às categorias, em
substância de existência objetiva”7. Ape-
sar do espírito possuir uma função unifi-
cadora das representações, é um para-
logismo acreditar ser possível o conhe-
cimento dele separado do corpo. So-
mente seria possível deduzir analitica-
mente e a de modo a priori as proposi-
ções da psicologia racional se o homem
fosse possuidor de uma intuição inte-
lectual, o que é impossível. Todo o nos-
so conhecimento supõe uma síntese a
priori e as idéias de alma não encontram
nenhuma experiência que lhes possa ser
adequada. Logo, não é possível provar a
realidade ou irrealidade da alma, se é
mortal ou imortal; a alma não é objeto de
conhecimento, mas um ser de pensa-
mento, um nôumeno ou coisa em si.
Apontando as antinomias Kant rejeita a
Cosmologia Racional, a qual visa a ex-
plicar o mundo exterior enquanto totali-
dade. É humanamente impossível tal
pretensão, pois não podemos saber ab-
solutamente nada acerca da origem do
universo, se ele foi ou não criado no
tempo e no espaço, se é finito ou infinito.
Quando tentamos pensar tal explicação
somente conseguimos chegar a antino-
mias. Instaura-se o conflito da razão
consigo mesma. Não sabemos “se a
matéria é, ou não, composta de ele-
mentos simples e incomponíveis; se é
possível ou impossível que haja causas
livres não causadas por outras causas;
se há ou não há um ser necessário do
qual dependam as realidades contin-
gentes”8. Não possuem nenhum funda-
mento os argumentos acerca das idéias
de mundo; é falaciosa e contraditória
toda proposição emitida para afirmar
qualquer conhecimento acerca do cos-
mos como totalidade.
Depois de consideradas todas essas
questões, Kant demonstra ainda o para-
logismo, que diz respeito à idéia de
Deus. O ser originário na perspectiva
kantiana serve de fundamento primeiro,
ou mesmo de primeiro princípio, a toda
ordem existente no universo. O filósofo
argumenta que são equivocadas todas
as provas da Teologia Racional. Kant
apresenta três provas: a ontológica, que
parte de puros conceitos do entendi-
mento para chegar àidéia de perfeição
 
6 BONACCINI, 1996, p. 60.
7 CHALLAYE, 1996, p. 194.
8 Idem.
absoluta e demonstrar, analiticamente e
totalmente a priori, a existência de um
ser originário; a cosmológica, que acre-
dita ser possível provar a existência de
um primeiro princípio de modo a poste-
riori partindo do ser contingente para
chegar ao ser absolutamente necessário;
a físico-teológica, que pretende afirmar a
posteriori, partindo da ordem e harmonia
do universo, a existência do ser originá-
rio como uma espécie de inteligência
ordenadora.
É rejeitada, por Kant, a prova a priori
ontológica da existência de Deus. O
criticismo de Kant demonstra que quan-
do pensamos “um ser (sem defeitos)
mantém-se sempre o problema de saber
se existe ou não” [KANT, 1994, p. 505].
Considerando o conteúdo a posteriori
como limite do conhecimento, compre-
ende-se que na filosofia de Kant a reali-
dade é uma categoria do intelecto que
somente possui validade rigorosa quan-
do aplicada aos fenômenos. Num uso
puramente teórico desta categoria, na
busca da demonstração de um nôume-
no, a razão extrapola seus limites e cai
em contradição. A prova ontológica é
falaciosa por “confundir a existência da
coisa com o simples conceito da coisa”
[Idem]. O ser absoluto constitui uma
idéia da razão que ultrapassa os limites
da experiência sensível e encontra-se
muito além do entendimento humano.
Ao partir do mundo natural a prova cos-
mológica, fundamentada no princípio de
causalidade e correspondência, nos faz
pensar que ela é a posteriori. Ela esta-
belece que se existe o contingente tem
que existir o necessário e ainda o abso-
lutamente necessário. Kant demonstra
que a prova cosmológica começa no
mundo sensível mas não permanece
nele. Essa demonstração faz uso da
experiência a posteriori do mundo natu-
ral para dar unicamente um primeiro
passo “a saber para se elevar para se
elevar à existência de um ser necessário
em geral. O fundamento da prova nada
nos ensina acerca dos atributos desse
ser; então a razão afasta-se” [KANT,
1994, p. 508] completamente do mundo
sensível para buscar a conclusão do
raciocínio a partir dos puros conceitos do
entendimento. O paralogismo se com-
pleta quando é demonstrado que “o con-
ceito puramente intelectual do contin-
gente não pode produzir nenhuma pro-
posição sintética como a da causalidade,
e o princípio desta só no mundo sensível
encontra significação e critério para sua
aplicação” [KANT, 1994, p. 511]. Aban-
donando o mundo sensível, a demons-
tração cosmológica comete o mesmo
devaneio da prova ontológica operando
a síntese do raciocínio de modo pura-
mente intelectual. A prova cosmológica
que se gabava de operar a sua síntese
de modo a posteriori, é uma prova a
90 SILVA, Neilson José da. A Propósito da Introdução à Crítica da Razão Pura ...
Revista Eletrônica Print by<http://www.funrei.br/revistas/filosofia>
Metavnoia. São João del-Rei, n. 1, p. 84-91, 1998/1999
priori ocultada.
Partindo da ordem harmonia e hierarquia
dos seres do universo e ainda do princí-
pio de causalidade, a prova físico-
teológica busca fundamentar seu racio-
cínio de modo a posteriori. Segundo
Kant, esta demonstração entra facil-
mente em conflito consigo mesma quan-
do percebemos que “todas as leis da
passagem dos efeitos para as causas e
até mesmo toda síntese e toda extensão
do nosso conhecimento em geral repor-
tam-se unicamente à experiência possí-
vel, por conseguinte a objetos do mundo
dos sentidos e só com referência a estes
podem ter uma significação” [KANT,
1994, p. 519]. A observação permite-nos
estabelecer, acerca da regularidade do
movimento natural das coisas, uma
grandeza que seja causa primeira deste
processo da passagem dos efeitos para
as causas, ou seja, uma grandeza abso-
luta que serve de sustentáculo a toda a
cadeia ordenada e justaposta de ele-
mentos do mundo natural. O princípio da
causalidade fortalece a convicção da
possibilidade de existência de um ser
originário para fundamentar a totalidade
deste ordenamento. Após considerado
tudo isto, a razão cai novamente em
contradição quando infere apoditica-
mente poder conhecer esta grandeza,
bem como afirmar de modo incontestá-
vel a existência real do ser originário. A
demonstração da existência de uma
primeira causa ou primeiro princípio
constitui o passo decisivo para a razão
formular a síntese e fazer surgir o para-
logismo que faz esta prova cometer a
mesma contradição da demonstração
cosmológica.
Kant diz que a segunda e terceira provas
podem ser imediatamente descartadas,
pois elas subentendem a primeira. Kant
demonstrou ser possível transitar da
prova físico-teológica à cosmológica e
desta para a demonstração ontológica.
Podemos anunciar dois pontos relevan-
tes a partir do que ficou demonstrado;
como pudemos observar a prova ontoló-
gica é uma ilusão da razão entre os pu-
ros conceitos do entendimento e no que
concerne às outras duas provas Kant
entende que o princípio da causalidade é
válido somente no âmbito dos fenôme-
nos. As provas cosmológica e físico te-
ológica que se dizem a posteriori, são
provas a priori disfarçadas de a posterio-
ri. Portanto, nenhuma prova da existên-
cia do ser originário possui força de-
monstrativa sem conduzir a razão a infi-
nitas contradições. Sendo Deus um
nôumeno, não posso afirmar ser con-
creta a sua existência, uma vez que não
tenho como aplicar meu conhecimento
sintético a priori a objetos desprovidos
de matéria ou de qualquer conteúdo
sensível.
A filosofia kantiana, então, vem de-
monstrar que os objetos da metafísica
são seres noumênicos, que se encon-
tram para além do mundo da experiência
possível. “A razão especulativa é um
princípio de unidade. Leva o entendi-
mento a unificar, a sistematizar, o esfor-
ço satisfatório quando se aplica ao mun-
do dos fenômenos. Mas, num uso teóri-
co, a razão procura ultrapassar o mundo
dos fenômenos; daí a ilusão metafísi-
ca”9. Segundo Kant, iludida de que as
moléculas de ar impedem a sua livre
trajetória no espaço, uma ave poderia
“pensar” que no vácuo ela pudesse voar
melhor; entretanto, seria debalde tal
pensamento, pois no vácuo, sem a re-
sistência proporcionada pelas partículas
de ar, a ave jamais voaria. A razão tem
a crença de que pode pensar melhor
saindo do mundo sensível, mundo dos
fenômenos, para chegar ao incondicio-
nado; porém, o que acontece é a ilusão
de se ter alcançado o conhecimento dos
objetos noumênicos. Nesse sentido, o
que acontece, quando o homem tem
essa intenção, é o fato de sua razão cair
no vazio.
3. Considerações Acerca Da Filosofia
Crítica De Kant
A crítica kantiana termina por concluir a
possibilidade de dissolver, com o seu
método, até mesmo a mais sólida e sutil
Filosofia. Não resta dúvida de que o
propósito de Kant foi, em suma, elevar a
crítica ao seu mais alto grau. Somente a
crítica é capaz de “cortar pela raiz o
materialismo, o fatalismo, o ateísmo, a
incredulidade dos espíritos fortes, o fa-
natismo e a superstição, que podem
tornar nocivos a todos e, por último,
também o idealismo e o ceticismo, que
são sobretudo perigosos” [KANT, 1994,
p. 30]. A atualidade da filosofia kantiana
não se resume, unicamente, na tentativa
de superar o racionalismo dogmático e o
empirismo céptico, pois ela tem ainda a
pretensão de propor uma forma de razão
que proceda criticamente sem passivi-
dade.
O que chamamos crítica, em Kant, tem
fundamental importância para o universo
do conhecimento, pois ela acaba por
descobrir na razão um uso regulador que
é, portanto, o reconhecimento da impos-
sibilidade de se atingir os objetos cuja
natureza é desprovida de conteúdo ma-
terial. Na busca de resposta para esse
problema, o próprio kantismo entende
que a questão essencial levantada pela
Crítica da Razão Pura é unicamente a
“de saber até onde posso esperaralcan-
çar com a razão, se me for retirada toda
a matéria e todo o concurso da experi-
 
9 CHALLAYE, 1996, p. 194.
91 SILVA, Neilson José da. A Propósito da Introdução à Crítica da Razão Pura ...
Revista Eletrônica Print by<http://www.funrei.br/revistas/filosofia>
Metavnoia. São João del-Rei, n. 1, p. 84-91, 1998/1999
ência” [KANT, 1994, p. 7]. Ora, a nature-
za humana é constituída de tal modo
que não nos permite conhecer os objetos
noumênicos da razão especulativa.
Quando a razão tenta elevar à unidade
os elementos ou seres de pensamentos,
ela de modo algum consegue seguir seu
caminho sem cair, inevitavelmente, nos
erros, em argumentos sofísticos e sem
fundamentos. Talvez a razão, segundo
Kant, se encontre diante do seu com-
promisso mais difícil, o “conhecimento
de si mesma” [KANT, 1994, p. 5]. Acerca
da razão, poder-se-á considerar que a
crítica conduz à “constituição de um
tribunal que lhe assegure as pretensões
legítimas e, em contrapartida, possa
condenar-lhe todas as pretensões infun-
dadas; e tudo isso não por decisão arbi-
trária, mas em nome das suas leis eter-
nas e imutáveis” [Idem]. A metafísica
não pode conhecer com legitimidade e
com validade as coisas em si. Portanto,
segundo Kant, a razão deve, necessari-
amente, ser entendida como crítica de si
mesma.
De modo algum é possível uma metafí-
sica como ciência, e isso somente a
crítica é capaz de concluir. Assim, o
“dever da Filosofia era dissipar a ilusão
proveniente de um mal-entendido, mes-
mo com o risco de destruir uma quimera
tão amada e enaltecida” [KANT, 1994, p.
6]. No entanto, somente a crítica é capaz
de evitar que a razão ultrapasse o uni-
verso da experiência, o mundo dos fe-
nômenos. Para além do mundo sensível
nada pode ser demonstrado ou conheci-
do, nem a existência, nem a não exis-
tência de seres noumênicos. Certamente
a metafísica deve ter algum significado
para o universo da ética, mas seus seres
de pensamento não podem ser, de modo
algum, objetos de conhecimento.
Conclusão
Em se tratando de Filosofia, nada se
pode afirmar apoditicamente acerca do
mundo inteligível, é o que Kant nos en-
sina. Do ponto de vista metafísico, a
Crítica da Razão Pura teve como finali-
dade demonstrar os paralogismos e as
antinomias acerca das idéias da razão.
Kant, em momento algum, demonstra a
impossibilidade da metafísica em geral;
afinal, no campo da ética, ela possui um
inestimável atributo. É no universo do
conhecimento, que a metafísica teve
absurdas pretensões, entre elas a tenta-
tiva de, por meio da razão, elevar-se ao
incondicionado. A crítica surgiu como
uma espécie de instrumento para de-
monstrar a impossibilidade da metafísica
enquanto ciência. Tal crítica deve, ne-
cessariamente, acompanhar todo conhe-
cimento, bem como os seus pressupos-
tos gnosiológicos, para que o homem
nunca ultrapasse os limites exigidos pela
experiência. O problema da razão, se-
gundo Kant, tem sido, de fato, tentar
conhecer objetos transcendentes que
somente podem ser pensados, objetos
que estão para além da realidade sensí-
vel, muito além do universo condiciona-
do pela experiência. A razão deve preo-
cupar-se não com o mundo noumênico,
mas tão somente com o mundo dos fe-
nômenos. Diante da tentativa debalde de
elucidar questões transcendentes, a
razão se esquiva conseguindo somente
cair em argumentos falaciosos e errô-
neos.
Referências Bibliográficas
BONACCINI, Juan Adolfo. Acerca da Segunda Versão dos Paralogismos da Razão Pura. Anais de
Filosofia, São João del-Rei : FUNREI, n. 3, p. 59 - 66, Jun. 1996.
CHALLAYE, Félicien. Pequena História das Grandes Filosofias. Tradução e notas de Luiz Damasco
Penna e J. B. Damasco Penna. Rio de Janeiro : Nacional, 1966
DELEUZE, Gilles. Para Ler Kant. Tradução de Sônia Dantas Pinto Guimarães. Rio de Janeiro : Francisco
Alves, 1976.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique
Morujão; Introdução e Notas de Alexandre Fradique Morujão. 3. ed. Lisboa : Fundação Calouste Gul-
benkian, 1994.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura: outros Textos Filosóficos. Tradução de Valério Rohden e
Udo Baldur Moosburger. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987 - V. II (In: Coleção - Os Pensadores
n. 25).
PASCAL, Georges. O Pensamento de Kant. Introdução e tradução de Raimundo Vier. 5. ed. Petrópolis:
Vozes, 1996.
SCIACCA, Michele Frederico. História da Filosofia: do Humanismo a Kant. Tradução de Luís Washin-
gton Vita. 3. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1968.

Continue navegando

Outros materiais