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cultura e sociedade

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CULTURA E SOCIEDADE
Prof. Msc. Marcos Macedo
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O SIGNIFICADO DE CULTURA
Denomina-se cultura as formas e modos com os quais os indivíduos ou grupos sociais se desenvolvem e organizam suas vidas em determinada sociedade.
Fazem parte da cultura a língua do povo, suas tradições, costumes, crenças, normas valores entre outros.
Para a Antropologia, cultura diz respeito a toda manifestação material e não-material de um povo ou grupo social. Logo, cultura é tudo aquilo que passa pela ação do trabalho humano, através do qual somos capazes de transformar a natureza. Sendo assim, toda produção, seja ela material (artesanato, comidas, roupas, moradias, ferramentas, entre outros) ou não material (linguagem, histórias, ideias, projetos, entre outros) é não natural, ou seja, cultural. 
Cultura é toda e qualquer criação humana. É a forma de ser de um povo. Em outras palavras, cultura se refere ao conhecimento que é transmitido de um grupo aos seus membros pela convivência e pela educação formal e informal.
Cultura é toda manifestação humana proveniente do trabalho, que é a maneira por excelência de explorar a natureza e obter a subsistência.
Além dessa concepção importante para nós, temos outra que é de cultura como parte de uma sociedade ou povo, ou seja, um povo ou nação possui manifestações típicas de sua cultura. 
No caso do Brasil, temos vários exemplos, desde os mais estereotipados, como o carnaval, o futebol e o celebrado “jeitinho brasileiro”, passando pelos menos percebidos, como a nossa alegria de viver, o descaso com horários, regras e convenções e a informalidade nas mais diversas relações sociais. 
A função da cultura é tornar a vida segura e contínua para a sociedade humana. Ela é o “cimento” que dá unidade a um certo grupo de pessoas que divide os mesmos usos e costumes, os mesmos valores. Desse ponto de vista, portanto, podemos dizer que tudo o que faz parte do mundo humano é cultura e que todos nós somos cultos, pois dominamos a cultura do nosso grupo, seja ele urbano ou rural, indígena ou de outra etnia, de uma ou de outra crença religiosa ou de qualquer outro tipo.
ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Temas de Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005, p. 21.
A diversidade cultural é um fato relativo à própria espécie humana, que, através do surgimento e da formação de sociedades variadas, tem produzido uma série de culturas diferentes. Por exemplo, não exageramos ao afirmar que existe uma cultura latino-americana, mas é errôneo pensar que as realidades distintas, como a brasileira, a mexicana e a argentina, possam expressar culturas iguais.
Sem dúvida, existem muitas semelhanças, mas, em meio a um processo de globalização e padronização cultural, as culturas das sociedades modernas buscam preservar suas particularidades culturais, como se isso fosse, mais que uma resistência, uma forma de preservação de identidades.
O emprego da palavra cultura, no cotidiano, é objeto de estudo de diversas ciências sociais. Felix Guattari, pensador francês (1930-1992) interessado nesse tema, reuniu os diferentes significado de “cultura” em três grupos, por ele designados cultura valor, cultura-alma coletiva, cultura-mercadoria.
CULTURA-VALOR
Cultura-valor é sentido mais antigo e aparece claramente na ideia de “cultivar o espírito”. É o que permite estabelecer a diferença entre quem tem cultura e quem não tem ou determinar se o indivíduo pertence a um meio culto ou inculto, definindo um julgamento de valor sobre essa situação. Nesse grupo inclui-se o uso do termo para identificar, por exemplo, quem tem ou não cultura clássica, artística ou científica. 
CULTURA-ALMA COLETIVA
O significado de cultura-alma coletiva, é sinônimo de “civilização”. Ele expressa a ideia de que todas as pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural. Nessa acepção, pode-se falar de cultura negra, cultura chinesa, cultura marginal, etc. Tal expressão presta-se assim aos mais diversos usos por aqueles que querem dar um sentido para a ação de grupos aos quais pertencem, com a intenção de caracterizá-los ou identificá-los. 
CULTURA-MERCADORIA
A cultura-mercadoria corresponde à “cultura de massa”. Ela não comporta julgamento de valor, como o primeiro significado, nem delimitação de um território específico, como o segundo. Nessa concepção, cultura compreende bens ou equipamentos – como os centros culturais, os cinemas, as bibliotecas e as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos - e conteúdos teóricos e ideológicos de produtos – como filmes, discos e livros – que estão à disposição de quem quer e pode comprá-los, ou seja, que estão disponíveis no mercado.
As três concepções de cultura estão presentes em nosso dia-a-dia, marcando sempre uma diferença bastante clara entre as pessoas – seja no sentido mais estilista (entre as que têm e as que não têm uma cultura clássica e erudita, por exemplo), seja no sentido de identificação com algum grupo específico, seja ainda em relação à possibilidade de consumir bens culturais.
Todas essas concepções trazem uma carga valorativa, dividindo indivíduos, grupos e povos entre os que têm e os que não têm cultura ou, mesmo, entre os que têm uma cultura superior e os que têm uma cultura inferior.
CULTURA ERUDITA VERSUS CULTURA DO POVO
Prof. Marcos Macedo
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ERUDIÇÃO CULTURAL VERSUS CULTURA DO POVO
A cultura, na visão antropológica, é uma característica tipicamente humana. Povos diferentes possuem culturas distintas, o que nos leva a afirmar que a diversidade cultural é também um fato incontestável.
Contudo, nos últimos anos, ao fenômeno da globalização tem sido atribuído o surgimento de uma cultura única ou americanizada. 
Assim, mesmo com o avanço da globalização, particularmente econômica, a pluralidade cultural permanece, porém é incorreto não reconhecer que dentro de um país ou de uma sociedade qualquer exista mais de uma cultura. 
Tal fato é comum nas sociedades industriais capitalistas, tanto no século passado como neste século que se inicia.
Nessas formações sociais, podemos constatar a existência de uma cultura erudita e de uma cultura popular. 
Nas sociedades capitalistas, essa divisão reflete outra existente, a das classes sociais.
CULTURA ERUDITA
Os produtores da chamada cultura erudita fazem parte de uma elite social, econômica, política e cultural e seu conhecimento ser proveniente do pensamento científico, dos livros, das pesquisas universitárias ou do estudo em geral (erudito significa que tem instrução vasta e variada adquirida sobretudo pela leitura). 
A arte erudita e de vanguarda é produzida visando museus, críticos de arte, propostas revolucionárias ou grandes exposições, público e divulgação.
A cultura erudita é caracterizada por ser uma cultura fortemente relacionada à ideia de polidez, ilustração, civilidade e refinamento intelectual; é uma cultura produzida e consumida pelas elites, pela classe dominante, daí a constituição de seu aspecto oficial.
CULTURA POPULAR
Já a cultura popular é aquela que reflete o conhecimento não oficial, estabelecido nas ruas e no senso comum do povo.
A cultura popular aparece associada ao povo, às classes excluídas socialmente, às classes dominadas. A cultura popular não está ligada ao conhecimento científico, pelo contrário, ela diz a respeito ao conhecimento vulgar ou espontâneo, ao senso comum.
“A obra de arte popular constitui um tipo de linguagem por meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Cada objeto é um momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum acontecimento, a denúncia de alguma injustiça” (AGUILAR, Nelson (org). Mostra do Redescobrimento: arte popular. In: BEUQUE, Jacques Van de. Arte Popular Brasileira, p. 71). 
O artista popular não está preocupado em colocar suas obras expostas em lugares prestigiados.
Nesse sentido, o mais importante na arte popular não é o objeto produzido, e sim o próprio artista, o homem do povo, do meio rural ou das periferias das grandes cidades. Por isso também a arte popular é sempre contemporânea
a seu tempo. Por exemplo, a arte popular do século XVIII (as cantigas, poemas e estórias registradas pelos estudiosos) é bem diferente de outras formas de arte popular hoje.
A cultura popular é conservadora e inovadora ao mesmo tempo no sentido em que é ligada à tradição mas incorpora novos elementos culturais. Muitas vezes a incorporação de elementos modernos pela cultura popular (como materiais como plástico por exemplo) a transformação de algumas festas tradicionais em espetáculos para turistas (como o carnaval) ou a comercialização de produtos da arte popular são, na verdade, modos de preservar a cultura popular a qualquer custo e de seus produtores terem um alcance maior do que o pequeno grupo de que fazem parte.
O artista popular tira sua “inspiração” de acontecimentos locais rotineiros, a arte popular é regional. Por isso a arte popular se encontra mais afetada pela cultura de massas que atinge a todas as regiões igualmente e procura homogeneizá-las culturalmente do que a erudita.
A cultura popular está ligada à ideia da espontaneidade, do simplismo e do informalismo.
A INDÚSTRIA CULTURAL
Prof. Marcos Macedo
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O termo Indústria Cultural é criação dos filósofos Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), ambos representantes da chamada Escola de Frankfurt. 
Para tais pensadores, os meios de comunicação de massa transformam tudo em artigo de consumo.
Para esses autores, a indústria cultural era prejudicial tanto para a cultura erudita como para a popular, pois retirava o rigor da primeira e a espontaneidade da segunda. Sem falar na proliferação da alienação cultural ou na perda dos referenciais históricos e sociais de ambas as formas de cultura.
Por outro lado, o pensador Marshall McLuhan (1911-1980), estudioso dos meios de comunicação e da relação destes com as sociedades humanas, via o avanço da indústria cultural como positivo, porque, com sua disseminação, principalmente através da televisão, reduziriam-se as distâncias entre os diversos povos do planeta, dando origem ao termo “aldeia global”.
A MASSIFICAÇÃO DA CULTURA
A “cultura de massa” é o resultado do progresso tecnológico, que torna os produtos cada vez mais sofisticados. Através dos meios de comunicação de massa (televisão, rádio, cd, cinema, jornal, internet etc.), esses produtos conseguem atingir milhões de pessoas, despertando nelas o desejo de consumo. 
Daí, concluímos que a indústria cultural procura vender seus produtos a um público generalizado, que de certo modo, acaba consumidor dos mais variados produtos que são oferecidos por essa indústria, passando a constituir um importante mercado de consumidores em potencial, o qual pode ser chamado de “sociedade de consumo”.
Com o objetivo de estudar a efetiva capacidade de influência dos meios de comunicação de massa sobre a sociedade, é que alguns pensadores alemães da chamada Escola de Frankfurt, dentre eles Marcuse, Adorno, Horkheimer, Walter Benjamin, entre outros, passaram a questionar o poder dominante da chamada indústria cultural.
Assim, conforme evidencia Adorno, o objetivo primordial da “indústria cultural” é vender mercadorias, fazendo propaganda de um mundo ideal, tornando os consumidores dependentes e alienados.
No mundo atual é brutal o abismo socioeconômico que separa os ricos dos pobres, pois uma pequena parcela de 15% da população mundial concentra em suas mãos 80% da renda econômica do Planeta. O restante da população enfrenta o drama da fome, da falta de moradia, do desemprego, da falta de acesso à saúde e à educação.
Assim, enquanto a enorme maioria da população não tem o mínimo necessário para sobreviver dignamente, uma minoria pode ser dar ao prazer de consumir de tudo, esbanjando superfluamente.
Diante de tal fato, percebemos que o consumo pode ser sadio ou alienado.
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Mas o que é um consumidor sadio?
O consumidor sadio é aquele que procura consumir apenas aqueles produtos que atendem às suas verdadeiras necessidades.
E o consumidor alienado?
O consumidor alienado é aquele que se preocupar em comprar rótulos, para satisfazer seus desejos e fantasias, que foram inculcados de forma artificial em sua mente. 
Sem se preocupar com a utilidade dos produtos, o consumidor alienado torna-se um comprador compulsivo e muitas vezes um ser humano infeliz.
O consumo alienado é uma doença que afeta milhares de pessoas que procuram satisfazer o desejo de consumir produtos da moda, pois o que prevalece entre essas pessoas é o desejo de projetar o “ter”, substituindo o vazio do “ser”.
Por fim, os meios de comunicação de massa passam a ser instrumentos de controle e dominação das massas pelas elites dirigentes do Estado, com o único objetivo: o de manter a sociedade capitalista.
O UNIVERSO DA INTERNET
A internet originou-se de um projeto militar dos Estados Unidos, na década de 1960. Naquele período questionava-se como as autoridades americanas poderiam comunicar-se caso houvesse uma guerra nuclear. Se isso acontecesse, toda a rede de comunicações poderia ser destruída e haveria a necessidade de um sistema de comunicação sem controle central, baseado numa rede em que a informação circularia sem uma autoridade única.
Assim nasceu um sistema no qual as informações são geradas em muitos pontos e não ficam armazenadas num único lugar, mas em todos os pontos de contatos possíveis. 
Estes, por sua vez, podem gerar informações independentes, de tal modo que, se fossem destruídos um ou mais pontos, os outros continuariam retendo e gerando informações independentes. 
Posteriormente esse modelo foi utilizado para colocar em contato pesquisadores de diferentes universidades e acabou se expandindo até atingir a maioria dos lugares.
Hoje, a internet é o espaço onde há mais liberdade de produção, veiculação de mensagens, notícias, cultura e tudo o que possa ser transmitido por esse sistema.
É um meio de comunicação em que se utilizam as palavra escrita ou falada, as imagens, a música e outras tantas formar de comunicação, com muita rapidez e para todos na rede.
Existe, é verdade, um vocabulário restrito e mínimo para se comunicar (conversar por escrito), o que empobrece muito a linguagem escrita, além de uma série de ícones que indicam se a pessoa está alegre, triste, nervosa, o que reduz a capacidade de expressar verbalmente esses sentimentos.
Essa nova tecnologia de informação oferece possibilidades quase infinita de pesquisa. É de fato que há dados demais para a capacidade humana de processamento, mas, se você tiver o mínimo de conhecimento do funcionamento da internet e seus instrumentos, poderá obter excelentes informações e com uma diversidade nunca imaginada.
Portanto, dependendo de como é utilizada, a internet pode empobrecer a capacidade de pensar ou ser um instrumento para a obtenção de conhecimento. 
Nessa grande rede, encontram-se muitas das versões de um mesmo fato, cabendo a nós descobrir bons sites e profissionais que mostrem ângulos diversos de determinado fenômeno.
AS MANIFESTAÇÕES 
DA INDÚSTRIA CULTURAL
Prof. Marcos Macedo
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Podemos apontar como principais fontes de propagação da indústria cultural o rádio, a televisão, o cinema, as revistas e a indústria fonográfica. 
É claro que nem todos esses meios de comunicação estão a serviço do capital, pois existem excelentes produções cinematográficas que escapam à simples finalidade do lucro, assim como há canais de televisão e programas em que os fins são a informação e o entretenimento desvinculados da cultura fabricada. 
Podemos citar ainda as rádios comunitárias atuais, que, em geral, primam pela divulgação da cultura da própria comunidade.
Entretanto, pensemos nas novelas e em boa parte do cinema “hollywoodiano” como expressões dos meios de comunicação a serviço do capital, pois são concebidos enquanto objetos de consumo. 
A finalidade desses produtos não é necessariamente contar uma história verdadeira que possa ampliar o conhecimento das pessoas acerca dos fatos, mas, pelo contrário, é buscar transformar certas realidades em
puro entretenimento vazio de conteúdo. 
Dessa forma, o discurso agradável e fácil de ser assimilado aliena o ouvinte e o transforma em mero consumidor daquele produto e da publicidade contida nele.
A cultura erudita e a cultura popular não escapam à industrialização. Obras de arte são reproduzidas em camisetas para o consumo, enquanto músicas regionais são transformadas em verdadeiras marcas de consumo ao receberem uma “roupagem moderna”.
Atualmente, devido ao crescimento da conscientização, por meio da ação de ONGs e movimentos sociais, da aceitação do uso de meios de mídia eletrônica por parte de grupos alternativos (rádios comunitárias, Internet e produção musical independente, por exemplo), além das mudanças sofridas pela própria indústria cultural, pois a sociedade se impõe através da interatividade, é difícil afirmar que a cultura de massa seja tão onipotente quanto o foi algum tempo atrás.
Contudo, é papel da Antropologia Jurídica desvendar certas ideologias contidas nos meios de comunicação de massa, assim como é papel de cada um de nós estarmos atentos àquelas informações que realmente nos acrescentem algum conteúdo, não perdendo a noção de que o entretenimento serve apenas enquanto tal, e não para transmitir uma verdade absoluta capaz de guiar-nos em nosso dia a dia.

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