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DIREITO HEBREU1 1. ASPECTOS INICIAIS O Direito Hebreu é considerado de grande importância para a humanidade e por isso se faz necessário o estudo dos seus institutos jurídicos. Direito e Religião se confundem. Como fonte do Direito Hebreu iremos estudar o Texto Bíblico (Antigo Testamento). Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) – denominação para Cristãos Tanakh– denominação para os Judeus Antes de tudo, precisamos estabelecer uma linha divisória, na medida em que a Bíblia servirá de referencia e de fonte para o estudo do Direito Hebraico, independente de qualquer religião. Será estudada como um livro histórico e fonte de direito, a fim de que possamos conhecer os institutos da Lei Mosaica. Originalmente a Bíblica foi escrita em Hebraico e uma pequena parte em Aramaico. A compilação constante no antigo testamento bíblico representa ao mesmo tempo o código civil, moral, penal e religioso da época. Portanto, vamos fazer uma garimpagem ao longo dos relatos bíblicos, na tentativa de reconstituição do sistema jurídico hebreu. Legislação Mosaica (Pentateuco): representa a própria constituição do povo e as compilações influenciam sobremaneira todos os setores da vida do povo hebreu. A Legislação Mosaica é o Pentateuco de Moisés, o qual se compõe de cinco livros: Gênesis: que trata da criação do mundo; Êxodo: que trata da saída dos hebreus do Egito; Levítico: que trata da organização do culto; Números: que dá o recenseamento do povo; Deuteronômio: que resume as leis e instruções de Moisés. O Povo Hebreu, Povo de Israel ou Povo Judeu é natural da Chaldeia. A princípio eram nômades. Vagaram pela Síria e pela Mesopotâmia, estabelecendo-se depois no Egito (no Egito foram escravizados, eram subordinados ao Faraó). Enquanto nômades, os agrupamento eram pequenos núcleos, que eram as tribos que tinham em comum os mesmos antepassados. Cada tribo era chefiada pelo mais idoso que levava o nome de patriarca. Sobre o patriarcado Hebreu: Sem dúvida, um dos mais importantes foi Abraão. Fez um pacto com Deus de guiar os Hebreus a Terra Prometida e devido a sua fé inabalável foi recompensado. Deus prometeu a Abraão a pátria de Canaã – terra futura de Israel – e numerosa descendência. Abraão teve um neto, Jacó (a quem Deus renomeou como Israel), que com seus filhos e respectivas famílias foi para o Egito fugindo da fome. Eles serviram ao faraó, mas seus descendentes tornaram-se escravos. Pacto com Deus (Gênesis: Capítulo 12, versículos 1-3). Conduziu os Judeus ao Egito devido a fome (Gênesis: Capítulo 12, versículo 10) Abraão deu origem ao Monoteísmo, tendo um papel significativo para as três grandes religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), nas quais a sua história é contada. Observa-se que o fato de serem nômades fez com que tivessem contato com vários povos. Essa característica e organização social como nômades foi mantida até o período da estada no Egito. De outro tanto, um dos grandes ícones do povo Hebreu foi Moisés, que tem como principal ponto de sua vida a condução do povo a terra prometida, e durante o caminho, recebeu a base de todo o direito hebreu e influenciou todas as gerações: Os dez mandamentos. Moisés nasceu em segredo durante a opressão no Egito e ficou escondido por algum tempo para evitar a chacina nas mãos dos Egípcios e depois foi posto em uma cesta nos juncos do Nilo. (O Faraó havia determinado a morte de todo menino hebreu que nascesse, porque o povo estava se multiplicando em demasia, Êxodo: Capítulo 1, versículo 22). Descoberto pela filha do Faraó, que se apiedou da criança, foi poupado, e através da intervenção de sua filha, foi amamentado pela própria mãe. Criado pela filha do Faraó como seu filho, a criança recebeu o nome de Moisés. (Êxodo, Capítulo 2, versículos 1-10) Já adulto, Moisés matou um egípcio que viu batendo em um hebreu. E fugiu do Egito para salvar a sua vida. Deus se revela a Moisés e ordena-lhe que retorne ao Egito, a fim de salvar o Povo Hebreu da opressão e da escravidão. Deus envia várias dez pragas (Retratadas em Êxodo: Rãs, mosquitos, moscas, mortandade do gado, úlceras, chuva de granizo, gafanhotos, trevas e morte dos primogênitos). Com a décima (mortandade do primogênito), o faraó permitiu que o povo hebreu partisse. Então, são guiados por Moises à Terra Prometida. Moisés não consegue entrar a terra prometida, falecendo após receber os Dez Mandamentos no Monte Sinai (Êxodo: Capítulo 20, versículos 1-15), e sendo o povo conduzido por Josué. Antes ainda de todos estes ícones do Direito Hebreu, não podemos esquecer de Noé (como um grande patriarca). Foi aquele que transportou a humanidade para um novo capítulo de sua história, longe da corrupção e indignidade que havia se estabelecido na terra. Segundo historiadores, após o dilúvio, o mundo melhorou em termos de virtudes. Noé sobreviveu ao Dilúvio que dizimou toda a humanidade. O fato de ter sido poupado era porque era temente a Deus, era portador de sua vontade e com ele foi poupada também a sua família. 2. PENTATEUCO DE MOISÉS: O ÁPICE DA LEI HABRAICA – ASPECTOS DOS INSTITUTOS DO DIREITO HEBREU O Pentateuco para os Judeus tem o significado de “Thora”, que significa que essa Lei foi revelada por Deus. A assertiva de seus escritos é atribuída a Moisés, por isso as denominações “Lei de Moisés ou os Cinco Livros de Moisés”. Assim, os cinco primeiro livros da bíblia são a base de toda a estrutura hebraica. E nesse livro histórico, é que vamos observar diversos institutos jurídicos: a) Família, Direito Sucessório e Situação da Mulher: A família é a base de toda a estrutura societária. Tudo se concentrava na pessoa do patriarca. A família hebraica é tradicional e nitidamente patriarcal. O homem podia possuir varias mulheres e repudiar a que tivesse. As filhas eram vendidas em matrimônio pelo pai (pagamento do mohar). O casamento era firmado oralmente, confirmado pela presença da comunidade que agia como testemunha do ato. A mulher não podia herdar. E quanto aos filhos, só herdava o primogênito, contudo, era permitido ao pai a liberdade de escolher um filho mais novo como seu sucessor, no caso de considerar o mais velho como indigno para a função. O pátrio poder era vitalício e o pai respondia pelos atos dos filhos. Levirato: Para os casos de viuvez da mulher havia a lei do levirato. Quando morria o marido, sem deixar um filho, sua esposa não podia casar com alguém externo ao grupo ou clã, mas tornava-se sem qualquer formalidade, a esposa do irmão do marido. (Deuteronômio: Capítulo 25, versículo 5) Nota-se que as lei referentes a família, casamento, divorcio e sucessão estavam fundamentadas na sociedade patriarcal e na proteção da propriedade do grupo familiar, procurando sempre evitar a divisão e a transferência de seus bens para outro grupo familiar. b) Pactos, acordos, promessas: Contratos formais e escritos são raros entre a sociedade hebraica antiga. Os acordos e promessas sempre tinham uma base religiosa, sendo o juramento a forma mais comum de compromisso. Embora a lei hebraica não estabelecesse previsões para contratos, as relações legais eram estabelecidas mediante pactos. Desde a sociedade patriarcal, as partes que estabeleciam um pacto entre si costumavam matar um animal como forma de formalização do pacto, além da presença de testemunhas e, algumas vezes, erigia-se uma coluna ou uma pilha de pedras como memorial. Posteriormente, com a introdução da escrita, passou-se a incluir um registro na pedra utilizada para formalizar o pacto. c) Direito Penal (Crimes, Punições, Penas): Forte vinculação entreDireito e Religião, visto que os atos puníveis eram considerados pecados ou violação da vontade de Deus. Não encontramos a muito a palavra crime no Direito Hebraico, mas os termos: pecado, transgressão e iniqüidade. Pela Lei Mosaica, todos os atos, sejam proibitivos ou mandatórios, são considerados pecados contra Deus. A distinção consiste apenas em relação à punição pela sua violação. No caso de um ato de violação de uma lei mandatória, a punição fica por conta de Deus e costuma sendo classificada como não sendo crime, mas apenas a violação de um dever religioso. Por outro lado, a transgressão de uma lei proibitiva acarreta a punição estabelecida por um tribunal. As punições aplicadas eram: pena de morte, banimento, flagelação, pagamento de multa, escravidão, prisão perpétua, trabalhos forçados, dentre outras. A Lei Penal Hebraica pode ser estudada em três períodos, a saber: Lei Divina; Lei Natural e Lei escrita. A Lei Divina é retratada pelo episódio de Adão quando advertido pelo Criador para que não comesse o fruto da árvore proibida. Segundo Gênesis, Eva foi seduzida pela Serpente. Daí, temos que a infringência a lei divina acarretou uma pena. A pena em referencia é a morte, na medida em que Adão e Eva foram criados imortais. Gênesis: Capítulo 2, Versículos: 15-17 “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo. E o Senhor Deus ordenou ao homem: Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá.” A fase da Lei Natural é chamada assim, pois, após o dilúvio não havia outra autoridade senão a de Noé em forma de patriarcado. Noé foi escolhido junto com a sua família para ser preservado da pena de extermínio, decretada por Deus, devido ao povo ter se tornado iníquo e indigno de toda a criação. Genesis: Capítulo 4 Retrata a história da corrupção da humanidade e violência. Pacto de Deus com Noé, cujo pena era o extermínio da humanidade. A terceira fase é a Lei Escrita, remonta ao período de Moisés, conduzindo o povo a terra prometida, depois da escravidão do Egito. No Direito Penal Hebreu também era aplicada a Lei de Talião, que se limita à reação à ofensa a um mal idêntico ao praticado, o que constitui uma evolução das primeiras sanções existentes. (Levítico: Capítulo 24, versículo 17-22) Destaque-se alguns delitos: I. Idolatria: Um dos delitos mais graves para os Hebreus. Estes deveriam conservar o culto ao verdadeiro Deus. Esse particular da doutrina hebraica se explica pelo fato de toda a escravidão, vivida por eles, ter sido provocada pelos Egípcios que professavam uma crença politeísta e com adoração de ídolos. (Êxodo, Capítulo 22, versículo 20 e Deuteronômio: Capítulo 5, versículos 6-7). II. Blâsfemia: (História de Jesus Cristo) III. Sodomia: (O homem teria nascido para a procriação) IV. Adultério: Se a mulher pertencia a classe do povo era apedrejada, se pertencia a família sacerdotal era queimada vida. (Deuteronômio: Capítulo 5, versículo 18) V. Calúnia: (Êxodo, Capítulo 23, versículo 1) VI. Homicídio (voluntário e involuntário): (Êxodo: Cap. 21, versículos 12 e Deuteronômio: Capítulo 5, versículo 17) VII. Estupro VIII. Usura (empréstimo a juros): (Êxodo, Capítulo 22, versículo 25) IX. Sequestro: (Êxodo: Cap. 21, versículos 16) X. Furto: (Deuteronômio: Capítulo 5, versículo 19) XI. Falso testemunho: (Deuteronômio: Capítulo 5, versículo 20) d) Escravos: uma vez comprados serviriam seis anos, no sétimo ano seriam libertados, sem pagar nada (Êxodo: Cap. 21, versiculos1-6) e) Caráter indenizatório do direito: (Êxodo: Capítulo 21, versículos 20-25) f) Propriedade: Êxodo: Capítulo 22, versículos 1-15 g) Dízimo: imposto (Deuteronômio: Capítulo 14, versículos 22-28) h) Remissão (Perdão dívidas): (Deuteronômio: Capítulo 15, versículos 1-3) i) Justiça: (Deuteronômio: Capítulo 16, versículos 18-20). Estabelecimento de Juízes. Julgamento com equidade, sem distinção entre pessoas. Os juízes não podem aceitar presentes. j) Testemunhas: Não se podia admitir somente uma testemunha, precisava de no mínimo duas ou três testemunhas. Punição do falso testemunho. (Deuteronômio: Capítulo 19, versículos 15-21) k) Leis acerca do casamento: (Deuteronômio: Capítulo 22, versículos 13-30) l) Divorcio: (Deuteronômio: Capítulo 24, versículos 1-4) 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não é uma tarefa fácil contextualizar o sistema jurídico de uma civilização antiga que abrangeu um período de vinte séculos e apresentou vários tipos de organização política, restringindo-se a uma única fonte (Lei Mosaica). Naturalmente, muitos aspectos foram suprimidos ou não foram incluídos com a devida precisão. Contudo, dentre as características e fatores que se precisa compreender é que o Direito Hebraico possui um caráter religioso: a Lei era o resultado de um pacto entre Deus e uma nação. Além do mais, o “comando” da política, religião e família ficava a cargo do patriarca (Pode Patriarcal), mostrando a submissão da mulher. Dentre os Livros que compunham o Pentateuco, o Deuteronômio foi a melhor obra jurídica dos Hebreus, visto que suas leis eram mais claras que as normas do Hamurabi. Esse livro influencia, grandemente, na formação do povo com suas regras de usos e costumes. A influência do Direito Hebreu sobre o “resto” da humanidade foi fantástica: os ideais do governo limitado, da soberania da lei e da consideração pela dignidade e pelo valor do individuo contam-se entre as grandes influencias formadoras que plasmaram o desenvolvimento da moderna democracia. SUGESTÃO DE LEITURA: “História do Direito: De Roma à História do Povo Hebreu e Mulçumano”, cuja autoria é de Elder Lisboa Ferreira da Costa. A obra está disponível na Internet, em PDF, de forma gratuita. Aborda as questões históricas do povo hebreu, a fim de que os acadêmicos possam compreender os institutos jurídicos de uma maneira mais aprofundada. Devido ao tempo e a amplitude da obra, não vamos conseguir trabalhar em sua completude em sala de aula, contudo, muitos tópicos, estão no resumo. 1 O presente resumo é uma compilação de informações retiradas de diversas obras, dentre elas, Texto Bíblico e a obra “Fundamentos de História do Direito” de Antonio C. Wolkmer, para fins de produção de um material destinado a orientar os acadêmicos do Primeiro Semestre de Direito acerca dos institutos jurídicos do Povo Hebreu. Nesse sentido, muitos aspectos foram suprimidos ou não foram incluídos.
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