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Caos e Complexidade NO LIMIAR DA ECONOMIA NEOCLÁSSICA Ordem da apresentação 1) O pensamento neoclássico ou ortodoxo e sua base metodológica; 2) Críticas ao método padrão; 3) Sistemas Complexos; 4)A abordagem do instituto Santa Fé; 5) Transformações em outras linhas de pensamento derivadas de insights da complexidade; 6) Comparação: modelo analítico VS modelo computacional; 7) Vídeos; 8) Considerações finais, referências e agradecimentos; 9) Perguntas. nos impede de entender na economia? S D q* p* 1. O que a análise neoclássica (devido aos seus pressupostos metodológicos) Pressupostos metodológicos da ortodoxia em economia¹ 1. Individualismo metodológico; 2. Racionalidade plena; 3. Agentes decidem na margem; 4. Construção teórico-conceitual a partir de modelos abstratos e hipotético-dedutivos; 5. Fundamentação em relações entre preços e quantidades em mercados interdependentes; 6. Equilíbrio. 1- (OSER e BLANCHFIELD, 1983: p. 207) Teorias e abordagens críticas ou alternativas Um passeio nada ortodoxo... A crítica de Karl Marx Crítica da Economia Política: “A história das sociedade é a história das lutas de classes.” Pressupostos metodológicos comparados 1. Individualismo metodológico; 2. Racionalidade plena; 3. Agentes decidem na margem; 4. Construção teórico-conceitual a partir de modelos abstratos e hipotético-dedutivos; 5. Fundamentação em relações entre preços e quantidades em mercados interdependentes; 6. Equilíbrio. 1. As unidades de análise são sempre classes sociais. 2,3. O comportamento dos indivíduos é afetado pela visão de mundo e valores criados pela classe hegemônica – sua racionalidade é condicionada. 4. Construção lógica (dialética) em torno de regularidades politicas e socioeconômicas historicamente fundamentadas. Dialética é usada para descrever os fenômenos sociais como não lineares, cumulativos e passíveis de quebra estrutural. 5. O escopo de análise é amplo, indo desde as macroestruturas de relações (produtivas e políticas) que sustentam o status quo, até a análise dos determinantes de juros, preços, nível de atividade econômica, etc. 6. Existem equilíbrios de mercado (no sentido de Adam Smith) mas o enfoque é sobre as leis orgânicas de movimento do sistema capitalista como um todo. A crítica keynesiana Os teóricos clássicos lembram geômetras euclidianos em um mundo não-euclidiano que, descobrindo que na experiência linhas retas aparentemente paralelas muitas vezes se encontram, repreende as linhas para não manter em linha reta, como o único remédio para as colisões infelizes que estão ocorrendo. No entanto, na verdade, não há remédio a não ser jogar fora o axioma das paralelas e elaborar uma geometria não-euclidiana. Incerteza fundamental sobre o futuro e sobre a ação humana. O papel das expectativas e a dinâmica de curto prazo. (o processo importa) Insuficiência do enfoque sobre o equilíbrio e importância da dinâmica; "No longo prazo estamos todos mortos" macro micro Pressupostos metodológicos comparados 1. Individualismo metodológico; 2. Racionalidade plena; 3. Agentes decidem na margem; 4. Construção teórico-conceitual a partir de modelos abstratos e hipotético-dedutivos; 5. Fundamentação em relações entre preços e quantidades em mercados interdependentes; 6. Equilíbrio. 2. O indivíduo (e sobretudo o empresário) mantém a racionalidade, mas devido a existência da incerteza fundamental sua ação é endogenamente instável. 5. Fundamentação também na macroestrutura que emerge dos mercados e os condiciona. 6. A dinâmica torna-se essencial. A crítica Institucionalista “as situações atuais moldam as instituições futuras mediante um processo seletivo e coercivo, que age sobre a visão habitual que os homens têm das coisas, e, assim, alteram e fortalecem um ponto de vista ou uma atitude mental herdada do passado. As instituições – isto é, os hábitos de pensamento – sobre cuja orientação os homens vivem, são, desta forma, recebidas de uma época anterior. [...] As instituições são produto do processo passado, são adaptadas a circunstancias passadas e, portanto, nunca estão de pleno acordo com as exigências do presente. [...] Ao mesmo tempo, os hábitos atuais do homens tendem a persistir indefinidamente, exceto as circunstancias forçam a uma mudança. Essas instituições, que assim foram herdadas, esses hábitos de pensamento, pontos de vista, atitudes e aptidões mentais, são, portanto, fatores conservadores. Este é o fator de inércia social” Thostein Veblen Pressupostos metodológicos comparados 1. Individualismo metodológico; 2. Racionalidade plena; 3. Agentes decidem na margem; 4. Construção teórico-conceitual a partir de modelos abstratos e hipotético-dedutivos; 5. Fundamentação em relações entre preços e quantidades em mercados interdependentes; 6. Equilíbrio. 1. Existem padrões de ação coletiva; 2,3. Racionalidade instrumental mas também substantiva. 4,5. Construção de conhecimento sobre processos sociais de forma ampla. Abordagem interdisciplinar envolvendo política, sociologia, psicologia com enfoque sobre lei, costumes, ideologia, tradição, etc. 6. Não existe equilíbrio, o sistema social está em constante evolução. Além disso “leis” em economia são apenas regularidades históricas que emergem das instituições presentes em uma dada sociedade circunscritas no espaço e no tempo. A crítica neoshumpeteriana “O ponto essencial que se deve ter em conta é que, ao tratar do capitalismo, tratamos também de um processo evolutivo.” Schumpeter (1961) “O processo de difusão de cada revolução tecnológica e seu paradigma técnico-econômico constituem os sucessivos impulsos de crescimento econômico”. Carlota Perez Pressupostos metodológicos comparados 1. Individualismo metodológico; 2. Racionalidade plena; 3. Agentes decidem na margem; 4. Construção teórico-conceitual a partir de modelos abstratos e hipotético-dedutivos; 5. Fundamentação em relações entre preços e quantidades em mercados interdependentes; 6. Equilíbrio. 1. Enfoque sobre as firmas. 2. Racionalidade imperfeita (a là Herbert Simon). 3. Agentes aprendem e se estabilizam em padrões de comportamento. 5. Fundamentação no comportamento criativo e adaptativo “construindo” os mercados. 6. Evolução e mudança estrutural. A crítica de Hayek Defesa da liberdade como fundamento da riqueza. O mercado (capitalismo) se apresenta como um conjunto de instituições capazes de coordenar a informação dispersa e descentralizada, gerando uma organização espontânea e estimulando o trabalho humano em um sentido construtivo. Planejamento estatal reduz a eficiência na alocação de recursos pelo mercado, provoca distorções no sistema de preços relativos e não conduz há melhorias. Na verdade tendem a causar reduções nas liberdades sociais e políticas. Democracia é impossível sem capitalismo. Pressupostos metodológicos comparados 1. Individualismo metodológico; 2. Racionalidade plena; 3. Agentes decidem na margem; 4. Construção teórico-conceitual a partir de modelos abstratos e hipotético-dedutivos; 5. Enfoque sobre preços e quantidades entre mercados interdependentes; 6. Equilíbrio. 4. Economia como um sistema complexo com organização espontânea: modelos preditivos- estruturais não captam sua essência. 5. Enfoque especial sobre incentivos: capitalismo originariqueza devido aos incentivos dinâmicos de suas instituições. 6. Equilíbrio fluído e não determinístico-estático. Mas o que é essa complexidade que Hayek tanto cita? “As ciências sociais — como grande parte das ciências biológicas, porém ao contrário da maioria da ciências físicas — lidam com estruturas de complexidade essencial [...]” Os fenômenos essencialmente complexos — como são as estruturas sociais — apresentam, porém, problemas específicos. [...] Pode-se mesmo considerar que esta seja a razão primordial de distinguirmos conhecimento rotulando-os de "físicos", ao contrário daqueles que se prendem a estruturas muito mais organizadas, denominadas aqui de "essencialmente complexas" Hayek (1974) Pra entendermos essa critica precisamos ir na definição que ele usa de sistemas complexos. Baseados em Hayek (1947 apud Weaver, 1948), existem três tipos de problemas (ou sistemas) em ciência. Problemas de simplicidade “O mais importante é lembrar que o amplo e rápido desenvolvimento das ciências físicas teve lugar em certas áreas que permitiam basear as explicações e as previsões em leis relacionadas aos fenômenos observados como funções de relativamente poucas variáveis — ou fatos singulares, ou acontecimentos de frequência relativa. (HAYEK, 1947). Podem ser explorados pelo método analítico cartesiano. Problemas de complexidade desorganizada São sistemas com inúmeros elementos (variáveis). O estado do sistema reflete simplesmente a agregação dos estados de seus inúmeros elementos. Nesse sentido tais sistemas apresentam linearidade, pois “o todo é igual a soma das partes”(MITCHELL, 2009). Podem ser explorados e compreendidos através de análises estatísticas Fenômenos de complexidade organizada Compostos por muito elementos. Exibem usualmente um padrão ou estrutura que emerge da interação descentralizada e espontânea entre os (vários) elementos. Os métodos para compreensão de tais sistemas estiveram em construção ao longo do séc. XX e ainda hoje são um campo de pesquisa ativo... O campo interdisciplinar da ciência da complexidade Herdeira contemporânea de esforços no século XX para compreender sistemas que exibem complexidade organizada Objetivo: Desenvolver métodos gerais aplicáveis à diferentes problemas de complexidade organizada. Métodos: utilizam principalmente matemática (em geral ligada à sistemas dinâmicos), computação, teoria da informação e teorias da evolução para explorar propriedades gerais de sistemas complexos evolutivos.. Resultados: Têm sido capazes nas últimas décadas de resolver problemas que são análogos em diferentes campos, indo desde problemas da física à gestão de empresas. Semelhanças entre críticas heterodoxas e propriedades de sistemas complexos adaptativos Criticas à ortodoxia A sociedade se processa e passa por transformações, não é estática como uma máquina. Como lidar com inovação e quebras estruturais endógenas? Leis (regularidades) econômicas não existem à priori, dependem de instituições. A economia (sociedade) é construída e condicionada historicamente. Retornos crescentes e condicionamentos históricos. Instabilidade e ciclos; Propriedade de sistemas complexos adaptativos. Sistemas complexos adaptativos (SCAs) evoluem (seja através de aprendizado dos agentes ou mudanças no ambiente que condiciona o sistema) As regularidades do sistema emergem em grande parte das formas (regras) de interação entre os elementos. O estado e as estruturas do sistema dependem da trajetória (path-dependence). Condições iniciais causam grandes diferença (caos). Existem forças que tendem a acelerar processos e aprofundá-los, distanciando-o de atratores (equilíbrios). Relações não lineares entre componentes do sistema podem levar a comportamentos cíclicos e instabilidade endógena. Vídeos Painel do INET sobre complexidade. http://www.youtube.com/watch?v=Kpq-u-gqX5E A abordagem de Santa Fé: A economia como um sistema complexo adaptativo O instituto Santa Fé é composto por uma rede de pesquisadores em área diversas que realizam pesquisa pura em ciências complexas ou exploram aplicações em campos diversos. A abordagem do instituto sobre fenômenos econômicos conta com nomes como Brian Arthur e Kenneth Arrow, demonstrando que parte do mainstream do pensamento econômico. Os cientistas passam então a utilizar desenvolvimentos da ciência da complexidade para explorar propriedades inerentes aos sistemas econômicos baseados em mercados. Propriedade essenciais do sistema econômico: Interação dispersa Nenhum controlador global Adaptação contínua novidade perpétua Organização hierárquica transversal Dinâmica intrinsecamente fora de equilíbrio Resultados Os principais resultados, modelos e aplicações desenvolvidos são periodicamente reunidos em uma coletânea chamada “ A Economia Como um Sistema Complexo Evolutivo”. Os modelos exploram insights, teoremas e métodos extraídos do campo da complexidade e suas bases em sistemas dinâmicos, computação, teoria da informação e evolução. O uso de métodos computacionais, em especial simulações de sistemas baseados em agentes, permitem relaxar hipóteses que eram antes muito simples e não realísticas (sobre equilíbrio, expectativas, etc.) e modelar a economia de forma mais rica e verossímil. Exemplo de um modelo da economia como um SCA utilizando simulação computacional. 1. Bar El Farol (equilíbrio parcial) http://ccl.northwestern.edu/netlogo/models/ElFarol 2. Reservas bancárias e concentração de renda. http://ccl.northwestern.edu/netlogo/models/CashFlow Transformações em outras linhas de pensamento derivadas de insights da complexidade: (exemplos de pesquisadores brasileiros) Eleutério Prado – Incorpora insights da complexidade para construir modelos formalizados que captem melhor as propriedades da Economia Política Clássica e dialética marxiana. Gilberto Tadeu Lima – Macrodinâmica (pós keynesiana). Newton Paulo Bueno – Dinâmica de Sistemas aplicado à relações Inter-setoriais e ciclos endógenos no Brasil. Referências OSER, Jacob e BLANCHFIELD, Wiliam. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Ed. Atlas, 1983. Hayek, Friedrich v. The Theory of Complex Phenomena: A Precocious Play on the Epistemology of Complexity in: Studies in Philosophy, Politics and Economics, London, 1967. Disponível em: http://highmesa.us/Hayek/Theory%20of%20Complex%20Phemomena.pdf HAYEK, Friedrich v. A Pretensão do Conhecimento. 1974. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=222 WEAVER, Warren. Science and Complexity. Classical Papers E:CO Vol. 6 No. 3 2004 pp. 65-74. Disponível em: http://philoscience.unibe.ch/documents/uk/weaver1948.pdf MITCHELL, Melanie. Complexity: A Guided Tour. New York: Oxford University Press, 2009. SHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia. 1961. Disponível em: ftp://ftp.unilins.edu.br/leonides/Aulas/Form%20Socio%20Historica%20do%20Br%202/sch umpeter-capitalismo,%20socialismo%20e%20democracia.pdf
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