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Resenha 'Do Etnocídio' CLASTRES, P

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Universidade Federal Fluminense
Disciplina: Antropologia I
Professora: Joana
 Aluna: Dafne Fonseca Vinhaes
Resenha do texto “Do Etnocídio” – P. Clastres
 O 4º capítulo do livro Arqueologia da violência, do antropólogo francês Pierre Clastres (1934-1977), se inicia fazendo uma breve análise sobre a palavra “etnocídio” e de sua relação com “genocídio”, afirmando que esta não era suficientemente precisa em demonstrar a complexidade do fenômeno contido no termo etnocídio. Seus criadores sentiram a necessidade de uma expressão própria, mais específica. No entanto, é preciso ponderar o significado de genocídio, para a partir daí diferenciá-lo de etnocídio.
 A palavra genocídio foi registrada judiciamente pela primeira vez em 1946 no processo de Nuremberg, e aqui caracteriza o extermínio de judeus europeus na Alemanha nazista durante a II Guerra Mundial. Considerado por Clastres o resultado lógico do racismo não controlado, o genocídio já vem sendo praticado muito antes de Hitler, embora não houvesse nenhum julgamento para quem o praticasse anteriormente. Destaca-se o massacre de indígenas feito pelos países europeus envolvidos nas grandes navegações, a fim de expandir seus territórios, iniciado no final do século XV com o “descobrimento” da América. A partir do estudo desse evento, alguns etnológos, principalmente Robert Jaulin, sentiram a necessidade de estreitar a ideia de genocídio, criando o conceito de etnocídio. 
 Segundo o autor, o ocorrido na América (em especial na América do Sul, local onde se concentrou a exploração violenta do espaço e da população residente) não foi simplesmente um extermínio racial – o que estaria na esfera do genocídio, mas também um extermínio cultural. “O etnocídio, portanto, é a destruição sistemática dos modos de vida e pensamento de povos diferentes daqueles que empreendem essa destruição.”, resume Clastres. Apesar de se diferenciarem no alvo, esses dois tipos de opressão agem inteligados, de forma que a dominação de uma minoria e/ou seu território se dê de maneira eficaz. 
 O etnocida, portanto, deseja moldar o diferente ao seu modo, impondo-o o que ele achar certo, o que considera ser a solução para o outro. Os europeus não viam os indígenas como pessoas, mas sim como animais (o que anulava seu racismo). Como pessoas poderiam andar nuas, cultuar vários deuses, ou ainda não ter uma hierarquia? Só a imposição de seus costumes europeus poderia torná-los menos primitivos. 
 O caráter etnocida dos missionários é destacado neste texto, que exerciam um papel fundamental no processo de aculturação dos povos sulamericanos. Segundo o antropólogo, a imposição do cristianismo era vista como uma forma de salvar os índios, e fazê-los saírem da condição selvagem para a civilização ocidental. O etnocídio se relaciona diretamente com a visão etnocêntrica europeia, isto é, com a classificação de outras culturas diferentes à ocidental como inferiores – porém passíveis de salvação. No entanto, Clastres questiona se o etnocentrismo é exclusivo ao ocidente, e afirma, ao analisar como diferentes povos se autodenominam e como chamam povos vizinhos, que a ideia de superioridade cultural é inata a toda cultura, não sendo uma característica específica europeia.
 Apesar de considerar toda cultura etnocêntrica, Clastres assegura que apenas a ocidental é etnocida. Ora, se o etnocentrismo não explica por si só o etnocídio, é preciso então analisar mais detalhadamente a cultura europeia, para que se encontrem as raízes de sua essência etnocida. O autor nos leva então a analisar a história. Primeiramente, é importante destacar que há diferenças dentro da cultura ocidental, comumente vista como um único bloco homogêneo de costumes. Essas diferenças, todavia, são por vezes reprimidas pelo Estado, que, para se manter no poder, necessita suprimir tudo o que é contrário a ele. Tal prática se assemelha ao etnocídio. Pode-se concluir, portanto, que o comportamento etnocida se origina no Estado, e nele se espelha ao almejar o extermínio do diferente. E, ainda que também houvesse Estado na América do Sul antes da chegada dos europeus – Clastres aponta os Incas como uma sociedade bárbara, que também praticava etnocídio para expandir seu poder ao longo do continente – esses não poderiam ser equiparados aos Estados ocidentais, uma vez que, segundo o autor, estes agiam de maneira desenfreada, em nome da produtividade do espaço e da população. Ao contrário dos Incas, o ocidente não expandia seu poder unicamente para aumentá-lo, mas também para ampliar sua produção econômica.
 “Produzir ou morrer, é a divisa do Ocidente.”. Com esta fala, Pierre Clastres sintetiza o objetivo do etnocídio ocidental. Se não for produtivo, o nativo deve dar lugar ao expancionismo europeu.

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