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DIREITO CIVIL V - CCJ0111 Semana Aula: 5 Validade do Casamento 2 Tema Validade do Casamento 2 Palavras-chave Objetivos 1. Estudar e compreender as causas de nulidade do casamento e a legitimidade para a propositura da ação. 2. Estudar e compreender as causas de anulação do casamento e a legitimidade para a propositura da ação. 3. Identificar os prazos decadenciais para os pedidos de anulação do casamento. 4. Diferenciar nulidade absoluta de nulidade relativa. Estrutura de Conteúdo 1. Validade do Casamento. a. Causas de nulidade do casamento. i. Legitimidade para a ação. b. Causas de anulação do casamento. i. Legitimidade para a ação. ii. Prazos decadenciais. c. Diferenças entre nulidade absoluta e nulidade relativa. Procedimentos de Ensino O presente conteúdo pode ser trabalhado em uma única aula, podendo o professor dosá-lo de acordo com as condições (objetivas e subjetivas) apresentadas pela turma. Sugerimos que o professor inicie a aula retomando a diferença entre os planos de existência, validade e eficácia do casamento e, a partir delas, ingresse na diferenciação entre casamentos nulos e anuláveis. O Capítulo VIII do Livro de Direito de Família elenca as causas de invalidade do casamento que, pelas causas expressamente[1]1 previstas nos arts. 1.548 e 1.550, CC, poderá ser declarado nulo ou anulável respectivamente. O casamento nulo é aquele atingido por vício essencial ou que foi contraído com simulação, infração à lei, à ordem pública ou bons costumes. Segundo o art. 1.548, CC, serão nulos os casamentos celebrados pelo enfermo mental (enfermidade permanente e duradoura, art. 3º., CC) sem o necessário discernimento para os atos da vida civil e por infringência de impedimento (art. 1.521, CC). A decretação de nulidade pode ser requerida em ação ordinária por qualquer interessado ou pelo Ministério Público (art. 1.549, CC), sendo a sentença declaratória de efeitos ?ex tunc? (o casamento não produz qualquer efeito jurídico desde a celebração [2]2). O foro competente é o da residência da mulher (art. 100, I, CPC), sendo essencial a atuação do Ministério Público como fiscal da lei (arts. 82, II, CPC). Deve-se lembrar que a ação de nulidade admite reconvenção e confissão. No entanto, não se operam os efeitos da revelia nem se impõe o ônus da impugnação específica. A sentença deverá ser averbada junto ao registro do casamento, retomando os ex-cônjuges o estado civil que possuíam antes do casamento. As causas de anulabilidade do casamento fundamentam-se, basicamente, em afronta a interesses privados que levam a vícios capazes de lhe determinar a invalidade. São causas de anulação do casamento, conforme o art. 1.550, CC: 1- O casamento de quem não completou a idade mínima para casar. É hipótese clara da falta de suprimento judicial da idade para os casamentos celebrados nas hipóteses do art. 1.520, CC. a. Legitimidade: art. 1.552, CC. b. Não se anulará pela falta do suprimento judicial da idade o casamento do qual resultou gravidez (art. 1.551, CC). c. O menor, ao completar a idade núbil poderá confirmar o casamento perante o oficial do cartório e juiz celebrante, desde que o faça antes do trânsito em julgado da ação anulatória e com o consentimento de seus representantes legais (art. 1.553, CC). d. Prazo: art. 1.560, §1º., CC. 2- O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal. É hipótese de falta de suprimento judicial do consentimento para os casamentos de pessoas maiores de 16 e menores de 18 anos (art. 1.517, CC). a. Legitimidade: art. 1.555, CC. b. Não se anulará pela falta do suprimento judicial da idade o casamento do qual resultou gravidez (art. 1.551, CC). c. Também não se anulará por falta de consentimento se a celebração do casamento foi acompanhada pelos representantes legais do menor ou se estes, por qualquer modo, tiverem manifestado sua aprovação (art. 1.555, §2º, CC). d. O menor, ao completar a maioridade pode confirmar o casamento perante o oficial do cartório e juiz celebrante, desde que o faça antes do trânsito em julgado da ação anulatória. e. Prazo: art. 1.555, CC. 3- O casamento contraído com vício da vontade: erro substancial quanto à pessoa do outro cônjuge (arts. 1.556 e 1.557, CC) e coação moral (art. 1.558, CC). a. Legitimidade: art. 1.559, CC. b. Coação: é causa de anulabilidade a coação moral, uma vez que a coação física é considerada causa de inexistência do casamento. Coação é toda ameaça (grave, injusta e atual) ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para forçá-lo ao casamento. É o temor que impõe que vicia o casamento, independente de ser ele dirigido ao próprio nubente ou a seus familiares. i. Temor reverencial não é causa de anulação do casamento. c. Erro: erro é a falsa representação da realidade e, para viciar o casamento, deve se referir à pessoa do outro cônjuge, além de ser substancial. i. O defeito deve ser anterior ao casamento e desconhecido do cônjuge enganado. ii. A descoberta do defeito após o casamento deve tornar insuportável a vida em comum. iii. O art. 1.557, CC, enumera taxativamente as causas de anulação do casamento por erro que pode se dar quanto: à identidade (física e civil), honra e boa fama; ignorância de crime anterior ao casamento; defeito físico irremediável ou moléstia grave e transmissível por contágio ou herança; ignorância de doença mental grave. iv. O ?error virginitatis? não é mais causa de anulação do casamento. v. A jurisprudência não tem considerado erro essencial a condição de desempregado ou a ociosidade, a fortuna e a profissão. d. Prazo: erro ? art. 1.560, III, CC; coação moral ? art. 1.560, IV, CC. 4- O casamento do incapaz de consentir ou manifestar de modo inequívoco o consentimento. a. Legitimidade: o próprio incapaz; representantes legais; herdeiros do incapaz. b. Trata-se de demonstração de redução da capacidade abrangendo, portanto, as hipóteses de incapacidade relativa (art. 4º., CC). c. Prazo: art. 1.560, I, CC. 5- O casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges. a. Legitimidade: mandante ou seu representante legal (se interdito ou menor). b. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. c. A coabitação do mandante com o cônjuge retira-lhe o direito de pleitear a anulação do casamento por este vício. d. Prazo: art. 1.560, II, CC. 6- O casamento por incompetência da autoridade celebrante. a. Legitimidade: os próprios nubentes. b. Trata-se de incompetência em razão do lugar e em razão da pessoa, pois a incompetência em razão da matéria é causa de inexistência do casamento. c. Art. 1.554, CC ? subsiste o casamento se aquele que o celebrou, embora não tendo competência, exercia publicamente as funções de juiz de casamentos e nesta qualidade tiver registrado o ato. d. Prazo: art. 1.560, §2º., CC. A anulação do casamento pode ser requerida em ação ordinária apenas pelas pessoas diretamente interessadas no ato, sendo as causas submetidas a prazos decadenciais. A sentença será constitutiva negativa com efeitos ?ex tunc? (o casamento produz até a decretação de sua invalidade). O foro competente é o da residência da mulher (art. 100, I, CPC), sendo essenciala atuação do Ministério Público como ?custos legis? (arts. 82, II, CPC). A ação de anulação admite reconvenção e confissão. No entanto, não se operam os efeitos da revelia nem se impõe o ônus da impugnação específica. O casamento anulável por se referir a vícios de natureza privada, pode ser confirmado por manifestação expressa ou tácita dos nubentes, resguardados direitos de terceiros. A sentença deverá ser averbada junto ao registro do casamento, retomando os ex-cônjuges o estado civil que possuíam antes do casamento. Para finalizar, o professor pode elaborar um quadro indicando as principais diferenças entre o casamento nulo e o casamento anulável: Casamento nulo: fere razões de ordem pública; pode ser declarado de ofício (em ação ordinária própria), ou a requerimento do Ministério Público ou qualquer interessado; não é suscetível de confirmação; não convalesce com o tempo; não produz efeitos; a sentença é meramente declaratória; os efeitos são ?ex tunc?. Casamento anulável: fere razões de ordem privada; somente pode ser invocada por quem a aproveite, não podendo ser declarado de ofício; é suscetível de confirmação; submete-se a prazos decadenciais; produz efeitos enquanto não for anulado; a sentença é constitutiva negativa; gera efeitos ?ex tunc? (alguns autores afirmam que seus efeitos são ?ex nunc?). Nas exatas palavras de Pontes de Miranda (1980) ?a imagem mais própria para se diferenciar o nulo do anulável é a da coleção de cubos (elementos), empilhados regularmente, formando o suporte fático, a que ou faltou algum dos cubos, vendo-se o espaço vazio, e é a imagem do suporte fático do negócio nulo, ou a que algum dos cubos menores não foi junto, mas é juntável pelo que o devia ter posto lá, o cubo complementar, ou, pelo tempo mesmo que decorreu, não pode ser mais visto o vazio?. Ao final da aula o professor deve perguntar se ainda existem dúvidas com relação aos tópicos abordados. Após, deve realizar breve síntese das principais diferenças entre as hipóteses de nulidade e anulação do casamento, preparando o aluno para o tema da próxima aula: celebração do casamento e prova do casamento. NOTAS: [1] A doutrina não admite as causas de nulidade virtual do casamento, ou seja, são causas de invalidade apenas aquelas taxativamente (textualmente) elencadas na lei. Assim, não gera a invalidade do casamento o fato da cerimônia ser retomada antes de 24h após sua suspensão (art. 1.538, parágrafo único, CC) ou ter sido realizada a portas fechadas (art. 1.534, CC). [2] Parte da doutrina entende que em virtude da previsão do art. 170, CC (conversão substancial) é possível que o casamento nulo que contenha requisitos de outro negócio jurídico (como, por exemplo, a união estável) possa subsistir quando o fim a que visavam as partes permitir supor que assim o teriam querido. Estratégias de Aprendizagem Indicação de Leitura Específica Recursos quadro e pincel; datashow Aplicação: articulação teoria e prática Caso Concreto Um agricultor do interior do Estado, ‘humilde e ingênuo’, casou-se há dois meses com bonita moça da cidade que havia conhecido numa das feiras de domingo. Após alguns meses de namoro, casaram-se pelo regime de comunhão universal de bens (sugerido pela própria moça). Mas, apenas um mês depois do casamento a moça saiu de casa, alegando que o marido lhe negava constantemente dinheiro para comprar roupas e sapatos. Neste mês que moraram juntos, chegou ao ponto da moça só manter relações sexuais com seu marido se este lhe desse dinheiro após o ato! O agricultor, chateado com toda essa situação, conversando com algumas pessoas descobriu que a moça tinha casado com ele única e exclusivamente por interesse econômico, tinha ela interesse (declarado) não só no dinheiro do marido, como principalmente, em ficar com parte da chácara do agricultor que era conhecida na região por ser produtora de ótimos produtos artesanais como queijos e geleias. Evidenciado o mero interesse econômico no casamento, pode o agricultor pedir sua anulação? Justifique sua resposta em no máximo cinco linhas e na resposta indique o prazo para a propositura da ação. Questão objetiva 1 (TJRS 2013) Sobre o casamento: I. O prazo para ser intentada ação de anulação do casamento, se houver coação, é de 4 anos a contar da data da celebração, e de 3 anos, na hipótese de erro essencial. II. Não devem casar o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. III. Não pode casar a viúva, até dez meses depois do começo da viuvez. IV. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser arguidas apenas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins. São verdadeiras as afirmativas: a. III e IV, apenas. b. I, II e IV, apenas. c. I e II, somente. d. I, II e III, somente Questão objetiva 2 (MPPR 2013) É hipótese de nulidade do casamento: a. O casamento do menor de 16 anos; b. O casamento com infringência de impedimento; c. O casamento contraído com erro sobre a pessoa do outro nubente; d. O casamento do menor entre 16 e 18 anos não autorizado por seu representante legal; e. O casamento do menor emancipado, sem autorização de seu representante legal. Avaliação Caso Concreto Um agricultor do interior do Estado, ‘humilde e ingênuo’, casou-se há dois meses com bonita moça da cidade que havia conhecido numa das feiras de domingo. Após alguns meses de namoro, casaram-se pelo regime de comunhão universal de bens (sugerido pela própria moça). Mas, apenas um mês depois do casamento a moça saiu de casa, alegando que o marido lhe negava constantemente dinheiro para comprar roupas e sapatos. Neste mês que moraram juntos, chegou ao ponto da moça só manter relações sexuais com seu marido se este lhe desse dinheiro após o ato! O agricultor, chateado com toda essa situação, conversando com algumas pessoas descobriu que a moça tinha casado com ele única e exclusivamente por interesse econômico, tinha ela interesse (declarado) não só no dinheiro do marido, como principalmente, em ficar com parte da chácara do agricultor que era conhecida na região por ser produtora de ótimos produtos artesanais como queijos e geleias. Evidenciado o mero interesse econômico no casamento, pode o agricultor pedir sua anulação? Justifique sua resposta em no máximo cinco linhas e na resposta indique o prazo para a propositura da ação. Gabarito: a jurisprudência tem admitido que o casamento realizado por puro interesse econômico caracteriza erro quanto à pessoa do cônjuge e, portanto, passível de anulação no prazo de três anos contados da celebração do casamento (arts. 1550, III; 1557, I; 1560, III, CC). Vide decisão: A 8ª Câmara Cível do TJRS anulou um casamento feito, meramente por interesse financeiro, em 2009 na pequena cidade gaúcha de Alpestre. O noivo, um agricultor "humilde e ingênuo", pediu a anulação do matrimônio porque a esposa saiu de casa um mês depois. Como o juiz Mário Augusto de Lacerda Figueiredo Guerreiro, da comarca de Planalto (RS) julgou improcedente o pedido de anulação do casamento, o homem apelou...e levou! O acórdão reconheceu que o casamento foi celebrado a partir de "premissa do amor desinteressado, mas que se fragilizou rapidamente, revelando puro interesse patrimonial por parte da mulher". O autor conheceu a mulher no início de agosto de 2009, num encontro promovido pelo pai dela, iniciando namoro com vistas ao casamento. Ele estava com 35 de idade; ela, com 47. Segundo o noivo, a mulher foi sua primeira namorada e ele nunca, antes, tivera relações sexuais. Trinta dias depois de se conhecerem - mas antes de iniciarem a morar juntos - ambosassinaram um pacto antenupcial, optando pelo regime da comunhão universal de bens. O noivo é dono de um imóvel e tinha a expectativa de receber uma indenização. Após as primeiras semanas de casados, a mulher passou a exigir dinheiro. Descontente com a situação, 30 dias após a realização do matrimônio, ela abandonou o lar, levando consigo alguns móveis. Segundo o depoimento do homem, a companheira não tinha qualquer interesse em manter relações sexuais e fortes indícios davam conta de que ela mantivesse relacionamento extraconjugal. A mulher exigia dinheiro para ter relações sexuais, sendo que a vida desregrada da mulher foi conhecida somente após o casamento - foi uma das teses da petição inicial. A cônjuge mulher, não obstante a citação por edital e nomeação de curador especial, compareceu no cartório judicial, sendo citada. Constituiu advogado e peticionou dizendo que "não se opunha ao pedido de anulação de casamento, com desconstituição do pacto antenupcial – apesar de não ser a anulação de casamento ato de disponibilidade dos litigantes". Duas frases nucleares do acórdão resumem o caso: "o apelante, pessoa de pouca instrução, se viu rapidamente envolvido e, concomitantemente ao momento em que conheceu a recorrida, já firmou pacto antenupcial de comunhão universal de bens. Os fatos que dão causa ao pedido (ingenuidade do varão, ignorância acerca das consequências da escolha do regime de comunhão universal de bens e alegação de que a mulher pretendia, apenas, aquinhoar seu patrimônio), são suficientes para caracterizar hipótese de erro essencial". A decisão transitou em julgado. O advogado Otacilio Vanzin fez a defesa do homem; e os advogados Carlos Cezar de Abreu e Michel Gustavo Inocêncio atuaram em nome da mulher. (Proc. nº 70052968930). Fonte: Espaço Vital. Questão objetiva 1 (TJRS 2013) Sobre o casamento: I. O prazo para ser intentada ação de anulação do casamento, se houver coação, é de 4 anos a contar da data da celebração, e de 3 anos, na hipótese de erro essencial. II. Não devem casar o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. III. Não pode casar a viúva, até dez meses depois do começo da viuvez. IV. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser arguidas apenas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins. São verdadeiras as afirmativas: a. III e IV, apenas. b. I, II e IV, apenas. c. I e II, somente. d. I, II e III, somente Gabarito: C - art. 1560 e 1523, CC. Questão objetiva 2 (MPPR 2013) É hipótese de nulidade do casamento: a. O casamento do menor de 16 anos; b. O casamento com infringência de impedimento; c. O casamento contraído com erro sobre a pessoa do outro nubente; d. O casamento do menor entre 16 e 18 anos não autorizado por seu representante legal; e. O casamento do menor emancipado, sem autorização de seu representante legal. Gabarito: B - art. 1548, CC. Considerações Adicionais Referências Bibliográficas: Nome do livro: Direito das Famílias Nome do autor: FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Editora: Lumen Juris Nome do capítulo: Capítulo II O Casamento Número de páginas do capítulo: 73
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