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DIREITO CIVIL AULA 08

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DIREITO CIVIL - AULA 08 (08/05/12)
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES:
- Diferentemente do direito das coisas, o direito das obrigações disciplina uma relação jurídica pessoal entre o credor e o devedor.
- No direito real, há um vínculo vertical entre o sujeito e o bem.
- No direito das obrigações, há um vínculo horizontal entre o credor (que é o titular do crédito) e o devedor (que é o titular do débito).
- A relação obrigacional é uma relação pessoal, pois necessita de dois tipos de pessoas: o credor e o devedor. E embora tenham interesses contrapostos, um precisa do outro. O credor necessita que alguém pague o crédito e o devedor precisa pagar para alguém.
OBS: O que é Obrigação Propter Rem? R: Também chamada de obrigação Ob Rem, In Rem ou Obrigação Real, trata-se de um tipo especial de obrigação, de natureza híbrida, real e pessoal, que se vincula a uma coisa, acompanhando-a independentemente de seu titular. Ex: A obrigação de pagar taxa condominial (REsp. 846.187/SP).
- Não se deve confundir a Obrigação Propter Rem com a Obrigação com Eficácia Real. A Obrigação com Eficácia Real traduz, simplesmente, uma obrigação com eficácia erga omnes, em virtude do seu registro, nos termos da lei. Ex: art. 8º, da Lei do Inquilinato (L. 8.245/91). Art. 8º: Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.
Terminologia:
- A palavra “obrigação”, basicamente, tem dois sentidos: em um sentido estrito consiste no próprio débito; em um sentido amplo, traduz a própria relação jurídica obrigacional.
- Vale lembrar ainda a diferença entre as expressões schuld e haftung. Schuld é débito e haftung é responsabilidade.
Estrutura da Obrigação
- Como nasce a relação jurídica obrigacional? R: Por meio de um fato jurídico.
- Inicialmente, vale lembrar que a relação obrigacional deriva de um fato jurídico que a doutrina convencionou chamar de “fonte da obrigação”.
- A lei é a fonte primária de todas as obrigações, mas entre a lei e a relação jurídica obrigacional está o fato jurídico.
- A classificação clássica do jurisconsulto Gaio dividia as fontes em: contrato, quase-contrato, delito e quase-delito. Esta é a resposta que deve ser dada se perguntar na prova quais são as fontes da obrigação.
- Ex. de quase-contrato: promessa de recompensa.
- O delito é o Ilícito doloso, e o quase-delito é o ilícito culposo.
- Esta classificação romana de Gaio não é mais adotada hoje. Modernamente, podemos apontar como fontes das obrigações: os atos negociais (contrato, promessa de recompensa, etc), os atos não negociais (vizinhança) e os atos ilícitos (dolosos ou culposos).
- A principal fonte é o contrato.
- A estrutura da obrigação é composta de três elementos:
Elemento ideal/imaterial: é o próprio vínculo abstrato que une o credor ao devedor.
Elemento subjetivo: são os sujeitos, que devem ser determinados, ou ao menos determináveis. Pode haver uma relação obrigacional com sujeitos indeterminados, desde que esta indeterminabilidade seja relativa/temporária. Ex. indeterminabilidade do credor: obrigação decorrente da promessa de recompensa, o título ao portador. Ex. indeterminabilidade do devedor: obrigação propter rem (depende de quem é o titular da coisa). Este tipo de obrigação, em que o sujeito pode variar, é chamada de obrigação ambulatória.
Elemento objetivo: Este é o mais importante. O objeto direto de toda relação obrigacional é a sua prestação. Os bens da vida são objetos indiretos da relação. A prestação é a atividade do devedor satisfativa do crédito. Esta prestação pode ser de dar, de fazer ou de não fazer. A prestação deve ser lícita, possível e determinada ou ao menos determinável. Ex: contrato de compra e venda, o objeto é a prestação de dar dinheiro por parte do comprador e de entregar a coisa por parte do vendedor.
- Em geral, a prestação objeto da obrigação, tem conteúdo econômico, embora situações na doutrina existam em que é possível visualizar uma prestação sem conteúdo econômico. Ex: obrigação imposta pelo testador de ser enterrado de uma determinada forma.
OBS: à luz do princípio da boa-fé objetiva, importantes deveres ou prestações anexas ou colaterais são desprovidas de conteúdo econômico, à despeito da sua grande importância jurídica. Ex: obrigação de sigilo entre empresas; lealdade; assistência.
Classificação Básica das Obrigações:
- Na classificação básica, a obrigação pode ser positiva ou negativa.
- As obrigações positivas são as de dar coisa certa ou incerta e as de fazer. As obrigações negativas são as de não fazer.
Obrigações:
Positivas:
Dar:
Coisa certa;
Coisa incerta
Fazer
Negativas: Não fazer.
Obrigação de Dar:
- Conceito: A obrigação de dar é aquela que tem por objeto prestação de coisas, valendo lembrar que o verbo dar pode ter o sentido de transferir propriedade, transferir posse ou restituir. Ex: compra e venda; locação e estacionamento em shopping, em que se devolve o veículo quando paga o ticket.
- A obrigação de dar se subdivide em obrigação de dar coisa certa (art. 233, CC) ou coisa incerta (art. 243, CC).
- A obrigação de dar coisa certa é aquela em que o bem da vida é especificado, individualizado.
- A obrigação de dar coisa certa abrange o acessório (art. 233, CC). Ex: uma vaca que é vendida e está prenha.
- Se a coisa se deteriorar, sem culpa do devedor, antes da tradição, a obrigação fica resolvida. Se houve culpa do devedor, ele responderá pelo equivalente, mais perdas e danos.
OBS: em geral, na teoria das obrigações, em havendo culpa do devedor, haverá a obrigação de pagar perdas e danos.
- Vale acrescentar ainda que, não apenas aqui, mas especialmente nas obrigações de dar coisa certa, aplica-se a regra de ouro do art. 313 do CC (o credor não é obrigado a receber prestação adversa, ainda que mais valiosa).
- A obrigação de dar coisa incerta, nos termos do art. 243, CC, é aquela indicada apenas pelo gênero e quantidade. Ex: obrigação de entregar 05 sacas de feijão, 100 cabeças de gado.
- Na obrigação de dar coisa incerta, a regra é que a escolha é feita pelo devedor, que não poderá dar a coisa pior, ou entregar a melhor.
- A escolha da coisa, transformando coisa incerta em certa, tem um nome. Ela é chamada de concentração do débito ou concentração da prestação devida.
OBS: A despeito da dicção do art. 246, CC, a moderna doutrina pondera que se o gênero for limitado na natureza, a obrigação poderá ser considerada extinta.
Obrigação de Fazer:
- Regulada pelos arts. 247 a 249, CC e tem por objeto uma prestação de fato.
- Essas obrigações de fazer podem ser personalíssimas (infungíveis) ou não personalíssimas (fungíveis).
- O que interessa é a própria atividade do devedor.
- O art. 247 afirma que quem descumpre obrigação de fazer poderá responder por perdas e danos.
OBS: a execução das obrigações de dar, fazer e não fazer é tema da grade de processo, valendo registrar que o descumprimento culposo da obrigação não resulta apenas em perdas e danos, podendo conduzir a uma tutela jurídica específica (multa cominatória, busca e apreensão).
Obrigação de não fazer:
- Regulada a partir do art. 250, CC.
- É uma obrigação negativa, que tem por objeto uma abstenção do devedor, um comportamento negativo.
- Ex: Não construir acima de determinada altura; obrigação de não-concorrência.
- Emílio Betti, em sua clássica obra Teoria Geral das Obrigações anota haver, modernamente, uma crise de cooperação entre o credor e o devedor. Nesse contexto, é importante que atuem na perspectiva da boa-fé, e na estrita observância de institutos salutares como o Juty to mitigate (dever de mitigar – tornar menos penoso).
- Conceito: o juty ti mitigate, especialmente desenvolvido no direito anglo-saxônico, estudado no Brasil especialmente a partir de artigo publicado pela professora Vera Jacob de Fradera, com reflexo na jurisprudênciado próprio STJ (REsp. 758.518/PR), sustenta que, em decorrência da boa-fé objetiva, mesmo o credor, sempre que possível, tem o dever de atuar para mitigar a extensão do prejuízo.

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