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TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES I INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES O termo OBRIGAÇÃO, em sentido amplo, exprime qualquer tipo de vínculo ou se sujeição da pessoa a algo, seja esse algo de natureza moral, intelectual ou religiosa. O Direito das Obrigações, entretanto, emprega tal termo de maneira mais restrita. O direito das obrigações consiste num complexo de normas que regem relações jurídicas de ordem patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro. Assim, rege as relações jurídicas de ordem patrimonial e de natureza pessoal, tendo seu conteúdo prestações de natureza patrimonial. Sua principal finalidade consiste exatamente em fornecer meios ao credor para exigir do devedor o cumprimento da prestação, abrangendo todas as atividades de natureza patrimonial. Sua importância se baseia na intensificação das atividades econômicas, provocada pela urbanização, pelo progresso tecnológico, pela comunicação permanente e pela globalização no geral. O direito creditório equilibra as relações entre credor e devedor, pois é nele que a atividade econômica do homem encontra sua ordenação. Suas características principais são: ❖ Tem por objeto direitos de natureza pessoal; ❖ Regem vínculos patrimoniais entre pessoas; ❖ Direitos de crédito são relativos; ❖ Envolve direitos a uma prestação positiva ou negativa; ❖ Importância da patrimonialidade; ❖ Configura exercício da autonomia privada No Código Civil, aos artigos compreendidos entre o 233 e o 480 serão objetos da Teoria Geral das Obrigações. NOÇÕES GERAIS DE OBRIGAÇÃO Obrigação é o vinculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação. Observe algumas das principais características: DIREITOS OBRIGACIONAIS/PESSOAIS Direito contra determinada pessoa Vínculo jurídico pelo qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação Há dualidade de sujeitos O objeto é sempre uma prestação do devedor Ilimitados, sensíveis à autonomia da vontade, permitindo a criação de novas figuras contratuais que não têm correspondente na legislação Seu exercício exige intermediário Extingue-se pela inércia DIREITOS REAIS Poder jurídico do titular sobre a coisa Relação entre sujeito ativo e a coisa sobre a qual tem domínio Unidade de sujeito O objeto pode ser coisa corpórea ou incorpórea Não pode ser objeto de livre convenção, limitado e regulado expressamente por norma jurídica Supõe exercício direto, pelo titular, do direito sobre a coisa Conserva-se até que haja uma situação contrária em proveito de outro titular Obrigação é a relação jurídica de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor, cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio (Washington Monteiro de Barros). Obrigação é aa relação transitória de direito, que nos constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa economicamente apreciável, em proveito de alguém que, por ato nosso, ou de alguém conosco juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o direito de exigir de nós essa ação ou omissão (Clóvis Beviláqua). Em sentido técnico, a obrigação exprime a relação jurídica pela qual uma pessoa está adstrita a uma determinada prestação para com outra, que tem direito de exigi-la, obrigando a primeira a satisfazê-la. ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO A obrigação é composta por três elementos essenciais: a) Subjetivo: compreende os sujeitos da relação, classificados em ativos e passivos. Os sujeitos podem ser individuais ou coletivos. Pessoas naturais e jurídicas podem participar de relações obrigacionais, não tendo nenhuma estrição quanto à quais pessoas podem participar do polo ativo das obrigações. Caso sejam incapazes, devem OBRIGAÇÃO Vínculo Jurídico Relação de natureza pessoal Caráter transitório Seu objeto é uma prestação ser acompanhadas por responsáveis. Importante, porém, que os sujeitos sejam determináveis no momento de seu cumprimento. b) Objetivo: diz respeito à prestação. c) Imaterial: corresponde ao vínculo jurídico da obrigação. É o liame existente entre os sujeitos que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento da prestação. Exemplo de relação obrigacional: FONTE DAS OBRIGAÇÕES (FERNANDO NORONHA) ❖ Lei (fonte primária e imediata) ❖ Fontes negociais ❖ Fontes de responsabilidade civil ❖ Enriquecimento injustificado ❖ Boa-fé objetiva Prestação: ação ou omissão que o devedor fica adstrito e que o credor tem o direito de exigir. De acordo com o CC, pode ser de dar, de fazer ou de não fazer. Para ser validadas, devem seguir os seguintes requisitos: ❖ Lícita ❖ Possível ❖ Patrimonial ❖ Moral Vendedor Consumidor Prestação: entregar produto Prestação: pagar produto RESUMO I OBRIGAÇÃO DEFINIÇÃO: É a relação jurídica estabelecida entre devedor e credor. ELEMENTOS SUBJETIVO credor + devedor OBJETIVO prestação MATERIAL vínculo FONTES ❖ Negociais ❖ Fontes de Responsabilidade ❖ Boa-fé objetiva ❖ Enriquecimento injustificado Características Gerais II DAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES INTRODUÇÃO Modalidades = Espécies São várias as modalidades de obrigações. Quanto ao seu objeto, as obrigações podem ser divididas em: ❖ Obrigações de Dar ❖ Coisa Certa ❖ Coisa Incerta ❖ Obrigações de Fazer ❖ Obrigações de Não Fazer Todas as obrigações, sem exceção, compreendem uma dessas modalidades. As obrigações podem ainda ser classificadas quanto aos seus elementos. ❖ Obrigações Simples: não apresentam multiplicidade em nenhum de seus elementos ❖ Obrigações Complexas ou Compostas: apresentam multiplicidade em algum ou alguns de seus elementos Com relação às obrigações complexas, é possível fazer mais uma subdivisão. Com relação à multiplicidade de objetos, elas podem ser classificadas em: ❖ Cumulativas ❖ Alternativas ❖ Facultativas Já com relação à multiplicidade de sujeitos, elas são classificadas em: ❖ Divisíveis ❖ Indivisíveis ❖ Solidárias Importante ressaltar que cada modalidade tem suas peculiaridades, como será visto adiante. DAS OBRIGAÇÕES DE DAR As obrigações positivas de dar assumem as formas de entrega ou restituição de coisa, certa ou não, ao credor. Nesse sentido, há na maioria das vezes uma intenção de transmissão de propriedade de uma coisa, móvel ou imóvel. Os atos de entregar ou de restituir podem ser resumidos com a palavra tradição. Importante ressaltar que, no direito brasileiro, o contrato por si só não basta para a transferência do domínio da coisa, uma vez que ele apenas estabelece direitos e obrigações entre as partes. A transferência do domínio apenas será feita após a tradição da coisa, como observado nos dispositivos assinalados. A obrigação de dar é aquela em virtude da qual o devedor fica jungido a promover, em benefício do credor, a tradição da coisa (Rubens França). É a obrigação de prestação de coisa, que pode ser certa ou incerta, determinada ou não. Essa modalidade de obrigação implica também a obrigação de conservar a coisa até que seja entregue ou restituída ao credor, sendo se responsabilidade do devedor qualquer dano causado. Tradição: é a entrega da coisa ao adquirente, com a intenção de lhe transferir a sua propriedade ou posse. É a entrega da coisa com o objetivo de transferir o direito real sobre ela. Art. 1226, CC: Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos ou transmitidos poratos entre os vivos, só se adquirem com a tradição. Art. 1267, CC: A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. 5 DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA As obrigações de dar coisa certa são tratadas a partir do art. 233 do Código Civil. Nessa modalidade de obrigação, o devedor está obrigado a entregar coisa específica ao credor, sendo vedada a entrega de coisa diversa (art. 313). A entrega de coisa diversa implica na novação da obrigação, modificando a obrigação original, prática esta que só pode ser feita a partir do acordo entre ambas as partes. A recíproca, entretanto, também é verdadeira, já que o credor não pode exigir coisa diversa da obrigação estabelecida, ainda que menos valiosa. Pode, apesar disso, haver concordância do credor em receber uma coisa por outra, como por exemplo, nos casos de dação em pagamento. Como dito anteriormente, o domínio da coisa apenas será transferido através da tradição, se for coisa móvel, e do registro de título, se for coisa imóvel. Ressalta-se que, como disposto no art. 233 do CC, a obrigação de dar também abrange os acessórios da coisa certa, mesmo que estes não estejam expressamente indicados em contrato. Esse dispositivo é uma decorrência do princípio acessorium sequitur suum principale – os acessórios seguem o principal. Observe o disposto acerca dos acessórios da coisa: Coisa Certa: é a coisa individualizada, específica, que se distingue das demais. Art. 313, CC: O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Art. 233, CC: A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. MELHORAMENTOS E ACRESCIDOS Melhoramento é tudo aquilo que contribuir para uma alteração na coisa principal, de sorte a melhorá-la. Já o acrescido é o que se acrescenta ao bem. Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. O disposto nesse artigo confere vantagem ao devedor, que pode facultar em aumentar o preço da coisa caso passe por melhoramentos ou seja acrescida de mais algo, em proporção ao valor do beneficiamento que se acresceu, podendo resolver a obrigação caso o credor não aceite as novas condições. O parágrafo único deste artigo indica que o devedor deve dar a prerrogativa de apropriar- se de eventuais frutos da coisa que venha a perceber até o ato da tradição. Entretanto, os Art. 237, CC: Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Parágrafo Único: Os frutos percebidos são do devedor, cabendo resolver ao credor os pendentes. Art. 92, CC: Principal é o bem que existe sobre si; acessório é aquele cuja existência supõe a do principal. Art. 95, CC: Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e os acessórios podem ser objeto de negócio jurídico. frutos pendentes, não percebidos até o momento da tradição, deverão ser entregues com a coisa. O art. 238, ao qual o dispositivo indicado se refere, trata das obrigações de restituir coisa certa. A obrigação de restituir caracteriza-se pela existência de coisa alheia em poder do devedor a quem cumpre devolvê-la ao dono. A coisa se encontra com o devedor para o seu uso, mas pertence ao credor, titular do direito real. Um exemplo é o caso de alguém de automóvel ou de imóveis. Nesses casos, como o disposto, o credor não será obrigado a indenizar o devedor caso os melhoramentos tenham sido realizados sem que este tenha tido prejuízos. Em contrapartida, o artigo seguinte, 242, indica: Assim, o devedor da obrigação de restituir coisa certa poderá pleitear ressarcimento por melhoramentos e acrescidos ao bem somente na hipótese de haver concorrido para eles com seu trabalho ou dispêndios e custos. Tal regra é lógica da vedação do sistema ao enriquecimento sem causa. PERECIMENTO E DETERIORIZAÇÃO Art. 241, CC: Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credo, desobrigado de indenização. Art. 242, CC: Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. As vezes, a obrigação de dar não é cumprida porque, antes da entrega ou da restituição, a coisa pereceu ou se deteriorou, com ou sem culpa do devedor. Nesses casos, o Código Civil segue princípio res perit domino – a coisa perece para o dono. Nos casos de obrigação de entregar, o Código Civil dispõe o seguinte: Perecimento Sem culpa Art. 234, CC: Se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a orbigação para ambas as partes [...] Obrigação resolvida Devolução do valor pago Prejuízo do devedor Com culpa Art. 234, CC: [...] Se a perda resulta de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. Deterioração Sem culpa Art. 235, CC: Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. A obrigação pode ser resolvida ou o preço pode ser abatido. Com culpa Art. 236, CC: Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em ou ou em outro caso, indenização das perdas e danos. Já nos casos de obrigação de restituir, o Código Civil dispõe o seguinte: Perecimento Sem culpa Art. 238 CC: Se esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Obrigação resolvida Com culpa Art. 239, CC: Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Deterioração Sem culpa Art. 240 CC:Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-à o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização [....] Obrigação resolvida Prejuízo do credor Com culpa Art. 240, CC: [...]Se a coisa restituível se deteriorar por culpa do devedor, observar- se-a o disposto no art. 239. Pagamento de perdas e danos DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA A indicação do gênero e da quantidade é o mínimo necessário para que exista obrigação de dar coisa incerta, como o indicado no art. 243 do CC. Entretanto, sua determinação será feita por circunstâncias ou elementos de fato, como ainda por outras eventuais. A qualidade da coisa será feita por escolha, tornando a coisa certa. Após esse procedimento, denominado concentração, os dispositivos cabíveis à obrigação serão os referentes às obrigações de dar coisa certa. Importante ressaltar que o direito de escolha pertence ao devedor, no silêncio do contrato. Destaca-se, também, que antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito, uma vez que o gênero nunca perece. Coisa Incerta: é a coisa determinável, indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade. Art. 243, CC: A coisa incerta será indicada, pelo gênero e pela quantidade. Art. 244, CC: Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor Art. 2435 CC: Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente.
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