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Universidade Federal de Pelotas Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos Disciplina de Química Inorgânica II Aulas Teóricas Curso de Química (Bacharelado/Licenciatura/Industrial) Prof. Dr. rer. nat. W. Martin Wallau (Dipl.-Chem.) ii Du alt Geräte, das ich nicht gebraucht, Du stehst nur hier, weil dich mein Vater brauchte. Du alte Rolle, du wirst angeraucht, Solang’ an diesem Pult die trübe Lampe schmauchte. Weit besser hätt’ ich doch mein weniges verpraßt, Als mit dem wenigen belastet hier zu schwitzen! Was du ererbt von deinen Vätern hast, Erwirb es, um es zu besitzen. Was man nicht nützt ist eine schwere Last, Nur was der Augenblick erschafft, das kann er nützen.* * Entulho velho, que não tenho usado, Estás aqui porque meu pai te usou. Tu, velho rolo, foste aqui sempre enfuscado, Por essa triste luz que sempre aqui fumou. Por que não esbanjei as sobras paternais, Ao invés de suar com uma posse ou duas! O que hás herdado de teus pais, Adquire, para que o possuas, O que não se usa, um fardo é, nada mais, Pode o momento usar tão só criações suas. (Johann Wolfgang von Goethe, Fausto 1ª parte.) 1 Indíce Lista das Tabelas ............................................................................................... 8 Lista das Figuras .............................................................................................. 11 Lista das Equações .......................................................................................... 22 Lista dos Esquemas ......................................................................................... 24 1. A geometria e estrutura de cristais .................................................... 25 1.1. Estrutura cristalina, rede cristalina e cela unitária .............................. 25 1.2. Sistemas cristalinos ........................................................................... 26 1.3. As redes de Bravais ........................................................................... 27 1.4. Os grupos pontuais (classes de cristal) ............................................. 29 1.5. Os grupos espaciais ........................................................................... 31 1.6. Os índices de Miller ............................................................................ 35 1.7. Difração de raios – X em cristais........................................................ 36 1.7.1. A relação de Bragg ................................................................... 36 1.7.2. O método de pó ........................................................................ 38 1.7.3. Determinação de estrutura no exemplo NaCl e KCl .................. 41 1.7.3.1. As condições de reflexão no sistema cúbico ....................... 41 1.7.3.2. Determinação da rede de Bravais para NaCl e do comprimento de onda da radiação utilizado ....................... 46 1.7.3.3. A estrutura de KCl ............................................................... 49 2. Complexos de metais ........................................................................ 53 2.1. Características e nomenclatura de complexos .................................. 53 2.1.1. Complexos mononucleares ....................................................... 53 2.1.2. Complexos multinucleares (ou oligonuleares)........................... 56 2.1.3. Estruturas de complexos mononucleares ................................. 57 2.1.3.1. Estruturas para número de coordenação 1, 2 e 3 ................ 57 2.1.3.2. Estruturas para número de coordenação 4.......................... 58 2 2.1.3.3. Estruturas para número de coordenação 5.......................... 58 2.1.3.4. Estruturas para número de coordenação 6.......................... 59 2.1.3.5. Estruturas para número de coordenação 7.......................... 60 2.1.3.6. Estruturas para número de coordenação 8.......................... 61 2.1.3.7. Estruturas para números de coordenação maiores (9 – 12) 61 2.1.4. Exemplos de estruturas de complexos de metais de transição 62 2.2. Isomeria de complexos ...................................................................... 63 2.2.1. Tipos de isomerias .................................................................... 63 2.2.2. Isomeria estrutural .................................................................... 63 2.2.2.1. Isômeros de ionização ......................................................... 63 2.2.2.2. Isômeros de hidratação ....................................................... 63 2.2.2.3. Isômeros de ligação ............................................................. 64 2.2.2.4. Isômeros de coordenação ................................................... 64 2.2.3. Estereoisomeria ........................................................................ 64 2.2.3.1. Tipos de estereoisomeria..................................................... 64 2.2.3.2. Isomeria geométrica ............................................................ 64 3.2.3.2.1. Isômeros geométricos para número de coordenação 4 .... 64 3.2.3.2.2. Isômeros geométricos para número de coordenação 5 .... 65 3.2.3.2.3. Isômeros geométricos para número de cordenação 6 ...... 66 3.2.3.2.4. Isômeros geométricos para número de coordenação maior que 6 ................................................................................. 69 2.2.3.3. Isomeria ótica ...................................................................... 69 1.1.1.1.1. Características de isômeros óticos ................................... 69 1.1.1.1.2. Isômeros óticos para número de coordenação 4 .............. 74 1.1.1.1.3. Isômeros óticos para número de coordenação 5 .............. 74 1.1.1.1.4. Isômeros óticos para número de coordenação 6 .............. 74 2.2.4. Resumo de isomeria ................................................................. 76 3 2.3. Estabilidade de complexos ................................................................ 78 2.3.1. Formação e dissociação de complexos .................................... 78 2.3.2. Constantes de estabilidade ....................................................... 78 2.3.3. Estabilidade termodinâmica ...................................................... 78 2.3.4. Estabilidade cinética ................................................................. 79 2.3.5. Determinação da constante de formação bruta ........................ 82 2.3.6. Estabilidade de complexos quelantes ....................................... 83 2.4. Reações de complexos ...................................................................... 85 2.4.1. Mecanismos de substituição de ligantes ................................... 85 2.4.2. Substituição em complexos ML4 ............................................... 85 2.4.3. Isomerização em complexos ML5 ............................................. 86 2.4.4. Substituição em complexos ML6 ............................................... 86 3. A origem das cores ............................................................................ 88 4. Teoria do campo cristalino................................................................. 93 4.1. Desdobramento dos orbitais d em campos de simetria ocatédrica .... 93 4.2. As propriedades óticas de complexos ................................................ 95 4.2.1. Transições eletrônicas d-d ........................................................ 95 4.2.2. Cores de compostos de coordenação comofunção da energia de desdobramento (10 Dq) ....................................................... 96 4.3. Série espectroquímica ....................................................................... 96 4.4. Energia de estabilização do campo cristalino .................................... 97 4.5. Propriedades magnéticos de complexos (complexos de “spin alto” e de “spin baixo”) .................................................................................. 98 4.6. Desdobramento dos orbitais d em outras simetrias ......................... 101 4.6.1. Desdobramento em simetria cúbica e tetraédrica ................... 101 4.6.2. Desdobramento em simetria tetragonal (bipirâmide quadrático) e quadrática ............................................................................... 102 4 4.6.3. Desdobramento em simetria tetragonal (pirâmide quadrático), trigonal (bipirâmide trigonal) e pentagonal (bipirâmide pentagonal) ............................................................................. 103 4.6.4. Desdobramento em simetria linear e antiprismatico quadrado 104 4.7. Efeito Jahn-Teller ............................................................................. 105 5. Teoria do campo ligante .................................................................. 107 5.1. Falhas da teoria do campo cristalina................................................ 107 5.2. Construção de orbitais moleculares de complexos com orbitais de simetria adaptada dos ligantes ........................................................ 108 6. Teoria da ligação de valência .......................................................... 115 6.1. Teoria do orbital molecular vs. Teoria da ligação de valência .......... 115 6.2. Orbitais híbridos e ligações covalentes ............................................ 116 6.3. Teoria da ligação de valência para compostos de coordenação ..... 119 7. Compostos Organometálicos .......................................................... 121 7.1. Nomenclatura dos compostos organometálicos .............................. 121 7.2. Características de compostos organometálicos ............................... 121 7.2.1. Desenvolvimento histórico e características comuns de compostos organometálicos.................................................... 121 7.2.2. Configuração eletrônica de metais em compostos organometálicos ...................................................................... 122 7.3. Ligações em compostos organometálicos ....................................... 126 7.3.1. Carbonilas, fosfinas, hidretos e dihidrogênio como ligantes ... 126 7.3.2. η2-alquilenos e η2-alquilinos como ligantes ............................. 128 7.3.3. η3-alila como ligante ................................................................ 129 7.3.4. η4-butadieno e η4-ciclobutadieno como ligantes ..................... 130 7.3.5. η5-ciclopentadienila como ligante ............................................ 132 7.3.6. Metalocenos (compostos Sandwich) ....................................... 133 7.4. Reações de compostos organometálicos ........................................ 137 7.4.1. Substituição de ligantes .......................................................... 137 5 7.4.2. Adição oxidativa e eliminação redutiva ................................... 138 7.4.3. Metatesis de ligação σ ............................................................ 139 7.4.4. Inserção migratória 1,1 ........................................................... 140 7.4.5. Inserção 1,2 e eliminação de β-hidreto ................................... 140 7.4.6. Eliminação de α-, γ, δ – hidreto ............................................... 142 7.5. Catalise por compostos organometálicos ........................................ 142 7.5.1. Hidrogenização de alquenos terminais ................................... 142 7.5.2. Hidroformilação ....................................................................... 143 7.5.3. Monsanto carbonilação de metanol ........................................ 144 7.5.4. Wacker oxidação de alquenos ................................................ 145 7.5.5. Metatese de alquenos ............................................................. 146 7.5.6. Formação de ligações carbono – carbono catalisada por paládio 147 7.5.7. Oxidação assimétrica .............................................................. 148 8. Química Bioinorgânica .................................................................... 149 8.1. Introdução ........................................................................................ 149 8.2. Metais e semi-metais em sistemas biológicos ................................. 149 8.2.1. Função de metais e semi-metais ............................................ 149 8.2.2. Coordenação de metais em sistemas biológicos .................... 151 8.2.2.1. Metais como centro ativo de enzimas. ............................... 151 8.2.2.2. Ligantes biológicos ............................................................ 152 8.2.2.3. Geometrias de coordenação em sistemas biológicos ........ 155 8.3. Atividade redox ................................................................................ 155 8.3.1. Transporte e armazenagem de oxigênio ................................. 155 8.3.1.1. Hemoglobina e mioglobina ................................................ 155 8.3.1.2. Hemoeritrinas e Hemocianinas .......................................... 159 8.3.2. Fixação de nitrogênio .............................................................. 161 6 8.3.3. Redução de dióxido de carbono (fotossíntese) ....................... 165 8.3.3.1. Composição da atmosfera terrestre ................................... 165 8.3.3.2. O ciclo de dióxido de carbono ............................................ 167 8.3.3.3. A fotossíntese .................................................................... 168 8.3.4. Hidrogenases .......................................................................... 171 8.3.5. Peroxidases ............................................................................ 172 8.3.6. Oxidases ................................................................................. 174 8.3.7. Oxigenases ............................................................................. 177 8.3.7.1. Classificação das oxigenases ............................................ 177 8.3.7.2. Monooxigenases ................................................................ 177 8.3.7.3. Dioxigenases ..................................................................... 180 8.4. Atividade metal-orgânica .................................................................. 180 8.4.1. Propriedades de cobaltoenzimas ............................................ 180 8.4.2. Metabolismo de hidrocarbonetos ............................................ 183 8.4.2.1. Isomerização ..................................................................... 183 8.4.2.2. Alquilação .......................................................................... 184 8.5. Acidez de Lewis ............................................................................... 185 8.5.1. Catalise ácida – básica ........................................................... 185 8.5.2. Estabilização estrutural ........................................................... 186 8.6. Carga ............................................................................................... 188 8.7. Elementos inorgânicos na medicina................................................. 190 8.7.1. Platina e outros metais nobres ................................................ 190 8.7.2. Elementos inorgânicos utilizados emdiagnose e terapia médica 191 8.7.3. Terapia de captura de nêutrons em boro ................................ 193 8.8. Compostos inorgânicos como ligantes em sistemas biológicos (Exemplo NO) .................................................................................. 196 7 8.8.1. Formação e efeito de monóxido de nitrogênio em celas de musculatura lisa ...................................................................... 196 8.8.2. Funções de monóxido de nitrogênio no organismo ................. 197 9. Referências ..................................................................................... 203 8 Lista das Tabelas Tabela 1 Tipos e características de celas unitárias e dos sistemas de cristal .. 27 Tabela 2: Elementos de simetria observados para celas unitárias e seus símbolos segundo Schönfliess e Hermann e Mauguin. .................................... 29 Tabela 3. Os 7 sistemas cristalinas com seus tipos de Bravais e os grupos pontuais cristalográficos (classes de cristal) na notação de Hermann e Mauguin e (Schönfliess). ................................................................................................. 31 Tabela 4. Notação dos elementos de translação. ............................................ 33 Tabela 5. Distância de planos da rede cristalina para os diferentes sistemas de cristal. ............................................................................................................... 37 Tabela 6: Volume de cela unitária para os diferentes sistemas de cristal ........ 38 Tabela 7. Condições limitantes para os 14 primeiros planos de reflexão na rede cúbico primitivo. ................................................................................................ 42 Tabela 8. Condições limitantes para os 14 primeiros planos de reflexão na rede cúbico de corpo centrado. ................................................................................ 44 Tabela 9: Condições limitantes para os 14 primeiros planos de reflexão na rede cúbico de face centrada. .................................................................................. 45 Tabela 10. Picos observados no difractograma de NaCl (Figura 26) e os valores (λ2/d2) calculados com a Equação 1. ................................................................ 47 Tabela 11. Picos observados no difractograma de KCl (Figura 28) e os valores (1/d2) calculados com a Equação 1(λ = 0,154056 nm; CuKα1). ........................ 50 Tabela 12. Nomes e características de ligantes comuns. ................................ 54 Tabela 13. Denominação dos 7 metais da Antigüidade em ânions complexos.56 Tabela 14. Estruturas formadas em complexos com número de coordenação 5. ......................................................................................................................... 59 Tabela 15. Geometria de complexos de metais de transição. .......................... 62 Tabela 16. Exemplos de estéreoisomerias para números de coordenação 4 – 6. ......................................................................................................................... 76 Tabela 17. Estereoisômeros possíveis para complexos octaédricos com ligantes monodentados. ................................................................................... 77 Tabela 18. Constantes de estabilidade de complexos em água à temperatura ambiente........................................................................................................... 81 9 Tabela 19. Cor, freqüência e comprimento de onda da radiação eletromagnética. ............................................................................................... 88 Tabela 20. Relação entre cor da luz adsorvida e a impressão de cor percebida pelo observador. ............................................................................................... 91 Tabela 21. Configuração eletrônica e estabilização do campo cristalino para complexos octaédricos. .................................................................................... 99 Tabela 22. Energia de estabilização do campo cristalino para complexos tetraédricos e quadraticos de “spin alto” e “spin baixo”.* ................................ 104 Tabela 23.Configurações eletrônicas com Efeito “Jahn-Teller” em complexos octaédricos. .................................................................................................... 106 Tabela 24. Distâncias cátion-ligante em complexos octaédricos de halogentos de Cu(II) ([CuX4X2’]4-). .................................................................................... 106 Tabela 25. Orbitais atômicos do metal e orbitais de simetria adaptada utilizada na formação de ligações s em complexos octaédricos. ................................. 108 Tabela 26. Comparação de valores experimentais com os valores determinados pela teoria da ligação de valência e da teoria do orbital molecular para H2. .......................................................................................................... 116 Tabela 27. Geometrias de importantes orbitais híbridos utilizando orbitais d. 120 Tabela 28. Contagem dos elétrons para metalcarbonilas. ............................. 122 Tabela 29. Regra de 16/18 elétrons para metais d em compostos organo- metalicos. ....................................................................................................... 124 Tabela 30. Ligantes típicos e sua contribuição na contagem dos elétrons. ... 124 Tabela 31. Contagem do número total de elétrons de valência para [IrBr2(CH3)CO(PPh3)2] pelo método do par doado. ........................................ 126 Tabela 32. Configuração eletrônica e comprimento da ligação metal – carbono em [M(η5-Cp2] compostos. ............................................................................. 137 Tabela 33. Freqüência media de metais e semi-metais no corpo humano (75 kg).*, ............................................................................................................... 150 Tabela 34. Função, sintoma de falta e fonte alimentar dos metais essenciais. ....................................................................................................................... 150 Tabela 35. Propriedades e ação biológica de metais. .................................... 151 Tabela 36. Classificação de enzimas segundo IUBMB (International Union of Biochemistry and Molecular Biology). ............................................................ 152 10 Tabela 37. Aminoácidos selecionados e suas propriedades singulares. ....... 152 Tabela 38. Ligantes tetrapirrol macrociclicos. ................................................ 154 Tabela 39. Raios iônicos de cátions de metais com seus ligantes tetrapirrol correspondendo. ............................................................................................ 155 Tabela 40. Geometrias de coordenação de diversos Metais. ........................ 155 Tabela 41. Composição da atmosfera terrestre. ............................................ 166 Tabela 42. Comparação da freqüência de metais de transição no meio ambiente e em seres vivos (Homem). ............................................................ 181 Tabela 43. Nuclídeos radiativos aplicados em diagnose e terapia medica. ... 191 Tabela 44. Freqüência e propriedades na captura de nêutrons térmicos de diversos nuclídeos presentes na pele humana. ............................................. 193 11 Lista das Figuras Figura 1: Rede cristalina (pontos preenchidos) e estrutura cristalina (pontos abertos) para ZAPO-M1. .................................................................................. 25 Figura 2: Cela unitária. .....................................................................................26 Figura 3: Rede espacial com possíveis celas unitárias. ................................... 26 Figura 4. As celas unitárias dos sete sistemas cristalinas: (a) cúbico; (b) tetragonal; (c) ortorrômbico; (d) monoclino; (e) triclino; (f) hexagonal; (g) trigonal. ............................................................................................................ 27 Figura 5. Cela trigonal primitivo substituído por: (a) cela cúbica de corpo centrado; (b) cela cúbica de face centrada....................................................... 27 Figura 6. Substituição de cela trigonal primitiva por cela hexagonal não primitiva (eixos da cela trigonal = aR, bR, cR; eixos da cela hexagonal: aH, bH, cH). ....... 28 Figura 7: As 14 redes de Bravais. .................................................................... 28 Figura 8: Ocupação completa do espaço por “celas unitárias” de simetria (a) C2, (b) C3, (c) C4, (d) C6,e incompleta por “celas unitárias” de simetria (e) C5, (f) C7, (g) C8. ............................................................................................................... 29 Figura 9: Estrutura de (a) sal de rocha e (b) pirita com os respectivos elementos de simetria. ....................................................................................................... 30 Figura 10. Eixo de parafuso 31 na estrutura de telúrio. .................................... 32 Figura 11. Representação dos eixos de parafusos np observados. ................. 32 Figura 12: Plano de reflexão - translação com translação em R/2. .................. 33 Figura 13. Os 230 grupos espaciais classificados pelos sistemas e classes cristalinas. ........................................................................................................ 34 Figura 14. Planos na rede cristalina e sua notação segundo Miller. ................ 35 Figura 15: Indexação no sistema hexagonal usando índices de Miller-Bravais. ......................................................................................................................... 36 Figura 16: Difração de luz na fenda. ................................................................ 36 Figura 17: Difração de radiação monocromático em planos paralelos. ............ 37 Figura 18. (a) Câmara de Debye-Scherrer; (b) filme de Debye-Scherrer mostrando as reflexões em forma de círculos. ................................................. 39 Figura 19. (a) Difractometro com geometria Bragg-Brentano, (b) principio da mediação. ......................................................................................................... 39 12 Figura 20. Exemplos de cristais dos diversos sistemas cristalinos: (a) cúbico; (b) tetragonal; (c) ortorrômbico; (d) hexagonal; (e) trigonal; (f) monoclino; (g) triclino. .............................................................................................................. 40 Figura 21. Cristais de NaCl e KCl. .................................................................... 41 Figura 22: Planos de reflexão nas redes (a) cúbico primitivo, (b) cúbico de corpo centrado e (c) cúbico de face centrada. ................................................ 42 Figura 23. (a) Difractograma simualdo de α-Polônio (CuKα1, λ = 0,154056 nm), (b) 1/d2 vs. (h2 + k2 + l2) para rede cúbica primitiva (mostrados na Tabela 7). . 43 Figura 24. (a) Difractograma simulado de α-Ferro (MoKα1, λ = 0,0709 nm), (b) 1/d2 vs. (h2 + k2 + l2) para rede cúbica de corpo centrado (mostrados na Tabela 8). ..................................................................................................................... 45 Figura 25. (a) Difractograma de ouro (CuKα1, λ = 0,154056 nm), (b) 1/d2 vs. (h2 + k2 + l2) para rede cúbica de face centrada (mostrados na Tabela 9). ............ 46 Figura 26. Difractograma simulada de NaCl (Cu Kα1, λ = 0,154056 nm). ......... 47 Figura 27. Indexação dos picos do difractograma de NaCl (Figura 26) nas redes: (a) cúbica primitiva; (b) cúbica de corpo centrado; (c) cúbica de face centrada. .......................................................................................................... 48 Figura 28. Difractograma simulada de KCl (Cu Kα1, λ = 0,154056 nm). ........... 49 Figura 29. Indexação dos picos observados para KCl na rede cúbica primitivo. ......................................................................................................................... 50 Figura 30. Indexação dos picos observados pra KCl na rede cúbica de corpo centrado. .......................................................................................................... 51 Figura 31. Indexação dos picos observados para KCl na rede cúbica de face centrada (■) reflexões com hkl todos par (observados no difractograma mostrada na Figura 28); (○) reflexões esperados para hkl todos impares (não observados no difractograma mostrada na Figura 28). .................................... 51 Figura 32. Difractograma de KCl com todos os picos indexados na rede cúbica de face centrada. .............................................................................................. 52 Figura 33. Estrutura de diclorargentato(I) como exemplo de complexo linear (N.C. = 2). ......................................................................................................... 57 Figura 34. Estruturas para complexos ML3: (a) trigonal planar; (b) trigonal piramidal. .......................................................................................................... 58 Figura 35. Estruturas para complexos ML4: (a) tetraedro; (b) quadrado; (c) quadrático piramidal. ........................................................................................ 58 13 Figura 36. Estruturas de complexos ML5: (a) bipirâmide trigonal (b) pirâmide quadrático......................................................................................................... 58 Figura 37. Octaedro regular para complexos ML6. ........................................... 60 Figura 38. Octaedros distorcidos: (a) elongação axial; (b) diminuição axial; (c) diminuição axial e elongação equatorial. .......................................................... 60 Figura 39. Prisma trigonal. ............................................................................... 60 Figura 40. Estruturas para complexos ML7: (a) bipirâmide pentagonal; (b) octaedro “com boné”; (c) prisma trigonal “com boné”.31 ................................... 61 Figura 41. Estruturas para complexos ML8: (a) cubo; (b) antiprisma quadrático; (c) dodecaedro. ................................................................................................ 61 Figura 42. Estruturas para números de coordenação 9 – 12: (a) antiprisma quadrático “com boné” (ML9); (b) prisma trigonal “com três bonés” (ML9); (c) antiprisma quadrático “com dois bonés” (ML10); (d) octadecaedro (ML11); (e) icosaedro (ML12). .............................................................................................. 62 Figura 43. Isômeros geométricos de diaminadicloroplatina(II) (a) cis- [PtCl2(NH3)2]; (b) trans-[PtCl2(NH3)2]. ............................................................... 64 Figura 44. Isomeria cis/trans- para complexos [ML13L22] com simetria trigonal: (a) α-cis-[ML13L22]; (b) β-cis-[ML13L22]; (c) trans-[ML13L22]. ............................... 65 Figura 45. Isomeria fac-/mer- para complexos [ML13L22]: (a) fac-[ML13L22]; (b) mer-[ML13L22]. ................................................................................................... 66 Figura 46. Isomeria cis/trans para complexos [ML13L22] com simetria tetragonal: (a) α-cis-isômero; (b) β-cis-isômero; (c) trans-isômero. ................................... 66 Figura 47. Isomeria cis-/trans- para complexos [ML14L22]: (a)cis-[CoCl2(NH3)4]; (b) trans-[CoCl2(NH3)4]. .................................................................................... 67 Figura 48. Isômeros geométricos de complexos [ML12L22L32]: (a) cis/cis/trans-; (b) cis/trans/cis-; (c) trans/cis/cis-; (d) trans/trans/trans- e (e) cis/cis/cis-. ........ 68 Figura 49. Isomeria (a) facial- e (b) meridional- para complexos octaédricos com composição [ML13L23]. .............................................................................. 68 Figura 50. Exemplos de isomeria facial/meridional para complexos octaédricos com composição [ML13L23]: (a) fac-[CoCl3(NH3)3]; (b) mer-[CoCl3(NH3)3]. ....... 69 Figura 51. Giração do plano de luz polarizada por uma substância opticamente ativa. ................................................................................................................. 70 Figura 52. Configuração absoluta em complexos [M(biL)3]. ............................. 71 Figura 53. Mãos humanas como exemplo para estruturas quirais. .................. 72 14 Figura 54. Eixo S4 numa molécula de metano como exemplo para um eixo de rotação-reflexão. .............................................................................................. 72 Figura 55. (a) eixo S1 (equivalente à reflexão no plano σ); (b) eixo S2 (equivalente à inversão no centro i). ................................................................ 73 Figura 56. Configuração de H2O2. .................................................................... 73 Figura 57. Isomeria ótica para complexos tetraédricos: (a) composição [ML1L2L3L4]; (b) compsoção [M(biL*)2]. ............................................................. 74 Figura 58. Isomeria ótica para complexos cis/cis/cis-[ML12L22L32]. ................... 75 Figura 59. Isomeria ótica para complexos cis-[ML2(biL)2] ................................ 75 Figura 60. Estrutura de um complexo trans-[ML2(biL)2]. ................................... 75 Figura 61. Isomeria ótica para complexos [M(biL)3]. ........................................ 75 Figura 62. Isomeria ótica para complexos [M(hexL)]. ....................................... 76 Figura 63. Esquema para identificação de isômeros de complexos. ................ 77 Figura 64. Tempo de meia-vida de aquacomplexos. ........................................ 80 Figura 65. Titulação de HF puro e na presença de Al3+ ([Al3+]/[F-] = 1 : 6). ...... 83 Figura 66. Substituição em complexos ML4 quadráticos planar. ...................... 85 Figura 67. Efeito trans. ..................................................................................... 86 Figura 68. Pseudo-rotação de Berry em complexos ML5. ................................ 86 Figura 69. Substituição associativa em complexos octaédricos. ...................... 87 Figura 70. Substituição dissociativa em complexos octaédricos. ..................... 87 Figura 71. Discos cromáticos de (a) Goethe; (b) Itten. ..................................... 88 Figura 72. Espectro de luz visível (arco íris)..................................................... 89 Figura 73. Ciclo de cores do espectro de luz visível. ....................................... 89 Figura 74. Discos cromáticos: (a) reflexão total (branco); (b) adsorção total (preto); (c) reflexão/adsorção com intensidade média (cinza). ........................ 90 Figura 75. “São Lucas” de Hendrick ter Brugghen com metade do manto com a impressão de cor (cinza) depois da transformação da coordenação de cobalto pela decomposição do pigmento e a outra metade com a impressão de cor original reconstruído considerando a coordenação de cobalto no pigmento original. ............................................................................................................. 91 15 Figura 76. Descrição de complexos de metais de transição na teoria do campo cristalino. .......................................................................................................... 93 Figura 77. Desdobramento dos orbitais d num campo cristalino com simetria octaédrica. ........................................................................................................ 94 Figura 78. Espectro no UV/vis de [Ti(H2O)6]3+. ................................................. 95 Figura 79. Entalpia de hidratação de cátions de metal (2+); círculos abertos valores experimentais círculos fechados EECC subtraída. .............................. 97 Figura 80. Ocupação dos orbitais d num campo cristalino com simetria octaédrica para as configurações eletrônicas (a) d1, (b) d2 e (c) d3. ................. 98 Figura 81. Ocupações possíveis (“spin baixo” e “spin alto”) dos orbitais d num campo cristalino com simetria octaédrica para a configuração eletrônica d4. .. 99 Figura 82. Determinação da suscetibilidade magnética com a balança de Gouy. ....................................................................................................................... 100 Figura 83. Desdobramento num campo tetraédrico e cúbico (desdobramento cúbico = 2 × desdobramento tetraédrico). ...................................................... 101 Figura 84. Desdobramento dos orbitais d em complexos octaédricos, tetragonais e quadráticos. .............................................................................. 102 Figura 85. Desdobramento num campo bi-piramidal (trigonal e pentagonal) e quadrático piramidal. ...................................................................................... 103 Figura 86. Desdobramento num campo linear. .............................................. 104 Figura 87. Desdobramento num campo antiprismatico quadrado. ................. 105 Figura 88. Efeito “Jahn-Teller” para complexos com configuração eletrônica d1 e d2. ................................................................................................................ 105 Figura 89. Interação entre ligantes reais (com extensão finita e orbital atômicos do tipo eg (por exemplo: dx2-y2; lobos A e A´) e orbitais atômicos do tipo t2g (por exemplo: dxy; lobos B e B´). (Para maior clareza somente metade dos lobos dos orbitais dx2-y2e dxy é mostrada). ..................................................................... 107 Figura 90. Formação de OM σ ligantes pela combinação linear dos orbitais (n+1)s, (n+1)p e n eg de metais e orbitais de simetria adaptada dos ligantes. 109 Figura 91. Representação dos orbitais atômicos do metal e dos orbitais moleculares de simetria adaptada. ................................................................. 110 Figura 92. Desdobramento energético dos OM das ligações σ em complexos octaédricos. ................................................................................................... 111 16 Figura 93. Desdobramento energético dos OM das ligações s para complexos de spin alto (esquerda) e de spin baixo (direita) em complexos octaédricos. 112 Figura 94. (a) Combinação de orbitais p (exemplo Cl-) e orbitais t2g formando ligação pi (doador); (b) Combinação de orbital pi* (exemplo CN-) e orbitais t2g formando ligação pi (receptor). ....................................................................... 112 Figura 95. (a) desdobramento dos OM na formação de ligação pi doador; (b) desdobramento dos OM na formação de ligação pi receptor. ......................... 113 Figura 96. Ilustração esquemática dos MO ligantes da molécula de metano (CH4). ............................................................................................................. 115 Figura 97. Ilustração esquemática dos MO ligantes localizados da molécula de metano (CH4)65. .............................................................................................. 115 Figura 98. Formação de um orbital híbrido sp3. ............................................. 117Figura 99. Estrutura da molécula de H2O na teoria da ligação de valência. .. 117 Figura 100. (a) Formação de um orbital híbrido sp2; (b) formação de um orbital híbrido sp; (c) ligação dupla formado por um orbital sp2 e um orbital pz (eteno); (d) ligação tripla formado por um orbital sp e dois orbitais py e pz(etino). ....... 118 Figura 101. Formação de duas ligações τ (ligação dupla) por dois orbitais sp3 (ligação de banana). ....................................................................................... 119 Figura 102. Exemplos de configuração eletrônica, estrutura e hibridação em complexos explicados pela teoria de ligação de valência. ............................. 120 Figura 103. (a) η1-ciclopentadienil; (b) η3-ciclopentadienil; (c) η5- ciclopentadienil. .............................................................................................. 121 Figura 104. Níveis de energia dos orbitais moleculares num composto com coordenação octaédrica em caso de ligação pi receptor. ............................... 124 Figura 105. Ligações de carbonilas: (a) níveis de energia dos OM de CO; (b) formação de ligação σ; (c) forma cão de ligação pi receptor. .......................... 127 Figura 106. Orbitais t2g na simetria Oh: (a) orbitais d do metal; (b) orbitais de ligantes de simetria adaptada.. ....................................................................... 127 Figura 107. Formação de ligação pi receptor em fosfinas. ............................. 128 Figura 108. Ligação de dihidrogenio: (a) formação de ligação σ; (b) formação de ligação pi receptor. ..................................................................................... 128 Figura 109. Ligação de η2-alquenos e η2-alquinos: (a) formação de ligação σ; (b) formação de ligação pi receptor. ................................................................ 129 17 Figura 110. Orbitais d do metal com os OM do tipo pi de alila (CH2CHCH2-). . 130 Figura 111. Orbitais d do metal com os OM do tipo pi de: (a) butadieno; (b) ciclobutadieno. ............................................................................................... 131 Figura 112. Orbitais d do metal com os OM do tipo pi de η5-ciclopentadieno. 133 Figura 113. Exemplos de compostos Sandwich: (A) Ferroceno; (b) bis(1,3,5-tri- tert-butilbenzol) gadolínio; (c) bis(ciclooctatetreno) metaloceno (metal = Th, Pa, U, Np, Pu)....................................................................................................... 134 Figura 114. Compostos Sandwich: (a) John Montagu, 4th Earl of Sandwich (3 de Novembro de 1718 – 30 de Abril de 1792); (c) um sanduíche. ...................... 134 Figura 115. Ernst Otto Fischer (esquerda) e Geoffrey Wilkinson ganhadores do Premio Nobel em Químca de 1973 para o desenvolvimento dos compostos Sandwich. ....................................................................................................... 135 Figura 116. (a) Acetiloação de ciclopentadienila no ferroceno; (b) Líticação do ciclopentadienila no ferroceno. ....................................................................... 135 Figura 117. Ligação de diciclopentienila complexos (compostos Sandwich): (a) Diagrama de energia dos OM; (b) interação dos orbitais pi de ciclopentadienila com os orbitais d do metal.............................................................................. 136 Figura 118. Mudança do número de elétrons de valência por mudança esterica da coordenação: (a) nitrosila em coordenação linear (NO+ isoeletrônico com CO); (b) nitrosila em coordenação inclinada (NO-, isoeletrônico com O2); (c) η5- ciclopentadienila; (d) η3-ciclopentadienila. ..................................................... 137 Figura 119. (a) η5-indenila tricarbonlila rênio (I); (b) η3- indenila tricarbonlila rênio (I); (c) η5-ciclopentadienila tricarbonila rênio (I). .................................... 138 Figura 120. Ciclo catalítico da hidrogenização de alquenos terminais com catalisadores do tipo Wilkinson. ..................................................................... 143 Figura 121. Ciclo catalítico da hidroformilação de alquenos por um catalisador carbonila cobalto. ........................................................................................... 144 Figura 122. Ciclo catalítico da carbonilação de metanol (processo Monsanto). ....................................................................................................................... 145 Figura 123. Ciclo catalítico da oxidação de alquenos para aldeídos (processo Wacker). ......................................................................................................... 145 Figura 124. Metatesis de olefinas: (a) Metatese de propeno; (b) polimerização por metatese anel abrindo; (c) metatese de anel fechando. .......................... 146 Figura 125. Ciclo catalítico da reação Heck. .................................................. 147 Figura 126. Epoxidação enantioseletiva segundo Sharpless. ........................ 148 18 Figura 127. Sitio ativo da Ni/Fe/Se hidrolase de D.bacatulatum. ................... 153 Figura 128. Estrutura da unidade de: (a) RNA, (b) DNA); (*ver Erro! Fonte de referência não encontrada., página Erro! Indicador não definido.). ................ 153 Figura 129. Complexos de tetrapirroís: (a) Fe-porfirina; (b) Mg- clorina; (c) Co- corrina. ........................................................................................................... 154 Figura 130. Complexos de histidina-porfirina ferro (a) e oxo-histidina-porfirina ferro (b)........................................................................................................... 156 Figura 131. Estrutura: (a) da subunidade de hemoglobina; (b) da mioglobina (os grupos prostéticos são indicados por setas). ................................................. 156 Figura 132. Estrutura do tetrâmero de hemoglobina (as setas indicam a localização dos grupos prostéticos). .............................................................. 157 Figura 133. Adsorção de oxigênio por hemoglobina e mioglobina. ................ 158 Figura 134. Concorrência entre ligação hem-O2 e hem-CO. .......................... 158 Figura 135. (a) Desoxi- hemoeritrina e (b) oxi-hemoeritrina. .......................... 159 Figura 136. Exemplos de seres vivos utilizando hemocianinas para transporte de oxigênio. .................................................................................................... 160 Figura 137. Centro ativo de hemocianina: (a) forma desoxigenada; (b) forma µ- η2-η2 peroxo; (c) forma µ-η1-η1 peroxo. .......................................................... 160 Figura 138. Comparação de sangue oxigenada de coelho (vermelho) e aranha (azul) . ............................................................................................................ 160 Figura 139. Qual estrutura possua o cupro-hemoglobina dos vulcanianos? .. 161 Figura 140. Ciclo de nitrogênio no meio ambiente. ........................................ 162 Figura 141. O ciclo biológico de nitrogênio. ................................................... 163 Figura 142. Dependência do rendimento de amônia da pressão e da temperatura. ................................................................................................... 164 Figura 143. Estrutura da nitrogenase mostrando o complexo da Fe – proteina (parte verde esquerda) e da MoFe – proteína. ............................................... 165 Figura 144. Estrura de: (a) FeS-cluster [4Fe-4S]; (b) nitrogenase P-cluster [8Fe- 7S]105; (c) nitrogenase FeMoco [Mo7Fe8S.X]. ............................................... 165 Figura 145. Vista panorâmica (360°) das dolomitas visto do Kronplatz (48° 44´ 17´´ N, 11° 57´ 36´´ E). ...................................................................................166 Figura 146. Ciclo de dióxido de carbono no meio ambiente. .......................... 167 19 Figura 147. Teor de CO2 na atmosfera (até 1958 reconstruído pelos cernes de furação de gelo antártico). .............................................................................. 168 Figura 148. As diferentes fases da fotossíntese. ............................................ 169 Figura 149. Princípios da fotossíntese. .......................................................... 169 Figura 150. (a) Estrutura das clorofilas; (b) empilhamento de clorofilas. ........ 170 Figura 151. Centro de evolução de oxigênio. ................................................. 170 Figura 152. Estrutura de hidrogenase. ........................................................... 171 Figura 153. [NiFe] hidrogenase: (a) centro ativo; (b) hidrido complexo intermediário. .................................................................................................. 172 Figura 154. Centro ativo da [FeFe] hidrogenase. ........................................... 172 Figura 155. Centro ativo da citocromo c peroxidase. ..................................... 173 Figura 156. Ciclo catalítico de hem-peroxidades. ........................................... 173 Figura 157. Estrutura de citocroma c oxidase. ............................................... 174 Figura 158. (a) Centro CuA (responsável para transferência de elétrons) e(b)centro ativo da citocroma c oxidase. ........................................................ 175 Figura 159. Ciclo catalítico de citocroma c oxidase. ....................................... 175 Figura 160. (a)Centro Cu azul (responsável pela remoção de elétrons) (b) centro ativo da Cu oxidase azul. .................................................................... 176 Figura 161. Centro ativo da amina oxidase. ................................................... 176 Figura 162. Complexo cisteina porfirina ferro. ................................................ 178 Figura 163. Ciclo catalítico da citocroma P450. ............................................. 178 Figura 164. Centro ativo da monooxigenase de metano. ............................... 179 Figura 165. Ciclo catalítico da monooxigenase de metano. ........................... 179 Figura 166. Estrutura da co-enzima B12. ........................................................ 181 Figura 167. Esquema geral da redução e oxidação em cobalaminas. ........... 182 Figura 168. Tipos de dissociação da ligação Co-C nas cobalaminas; (a) substituição (heterolitica); (b) dissociação homolítcia; (c) dissociação heterolítica. ..................................................................................................... 182 Figura 169. Ciclo catalítico de uma Co – mutase. .......................................... 183 20 Figura 170. Exemplos de reações catalisadas por Co-mutases: (a) glutamato mutase; (b) glicerol dehidratase; (c) etanolamina liase. ................................. 184 Figura 171. Mecanismo da metionina sintase. ............................................... 184 Figura 172. Mecanismos de zinco enzimas: (a) mecanismo hidroxi-zinco; (b) mecanismo carbonila-zinco. ........................................................................... 185 Figura 173. Centro ativo da anidrase carbônica. ............................................ 185 Figura 174. Ciclo catalítico da anidrase carbônica. ........................................ 186 Figura 175. Mecanismo da álcool dehidrogenase (ADH). .............................. 186 Figura 176. Coordenação de zinco(II) por quatro ligantes das duas cadeias de aminoácidos de um proteína dedo de zinco. .................................................. 187 Figura 177. Interação de dois “dedos de zinco” com domínios específicos da DNA. .............................................................................................................. 188 Figura 178. Mecanismo molecular da contração muscular. ........................... 189 Figura 179. Complexação de diaminaplatina(II) por duas bases guaninas da DNA: (a) complexo quadrático planar; (b) deformação da DNA-hélice. ......... 190 Figura 180. Complexos de platina e rutênio aplicados na terapia de câncer: (a) trinuclear Pt(II) complexo; (b) carboplatina; (c) Pt(IV) complexo; (d) fac- triclorotriamina rutênio (III); (e) Ru(III) complexo. ........................................... 190 Figura 181. Exemplos de complexos de tecnécio e ouro aplicados para fins terapêuticos e diagnósticos: (a) miocrisin; (b) auranofin; (c) solganol; (d) cardiolite; (e) Tc-MAG-3; (f) Tc(VII) difosfonato; (g) ceretec........................... 192 Figura 182. Principio da terapia de captura de nêutrons em boro. ................. 193 Figura 183. Exemplos de compostos de boro estudados para terapia de captura de nêutrons em boro: (a) 5-dihidroxiboril-2-tiouracila; (b) p- dihidroxiborilfenilalanina; (c) carboborano substituído com poliol; (d) carboboranos substituídos ao hematoporfirina; (e) S-glicosidas de docecabortao. ................................................................................................. 194 Figura 184. Número de publicações sobre terapia de captura de nêutrons em boro. ............................................................................................................... 195 Figura 185. Mecanismos de formação de NO na cela. .................................. 196 Figura 186. Mecanismo de ativação da ciclase de guanilato: (a) enzima desativada (ferro coordenado ao centro ativo); (b) enzima ativada (ferro coordenado ao NO). ....................................................................................... 197 21 Figura 187. Regulagem da relaxação e contração da musculatura lisa em mamíferos. ..................................................................................................... 198 Figura 188. Relaxação da musculatura lisa do corpus cavenosum de mamíferos induzido por monóxido de nitrogênio. ............................................................. 199 Figura 189. Representações do Priapo (deus grego-romano da fertilidade) como exemplos para: (a) priapismo; (b) impotência. ...................................... 200 Figura 190. Principio Chave – Fechadura. ..................................................... 200 Figura 191. (a) ciclo-guanosina-fosfato (cGMP); (b) sildenafil. ...................... 201 Figura 192. Complexo difosfoesterase com sildenafil. ................................... 201 22 Lista das Equações Equação 1: Relação de Bragg .......................................................................... 37 Equação 2. (a) Constante de estabilidade e (b) constante de dissociação de [Ni(CN)4]2-. ........................................................................................................ 78 Equação 3. Relação entre constante de estabilidade e constante de dissociação. ...................................................................................................... 78 Equação 4. Constante de formação bruta. ....................................................... 79 Equação 5. (a) relação entre constante de formação de complexo e entalpia livre; (b) equação Gibbs-Helmholtz para a entalpia livre. ................................. 84 Equação 6. Formação de um complexo edta. .................................................. 84 Equação 7. Combinação linear de orbitais atômicos na construção de híbridos sp3. ................................................................................................................. 117 Equação 8. Formação de tricarbonila η4-ciclobutadieno ferro (II). ................. 132 Equação9. Desprotonação de ciclopentadieno à ciclopentadienila. .............. 132 Equação 10. (a) preparação de ciclopentadienila; (b) preparação de ferroceno a partis de ciclopentadieno. ............................................................................... 134 Equação 11. Adições oxidativas. .................................................................... 139 Equação 12. Eliminações redutivas. .............................................................. 139 Equação 13. Metatesis de ligação σ em [Zr(Cp)2HMe]. ................................. 140 Equação 14. Inserção migratória 1,1. ............................................................. 140 Equação 15. Inserção 1,2: Esquema geral; (b) Formação de polietileno. ...... 141 Equação 16. Eliminação de β-hidreto. ............................................................ 141 Equação 17. Mecanismo de: (a) inserção 1,2; (b) eliminação de β-hidreto. ... 141 Equação 18. Isomerização de alquenos por inserção 1,2 seguida de eliminação de β-hidreto. ................................................................................................... 142 Equação 19. (a) Eliminação de α-, (b) γ- e (c) δ – hidreto. ............................. 142 Equação 20. Hidroformilação de alquenos. .................................................... 143 Equação 21. Carbonilação de metano. .......................................................... 144 Equação 22. Oxidação de etileno pelo processo Wacker. ............................. 145 23 Equação 23. Formação de ligações C-C utilizando arilhaletos e Pd catalisadores : (a) reação Heck; (b) reação Suzuki e Stille. ........................... 147 Equação 24. Fixação de nitrogênio atmosférico como amônio por bactérias. 161 Equação 25. Fixação de nitrogênio como amônia (processo Haber-Bosch de 1913). ............................................................................................................. 163 Equação 26. Formação da atmosfera de nitrogênio. ...................................... 166 Equação 27. Assimilação de dióxido de carbono. .......................................... 167 Equação 28. Redução de peróxido de hidrogênio. ......................................... 172 Equação 29. Redução de oxigênio pela citocroma c oxidades. ..................... 174 Equação 30. Reação catalisada por monooxigenases. .................................. 177 Equação 31. Oxidação de cânfora pela P450cam oxidase de Pseudomonas putida. ............................................................................................................ 177 Equação 32. Reação catalisada por dioxigenases. ........................................ 180 24 Lista dos Esquemas Esquema 1. Composto de coordenação exemplificado por Criolita ou hexafluoroaluminato(III) de sódio. .................................................................... 53 Esquema 2. Estrutura de octaclorodirhenato(III) ([Re2Cl8]3-). ........................... 56 Esquema 3. Estrutura de µ-oxo-bis(pentaaminacromo(III) (µ-O(Cr(NH3)5)2]4+). 57 Esquema 4 Isômeros de ionização (a) sulfato de pentaaminabromocobalto(III) (b) brometo de pentaaminasulfatocobalto(III). .................................................. 63 Esquema 5. Isômeros de hidratação (a) cloreto de hexaaquacromo(III) (violeta); (b) cloreto de pentaaquaclorocromo(III) monoidratado(azul-esverdeado); (c) cloreto de tetraaquadiclorocromo(I) diitratado (verde). ..................................... 63 Esquema 6. Isômeros de coordenação (a) hexacianoferrato(III) de hexaaminacromo(III); (b) hexacianocromato(III) de hexaaminaferro(II). .......... 64 Esquema 7. Ordem de ligantes na regra CIP. .................................................. 70 Esquema 8. Formação de um complexo quelante (a) em comparação com a formação de um complexo com ligantes monodentados semelhantes. ........... 84 Esquema 9. Substituição núcleofila em complexos. ......................................... 85 Esquema 10. Série espectroquímica dos ligantes. ........................................... 96 Esquema 11. Série espectroquímica para metais de transição........................ 97 Esquema 12. Ligantes representativos e seu efeito pi. ................................... 114 Esquema 13. Combinação linear de orbitais atômicos á orbitais moleculares. ....................................................................................................................... 115 Esquema 14. Distribuição dos elétrons numa molécula de H2 segundo a teoria da ligação de valência. ................................................................................... 116 Esquema 15. neo-mentilciclopentadienila. ..................................................... 133 Esquema 16. Catalisadores Grubbs: (a) 1ª geração; (b) 2ª geração.............. 147 Esquema 17. Oxidação de NH3 (processo Ostwald de 1902) ........................ 163 Esquema 18. Formação de oxigênio no sitio ativo do fotossistema II. ........... 171 Esquema 19. Mecanismo de Fe(III) protocatechuato 3, 4 - dioxigenase (intradiol oxigenase). ..................................................................................................... 180 Esquema 20. Mecanismo de Fe(II) catechol 2, 3 – dioxigenase (extradiol oxigenase). ..................................................................................................... 180 25 1. A geometria e estrutura de cristais 1.1. Estrutura cristalina, rede cristalina e cela unitária É importante diferenciar entre estrutura e rede cristalina. A primeira é o arranjo espacial real das partículas no cristal incluindo a localização espacial exata de cada átomo na molécula e representa as relações de construção real no cristal. Por outro lado a rede cristalina é um arranjo tridimensional de pontos os quais não representam as partículas realmente existentes no cristal, embora em alguns casos os pontos da rede cristalina e os centros de gravidade dos átomos (íons) da estrutura cristalina podem, por mera coincidência, ocupar as mesmas posições. Embora a rede cristalina é uma abstração sem relação direta com a estrutura ela é útil para descrição das relações de simetria dentro do cristal. A rede cristalina pode ser entendida como uma representação abstrata que possui os mesmos elementos de simetria como a estrutura cristalina real. A Figura 1 ilustra a diferença entre rede cristalina e estrutura cristalina no exemplo do zincoaluminofosfato ZAPO-M1 (ZON). Esta peneira molecular possui uma cela unitária ortorrômbica primitiva caracterizada pelos eixos a = 14,2 b = 15,1 e c = 17,6 Å e os ângulos α = β = γ = 90º. Nesta Figura os círculos preenchidos marcam a posição dos pontos fictícios da rede cristalina e os pontos abertos representam a posição dos cátions (Zn, Al ou P) e as linhas entre os cátions os ânions de oxigênio da estrutura cristalina. Figura 1: Rede cristalina (pontos preenchidos) e estrutura cristalina (pontos abertos) para ZAPO-M1.1 A escolha dos pontos da rede cristalina possui certo grau de arbítrio, por exemplo, em metais ou substancias moleculares um ponto da rede cristalina corresponde ao centro de gravidade do átomo ou da molécula. Importante na construção da rede cristalina é que em todos os casos cada ponto da rede espacial deve ser idêntico com todos os outros pontos o que permite a construção da rede espacial por translação infinito de uma seção da rede. Esta seção da rede, caracterizada por três pares de planos paralelos é chamado cela unitária ou elementar. Como é mostra Figura 2 a cela unitária é 26 determinada pelos comprimentos de seus cantos a, b, c e os ângulos entre os cantos α, β, e γ. Figura 2: Cela unitária. Figura 3: Rede espacial com possíveis celas unitárias. 1.2. Sistemascristalinos Como mostra a Figura 3 a mesma rede cristalina pode ser construída pela translação infinita de diferentes celas unitárias. Embora a escolha da cela unitária, seja de certa maneira arbitrária, surpreendentemente somente 7 tipos de celas unitárias são suficientes para descrever qualquer arranjo regular de pontos no espaço. Estes 7 tipos de celas unitárias mostradas na correspondem aos 7 sistemas cristalinos, cujas características são enumeradas na Tabela 1. (a) (b) (c) (d) (e) (f) 27 (g) Figura 4. As celas unitárias dos sete sistemas cristalinas: (a) cúbico; (b) tetragonal; (c) ortorrômbico; (d) monoclino; (e) triclino; (f) hexagonal; (g) trigonal. Tabela 1 Tipos e características de celas unitárias e dos sistemas de cristal Tipo de cela unitária Comprimento de cantos ângulos Cúbico a = b = c α = β =γ = 90° Tetragonal a = b ≠ c α = β =γ = 90° Ortorrômbico a ≠ b ≠ c α = β =γ = 90° Monoclino a ≠ b ≠ c α = γ = 90° β ≠ 90° Triclino a ≠ b ≠ c α ≠ β ≠ γ Hexagonal a = b ≠ c α = β =90° γ = 120° Trigonal a = b = c α = β =γ ≠ 90° 1.3. As redes de Bravais As 7 celas unitárias primitivas (contendo somente um ponto da rede) mostradas na Figura 4 permitem principalmente a descrição de qualquer rede cristalina possível. Porém para representação das propriedades simétricas da rede cristalina em questão muitas vezes são usados celas unitárias não primitivas que contem mais de um ponto de rede. Exemplos são as duas celas trigonais mostradas na Figura 5 que podem ser substituídas pelas celas não primitivas cúbica de corpo centrado (Figura 5a) e cúbica de face centrada (Figura 5b). (a) (b) Figura 5. Cela trigonal primitivo substituído por: (a) cela cúbica de corpo centrado; (b) cela cúbica de face centrada.2 28 De maneira semelhante uma cela trigonal primitiva pode ser descritas como cela hexagonal não primitiva como mostra a Figura 6. Figura 6. Substituição de cela trigonal primitiva por cela hexagonal não primitiva (eixos da cela trigonal = aR, bR, cR; eixos da cela hexagonal: aH, bH, cH).3 Em 1848 Bravais mostrou que, incluindo tais celas não primitivas, existem exatamente 14 celas unitárias diferentes cuja translação permite a descrição de qualquer rede espacial. A Figura 7 mostra estes 14 redes de Bravais. Figura 7: As 14 redes de Bravais.4 Esta Figura mostra que no sistema triclino, trigonal (rhombohedral) ou hexagonal somente a cela unitária primitiva indicada pela letra P, é possível. Quando o sistema trigonal primitiva é descrito como cela hexagonal não primitiva (ver Figura 6) esta cela é indicada pela letra R (= rhombohedral). No sistema cúbico além da cela primitiva (P), a cela de corpo centrado (I = innenzentriert), contendo dois pontos da rede e a cela de face centrada (F = flächenzentriert), contendo 4 pontos de rede, são possíveis. O sistema tetragonal permite além da cela primitiva (P) a cela de corpo centrada (I). O sistema ortorrômbico permite a cela primitiva (P), a cela de corpo centrado (I), a cela de base centrada (C ou A ou B dependo do eixo perpendicular a face com o ponto centrado) contendo dois pontos da rede, e a cela de face centrada (F),. 29 O sistema monoclínico permite a cela primitiva (P) e a cela de base centrada (C ou A ou B). 1.4. Os grupos pontuais (classes de cristal) Os elementos de simetria possíveis nas redes de Bravais são listados na Tabela 2 junto com seus respectivos símbolos segundo o sistema de Schönfliess usualmente usado para descrição da simetria de moléculas (ver capitulo 7) e de Hermann e Mauguin, utilizado na cristalografia e segundo. A comparação da Tabela 2 e da Tabela 30 (página 112) revela que nas redes de Bravais somente eixos de rotação e reflexão – rotação duplo, triplo, quádruplo e sêxtuplo são observados e que os eixos C5, C∞, S5, S8 e S10 faltam. Tabela 2: Elementos de simetria observados para celas unitárias e seus símbolos segundo Schönfliess e Hermann e Mauguin. Elemento de simetria Símbolo de Schönfliess Símbolo de Hermann e Mauguin Identidade E ou I 1 Plano de reflexão σ m Eixo de rotação duplo C2 2 Eixo de rotação triplo C3 3 Eixo de rotação e inversão (reflexão) triplo S3 3 Eixo de rotação quadruplo C4 4 Eixo de rotação e inversão (reflexão) quadruplo S4 4 Eixo de rotação sêxtuplo C6 6 Eixo de rotação e inversão (reflexão) sêxtuplo S6 6 Centro de inversão i 1 A causa de ausência de eixos de rotação quíntuplo, septuplo, oituplo e de outros múltiplos é ilustrada na Figura 8 que mostra que o espaço (plano) somente pode ser totalmente ocupado por figuras geométricas com eixos de rotação duplo, triplo, quadruplo e sêxtuplo (C2, C3, C4, C6), mas não com eixos de rotação quíntuplo, septuplo ou oituplo (C5, C7, C8) etc. Figura 8: Ocupação completa do espaço por “celas unitárias” de simetria (a) C2, (b) C3, (c) C4, (d) C6,e incompleta por “celas unitárias” de simetria (e) C5, (f) C7, (g) C8. Porém nem todas as estruturas cristalinas possuem todos os elementos de simetria de suas respectivas celas unitárias (classe de cristal), como é 30 mostrado na Figura 9 para as redes cristalinas de NaCl (sal de rocha) e FeS2 (pirita). (a) (b) (c) Figura 9: Estrutura de (a) sal de rocha e (b) pirita com os respectivos elementos de simetria. Ambas as estruturas podem ser descritos por uma rede cristalina construída de celas cúbicas de face centrada. No caso de NaCl os pontos de rede são ocupados por íons esféricos e a estrutura cristalinas possui todos os elementos de simetria da cela cúbica de face centrada. ou seja 3 C4, 4 C3, 6 C2 , 9 σ (3 perpendicular à C4 e 6 perpendicular à C2) e um centro de inversão i, parcialmente indicado na Figura 9a. Como pode ser visto na Figura 9b na estrutura de pirita os íons S22- que são posicionados nos pontos de rede não são esféricos e portanto a estrutura de pirita possui menos elementos de simetria que a cela cúbica de face centrada. Na Figura 9b a menor simetria da 31 cela unitária de pirita é indicado pelos traços nas faces do cubo, que também podem ser observado em forma de riscas na superfície de cristais de pirita reais. Como mostra esta Figura a estrutura de pirita não possui os 6 eixos C2 com os planos de reflexão perpendiculares e a multiplicidade dos eixos C4 é reduzido a C2 e os eixos de rotação C3 são transformados em eixos de rotação- reflexão S3. Como já foi mencionado para a simetria das moléculas (capitulo 7.2) o conjunto de elementos de simetria de uma cela unitária é denominado de grupo pontual. Como as celas unitárias possuam menos elementos de simmetria que moléculas o número de grupos pontuais é neste caso restrita aos 32 grupos pontuais cristalográficos (classes de cristal) enumerados para os respectivos sistemas cristalinas na Tabela 3. Tabela 3. Os 7 sistemas cristalinas com seus tipos de Bravais e os grupos pontuais cristalográficos (classes de cristal) na notação de Hermann e Mauguin e (Schönfliess). Sistema Tipo de Bravais Eixos e ângulos Grupos pontuais não – centrosimétrico centrosimétrico enantiomorfo não- enantiomorfo enantiomorfo cúbico P, I, F a = b = c; α = β = γ = 90° 23 (T), 432 (O) m34 (Td) 3m (Th), mm3 (Oh) tetragonal P, I a = b ≠ c; α = β = γ = 90° P4 (C4), 422 (D4) 4 (S4), Pmm4 (C4v), m24 (D2d) m/4 (C4h), mmm/4 (D4h) ortorombico P, I, C, F a ≠ b ≠ c; α = β = γ = 90° 222 (D2) Pmm2 (C2v) mmm (D2h) trigonal P, R a = b = c; α = β = γ ≠ 90° P3 (C3) 32 (D3) P m3 (C3v) 3 (C3i) m3 (D3d) hexagonal P a = b ≠ c;α = β = 90°, γ = 120° P6 (C6) 622 (D6) 6 (C3h) P mm6 (C6v) m26 (D3h) m/6 (C6h) mmm/6 (D6h) monoclinico P, C a ≠ b ≠ c, α = γ = 90° ≠ β ≥ 90° P2 (C2) Pm (Cs) m/2 (C2h) triclinico P a ≠ b ≠ c, α ≠ β ≠ γ ≠ 90° P1 (C1) 1 (Ci) 1.5. Os grupos espaciais Cristais reais são descritos pela rede cristalina que contém um número infinito de celas unitárias. Nesta rede infinita são possíveis operações de simetria que variam todos os pontos, ou seja, pelas estas operações a cela unitária é translado para outra cela unitária. Estas operações de simetria espaciais são os eixos de parafuso que combinam a rotação em um eixo com a translação na direção desse eixo e os planos de reflexão com translação. Como exemplo a Figura 10 mostra o eixo de parafuso 31 na estrutura de telúrio. Os eixos de parafuso são denominados como np onde n indica rotação em 360°/n e o subscrito p a translação em p/n ao longo do vetor de rede (eixo da cela unitária), como é exemplificada para todos os eixos de parafusos possíveis em cristais na Figura 11. 32 Figura 10. Eixo de parafuso 31 na estrutura de telúrio.5 Figura 11. Representação dos eixos de parafusos np observados.6 Além dos eixos de parafuso há como elemento de translação os planos de reflexão – translação como é exemplificado na Figura 12. Os planos de reflexão – translação são indicados como a, b ou c, dependendo do eixo da cela unitária paralelo ao plano de reflexão. Nestes casos a translação corresponde a a/2, b/2 e c/2, respectivamente. Como plano n indica-se um plano paralelo a diagonal de uma face com as componentes de translação igual a (a + b)/2, (a + c)/2, (b + c)/2 ou (a + b + c)/2 e planos d indicam a translação em um quarto na diagonal de uma face ou da diagonal de espaço. O ultimo tipo de plano de reflexão – translação também é conhecido como plano de diamante, para qual estrutura este plano é característico. A notação dos planos de eixos de parafuso e planos de reflexão – translação são resumidos na Tabela 4. 33 Figura 12: Plano de reflexão - translação com translação em R/2.7 Combinando estes elementos espaciais resumidos na Tabela 4 com os elementos dos 32 grupos pontuais (Tabela 3) obtemos um número total de 230 grupos espaciais, enumerados na Figura 13 que são capazes de descrever todas as simetrias possíveis no espaço tridimensional. Os símbolos dos grupos espaciais no sistema Hermann – Mauguin mostrados nesta Figura consistem numa letra indicando o tipo de Bravais (P, I, F, A, B, C, R) seguidos dos símbolos dos elementos de simetria pontual (ver Tabela 2) ou espacial (ver Tabela 4). Tabela 4. Notação dos elementos de translação. Elemento de simetria Notação Descrição Eixos de parafuso 21 ver Figura 11 31 32 41 42 43 61 62 63 64 65 Planos de reflexão - translação a paralelo ao eixo a b paralelo ao eixo b c paralelo ao eixo c n paralelo a diagonal de face d paralelo a diagonal de face ou espacial 34 Figura 13. Os 230 grupos espaciais classificados pelos sistemas e classes cristalinas.8 35 1.6. Os índices de Miller Como mostra Figura 14 a rede cristalina possui inúmeros planos que contém os pontos da rede. Estes planos podem ser indicados pela sua secção com os eixos de coordenado em unidade dos valores a, b, c da respectiva cela unitária. Na Figura 14a, por exemplo, os planos cortam os eixos em 1 a, 1 b e ∞ c. Para indicar os diferentes planos num cristal o mineralógo inglês W.H. Miller (1801-1880) sugeriu o uso de um tripleto (hkl) de números inteiros obtidos através dos valores recíprocos das seções dos planos com os eixos de coordenado eliminando as frações por multiplicação com o fator mínimo. Para os planos na Figura 14a os valores recíprocos são 1, 1, 0, como estes números já são inteiros os planos são caracterizados pelos índices de Miller 110. Os planos na Figura 14b cortam os eixos de coordenado em 1 a, 2 b e ∞ c. Assim os valores recíprocos são 1, ½, 0 e para obter números inteiros devemos multiplicar com 2 o que resulta nos índices de Miller 210. Na Figura 14c as seções dos planos encontram-se em 1 a, ∞ b e ∞ c e os valores recíprocos são 1, 0 e 0 correspondendo aos índices de Miller 100. Se os planos cortam um eixo de coordenado com um valor negativo o respectivo índice é indicado por sobrelinhamento: por exemplon um plano cortando os eixos em -2 a, 1 b, 1 c resultando nos valores recíprocos -½, 1, 1 possua os índices de Miller -122 indicado na forma 221 . Os índices de Miller na forma hkl representam um conjunto de planos enquanto os índices em parênteses (hkl) representam um plano (superfície) do cristal. Índices de Miller na foram {hkl} representam todos os planos de cristal equivalente, por exemplo, {111} no sistema cúbico os planos equivalentes do octaedro. Oos índices de Miller em colchetes na forma [hkl] representam direções no cristal em forma de vetores normais dos respectivos planos. (a) Coordenados: 1 a,1 b, ∞∞∞∞ c Índices de Miller: 110 (b) Coordenados: 1 a, 2 b, ∞∞∞∞ c Índices de Miller: 210 (c) Coordenados: 1 a,∞∞∞∞ b, ∞∞∞∞ c Índices de Miller: 100 Figura 14. Planos na rede cristalina e sua notação segundo Miller. 36 Para identificação de planos no sistema hexagonal são utilizado muitas vezes os índices Miller-Bravais na forma (hkil) onde h + k = -i. A relação desses índices com os eixos a e c da cela unitária hexagonal é ilustrada na Figura 15. A vantagem dessa notação é que as faces da cela hexagonal no sistema Miller- Bravais podem ser anotados como planos equivalentes na forma 0}1{10 , enquanto no sistema de Miller eles possuam índices não equivalentes como (100) ou 0)1(1 . Figura 15: Indexação no sistema hexagonal usando índices de Miller-Bravais. 1.7. Difração de raios – X em cristais 1.7.1. A relação de Bragg A Figura 16 ilustra a difração de luz numa rede de fendas cujas aberturas são na ordem de comprimento de onda da luz difratada. Esta difração pode ser descrito considerando cada fenda como fonte de luz da qual as ondas de luz se espalham em círculos concêntricos. Como é mostrada na Figura 16 observamos uma interferência positiva dos raios difratados se cos α = nλ com n ∈ ℕ. Figura 16: Difração de luz na fenda.9 37 Nos cristais as distâncias entre os átomos (íons) são na ordem de comprimento de onda de raios-X. Portanto eles poderiam servir como redes de difração tridimensionais para esta radiação. Utilizando radiação de raios-X monocromático a difração nesta rede tridimensional pode ser entendida na seguinte maneira. A difração de raios-X observada é resultado da reflexão dos raios nos centros de difração regularmente distribuído no cristal. Como é ilustrada na Figura 17 dois raios refletida em planos com a distância d formados por centros de difração percorrem diferentes caminhos. Na Figura 17 o raio em baixo percorre um percurso maior que o raio acima. Como pode ser visto a diferença δ entre os dois caminhos pode ser expresso como δ = AB + BC. A Figura 17 mostra imediatamente que AB = AC = d·sen θ. A reflexão dos raios só pode ser observados se há interferência positiva entre os dois raios ou seja se a diferença δ é igual a um múltiplo inteiro de λ, o comprimento de onda da radiação usada. Assim a condição para observação de difração num cristal pode ser descrito pela relação de Bragg dado na Equação 1. Figura 17: Difração de radiação monocromático em planos paralelos. Equação 1: Relação de Bragg ( ) θ=+=δ=λ⋅ send2BCABn As distancias de planos de reflexão em cristais podem ser descritos como função dos parâmetros da cela unitária e os índices de Miller hkl, como é mostradana Tabela 5 Tabela 5. Distância de planos da rede cristalina para os diferentes sistemas de cristal. Sistema de cristal 1/d2 Cúbico 2 222 a lkh ++ Tetragonal 2 2 2 22 c l a kh + + 38 Tabela 5. Distância de planos da rede cristalina para os diferentes sistemas de cristal. Sistema de cristal 1/d2 Ortorrômbico 2 2 2 2 2 2 c l b k a h ++ Hexagonal 2 2 2 22 c l a khkh 3 4 + ++ Trigonal (romboédrico) ( ) ( )( )( )α+α− α−α+++α++ 322 22222 cos2cos31a coscoshlklhk2senlkh Monoclínico β −+ β + β ac coshl2 c l b senk a h sen 1 2 2 2 22 2 2 2 Triclínico ( )hlS2klS2hkS2lSkShS V 1 132312 2 33 2 22 2 112 +++++ V= vide Tabela 6; S11 = b2c2sen2α; S22 = a2c2 sen2β; S33 = a2b2sen2γ; S12 = abc2(cosα cosβ - cosγ); S23 = a2bc(cosβ cosγ - cosα); S13 = ab2c(cosγ cosα - cosβ) Tabela 6: Volume de cela unitária para os diferentes sistemas de cristal Sistema de cristal Volume de cela unitária Cúbico 3a Tetragonal ca2 Ortorrômbico abc Hexagonal ca866,0ca 2 3 22 ⋅= Trigonal (romboédrico) α+α− 323 cos2cos31a Monoclínico βsenabc Triclínico γβα+γ−β−α− coscoscos2coscoscos1abc 222 1.7.2. O método de pó O método mais simples para obtenção de dados de difração de raios-X é o método de pó desenvolvido por Debye e Scherrer. Neste método uma capilar é preenchida com um pó da substância a ser analisada e montado no eixo central da câmara de Debye-Scherrer (Figura 18a). O raio é direcionado à amostra e devido à orientação aleatória de inúmeros cristais existe sempre uma porção de planos cristalinos com a orientação certa para causar difração do raio-X. Como neste caso o ângulo do raio incidente é igual ao raio refletido (θ) o ângulo entre o raio refletido é o raio primário é igual 2 θ. Para detecção dos raios refletidos é colocado um filme fotográfico na parede da câmara de Debye-Scherrer. 39 (a) (b) Figura 18. (a) Câmara de Debye-Scherrer;10 (b) filme de Debye-Scherrer mostrando as reflexões em forma de círculos.11 Figura 19. (a) Difractometro com geometria Bragg-Brentano, (b) principio da mediação.12 Hoje em dia mais comum que a câmara de Debye-Scherrer para a difração de raios-X em amostras policristalinas (pó) e a utilização de difratometros com geometria Bragg-Brentano mostrado na Figura 19a. Como mostra o esquema na Figura 19b nesse método o raio-X é direcionado à amostra e a intensidade da radiação refletida é detectada como função do ângulo entre o detector e o raio primário. Como resultados obtêm-se difractogramas como as mostradas na Figura 26 e na Figura 28 para NaCl e KCl, respectivamente. 40 (a) CuCl (Nantokita)13 (b) Cu2S (Chalkosin)14 (c) NaMgF3 (Neighborita)15 (d) H2O (gelo)16 (e) ZnO (Zinkita)17 (f) Ag2S (Akanthita)18 (g) Cu(UO2)(OH)4 (Vandenbrandenita)19 Figura 20. Exemplos de cristais dos diversos sistemas cristalinos: (a) cúbico; (b) tetragonal; (c) ortorrômbico; (d) hexagonal; (e) trigonal; (f) monoclino; (g) triclino. 41 Para atribuir os reflexos observados no método de pó necessita-se o sistema cristalino da substância que muita vezes pode ser deduzido do hábito e dos ângulos típicos entre as faces do cristal. A Figura 20 mostra exemplos de minerais para os diversos sistemas cristalinos que permitem a identificação de seu hábito. Como o conhecimento do sistema cristalino ajuda na atribuição dos diversos picos de reflexão no difractograma é discutido no exemplo de NaCl e KCl no próximo parágrafo. 1.7.3. Determinação de estrutura no exemplo NaCl e KCl 1.7.3.1. As condições de reflexão no sistema cúbico Os primeiros cristais estudados por Bragg foram os cloretos de sódio e de potássio. Além do fato, que a estrutura não era conhecida na época também o comprimento de onda dos raios-X era desconhecido, embora se suponhava, que a distância dos planos cristalinos e o comprimento de onda dos raios-X fossem da mesma ordem. Por outro lado o hábito dos cristais de NaCl e KCl (Figura 21) indica uma estrutura cúbica. Como nós vimos no parágrafo 1.3, página 27 existe para o sistema cúbica três redes de Bravais diferentes, cúbico primitivo, cúbico de corpo centrado e cúbico de faca centrada, cujas estruturas com alguns de seus planos cristalográficos são representados na Figura 22. Figura 21. Cristais de NaCl20 e KCl.21 Para a rede cúbica primitiva a Figura 22a mostra que os planos d100, d110 e d111 incluem todos os pontos de rede. Este fato também pode ser provado para os demais planos cristalinos. Portanto para uma rede cúbica primitiva todos os possíveis planos cristalográficos podem refletir os raios-X e assim a função 1/d2 vs. (h2 + k2 + l2) (ver Tabela 5) é linear para todos os valores possíveis. Para os primeiros 14 picos observáveis estes valores são mostrados na Tabela 7. 42 Figura 22: Planos de reflexão nas redes (a) cúbico primitivo, (b) cúbico de corpo centrado e (c) cúbico de face centrada. 22 Tabela 7. Condições limitantes para os 14 primeiros planos de reflexão na rede cúbico primitivo. h k l h2 + k2 + l2 h k l h2 + k2 + l2 1 0 0 1 3 0 0 9 1 1 0 2 2 2 1 9 1 1 1 3 3 1 0 10 2 0 0 4 3 1 1 11 2 1 0 5 2 2 2 12 2 1 1 6 3 2 0 13 2 2 0 8 3 2 1 14 Como exemplo a Figura 23a mostra o difractograma para α-polônio com a indexação dos picos para rede cúbica primitiva e a Figura 23b a linearidade de 1/d2 vs. os respectivos valores de (h2 + k2 + l2) dados na Tabela 7. Esta indexação dos picos observados no difractograma de polônio confirma sua estrutura cúbica primitiva, como foi dito no capitulo Erro! Fonte de referência não encontrada. (ver Erro! Fonte de referência não encontrada., página Erro! Indicador não definido.). 43 20 40 60 80 100 120 311 321 320 222 310 300/221 220 211 210 200 111 110 100 αααα-Po In et n si da de (u. a) 2θθθθ° (a) 0 20 40 60 80 100 120 140 0 2 4 6 8 10 12 14 16 (h 2 + k 2 + l 2) 1/ d 2 (n m - 2 ) (b) Figura 23. (a) Difractograma simualdo de αααα-Polônio23 (CuKαααα1, λ λ λ λ = 0,154056 nm), (b) 1/d2 vs. (h2 + k2 + l2) para rede cúbica primitiva (mostrados na Tabela 7). A Figura 22b mostra que também os planos d110 da rede cúbica de corpo centrado incluem todos os pontos de rede. Por outro lado no caso dos planos d100 existe exatamente no meio uma camada de pontos adicionais. Se a radiação refletida nos planos d100 é em fase e, portanto amplificado a radiação refletida nos planos intercalados mostra uma diferença de fase de λ/2. Assim a intensidade da reflexão observada é igual à diferença da intensidade da radiação refletida nos dois grupos de planos diferentes. Caso todos os átomos da rede são iguais (exemplo estrutura de ferro) a intensidade da radiação refletida nestes planos é zero. A reflexão de segunda ordem (Equação 1 com n = 2) da reflexão nos planos d100 pode ser também expressada como reflexão de primeira ordem nos planos d200. Como mostra a Figura 22b estes planos incluem todos os pontos da rede e, portanto observa-se uma reflexão intensa nos planos d200. Como 44 revela Figura 22b a situação é semelhante para os planos d111 cujas reflexões possuam uma intensidade baixa ou zero e os planos d222 que incluem todos os pontos de rede e resultam, portanto numa reflexão intensa. A análise completa da rede cúbica de corpo centrado revela que as reflexões são intensas para os valores pares de (h2 + k2 + l2). Para os primeiros 14 picos observáveisestes valores são enumerados na Tabela 8 e para a rede cúbica de corpo centrado a função 1/d2 vs. estes valores é linear. Tabela 8. Condições limitantes para os 14 primeiros planos de reflexão na rede cúbico de corpo centrado. h k l h2 + k2 + l2 h k l h2 + k2 + l2 1 1 0 2 4 0 0 16 2 0 0 4 3 3 0 18 2 1 1 6 4 1 1 18 2 2 0 8 4 2 0 20 3 1 0 10 3 3 2 22 2 2 2 12 4 2 2 24 3 2 1 14 4 3 1 26 20 40 60 80 431422332420 411/330 400 321 222 310220 211 200 110 αααα-Fe In te n si da de (u. a. ) 2θθθθ° (a) 0 50 100 150 200 250 300 350 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 (h 2 + k 2 + l 2) 1/ d 2 (nm - 2 ) (b) 45 Figura 24. (a) Difractograma simulado de αααα-Ferro24 (MoKαααα1, λλλλ = 0,0709 nm), (b) 1/d2 vs. (h2 + k2 + l2) para rede cúbica de corpo centrado (mostrados na Tabela 8). Como exemplo a Figura 24a mostra o difractograma para α-ferro com a indexação dos picos para rede cúbica de corpo centrado e a Figura 24b a linearidade de 1/d2 vs. os respectivos valores de (h2 + k2 + l2) dados na Tabela 8. Esta indexação dos picos observados no difractograma de α-ferro confirma sua estrutura cúbica de corpo centrado, como foi dito no capitulo Erro! Fonte de referência não encontrada. (ver Erro! Fonte de referência não encontrada., página Erro! Indicador não definido.).. Para a rede cúbica de face centrada a Figura 22c revela que a intensidade das reflexões nos planos d100 e d110 é fraca ou igual zero enquanto reflexão nos planos d111 que incluem todos os pontos de rede é intensa. Por outro lado os planos d200 e d220 (reflexões de segunda ordem nos planos d100 e d110, respectivamente) também incluem todos os pontos de rede resultando em picos intensos. Uma analise completa da rede cúbica de face centrada revela que somente os picos onde hkl assume somente valores pares (exemplo 200) ou somente valores impares (exemplo 111) são observados. Para os primeiros 14 picos observáveis estes valores são enumerados na Tabela 9 e para a rede cúbica de face centrada a função 1/d2 vs. estes valores é linear. Como exemplo a Figura 25a mostra o difractograma para ouro com a indexação dos picos para rede cúbica de face centrada e a Figura 25b a linearidade de 1/d2 vs. os respectivos valores de (h2 + k2 + l2) dados na Tabela 9. Esta indexação dos picos observados no difractograma de ouro confirma sua estrutura cúbica de face centrada, como foi dito no capitulo Erro! Fonte de referência não encontrada. (ver Erro! Fonte de referência não encontrada., página Erro! Indicador não definido.). Tabela 9: Condições limitantes para os 14 primeiros planos de reflexão na rede cúbico de face centrada. h k l h2 + k2 + l2 h k l h2 + k2 + l2 1 1 1 3 4 2 0 20 2 0 0 4 4 2 2 24 2 2 0 8 5 1 1 27 3 1 1 11 3 3 3 27 2 2 2 12 4 4 0 32 4 0 0 16 5 3 1 35 3 3 1 19 4 4 2 36 46 40 60 80 100 120 140 160 511 422 420331 400 222 311 220 200 111 Au In et n si da de (u. a. ) 2θθθθ° (a) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 5 10 15 20 25 30 (h 2 + k 2 + l 2) 1/ d 2 (n m - 2 ) (b) Figura 25. (a) Difractograma de ouro25 (CuKαααα1, λ λ λ λ = 0,154056 nm), (b) 1/d2 vs. (h2 + k2 + l2) para rede cúbica de face centrada (mostrados na Tabela 9). As condições limitantes para as reflexões observáveis para todos os 230 grupos espaciais podem ser encontrados nos International Tables for X-Ray Crystallography.26 1.7.3.2. Determinação da rede de Bravais para NaCl e do comprimento de onda da radiação utilizado Embora na época Bragg realizasse seus estudos com monocristais nós podemos seguir suas considerações utilizando difractogramas obtidos com o método de pó. Para NaCl o difractograma obtido com radiação de CuKa1 e mostrado na Figura 26 e os valores 2q° dos picos observados são enumerados na Tabela 10 juntos com os respectivos valores λ2/d2 calculados com a relação 47 de Bragg (Equação 1). Como nós vimos acima as reflexões de ordem maior (n ≠ 1) podem ser expressas como reflexões em planos hkl = n×hn×kn×l (exemplo reflexão de 2ª ordem em 100 = reflexão de 1ª ordem em 200) e assim n em Equação 1 pode ser considerados como constante. Tabela 10. Picos observados no difractograma de NaCl (Figura 26) e os valores (λλλλ2/d2) calculados com a Equação 1. 2θθθθ (λλλλ2)/d2 2θθθθ (λλλλ2)/d2 27,50 0,226 75,70 1,506 31,85 0,301 84,45 1,807 45,65 0,602 90,90 2,031 54,10 0,827 101,75 2,407 56,75 0,903 108,50 2,635 66,55 1,204 110,80 2,710 73,45 1,430 Como vimos no parágrafo 1.7.3.1 existem para as diversas redes cúbicas diversas condições limitantes para os picos observáveis, e, portanto ordenando os valores λ2/d2 observados versus os valores de (h2 + k2 + λ2) possíveis, os quais são dados na Tabela 7, na Tabela 8 e na Tabela 9, respectivamente, deveria permitir a determinação da rede cristalina para NaCl. Como mostram os gráficos da Figura 27 somente para a indexação dos picos na rede cúbica de face centrada obtêm-se uma relação linear, indicando que o cloreto de sódio possua uma estrutura cúbica de face centrada. 20 40 60 80 100 120 In te n si da de (u. a. ) NaCl 2 θθθθ° Figura 26. Difractograma simulada de NaCl (Cu Kα1α1α1α1, λλλλ = 0,154056 nm).27 48 0,000 0,500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 0 2 4 6 8 10 12 14 16 (h 2 + k 2 + l 2) ( λλ λλ2 /d 2 ) indexação: cúbico primitivo (a) 0,000 0,500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 0 5 10 15 20 25 30 (h 2 + k 2 + l 2) ( λλ λλ2 /d 2 ) indexação: cúbico de corpo centrado (b) y = 0,0752641x R2 = 0,9999996 0,000 0,500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 0 10 20 30 40 (h 2 + k 2 + l 2) ( λλ λλ2 /d 2 ) indexação: cúbico de face centrada (c) Figura 27. Indexação dos picos do difractograma de NaCl (Figura 26) nas redes: (a) cúbica primitiva; (b) cúbica de corpo centrado; (c) cúbica de face centrada. Como se sabe a cela unitária de face centrada contém 4 pontos de rede (ver Figura 81a, página 79). Com a densidade (r = 2,163 g/cm3), o peso 49 molecular de NaCl (58,45 g/mol) e o número de Avogadro (NA = 6,022045·1023) podemos calcular o volume ocupado por uma unidade de NaCl como VNaCl = 58,45/(2,163×NA) = 4,487·10-23 cm3. Como a cela unitária de face centrada de NaCl deve conter 4 unidades seu volume precisa ser 4 vezes VNaCl ou seja igual a 1,795·10-22 cm3 e o parâmetro a da cela cúbica igual a (1,795·10-22)⅓ = 5,641·10-8 cm. Com a distância dos planos cristalográficos como função do parâmetro da cela unitária dada na Tabela 5 para o sistema cúbico podemos ver que para o segundo e mais intenso pico do difractograma de NaCl indexado como 200 a distância entre os planos é igual ½a, ou seja, d200 = 2,820·10-8 cm. Como este pico corresponde a reflexão de 2ª ordem nos planos 100, cuja distancia é igual a podemos agora calcular λ da radiação CuKα1 com a relação de Bragg (Equação 1) utilizando n = 2, d = a = 5,641·10-8 cm e θ = 15,93° (ver Tabela 10) como: nmcmsensenaCuK 154,01054,193,1510641,5)( 881 =⋅=⋅⋅=⋅= −−θλ α 1.7.3.3. A estrutura de KCl Com o comprimento de onda da radiação de raios-X determinada podemos agora calcular diretamente as distâncias dos planos cristalinos (Tabela 11) para KCl a partir dos valores 2θ° observados no difractograma (Figura 28) com a relação de Bragg (Equação 1). Como mostra a Figura 29 a função 1/d2 é linear para os valores hkl dos picos observáveis numa rede cúbica primitiva. 20 40 60 80 100 120 In te n si da de (u. a. ) KCl 2 θθθθ° Figura 28. Difractograma simulada de KCl(Cu Kα1α1α1α1, λλλλ = 0,154056 nm).28 Neste caso o valor do parâmetro da cela unitária a pode ser calculado diretamente da inclinação da reta, indicado na Figura 29, como a = 10,11-½ = 0,315 nm. Assim o volume da cela unitária calcula-se como 0,3153 nm3 = 50 3,126·10-23 cm3. Como uma cela primitiva contém somente um ponto de rede, ou seja, neste caso uma unidade de KCl, cujo peso é 74,55 g·mol-1/NA = 1,238·10-22 g, a densidade de KCl calculados com estes dados é ρKCl = 3,961 g/cm3. Na verdade, porém a densidade de cloreto de potássio cristalino é 1,984 g/cm3. Esta discrepância indica que o cloreto de potássio não possua uma rede cúbica primitiva. Tabela 11. Picos observados no difractograma de KCl (Figura 28) e os valores (1111/d2) calculados com a Equação 1(λλλλ = 0,154056 nm; CuKαααα1). 2θθθθ d (nm) 2θθθθ d (nm) 28,40 0,314 87,80 0,111 40,55 0,222 94,65 0,105 50,25 0,181 101,65 0,099 58,70 0,157 108,75 0,095 66,45 0,141 116,25 0,091 73,80 0,128 y = 10,11x R2 = 0,9999 0 20 40 60 80 100 120 140 0 2 4 6 8 10 12 14 (h 2 + l 2 + k 2) 1/ d2 (n m - 2 ) Figura 29. Indexação dos picos observados para KCl na rede cúbica primitivo. Também uma rede cúbica de corpo centrado pode ser descartada para o KCl uma vez que 1/d2 versus os valores (h2 + k2 + l2) observáveis para esta rede (Tabela 8) não é linear como mostra a Figura 30. Aqui se deve ressaltar que para os primeiros seis picos a função realmente parece linear. Isto alerta para o fato que a confiabilidade da indexação de um difractograma aumenta com o número de picos utilizados. Como mostra a Figura 31 a função 1/d2 versus (h2 + k2 + l2) é linear se as reflexões observadas são atribuídas aos planos com hkl todos par. Isto indicaria uma rede cúbica de face centrada e realmente as reflexões com hkl todos impar, indicadas na Figura 31 com “○” podem ser observados se a 51 relação sinal/barulho é melhorado como mostra a Figura 32 que mostra todos os picos observáveis no difractograma de raios-x para KCl com a respectiva indexação. 0 20 40 60 80 100 120 140 0 5 10 15 20 25 (h 2 + k 2 + l 2) (1/ d2 ) Figura 30. Indexação dos picos observados pra KCl na rede cúbica de corpo centrado. y = 2,5315244x R2 = 0,9999996 0 20 40 60 80 100 120 140 0 10 20 30 40 50 60 (h 2 + l 2 + k 2) 1 /d 2 (nm - 2 ) Figura 31. Indexação dos picos observados para KCl na rede cúbica de face centrada (■) reflexões com hkl todos par (observados no difractograma mostrada na Figura 28); (○) reflexões esperados para hkl todos impares (não observados no difractograma mostrada na Figura 28). Neste caso o parâmetro a da cela cúbica pode ser calculado diretamente da inclinação da reta, indicado na Figura 32, como a = 2,53-½ = 0,629 nm. Assim o volume da cela unitária calcula-se como 0,6293 nm3 = 2,489·10-22 cm3. Como uma cela cúbica de face centrada contém quatro pontos de rede, ou seja, quatro unidades de KCl, cujo peso é 4 × 74,55 g·mol-1/NA = 4,952·10-22 g, a densidade de KCl calculados com estes dados é ρKCl = 1,990 g/cm3, o que é 52 de acordo com a densidade de KCl cristalino (ρ = 1,984 g/cm3). Assim confirmando para KCl a mesma estrutura com para NaCl como foi discutido no capitulo Erro! Fonte de referência não encontrada. (ver Erro! Fonte de referência não encontrada., página Erro! Indicador não definido.). 20 40 60 80 100 120 444 622 533 620 442/600 531 440 511/333 422 420 331 400 222 311 220200 111 lo g (In te n si da de ) KCl 2 θθθθ° Figura 32. Difractograma de KCl com todos os picos indexados na rede cúbica de face centrada. 53 2. Complexos de metais 2.1. Características e nomenclatura de complexos 2.1.1. Complexos mononucleares O característico de complexos ou de compostos de coordenação é que um ou mais átomo/íon central é agrupado com um ou mais moléculas/íons na primeira esfera de coordenação. O número de ligantes agrupados regularmente com o íon central na primeira esfera de coordenação é o número de coordenação. Em caso de complexos catiônicos ou aniônicos as cargas são compensadas por íons na segunda esfera de coordenação como é esquematizado no Esquema 1. Esquema 1. Composto de coordenação exemplificado por Criolita ou hexafluoro- aluminato(III) de sódio. 6FAlNa ocoordenaçã de esfera primeiracentralíon ocoordenaçãde esferasegunda 3 Os íons ou átomos centrais são na maioria das vezes cátions de metais de transição, mas também não metais podem formar complexos como, por exemplo, tetra fluoro borato [BF4]-, tetraoxoclorato [ClO4]- ou octafluoro xenonato [XeF8]2- (compare Apostila Química Inorgânica I, capitulo 5.1.3.). Em geral podemos descrever a formação de um complexo como reação do átomo (íon) central que age como um ácido de Lewis (receptor de um par de elétrons) e os ligantes que funcionam como bases de Lewis doador de um par de elétron. Neste conceito amplo até água pode ser tratado como composto de coordenação formado pelo ácido de Lewis H+ e a base de Lewis OH-. Aqui nos vamos restringir nossas considerações aos complexos formados por um cátion de metal (de transição) como íon central e ligantes neutras ou aniônicos. Como ligantes podem funcionar um grande número de moléculas neutras como água, amônia, monóxido de carbono ou monóxido de nitrogênio ou aminas, ânions como haletos, íons hidróxido ou ânions de ácidos carboxílicos ou mesmo cátions como NO+. Se o ligante está doando somente um par de elétrons ele é chamado de ligante unidentado. Ligantes capazes de doar mais que um par de elétrons são chamados de quelatos ou ligante bi - tri- ou polidentado onde o número de pares de elétrons é expresso pelos prefixos numéricos gregos. Ligantes que podem ligar-se através de diferentes elementos formando isômeros de ligação são chamados ligantes ambidentados. A Tabela 12 contém uma lista de ligantes comuns com a sua denominação em compostos de coordenação, sua fórmula, sua abreviação e sua classificação. 54 Tabela 12. Nomes e características de ligantes comuns.29 Nome Fórmula Abreviação Classificação Átomo doador Número de doadores acetilacetonato O- O- acac O 2 amina NH3 N 1 aqua H2O aq O 1 2,2-bipiridina N N bipy N 2 bromo Br- Br 1 carbonato CO32- O 1 ou 2 carbonila CO C 1 cloro Cl- Cl 1 ciano CN- C 1 dietilenotriamina NH(CH2CH2NH2)2 dien N 3 bis(difenilfosfina)etano PPh3Ph3P dppe P 2 bis(difenilfosfina)metano Ph3P PPh3 dppm P 2 ciclopentadienil Cp C 5 dihidrogênio H2 H 1 dinitrogênio N2 N 1 dioxigênio O2 O 1 etilenidiamina NH2CH2CH2NH2 en N 2 etilenodiaminatetraacetato NN CO2- CO2- - 2OC - 2OC edta N, O 2 N, 4 O fluoro F- F 1 glicianto NH2CH2COO- gly N, O 1 N, 1 O hidrido H- H 1 hidroxi OH- O 1 iodo I- I 1 isociano NC- N 1 isotiocianato NCS- N 1 nitrato NO3- O 1 ou 2 nitrito NO2- O 1 nitro NO2- N 1 nitrosila NO (NO+; NO-) N 1 oxo O2- O 1 oxalato ox O 2 55 Tabela 12. Nomes e características de ligantes comuns.29 Nome Fórmula Abreviação Classificação Átomo doador Número de doadores piridina N py N 1 Sulfido (tio) S2- S 1 tetraazaciclotetradecano N N N N cyclam N 4 tiocianato SCN- S 1 tiolato RS- S 1 triaminotrietilamina N(CH2CH2NH2)3 tren N 4 tricicloexilfosfina P(C6H11)3 PCy3 P 1 trietilfosfina P(C2H5)3 PEt3 P 1 trimetilfosfina P(CH3)3 PMe3 P 1 trifenilfosfina P(C6H5)3 PPh3 P 1 A denominaçãodos compostos de coordenação segue as seguintes regras básicas, que são aumentados para complexos multinucleares (parágrafo 2.1.2, página 56) ou para diferenciar as diversas formas de estereoisomeria (parágrafo 2.2.3, página 64). (1) Quando denominar um complexo de metal, nomeiam-se em primeiro lugar os ligantes, e depois o átomo ou íon de metal. (2) Os ligantes neutros têm o mesmo nome que a molécula, exceto água (H2O), amônia (NH3), monóxido de carbono (CO) e monóxido de nitrogênio (NO), cujas denominações são dadas na Tabela 12. (3) Os ligantes aniônicos têm os nomes usuais com a terminação -o, exceto os haletos, oss íon hidróxido, cianeto e tiocianeto como é mostrado na Tabela 12. (4) O número de cada espécie de ligante presente no complexo é indicado pelos prefixos numéricos gregos. Se os nomes dos ligantes já contêm prefixos gregos (ex.: etilenodiamina) ou se o ligante é polidentado (i.e. pode doar mais que um par de elétrons) são usados os prefixos bis = 2; tris = 3; tetraquis = 4; pentaquis = 5; etc. (5) No nome escrito os ligantes são nomeados em ordem alfabética, ignorando-se os prefixos gregos que indicam o número de cada um presente e os nomes dos ligantes precedem o do átomo metálico. (Ex.: íon tetraaminadiclorocrom(III) = [CrCl2(NH3)4]-). (6) Na fórmula química o símbolo químico do metal precede os símbolos químicos dos ligantes que são arranjados na ordem: ligantes aniônicos, ligantes neutros, ligantes catiônicos. (Ex.: [FeCl(H2O)5]+ = íon pentaaquacloroferro(II)). 56 (7) No nome escrito o número de oxidação do íon central é indicado por o numeral romano em parênteses que segue a denominação do metal. (8) Se o composto de coordenação é um ânion o sufixo -ato é adicionado à raiz do nome do metal, exceto no casos dos 7 metais já conhecidos na Antigüidade para os quais é usado a raiz do nome em latim como é mostrado na Tabela 13. (9) Se a segunda esfera de coordenação é formada por cátions (complexo aniônico) eles são nomeados depois do complexo aniônico ligado por “de” (Ex.: NH4[PtCl3(NH3)] = aminotricloroplatinato(II) de amônio); se a segunda esfera de coordenação é formado por ânions (complexo catiônico) eles são nomeados antes do complexo catiônico ligado por “de” (Ex.: [Cr(OH)2(NH3)4]Br = Brometo de tetraaminadihidroxocromo(III)). OBS: Nas línguas germânicas, como Inglês, ao contrário das línguas românicas a denominação é na seqüência cátion-ânion e sem conjunção (Ex.:Ammonium amminetrichloroplatinate(III) e Tetraamminedihydroxo- chromium(III) bromide. Tabela 13. Denominação dos 7 metais da Antigüidade em ânions complexos. Metal Símbolo Nome em latim Denominação em complexos aniônicos Cobre Cu Cuprum Cuprato Prata Ag Argentum Argentato Ouro Au Aurum Aurato Ferro Fe Ferrum Ferrato Estanho Sn Stannum (E)stannato Chumbo Pb Plumbum Plumbato Mercúrio Hg Mercurium* Mercurato *o nome em latim de Mercúrio é Hydragyrum (do grego: νδωρ (hydor) = água e αργϖρος (argyros) = prata) o que levaria a denominação hidragirato em vez disso é usado o nome do planeta Mercur que foi na alquimia atribuído ao hydragyrum. 2.1.2. Complexos multinucleares (ou oligonuleares) Complexos contendo mais de um átomo (ou cátion) de metal são conhecidos como complexos multinucleares. Nestes complexos os átomos de metal podem ser ligados diretamente e neste caso o número de átomos de metal é indicado por um prefixo grego, como por exemplo, em octaclorodirhenato(III), ilustrado no Esquema 2. Esquema 2. Estrutura de octaclorodirhenato(III) ([Re2Cl8]2-). Re Re Cl ClCl Cl Cl ClCl Cl 2- 57 Por outro lado os átomos de metal podem ser ligados através de um ligante servindo como ponte. Este ligante é indicado pelo prefixo µ-, como por exemplo, em µ-oxo-bis(pentaaminacromo(III)), ilustrado no Esquema 3. Caso o ligante asocia mais que dois átomos de metal o numero de átomos é indicado por um subscrito numérico como, por exemplo: hexa-µ-acetato-µ4-oxo- tetraberílio(II) ([Be4O(CH3COO)6]). Esquema 3. Estrutura de µµµµ-oxo-bis(pentaaminacromo(III) (µµµµ-O(Cr(NH3)5)2]4+). Cr O Cr NH3NH3 NH3NH3 NH3 NH3 NH3 NH3 NH3 NH3 4+ 2.1.3. Estruturas de complexos mononucleares 2.1.3.1. Estruturas para número de coordenação 1, 2 e 3 Complexos de número de coordenação 1 (ML) e 2 (ML2) existem geralmente somente a altas temperaturas na fase gasosa. Os complexos ML inevitavelmente são lineares e também para complexos ML2 estruturas lineares como a de dicloroargentato(I) ([AgCl2]-) mostrado na Figura 33 são os mais comuns. Para alguns complexos ML2, porém, cálculos teóricos indicam uma estrutura angular como nos exemplos dados na Tabela 15. Figura 33. Estrutura de diclorargentato(I) como exemplo de complexo linear (N.C. = 2). - 58 (a) (b) Figura 34. Estruturas para complexos ML3: (a) trigonal planar; (b) trigonal piramidal. Embora complexos com número de coordenação 3 (ML3) são raros existem diversos exemplos (Tabela 15) mostrando estrutura trigonal planar (Figura 34a), embora cálculos teóricos indiquem para alguns complexos ML3 uma estrutura trigonal piramidal (Figura 34b). 2.1.3.2. Estruturas para número de coordenação 4 A maioria dos complexos de número de coordenação 4 (ML4) forma tetraedros ou quadrados como ilustrado na Figura 35a e b, respectivamente. Para alguns exemplos, como as listados na Tabela 15, cálculos teóricos, porém indicam uma estrutura quadrática piramidal (Figura 35c). (a) (b) (c) Figura 35. Estruturas para complexos ML4: (a) tetraedro; (b) quadrado; (c) quadrático piramidal. 2.1.3.3. Estruturas para número de coordenação 5 (a) (b) Figura 36. Estruturas de complexos ML5: (a) bipirâmide trigonal (b) pirâmide quadrático. 59 As estruturas observadas para complexos com número de coordenação 5 (ML5) são a bipirâmide trigonal e a pirâmide quadrática, mostradas na Figura 36a e b, respectivamente. Em muitos compostos, porém estas duas estruturas se transformam facilmente uma na outra e para [Ni(CN)5]3-, por exemplo as duas formas podem existir no mesmo cristal. Além dessas duas estruturas regulares, complexos de número de coordenação podem assumir formas distorcidas dessas estruturas, como é demonstrado na Tabela 14. Tabela 14. Estruturas formadas em complexos com número de coordenação 5.30 Geometria Descrição Exemplo Bipirâmide trigonal regular Todos os cinco ligantes idênticos, sem distorção [CuCl5] 3- Bipirâmide trigonal com distorção leve Três ligantes equatoriais idênticos, mas um ligante axial faz parte de um anel e o outro não Bipirâmide trigonal altamente distorcida Estrutura intermediaria entre bipirâmide trigonal e pirâmide quadratica [Ni(CN)2(PPh(OEt)2)3] Pirâmide quadrática regular O átomo de metal é no plano basal quadrático com o quinto ligante localizado acima [MnCl5]2- Pirâmide quadrática distorcida Ligantes formam pirâmide quadrática, mas o átomo de metal é fora do plano basal. 2.1.3.4. Estruturas para número de coordenação 6 A estrutura mais comum para complexos com número de coordenação 6 (ML6) é um octaedro regular mostrado na Figura 37. Em muitos casos, como por exemplos os causados pelo Efeito Jahn-Teller (parágrafo 4.7, página 105) a estrutura octahdral pode ser distorcida pela elongação ou diminuição axial ou ate por diminuição axial e elongação equatorial como mostram as estruturas na Figura 38. 60 Figura 37. Octaedro regular para complexos ML6. (a) (b) (c) Figura 38. Octaedros distorcidos: (a) elongação axial; (b) diminuição axial; (c) diminuição axial e elongação equatorial. Para alguns complexos ML6 (vide Tabela 15) observa-se em vez da estrutura octaédricaum prisma trigonal, mostrado na Figura 39. Figura 39. Prisma trigonal.31 2.1.3.5. Estruturas para número de coordenação 7 Para os complexos com número de coordenação 7 (ML7) pode-se esperar uma estrutura pentagonal bipiramidal (Figura 40a). Embora esta estrutura seja realizada em diversos complexos (Tabela 15) os ligantes equatoriais ficam neste arranjo muito próximo e assim um desses ligantes pode ser empurrado fora do arranjo equatorial pentagonal resultando na estrutura de um octaedro “com boné” (capped octahedron) mostrado na Figura 40b. Além dessas duas estruturas muitos complexos ML7 assumem a estrutura de um prisma trigonal “com boné” (capped trigonal prism) mostrado na Figura 40c. (a) (b) (c) 61 Figura 40. Estruturas para complexos ML7: (a) bipirâmide pentagonal; (b) octaedro “com boné”; (c) prisma trigonal “com boné”.31 2.1.3.6. Estruturas para número de coordenação 8 Para os complexos com número de coordenação 8 (ML8) as estruturas de um cubo (Figura 41a), de um anti-prisma quadradratico (Figura 41b) e de um dodecaedro regular (Figura 41c) podem ser observados (Tabela 15). Devido à ocupação grande de espaço por estes números de ligantes relativamente altos complexos ML8, com também complexos ML9, ML10 e ML12 são encontrados geralmente somente para metais de transição do 5º e 6º período da Tabela periódica ou para complexos de elementos do bloco f. (a) (b) (c) Figura 41. Estruturas para complexos ML8: (a) cubo; (b) antiprisma quadrático; (c) dodecaedro.32 2.1.3.7. Estruturas para números de coordenação maiores (9 – 12) As estruturas mais comuns observados para complexos com número de coordenação 9 (ML9), 10 (ML10), 11 (ML11) e 12 (ML12) são ilustradas na Figura 42. (a) (b) (c) (d) (e) 62 Figura 42. Estruturas para números de coordenação 9 – 12: (a) antiprisma quadrático “com boné” (ML9); (b) prisma trigonal “com três bonés” (ML9); (c) antiprisma quadrático “com dois bonés” (ML10); (d) octadecaedro (ML11); (e) icosaedro (ML12).33 2.1.4. Exemplos de estruturas de complexos de metais de transição A Tabela 15 enumera exemplos para as diversas estruturas geométricas observados ou calculados para complexos MLn com n = 2 – 8. Tabela 15. Geometria de complexos de metais de transição.34 Tipo Geometria Exemplos ML2 linear [MCl2]-, (M = Cu, Ag, Au); [M(CN)2]-/[M(PtBu3)2]+, (M = Ag, Au); [HgCl2]; [Hg2Cl2]; [M(N(SiMe3)2)2], (M = Co, Cd); angular [ScF2]; [ScH2]; (estruturas calculadas) ML3 trigonal planar [AgI(PR3)2]; [AuCl(PPh3)2]; [HgI3] -;[M(PPh3)3], (M = Pd, Pt); [M(N(SiMe3)2)3], (M = Ti, V, Cr, Fe) trigonal piramidal [ScH3]; [LaH3]; [ZrH3]+; [TaMe3] +; (estruturas calculadas) ML4 tetraédrico [TiCl4]; [VCl4]-; [MnCl4]2-; [FeCl4]-/2-; [CoCl4]2-; [CuBr4]2-; [ZnCl4]2-; [CrO4]2-; [MnO4]-; [FeO4]2-; [OsO4]; [VOCl3]; [CrO2Cl2]; [OsO3N]-; [Cu(CN)4]3-; [Zn(CN)4]2-; [M(PR3)4], (M = Ni, Pd, Pt, Cu+); [Ni(CO)4]; [NiCl2(PPh3)2]; quadrático planar [MCl4]2-/[M(NH3)4]2+, (M = Pd, Pt); [CuCl4]2-; [AgF4]-; [AuBr4]-; [Co(CN)4]2-; [Co(SR)4]-; [M(CN)4]2-, (M = Ni, Pd, Pt); [NiCl2(PMe3)2]; [RhCl2(PR3)2] quadrático piramidal [NbH4]+; [TaH4]+; (estruturas calculadas) ML5 trigonal bipiramidal [VCl5]-; [Fe(N3)5]2-; [CuX5]3-, (X = Cl, Br); [CdCl5]3-; [HgCl5]3-; [Ni(CN)5]3-; [Mn(CO)5]-; [Fe(CO)5]; [M(PF3)5], (M = Fe, Ru, Os); [Co(CNMe)5]+; [MI5], (M = V, Nb, Ta) quadrático piramidal [Nb(NMe2)5]; [CrPh5]2-; [MnCl5]2-; [Fe(CNBu)5]; [Co(CNPh)5]+; [Co(CN)5]2-; [Ni(OAsMe3)5]2+; [Ni(CN)5]3-; [Pt(ECl3)5]3-, (E = Ge, Sn) ML6 octaédrico [Ti(H2O)6]3+; [ZrCl6]2-; [V(H2O)6]2+; [M(CO)6]-, (M = V, Nb, Ta); [Cr(NH3)6]3+; [MoCl6]3-; [ML6], (M = Cr, Mo, W; L = CO, PF3); [Cr(CN)6]3-; [Mn(H2O)6]2+; [ReCl6]2-; [Re(CN)6]3-; [Fe(H2O)6]2+; [FeCl6]3-; [Fe(CN)6]4-; [Ru(NH3)6]2+; [Co(NH3)6]2+; [CoF6]3-; [Co(CN)6]3-; [Rh(H2O)6]3+; [IrCl6]3-; [Ni(NH3)6]2+; [NiF6]2-; [Cu(NH3)6]2+; [Zn(NH3)6]2+; [d0-MX6], (X = hal, OR, NR2) trigonal prismático [M(Y-CR=CR-Y)3], (M = Mo, Re, V; Y = S, Se; R = H, CF3, Ph); [Cd(acac)3]- ML7 pentagonal bipiramidal [ZrF7]3-; [LnF7]3-, (Ln = Ce, Pr, Nd, Tb); [ReOF6]-; [V(CN)7]4-; [V(CN)6(NO)]4-; [Mo(CN)7]5-; [Re(CN)7]4-; [UO2F5]3-; [UO2(H2O)5]2+; [ReF7]; [HfF7]3- octaédrico “com boné” [MoF7]-; [WF7]-; [Mo(CNMe)7]2+; [MoCl4(PR3)3]; [W(CNMe)7]2+; [VCl(OPMe3)6]3+; [WBr3(CO)4]-; [MMe7]-, (M = Mo, W) trigonal prismático “com boné” [NbF7] 2-; [MF7]-, (M = Nb, Ta); [Mo(CNBu)7]2+; [MoX(CNBu)6]+, (X = Cl, Br); [WF6-(2-fluoropiridina)] ML8 cúbico [MF8]3-, (M = Pa, U, Np); [U(NCS)8]4-; [U(bipy)4] quadrático antiprismático [Sr(H2O)8] 2+; [ZrF8]4-*; [TaF8]3-; [Mo(CN)8]4-*; [W(CN)8]4-; [W(CN)8]3-; [U(NCS)8]4-; [Zr(acac)4] dodecaédrico [ZrF8]4-*;[Mo(CN)8]4-*; [Mo(CN)4(CNMe)4]; 63 Tabela 15. Geometria de complexos de metais de transição.34 Tipo Geometria Exemplos [MoH4(PR3)4]; [M(NCS]4(H2O)4]-, (M = Nd, Eu); [Cr(O2)4]3-; [Mo(O2)4]2-; [Ti(NO3)4]2+; [Mn(NO3)4]2+; [Fe(NO3)4]- *a geometria assumida depende do contra-cátion. 2.2. Isomeria de complexos 2.2.1. Tipos de isomerias Nos compostos de coordenação podemos observar dois tipos de isomeria, isomeria estrutural e estereoisomeria. Em ambos os tipos de isomeria os diferentes isômeros possuem a mesma composição química geral, mas no primeiro tipo de isomeria os elementos do complexo (átomos/moléculas/íons) ocupam diferentes posições relativas aos demais elementos, ou seja, os seus vizinhos são diferentes. No segundo tipo de isomeria os elementos do complexo (átomos/moléculas/íons) ocupam as mesmas posições relativas aos demais elementos (todos possuem os mesmos vizinhos), mas os isômeros mostram diferentes arranjos espaciais dos elementos. 2.2.2. Isomeria estrutural 2.2.2.1. Isômeros de ionização Isômeros de ionização são complexos onde um ligante da primeira esfera de coordenação e um composto da segunda esfera de coordenação são trocados como, por exemplo, no caso de sulfato de pentaaminabromo- cobalto(III) (Esquema 4a) e brometo de pentaaminasulfatocobalto(III) (Esquema 4b) o último forma em solução com prata um precipitado de brometo de prata enquanto o primeiro forma com bário um precipitado de sulfato de bário. Esquema 4 Isômeros de ionização (a) sulfato de pentaaminabromocobalto(III) (b) brometo de pentaaminasulfatocobalto(III). (a) [CoBr(NH3)5]SO4 (b) [CoSO4(NH3)5]Br 2.2.2.2. Isômeros de hidratação Os isômeros de hidratação são casos especiais de isômeros de ionização quando um dos compostos trocados entre a primeira e a segunda esfera de coordenação é água como é exemplificado no Esquema 5. Esquema 5. Isômeros de hidratação (a) cloreto de hexaaquacromo(III) (violeta); (b) cloreto de pentaaquaclorocromo(III) monoidratado(azul-esverdeado); (c) cloreto de tetraaquadiclorocromo(III) diitratado (verde). (a) [Cr(H2O)6]Cl3 (b) [CrCl(H2O)5]Cl2·H2O (c) [CrCl2(H2O)4]Cl·2H2O 64 2.2.2.3. Isômeros de ligação Isômeros de ligação existem quando ligantes ambidentados como, por exemplo, SCN que podem doar o par de elétron localizado no átomo de enxofre (tiocianato) ou no átomo de nitrogênio (isotiocianato) (vide Tabela 12) 2.2.2.4. Isômeros de coordenação Isômeros de coordenação são observados quando ligantes são trocados entre um ânion e um cátion complexo como é mostrado no Esquema 6. Esquema 6. Isômeros de coordenação (a) hexacianoferrato(III) de hexaaminacromo(III); (b) hexacianocromato(III) de hexaaminaferro(II). (a) [Cr(NH3)6][Fe(CN)6] (b) [Fe(NH3)6][Cr(CN)6] 2.2.3. Estereoisomeria 2.2.3.1. Tipos de estereoisomeria Os estéreoisômeros podem ser classificados como isômeros geométri- cos e isômeros óticos. Nos isômeros geométricoso arranjo diferente dos elementos resulta em geral em compostos com propriedades físicas e químicas diferentes. Por outro lado os isômeros ópticos, geralmente, não diferem em suas propriedades químicas, e em geral a única propriedade física em qual isômeros óticos se diferem é a habilidade de girar o plano de luz polarizado em direciones diferentes como é detalhado no parágrafo 1.1.1.1.1. 2.2.3.2. Isomeria geométrica 3.2.3.2.1. Isômeros geométricos para número de coordenação 4 Para coplexos com número de coordenação 4 isomeria geométrica é observada para complexos da composição ML12L22 com estrutura quadrática planar (Figura 35b) como é exemplificado na Figura 43 para diaminadicloro- platina(II) (L1 = Cl-; L2 = NH3) que pode formar um complexo cis- (Figura 43a) onde os ligantes iguais são localizados numa mesma aresta do quadrado e um complexo trans- (Figura 43b) onde os ligantes iguais ocupam vértices opostos do quadrado. (a) (b) Figura 43. Isômeros geométricos de diaminadicloroplatina(II) (a) cis-[PtCl2(NH3)2]; (b) trans-[PtCl2(NH3)2]. 65 Ambos isômeros geométricos de diaminadicloropaltina(II) possuem proprieddes diferentes. O cis-diaminadicloroplatina(II) possui uma cor amarelo alaranjado e é solúvel em água (0,252 g por 100mL) enquanto o trans-isômero é pouco solúvel (0,037 g por 100 mL) em água e têm cor amarelo escuro. O cis-diaminadicloroplatina(II) como outros cis-complexos de platina formam complexos com a DNA de células cancerígenos e são amplamente usados na terapia de câncer enquanto o trans-complexo não exibe ação químo- terápeutica. A existência de isômeros cis-/trans- possibilita esclarecer a estrutura do complexos ML4 uma vez que para a estrutura tetraédrica de complexos ML4 (Figura 35a) não existe isomeria cis-/trans-. Neste caso, porém podem ser observados isômeros ópticos para complexos de composição ML1L2L3L4 (parágrafo 1.1.1.1.2, pagina 74). 3.2.3.2.2. Isômeros geométricos para número de coordenação 5 Complexos com número de coordenação 5 e a composição ML13L22 tanto com a estrutura trigonal bipiramidal (Figura 36a) como com a estrutura quadrático piramidal (Figura 36a) também podem formar isômeros do tipo cis/trans-, como é ilustrado na Figura 44 e na Figura 46, respectivamente. (a) (b) (c) Figura 44. Isomeria cis/trans- para complexos [ML13L22] com simetria trigonal: (a) αααα-cis- [ML13L22]; (b) ββββ-cis-[ML13L22]; (c) trans-[ML13L22]. (a) (b) 66 Figura 45. Isomeria fac-/mer- para complexos [ML13L22]: (a) fac-[ML13L22]; (b) mer- [ML13L22]. Como mostra a Figura 44 os ligantes L2 podem ocupar a posição cis em duas diferentes arestas do poliedro. Na primeira possibilidade, mostrada na Figura 44a um dos dois ligantes ocupa a posição axial e o outro a posição equatorial resultando na forma α-cis-[ML13L22]. A segunda possibilidade, mostrada na Figura 44b, é a ocupação de duas posições equatoriais pelos dois ligantes L2 resultando na forma β-cis-[ML13L22]. A ocupação das duas posições axiais pelos dois ligantes L2 resulta na forma trans- [ML13L22] (Figura 44c). Os dois isômeros α-cis- e β-cis-, em relação aos dois ligantes L2 podem ser também identificados como isômero facial e meridional em relação aos três ligantes L1. A Figura 45a ilustra que no isômero facial (abreviado com fac-) os três ligantes L1 ocupam os três vértices de uma face do poliedro. Por outro lado no isômero meridional os três ligantes L1 ocupam três vértices num meridiano do poliedro. As mesmas formas de isomeria geométrica também são observadas para complexos [ML13L22] com estrutura quadrática piramidal como mostra a Figura 46. Os isômeros α-cis-[ML13L22] e α-cis-[ML13L22] com estrutura quadrática piramidal também podem ser identificados como isômeros fac- [ML13L22]; e mer-[ML13L22]. (a) (b) (c) Figura 46. Isomeria cis/trans para complexos [ML13L22] com simetria tetragonal: (a) αααα-cis- isômero; (b) ββββ-cis-isômero; (c) trans-isômero. 3.2.3.2.3. Isômeros geométricos para número de cordenação 6 Como complexos com número de coordenação 6 com a estrutura de um prisma trigonal são raros não existem estudos sistemáticos sobre isomeria nesse tipo de complexos e, portanto restringimos nossas considerações aqui aos complexos octaedricos. Para os complexos octaédricos se observa isomeria cis-/trans- para diversas composições. Os complexos octaédricos de composição [ML14L22], por 67 exemplo, mostram isomeria cis-/trans- como é exemplificado na Figura 47 para cis-[CoCl2(NH3)4] (Figura 47a) e trans-[CoCl2(NH3)4] (Figura 47a). (a) (b) Figura 47. Isomeria cis-/trans- para complexos [ML14L22]: (a) cis-[CoCl2(NH3)4]; (b) trans- [CoCl2(NH3)4]. A Figura 48 mostra os cinco possíveis isômeros geométricos para complexos octaédricos da composição [ML12L22L32]. Em três desses isômeros um par dos ligantes L1, L2 ou L3 ocupa uma posição trans-, resultando nos isômeros cis/cis/trans-[ML12L22L32], cis/trans/cis-;[ML12L22L32] e trans/cis/cis- [ML12L22L32] mostrados na Figura 48a, b e c, respectivamente. (a) (b) (c) (d) (e) 68 Figura 48. Isômeros geométricos de complexos [ML12L22L32]: (a) cis/cis/trans-; (b) cis/trans/cis-; (c) trans/cis/cis-; (d) trans/trans/trans- e (e) cis/cis/cis-. Nos dois outros isômeros para complexos [ML12L22L32] todos os três pares de ligantes podem ocupar posições trans- formando o isômero trans/trans/trans-[ML12L22L32] (Figura 48d) ou posições cis- formando o isômero cis/cis/cis-[ML12L22L32] (Figura 48e). Deste ultimo isômero geométrico existem dois diferentes isômeros óticos ∆-cis/cis/cis-[ML12L22L32] e Λ-cis/cis/cis- [ML12L22L32] como será discutido no parágrafo 1.1.1.1.4 (pagina 74). Em complexos octaédricos da composição [ML13L23] cada terceto de ligantes pode ocupar os vértices de uma face do octaedro como é mostrado na Figura 49a ou os vértices de um meridiano do octaedro como mostra a Figura 49b. Nos nomes e fórmulas o isômero facial é identificado pela abreviação fac- e o isômero meridional pela abreviação mer- como é exemplificado na Figura 50 para fac-triaminatriclorocobalto(III) e mer- triaminatriclorocobalto(III), respectivamente. (a) (b) Figura 49. Isomeria (a) facial- e (b) meridional- para complexos octaédricos com composição [ML13L23]. 69 Figura 50. Exemplos de isomeria facial/meridional para complexos octaédricos com composição [ML13L23]: (a) fac-[CoCl3(NH3)3]; (b) mer-[CoCl3(NH3)3]. 3.2.3.2.4. Isômeros geométricos para número de coordenação maior que 6 Para os complexos com mais de seis ligantes as possíveis isomerias ainda não foram investigadas sistematicamente, embora para tais compostos diversas geometrias (compare parágrafos 2.1.3.5 e 2.1.3.6) e também isomeria geométrica e ótica sejam possíveis. 2.2.3.3. Isomeria ótica 1.1.1.1.1. Características de isômeros óticos Como foi dito no parágrafo 2.2.1 isômeros óticos possuem a habilidade de girar o plano de luz polarizado em direciones diferentes. A luz polarizada consiste de radiação na qual o movimento das ondas está em um único plano. Como mostra a Figura 51 quando esta luz passa através de uma solução de uma substância com atividade ótica, o plano de polarização é girado de um ângulo característico que depende da concentração do soluto e do comprimento do caminho através da amostra. 70 Figura 51. Giração do plano de luz polarizada por uma substância opticamente ativa35. A direção de rotação do plano de luz polarizado pelo enantiomero é indicada pelas palavras em latim dextro (ou d- = direita) e laevo (ou l- = esquerda) ou pelo pelos símbolos, (+)- (para rotação à direita) e (-)- (para rotação à esquerda). A denominação de moléculas quirais com um centrode assimetria tetraédrico segue a regra de seqüência de Cahn, Ingold e Prelog (regra CIP). Nesta regra os ligantes L1, L2, L3 e L4 do complexo [ML1L2L3L4] serão ordenados de prioridade (número de ordem) diminuindo do átomo do ligante mais próximo (segundo mais próximo etc.) ao átomo de metal, como é exemplificado no Esquema 7. Esquema 7. Ordem de ligantes na regra CIP. I > Br > Cl > SO3H > SH > PH2 > OH > NO2 > NH2 > COOH > CHO > CH2OH > C(alquil)3 > > C6H5 > CH(alquil)2 > CH3 > D > H > par de elétrons Agora se observa o respectivo enantiomero de maneira que o ligante de menor prioridade é posicionado atrás do átomo de metal. Se a seqüência dos três ligantes no lado do observador de prioridade diminuindo é no sentido horário a configuração é indicado por (R)- e se a seqüência é no sentido anti- horário a configuração é indicado por (S)-. A configuração de complexos quirais octaédricos é descrito observando o complexo pelo eixo de rotação 3, como mostra a Figura 52, é determinar o sentido de rotação da hélice formada pelos ligantes. Se o sentido de rotação é no sentido horário a configuração do complexo é indicado pela letra grega maiúscula ∆ (de dextro = direita) e a configuração em caso de rotação da hélice no sentido anti-horário pela letra grega maiúscula Λ (de laevo = esquerda), como é ilustrado na Figura 52. 71 Figura 52. Configuração absoluta em complexos [M(biL)3]. O pré-requisito para a atividade ótica de um composto é que sua molécula e a respectiva imagem de reflexão não se superpõem. Um exemplo para uma estrutura que não se superpõe a sua imagem de reflexo é a mão humana como mostra a Figura 53. Devido ao este fato, que uma não se superpõe a sua imagem de reflexão compostos cujas moléculas mostram a mesma propriedade são chamados de compostos quirais (do grego χηειρ = mão). 72 Figura 53. Mãos humanas como exemplo para estruturas quirais36. Figura 54. Eixo S4 numa molécula de metano como exemplo para um eixo de rotação- reflexão. 73 Necessário para observação de quiralidade de uma molécula é a ausência de um eixo de rotação reflexão Sn*. A reflexão rotação por um eixo S4 é mostrada para a molécula de metano na Figura 54. Este operação consiste na rotação da molécula em 360° : n (= 360°/4 = 90°) seguida da reflexão num plano perpendicular ao eixo de rotação. Como pode ser visto esta operação de simetria transforma a molécula numa imagem idêntica de si mesma. A Figura 55a mostra que a rotação reflexão pelo um eixo S1 é idêntica com a reflexão num plano de reflexão σ e a Figura 55b mostra que a rotação reflexão pelo um eixo S2 é idêntica com a inversão num centro de inversão i. Assim podemos concluir que qualquer molécula possuindo um plano de reflexão ou um centro de inversão é aquiral, ou seja, não possui isômeros óticos. (a) (b) Figura 55. (a) eixo S1 (equivalente à reflexão no plano σσσσ); (b) eixo S2 (equivalente à inversão no centro i).37 Figura 56. Configuração de H2O2.38 Para mostra atividade ótica o respectivo isômero deve ter um tempo de vida suficientemente longa para ser isolado. Por exemplo, a molécula de H2O2 na configuração mostrada na Figura 56 não possui um eixo Sn e, portanto é * Os elementos e operações de simetria como eixos de rotação reflexão Sn foram explicados detalhadamente na Apostila QI 1 no parágrafo 7. 74 quiral. Apesar disso não é possível de isolar as duas formas enantiomeros de peróxido de hidrogênio uma vez que a molécula pode rotar livremente no eixo de ligação O-O e assim a vida dos enantiomeros é curto demais para que eles sejam isolados. Por outro lado H2O2 com atividade ótica poderia ser observado se a molécula é hospedada no sitio ativo de uma enzima quiral. 1.1.1.1.2. Isômeros óticos para número de coordenação 4 Isômeros óticos de complexos existem somente para complexos de estrutura tetraédrica e as composições [ML1L2L3L4] (Figura 57a) e [M(biL*)2] (Figura 57b), onde o ligante bidental é assimétrico, ou seja, possuem dois átomos de coordenação diferentes, como por exemplo glicinato (vide Tabela 12, pagina 54). (a) (b) Figura 57. Isomeria ótica para complexos tetraédricos: (a) composição [ML1L2L3L4]; (b) compsoção [M(biL**)2]39. 1.1.1.1.3. Isômeros óticos para número de coordenação 5 Embora isômeros óticos para complexos [ML5] tanto com estrutura trigonal piramidal como com estrutura quadrática piramidal são possíveis, a fácil transformação da estrutura (compare parágrafo 2.4.3, página 86), que ocorre muitas vezes nestes complexos dificulta a isolação dos enantiomeros e, portanto a isomeria ótica não está explorada sistematicamente. 1.1.1.1.4. Isômeros óticos para número de coordenação 6 Para complexos com número de coordenação 6 somente complexos octaédricos foram sistematicamente estudados com respeito aos seus isômeros óticos, ao contrario aos raros complexos com estrutura trigonal prísmatica. Como já foi mencionado no parágrafo 3.2.3.2.3 complexos cis/cis/cis-[ML12L22L32] formam um par de isômeros óticos (enantiomeros), como pode ser verificado na Figura 58 que mostra um complexo [MA2B2C2] e sua imagem de reflexão. * Símbolos dos ligantes polidentados como na Tabela 16, pagina 73. 75 Figura 58. Isomeria ótica para complexos cis/cis/cis-[ML12L22L32]. Figura 59. Isomeria ótica para complexos cis-[ML2(biL)2] Figura 60. Estrutura de um complexo trans-[ML2(biL)2]. Isômeros óticos são conhecidos especialmente de complexos octaédricos contendo ligantes polidentados, como mostra a Figura 59 para cis- dicloro-bis-en-cobalto(III) um complexo do tipo cis-[ML12(biL) 2]. O respectivo diaestereomero trans-dicloro-bis-en-cobalto(III) (trans-[ML12(biL)2]), mostrado na Figura 60, por sua vez não possui atividade ótica, ou seja, é um composto aquiral. Também complexos octaédricos do tipo [M(biL)3] formam um par de enantiomeros como mostram as imagens de reflexão dos complexos tri-acac- manganês(VI) e tri-en-rutênio(II) na Figura 61. Como estes ligantes bidentados não podem, por razões estéricos, formar complexos trans- não há os respectivos diaestereomeros aquirais como para os complexos do tipo [ML12L22L32] (Figura 48a – d, página 68) ou [ML2(biL)2] (Figura 60). Figura 61. Isomeria ótica para complexos [M(biL)3]. 76 Um outro exemplo muito comum de isômeros óticos de complexos octaédricos são os complexos de etilenodiaminatetraacetato (edta) como mostra a imagem de reflexão de etilenodiaminatetraacetatocromato(III) na Figura 62. Figura 62. Isomeria ótica para complexos [M(hexL)]. Tabela 16. Exemplos de estéreoisomerias para números de coordenação 4 – 6. N.C. Isomeria geométrica Isomeria ótica composto simetria composto simetria 4 cis/trans-ML12L22 quadrática planar R/S–ML 1L2L3L4/ R/S-M(biL*)2 tetraédrica 5 α-cis,β-cis/trans-ML 1 2L23 bipirâmide trigonal não explorado cis/trans- ML12L23 pirâmide quadratica 6 cis/trans- ML12L24 octaedro octaédrica cis/cis/cis-ML12L22L32 ∆/Λ-cis/cis/cis- ML12L22L32 trans/trans/trans- ML2L22L32 ∆/Λ-M(biL) † 3 trans/cis/cis-ML12L22L32 cis-∆/Λ-M(biL)2L2 cis/trans/cis-ML12L22L32 ∆/Λ-α/β-cis-M(tetL) ‡L2 cis/cis/trans-ML12L22L32 ∆/Λ-M(hexL)§ fac/mer-ML13L23 *N.C = número de coordenação, †biL(*) = ligante bidental(*assimétrico); ‡tetL = ligante tetradental; §hexL = ligante hexadental. 2.2.4. Resumo de isomeria A Tabela 16 lista as estereoisomerias mais comuns para complexos com número de coordenação 4, 5 e 6, enquanto a Tabela 17 enumera o número de possíveis estereoisômeros para complexos octaédricostotalizando 98 diferentes estereoisômeros. Na Figura 63 encontra-se um esquema para identificar os diversos tipos de isomeria estrutural e geométrica em complexos. 77 Tabela 17. Estereoisômeros possíveis para complexos octaédricos com ligantes monodentados.40 Composição Isômeros geométricos Pares de isômeros óticos Número total de isômeros [ML14L22] 2 - 2 [ML13L23] 2 - 2 [ML14L2L3] 2 - 2 [ML13L22L3] 3 - 3 [ML12L22L32] 5 1 7 [ML13L2L3L4] 4 1 6 [ML12L22L3L4] 6 2 10 [ML12L2L3L4L5] 9 6 21 [ML1L2L3L4L5L6] 15 15 45 Soma [ML6] 48 25 98 Figura 63. Esquema para identificação de isômeros de complexos41. 78 2.3. Estabilidade de complexos 2.3.1. Formação e dissociação de complexos Na dissociação de complexos é diferenciado entre a 1ª e a 2ª dissociação. A dissociação (praticamente) completa em cátions ou anions simples e o íon complexo é denominada a 1ª dissociação. Exemplo: K2[Ni(CN)4] 2 K+ + [Ni(CN)4]2- A decomposição do íon complexo em seus elementos é chamada de 2ª dissociação. Exemplo: [Ni(CN)4]2- Ni2+ + 4 CN- 2.3.2. Constantes de estabilidade A formação (ou dissociação) de complexos em solução homogênea é uma reação de equilíbrio. Por exemplo: Ni2+ + 4 CN- [Ni(CN)4]2- E com as concentrações (atividades) dos parceiros da reação pode-se calcular com a Lei de ação de massa: (a) a constante de estabilidade Ke (Equação 2a); (b) seu valor recíproco a constante de dissociação Kd (Equação 2b). Equação 2. (a) Constante de estabilidade e (b) constante de dissociação de [Ni(CN)4]2-. (a) [ ] [ ][ ]42 2 4 ])([ −+ − = CNNi CNNi K e (b) [ ][ ] [ ]− −+ = 2 4 42 ])([ CNNi CNNiK d Em geral vale Equação 3. Equação 3. Relação entre constante de estabilidade e constante de dissociação. [ ] [ ] [ ] dmnba bman e KLMe LMeK 1][ )( == − −+ ou pKe = -pKd 2.3.3. Estabilidade termodinâmica Os cianocomplexos de ferro e cobre, por exemplo, são pouco dissociados, por exemplo, para [Cu(CN)4]3- a Ke = 1027 L4/mol4. Tais complexos são denominados complexos fortes ou termodinamicamente estáveis. Por outro lado, por exemplo, a maioria dos complexos de amina é fraca. Somente para complexos fortes onde os equilíbrios se deslocam completamente para o lado dos íons complexos, a solução contém íons 79 complexos uniformes. Para complexos fracos podem-se observar todos os componentes das diversas etapas de formação. No exemplo do complexo [Ni(CN)4]2- a constante da reação bruto que deve ser considerada como um sistema de equilíbrios dependentes para quais pode-se calcular constantes de estabilidade individuais. [Ni(H2O)4]2+ + CN- [NiCN(H2O)3]+ + H2O [ ][ ][ ]−+ + = CNOHNi OHNiCNK 2 42 32 1 ])([ ])([ [NiCN(H2O)3]+ + CN- [Ni(CN)2(H2O)2] + H2O [ ][ ][ ]−+= CNOHNiCN OHCNNiK ])([ ])()([ 32 222 2 [Ni(CN)2(H2O)2] + CN- [Ni(CN)3H2O]- + H2O [ ][ ][ ]− − = CNOHCNNi OHCNNiK ])()([ ])([ 222 23 3 [Ni(CN)3H2O]- + CN- [Ni(CN)4]2- + H2O [ ][ ][ ]− − = CNOHCNNi CNNiK ])([ ])([ 23 2 4 4 Assim as constantes de formação bruta βn calculam-se como produto das constantes de estabilidade individuais como mostra Equação 4. Constante de formação bruta. [ ] [ ][ ] ∏=−+ − − =⋅⋅⋅== n i in n nn n KKKKK FOHNi OHCNNi 1 43212 42 2 42 ])([ ])()([β A determinação das constantes de formação brutas é tratada no parágrafo 2.3.5, página 82. 2.3.4. Estabilidade cinética Na pratica além das propriedades termodinâmicas dos complexos (posição do equilíbrio) também o comportamento cinético (alcançar o equilíbrio) é de interesse. O comportamento cinético dos complexos é determinado pela velocidade de reação nas transformações dos complexos. Por exemplo, a velocidade da troca de ligantes pode ser determinada pela aplicação de ligantes radiativos, como por exemplo, 36Cl-: Para determinar a velocidade da troca: [PtCl6]2- + 36Cl- [Pt36ClCl5]2- + Cl-, adiciona-se a uma solução de [PtCl6]2- H36Cl é determina depois de intervalos de tempo definidos o aumento na radioatividade nos precipitados de K2[PtCl6]. Dependendo da velocidade de troca de ligantes fala-se de complexos instáveis ou inertes. Convencionalmente complexos com velocidade de troca < 1 min são considerados complexos instáveis e complexos com velocidade troca > 1 min complexos inertes. 80 Figura 64. Tempo de meia-vida de aquacomplexos42. A Figura 64 mostra o tempo de meia-vida de aquacomplexos de diversos cátions de metais em relação à troca do ligante pela solvente. Como regras gerais para a estabilidade de complexos consideram-se as seguintes declarações: (a) Complexos de metais sem fator providenciando estabilidade adicional (exemplo: efeito quelante (parágrafo 2.3.6, página 83), energia de estabilização do campo cristalino (EECC parágrafo 4.4, página 97)) são instáveis; (b) Complexos de cátions muito pequenos são muitas vezes mais estáveis por que possuem forças de ligação M-L maiores e o ataque de ligantes ao átomo central é dificultado. Além dessas regras gerais podem ser observadas as seguintes regras empíricas para estabilidade de complexos: (1) Todos os complexos de íons do bloco s, exceto os menores (Be2+, Mg2+), são muito instáveis; (2) Todos os complexos dos íons M(III) do bloco f são muito instáveis; (3) Complexos de íons d10 (Zn2+, Cd2+, Hg2+) são normalmente instáveis; (4) No 4º período, complexos de íons M(II) do bloco d são geralmente moderadamente instáveis, com os complexos distorcidos de Cu(II) como mais instáveis; 81 (5) Complexos de íons M(III) são significativamente menos instáveis que complexos de íons M(II); (6) Complexos de metais-d com configuração d3 e d6 spin baixo* são geralmente, devido de sua alta EECC estáveis. Complexos quelantes da mesma configuração são inerte; (7) Estabilidade de complexos é comum para metais 4d e 5d, o que reflete sua alta EECC e a força da ligação metal – ligante. Muitas vezes complexos inertes, ou seja, complexos com uma velocidade muito pequena da troca de ligantes também são termodinamicamente estáveis (fortes). Porém um nexo principal não existe. Por exemplo, nos complexos trioxalatos de Fe(III) e de Al(III) observa-se uma troca de ligantes rápida (complexos instáveis) enquanto a velocidade de troca para os respectivos complexos de Co(III) e Cr(III) é tão pequeno que não pode se medido. Mas todos estes complexos possuem altas constantes de estabilidade, ou seja, são complexos fortes. A diferença entre complexos cineticamente instáveis e complexos fortes pode ser, por exemplo, aproveitado na preparação de complexos de Co(III) geralmente inertes. Neste caso utiliza-se o desvio através de complexos de Co(II) cineticamente instáveis, que permite a troca dos ligantes quase imediatamente e o complexo de Co(III) desejado obtêm-se pela oxidação do complexo Co(II). Constantes de estabilidade de diversos complexos são enumeradas na Tabela 18. Tabela 18. Constantes de estabilidade de complexos em água à temperatura ambiente.43 Complexo log Ke Complexo log Ke Complexo log Ke Complexo log Ke Complexos haleto Complexos ciano Complexos EDTA Complexos EDTA CoCl42- -6,6 Pb(CN)42- 10,3 Li+ - Cs+ 2,8 – 0,2 Sc3+ 23 CuCl42- -3,6 Cd(CN)42- 19 Ba2+ 7,73 Cr3+ 23,4 FeCl42- -0,7 Zn(CN)42- 20 Sr2+ 8,60 Fe3+ 23,4 CuCl+ 0 Ag(CN)2- 21 Mg2+ 8,65 V3+ 25,1 FeCl2+ 1,4 Cu(CN)2- 22 Be2+ 9,27 Co3+ 41,5 CrCl22+ 2 Cu(CN)32- 27 Ca2+ 10,7 Th4+ 23,25 CuCl2- 4,7 Cu(CN)43- 28 V2+ 12,7 Zr4+ 28,1 AgCl2- 5,4 Ni(CN)53- 30 Cr2+ 13,6 Complexos amina AuCl2- 5,5 Ni(CN)42- 31 Mn2+ 13,95 Co(NH3)42+ 5,5 CuBr2- 6 Fe(CN)64- 37 Fe2+ 14,3 Ag(NH3)2+7,1 CdI42- 6,3 Hg(CN)42- 39 Co2+ 16,49 Cd(NH3)42+ 7,1 AuBr2- 8 Fe(CN)63- 44 Cd2+ 16,62 Ni(NH3)62+ 8,7 CuI2- 8,9 Pd(CN)42- > 44 Zn2+ 16,68 Zn(NH3)42+ 9,6 FeF52- 15,4 Complexos tiocianeto Sn 2+ 18,3 Cu(NH3)2+ 10,8 HgCl42- 16 Ag(SCN)2- 7,9 Pb2+ 18,3 Cu(NH3)62+ 13,3 *vide parágrafo 4.5, página 94. 82 Tabela 18. Constantes de estabilidade de complexos em água à temperatura ambiente.43 Complexo log Ke Complexo log Ke Complexo log Ke Complexo log Ke PtCl42- 16 Fe(SCN)63- 9,1 Ni2+ 18,67 Hg(NH3)42+ 19,3 PtBr42- 18 Au(SCN)2- 13 Cu2+ 18,86 Co(NH3)63+ 35,1 AuCl4- 19 Zn(SCN)42- 16,7 Hg2+ 21,8 Complexos oxalato HgBr42- 21,7 Cd(SCN)42- 18,3 Pd2+ 25,5 Mnox34- 2,4 AlF63- 23,7 Au(SCN)4- 37 La3+ 15,5 Feox34- 6,7 AuBr4- 25 Hg(SCN)42- 41,5 Ce3+ 16,07 Inox2- 8,6 HgI42- 29,9 Complexos tiossulfato Al 3+ 16,7 Znox34- 9 Cd(S2O3)46- 7,4 Y3+ 18,11 Alox33- 16,3 Ag(S2O3)23- 13,6 Ti3+ 21,5 Feox33- 19,2 2.3.5. Determinação da constante de formação bruta Como exemplo para determinação da constante de formação vamos considerar a formação de complexos [AlFn(H2O)6-n]3-n (n = 0 – 6) pela mistura de Al(ClO4) com HF e uma base forte (OH-). Sabendo as concentrações totais (iniciais) de [Al3+]t, [F-]t e [OH-]t é possível escrever as três seguintes equações. (1) [ ] [ ] [ ] [ ]∑ ∑ = = −+− − + +⋅== 6 1 6 1 3 62 3 62 3 1])([])([ n n n n n nnt FOHAlOHAlFAl β (2) [ ] [ ] [ ] [ ]∑ = − − −− ++= 6 1 3 62 ])([ n n nnt OHAlFHFFF (3) [ ] [ ] [ ] [ ] [ ]∑ = +−− − −− −+⋅+= 6 1 3 62 ])([ n n nnt HOHOHAlFnFOH Considerando Ka(HF) e Kw e a primeira equações as últimas duas equações podem ser transformadas nas seguintes equações: (2´) [ ] [ ] [ ]( ) [ ] [ ] +⋅++⋅= ∑ = −++−−− 6 1 3 62 1 1])([1 n n nat FnOHAlHKFF β (3´) [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ]+−+ = −+−− −+ +⋅+= ∑ HHKFnOHAlFOH w n n nt 16 1 3 62 1])([ β (2´-3´) [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ]+−++−−−− +−=− HHKHKFOHF watt 11 Assim a medida do pH de uma solução com as concentrações totais conhecidas permite determinar a concentração [F-] e em combinação com Ka a concentração [HF]*. Com estes valores e a equação (2) calcula-se: * [ ] [ ][ ] aK FHHF −+ = 83 (a) a concentração de fluoreto ligado em complexos de alumínio: [ ]∑ = − − ⋅ 6 1 3 62 ])([ n n nn OHAlFn (b) o grau de formação de complexos: [ ] [ ]∑ = + − − = 6 1 3 3 62 ])([ n t n nn Al OHAlF nn As constantes de formação brutas βn (Equação 4) podem ser calculadas utilizando a equação abaixo: (4) ( ) [ ]∑ = − =+⋅− 6 1 0 n n n nFnn β Figura 65. Titulação de HF puro e na presença de Al3+ ([Al3+]/[F-] = 1 : 6). Para a determinação de todas constantes de estabilidade brutas βn necessitam-se, portanto 6 diferentes pares (concentração F-/ grau de formação de complexos) que resultam em seis equações (4) para as seis desconhecidas constantes βn. Para o exemplo acima estes valores podem ser obtidos por titulação de HF na presença de Al3+ como mostra Figura 65. 2.3.6. Estabilidade de complexos quelantes O Esquema 8 compara a formação de um complexo de bis- etilenidiamina (en) com a formação de um complexo tetra-(metilamina). Embora os dois ligantes possuam propriedades químicas semelhantes o complexo en é muito mais estável (Ke = 4,0 ⋅ 1010) que o complexo tetra-(metiliamina) (Ke = 3,3 ⋅ 1010). Este efeito é muitas vezes observado na comparação de complexos 84 de ligantes polidentados em comparação com ligantes monodentados e é chamado de Efeito quelante. Esquema 8. Formação de um complexo quelante (a) em comparação com a formação de um complexo com ligantes monodentados semelhantes. (a) [ ] [ ] 1010 )(2 2 )(222)( 2 )(62 1,145,5660,10log 4)(2)( −− ++ +=∆−=∆= +→+ molkJSmolkJHK OHenOHCdenOHCd rre laqaqaq (b) [ ] [ ] 1010 )(2 2 )(22432)(32 2 )(62 3,673,5752,6log 4)()(4)( −− ++ −=∆−=∆= +→+ molkJSmolkJHK OHOHCHNHCdCHNHOHCd rre laqaqaq Uma explicação desse efeito quelante pode ser deduzida da termodinamica. A Equação 5a mostra, que a constante de estabilidade Ke é alta, se o valor absoluto da entalpia livre (∆GF) é alto. Para alcançar um valor absoluto alto de ∆GF uma alta mudança da entropia é necessária como pode ser deduzido da Equação 5b. Equação 5. (a) relação entre constante de formação de complexo e entalpia livre; (b) equação Gibbs-Helmholtz para a entalpia livre. (a) eF KRTG log303,2 ⋅⋅−=∆ (b) BFF STHG ∆−∆=∆ Realmente observamos no Esquema 8a um valor de ∆rS de 14,1 kJ/mol para a formação do complexo bis-en em comparação a um valor de ∆rS de - 67,3 kJ/mol para formação do complexo tetra-(metilamina). Como a mudança da entropia pode ser realcionado com o aumento da desordem do sistema a comparação das partículas nos dois lados das equações no Esquema 8 mostra que na formação do complexo di-en o número de partículas aumenta de 3 para 5 enquanto na formação do complexo tetra-(metilamina) o número de partículas fica constante. Ou em outras palavras a formação de do complexo di-en aumenta a desordem (entropia) e assim o valor absoluto da entalpia livre e consequentemente a constante de estabilidade Ke do complexo. Este efeito quelante é especialmente grande na formação de complexos com ligantes hexadentados como edta que aumenta o numero de partículas durnate da reação de 2 a 7 como mostra Equação 6. Equação 6. Formação de um complexo edta. [Ca(H2O)6]2+ + edta4- [Ca(edta)]2- + 6 H2O Por outro lado a maior constante de estabilidade de complexos quelantes pode ser explicada também pela cinética da reação. Assumindo concentrações iguais de ligantes mono (L) - e poli-dentados (L^L) a probabilidade (velocidade) de formação da primeira ligação M-L ou M-L^L é igual. A probabilidade de forma a segunda ligação porem é maior para um 85 átomo ligante no ligante polidentado já ligado ao metal, uma vez que a concentração efetiva desses átomos é maior. 2.4. Reações de complexos 2.4.1. Mecanismos de substituição de ligantes As principais reações de complexos são as reações de substituição núcleofila de ligantes como mostra Esquema 9. Estas substituições podem ocorrer por um mecanismo dissociativo (no primeiro passo da reação o complexo dissocia em o ligante X um complexo intermediário MLn-1 ou por um mecanismo associativo (no primeiro passo da reação o nucleofilo Nu forma com Ln-1MX um novo complexo intermediário Ln-1MXNu). Dependendo do mecanismo a substituição pode ser estéreoespecifico (exclusivamente retenção ou inversão do arranjo espacial dos ligantes) ou não estéreoespecifico (parcialmente retenção e inversão do arranjo espacial dos ligantes). Esquema 9. Substituição núcleofila em complexos. Ln-1MX + Nu Ln-1MNu + X 2.4.2. Substituição em complexos ML4 Devido ao número relativamente pequeno de complexos tetraédricos as reações de substituição núcleofila nesses complexos não foram estudadas sistematicamente. Figura 66. Substituição em complexos ML4 quadráticos planar. Dos complexos quadráticos planar, especialmente as substituições núcleofilas nos complexos de Rh+, Ir+, Pt2+, Pd2+, Ni2+ e Au3+ foram estudados. Neste tipo de complexos a substituição ocorre geralmente via um mecanismo associativo como mostra a Figura 66. Como revela esta Figura a substituição ocorre com retenção da configuração do complexo, ou seja, um complexo cis é transformadonum complexo cis e um complexo trans em um complexo trans. 86 A velocidade da reação aumenta para os diversos cátions na seqüência Pt(II) < Pd(II) < Ni(II) < Au(III). Como estes cátions agem com ácidos de Lewis moles a velocidade da reação aumenta com a moleza do núcleofilo nas seqüências: F- < Cl- < Br- < I- ; R2O < R2S; R3N < R3P; Cl- < R3S < P3P. Figura 67. Efeito trans. Também os ligantes que permaneçam no complexo influenciam a reação aumentando a velocidade dos ligantes em posição trans. Este efeito trans, ilustrado na Figura 67, aumenta na seqüência: F-, H2O, OH- < NH3 < py < Cl- < Br- < I-, SCN-, NO2-, SC(NH2)2, Ph- < SO32- < PR3, AsR3, SR2, CH3- < H-, NO, CO, CN-, C2H5. 2.4.3. Isomerização em complexos ML5 Complexos do tipo ML5 são geralmente mais raros que complexos ML4 ou ML6 e, portanto as reações de substituição nesses complexos não foram estudadas sistematicamente. Além disso, estes complexos sofrem fácil transformação de seus isômeros como mostra a Figura 68. Devido ao movimento dos ligantes o complexo trigonal piramidal pode assumir temporariamente a estrutura quadrática piramidal e depois da reconstituição da estrutura trigonal os ligantes podem mudar de uma posição equatorial para uma posição axial. Figura 68. Pseudo-rotação de Berry em complexos ML5. 2.4.4. Substituição em complexos ML6 A Figura 69 mostra o mecanismo associativo para substituição núcleofila em complexos octaédricos, que geralmente é observado para complexos com 87 cátions maiores e/ou maior carga positiva. Como nos complexos quadráticos planar há neste caso retenção da configuração do complexo e também observa-se o efeito trans dos ligantes que permanecem no complexo. Figura 69. Substituição associativa em complexos octaédricos. O mecanismo dissociativo da substituição, que se observa geralmente para complexos de cátions pequenos e/ou com pequena carga positiva é mostrado na Figura 70. Este mecanismo resulta como revela esta Figura em cinco diferentes isômeros do produto, ou seja, que neste caso há inversão (parcial) da configuração. Figura 70. Substituição dissociativa em complexos octaédricos. 88 3. A origem das cores Cor é uma propriedade da matéria que fascina a humanidade desde a idade de pedra como mostram diversas imagens rupestres. A experiência e educação associam certas cores com certas emoções no ser humano Por exemplo vermelho é associado ao fogo e possui um efeito alarmante mesmo sem a presença real do fogo. Portanto existem diversos ensaios de descrever e descobrir o efeito de cor especialmente na arte como, por exemplo, a teoria de cores de Goethe e Itten exemplificado nos discos cromáticos da Figura 71. (a) (b) Figura 71. Discos cromáticos de (a) Goethe44; (b) Itten45. No sentido técnico cor é a impressão sensual mediado pelo olho humano. Fisicamente luz visível se difere dos outros tipos de radiação eletromagnética somente pela sua energia como mostra Tabela 19. Tabela 19. Cor, freqüência e comprimento de onda da radiação eletromagnética.46 Tipo de radiação Freqüência (1014 Hz) Comprimento de onda (nm) Energia por fóton (10-19 J) Raios X e raios γ ≥ 103 ≤ 3 ≥ 103 Ultravioleta 8,6 350 5,7 Luz visível violeta 7,1 420 4,7 azul 6,4 470 4,2 verde 5,7 530 3,8 amarelo 5,2 580 3,4 laranja 4,8 620 3,2 vermelho 4,3 700 2,8 Infravermelho 3,0 1000 2,0 Microondas e ondas de rádio ≤ 10-3 ≥ 3 ⋅106 ≤ 10-3 89 Esta pequena parte da radiação eletromagnética entre 400 e 700 nm decompõe nas células sensíveis do olho três proteínas com máximas de adsorção a 570 (vermelho) 530 (verde) e 420 nm (azul), respectivamente. Esta decomposição excita os nervos com uma força dependendo da intensidade da luz com o respectivo comprimento de onda. A difração da luz visível, por exemplo, com um prisma permite desdobrar a luz visível nas diversas cores (do arco íris) como mostra a Figura 72. Juntando a luz de menor (vermelho) e maior (violeta/roxa) energia permite a construção de um ciclo de cores como mostra a Figura 73. Figura 72. Espectro de luz visível (arco íris)47. Figura 73. Ciclo de cores do espectro de luz visível.47 90 Misturando e simultaneamente aumentando a intensidade destas cores podemos simular a reflexão total de todas as cores espectrais por um corpo, que resulta na impressão “branco” como mostra a Figura 74a. Por outro lado a adsorção completa das cores espectrais provoca a impressão “preta”, como ilustra Figura 74b. A adsorção (ou reflexão) parcial das cores da a impressão de cinza como revela Figura 74c. (a) (b) Rot = vermelho Orange = laranja Gelb = amarelo Gelbgrün = amarelo esverdeado Grün = verde Blaugrün = azul esverdeado Cyan (Türkis) = turquesa Grünblau = verde azulado Blau = azul Violett = roxo Purpur = purpúreo Blaurot = azul avermelhado (c) Figura 74. Discos cromáticos: (a) reflexão total (branco)47; (b) adsorção total (preto); 47 (c) reflexão/adsorção com intensidade média (cinza)48. Estas impressões de claridade e escuridão não somente resultam na mistura de todas as cores, mas já na mistura de duas cores em posições opostas do disco cromático. Na Figura 74c alguns dessas cores 91 complementares são indicados. Caso um corpo adsorve uma cor especifica sua cor complementar aparentemente aumenta na luz visível e é percebida pelo olho humano. A Tabela 20 mostra a relação entre a cor adsorvida e a cor percebida. Tabela 20. Relação entre cor da luz adsorvida e a impressão de cor percebida pelo observador.49 Comprimento de onda da luz adsorvida (nm) Cor da luz adsorvida Percepção de cor (cor observada) 730 púrpura verde 640 vermelha azul-verde 590 laranja azul 550 amarela índigo-azul 530 amarelo-verde violeta 510 verde púrpura 490 azul-verde vermelha 450 azul laranja 425 índigo-azul amarela 400 violeta amarelo-esverdeada A luz adsorvida por um complexo depende de diversos fatores como o cátion central, o número e o tipo de ligantes e da estrutura do complexo. Já pequenas mudanças na composição química de um complexo podem resultar numa impressão de cor completamente diferente. Figura 75. “São Lucas” de Hendrick ter Brugghen com metade do manto com a impressão de cor (cinza) depois da transformação da coordenação de cobalto pela decomposição do pigmento e a outra metade com a impressão de cor original reconstruído considerando a coordenação de cobalto no pigmento original.50 92 Um exemplo para uma mudança de cor causada por alteração da composição química é mostrado na Figura 75 que mostra uma pintura do século XVII. No lado direto a cor do manto mostra a impressão atual. Uma analise do pigmento mostrou que ele contém atualmente cobalto octaedrica- mente coordenado por seis átomos de oxigênio. Sabe-se, porém que no esmalte usado originalmente como pigmento o cobalto é coordenado tetraedricamente por quatro átomos de oxigênio. Neste caso o complexo adsorve luz amarela resultando na impressão de azul-indigo forte reconstruído por simulação gráfica na parte esquerdo do manto. O complexo octaédrico atualmente presente no pigmento adsorve luz de maior energia fora na faixa de luz visivel. Como esta adsorção não pode ser percebida a impressão atual de cor é cinza (incolor). 93 4. Teoria do campo cristalino 4.1. Desdobramento dos orbitais d em campos de simetria ocatédrica A teoria do campo cristalino é uma descrição grosseira de complexo, mas capaz de ilustrar e descrever muitas propriedades dos complexos de metais de transição. A primeira grande simplificação da teoria do campo cristalino é a suposiçãoque tanto o cátion de metal como os ligantes são tratados como cargas pontuais (no caso dos ligantes cargas aniônicas ou dipolares). Assim a ligação entre cátion e os ligantes pode ser calculada semelhante como fizemos na descrição da ligação iônica considerando a atração entre as cargas positivas do cátion e as cargas negativas dos ligantes e a repulsão entre as cargas negativas dos ligantes e os elétrons na subcamada d do cátion. Nestas primeiras duas etapas assume-se, que o campo elétrico dos ligantes possui uma simetria esférica. O fato que o arranjo dos ligantes resulta num campo elétrico de outra simetria é considerado numa terceira etapa que considera a influência da simetria do campo cristalino à energia dos orbitais d do cátion. O principio do método da teoria do campo cristalino é mostrado na Figura 76. Como pode ser visto nesta Figura a redução da simetria esférica para simetria do campo cristalino, que é no exemplo mostrado octaédrica resulta numa supressão da degeneração dos orbitais d. Embora a mudança da energia dos orbitais d causada pelo campo cristalino dos ligantes é menor (ca. 10 %) que a contribuição das forças eletrostáticas para ligação cátion-ligantes este desdobramento da energia dos orbitais determina muitas propriedades dos complexos de metais de transição. En er gi a (u . a . ) íon livre + ligantes Atração íon-ligantes no campo esférico Repulsão ligantes-elétrons d no campo esférico Desdobramento ∆∆∆∆ο ο ο ο dos orbitais d no campo ligante octaédrico Lei de Coulomb Teoria do campo cristalino e g t 2g Orbitais d degenerados Orbitais d degenerados Orbitais d degenerados menor repulsão maior repulsão Figura 76. Descrição de complexos de metais de transição na teoria do campo cristalino. 94 A Figura 77 ilustra o desdobramento dos orbitais d num campo octaédrico mais detalhada junto com os respectivos orbitais do metal. Esta comparação permite entender qualitativamente a causa do desdobramento. Um complexo octaédrico pode ser imaginado com os seis ligantes localizados nos eixos x, y e z e o cátion no centro. Assim a interação entre os ligantes e os orbitais com lobos localizados nos eixos resulta numa desestabilização desses orbitais (dx2-y2 e dz2) enquanto os outros orbitais (dxy, dxz, dyz) com lobos localizados entre os eixos são estabilizados. Como é mostrada na Figura 77 os orbitais (dx2-y2 e dz2) que são duas vezes degenerados são simbolizado por eg e os orbitais (dxy, dxz, dyz), que são três vezes degenerados por t2g. Esta nomenclatura resulta do tratamento matemático do desdobramento na teoria de grupos. Como nos vamos restringir nossas considerações numa descrição mais ou menos qualitativa não vamos tratar esse assunto aqui é considerar os símbolos eg e t2g somente como “nome” para esses orbitais. dxy dyz dzx dx2-y2 dz2 Figura 77. Desdobramento dos orbitais d num campo cristalino com simetria octaédrica. Em outras apresentações da teoria do campo cristalino os orbitais eg são denominados dγ e os orbitais t2g de dε.. A diferença da energia entre os orbitais En er gi a (u . a . ) 22 yxd − 2zd xyd xzd yzd 22 yxd − 2zd xyd xzd yzd ∆∆∆∆o = 10 Dq o∆5 3 0∆5 2 t 2g e g 6 Dq = 4 Dq = 95 eg e t2g é simbolizada por ∆o onde a letra o representa a simetria octaédrica. Em outras apresentações encontra-se o uso da expressão 10 Dq em vez de ∆ο. Como pode ser visto na Figura 77 a energia da estabilização dos orbitais t2g é de (2/5)∆o = 4 Dq e a energia de desestabilização dos orbitais eg é de (3/5)∆o = 6 Dq. Assim a energia da estabilização dos três orbitais t2g é igual a (6/5)∆o que corresponde exatamente a energia de desestabilização dos dois orbitais eg. 4.2. As propriedades óticas de complexos 4.2.1. Transições eletrônicas d-d O desdobramento dos orbitais d é responsável pelas propriedades óticas dos complexos dos metais de transição. A diferença de energia entre os orbitais t2g e eg é geralmente na faixa de energia de luz visível (400 nm < λ < 800 nm), ou seja, entre 25.000 - 12.500 cm-1 . Portanto os complexos dos metais de transição podem absorver luz visível se um elétron do estado fundamental (t2g para complexos octaédricos) é excitado para um orbital de energia maior (eg para os complexos octaédricos). Figura 78. Espectro no UV/vis de [Ti(H2O)6]3+.51 A Figura 78 mostra o espectro observado para a transição entre os estados t2g e eg para o complexo octaédrico [Ti(H2O)6]3+ (configuração eletrônica de Ti3+ d1). Neste caso a energia absorvida (20.300 cm-1) 96 corresponde direitamente do desdobramento ∆o.* Como esta energia corresponde a luz amarela esverdeada a solução do complexo parece violeta (cor complementar). 4.2.2. Cores de compostos de coordenação como função da energia de desdobramento (10 Dq) Como vimos no parágrafo 3 a cor percebida de um complexo é a cor complementar da cor adsorvido pelo complexo. Assim um aumento da energia de desdobramento muda a cor percebida do complexo. O complexo tetraédrico [CoCl4]2- por exemplo adsorve luz de baixa energia (vermelho). Como podemos ver na Figura 74c a cor complementar de vermelho turquesa e, portanto uma solução de [CoCl4]2- aparece com esta cor. Num complexo octaédrico como, por exemplo [Co(H2O)6]2+ o desdobra- mento dos orbitais d é geralmente maior que o de complexos tetraédricos (compare parágrafo 4.6.1 página 101) e o íon hexaquacobalto(II) adsorve luz verde e portanto aparece com a cor complementar purpúreo. Como veremos no parágrafo seguinte o desdobramento também é uma função do tipo de ligante e é, por exemplo, maior para complexos de amina que para complexos aqua. Portanto o complexo [Co(NH3)6]2+ adsorve luz azul com energia maior que a adsorvida pelo íon hexaquacobalto(II) e a solução de hexaminacobalto(II) aparece com a cor complementar amarelo. 4.3. Série espectroquímica A grandeza do desdobramento 10 Dq (∆o) depende do cátion e da natureza dos ligantes. Para os ligantes foi encontrada a seqüência empírica dada no Esquema 10. Nesta assim chamada série espectroquímca os ligantes são ordenados na ordem de desdobramento crescente, ou seja, para o mesmo cátion observa-se um aumento do desdobramento de iodeto para monóxido de carbono. Esquema 10. Série espectroquímica dos ligantes. I- < Br-- < S2- < SCN- < Cl- < N3- < F- < NCO- < OH- < ONO- < C2O42- < H2O < NCS- < NC- < CH3CN < py < NH3 < em < dipy < phen < NO2- < CNO- < P(C6H5)3 < CN- < CO (No caso dos ligantes bidentatos o átomo que age como doador do par de elétrons é escrito em negrito) Desta seqüência empírica podemos concluir que os complexos formados por monóxido de carbono são mais forte que os complexos formados por (por exemplo) os haletos. O alto desdobramento causado pelo monóxido de carbono, ou seja, a grande estabilidade dos complexos formados por ele é responsável por sua toxicidade. A afinidade do CO na formação de um * Para complexos com mais de um elétron na subcamada d a energia de transição é influenciada também pela repulsão dos diferentes elétrons. 97 complexo com a hemoglobina é aproximadamente 325 vezes maior que a do oxigênio. Assim a presença de pequenas quantidades de CO no ar respirado reduz gradualmente a concentração de O2 no sangue é resulta em asfixia. Agitando um tubo contendo sangue e ar com 0,1 % de CO transformar 42 % de O2 hemoglobina em CO hemoglobina. A toxicidade de cianeto, porém não é baseado na formação de um complexo com a hemoglobina, mas numa blocagem da oxidase citocromo c na cadeia respiratória que por sua vez também é causada por monóxido de carbono. Em analogia pode ser encontrada para os mesmosligantes uma seqüência com desdobramento crescendo para os cátions, mostrada no Esquema 11. Esquema 11. Série espectroquímica para metais de transição. Mn2+ < Ni2+ < Co2+ < Fe2+ < V2+ < Fe3+ < Co3+ < Mn4+ < Mo3+ < Rh3+ < Ru3+ < Pd4+ < Ir3+ < Pt4+ 4.4. Energia de estabilização do campo cristalino O desdobramento dos orbitais e a ocupação dos orbitais de menor energia resultam em uma estabilização do complexo em relação ao um complexo no campo esférico (vide Figura 76). A grandeza dessa estabilização (crystal field stabilisation energy ⇒ CFS, ou seja, energia de estabilização do campo cristalino ⇒ EECC) depende alem do desdobramento dos orbitais do número dos elétrons ocupando os mesmos. A Figura 79 mostra a EECC junto com a energia esperada para um campo esférico (entalpia de hidratação - EECC). Observa-se que no caso dos hexaquametais a EECC é zero quando os orbitais d são vazios (d0) ou ocupados pela metade (d5) ou completamente ocupados (d10). Nos dois últimos casos isso se deve ao fato que a energia ganha pela ocupação dos orbitais t2g e consumido pela energia necessária para ocupação dos orbitais eg. Figura 79. Entalpia de hidratação de cátions de metal (2+); círculos abertos valores experimentais círculos fechados EECC subtraída.52 98 4.5. Propriedades magnéticos de complexos (complexos de “spin alto” e de “spin baixo”) Na Figura 80 é ilustrado a ocupação dos orbitais para o desdobramento dos orbitais d num campo cristalino octaédrico nos casos de configuração eletrônica d1,d2 e d3. (a) (b) (c) Figura 80. Ocupação dos orbitais d num campo cristalino com simetria octaédrica para as configurações eletrônicas (a) d1, (b) d2 e (c) d3. Como pode ser vista na Figura 80 a ocupação dos orbitais começa com os orbitais de menor energia (t2g) e segue as regras de Hund, ou seja, os orbitais são ocupados por elétrons desemparelhados ou paralelos. Nos casos da Figura 80 os três orbitais são ocupados sucessivamente por elétrons desemparelhados é a EECC observado é de (2/5)∆o para configuração d1, de (4/5)∆o para configuração d2 e de (6/5)∆o para configuração d3. Para a configuração d4 temos duas possibilidades para acomodação do quarto elétron. Como é ilustrada na Figura 81 a acomodação do quarto elétron depende do desdobramento dos orbitais. Se ∆o é maior que a energia EES necessária para emparelhar dois elétrons no mesmo orbital o quatro elétron ocupa um orbital t2g e a EECC* do complexo aumenta em relação ao complexo com configuração d3. Caso contraria ∆o < EES o quarto elétron é acomodado num orbital eg e a EECC diminui em relação ao complexo com configuração d3. * EECC para d4 spin baixo = (8/5)∆0-EES > (6/5)∆o; EECC para d4 spin alto = (3/5)∆o. 99 En er gi a (u . a. ) ↑ ↑↑↑ ↑↑↑ ↑ ↑↓ ↑ ↑ Campo forte: ∆∆∆∆o > EES Complexo de "spin baixo" Campo fraco: ∆∆∆∆o < EES Complexo de "spin alto"para d 4 , d 5 , d 6 , d 7 Figura 81. Ocupações possíveis (“spin baixo” e “spin alto”) dos orbitais d num campo cristalino com simetria octaédrica para a configuração eletrônica d4. O segundo caso onde todos os elétrons são desemparelhados como é previsto pela regra de Hund é chamado de complexo de “spin normal” ou complexo de “spin alto”, por que neste caso a soma dos spins dos elétrons é máxima. O segundo caso onde encontramos contra a previsão da regra de Hund elétrons emparelhados é chamado de complexo de “spin baixo”, por que neste caso a soma dos spins dos elétrons é mínima. Como é indicada na Figura 81 podemos observar complexos de “spin alto” e de “spin baixo” em caso de complexos octaédricos para as configurações eletrônicas d4, d5, d6 e d7. Tabela 21. Configuração eletrônica e estabilização do campo cristalino para complexos octaédricos. Configuração eletrônica do cátion Exemplos Configuração eletrônica de complexos octaédricos Energia de estabilização do campo cristalino* “spin alto”† (elétrons desemparelhados) “spin baixo” (elétrons desemparelhados) Spin alto Spin baixo d0 Ca2+, Sc3+, Ti4+, V5+ t2g0, eg0 (0) - 0 - d1 Ti3+, V4+ t2g1, eg0 (1) - 0,4 - d2 Ti2+, V3+ t2g2, eg0 (2) - 0,8 - d3 V2+, Cr3+ t2g3, eg0 (3) - 1,2 - d4 Cr2+, Mn3+ t2g3, eg1 (4) t2g4, eg0 (2) 0,6 1,6 ΣΣΣΣ ms = 4/2 = 2 ΣΣΣΣ ms = 2/2 = 1 100 Tabela 21. Configuração eletrônica e estabilização do campo cristalino para complexos octaédricos. Configuração eletrônica do cátion Exemplos Configuração eletrônica de complexos octaédricos Energia de estabilização do campo cristalino* “spin alto”† (elétrons desemparelhados) “spin baixo” (elétrons desemparelhados) Spin alto Spin baixo d5 Mn2+, Fe3+ t2g3, eg2 (5) t2g5, eg0 (1) 0 2,0 d6 Fe 2+ , Co3+, Pt4+ t2g 4 , eg 2 (4) t2g6, eg0 (0) 0,4 2,4 d7 Co2+ t2g5, eg2 (3) t2g6, eg1 (1) 0,8 1,8 d8 Ni 2+ , Pd2+, Pt2+ t2g 6 , eg 2 (2) - 1,2 - d9 Cu2+ t2g6, eg3 (1) - 0,6 - d10 Cu+, Zn2+, Cd2+, Hg2+, Ga3+ t2g6, eg4 (0) - 0 - *em unidades de ∆o sem a EES; †complexos de “spin alto” também são chamados de “spin normal” porque seguem a regra de Hund e possuem o número máximo de elétrons desemparelhados; complexos diamagnéticos. A Tabela 21 enumera as configurações eletrônicas observadas para complexos octaédricos junto com o número dos elétrons desemparelhados é o valor aproximado para EECC encontrado para cada configuração. Observa-se na Tabela 21 , que a EECC para os complexos de “spin baixo” é pelo menos 1 ∆o maior que para os complexos de “spin alto”. Figura 82. Determinação da suscetibilidade magnética com a balança de Gouy. 101 A diferenciação entre complexos de “spin alto” e de “spin baixo” pode ser feito pela determinação da suscetibilidade magnética cujo principio é ilustrada na Figura 82. Nessa balança de Gouy a amostra está equilibrada entre os pólos de um eletroímã quando o campo magnético é ligado é a amostra entra em interação com o campo magnético. Em caso de amostras paramagnéticas (Figura 82a) esta interação (suscetibilidade) é proporcional ao número de spins desemparelhados na amostra a qual é atraída pelo campo magnético, ou seja, um complexo com “spin alto” possui uma suscetibilidade magnética maior que um complexo de “spin baixo”. Caso todos os elétrons da amostra são emparelhados, ou seja, a amostra é diamagnética a suscetibilidade é negativa é a amostra é empurrada para fora do campo (Figura 82b). A determinação da suscetibilidade de um complexo é um método relativamente simples para obter informações sobre a estrutura do complexo, a valência do cátion ou número de coordenação etc. 4.6. Desdobramento dos orbitais d em outras simetrias 4.6.1. Desdobramento em simetria cúbica e tetraédrica Além de complexos octaédricos outras estruturas são possíveis. A Figura 83 mostra como exemplo um complexo tetraédrico. Figura 83. Desdobramento num campo tetraédrico e cúbico (desdobramento cúbico = 2 ×××× desdobramento tetraédrico).53 102 A relação dos ligantes em relação aos eixos dos coordenados deixa reconhecer que neste complexo os ligantes interagem mais com os orbitais dxy, dxz e dyz localizados entre os eixos e menos com os orbitais dx2-y2 e dz2. Por isso os últimos são estabilizados e os primeiros destabilizados como é ilustrado na Figura 84. Os termos de simetria para estes orbitais são na simmetria tetredrcia e para os orbitais dx2-y2 e dz2 e t2 para os orbitais dxy, dxz e dyz. Como complexos tetraédricos possuem menos ligantes que complexos octaédricos e que ainda são mais afastados dos orbitais o desdobramento ∆tdcausado pelo campo tetraédrico é aproximadamente somente (4/9)∆o. Ou seja, complexos tetraédricos possuem uma EECC menor que os complexos octaédricos e absorvem luz com energia menor. A Figura 83 revela que em campos cúbicos o desdobramento é igual ao desdobramento em campos tetraédricos. Mas devido ao número de ligantes duas vezes maiores a energia do desdobramento dobra em comparação a um complexo tetraédrico. Uma outra diferença é que a designação dos orbitais na simetria cúbica volta a ser eg e t2g. 4.6.2. Desdobramento em simetria tetragonal (bipirâmide quadrático) e quadrática Figura 84. Desdobramento dos orbitais d em complexos octaédricos, tetragonais e quadráticos.54 103 A Figura 84 mostra a transição do campo octaédrico para o campo quadrático via um campo tetragonal que é obtido pelo afastamento dos ligantes localizados no eixo z. Este afastamento dos ligantes estabiliza os orbitais contendo componentes z, ou seja, os orbitais dz2, dxz e dyz e desestabiliza os orbitais orientados no plano xy como dx2-y2 e dxy. Caso os ligantes localizados no eixo z são removidos completamente obtemos um campo quadrático como é mostrado na Figura 84. Como pode ser visto nessa Figura o desdobramento no campo quadrático ∆q é aproximadamente (7/4)∆o o que é bem maior que o desdobramento observado para complexos tetraédricos. Isso resulta numa EECC maior para os complexos quadráticos e explica por que muitos complexos com coordenação 4 são quadráticos embora a coordenação tetraédrica seja favorecida por causa a maior distância entre os ligantes. A Tabela 22 compara as energias de estabilização do campo cristalino (EECC) para complexos de “spin alto” e de “spin baixo” com coordenação tetraédrica e quadrática. Como esta lista revela a estabilidade dos complexos quadráticos é bem maior que a dos complexos tetraédricos que geralmente somente são observados quando a repulsão entre os ligantes supera a EECC fornecida pela coordenação quadrática. 4.6.3. Desdobramento em simetria tetragonal (pirâmide quadrático), trigonal (bipirâmide trigonal) e pentagonal (bipirâmide pentagonal) Figura 85. Desdobramento num campo bi-piramidal (trigonal e pentagonal) e quadrático piramidal.55 104 Na Figura 85 são mostrados os desdobramentos dos orbitais em simetria tetragonal, trigonal e pentagonal em comparação com o desdobramento num complexo octaédrico. As respectivas estruturas como pirâmide quadrático e bipirâmide trigonal ou bipirâmide pentagonal podem ser realizados em compostos intermediarias de reação de substituição núcleofila por um mecanismo dissociativo (vide parágrafo 2.4.4, página 86) ou associativo e as EECC desses compostos intermediários podem às vezes explicar a preferência de um ou outro mecanismo ou da estrutura do composto intermediário. Tabela 22. Energia de estabilização do campo cristalino para complexos tetraédricos e quadraticos de “spin alto” e “spin baixo”.* Configuração eletrônica do cátion Campo fraco (“spin alto”) Campo forte (“spin baixo”) tetraédrico octaédrico diferença tetraédrico† octaédrico diferença d0 0 0 0 0 0 0 d1 0,27 0,51 0,24 0,27 0,51 0,24 d2 0,54 1,02 0,48 0,54 1,02 0,48 d3 0,36 1,45 1,09 0,81 1,45 0,64 d4 0,18 1,22 1,04 1,08 1,96 0,88 d5 0 0 0 0,90 2,47 1,57 d6 0,27 0,51 0,24 0,72 2,90 2,18 d7 0,54 1,02 0,48 0,54 2,67 2,13 d8 0,36 1,45 1,09 0,36 2,44 2,12 d9 0,18 1,22 1,04 0,18 1,22 1,04 d10 0 0 0 0 0 0 *em unidade de ∆o sem EES; †devido ao desdobramento ∆td pequeno que é menor que a EES complexos tetraédricos de “spin baixo” não são observados. 4.6.4. Desdobramento em simetria linear e antiprismatico quadrado A Figura 86 e a Figura 87 mostram o desdobramento dos orbitais em complexos lineares e antiprismatico quadrado, respectivamente. Estas Figuras revelam que ambos os casos mostram um desdobramento parecido dos orbitais dxz/dxy e dxy/dx2-y2. Somente o orbital dz2 mostra um desdobramento diferente nas duas simetrias. Enquanto esse orbital é desestabilizado num complexo linear ele é estabilizado num complexo antiprismatico quadrado. Figura 86. Desdobramento num campo linear.56 105 Figura 87. Desdobramento num campo antiprismatico quadrado.56 4.7. Efeito Jahn-Teller A ocorrência de complexos com coordenação tetragonal é uma conseqüência do efeito “Jahn-Teller”. Segundo o teorema para moléculas não- lineares estados eletrônicos degenerados não são estáveis e, portanto a molécula é deformada para suprimir a degeneração. Este efeito é ilustrado para complexos ocatédricos de configuração d1 e d2 na Figura 88. En e rg ia (u . a . ) 22 yxd − 22 yxd − 22 yxd − 2z d 2z d 2zd 2z d 2z d d2d1 22 yxd − 22 yxd − dxy dxy dxy dxy dxy dxz dxz dxz dxz dxz dyz dyz dyz dyz dyz ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ Figura 88. Efeito “Jahn-Teller” para complexos com configuração eletrônica d1 e d2. Como pode ser visto para estas configurações eletrônicas o estado fundamental em complexos octaédricos é degenerado, ou seja, na configuração d1 o elétron e na configuração d2 a lacuna podem ser localizado em qualquer dos orbitais dxy, dxz ou dyz. O afastamento dos ligantes localizados no eixo z, como é demonstrado na parte direita da Figura 88, estabiliza os orbitais dxz e dyz que na configuração d2 são ocupados com os dois elétrons desemparelhados. Para a configuração d1 esta deformação resultaria também 106 num estado fundamental degenerado por que o elétron poderia ser localizado tanto no orbital dxz como no orbital dyz. Neste caso esperamos uma aproximação dos dois ligantes localizados no eixo z o que destabiliza, como é mostrado na parte esquerda da Figura 88, os orbitais dyz e dxz enquanto o orbital dxy ocupado pelo elétron é estabilizado resultando num estado fundamental não degenerado. A Tabela 23 mostra para quais complexos octaédricos o “Efeito Jahn-Teller” é esperado. Tabela 23.Configurações eletrônicas com Efeito “Jahn-Teller” em complexos octaédricos. Configuração eletrônica do cátion Exemplo Complexo de Ocupação dos orbitais no complexo d1 Ti3+ - t2g1 d2 Ti2+, V3+ - t2g2 d4 Cr2+, Mn3+ Spin alto t2g3eg1 d4 Cr2+, Mn3+ Spin baixo t2g4 d5 Mn2+, Fe3+ Spin baixo t2g5 d6 Fe2+, Co3+ Spin alto t2g4eg2 d7 Co2+, Ni3+ Spin alto t2g5eg2 d7 Co2+, Ni3+ Spin baixo t2g6eg1 d9 Cu2+ - t2g6eg3 Como exemplo para o “Efeito Jahn-Teller” forte a Tabela 24 mostra as distâncias cátion-ligante observadas no plano xy e ao longo do eixo z para os haletos de cobre(II). Tabela 24. Distâncias cátion-ligante em complexos octaédricos de halogentos de Cu(II) ([CuX4X2’]4-).57 Haleto X- Distância no plano xy Cu-X (Å) Distância no eixo z Cu-X’ (Å) Diferença (%) F- 1,93 2,27 18 Cl- 2,30 2,95 28 Br- 2,40 3,18 33 Estas considerações mostram que a teoria de campo cristalino, embora um modelo relativamente grosseira, permite explicar ou prever muitas propriedades e irregularidades do comportamento esperado para estruturas ideais como coordenação octaédrico regular para os complexos de metais de transição. 107 5. Teoria do campo ligante 5.1. Falhas da teoria do campo cristalina Embora o modelo de cargas pontuais utilizada na Teoria de Campo cristalino é grosso ele permite a descrição de diversos fenômenos como anomalias no comportamento magnético de complexos (complexos de spin baixo), a descrição dos espectros óticos é a determinação da energia de estabilização do campo cristalino. Por outro lado esta teoria falha na explicação (descrição) da serie espectroquímica, mostrado no Esquema 10, página 96, onde estão ordenados empiricamente diversos ligantes com crescente desdobramento10 Dq. Uma tentativa de explicar esta serie espectroquímica poderia ser a utilização de um modelo mais real com ligantes com extensão finita. Como é esquematizada na Figura 89. Figura 89. Interação entre ligantes reais (com extensão finita e orbital atômicos do tipo eg (por exemplo: dx2-y2; lobos A e A´) e orbitais atômicos do tipo t2g (por exemplo: dxy; lobos B e B´). (Para maior clareza somente metade dos lobos dos orbitais dx2-y2e dxy é mostrada).58 Esta Figura demonstra que na interação dos orbitais eg com ligantes extensos não somente existe repulsão entre os elétrons dos ligantes e os elétrons nos orbitais eg, mas também atração entre os elétrons nos orbitais eg (lobos A´e A). Esta atração estabiliza os elétrons nos orbitais eg e, portanto sua desestabilização não seria tão grande como previsto pela teoria do campo cristalina. Por outro lado existem devido á extensão da camada eletrônica dos ligantes repulsõs entre os elétrons dos ligantes e os elétrons dos orbitais eg (lobos B´e B) sem que esta repulsão seja compensada pela atração entre os núcleos dos ligantes e os elétrons nos orbitais eg (como pode ser visto na Figura 89 há uma distancia maior entre os núcleos dos ligantes e os lobos B e 108 B´ que entre os núcleos e os lobos A e A´). Realizando um calculo coreto, que considera a atração entre os núcleos dos ligantes e os elétrons nos orbitais eg demonstra que não os orbitais eg como prevê a teoria do campo cristalino, mas os orbitais t2g seriam desestabilizados. Isto mostra que um modelo mais “real” que não utiliza cargas pontuais não pode explicar o desdobramento dos orbitais d, que é realmente observado nos espectros de complexos metálicos. É interessante de ressaltar o fato que a teoria do campo cristalino é fisicamente sem significado, ou seja, trabalho com conceitos que não correspondem à realidade física, mas resulta numa descrição no mínimo qualitativamente correta dos fatos (espectros, propriedades magnéticas etc.) e até permite cálculos quantitativos sem grandes esforços matemáticos. 5.2. Construção de orbitais moleculares de complexos com orbitais de simetria adaptada dos ligantes Como foi demonstrado para descrição de ligações metálicas, iônicas e covalentes a Teoria do Orbital Molecular (OM) é atualmente a mais abrangente teoria para descrição de ligações químicas. A aplicação dessa teoria para descrição de complexos é ilustrada para complexos hexaqua de metais do quarto período na Figura 90. Esta Figura mostra a formação de ligações σ ligantes por combinação linear dos orbitais atômicos (OA) (n+1)s, (n+1)p e ndz2 e ndx2-y2 (orbitais eg) do metal com OM´s de simetria adaptada, obtidos por combinação linear dos OA ou OM ϕn dos ligantes 1 – 6. Tabela 25. Orbitais atômicos do metal e orbitais de simetria adaptada utilizada na formação de ligações s em complexos octaédricos. Orbital atômico do metal Simetria degeneração Orbital de simetria adaptada dos ligantes (n+1)s a1g 1 ϕ1 + ϕ2 + ϕ3 + ϕ4 + ϕ5 + ϕ6 (n+1)px t1u 3 ϕ1 − ϕ3 (n+1)py ϕ2 − ϕ4 (n+1)pz ϕ5 − ϕ6 ndz2 eg 2 2ϕ5 + 2ϕ6−ϕ1 − ϕ2 − ϕ3 − ϕ4 ndx2-y2 ϕ1 − ϕ2 + ϕ3 − ϕ4 ndxy t2g 3 Não formam ligações σ, orbitais não ligantes ndxz ndyz A Figura 90 revela, que, por exemplo, o orbital (n+1)s com a simetria a1g é combinado com um orbital obtido pela combinação positiva dos seis orbitais dos ligantes ϕn. Todas as combinações entre os orbitais atômicos do metal e dos orbitais de simetria adaptada são enumeradas na Tabela 25, enquanto as representações gráficas desses orbitais são mostradas na Figura 91. A Figura 92 mostra o desdobramento dos orbitais resultante da combinação linear dos AO do metal e dos OM de simetria adaptada dos ligantes. Como pode ser visto nesta Figura os elétrons do metal ocupam, como se encontrou também com a teoria do campo cristalino os orbitais t2g (= orbitais não ligantes) e eg (orbitais σ*). Dependendo da grandeza do desdobramento 109 dos orbitais t2g e eg podemos observar a formação de complexos de spin alto e de spin baixo de igual maneira como se explicou com a teoria do campo cristalino (Figura 93). Figura 90. Formação de OM σσσσ ligantes pela combinação linear dos orbitais (n+1)s, (n+1)p e n eg de metais e orbitais de simetria adaptada dos ligantes.59 110 Figura 91. Representação dos orbitais atômicos do metal e dos orbitais moleculares de simetria adaptada.60 111 Figura 92. Desdobramento energético dos OM das ligações σσσσ em complexos octaédricos. 61 112 Figura 93. Desdobramento energético dos OM das ligações s para complexos de spin alto (esquerda) e de spin baixo (direita) em complexos octaédricos. 62 (a) (b) Figura 94. (a) Combinação de orbitais p (exemplo Cl-) e orbitais t2g formando ligação pipipipi (doador); (b) Combinação de orbital pipipipi* (exemplo CN-) e orbitais t2g formando ligação pipipipi (receptor).63 113 A diferença dessa teoria do campo ligante com a teoria do campo cristalino é que na teoria do campo ligante a combinação de orbitais dos ligantes com os orbitais t2g do metal pode ser considerada. A Figura 94a mostra a combinação linear de orbitais p do ligante com um orbital t2g (dxy ou dxz ou dxy) do metal e a Figura 94b a combinação de um orbital pi* do ligante com um orbital t2g. A combinação desses orbitais resulta na formação de OM do tipo pi e como mostra a Figura 95 os orbitais t2g, que estavam orbitais não ligantes formam em combinação com os orbitais p ou pi* dos ligantes OM ligantes e antiligantes. Caso os orbitais dos ligantes são ocupados (Figura 95a) estes elétrons são doados ao complexo (ligação p doador) e os elétrons originalmente ocupando os orbitais não ligantes t2g ocupam agora orbitais pi* que são energeticamente mais próximas dos orbitais eg. Desta maneira a formação de uma ligação pi doador diminua o valor de ∆o ou 10 Dq no complexo. Por outro lado se os orbitais dos ligantes são vazios (Figura 95b) como, por exemplo, os orbitais pi* de monóxido de carbono os ligantes recebem no complexo os elétrons do metal, ou seja, se forma uma ligação pi receptor. Agora os elétrons dos orbitais t2g ocupam orbitais pi ligantes energeticamente mais longe dos orbitais eg. Desta maneira a formação de uma ligação pi receptor aumenta o valor de ∆o ou 10 Dq no complexo. (a) (b) Figura 95. (a) desdobramento dos OM na formação de ligação pipipipi doador; (b) desdobramento dos OM na formação de ligação pipipipi receptor.64 O Esquema 12 mostra ligantes representativos e seu efeito doador opu receptor na formação de ligações pi. Como mostra este Esquema o desdobramento ∆o cresce dos ligantes doadores (haletos) aos ligantes receptores (PR3, CO). Esta seqüência é a mesma observada na série 114 espectroquímca (parágrafo 4.3, Esquema 10, página 96) e a assim pode ser atribuído ao efeito pi dos ligantes. Esquema 12. Ligantes representativos e seu efeito pipipipi. desdobramento ∆o crescente doador pipipipi doador pipipipi fraco sem efeito pipipipi receptor pipipipi I-, Br-, Cl-, F- H2O NH3 CN-, PR3, CO 115 6. Teoria da ligação de valência 6.1. Teoria do orbital molecular vs. Teoria da ligação de valência Na teoria do orbital molecular descrito no parágrafo 6 da Apostila Química Inorgânica I a ligação química é explicada com a combinação linear dos orbitais atômicos χk resultando em orbitais moleculares ϕi como é ilustrado no Esquema 13. Estas combinações resultam em OM ligantes, não ligantes e antiligantes como é discutido não somente na Apostila Química Inorgânica I, mas também no parágrafo 5 dessa Apostila. Esquema 13. Combinação linear de orbitais atômicos á orbitais moleculares. ϕi= Σ cki ⋅χk Embora a teoria do orbital molecular seja uma ferramenta poderosa para descrição das ligações químicas em compostos metálicos, covalentes e iônicos é considerada uma desvantagem que os orbitais moleculares não descrevem ligações localizadas entre átomos específicos (ver Figura 96) como corresponde às idéias gerais da química. Em alguns casos como, por exemplo, a molécula de metanos porem a localização dos orbitais moleculares é possível como mostra a Figura 97. Figura 96. Ilustração esquemática dos MO ligantes da molécula de metano (CH4)65. Figura 97. Ilustração esquemática dos MO ligantes localizados da molécula de metano (CH4)65. Neste caso o modelo se assemelha a um outro modelo conhecido como teoria da ligação de valência. Embora esta teoria seja obsoleta ela é ainda muito utilizada, especialmente em livros de textos mais antigos. Portanto resumir aqui esta teoria e como ela explica os compostos de coordenação. 116 Na teoria da ligação de valência a ligação química é explicada pela interação de um elétron desemparelhado num orbital atômico com um elétron desemparelhado num orbital de um outro átomo. Assim os dois elétrons são indistinguíveis, como mostra o e a descrição matemática dessa situação mostra Esquema 14 uma diminuição da energia, ou seja, a formação de uma ligação. Esquema 14. Distribuição dos elétrons numa molécula de H2 segundo a teoria da ligação de valência. (a) Ha⋅1 Hb⋅2 (b) Ha⋅2 Hb⋅1 Como a descrição resultando da teoria de valência corresponde muito às estruturas de Lewis esta teoria era muito utilizado na química. Uma outra razão de seu sucesso era devido ao fato, que as primeiras aplicações da teoria do orbital molecular não se aproximavam tão bem aos valores experimentais como os valores determinados com a teoria da ligação de valência, com revela a Tabela 26. Tabela 26. Comparação de valores experimentais com os valores determinados pela teoria da ligação de valência e da teoria do orbital molecular para H2. Propriedade Experimento Teoria da ligação de valência Teoria do orbital molecular* Energia total (eV) - 31,940 - 30,335 - 29,876 Distancia dos núcleos (pm) 74,17 86,9 85,0 Energia de ligação (eV) - 4,745 - 3,14 - 2,68 *sem as correções aplicadas atualmente. 6.2. Orbitais híbridos e ligações covalentes Podemos utilizar a teoria da ligação de valência para descrever a formação da molécula de água por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. O átomo de oxigênio possui a configuração eletrônica de valência 2s2 2p4 com dois elétrons desemparelhados nos orbitais p. Assim a teoria de ligação de valência poderia explicar a formação de água (H2O) pela interação dos elétrons dos dois átomos de hidrogênio com os dois elétrons desemparelhados nos orbitais p do oxigênio. Como estes dois orbitais p são perpendiculares um ao outro o ângulo esperado H-O-H pela teoria da ligação de valência seria 90°. Realmente observado, porém é um ângulo de aproximadamente 104,5°. Esta diferença de quase 15° é grande demais para ser explicada pela repulsão entre os átomos de hidrogênio com positiva carga parcial. Ainda mais difícil é a descrição de hidretos de carbono com a teoria da ligação de valência. O carbono possui no estado fundamental a configuração eletrônica 2s2 2p2 com dois elétrons desemparelhados nos orbitais p. Assim a interação desses dois elétrons desemparelhados com os elétrons desemparelhados de dois átomos de hidrogênio resultaria num hidreto com a fórmula CH2 que é um composto instável enquanto o hidreto de carbono é na realidade o metano com a fórmula CH4. 117 Para explicar fenômenos como o ângulo H-O-H na molécula de água e a formação de CH4 a teoria da ligação de valência usa o conceito da hibridação, em qual são construídos orbitais híbridos pela combinação linear de orbitais atômicos s, p e d, como mostra a Equação 7. Esta equação mostra a construção de orbitais híbridos do tipo sp3 a partir de orbitais s e p, cuja geometria tetraédrica é mostrada na Figura 98. A distribuição dos seis elétrons de valência do oxigênio nos quatro orbitais híbridos sp3 resulta em dois orbitais cada um com dois elétrons emparelhados e dois orbitais cada um com um elétron desemparelhado. A interação dos dois elétrons desemparelhados com os elétrons de dois átomos de hidrogênio resulta na formação de ligações σ que pode explicar a formação da molécula de água na estrutura mostrada na Figura 99. Num arranjo tetraédrico ideal o ângulo H-O-H previsto é 109,5° e neste caso a diferença ao ângulo real de 104,5° pode ser explicado pela repulsão entre os pares de elétrons livres que diminua o ângulo entre os átomos de hidrogênio e oxigênio (compare modelo VSEPR, parágrafo 5.2 da Apostila Química Inorgânica I). Equação 7. Combinação linear de orbitais atômicos na construção de híbridos sp3. hy1(sp3) = ½(2s + 2px + 2py + 2pz) hy2(sp3) = ½(2s + 2px - 2py - 2pz) hy3(sp3) = ½(2s - 2px + 2py - 2pz) hy4(sp3) = ½(2s - 2px - 2py + 2pz) Figura 98. Formação de um orbital híbrido sp3.66 Figura 99. Estrutura da molécula de H2O na teoria da ligação de valência.67 Distribuindo os quatro elétrons de valência do átomo de carbono nos quatro orbitais híbridos sp3 cada orbital recebe um elétron desemparelhado cuja interação com os elétrons desemparelhados de quatro átomos de hidrogênio resulta na formação de quatros ligações σ da molécula de metano com uma estrutura semelhante aos orbitais moleculares localizados mostrados na Figura 97. 118 (a) (b) (c) (d) Figura 100. (a) Formação de um orbital híbrido sp2; (b) formação de um orbital híbrido sp; (c) ligação dupla formado por um orbital sp2 e um orbital pz (eteno); (d) ligação tripla formado por um orbital sp e dois orbitais py e pz(etino).68 Orbitais híbridos podem ser formados não somente de um orbital s e três orbitais p formando os quatro orbitais sp3 com arranjo tetraédrico mostrado na Figura 98 mas também por combinação linear de um orbital s com dois orbitais px e py ou com somente um orbital px. No primeiro desses casos se obtém três orbitais híbridos sp2 em arranjo trigonal planar (Figura 100a) e no segundo caso dois orbitais híbridos sp em arranjo linear (Figura 100b). Elétrons desemparelhados nos orbitais atômicos pz ou py e py perpendiculares aos orbitais híbridos sp2 e sp, respectivamente, os quais podem formar ligações σ, também possam interagir com elétrons desemparelhados de orbitais de simetria adequada formando ligações pi, o que resulta em ligações duplas (1 σ e 1 pi) e triplas (1 σ e 2 pi) como nos exemplos mostradas na Figura 100c e d, respectivamente. 119 Figura 101. Formação de duas ligações τ τ τ τ (ligação dupla) por dois orbitais sp3 (ligação de banana).69 Alternativamente a formação de ligações duplas e triplas pode ser descrito na teoria da ligação de valência pela interação de elétrons desemparelhados em 2 ou três orbitais sp3 como mostra a Figura 101 para a ligação dupla na eteno. Tais ligações são chamadas de ligação τ, mas devido à forma da função de onda resultante dessa interação esse modelo é também conhecido como “ligação de banana”. 6.3. Teoria da ligação de valência para compostos de coordenação A teoria da ligação de valência explica a ligação coordenativa dos complexos na seguinte maneira. Orbitais híbridos são formados com orbitais atômicos não ocupados do átomo central, como por exemplo, com o orbital 4s os três orbitais 4p e dois orbitais 4d, o que resulta em seis orbitais híbridos sp3d2 com arranjo octaédrico como mostra a Figura 102 para os complexos [Fe(H2O)6]2+ e [Fe(H2O)6]3+. Estes orbitais interagem com os pares livres de elétrons dos ligantes formando ligações σ. Caso osorbitais híbridos são formados com orbitais vazios do cátion isolado obtém-se um complexo de spin alto, que antigamente também era denominado um complexo de esfera externa (outer sphere complex). Na teoria da ligação de valência complexos de spin baixo são formados se os orbitais híbridos são formados utilizando orbitais ocupados no cátion isolado como, por exemplo, os orbitais 3d nos complexos [Fe(CN)6]4-, [Fe(CN)6]3- e [Fe(CO)5], mostrado na Figura 102. Assim os elétrons do cátion são emparelhados nos restantes orbitais d. Tais complexos de spin baixo eram antigamente também conhecidos como complexos de esfera interna (inner sphere complex). As diversas geometrias dos complexos são explicadas pelo arranjo dos respectivos orbitais híbridos. Orbitais d2sp, por exemplo, formam um arranjo octaédrico enquanto orbitais spd4 formam um prisma trigonal. Por outro lado, em complexos tetraédricos os pares de elétrons livres dos ligantes ocupam orbitais híbridos sp3 ou sd3 enquanto complexos quadráticos possuem orbitais híbridos dsp2. As diversas geometrias de orbitais híbridos construídos com orbitais d são enumeradas na Tabela 27. 120 Figura 102. Exemplos de configuração eletrônica, estrutura e hibridação em complexos explicados pela teoria de ligação de valência. Uma falha da teoria da ligação de valência na explicação da ligação coordenativa revelam as estruturas e configurações eletrônicas dos complexos [Cu((CN)6]3- e [Cu(NH3)4]2+ mostradas na Figura 102. Como nos cátions Cu+ e Cu2+ isolados todos os orbitais 3d são ocupados com pelo um elétron orbitais híbridos somente poderiam ser formados com os orbitais 4s, 4p e 4d do cobre. Para complexos de coordenação 4 se esperaria, portanto em ambos os casos a formação de orbitais híbridos sp3 com arranjo tetraédrico. O íon tetraaminacobre(II) porém possui uma estrutura quadrático planar correspondendo à orbitais híbridos dsp2. Para formar tais orbitais híbridos um elétron dos orbitais d precisa ser promovido a um orbital 4p, o que é energeticamente desfavorável. Em vista dessa e outras insuficiências na explicação dos resultados experimentais a teoria de ligação de valência possui hoje em dia somente interesse histórico. Tabela 27. Geometrias de importantes orbitais híbridos utilizando orbitais d. Orbital híbrido Geometria Número de coordenação dos híbridos sd angular 2 pd linear 2 p2d trigonal planar 3 sd2 trigonal planar 3 pd2 trigonal piramidal 3 sp2d quadrático planar 4 sd3 tetraédrico 4 sp3d trigonal bipiramidal 5 spd3 trigonal bipiramidal 5 sd4 quadrático piramidal 5 sp3d2 octaédrico 6 spd4 prisma trigonal 6 sp3d3 pentagonal bipiramidal 7 d4sp3 antiprisma quadrático 8 121 7. Compostos Organometálicos 7.1. Nomenclatura dos compostos organometálicos A nomenclatura dos compostos organometálicos segue as regras descritas para compostos de coordenação (parágrafo 2.1, página 53). (a) (b) (c) Figura 103. (a) ηηηη1-ciclopentadienil; (b) ηηηη3-ciclopentadienil; (c) ηηηη5-ciclopentadienil.70 Porém muitas vezes o ligante orgânico pode se ligar ao átomo central de maneira diferente como mostra Figura 103 para o grupo ciclopentadienil que pode formar ligações entre, por exemplo, um átomo carbono e o metal (Figura 103a), ou três (Figura 103b) e cinco átomos de carbono e o metal (Figura 103c). Esta possibilidade de ligar-se por vários átomos é conhecida como hapticidade (do grego ηαpiτειν = fixar) e indicado no nome ou na fórmula do composto organometalico como “hapto” representado pela letra η (eta) com um número sobrescrito indicando o número de átomos de carbono ligados ao átomo central. 7.2. Características de compostos organometálicos 7.2.1. Desenvolvimento histórico e características comuns de compostos organometálicos Os primeiros compostos organometálicos foram descobertos no século 19 e incluem um complexo de eteno com Pt(II) (sal de Zeise 1827), cloro- carbonilas de platina (II) como [PtCl2(CO)2] e [PtCl2(CO)2]2 (Schützenberger 1868 e tetracarbonila niquel(0) (Mond, Langer, Quincke, 1890). Importante progressos foram feitos no século 20 como por exemplo a descoberta de compostos de tipo Sandwich como diciclopentadienil ferro(II) ([Fe(C5H5)2]). Por definição entendem-se como composto metalorgânico todos os compostos contendo uma ligação metal – carbono, como é realizado nos complexos de alquenos, carbonilas ou do tipo Sandwich. Assim complexos de ligantes orgânicos como dietilenodiamina coordenado ao metal através de outros átomos não são considerados como compostos metalorgânicos. Desta regra porém existem duas exceções que se explicam das propriedades particulares dos respectivos compostos. A primeira exceção são os ciano complexos como [Fe(CN)6]2+, que embora os ligantes sejam coordenados ao metal pelo átomo de carbono. Esta 122 exceção se deve ao fato, que os ciano complexos são geralmente eletricamente carregados, solúvel em água é com configuração dos elétrons d do metal variável, o que são propriedades consideradas típicas de complexos de metais. Por outro lado compostos metalorgânicos são muitas vezes neutras, com configuração dos elétrons d do metal fixa e solúveis em solvente orgânicos, ou seja, se assemelham mais de compostos orgânicos enquanto os complexos metálicos são sais inorgânicos. A segunda exceção são as fosfinas, geralmente consideradas como compostos metalorgânicos, embora elas possuam ligações metal – fósforo em vez de ligações metal – carbono. Esta classificação é justificada com a semelhança entre a ligação metal – fósforo nas fosfinas e a ligação metal – carbono nas carbonilas. Ambos os átomos não – metálicos possuem um par de eltrons livre altamente básico e nucleofilico que serve como doador de elétrons na formação de ligação σ e orbitais pi* vazios que recebem elétrons de metal formado ligação pi receptor. 7.2.2. Configuração eletrônica de metais em compostos organometálicos A Tabela 28 lista algumas carbonilas dos metais dos grupos 6 – 10. Esta tabela mostra que a soma do número de elétrons do metal e dos pares de elétrons do monóxido de carbono participando das ligações σ é igual ao numero de elétrons de valência do gás nobre mais próxima, ou seja, 18. Assim a fórmula geral dos metalcarbonilas mononucleares (contendo somente um átomo de metal) é Me(CO)n com (2 · n) igual ao número de elétrons faltando para alcançar a configuração do gás nobre como mostram os exemplos na Tabela 28. Tabela 28. Contagem dos elétrons para metalcarbonilas. Carbonila Elétrons provenientes Soma do metal dos carbonilas da ligação metal - metal Cr(CO)6 6 6 × 2 = 12 - 18 Mn2(CO)10 7 5 × 2 = 10 1 18 Fe(CO)5 8 5 × 2 = 10 - 18 Co2(CO)8 9 4 × 2 = 8 1 18 Ni(CO)4 10 4 × 2 = 8 - 18 Com a adição de pares de elétrons a configuração do gás nobre somente pode ser alcançada em compostos mononucleares por átomos de metais com número de ordem par. Metais com número de elétrons ímpar por sua vez formam carbonilas polinucleares. Como nestes compostos existem ligações entre os átomos de metal cada metal também alcança a configuração de um gás nobre. Este fato é conhecido como regar de 18 elétrons ou número atômico efetivo. Como mostra Figura 104 esta regra pode ser explicado com o fato que na formação de um complexo carbonila com ligação pi receptor são formados 9 123 orbitais ligantes que podem acomodar exatamente 18 elétrons. Analogamente pode se argumentar para um complexo penta – coordenado (bipiramide trigonal) que as ligações σ são formadas pela combinação de um orbital ns, três ortbitais np e um orbital (n-1)d do metal com os orbitais de simetria adaptada dos cinco ligantes, o que junto com a formação de ligações pi receptor com os 4 orbitais (n-1)d restantestambém resulta em 9 orbitais ligantes que podem acomodar exatamente 18 elétrons. Também em casos de complexos tetraédricos formam-se 9 orbitais ligantes, que podem ser ocupados por exatamente 18 elétrons, pela formação de quatro ligações σ pelo orbital ns e três orbitais np do metal com quatro orbitais de simetria adaptada dos ligantes e a formação de ligações pi receptor pela interação dos cinco orbitais (n-1)d do metal e orbitais pi* vazios dos ligantes. Na praxe, porém poucos compostos metalorgânicos com estrutura tetraédrica são conhecidos. 124 Figura 104. Níveis de energia dos orbitais moleculares num composto com coordenação octaédrica em caso de ligação pipipipi receptor.71 Muito mais comum que compostos tetraédricos, porém, são compostos metalorgânicos com estrutura quadrática – planar. Neste caso são formados somente 8 orbitais moleculares ligantes e o número de elétrons de valência é somente 16. Como os quatro ligantes podem contribuir somente com 8 elétrons complexos quadráticos – planares, como por exemplo, [IrCl(CO)(PPh3)2] ou [Pt(C2H4)Cl3]-, são encontrados geralmente para metais dos grupos 9 – 10. A Tabela 29 resume os números de elétrons de valência usualmente observados nos compostos metalorgânicos dos metais de transição. Tabela 29. Regra de 16/18 elétrons para metais d em compostos organo-metalicos. Normalmente menos que 18 elétrons Normalmente 18 elétrons 16 ou 18 elétrons Grupo 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd La Hf Ta W Re Re Ir Pt Como o número de elétrons de valência e o número de oxidação do metal em compostos metalorgânicos permite a avaliação da estabilidade do respectivo composto e assim a interpretação de suas propriedades químicas a determinação desses números é de interesse fundamental. Existem dois métodos de contagem de elétrons de valência diferentes. O método do ligante neutro e o método do par doado. No primeiro método assume-se que tanto o metal como os ligantes são neutros e uma eventual carga do composto é considerada adicionando ou tirando o número apropriado de elétrons. Para determinação do número de elétrons de valência devem ser considerados todos os elétrons de valência do metal livre e todos os elétrons doados pelos ligantes, corrigido eventualmente pela carga do composto. Neste método os ligantes são distinguidos em ligantes do tipo L que doam um par de elétrons e ligantes do tipo X que são considerados como radicais doando um elétron. Na Tabela 30 lista alguns ligantes típicos junto com sua classificação e o número de elétrons dados no método do ligante neutro. Tabela 30. Ligantes típicos e sua contribuição na contagem dos elétrons. Método do ligante neutro Ligante Fórmula Designação* Elétrons doados Carbonila CO L 2 Fosfina PR3 L 2 Hidreto H X 1 Dihidrogênio H2 L 2 125 Tabela 30. Ligantes típicos e sua contribuição na contagem dos elétrons. Grupos de η1- hidrcarbonetos R X 1 η2-alquenos RCH=CHR L 2 η2-alquinos R-C≡C-R L 2 Dinitrogênio N2 L 2 η3-alilas RCH=CH-CH=CHR L2 4 Benzeno C6H6 L3 6 η3-alilas H2C=CH-CH2 LX 3 η5-ciclopentadienil C5H5 L2X 5 *L = doador de um par de elétrons; X doador de um elétron. Método do par doado Ligante Fórmula Elétrons doados Carbonila CO 2 Fosfina PR3 2 Hidreto H- 2 Dihidrogênio H2 2 Grupos de η1- hidrcarbonetos R - 2 η2-alquenos RCH=CHR 2 η2-alquinos R-C≡C-R 2 Dinitrogênio N2 2 Butadieno CH2=CH-CH=CH2- 4 Benzeno C6H6 6 η3-alilas H2C=CH-CH2- 4 η5-ciclopentadienil C5H5- 6 Para o complexo [IrBr2(CH3)CO(PPh3)2], por exemplo, encontramos o número de elétrons de valência pelo método do ligante neutro de seguinte maneira: Ir (metal do grupo 9) ⇒ contribua com 9 elétrons 2 Br (ligantes do tipo X) ⇒ contribuam com 2 × 1 = 2 elétrons CH3 (ligante do tipo X) ⇒ contribua com 1 elétrons CO (ligante do tipo L) ⇒ contribua com 2 elétrons 2 PPh3 (ligantes do tipo L) ⇒ contribuam com 2 × 2 = 4 elétrons SOMA 18 elétrons O método do par doado inclui além da determinação do número de elétrons de valência a determinação do número de oxidação (Nox) do metal e dos ligantes. Aos ligantes neutros, como CO ou fosfinas, que doam 2 elétrons é atribuído o número de oxidação 0, enquanto ligantes como haletos, hidretos ou η1-hidrocarbonetos com CH3 são formalmente tratados como anions com número de oxidação -1, que recebem um elétrons do metal. Assim calcula-se: (1) o Nox do metal é a carga total do composto menos as cargas dos ligantes; (2) o número de elétrons proveniente do metal é igual ao número de grupo menos seu Nox; 126 (3) o número total de elétrons de valência é igual a soma dos elétrons do metal mais o número de elétrons doados pelos ligantes, que pode ser encontrados para ligantes típicos na Tabela 30. Para o complexo [IrBr2(CH3)CO(PPh3)2], por exemplo, encontramos o número de elétrons de valência pelo método do par doado de seguinte maneira exemplificada na Tabela 31. Tabela 31. Contagem do número total de elétrons de valência para [IrBr2(CH3)CO(PPh3)2] pelo método do par doado. ligante Nox Elétrons doados ΣΣΣΣ Nox ΣΣΣΣ elétrons doados 2 Br- -1 2 -2 4 CH3- -1 2 -1 2 CO 0 2 0 2 2 PPh3 0 2 0 4 SOMA – 3 12 Metal Nox Elétrons doados Ir (grupo 9) 0 – (– 3 ) = + 3 9 – 3 = 6 Número total de elétrons de valência: 12 + 6 = 18 7.3. Ligações em compostos organometálicos 7.3.1. Carbonilas, fosfinas, hidretos e dihidrogênio como ligantes A ligação metal – carbonila nos compostos metalorgânicos pode ser descrito com a teoria do orbital molecular analogamente à ligação metal – íon cianeto nos ciano complexo discutidos no parágrafo 5.2, página 108. Num carbonila octaédrico, como, por exemplo [Cr(CO)6], os OM do tipo σ (Figura 105b) são formados por combinação dos orbitais ns, npx, npy, npz e os dois orbitais (n - 1)eg do metal e seis orbitais de simetria adaptada (Figura 91, página 110) oriundos dos orbitais 3σ (Figura 105a) das seis moléculas de CO. As OM do tipo pi (Figura 105c) se formam pela combinação dos três orbitais (n – 1)t2g do metal (Figura 106a) e três orbitais de simetria adaptada, mostrados na Figura 106b, oriundos dos 12 orbitais 2pi* (Figura 105a) das moléculas do CO. 127 (a) (b) (c) Figura 105. Ligações de carbonilas: (a) níveis de energia dos OM de CO; (b) formação de ligação σσσσ; (c) forma cão de ligação pipipipi receptor.72 (a) (b) Figura 106. Orbitais t2g na simetria Oh: (a) orbitais d do metal;73 (b) orbitais de ligantes de simetria adaptada..74 A ligação de fosfina (:PR3) em compostos organometálicos pode ser interpretada em analogia à ligação de carbonila pela formação de ligação do tipo σ pela combinação de um orbital atômico (OA) do metal e o HOMO da fosfina e formação duma ligação do tipo pi receptor pela combinação de um orbital d do metal com um orbital pi* (LUMO) da fosfina como é esquematizado na Figura 107. 128 Figura 107. Formação de ligação pipipipi receptor em fosfinas.75 A formação da ligação de hidreto em compostos metalorgânicos pode ser descrita simplesmente como ligação do tipo σ pela combinação do AO 1s do hidrogênio e um AO do metal. Em complexos de dihidrogênio observa-se uma coordenação η2 entre a molécula de hidrogênio e o metal. Neste caso a ligação pode ser descrito por uma ligação do tipo σ formada pela combinação de um AO d do metal e o OM 1 σ do dihidrogênio (Figura 108a) e uma ligação do tipo pi receptor formada pela combinação de um AO d do metal e o OM 2 σ* do dihidrogênio (Figura 108b). (a) (b) Figura 108. Ligação de dihidrogenio: (a) formação de ligação σσσσ; (b) formação de ligação pi pi pi pi receptor.76 7.3.2. η2-alquilenos e η2-alquilinoscomo ligantes Semelhante aos η2-complexos de dihidrogênio a ligação nos compostos organometálicos com η2-alquilenos e η2-alquilinos a ligação metal – ligante pode ser descrito por uma ligação do tipo σ formada pela combinação de um AO d do metal com um OM pi ligante (Figura 109a) e uma ligação do tipo pi receptor entre um AO d do metal e um OM pi* antiligante do hidrocarboneto (Figura 109b). 129 (a) (b) Figura 109. Ligação de ηηηη2-alquenos e η η η η2-alquinos: (a) formação de ligação σσσσ; (b) formação de ligação pipipipi receptor.77 7.3.3. η3-alila como ligante No caso de um η3-alia composto com um cátion de metal observa-se a formação de uma ligação σ entre um OA d do metal e o OM pi ligante, duma ligação pi doador entre um AO d do metal e o OM pi não ligante e uma ligação p receptor entre um AO d do metal e o OM pi antiligante, como é esquematizado na Figura 110. 130 Figura 110. Orbitais d do metal com os OM do tipo pipipipi de alila (CH2CHCH2-).78 7.3.4. η4-butadieno e η4-ciclobutadieno como ligantes A formação de ligações σ e pi entre η4-butadieno e η4-ciclobutadieno e os orbitais d de um metal é ilustrado na Figura 111a e b, respectivamente. Como mostra Figura 111a para compostos η4-butadieno metal formam-se uma ligação σ entre o AO dz2 do metal e o OM 1pi ligante, uma ligação pi doador entre o AO dxz do metal e o OM 2pi ligante enquanto os OM antiligantes 3pi* e 4pi* formam ligações pi receptor com os AO dyz e dxy do metal, respectivamente. Ciclobutadieno, cujos OM são mostrados na parte esquerdo da Figura 111b é devido a sua configuração anti – aromática e tensão dos ângulos de ligação no estado livre uma molécula instável. Porém ciclobutadieno pode ser observado como ligante em η4-ciclobutadieno. 131 (Figura 111 a) (Figura 111 b) Figura 111. Orbitais d do metal com os OM do tipo pipipipi de: (a) butadieno; (b) ciclobutadieno.79 132 Como mostra a parte direita da Figura 111b neste caso formam-se uma ligação σ doador pela combinação dos AO dz2 e dxz do metal com os orbitais 1pi ligante do ciclobutadieno. A combinação de seus OM 2pi e 3pi não ligantes com os AO dxz e dyz resulta na formação de uma ligação pi doador e uma ligação pi receptor. A doação formal de um par de elétrons pelo metal via a ligação pi receptor resulta numa configuração eletrônica de 6 elétrons pi no ciclobutadieno, ou seja, um sistema aromático, o que resulta na transformação da estrutura retangular do ciclobutadieno livre (Figura 111b, esquerda) para uma estrutura quadrática η4-ciclobutadieno (Figura 111b, direita). Esta formação de compostos η4-ciclobutadieno metal é um dos exemplos para estabilização de compostos sendo ligantes em compostos organometálicos.Como ciclobutadieno não existe no estado livre ele deve ser formado na presença do metal como, por exemplo, na síntese de tricarbonila ciclobutadieno ferro(II) ilustrado na Equação 8. Equação 8. Formação de tricarbonila ηηηη4-ciclobutadieno ferro (II). Cl Cl + Fe2(CO)9 Fe OC CO CO + FeCl2 + 6 CO 7.3.5. η5-ciclopentadienila como ligante Ciclopentadieno C5H6 pode ser facilmente desprotonado formado o ânion aromático C5H5- (ciclopentadienila) como é ilustrada na Equação 9. Este ânion forma com seu OM 1pi ligante e o OM dz2 do metal uma ligação σ e duas ligações pi doador com seus OM 2pi ligantes e os AO dyz e dxz como mostra a Figura 112. Além dessas ligações formam-se duas ligações pi receptor pela combinação dos OM 3pi antiligantes com os AO dx2-y2 e dz2 do metal (Figura 112). O ligante ciclpentadienila é muitas vezes utilizado para aumentar a densidade eletrônica no metal junto com uma maior proteção estérica. A substituição do ciclopentadienila com grupos quirais, como por exemplo neomentila (Esquema 15), é uma possibilidade para geração de um catalisador estereoseletivo. Equação 9. Desprotonação de ciclopentadieno à ciclopentadienila. H H + H+ 133 Figura 112. Orbitais d do metal com os OM do tipo pipipipi de ηηηη5-ciclopentadieno.80 Esquema 15. neo-mentilciclopentadienila. 7.3.6. Metalocenos (compostos Sandwich) Compostos semelhante aos ciclopentadienilas são os metalocenos, uma classe de compostos primeiramente observado como bis-ciclopentadienila ferro(II) formado por um átomo de ferro coordenado por duas η5- ciclopentdienilas, como mostra a Figura 113a. Além de metalocenos contendo η5-ciclopentadienila como ligante conheça-se inúmeras metalocenos com η6- benzenos ou η8-ciclooctatetraenos como ligantes (Figura 113b e c, respectivamente). Mas também foram observados metalocenos com η4- ciclobutadieno, η7-tropilium ou η3-cicolpropenila como ligantes, todos ligantes caracterizados por ligações carbono – carbono idênticas, indicando a formação de sistemas aromáticos. 134 (a) (b) (c) Figura 113. Exemplos de compostos Sandwich: (A) Ferroceno; (b) bis(1,3,5-tri-tert- butilbenzol) gadolínio; (c) bis(ciclooctatetreno) metaloceno (metal = Th, Pa, U, Np, Pu). Os metalocenos como ferroceno podem ser facilmente preparados por reação dos ânions aromáticos, que podem ser preparados antes da conversão com o metal pela desprotonação do polieno como mostra Equação 10a, ou in situ durante a conversão do polieno com o metal como mostra Equação 10b para a formação de ferroceno. Equação 10. (a) preparação de ciclopentadienila; (b) preparação de ferroceno a partis de ciclopentadieno. (a) THF 2 Na + 2 C5H6 2 Na[C5H5] + H2 (b) 2 KOH + 2 C5H6 + FeCl2 Fe(C5H5) + 2 H2O + 2 KCl dmso (a) (b) Figura 114. Compostos Sandwich: (a) John Montagu, 4th Earl of Sandwich (3 de Novembro de 1718 – 30 de Abril de 1792);81 (c) um sanduíche.82 135 Devido a sua estrutura os metalocenos são comumente chamados de compostos Sandwich. Nome derivado de John Montagu 4th Earl of Sandwich (Figura 114a), que não os descobriu, mas que popularizou lanches como o mostrado na Figura 114b, os quais ele consumiu durante suas partidas de cribagge uma vez que as duas fatias de pão evitam que a gordura dos frios seja transferida para as cartas. Como neste tipo de lanche os frios nos compostos Sandwich o metal aparece entre duas “fatias” de ciclopolienos, o que induziu de denominar os metalocenos, descobertos por Fischer e Wilkinson (Figura 115) como Compostos Sandwich. Figura 115. Ernst Otto Fischer (esquerda) e Geoffrey Wilkinson ganhadores do Premio Nobel em Químca de 1973 para o desenvolvimento dos compostos Sandwich.83 Devido a alta estabilidade dos compostos do tipo Sandwich de metais do grupo 8 (Fe, Ru, Os), possuindo 18 elétrons de valência, eles podem servir como intermediários para transformação dos ciclopolienos como mostra Figura 116 para acetilação (Figura 116a) e litíação de ciclopentadienila (Figura 116b). Tais modificações resultam em inúmeros compostos ativos para síntese orgânica. Fe CH3 O Fe CH3COCl + AlCl3 + HCl (a) Fe + BuLi Li Fe + BuH (b) Figura 116. (a) Acetiloação de ciclopentadienila no ferroceno; (b) Líticação do ciclopentadienila no ferroceno. 136 (a) (b) Figura 117. Ligação de diciclopentienila complexos (compostos Sandwich): (a) Diagrama de energia dos OM; (b) interação dos orbitais pipipipi de ciclopentadienila com os orbitais d do metal.84 A Figura 117 mostra a esquema dos níveis de energia dos OM dos ligantes ciclopentadienila, os AO do metal e os OM do complexo (Figura 117a) e os orbitais atômicos do metal (orbitais d) participando da formação dos orbitais de fronteira (Figura 117b). Estes orbitais de fronteira são nem fortemente ligantes nem fortemente antiligantes o que permite que os OM dos metalocenos são ocupados por mais ou por menosque 18 elétrons como é mostrado para os ciclopentadienilas dos metais do primeiro período dos grupos 5 – 10 na Tabela 32. Como mostra esta Tabela a ligação metal – carbono varia com o número de elétrons de valência, possuindo um mínimo para o complexo com 18 elétrons de valência. Como estes metalocenos não obedecem rigorosamente à regra dos 16/18 elétrons eles podem ser facilmente oxidados ou reduzidos, o que muda a força (comprimento) da ligação metal – carbono, influenciando diretamente a reatividade do ligante e assim abrindo a possibilidade de transformações seletivas. 137 Tabela 32. Configuração eletrônica e comprimento da ligação metal – carbono em [M(ηηηη5-Cp2] compostos. Complexo Grupo Elétrons de valência Configuração eletrônica Comprimento metal – carbono (pm) [V(η5-Cp2] 5 15 e´22a´11 228 [Cr(η5-Cp2] 6 16 e´23a´11 217 [Mn(η5-(Me-C5H4)2] 7 17 e´23a´12 211 [Fe(η5-Cp2] 8 18 e´24a´12 206 [Co(η5-Cp2] 9 19 e´24e´´11a´11 212 [Ni(η5-Cp2] 10 20 e´24e´´12a´11 220 7.4. Reações de compostos organometálicos 7.4.1. Substituição de ligantes As reações de substituição de ligantes em compostos organometálicos seguem os mesmos mecanismos descritos para reações de substituição no parágrafo 2.4, página 85. No caso dos compostos organometálicos, porém o número total de elétrons de valência não pode exceder 18 elétrons. Devido a esta restrição determinada pela regra de 16/18 elétrons nos compostos metalorgânicos as substituições em compostos quadráticos planares com 16 elétrons de valência decorrem por um mecanismo associativo (compare Figura 66, página 85) com um composto intermediário penta-coordenado com 18 elétrons de valência, o qual é mais estável que um composto com 14 elétrons de valência, que resultaria de um mecanismo dissociativo. Em complexos com 18 elétrons de valência as reações de substituição ocorrem geralmente via um mecanismo dissociativo (compare Figura 70, página 87), mas na presença de nitrosila ou ciclopolienos como ligantes substituições por um mecanismo associativo são muito comuns. Isto se explica pela possibilidade desses ligantes de muda sua coordenação como mostra a Figura 118 para o nitrosila e a Figura 119 para ciclopentadienilas. M N+ O M N- O (a) (b) (c) (d) Figura 118. Mudança do número de elétrons de valência por mudança esterica da coordenação: (a) nitrosila em coordenação linear (NO+ isoeletrônico com CO); (b) nitrosila em coordenação inclinada (NO-, isoeletrônico com O2); (c) η η η η5-ciclopentadienila; (d) ηηηη3-ciclopentadienila. 138 Como mostra Figura 118 a nitrosila pode-se coordenar ao metal de forma reto análogo ao monóxido de carbono (Figura 118a) ou de forma angular análogo ao dioxigênio (Figura 118b). Embora em ambos os casos ela aja como doador de um para de elétrons no primeiro caso ele é considerado como NO+ (isoeletrônico à CO) e no segundo como NO- (isoeletrônico ao O2). Assim a mudança de coordenação do NO diminua o número de elétrons de valência reduzindo-o de 18 para 16 e assim permite a associação de um novo ligante num mecanismo de substituição associativo (Figura 70). Também ciclopolienos como ligantes podem diminuir o número de elétrons de valência num composto metalorgânico pela mudança de coordenação. Como mostra Figura 119a e b tais ligantes podem ser coordenados com η5- ou η3. No primeiro caso eles doam três pares de elétrons e no segundo dois pares de elétrons. Portanto a transformação de um η5- em um η3-ligante também diminua o numero de elétrons de valência de 18 a 16 permitindo a associação de um ligante adicional num composto intermediário. Esta mudança de coordenação é favorecida se os grupos ligados ao ciclopolieno podem estabilizar o par de elétrons não coordenado como é o caso do η5-indenila tricarbonlila rênio (I) que é mais propenso à substituição associativo que η5-ciclopentadienila tricarbonila rênio (I) (Figura 119c), onde não há estabilização do par de elétrons “liberado” pelas mudança de coordenação de η5- para η3. (a) (b) (c) Figura 119. (a) ηηηη5-indenila tricarbonlila rênio (I); (b) ηηηη3- indenila tricarbonlila rênio (I); (c) ηηηη5-ciclopentadienila tricarbonila rênio (I). 7.4.2. Adição oxidativa e eliminação redutiva Na adição oxidativa um composto A-B é adicionado a um composto metalorgânico de maneira que depois da dissociação A-B ambos componentes são adicionados ao composto metalorgânico, aumentando seu número de coordenação e seu número de oxidação em dois como mostram os exemplos na Equação 11. Na eliminação redutiva ocorre uma reação inversa diminuindo o número de coordenação e número de oxidação em 2 como mostram os exemplos da Equação 12. 139 Equação 11. Adições oxidativas. (a) PtII Me PEt3Me PEt3 + CH3I PtIV Me PEt3Me I Me PEt3 16 e- 18 e- (b) RhI Ph3P PPh3Cl PPh3 + H2 RhIPh3P PPh3Cl PPh3 H H RhIII Ph3P PPh3Cl H H PPh3 16 e- 18 e- 18 e- (c) IrI Ph3P PPh3Cl CO + CH3I IrIII Ph3P PPh3Cl CO Me + I- IrIII Ph3P PPh3Cl CO Me I 16 e- 16 e- 18 e- Equação 12. Eliminações redutivas. (a) PtIV I MeEt3P Me H PEt3 PtII I PEt3Et3P Me 18 e- 16 e- + CH4 (b) PdIV Ph ClPh3P PPh3 Cl Cl 18 e- 16 e- PdII Ph3P PPh3Cl Cl + PhCl 7.4.3. Metatesis de ligação σ Uma adição oxidativa de um composto A-B seguida de uma eliminação redutiva de um composto C-D, ou seja, a substituição dos ligantes C e D pelos ligantes A e B é conhecida como metatesis de ligação σ. Tal processo ocorre se uma adição oxidativa não é possível como no caso do [Zr(Cp)2HMe] complexo, mostrado na Equação 13a, que não pode formar o trihidreto, uma 140 vez que todos seus elétrons estão envolvido na ligação com os ligantes já presentes. O provável estado intermediário de quatro membros dessa reação concertada é mostrado na Equação 13b. Equação 13. Metatesis de ligação σσσσ em [Zr(Cp)2HMe]. (a) + H2 + CH4Zr Me H Zr H H (b) Zr CH3 H H Zr H CH3 H 7.4.4. Inserção migratória 1,1 Como inserção migratória 1,1 entende-se a migração de um ligante X como hidreto ou um grupo alquila para um η1-ligante como, por exemplo, uma carbonila, resultando em ligante carboxi, como mostra a Equação 14. Tal inserção leva a diminuição do número de elétrons de valência em 2. Equação 14. Inserção migratória 1,1. (a) M X C O M C X O 7.4.5. Inserção 1,2 e eliminação de β-hidreto A inserção 1,2 ocorre com η2-ligantes como alquenos ou alquinos formando um η1-ligante sem mudança no número de oxidação do metal, como mostra a Equação 15a. 141 Equação 15. Inserção 1,2: Esquema geral; (b) Formação de polietileno. (a) X M CH2 CH2 M CH2 CH2 X (b) H M CH2 CH2 M CH2 CH2 H H2C CH2 M Et H2C CH2 M CH2 CH2 Et Um exemplo para inserção 1,2 é a síntese de polietileno utilizando um metal hidreto como catalisador exemplificado na Equação 15b. A reação inversa, ou seja, transformação de um η1-ligante em η2-ligante e um hidreto mostrado na Equação 16 é conhecido como eliminação de β-hidreto. Equação 16. Eliminação de ββββ-hidreto. M CH2 CH2 H H M CH2 CH2 O provável mecanismo da inserção 1,2 e da eliminação de β-hidreto, via um estado de transição de quatro membros é esquematizado na Equação 17a e b, respectivamente. Uma inserção 1,2 e eliminação de β-hidreto concertado é uma das possibilidades de isomerização catalítica de alquenos como ilustra a Equação 18. Equação 17. Mecanismo de: (a) inserção 1,2; (b) eliminação de ββββ-hidreto.(a) F3C C C CF3 M H C C F3C CF3 M H C C M F3C H CF3 (b) C C M H B E A D C C B E A D M H C C B E A D M H 142 Equação 18. Isomerização de alquenos por inserção 1,2 seguida de eliminação de ββββ-hidreto. M H inserção 1,2 H M eliminação de β-hidreto M H 7.4.6. Eliminação de α-, γ, δ – hidreto A eliminação de α-hidreto (Equação 19a) é rara é somente observada se não há possibilidade de β-eliminação. Por outro lado eliminações de γ- e δ- hidreto (Equação 19b e c) via estados de transação de cinco e seis membros, respectivamente, são comumente observadas e como se forma um ciclo contendo um átomo de metal também denominados como ciclometalização. Equação 19. (a) Eliminação de αααα-, (b) γγγγ- e (c) δδδδ – hidreto. (a) M CH3 M CH2 H (b) M H M Hα β γ (c) H M M H α β γδ 7.5. Catalise por compostos organometálicos 7.5.1. Hidrogenização de alquenos terminais As reações descritas no parágrafo anterior podem ser muitas vezes observadas nos ciclos catalíticos envolvendo compostos de transição. Na hidrogenização de alquenos utilizando catalisadores do tipo Wilkinson, (Figura 120), por exemplo, o primeiro passo é a adição oxidativa de dihidrogênio a um complexo de ródio(I) com 16 elétrons de valência formando um complexo de ródio(III) com 18 eletrons de valência. A seguir observa-se a substituição dissociativa pelo alqueno e transformação do intermediário η2-complexo por inserção migratória 1,1 num complexo penta-coordenado de ródio(III) com 16 elétrons de valência (E em Figura 120). Este complexo é estabilizado pela adição de um ligante fosfina para um complexo com coordenação octaédrico e 143 18 elétrons de valência. Eliminação redutiva de um alcano restabelece o catalisador e permite a re-iniciação do ciclo catalítico. Figura 120. Ciclo catalítico da hidrogenização de alquenos terminais com catalisadores do tipo Wilkinson.85 7.5.2. Hidroformilação Como hidroformilação entende-se a adição de monóxido de carbono e hidrogênio a um alqueno gerando um aldeído com um carbono a mais que o alqueno de partida como é esquematizada na Equação 20. Equação 20. Hidroformilação de alquenos. CH2 H R + CO + H2 CH2 R H C H O H Na hidroformilação catalítica investigado por Heck e Breslow usa-se como espécie ativo um tetracarbonila hidreto cobalto(I) complexo como 18 elétrons de valência, ao qual é coordenado o η2-alqueno por substituição dissociativa. Pela adição de carbonila e inserção 1,2 forma – se um η1-alquil complexo com 18 elétrons de valência (D em Figura 121). Inserção migratória 1,1 e adição de carbonila geram o intermediário E (Figura 121) o qual é transformado por inserção 1,2 de dihidrogênio no aldeído desejado e no complexo catalisador de partida. 144 Figura 121. Ciclo catalítico da hidroformilação de alquenos por um catalisador carbonila cobalto.86 7.5.3. Monsanto carbonilação de metanol A carbonilação de metano, esquematizada na Equação 21é um método econômico para preparação de acido acético em escala industrial, que usa catalisadores a base de Co, Rh ou Ir como catalisadores. Equação 21. Carbonilação de metano. CH3OH + CO CH3COOH O primeiro passo desse processo é a adição oxidativa de iodeto de metano ao catalisador, como mostra Figura 122 para um catalisador de íon de dicarbonila diiodo ródio(I) com 16 elétrons de valência. Uma inserção migratória 1,1 forma um pentacoordenado complexo instável de acetila carbonila triiodo ródio(III) com 16 elétrons de valência, que se estabilza pela adição de carbonila. Eliminação redutiva de acetiliodeto restabelece o catalisador e reação do acetiliodeto com metanol fornece o substrato metiliodeto. Um mecanismo principalmente igual é realizado no processo Cativa, utilizando [IrI2CO]- como catalisador. 145 Figura 122. Ciclo catalítico da carbonilação de metanol (processo Monsanto).87 7.5.4. Wacker oxidação de alquenos No processo Wacker etileno (C2H4) é oxidado com oxigênio a acetaldeído como mostra Equação 22. Equação 22. Oxidação de etileno pelo processo Wacker. C2H4 + PdCl2 + H2O CH3CHO + Pd(0) + HCl Figura 123. Ciclo catalítico da oxidação de alquenos para aldeídos (processo Wacker).88 146 O primeiro passo do ciclo catalítico (Figura 123) é a adição do alqueno ao composto de paládio(II) seguido da adição direta (sem coordenação ao Pd) de água à ligação dupla resultando num alquilcomplexo de paládio(II) (C em Figura 123). O η2-alquil ligante isômera por eliminação de β-hidreto e inserção migratório 1,1 para um η1-ligante cuja eliminação redutiva forma um composto de paládio(0) o qual é oxidado para um composto paládio(II) com a ajuda der um catalisador a base de cobre. 7.5.5. Metatese de alquenos Metatese de alquenos é uma importante ferramenta para transformação de alquenos em produtos de valor agregado como, por exemplo, a síntese industrial de etileno e butadieno, para fabricação de polietileno e polibutadieno a partir de polipropeno como mostra Figura 124a. H3C CH CH2 H3C CH CH2 catalisador catalisador H3C CH H3C CH CH2 CH2 H3C CH CH2 H3C CH CH2 + (a) (b) (c) Figura 124. Metatesis de olefinas: (a) Metatese de propeno; (b) polimerização por metatese anel abrindo89; (c) metatese de anel fechando.89 Como catalisadores para esta reação usam-se diversos compostos a base de rutênio como os catalisadores comerciais da primeira e da segunda geração ilustrados no Esquema 16a e b, respectivamente. 147 Esquema 16. Catalisadores Grubbs: (a) 1ª geração; (b) 2ª geração. RuCl Cl PCy3 PCy3 Ph RuCl Cl PCy3 Ph N N (a) (b) 7.5.6. Formação de ligações carbono – carbono catalisada por paládio As diversas reações formando ligaçãoes carbono – carbono utilizando arilhaletos e catalisadores à base de paládio estão esquematizadas na Equação 23. A diferença entre a reação de Suzuki e de Stille é o grupo de saída E nos compostos aromáticos que pode ser -B(OH)2 na reação de Suzuki ou -SnR3 na reação de Stille. Figura 125. Ciclo catalítico da reação Heck.90 Equação 23. Formação de ligações C-C utilizando arilhaletos e Pd catalisadores : (a) reação Heck; (b) reação Suzuki e Stille. + RX R RR +X R E R´ R R´ (a) (b) 148 Na reação de Heck (Figura 125) o primeiro passo do ciclo catalítico é a adição oxidativa do arilhaleto ao complexo não saturado de Pd(0) com 16 elétrons de valência. Substituição de fosfina pelo substrato (η2-alqueno) seguida de inserção 1,2 forma o complexo instável quadrático planar de paládio(II) com 18 elétrons de valência o qual se estabiliza por eliminação de β-hidreto e eliminação redutiva a um não saturado η2-alqueno complexo que se transforma por substituição com um fosfina no complexo inicial. 7.5.7. Oxidação assimétrica Um exemplo para uma transformação enantioseletiva é a epoxidação de alquenos segundo Sharpless (Figura 126a), que usa como catalisador titânio etanolatos e tert-butil hidroperóxido (tert-BuOOH) como oxidante. A quiralidade do produto é induzida pela presenção de um ligante quiral como etiléster de (L)-ácido tartárico, que forma com o catalisador, o substrato e o oxidante o complexo binuclear mostrado na Figura 126b. OH O OHtert-Bu + Ti(OR)4 HO OH EtCOO COOEt OH O + tert-Bu OH (a) R Ti R O OO tert-Bu O Ti O O O O O O Ti O O O COOEt EtOOC EtOOC tert-BuCOOEttert-Bu (b) Figura 126. Epoxidação enantioseletiva segundo Sharpless. 149 8. Química Bioinorgânica 8.1.Introdução Como Química Bioinorgânica entende-se um ramo da química de compostos de coordenação, que estuda a função de metais ligados aos compostos orgânicos de seres vivos. Exemplos de tais compostos são a nitrogenase (8.3.2) na fixação de nitrogênio, o clorofila na fotossíntese (8.3.3) ou complexos cobalto em processos catalíticos (8.4) de ferro em processos redox como no transporte de oxigênio (8.3.1.1) ou de zinco na catalise ácido- basico (8.5.1), mas também terapêuticas como, por exemplo, cis-platina para o tratamento de tumores (8.7.1). Os principais métodos aplicados na química bioinorgânica são a isolação e purificação das proteínas, contendo os metais, a determinação das propriedades físico-químicas e espectroscópicas do centro ativo, a síntese e caracterização de compostos modelo para o centro ativo, incluindo a preparação de catalisadores ativos simulando a atividade enzimática, e a comparação das reatividades da proteína e do composto modelo. Além de metais outros compostos inorgânicos podem exercer diversos papeis no organismo vivo, como por exemplo, a de um neurotransmissor, mostrado exemplarmente no parágrafo 8.8, para monóxido de nitrogênio. 8.2. Metais e semi-metais em sistemas biológicos 8.2.1. Função de metais e semi-metais No corpo de seres humanos e outros seres vivos encontram-se aproximadamente 25 metais diferentes. Dentro desses metais o cálcio (1050 g), o potássio (170 g), o sódio (105 g) e o magnésio (33 g) perfazem num homem de 75 kg uma massa total de 1,363 kg o que corresponde a 99,3 % da massa de metais. Esses macro-elementos exercem diversos papeis como construção do esqueleto (Ca), condução de sinais nervosos (Ca, K, Na), regulação da contração muscular (Ca, K, Na), fotossíntese (Mg, K), respiração (K, Mg), expressão de genes (Ca), síntese e ativação de proteínas (K, Na, Mg), regulagem da pressão osmótica das células (Na), biossíntese de ácidos graxa (Mg), ciclo do ácido cítrico (Mg) etc. Dos metais restantes com uma concentração menor que 50 mg/kg (oligometais), alguns não possuem uma função conhecida e as funções conhecidas de oligometais são resumidas na Tabela 34 junto com os sintomas causados por sua falta. O efeito dos metais no organismo é causado por diversas propriedades como atividade redox ou carga que são relacionados com as respectivas ações fisiológicas na Tabela 35. 150 Tabela 33. Freqüência media de metais e semi-metais no corpo humano (75 kg).*,91 Metal Massa (g) Teor (%) Metal Massa (g) Teor (%) Macro-elementos Oligo-elementos (continuação) Ca 1050 76,41 Al 0,035 2,55⋅10-3 K 175 12,73 Pb 0,035 2,55⋅10-3 Na 105 7,64 Cd 0,03 2,18⋅10-3 Mg 33 2,40 Ba 0,02 1,46⋅10-3 ΣΣΣΣ 1363 99,18 Mn 0,02 1,46⋅10-3 Oligo-elementos V 0,02 1,46⋅10-3 Fe 4,2 0,306 B 0,014 1,02⋅10-3 Zn 3 0,218 Se 0,014 1,02⋅10-3 Si 1,4 0,102 Mo 0,005 3,64⋅10-4 Rb 1,4 0,102 As 0,0035 2,55⋅10-4 Sr 0,3 0,022 Co 0,0028 2,04⋅10-4 Zr 0,3 0,022 Cr 0,002 1,46⋅10-4 Cu 0,2 0,015 Li 0,002 1,46⋅10-4 Sn 0,14 0,010 Ni 0,001 7,28⋅10-5 Nb 0,1 0,007 ΣΣΣΣ 11,244 0,82 *em negrito os metais e semi-metais com função essencial comprovada. Tabela 34. Função, sintoma de falta e fonte alimentar dos metais essenciais.92 Metal Função Sintoma de falta Fonte alimentar As Essencial para crescimento Diminuição de crescimento Peixe Co Parte essencial da vitamina B12 Anemia, perturbação da síntese dos ácidos nucléicos Leguminosas, nozes, legumes (raízes) Cr Aumento da atividade de insulina Diabetes Carne, grãos integrais, mel, levedura de cerveja Cu Parte essencial de enzimas oxidantes Anemia Leguminosas, fígado, nozes Fe Transporte de O2 e elétrons; parte essencial de enzimas (peroxidade, catalase, hidroxilase) Anemia, diminuição do crescimento Carne, coração, rim, fígado, grãos integrais, legumes leguminosas Mn Parte essencial de piruvatcarboxilase, ativador de diversas enzimas aumento do aproveitamento de B1 Deformação de ossos, anemia, crescimento diminuído Cereais, espinafre, leguminosas, Mo Ativação de enzimas Perturbação da formação de ácidos graxos, diminuição do crescimento Leguminosas, cereais, folhas, fígado, rim, produtos de leite Ni Ativação de enzimas, aumento do efeito da insulina Diminuição de crescimento Leguminosas, queijo, peixe, cereais, Se Função antioxidante Hemólise Carne, peixe, cereais 151 Tabela 34. Função, sintoma de falta e fonte alimentar dos metais essenciais.92 Metal Função Sintoma de falta Fonte alimentar Si Promoção de crscimento; parte integrante da cartilhagem, do tecido conjutivo e da pele; essencial para metabolismo de mucopolisacharido Diminuição do crescimento, deformação dos ossos cereais Sn Função redox Falta de apetite, queda de cabelos, acne Cereais, (alimentos enlatados) V Inibição da síntese de colesterol Diminuição de crescimento, perturbação da fertilidade Óleos vegetais com alto teor de ácidos graxos não saturados Zn Parte de inúmeras enzimas no metabolismo energético, ativação de enzimas Perturbação grave do crescimento, imaturidade sexual, cabelos cinzas Fígado, carne de boi, flocos de aveia, ervilhas, lentilhas Tabela 35. Propriedades e ação biológica de metais. Propriedade principal Ação Atividade redox Transformação redox de substratos Ativação de moléculas pequenas, por exemplo, recepção, transporte e consumo de O2, fixação de N2, redução de CO2, transformação H2/H+ Transporte de elétrons Fornecimento de energia, regulagem de potenciais redox por ligantes biológicos Atividade metal- orgânica Geração de radicais Quebra homolítica de ligações substrato-metal, por exemplo, transposição da estrutura de hidrocarbonetos Alquilação der substratos eletrofilos Quebra heterolítica de ligações substrato-metal Acidez de Lewis Catálise ácido- básica Em hidrolases, aumento da acidez de água por coordenação com cátions de metal Estabilização de estrutura Por exemplo: na estrutura secundaria de proteínas, estabilização da DNA, biomineralização Carga Transmissão de informação Mudança de potencias eletroquímicos, por exemplo, na condução de sinais nervosos, regulação da contração muscular 8.2.2. Coordenação de metais em sistemas biológicos 8.2.2.1. Metais como centro ativo de enzimas. Enzimas são proteínas intra – ou extracelulares que regulam como biocatalizadores o metabolismo. Os diversos tipos de enzimas, classificados conforme o tipo de reação catalisada, são enumerados na Tabela 36. Além da 152 parte proteínica, conhecida como apo-enzima, as enzimas contêm coenzimas e co-fatores (grupos prostéticos), que em conjunto com o apo-enzima formam a holoenzima ativa. Nestas holoenzimas os co-fatores são geralmente compostos de coordenação de íons metálicos com restos dos aminoácidos ou outras partes da enzima. A interação dessas ligantes biológicos com os cátions de metal será discutida nos próximos parágrafos. Tabela 36. Classificação de enzimas segundo IUBMB (International Union of Biochemistry and Molecular Biology).93 Enzyme class number Classe Tipo de reação catalisada 1 Oxidoredutases Transferência de elétrons ou hidrogênio 2 Transferases Transferência de grupos 3 Hidrolases Dissociação hidrolítica 4 Liases Eliminação fragmentação 5 Isomerases Isomerização 6 Ligases (sintetases) Condensação com consuma de ATP 8.2.2.2. Ligantes biológicos Os ligantes mais comuns de metais em sistemas biológicos são os restos de aminoácidos enumerados junto com suas propriedades singulares na Tabela 37. Tabela 37. Aminoácidos selecionados e suas propriedades singulares.94αααα-aminoácido (abreviação) Resto pKa Singularidade Histidina (his) NH N ε δ 6,0/14 Coordenação geralmente pelo δ-N, raramente pelo ε-N, coordenação µ possível Metionina (met) S CH3 - Como ligante neutro coordenado geralmente á cátions de metais “moles” Cisteina (cys) SH 8,2 Muitas vezes como tiolato como ligante µ Selêniocisteina (SeCys) SeH ≈ 5 Por exemplo, na Ni/Fe/Se-hidrolase Tirosina (tyr) OH 10,1 Em geral como fenolato, pode mostrar atividade redox Ácido asparagina (asp) O OH 3,7 O carboxilato como ligante η 1 -, η2 ou µ-η1-η1 153 Tabela 37. Aminoácidos selecionados e suas propriedades singulares.94 αααα-aminoácido (abreviação) Resto pKa Singularidade Ácido glutamina (glu) O OH 4,3 O carboxilato como ligante η 1 -, η2 ou µ-η1-η1 Figura 127. Sitio ativo da Ni/Fe/Se hidrolase de D.bacatulatum.95 Uma particularidade entre estes aminoácidos e o selêniocisteina onde o semi-metal selênio funciona como doador de um par de elétrons, ou seja, como ligante (base de Lewis), como é exemplificada na Figura 127, que mostra o centro ativo da Ni/Fe/Se hidrolase de D.bacatulatum. Como mostra esta Figura também compostos inorgânicos como, por exemplo, monóxido de carbono ou cianeto estão agindo como ligantes nos centros ativos de enzimas. Além de restos de aminoácidos ou pequenas moléculas inorgânicos, como CO, CN- ou NO, as bases nucléicas da RNA e DNA, cujas subunidades estruturais mostra Figura 128, podem agir como ligantes em sistemas biológicas. A coordenação de bases nucléicas a um centro metalico, por exemplo, é responsval para ação anti-cancerígeno de cis-platina (cis- diaminadiclorplatina(II); ver Figura 43a e parágrafo 8.7.1). OH OH OH H HH CH2 OP O O O Base nucleica* OH OH H H HH CH2 OP O O O Base nucleica (a) (b) Figura 128. Estrutura da unidade de: (a) RNA, (b) DNA); (*ver Erro! Fonte de referência não encontrada., página Erro! Indicador não definido.). 154 Uma outra classe importante de ligantes biológicos são os tetrapirroís macrociclos mostrados na Tabela 38. Devido aos diâmetros internos diferentes estes macrociclos podem acomodar íons metálicos de diferentes tamanhos como mostram os modelos espaciais dos complexos porfirina – ferro, clorina – magnésio e corrina – cobalto na Figura 129 e os dados da Tabela 39. Tabela 38. Ligantes tetrapirrol macrociclicos. Tetrapirrol Estrutura Presença porfirina NH N N HN Hem (Fe-porfirina) clorina NH N N HN Clorofila (Mg-clorina) corrina NH N N HN Cobalamina (Co-corrina) (a) (b) (c) Figura 129. Complexos de tetrapirroís: (a) Fe-porfirina; (b) Mg- clorina; (c) Co-corrina. 155 Tabela 39. Raios iônicos de cátions de metais com seus ligantes tetrapirrol correspondendo.94 Cátion Raio iônico (pm) adequado para: Ca2+ 100 Grande demais Mg2+ 72 Adequado para clorina O=V2+ 60 Adequado (presente em muitas fontes de petróleo) Ga3+ 62 Adequado (presente em muitas fontes de petróleo) h.s.*-Fe2+ 78 Grande demais (fora do plano) l.s.†-Fe2+ 61 Adequado h.s.-Fe3+ 65 Adequado l.s.-Fe3+ 55 Pequeno demais l.s.-Co2+ 65 Adequado para porfirina, pequeno para corrina (fora do plano) *h.s. = high spin (spin alto); †l.s. = low spin (spin baixo). 8.2.2.3. Geometrias de coordenação em sistemas biológicos A geometria de coordenação dos metais em sistemas biológicos é, para o respectivo número de coordenação, em geral a mesma observada para os compostos de coordenação inorgânicos descrita no parágrafo 2.1.3 (páginas 57 – 61). Muitas vezes, porém as geometrias de coordenação em sistemas biológicos são distorcidas como mostra a relação de geometrias de coordenação e de ligantes típicos observadas para diversos metais em sistemas biológicos na Tabela 40. Tabela 40. Geometrias de coordenação de diversos Metais.94 Cátion Estabilidade da ligação Ligantes Geometria da coordenação número tipo* Zn2+ alta 3 his, cys-, glu- trigonal distorcida Cu+ alta 3, 4 his, cys-, met tetraédrica (distorcida) Cu2+ alta 3, 4 his, cys- quadrático (distorcida) Fe2+; Ni2+; Co2+; Mg2+ baixa 4 – 6 his, glu - , asp- octaédrica (distorcida) Fe3+ alta 4 – 6 glu, asp-, tyr-, cys- octaédrica (distorcida) *abreviações como mostra Erro! Fonte de referência não encontrada., página Erro! Indicador não definido. ou Tabela 37, página 152. 8.3. Atividade redox 8.3.1. Transporte e armazenagem de oxigênio 8.3.1.1. Hemoglobina e mioglobina Recepção, transporte e armazenagem de oxigênio são processos vitais em seres vivos. Nos vertebrados este papel é exercida por duas proteínas a hemoglobina e a mioglobina, que ambas possuem ferro(II) em coordenção por profirina e um resto de histidina como grupo prostético, mostrado na Figura 130a. Esta Figura mostra para este complexo paramagnético uma coordenação 156 com geometria de uma pirâmide quadrática distorcida com o cátion de ferro(II) em cima do plano da porfirina. Na coordenação de uma molécula de oxigênio obtém-se um complexo diamagnético com o ferro(II) no plano da porfirina e coordenado em geometria octaédrica. Esta mudança da geometria e da propriedade magnética indica que o oxo-hemo é um complexo de spin baixo de Fe(II) (S = 0; diâmetro Fe(II) spin baixo < diâmetro Fe(II) spin alto) com 1O2 (S = 0) como ligante. Alternativamente discuta-se a formação de um complexo antiferromagnético de Fe(III) de spin baixo (S = ½) com um ânion O2- (S = ½). (a) (b) Figura 130. Complexos de histidina-porfirina ferro (a) e oxo-histidina-porfirina ferro (b). (a) (b) Figura 131. Estrutura: (a) da subunidade de hemoglobina; (b) da mioglobina (os grupos prostéticos são indicados por setas). A parte proteinica da hemoglobina e da mioglobina é mostrada na Figura 131ª e b, respectivamente. A mudança na geometria do grupo prostética 157 durante a formação da oxi-hemo- e oxi-mioglobina também muda a conformação da proteína. No caso da hemoglobina que contem 4 subunidades da proteína (Figura 132) a mudança da conformação é transferida para as demais subunidades aumentando sua afinidade ao oxigênio. Assim a adsorção de uma molécula de oxigênio aumenta a afinidade da hemoglobina ao oxigênio facilitando sua adsorção no pulmão. Por outro lado a dessorção de uma molécula de oxigênio diminua a afinidade da hemoglobina ao oxigênio facilitando sua dessorção nos tecidos musculares onde ele é transferido ao mioglobina. Figura 132. Estrutura do tetrâmero de hemoglobina (as setas indicam a localização dos grupos prostéticos) 96. 158 Figura 133. Adsorção de oxigênio por hemoglobina e mioglobina.97 Além da pressão parcial do oxigênio a saturação da hemoglobina e da mioglobina depende do pH nos tecidos como mostra a Figura 133. Em geral somente 25 % da capacidade para oxigênio no sangue são aproveitados, mas mesmo nestas condições a capacidade de adsorver oxigênio é no sangue dez vezes maior que na mesma quantidade de água (1100 – 1400 mL de oxigênio em 5 – 6 L de sangue em comparação a 150 – 180 mL de oxigênio em água). Uma outra propriedade da hemoglobina e da mioglobina é aumentar a afinidade do grupo prostético ao oxigênio e diminuar sua afinidade à monóxido de carbono. Devido à formação de ligação pi receptora (ver parágrafo 5) a ligação coordenativa entre monóxido de carbono e ferro é mais forte que a ligação coordenativa entre ferro e dioxigênio, o que causa a alta toxicidade de monóxido de carbono, cuja ligação á hemoglobina evita o adsorção e transporte de oxigênio causando asfixia. Comomostra Figura 134a o monóxido de carbono coordena linearmente ao complexo histidina-porfirina Ferro(II) livre, o que permite a formação da ligação pi receptora. Por outro lado na hemoglobina e na mioglobina a coordenação do sexto ligante é influenciada por um resto histidina mais distante, que estabiliza a coordenação do dioxigênio pela formação duma ligação de hidrogênio como mostra Figura 134b. No mesmo tempo em qual o resto histidina estabiliza o complexo dioxigênio ele impede a coordenação linear do monóxido de carbono e enfraquece a ligação Fe-CO como mostra Figura 134c. Fe N N C O H2N COOH H N N H Fe N N O O N N H Fe N N C O (a) (b) (c) Razão de afinidade CO : O2 Hem livre: 25000 : 1 Hemoglobina: 200 : 1 Mioglobina: 25 : 1 Figura 134. Concorrência entre ligação hem-O2 e hem-CO. 159 Hemoglobina possua no organismo importância não somente para o transporte de dioxigênio, mas também para o transporte de monóxido de nitrogênio, que age como neuro-transmissor, exerça um papel na relaxação de músculos (parágrafo 8.8, página 196), no fortalecimento da memória e na controle de micróbios patogênicos e células cancerígenas. 8.3.1.2. Hemoeritrinas e Hemocianinas Além de hemoglobina existem outras proteínas para o transporte de oxigênio como, por exemplo, as hemoeritrinas encontradas em vermes marinhas. Como revela a Figura 135 a forma desoxi deste tipo de pigmento sangüíneo é caracterizado por uma unidade de µ-hidroxi di-ferro(II) diretamente coordenado ao parte proteinica por restos de histidina, de ácido aspártico e de ácido glutâmico (Figura 135a). Na adsorção de oxigênio o ferro é oxidado à ferro (III) e o oxigênio é associado a um dos cátions de ferro na forma de O22- e estabilizada pela formação de uma ligação de hidrogênio como é ilustrado na Figura 135b. glu FeII O FeII O O O N N N N N N N N N N H O asp FeII(h.s.)/FeII(h.s.) (incolor) glu FeIII O FeIII O O O N N N N N N N N N N O O H O asp FeIII(h.s.)/FeIII(h.s.) (violeta) (a) (b) Figura 135. (a) Desoxi- hemoeritrina e (b) oxi-hemoeritrina98. 160 Figura 136. Exemplos de seres vivos utilizando hemocianinas para transporte de oxigênio.99 Além de ferro-proteínas existem proteínas contendo cobre para o transporte de oxigênio como as hemocianinas encontradas em diversos organismos primitivos (Figura 136) como artrópodes (aranhas, caranguejos etc.) e moluscos (lesmas, lulas etc.). O centro ativo dessas hemocianinas é formado por dois cátions de cobre(I) coordenado diretamente ao proteína por restos histidina e na adsorção de oxigênio forma-se um µ-η2-η2 peroxi dicobre(II) ou µ-η1-η1 peroxi dicobre(II) como mostra a Figura 137. CuI N N N N N N CuI N NN N N N CuII O CuII O his his his hishis his (b) CuII his hishis O O CuII his his his (a) (c) Figura 137. Centro ativo de hemocianina: (a) forma desoxigenada; (b) forma µµµµ-ηηηη2-ηηηη2 peroxo; (c) forma µµµµ-ηηηη1-ηηηη1 peroxo. Os diferentes centros ativos nas diversas proteínas para o transporte de oxigênio resultam na cor diferente do sangue das diferentes classes. Pigmentos sangüíneos a base de porfirina possui na forma desoxigenado a cor purpúreo-vermelho que muda na forma oxigenada para um claro escarlate- vermelho (Figura 138 à esquerda). As hemoeritrinas e hemocianinas são nas suas formas desoxigenadas incolores e mudam na forma oxigenada para violeta e azul (Figura 138 à direita), respectivamente. Figura 138. Comparação de sangue oxigenada de coelho (vermelho) e aranha (azul) 100. 161 A investigação de proteínas para o transporte de oxigênio não somente é importante para explicar os processos biológicos nas diversas classes de seres vivos terrestres ou extraterrestres (Figura 139), mas também pode ter importância para o desenvolvimento de novos sistemas para o transporte de oxigênio no organismo que poderiam substituir o uso de sangue natural em emergências ou operações cirúrgicas. Figura 139. Qual estrutura possua o cupro-hemoglobina dos vulcanianos? 8.3.2. Fixação de nitrogênio A Figura 140 mostra o ciclo de nitrogênio no meio ambiente. Como componente de proteínas e ácidos nucléicos nitrogênio é um macro-elemento essencial (aproximadamente 3 % do peso de um homem). Nos organismos o nitrogênio é encontrado na forma de nitratos (NO3-), nitritos (NO2-), amônio (NH4+), monóxido de nitrogênio, óxido de dinitrogênio, hidroxilamina ou uréia ((NH2)2CO) (ver Figura 141). Como mostra a Figura 140 o nitrogênio é absorvido pelas plantas em forma de nitrato e chega das plantas aos animais herbívoros e em seguir aos animais carnívoros. A fonte natural dos nitratos é além da decomposição da matéria viva ou de excrementos a fixação de nitrogênio atmosférico por bactérias em forma de amônio, como é esquematizada na Equação 24. A amônia serve como matéria prima para biossíntese de proteínas e ácidos nucléicos ou pode ser sucessivamente transformado no ciclo biológico de nitrogênio (Figura 141) em hidroxilamina, nitrito, monóxido de nitrogênio, óxido de dinitrogênio ou ate restituído ao meio ambiente em forma de nitrogênio. Equação 24. Fixação de nitrogênio atmosférico como amônio por bactérias. 162 N2 + 8 H+ + 6 e- → 2 NH4+ Figura 140. Ciclo de nitrogênio no meio ambiente.101 Além desta fonte natural observamos na Figura 140 atividades humanas como fonte de nitratos e nitritos no meio ambiente. Além da combustão de combustíveis fosseis a principal fonte de nitrato e amônio no meio ambiente é a fixação de nitrogênio como amônia pelo processo Haber-Bosch, esquematizado na Equação 25, seguida da oxidação da amônia para ácido nítrico como mostra Esquema 17. 163 Figura 141. O ciclo biológico de nitrogênio.102 Equação 25. Fixação de nitrogênio como amônia (processo Haber-Bosch de 1913). N2 + 6 H2 → 2 NH3 + 46,14 kJ/mol Esquema 17. Oxidação de NH3 (processo Ostwald de 1902) 12 NH3 + 15 O2 → 12 NO + 18 H2O (820 – 950 °C com Pt ou Pt/Rh como catalisador) 12 NO + 6 O2 → 12 NO2 12 NO2 +4 H2O → 8 HNO3 + 4 NO 12 NH3 + 21 O2 → 8 HNO3 + 4 NO + 14 H2O Estima-se que a quantidade de nitrogênio fixado tecnicamente como amônia (nitrato) corresponde atualmente à ⅔ da quantidade fixada biologicamente como amônio (80 mio. t/a vs. 120 mio. t/a).103 Embora a extrapolação dos gráficos mostrados na Figura 142 indica que a temperatura ambiente o equilíbrio da reação dado na Equação 25 ficaria praticamente completo no lado direito, devido a alta energia de ativação de 230 kJ/mol e a falta de um catalisador que acelera a reação suficientemente a temperaturas abaixo de 400 °C o processo Haber-Bosch necessita uma temperatura de 500 °C e uma pressão de 200 bar. Assim a simulação do processo de fixação de nitrogênio em forma de amônio nas bactérias que ocorre à temperatura e pressão ambiente diminuiria bastante os custos necessários para produção de fertilizantes. Nas bactérias a fixação de nitrogênio é catalisada pela nitrogensase cuja estrutura é mostrada na Figura 143. Esta enzima é um complexo de um Fe – proteína pequena e um MoFe – proteína maior. O Fe – proteína contém como sitio ativo um Fe-S cluster, cuja estrutura é ilustrado na Figura 144a, o qual é provavelmente responsável para transferência de elétrons para o MoFe – proteína por um mecanismo ainda desconhecido. O MoFe – proteína por sua vez contém dois sítios ativos um [8Fe-7S] cluster (Figura 144b), provavelmente responsável também para transferência de elétrons e um [Mo7Fe-8S,X] cluster 164 (Figura 144c) como co-fatorno qual o dinitrogênio é provavelmente reduzido ao amônia. Figura 142. Dependência do rendimento de amônia da pressão e da temperatura.104 165 Figura 143. Estrutura da nitrogenase mostrando o complexo da Fe – proteina (parte verde esquerda) e da MoFe – proteína. 105 (a) (b) (c) Figura 144. Estrura de: (a) FeS-cluster [4Fe-4S] 106; (b) nitrogenase P-cluster [8Fe-7S]105; (c) nitrogenase FeMoco [Mo7Fe8S.X]107. 8.3.3. Redução de dióxido de carbono (fotossíntese) 8.3.3.1. Composição da atmosfera terrestre Ao contrario dos outros planetas de nosso sistema solar a terra é o único planeta cuja atmosfera contém quantidades significativas de oxigênio, composto indispensável para a vida como nos conhecemos. A Tabela 41 mostra a composição dessa atmosfera junto com as fontes dos diversos compostos. 166 Tabela 41. Composição da atmosfera terrestre.108 fonte Vol. % Massa (ton.) fonte Vol. % Massa (ton.) N2 vulcanismo 78,085 3,9·1015 Xe vulcanismo 8,7·10-6 2,02·109 O2 fotossíntese 20,948 1,2·1015 NH3 micróbios ≈2·10-6 ≈ 3·107 Ar descaimento β de 40K 0,934 6,6·10 13 NO; NO2 micróbios, carros ≈ 1·10 -7 ≈ 8·106 H2O mar variável ≈1,2·1013 CO2 combustão*, respiração, mar ≈ 3·10 -2 ≈2,5·1012 SO2 combustão ≈ 2·10-8 ≈ 2·108 Ne vulcanismo 1,8·10-3 6,5·1010 H2S micróbios, mar ≈ 2·10 -8 ≈ 1·106 He descaimento α de U, Th 5,2·10 -4 3,7·109 CH3Cl algas marinhas ≈ 3·10 -9 ≈ 5·106 CH4 micróbios ≈ 2·10-4 ≈ 4,3·109 COS ? ≈ 3·10-9 ≈ 5·106 Kr vulcanismo 1,1·10-4 1,7·1010 CS2 mar ≈ 10-9 < 106 H2 micróbios, combustão* ≈ 5·10 -5 ≈ 1,9·108 FCKW† atividade humana > 10 8 O3 radiação UV de O2 variável ≈ 3,3·10 9 CCl4 micróbios, indústria traços N2O micróbios, combustão* ≈ 3·10 -5 ≈ 2,3·109 CH3Br micróbios traços CO oxidação de CH4; carros ≈ 2·10 -5 ≈ 5,9·108 CH3I micróbios traços Σ 100 5,136·1015 *combustão de combustíveis fósseis; †HCFC (= hidroclorofluorocarbonatos); em negrito os compostos influenciados pela atividade humana. Inicialmente a primeira atmosfera terrestre era composta 4 bilhoes de anos atrás principalmente de metano acrescentado de hidrogênio, água e amônia. Devido a atividade vulcânica, raios e radiação ionizante o metano reagiu com o amônia na reação dada na Equação 26. Enquanto a maior quantidade do hidrogênio perdeu-se por difusão no espaço a maior quantidade de dióxido carbono foi dissolvida nos oceanos resultando numa atmosfera compostos principalmente de nitrogênio acrescentado de hidrogênio, água, dióxido e monóxido de carbono. Equação 26. Formação da atmosfera de nitrogênio. CH4 + 2 NH3 + 2 H2O + hν → CO2 + N2 + H2 A presença de dióxido de carbono dissolvido nos oceanos não somente resultou na formação de rochas sedimentarias como as mostradas na Figura 145, mas também permitiu a assimilação de matéria orgânica pelos primeiros organismos unicelulares marinhos, aproximadamente três bilhões de anos atrás. Figura 145. Vista panorâmica (360°) das dolomitas visto do Kronplatz (48° 44´ 17´´ N, 11° 57´ 36´´ E).109 167 Estes organismos marinhos conseguem através da fotossíntese a transformação do dióxido de carbono em hidrocarbonetos e oxigênio como ilustra a Equação 27. Inicialmente o oxigênio formado foi consumido pela oxidação de componente oxidáveis da crosta terrestre (Fe, S; Mn etc.), mas desde aproximadamente 350 milhões de anos existe um equilíbrio entre o oxigênio formado pela fotossíntese nas plantas e consumido pela respiração dos animais. Equação 27. Assimilação de dióxido de carbono. m CO2 + n H2O + hν → Cm(H2O)n + m O2 8.3.3.2. O ciclo de dióxido de carbono A Figura 146 mostra o atual (des)equilíbrio entre o consumo de dióxido de carbono, pela assimilação das plantas (121,3·109 t de carbono /a), dissolução de CO2 nos oceanos (92·109 t de carbono /a) pela formação de sedimentos (0,2·109 t de carbono /a) e pela decomposição de rochas (0,5·109 t de carbono /a) e a liberação de CO2 pela decomposição e queimação de matéria orgânica (121,6·109 t de carbono /a), pela dessorção dos oceanos (90·109 t de carbono /a) e pela queimação de combustíveis fósseis e produção de cimento (5,5·109 t de carbono /a). Figura 146. Ciclo de dióxido de carbono no meio ambiente.110 168 O desequilíbrio entre o consumo e a formação de dióxido de carbono, causado pela atividade humana, resulta desde o começo da industrialização num aumento do teor de CO2 na atmosfera, como mostra a Figura 147. Segundo os dados apresentados na Figura 146 há atualmente uma formação líquida de 3,1·109 t de carbono/a que poderia resultar nos próximos 50 anos na duplicação do teor de CO2 na atmosfera. Figura 147. Teor de CO2 na atmosfera (até 1958 reconstruído pelos cernes de furação de gelo antártico).111 Como revela a Figura 146 a quantidade de CO2 consumido pela assimilação das plantas (Equação 27) corresponde à quantidade de CO2 formado pela decomposição da matéria orgânica, sendo assim a atividade das plantas não poderia ter elevado o teor de oxigênio aos atual 21 vol. %. A presença de oxigênio na atmosfera se deve a formação anaeróbica de uma grande quantidade de biomassa (carvão mineral, petróleo, gás natural). Esta biomassa corresponde a uma quantidade de oxigênio 20 vezes maior que a do oxigênio atmosférico. Isto significa que 95 % do oxigênio formado pela fotossíntese das plantas foram consumidos em processos de oxidação durante a formação dos minerais na crosta terrestre e que somente 5 % participam do ciclo de carbono (Figura 146) e de outros ciclos como a do nitrogênio (Figura 141), do ozônio e de enxofre. 8.3.3.3. A fotossíntese O processo de fotossíntese responsável pela formação do oxigênio atmosférico, esquematizado na Figura 148, pode ser divido em duas fases diferentes. A fase fotoquímica (fase luminosas) e a fase química (fase escura) cujos princípios são resumidos na Figura 149. 169 Esta Figura mostra que a dissociação de água em hidrogênio, que é consumido para redução de CO2 na fase escura, e oxigênio, que é liberado para a atmosfera, necessita um sistema para captura de luz e sua transformação em energia química. Nas plantas verdes complexos de magnésio com derivados de clorina (Tabela 38 e Figura 129), mostrado na Figura 150a, são interligados pela formação de ligações de hidrogênio entre o ligante macrocíclico e duas moléculas de água coordenadas ao magnésio como ilustra a Figura 150b. Estes “antenas” adsorvem a luz visível entre 680 e 700 nm e transferem a energia para o fotossistema II onde um complexo contendo 4 átomos de manganês e um átomo de cálcio () catalisa a dissociação da água em hidrogênio e oxigênio. Figura 148. As diferentes fases da fotossíntese.112 Figura 149. Princípios da fotossíntese.113 170 (a) (b) Figura 150. (a) Estrutura das clorofilas;114 (b) empilhamento de clorofilas.115 Figura 151. Centro de evolução de oxigênio.116 Suponha-se que durante a dissociação da água o manganês é progressivamente oxidado e assim a molécula de água coordenada progressivamente polarizada, resultando na perda de prótons e na formação de OH- e O2-. A transferência de elétrons do oxigênio para o manganês permite que dois átomos de oxigênio formem uma molécula de O2, como é esquematizado no Esquema 18. O Ca2+, que não muda seu número de oxidação serve provavelmente como sitio para ligação do substrato. Teoricamente manganês(II) também poderia exercer este papel, mas tal sítio facilmente poderia ser oxidado e perder sua função. Como metais alcalinos terrosos somente apresentam o numero de oxidação + II o cálcio(II) pode ser substituído por exemplo por estrôncio(II).171 Esquema 18. Formação de oxigênio no sitio ativo do fotossistema II. MnIV O-II MnV O-II MnII O0 MnIII O0 MnII MnIII + 0O O0 8.3.4. Hidrogenases Figura 152. Estrutura de hidrogenase.117 Hidrogenases são enzimas encontradas em micróbios onde eles catalisam a oxidação de hidrogênio (H2) em H+, na forma de água. A Figura 152 mostra a estrutura duma hidrogenase caracterizada por uma série de clusters [FeS], como, por exemplo, o mostrado na Figura 144a que providenciam um caminho de transportar elétrons ao centro ativo. Com o centro ativo agem, por exemplo, complexos µ-hidroxi níquel – ferro como cisteina ou selenocisteina, cianeto e monóxido de carbono como os demais ligantes como mostram a Figura 153a e a Figura 127. A oxidação do hidrogênio decorre provavelmente pela formação de um µ-hidrido complexo intermediário, como mostra Figura 153b. Além das [NiFe] hidrogenases conheçam-se também as [FeFe] hidrogenases, cujo centro ativo é mostrado na Figura 154 e que em organismos anaeróbicos catalisam a formação de hidrogênio envolvendo um centro Fe(I)-Fe(I). 172 (a) (b) Figura 153. [NiFe] hidrogenase: (a) centro ativo; (b) hidrido complexo intermediário.118 Figura 154. Centro ativo da [FeFe] hidrogenase.118 8.3.5. Peroxidases Peroxidases são enzimas que catalisam a eliminação de peróxido de hidrogênio nos organismos pela reação ilustrada na Equação 28. Equação 28. Redução de peróxido de hidrogênio. H2O2(aq) + 2 e- + 2 H+(aq) → 2 H2O(l) O centro ativo duma peroxidase (Figura 155) possua semelhança com o centro ativo de hemoglobina ou mioglobina e é caracterizado por um complexo de porfirina-ferro e um resto de histidina como quinto ligante. A coordenação do substrato (H2O2) é estabilizada semelhante a coordenação de oxigênio no hemo- e mioglobina por um resto de histidina, mas ao contrario da hemo- e mioglobina existe nas peroxidades um resto de arginina que estabiliza adicionalmente a coordenação do substrato. 173 Figura 155. Centro ativo da citocromo c peroxidase.119 Como mostra a Figura 156 a redução do peróxido de hidrogênio começa com a coordenação do substrato ao centro de ferro(III). Por intermediação do resto de histidina um dos prótons é transferido para o oxigênio afastado do centro metálico, permitindo a eliminação de água. Esta eliminação de água leva a formação de um radical orgânico e um centro FeIV=O. A redução desse centro por transferência simultânea de elétrons e prótons restaura o centro ativo da hidrolase. Figura 156. Ciclo catalítico de hem-peroxidades.120 174 8.3.6. Oxidases Oxidases são enzimas que catalisam a redução de dioxigênio para água ou peróxido de hidrogênio sem a incorporação do oxigênio no substrato oxidável, como mostra Equação 29 para a reação catalisada pela citocroma c oxidase. Esta enzima mostrada na Figura 157, é incorporada na membrana das mitocôndrias e possua um centro binuclear de cobre, conhecida como centro CuA (Figura 158a), provavelmente responsável pela transferência de elétrons ao centro ativo (Figura 158b). Este centro ativo da citocroma c oxidase consiste de um complexo porfirina-histidina ferro, semelhante ao centro de hemo- ou mioglobina (ver parágrafo 8.3.1.1, página 155) e um complexo tri-histidina cobre, parecido com um hemocianina (ver parágrafo 8.3.1.2, página 159). Equação 29. Redução de oxigênio pela citocroma c oxidades. O2(g) + 4 e- + 8 H+ (interior) → 2 H2O(l) + 4 H+ (exterior) Figura 157. Estrutura de citocroma c oxidase.121 175 (a) (b) Figura 158. (a) Centro CuA (responsável para transferência de elétrons)122 e (b) centro ativo da citocroma c oxidase.123 A redução do oxigênio decorre pela formação de um complexo semelhante ao oxymioglobina (oxy A na Figura 159). A transferência de elétrons para o dioxigênio resulta numa espécie peroxi, que é imediatamente dissociada formado o complexo intermediário P (Figura 159), caracterizado pela presença de um radical orgânico. A transferência sucessiva de elétrons e prótons reduz as espécies Fe(IV) e Cu(II) e leva a formação de duas moléculas de água. Figura 159. Ciclo catalítico de citocroma c oxidase.124 176 Cu N N S S N N (a) (b) Figura 160. (a) Centro Cu azul (responsável pela remoção de elétrons) (b) centro ativo da Cu oxidase azul. 125 Além de [FeCu] oxidases conheçam-se [Cu] oxidase como a Cu oxidase azul, contendo um centro Cu azul (Figura 160a), denominado devido ao cor característico no estado oxidado e um cluster de três íons de cobre como centro ativo (Figura 160b). O centro Cu azul remove um elétron de um substrato orgânico e transfere-lo para o centro ativo onde o dioxigênio é reduzido à água. As aminas oxidases possuem como centro ativo um complexo de cobre mononuclear (Figura 161) e catalisam da oxidação de aminas a aldeídos reduzindo dioxigênio a peróxido de hidrogênio. Figura 161. Centro ativo da amina oxidase.126 177 8.3.7. Oxigenases 8.3.7.1. Classificação das oxigenases Oxigenases são enzimas que catalisam a redução de dioxigênio incorporando um ou dois átomos de oxigênio num substrato. As oxigenases incorporando um átomo de oxigênio são conhecidas como monooxigenases (Equação 30) e as incorporando dois átomos de oxigênio como dioxigenases (Equação 32). Dependendo da estrutura do centro ativo as oxigenases também são classificadas como hem-oxigenase e não-hem-oxigenases. Um exemplo para uma hem-oxigenase é a monooxigenase citocroma P-450 cujo centro ativo é um complexo de ferro penta-coordenado por porfirina e um resto de cisteína (Figura 163). Exemplos para não-hem-oxigenases são a monooxigenase de metan (Figura 165), a Fe(III) protocatechuato 3,4 – dioxigenase (Esquema 19) e a Fe(II) catechol 2,3 – dioxigenase (Esquema 20). 8.3.7.2. Monooxigenases A reação geral de monooxigenases é mostrada na Equação 30, que mostra que esta reação requer além de oxigênio a presença de prótons e eltrons e fornece água como derivado. As monoxigenases mais importantes são os hem-oxigenases do tipo citocroma P450, encontrados principalmente nas mitocôndrias de eucariotes onde eles exercem um importante papel na transformação de esteroídos. A P450 oxigenase mais estudada é a P450cam oxigenase encontrado na bactéria Pseudomonas putida onde ela catalisa a oxidação de cânfora na posição 5 como ilustra a Equação 31. Equação 30. Reação catalisada por monooxigenases. R-H + O2 + 2 H+ + 2 e- → R-O-H + H2O Equação 31. Oxidação de cânfora pela P450cam oxidase de Pseudomonas putida. O O2, 2 H+, 2 e- O OHP450cam Como nas outras p450 oxidases o centro ativo é um ferro(III) pentacoordenado por um porfirina e um resto de cisteína como é esquematizado na Figura 162. A oxidação do substrato, ilustrado na Figura 163 começa com a ligação do substrato no espaço confinado ao redor do centro ativo. Depois da redução do centro metálico para Fe(II) ocorre a complexação com dioxigênio resultando num estado semelhante ao oxi-hemo- ou 178 mioglobina. A transferência de um elétron e de um próton forma um Fe(III) peroxi-complexo que heterolíticamente eliminando água forma um complexo oxi-ferro(IV) o qual abstraia um próton do substrato e retransfere-lo como radical hidroxi ao substrato. Figura 162. Complexo cisteina porfirina ferro. Figura 163. Ciclo catalítico da citocroma P450.127 Uma monooxigenase do tipo não-hem é a monoxigenase de metano encontrada em bactérias metabolizando metano. Catalisadores simulando a 179 atividade da monooxigenase de metano poderiam ter grande valor econômico uma vez que a ativação de metano permite seu uso como matériaprima na industria química e também reduz a quantidade desse gás liberado ao atmosfera onde ele contribua para o aumento do efeito estufa. O centro ativo dessa enzima é um ferro complexo binuclear, do qual um dos estados intermediários é representado na Figura 164. O mecanismo da transferência de oxigênio pela monooxigenase de metano mostrado na Figura 165 indica que a espécie que transfere o oxigênio ao metano é um complexo m-dioxo ferro(III)-ferro(IV). Figura 164. Centro ativo da monooxigenase de metano.128 Figura 165. Ciclo catalítico da monooxigenase de metano.129 180 8.3.7.3. Dioxigenases A reação geral catalisada por dioxigenases é mostrada na Equação 32. Geralmente dioxigenases são oxigenases do tipo não hem contendo um complexo de Fe(III) ou Fe(II) mononuclear como centro ativa. Exemplos são a Fe(III) protocatechuato 3, 4 – dioxigenase e a Fe(II) catechol 2, 3 – dioxigenase, cujos mecanismos são ilustrados no Esquema 19 e no Esquema 20, respectivamente. Equação 32. Reação catalisada por dioxigenases. H-R-R´-H + O2 → H-O-R-R´-O-H Esquema 19. Mecanismo de Fe(III) protocatechuato 3, 4 - dioxigenase (intradiol oxigenase). FeIII O O -O2C O O Fe III O -O2C O OO FeIII O -O2C OO O FeIII O -O CO2- O O- Esquema 20. Mecanismo de Fe(II) catechol 2, 3 – dioxigenase (extradiol oxigenase). FeII O O O O FeII OO OO + H+ FeiV O O O HO FeII O O O- OHH 8.4. Atividade metal-orgânica 8.4.1. Propriedades de cobaltoenzimas Desconsiderando os sítios ativos das hidrogenases (parágrafo 8.3.4) que contêm monóxido de carbono como ligante os únicos compostos metalorgânicos encontrados em seres vivos são os cobalaminas como o coenzima B12 cuja estrutura mostra a Figura 166. Esta coenzima é caracterizada por um complexo de cobalto(III) coordenado por corrina, dimetilbenzimidazol e uma ligação Co-C covalente entre o cobalto e deoxiadenosina. A falta dessa coenzima causa anemia, mas ela pode ser substituída por outras cobalaminas onde o desoxiadenosina é substituído por um resto metil (metilcobalamina, MeB12) ou um ciano ligante (cianoaobalamina, vitamina B12). Ressalta-se que o cobalto é, exceto o molibdênio, no meio ambiente muito mais raro que os outros metais de transição com atividade biológica (ver Tabela 42). Isto sugere que seu uso na coenzima B12 é devido à suas 181 propriedades químicas particulares. Como mostra Figura 167 o cobalto pode facilmente mudar seu número de oxidação pela eliminação redutiva ou adição redutiva dos dois ligantes axiais, permitindo a formação de complexos d6, d7 e d8 de spin baixo como ilustra a Figura 168. Nos dois últimos casos isto fornece um radical, gerada pela dissociação homolítica da ligação metal – carbono ou uma forte base de Lewis, gerada pela dissociação heterolítica da ligação metal – carbono. Como será discutido no parágrafo 8.4.2 estas duas espécies são fundamentais para a atividade catalítica das cobalaminas. Figura 166. Estrutura da co-enzima B12.130 Tabela 42. Comparação da freqüência de metais de transição no meio ambiente e em seres vivos (Homem). Metal Co Cr Cu Fe Mn Freqüência no homem (mg/kg) 0,03 0,03 3 60 0,3 Freqüência no meio ambiente* (mg/kg) 25 100 55 50200 950 Freqüência relativa no meio ambiente* 37ª 23ª 27ª 4ª 12ª Metal Mo Ni V Zn Freqüência no homem (mg/kg) 0,07 0,014 0,3 40 Freqüência no meio ambiente* (mg/kg) 1,5 75 135 70 Freqüência relativa no meio ambiente* 56ª 26ª 21ª 24ª *na atmosfera, hidrosfera e litosfera. 182 CoI N N NNCoIII N N NN X Y -X-/+ e- CoII N N NN Y +X-/-e- -Y-/+ e- +Y-/-e- eliminação redutiva adição oxidativa Figura 167. Esquema geral da redução e oxidação em cobalaminas. CoIII N N N NH2C R + L- - L- CoIII N N N N L CH2 R Configuração eletrônica do produto: d6 de spin baixo (dz20) CoIII N N N NH2C R CoII N N N N CH2 R Configuração eletrônica do produto: d7 de spin baixo (dz21) (a) (b) CoIII N N N NH2C R CoI N N N N CH2 R Configuração eletrônica do produto: d8 de spin baixo (dz22) (c) Figura 168. Tipos de dissociação da ligação Co-C nas cobalaminas; (a) substituição (heterolitica); (b) dissociação homolítcia; (c) dissociação heterolítica. Uma pequena comparação do cobalto com os metais mais próximos ferro e níquel, mostra que a dissociação homolítica da ligação ferro-carbonbo que poderia fornecer uma configuração eletrônica d7 de spin baixo com um elétron desemparelhado no orbital dz2 resultaria num ferro(I), espécie não encontrado em compostos de coordenação. A dissociação heterolítica que poderia fornecer um centro metálico com configuração d8 de spin baixo com um par de elétrons livre no orbital dz2 resultaria num ferro(0) com diâmetro muito maior que Fe(II) e Fe(III) e que portanto não poderia ser acomodado no tetrapirolciclo. No caso de níquel como substituto de cobalto a configuração d7 poderia ser realizado por um complexo Ni(II) mas a configuração d8 e o precursor dos dois espécies um complexo d6 requerem complexos de Ni(II) e Ni(IV), respectivamente, muito raro em sistemas aquosas. 183 8.4.2. Metabolismo de hidrocarbonetos 8.4.2.1. Isomerização Figura 169 mostra o mecanismo duma cobalamina mutase. O passo inicial é a dissociação heterolítica da ligação metal – carbono formando um metil radical no resto desoxiadenosina. Este radical abstrai um átomo de hidrogênio do substrato e o radical gerado é estabilizado pela interação como o metal radical. Depois da isomerização do substrato por rearranjo do radical o resto desoxiadenosina re-transfere o átomo de hidrogênio ao substrato é a estrutura inicial da cobalamina é restituída. Um exemplo de uma isomerização mostra a Figura 170a que ilustra a transformação de ácido glutâmico em β-metil ácido aspártico. Como mostram as equações na Figura 170b e c cobalaminas também podem agir como centro ativo em dehidratases e liases. Nestes casos o substrato elimina água ou amônia, respectivamente, depois da transferência de um grupo hidroxi resultado do rearranjo do radical do substrato formado no centro cobalamina da enzima. Figura 169. Ciclo catalítico de uma Co – mutase.131 184 (a) H HOOC NH2 COOH glutamato mutase CH3 H HOOC NH2 COOH (b) H2C CH CH2 OH OH OH H2C CH2 C OH OH OH H H2C CH2 C OH O H + H2O glicerol dehidratase (c) OH CH2 CH2 H2N CH3 CH H2N OH CH3H O + NH3 etanolamina liase Figura 170. Exemplos de reações catalisadas por Co-mutases: (a) glutamato mutase; (b) glicerol dehidratase; (c) etanolamina liase. 8.4.2.2. Alquilação Cobalaminas também podem catalisar a alquilação de um substrato como revela a Figura 171 que mostra o mecanismo da metionina sintase. O centro ativo é a base corrina cobalto(I) formada pela dissociação heterolítica da cobalamina (Figura 168c). Esta base ataca o gruo de amina quaternária do tetrahidrofolato e transfere o CH3+. carbocation ao homocisteina Figura 171. Mecanismo da metionina sintase.132 185 8.5. Acidez de Lewis 8.5.1. Catalise ácida – básica O centro ativo de muitas enzimas catalisando reações acida – básico possuem zinco(II). Este ácido de Lewis não possua atividade redox, que poderia influenciar seu poder de polarizar o substrato, aumentando assim, por exemplo, a acidez de água. Sua ação como acido de Lewis pode decorrer por dois mecanismos diferentes. Por um lado ele pode diminuir o pKa de um aqualigante e o hidroxi deprotonado ataca como núcleofílo o grupo carbomila do substrato como mostra Figura 172a. Por outro lado o Zn2+ cátion age diretamente como ácido de Lewis aceitando um par de elétrons livres do oxigênio do grupo carbonila do substrato, reeagindo assim analogamente ao próton na catalise ácida como mostra a Figura 172b. HN O HO Zn NH O Zn Nu (a) (b) Figura 172. Mecanismos de zinco enzimas: (a) mecanismo hidroxi-zinco; (b) mecanismo carbonila-zinco. Um exemplo para uma enzima agindo através do mecanismo hidroxi- zinco é a anidradrase carbônica, cujo centro ativo é mostrado na Figura 173 e que regula no organismo o equilíbrio entre CO2 e HCO3-, responsável pela formação e o transporte de CO2 no organismo e pela regulagem o pH no sangue (efeito tampão), pelo mecanismo ilustrado na Figura 174. Figura 173. Centro ativo da anidrase carbônica.133 186 Figura 174. Ciclo catalítico da anidrase carbônica.133 Um exemplo para a ação de zinco como ácido de Lewis via o mecanismo carbonila zinco é a alccol dehidrogenase cujo mecanismo é apresentado na Figura 175. Zn O B-H+ N H H H2N O NADH Zn O H H N H2N O B NAD+ Figura 175. Mecanismo da álcool dehidrogenase (ADH). 8.5.2. Estabilização estrutural Devido a sua acidez de Lewis e a ausência de atividade redox zinco(II) cátions possuem um papel importante na estabilização da estrutura de 187 proteínas. Um exemplo são proteínas conhecidas com “dedo de zinco”. Nesteas enzimas o zinco é coordenado a dois restos de cisteina e dois restos de histedina de duas cadeias de aminoácidos da proteína, como mostra Figura 176, estabilizando assim a estrutura. Figura 176. Coordenação de zinco(II) por quatro ligantes das duas cadeias de aminoácidos de um proteína dedo de zinco.134 A função desses dedos de zinco é o reconhecimento precisa de seqüências especificas da DNA importante para transcrição do código genético para RNA. Como mostra a Figura 177 os dedos de zinco envolvem coletivamente a cadeia de DNA cuja informação deve ser transcrita marcando assim o inicio da seqüência. 188 Figura 177. Interação de dois “dedos de zinco” com domínios específicos da DNA. 134 8.6. Carga Um exemplo do aproveitamento da carga de um cátion de metal é a contração muscular cujo mecanismo é ilustrado na Figura 178. Como mostra esta Figura a contração muscular esquelética acontece quando há uma interação das proteínas contráteis de actina e miosina, que ocorre na presença de íons de cálcio intracelulares e energia. A disponibilidade de energia para a contração vem por meio da hidrólise de ATP, e o cálcio é liberado pelo retículo sarcoplasmático (RS) quando estimulado pela despolarização. A função do cálcio no músculo é expor um sítio de ligação da miosina na proteína actina. Durante o relaxamento da fibra muscular o cálcio é removido através da bomba de cálcio para ser armazenado no retículo sarcoplasmático. Esta bomba de cálcio precisa da energia proveniente da quebra da molécula de ATP em ADP, por isso após a morte verifica-se a rigidez muscular. 189 Figura 178. Mecanismo molecular da contração muscular.135 190 8.7. Elementos inorgânicos na medicina 8.7.1. Platina e outros metais nobres (a) (b) Figura 179. Complexação de diaminaplatina(II) por duas bases guaninas da DNA: (a) complexo quadrático planar; (b) deformação da DNA-hélice.136 Pt H3N NH3 NH2 NH2 NH2NH2 Pt NH3 H3N Pt NH3 NH3 ClCl (a) O Pt O OO NH3H3N Pt O O Cl ClHN H3N O O (b) (c) Ru Cl HN3 Cl Cl H3N H3N Ru S N Cl ClCl Cl HN O CH3 CH3 (d) (e) Figura 180. Complexos de platina e rutênio aplicados na terapia de câncer: (a) trinuclear Pt(II) complexo; (b) carboplatina; (c) Pt(IV) complexo; (d) fac-triclorotriamina rutênio (III); (e) Ru(III) complexo. 191 O complexo cis-dicloro diamina platina(II), conhecido como cis-platina é amplamente utilizado no tratamento de câncer, especialmente câncer dos testiuculos. O efeito terapêutico desse complexo é provavelmente devido a formação de um complexo diamina platina com dois restos guaninas do DNA das células cancerígenos mostrado na Figura 179a. este complexo distorce a estrutura do DNA como mostra a Figura 179b. Como este complexo mostra efeitos colaterais como danificação dos rins estudam-se vários outros complexos como os de Platina(II), platina(IV) e rutênio(III) mostrados na Figura 180, que substituem como carboplatina (Figura 180b) ou poderiam substituir o cis-platina. 8.7.2. Elementos inorgânicos utilizados em diagnose e terapia médica Isótopos radioativos de elementos inorgânicos são amplamente utilizados na diagnose e terapia medica, como mostra a Tabela 43. A aplicação desses isótopos requer que eles são seletivamente adsorvidos nos tecidos a serem diagnosticados ou tratados terapeuticamente e que seus efietos colaterais são minimizados. Para isso necessitam-se ligantes que interagem especificamente com as células dos respectivos tecidos, o que estimula a síntese de inúmeros compostos de coordenação desses elementos como por exemplo complexos de ouro ou tecnécio exemplificados na Figura 181. Tabela 43. Nuclídeos radiativos aplicados em diagnose e terapia medica.137 Nuclídeo Tempo de meia vida Tipo de radiação Aplicação 32P 14,26 d β- Terapia (leucemia) 47Ca 4,54 β- Diagnose (ossos) 59Fe 44,503 d β- Diagnose 60Co 5,272 a β- Terapia (câncer) 131I 8,02 d β- Terapia (câncer de tiróide)/diagnose (tiróide) 133Xe 5,25 d β- Diagnose (pulmão/cérebro) 137Cs 30,17 a β- Terapia (câncer) 186Re 3,72 d β- Terapia (câncer de osso) 198Au 2,963 d β- Terapia (câncer de ovários) 68Ga 1,127 h β+ Diagnose 99mTc 6,01 h γ Diagnose (tiróide, coração, pulmão, fígado, cérebro etc.) 113mIn 1,658 h γ Diagnose 11C 20,38 min β+ Diagnose (cérebro) 13N 9,96 min β+ Diagnose 15O 2,03 min β+ Diagnose 18F 1,83 h β+ Diagnose 51Cr 27,7 d ε, γ Diagnose (rim) 58Co 70,88 ε, β+, γ Diagnose 75Se 119,64 d ε, γ Diagnose 85Sr 64,9 d ε, γ Diagnose (esqueleto) 111In 2,807 d ε, γ Diagnose 123I 13,2 h ε, γ Diagnose (tiróide, função renal) 125I 59,41 d ε, γ Diagnose (trombose, função renal) 201Tl 3,046 d ε, γ Diagnose (ataque cardíaco) 192 Au S CO2Na NaO2C (a) O S Au P(C2H5)3 O C H2C OH CH3 O O O O CH2 H3C O CH2 H3C O H2C H3C n O H OH S Au H H OH H H HO HO (b) (c) Tc C C C CC C N N N N N N R R R R R R + Tc NN S N O O O O CO2- (d) (e) O P P O Tc R R O OHHO OH OH-O OH Tc N N N NO O O H (f) (g) Figura 181. Exemplos de complexos de tecnécio e ouro aplicados para fins terapêuticos e diagnósticos: (a) miocrisin; (b) auranofin; (c) solganol; (d) cardiolite; (e) Tc-MAG-3; (f) Tc(VII) difosfonato; (g) ceretec. 193 8.7.3. Terapia de captura de nêutrons em boro A terapia de captura de nêutrons em boro, cujo principio é ilustrado na Figura 182 é um exemplo, atualmente investigado, de isótopos radioativos aplicados na medicina. Como mostra esta Figura 182 o isótopo estável 10B, que perfaz 20 % do boro natural pode ser cindido por nêutrons térmicos em 7Li, um isótopo estável e partículas α (4He2+). Estas partículas α possuem um grande potencial de ionização da matéria, mas devido à interação forte seu alcance em tecidos orgânicos é de somente 10 µm, ou seja, corresponde ao diâmetro de uma célula humana. Isto significa que o poder destrutivo de partículasα gerados numa célula cancerosa se restringe a esta célula e não afeta o tecido saudável. A Tabela 44 mostra que a interação de nêutrons térmicos com 10B é pelo menos duas ordens maiores que a interação com os demais elementos presentes na pele humana. Estes fatos permitam que a armazenagem de 10B nas celas cancerosas poderia permitir a geração de partículas α nestas células e, portanto sua destruição seletiva sem afetar as células saudáveis na vizinhança do tumor. Figura 182. Principio da terapia de captura de nêutrons em boro138. Tabela 44. Freqüência e propriedades na captura de nêutrons térmicos de diversos nuclídeos presentes na pele humana. Nuclídeo Diâmetro de captura (barn) Reação de captura Freqüência na pele humana (g/g) 1H 0,33300 1H(n, γ)2H 0,1 12C 0,00250 12C(n, γ)13C 0,204 14N 1,83000 14N(n, p)14C 0,024 16O 0,00019 16O(n, γ)17O 0,645 23Na 0,40000 23Na(n, γ)24Na 0,002 31P 0,18000 31P(n, γ)32P 0,001 32S 0,53000 32S(n, γ)33S 0,002 35Cl 43,60000 35C(n, γ)36Cl 0,003 10B 3838,00000 10B(n, α)7Li 1 ppm 11B 0,00500 11B(n, γ)12B - 194 Os primeiros compostos de boro testados na terapia de captura de nêutrons em boro foram bases nucléicas ou aminoácidos modificados com boro como 5-dihidroxiboril-2-tiouracila ou p-dihidroxiborilfenilalanina (Figura 183e b, respectivamente). Como tais compostos possuem somente um baixo teor de boro, resultando numa adsorção insuficiente de 10B nas células cancerosas foram desenvolvidos carboboranos substituídos com polioís (Figura 183c), para aumentar a solubilidade em água ou com hematoporfirinas (Figura 183d) ou glicosidas (Figura 183e) para obter uma interação especifica com as membranas das células cancerosas. N N O B(OH)2 H H S O- B OHHO NH3+ O (a) (b) (c) (d) (e) Figura 183. Exemplos de compostos de boro estudados para terapia de captura de nêutrons em boro: (a) 5-dihidroxiboril-2-tiouracila; (b) p-dihidroxiborilfenilalanina; (c) carboborano substituído com poliol;138 (d) carboboranos substituídos ao hematoporfirina;138 (e) S-glicosidas de docecabortao.138 Os esforços realizados nas ultimas décadas no desenvolvimento dessa terapia mostra o número de trabalhos publicados desde 1954 (Figura 184), enquanto os dois resumo de artigos recente, citados abaixo ilustram as problemas ainda existentes no desenvolvimento e na aplicação dessa terapia. 195 1952 1956 1960 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008 0 50 100 150 200 250 300 número total de publicões: 3396 n úm er o de pu bl ic aç õe s ano de publicação Figura 184. Número de publicações sobre terapia de captura de nêutrons em boro139. “Boron neutron capture therapy (BNCT) theor. allows the preferential destruction of tumor cells while sparing the normal tissue, even if the cells have microscopically spread to the surrounding normal brain. The tumor cell-selective irradn. used in this method is dependent on the nuclear reaction between the stable isotope of boron (10B) and thermal neutrons, which release .alpha. and 7Li particles within a limited path length (-9 .µm) through the boron neutron capture reaction, 10B(n, .alpha.) 7Li. Recent clin. studies of BNCT have focused on high-grade glioma and cutaneous melanoma; however, cerebral metastasis of melanoma, anaplastic meningioma, head and neck tumor, and lung and liver metastasis have been investigated as potential candidates for BNCT. To date, more than 350 high-grade gliomas have been treated in BNCT facilities worldwide. Current clin. BNCT trials for glioblastoma (GBM) have used the epithermal beam at a medically optimized research reactor, and p-dihydroxyboryl-phenylalanine (BPA) and/or sulfhydryl borane Na2B12H11SH (BSH) as the boron delivery agent(s). The results from these rather small phase I/II trials for GBM appear to be encouraging, but prospective randomized clin. trials will be needed to confirm the efficacy of this theor. promising modality. Improved tumor-targeting boron compds. and optimized administration methods, improved boron drug delivery systems, development of a hospital-based neutron source, and/or other combination modalities will enhance the therapeutic effectiveness of BNCT in the future.”140 “Presently glioblastomas are incurable brain tumors. The prospect of treating this deadly disease has been the major justification for the current programs of boron neutron capture therapy (BNCT) throughout the world. However, based on pharmacol. and cell biol. considerations, it is improbable that BNCT will ever be an effective therapy for this tumor. Indeed, a review of the published literature over the last 50 years fails to provide justification for developing BNCT past its present exptl. stage.”141 196 8.8. Compostos inorgânicos como ligantes em sistemas biológicos (Exemplo NO) 8.8.1. Formação e efeito de monóxido de nitrogênio em celas de musculatura lisa Como discutimos acima complexos bioinorgânicos podem possuir alem de ligantes biológicos (parágrafo 8.2.2.2) também pequenas compostos inorgânicos como CO ou CN- como ligante (ver Figura 127, Figura 153 e Figura 154. Um outro composto inorgânico com papel de ligante na bioinorgânica é o monóxido de nitrogênio (NO) que age como neurotransmissor nas células musculares. Os diversos mecanismos de sua geração nas células mostra a Figura 185. Sua liberação nos vasos sangüíneos relaxa sua musculatura e consequentemente baixa a pressão arterial. Como mostra a Figura 185 nitroglicerina (R-ONO2) é nas células dos vasos sangüíneos transformado em NO causando sua relaxação. Por isso nitroglicerina pode aumentar os vasos coronários e é utilizado no tratamento de angina-pectoris. Figura 185. Mecanismos de formação de NO na cela.142 197 8.8.2. Funções de monóxido de nitrogênio no organismo A descoberta de monóxido de nitrogênio como neurotransmissor rendeu em 1998 a Ferid Murrat, Robert F. Furchgott e Louis J. Ignarro o premio Nobel para medicina ou fisiologia. A provável função dessa molécula no relaxamento da musculatura lisa é ilustrada na Figura 186. Esta Figura esquematiza o centro ativo da enzima ciclase de guanilato, responsável pela síntese de guanosina-5´-monofosfato cíclico (cGMP, Figura 191a). Na forma inativa um ferroporfirina é coordenado ao centro ativo inibindo o acesso do respectivo substrato e portanto a formação de cGMP (Figura 186a). A coordenação de NO ao ferroporfirina (Figura 186b) dissocia a ligação entre ferro e o centro ativo e a induzida mudança da conformação ativa a formação de cGMP. Como mostra a Figura 187 a presença de cGMP reduz a concentração de Ca2+ na musculatura lisa dos vasos sangüíneos e seu relaxamento causado pela baixa concentração de Ca2+ (ver parágrafo 8.6, página 188) resultado no abaixamento da pressão arterial. (a) (b) Figura 186. Mecanismo de ativação da ciclase de guanilato: (a) enzima desativada (ferro coordenado ao centro ativo); (b) enzima ativada (ferro coordenado ao NO)143. 198 Figura 187. Regulagem da relaxação e contração da musculatura lisa em mamíferos.143 O relaxamento da musculatura induzido por monóxido de nitrogênio não se observa somente na musculatura dos vasos sangüíneos mas na musculatura lisa em geral, como por exemplo na musculatura do corpus cavernosum de mamíferos como mostra a Figura 188. Portanto a interferência na formação ou ação de monóxido de nitrogênio poderia influenciar a ereção possibilitando o tratamento de priapismo*, uma ereção dolorosa que não tratado causa impotência permanente, denominado pelo deus da fertilidade na mitologia grego-romana (ver Figura 189a). Por outro lado aumento da formação ou ação de monóxidode nitrogênio ou cGMP pode ser efetivo no tratamento da impotência, a doença mais divulgada entre os homens† (ver Figura 189b). Uma das substâncias interferindo formação ou ação de monóxido de nitrogênio ou cGMP, distribuído com o nome comercial Viagra® inibe a decomposição do cGMP pela enzima difosfoesterase responsável por sua degradação enzimática. Como mostra a Figura 190 a interação entre enzima e substrato pode ser interpretada pelo principio Chave – Fechadura primeiramente formulado por Emil Fischer em 1894 que prever que somente tais substratos podem agir com o centro ativo da enzima cujas estruturas * “… drugs that interfere with the formation or action of nitric oxide or cyclic GMP could also interfere with the erectile response, and might be useful for treating priapism.” 143 † “But much more importantly, drugs that enhance the formation or action of nitric oxide or cyclic GMP could also enhance the erectile response, and might be effective in the treatment of impotence, the most prevalent medical disorder in men”143 199 correspondam como uma chave à estrutura da proteína (fechadura) ao redor do centro ativo (Figura 190, acima). Figura 188. Relaxação da musculatura lisa do corpus cavenosum de mamíferos induzido por monóxido de nitrogênio.143 200 (a) (b) Figura 189. Representações do Priapo (deus grego-romano da fertilidade) como exemplos para: (a) priapismo; 144 (b) impotência. 145 Figura 190. Principio Chave – Fechadura.146 Mais provável que uma interação entre duas estruturas rígidas é uma interação entre enzima é substrato que induz uma adaptação das duas estruturas resultando na formação de um complexo estável entre enzima e substrato (Figura 190), como prevê a teoria da adequação induzida formulado em 1958 por Koshland. 201 Seguindo esta teoria uma enzima pode ser desativada pela colocação de uma chave errado que inutiliza a fechadura. A comparação entre cGMP e sildenafil, o principio ativo do Viagra®, na Figura 191 mostra suas semelhanças estruturais, que permitem que sildenafil é complexado pela difosfoesterase (Figura 192) o que impede a degradação enzimática do cGMP mantendo a concentração de Ca2+ na musculatura do corpus cavernosum baixo, prorrogando assim o relaxação muscular e consequentemente a “resposta erectil”. N NH N N O OP O OH O OH H O NH2 N N H3C N NH N N (H2C)2 CH3 OH3C OC2H5 SO2 (a) (b) Figura 191. (a) ciclo-guanosina-fosfato (cGMP); (b) sildenafil. Figura 192. Complexo difosfoesterase com sildenafil.147 202 Como sildernafil não age somente na musculatura do corpus cavernosum, mas em toda musculatura lisa seu uso aumenta também a relaxação dos vasos sangüíneos e reduz a pressão aterial. Portanto deve-se evitar a aplicação simultânea de Sildenafil e remédios como nitrolingual (nitroglicerina, C3H6(NO3)3) ou nitroprussiato de sódio (Na2[Fe(CN)5NO], contendo nitrato como precursor de NO para abaixar a pressão arterial, uma vez que a combinação dos dois princípios ativos pode baixar a pressão arterial dramaticamente causando falha cardiovascular mortal. 203 9. Referências 1 W.M. Meier, D.H. Olson, Atlas of Zeolite Structure Types 3rd edition, Butterworth-Heinemann, Boston, 1992. 2 G. 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Giacovazzo (ed.), Fundamentals of Crystallography, 2a edição, Oxford Univeristy Press, Oxford, 2002, (reimpressão 2006), p.353. 12 http://www.bruker- axs.de/uploads/tx_linkselectorforpdfpool/D8_ADVANCE_Brochure_Deutsch_B88- D00001_05.pdf (acessado 19/06/2008) 13 http://www.mineralienatlas.de/lexikon/index.php/Nantokit (acessado 20/06/2008) 14 http://www.mineralienatlas.de/lexikon/index.php/Chalkosin (acessado 20/06/2008) 15 http://www.mineralienatlas.de/lexikon/index.php/Neighborit (acessado 20/06/2008) 16 http://www.mineralienatlas.de/lexikon/index.php/Eis (acessado 20/06/2008) 17 http://www.mineralienatlas.de/lexikon/index.php/Zinkit (acessado 20/06/2008) 18 http://www.mineralienatlas.de/lexikon/index.php/Akanthit (acessado 20/06/2008) 19 http://www.mineralienatlas.de/lexikon/index.php/Vandenbrandeit (acessado 20/06/2008) 20 www.schuben.de/blog/0300/0200/index.html (acessado 12/06/2008) 21 http://www.krist.uni-freiburg.de/ki/Werbung/MinBoerse/KCl-nat1.jpg (acessado 12/06/2008) 22 W.J. Moore, D.O. Hummel, Physikalische Chemie, 2a edição Walter de Gruyter, Berlin, 1976, p. 1027. 23 Inorganic Crystal Structure Database; file 43211 24 Inorganic Crystal Structure Database; file 52258 25 Inorganic Crystal Structure Database; file 44362 26 K. Lonsdale, (ed.) International Tables for X-Ray Crystallography vol 1, Birminghan, Kynoch Press, 1968. 27 Inorganic Crystal Structure Database; file 18189. 28 Inorganic Crystal Structure Database; file 18014. 29 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 226 30 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 233. 31 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 224 32 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 225 33 E. Wiberg, Holleman-Wiberg, Lehrbuch der Anorganischen Chemie, 81ª -90ª edição, Walter de Gruyter, Berlin, 1976, p.1342. 34 E. Wiberg, Holleman-Wiberg, Lehrbuch der Anorganischen Chemie, 81ª -90ª edição, Walter de Gruyter, Berlin, 1976, p.1334. 35 P. Atkins, L. Jones, Princípios de Química, Bookman, Porto Alegre, 2001, p. 796. 204 36 http://de.wikipedia.org/wiki/Bild:Duerer-Prayer.jpg (acessado 22/02/2008). 37 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 198. 38 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 203. 39 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p 230, 40 N. Wiberg, Holeman- Wiberg –Lehrbuch der anorganischen Chemie, 102a edição, Walter de Gruyter, Berlin, 2007, p. 1345. 41 P. Atkins, L. Jones, Princípios de Química, Bookman, Porto Alegre, 2001, p. 792. 42 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong,Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 496. 43 N. Wiberg, Holeman- Wiberg –Lehrbuch der anorganischen Chemie, 102a edição, Walter de Gruyter, Berlin, 2007, p. 1328. 44http://de.wikipedia.org/wiki/Bild:Goethe%2C_Farbenkreis_zur_Symbolisierung_des_menschlic hen_Geistes-_und_Seelenlebens%2C_1809.jpg (acessado 13/03/2008) 45 http://de.wikipedia.org/wiki/Bild:Farbkreis_Itten_1961.png (acessado 13/03/2007) 46 P. Atkins, L. Jones, Princípios de Química, Bookman, Porto Alegre, 2001, p. 137. 47 www.johannes-leckebusch.de/Farben/Farbkreise.htm 48 http://www.johannes-leckebusch.de/Farben/FarbkreisGrauLinien.jpg 49 J. Falbe, M. Regitz (ed.), Römpp Lexikon Chemie vol. 2, 10a edição, Thieme, Stuttgart, 1997, p. 1277. 50 C. Biever, Nature 2002, 417, 219. 51 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 52 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 53 N. Wiberg, Holeman- Wiberg –Lehrbuch der anorganischen Chemie, 102a edição, Walter de Gruyter, Berlin, 2007, 1360. 54 N. Wiberg, Holeman- Wiberg –Lehrbuch der anorganischen Chemie, 102a edição, Walter de Gruyter, Berlin, 2007, 1361. 55 N. Wiberg, Holeman- Wiberg –Lehrbuch der anorganischen Chemie, 102a edição, Walter de Gruyter, Berlin, 2007, 1363. 56 R. Nesper, H. Grützmacher, Skript zur Vorlesung Anorganische Chemie I, ETH Zürich, Zürich, 2006 (http://www.cci.ethz.ch/vorlesung/de/ac1/ac1_html.html, acessado 13/03/2008). 57 F. A. Cotton, G. Wilkinson, Química Inorgânica, Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, 1978 p. 391. 58 H.R. Christen, Grundlagen der allgemeinen und anorganischen Chemie, Sauerländer, Aarau, 1977, p. 596. 59 H.R. Christen, Grundlagen der allgemeinen und anorganischen Chemie, Sauerländer, Aarau, 1977, p597. 60 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, 2a edição, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 61 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, 2a edição, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 62 H.R. Christen, Grundlagen der allgemeinen und anorganischen Chemie, Sauerländer, Aarau, 1977, p. 600. 63 H.R. Christen, Grundlagen der allgemeinen und anorganischen Chemie, Sauerländer, Aarau, 1977, p.602. 64 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, 2a edição, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 65 J. Falbe, M. Regitz (ed.), Römpp Lexikon Chemie vol. 4, 10a edição, Thieme, Stuttgart, 1998, p. 677. 66 H.R. Christen, Grundlagen der allgemeinen und anorganischen Chemie, 5ª edição, Sauerländer, Frankfurt am Main, 1977, p. 98. 67 H.R. Christen, Grundlagen der allgemeinen und anorganischen Chemie, 5ª edição, Sauerländer, Frankfurt am Main, 1977, p. 99. 205 68 J.F. Cordes, Allgemeine Chemie 2, Verlag Chemie, Weinheim, 1978, p. 172 – 175. 69 H.R. Christen, Grundlagen der allgemeinen und anorganischen Chemie, Sauerländer, Aarau, 1977, p. 106. 70 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, 2a edição, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 71 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 527. 72 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, 2a edição, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 73 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 470. 74 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 794. 75 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p 534. 76 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p 535. 77 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, 2a edição, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 78 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p 542. 79 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p 538. 80 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p. 81 http://en.wikipedia.org/wiki/Image:John_Montagu%2C_4th_Earl_of_Sandwich.jpg 82 http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Club-sandwich.jpg 83 http://nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1973/index.html 84 D.F. Shriver, P.W. Atkins, C.H. Langford, Inorganic Chemistry, 2a edição, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 85 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. Armstrong, Shriver & Atkins Inorganic Chemistry, 4a edição, Oxford University Press, Oxford, 2006, p 685. 86 P. Atkins, T. Overtone, J. Rourke, M. Weller, F. 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