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Concepção de Política

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NICOLAU MAQUIAVEL (1469 – 1527) 
 “O Príncipe”, que foi proveniente da desordem imutável da natureza humana. 
 Presença inevitável, de duas forças opostas. Uma das forças quer dominar, enquanto a outra não quer ser 
dominada. 
 Maquiavel sugere duas respostas à anarquia decorrente da natureza humana e do confronto entre os grupos 
sociais: o Principado e a República. 
 Formas de governo: Principado (correspondendo ao reino ou monarquia) e república (que tanto pode ser uma 
aristocracia, quanto uma democracia). 
 Objetivo: como conquistar e manter um Estado. 
 No que diz respeito à política: foi o período da centralização do poder político e da formação dos primeiros 
Estados. 
 Era necessário sua unificação e regeneração por um homem virtuoso capaz de fundar um Estado. Era preciso, 
enfim, um príncipe. 
 O príncipe é visto como um fundador do Estado, um agente da transição. 
 Segundo Maquiavel o Estado deve ser estável, forte e capaz de impor a ordem. 
 O objeto de suas reflexões é a realidade política, e seu maior interesse é o fenômeno do poder. 
 Guiado pela busca da "verdade efetiva das coisas", seu ponto de partida e chegada é a realidade concreta. 
 Maquiavel descreve os traços humanos imutáveis e afirma: os homens “são ingratos, volúveis, simuladores, 
covardes, ante os perigos, ávidos lucros”. 
 Em toda sua obra Maquiavel apresenta uma visão pessimista acerca da natureza humana: Para ele o homem é 
mau, carregado de ambições e de desejos que busca a todo curso satisfaze-lo. 
 A principal crítica que é feita é de que a natureza humana não existe, pois, o homem é histórico. 
 “O Príncipe” caracteriza-se pela busca da “verdade efetiva”, traz consigo uma discussão sobre a sociedade e o 
"jogo de forças humanas e o conflito de paixões”. 
 A concepção de história para Maquiavel pode ser transformada em uma importante e privilegiada fonte de 
ensinamentos. 
 Para Maquiavel, a vida política e o governo dos Estados estão suscetíveis a constantes mudanças que o levam 
da ordem à corrupção em um processo repetitivo, logo cíclico. 
 Maquiavel segue as lições do historiador grego Políbio que passa a relatar que a história passa por inevitável 
ciclo. Portando a história é cíclica, repete-se indefinidamente. Assim, a ordem sucede à desordem e esta, por 
sua vez, clama por uma nova ordem. 
 A política é auto normativa e a relação entre a moral e a política só se sustenta a partir do que é efetivo, e não 
a partir do que é afetivo. 
 A esfera política é relativista, o que para nós individualmente é definido como vício ou virtude, na política 
assume roupagem de vício benéfico e virtude danosa. 
 Maquiavel diz que é louvável a um príncipe conservar a fé e viver com integridade. 
 Dois modos de combate: um pelas leis, outros, pela força. A força explica o fundamento do poder. As leis são 
naturais do homem, e a força relativo aos animais. Todavia como em muitas ocasiões o a lei não é suficiente, 
imprescindível se faz recorrer ao segundo. 
 Para ele a violência é fundadora do estado, o uso da boa violência faz que ocorra a participação política, que 
justifica as afirmações de Maquiavel que revela que as boas leis nascem dos conflitos sociais. 
 A violência surge de anseios dos dois grandes grupos sociais, os grandes e o povo, disso parte um 
enfrentamento do desejo de dominar que parte dos grandes e o desejo de não ser dominado que parte do povo. 
 Maquiavel faz distinção entre Virtude, que é a capacidade de agir no plano político com o fim de manter o 
poder, e a Fortuna, que é aquilo que não pode ser modificado, uma força inabalável fechada a qualquer 
influência. 
 A virtude não se baseia na virtude cristã, enquanto na questão da fortuna, o destino depende da vontade divina, 
da sorte e do acaso, circunstâncias que não podem ser previstas. 
 Maquiavel reinterpreta a política como o resultado das ações concretas dos homens em sociedade e não como 
algo dado, de uma ordem natural e eterna. 
 A atividade política, era uma prática do homem livre de freios extraterrenos. Esta prática exigia virtù, o 
domínio sobre a fortuna. Assim, o homem que possuísse virtù no mais alto grau seria beneficiado à Fortuna. 
 Virtú era denominado como capacidade, esperteza, competência, oportunismo e o saber fazer maldade. 
 Maquiavel ainda sublinha que o poder se funda na força mas é necessário virtù para se manter no poder. 
Consequentemente, sem virtù, sem boas leis, geradoras de boas instituições, e sem boas armas, um poder rival 
poderá impor-se. 
 Homem de virtù deve atrair os favores da alta riqueza, conseguindo, assim, a fama, a honra e a glória para si e 
a segurança para seus governados. 
 Assim, a qualidade exigida do príncipe que deseja se manter no poder é sobretudo a sabedoria de agir 
conforme as circunstâncias. 
Pensamentos 
 Dualismo das concepções cristãs: a Cidade dos Homens (autoridade política) e a Cidade de Deus (poder 
divino). 
 A Justiça é definida pela lei. A Lei um conjunto de costumes baseados no direito natural: inscritos pela fé no 
coração dos homens = consciência coletiva 
 Conflitos entre o poder divino (Igreja) e o poder temporal (Estado) 
 Processo de ascensão do capitalismo: mercantilismo 
 Inglaterra e França: consolidam poder central 
 Itália não realiza unificação nacional: é um conglomerado de pequenas cidades estado rivais, disputados pelo 
Papa, Alemanha, França e Espanha. 
 
Concepção de homem em Maquiavel 
Racionalidade instrumental: busca o êxito, sem se importar com valores éticos 
Cálculo de custo/benefício: teme o castigo 
 
Natureza humana: 
 Homem possui capacidades: força, astúcia e coragem 
 Homem é vil, mas é capaz de atos de virtude 
 Mas não se trata da virtude cristã 
 Não incorpora a ideia da sociabilidade natural dos antigos 
 O homem não muda: não incorpora o dogma do pecado original: natureza decaída que pode se regenerar 
pela salvação divina. 
 
Concepção da História em Maquiavel 
 Perspectiva cíclica, pessimista, de inspiração platônica 
 Tudo se degenera, se sucede e se repete fatalmente 
 Todo princípio corrompe-se e degenera-se 
 Isto só pode ser corrigido por acidente externo (fortuna) ou por sabedoria intrínseca (Virtú) 
 Não manifesta perspectiva teleológica humanidade não tem um objetivo a ser atingido 
 A política não admite a teleologia cristã: o caminho da salvação, a construção do Reino de Deus entre os 
homens. 
 Também não pensa a história sob a perspectiva dos modernos: não menciona a ideia do progresso à 
estrutura cíclica 
 
Concepção de Política em Maquiavel 
 Política: pela primeira vez é mostrada como esfera autônoma da vida social 
 Não é pensada a partir da ética nem da religião: rompe com os antigos e com os cristãos 
 Não é pensada no contexto da filosofia: passa a ser campo de estudo independente 
 Vida política: tem regras e dinâmica independentes de considerações privadas, morais, filosóficas ou 
religiosas 
 Política: é a esfera do poder por excelência 
 Política: é a atividade constitutiva da existência coletiva: tem prioridade sobre todas as demais esferas 
 Política é a forma de conciliar a natureza humana com a marcha inevitável da história: envolve fortuna e 
Virtú. 
 Fortuna: contingência própria das coisas políticas: não é manifestação de Deus ou Providência Divina 
 Há no mundo, a todo momento, igual massa de bem e de mal: do seu jogo resultam os eventos (e a sorte) 
 Virtú: qualidades como a força de caráter, a coragem militar, a habilidade no cálculo, a astúcia, a 
inflexibilidade no trato dos adversários 
 Pode desafiar e mudar a fortuna: papel do homem na história 
 
Concepção de Estadoem Maquiavel 
 Não define Estado: infere-se que percebe o Estado como poder central soberano que se exerce com 
exclusividade e plenitude sobre as questões internas externa de uma coletividade 
 Estado: está além do bem e do mal: o Estado é regulariza as relações entre os homens: utiliza-os nos que eles 
têm de bom e os contém no que eles têm de mal. 
 Sua única finalidade é a sua própria grandeza e prosperidade. Daí a ideia de “razão de Estado”: existem 
motivos mais elevados que se sobrepõem a quaisquer outras considerações, inclusive à própria lei. 
 Tanto na política interna quanto nas relações externas, o Estado é o fim: e os fins justificam os meios. 
 
THOMAS HOBBES: O MEDO E A ESPERANÇA 
 Hobbes é um contratualista: afirma que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato. Os homens 
viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização. 
 Contrato social: criado por lei de natureza – preceito estabelecido pela razão. Regulamenta a desordem social. 
 Defende que o homem pode fazer de tudo para defender seu direito natural, isto é, defender seu direito a vida 
= vivem com medo = contrato social. 
 A definição de natureza humana de Hobbes é contrária à definição aristotélica do homem como animal social. 
Para Hobbes: O homem natural de Hobbes não é um selvagem. É o mesmo homem que vive em sociedade. A 
natureza do homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida social. 
 Como o homem é, no estado de natureza? 
 Igualdade entre os homens. 
 Situação antes do surgimento do Estado. 
 Homens são racionais. 
 São opacos uns aos olhos dos outros: eu não sei o que o outro deseja, e por isso tenho que fazer uma 
suposição de qual será sua atitude mais razoável. O outro também é forçado a supor o que eu farei. Daí o 
mais razoável para cada um é atacar o outro, ou para vencê-lo, ou para evitar um ataque possível: assim 
a guerra se generaliza entre os homens 
 Se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os outros é a atitude mais racional que 
eu posso adotar. 
 No estado de natureza, essa racionalidade faz com que se generalize a “guerra de todos contra todos” e “o 
homem é o lobo do homem” 
 Guerra de todos contra todos: os homens se reúnem e transferem direitos aos soberanos como representante 
de suas ações. A guerra de todos contra todos não consiste apenas na batalha, mas naquele lapso de tempo 
durante o qual a vontade de travar batalha é suficientemente conhecida. 
 Na natureza do homem encontramos 3 causas principais de discórdia. Primeiro, competição: leva os homens 
a atacar os outros tendo em vista o lucro; segundo, a desconfiança: em vista da segurança e terceiro, a glória: 
em vista da a reputação. 
 O que Hobbes pede é um exame de consciência: “conhece-te a ti mesmo”. O mito de que o homem é sociável 
por natureza nos impede de identificar onde está o conflito. 
 Hobbes apresenta uma visão do indivíduo na qual este almeja principalmente a honra. Entre as causas da 
violência, uma das principais reside na busca da glória. 
 O indivíduo hobbesiano não é um homo economicus. O mais importante para ele é ter os sinais de honra, entre 
os quais se inclui a própria riqueza. 
 O homem vive basicamente da imaginação, mas da imaginação decorrem perigos. Por isso existe uma força no 
Estado que limita os pensamentos desnecessários. 
 Como pôr termo a esse conflito? Há uma base jurídica para isso; depois do direito de natureza, Hobbes define 
o que é a lei de natureza. 
 É necessário distinguir os termos “direito” e “lei” (Jus e Lex). O direito consiste na liberdade de fazer ou de 
omitir, ao passo que a lei determina ou obriga a uma dessas coisas. Direito: de fazer qualquer coisa / Lei: priva, 
limita de fazer qualquer coisa. 
 Uma lei de natureza é um preceito ou regra geral, estabelecido pela razão: Contrato Social. 
 1ª lei: todo homem deve ser esforçar pela paz, na medida em que tenha esperança de conquista. Caso não 
consiga pode procurar as vantagens da guerra. 
 Desta lei fundamental de natureza, mediante a qual se ordena a todos os homens que procurem a paz, deriva 
esta 2ª lei: Que um homem concorde, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação 
aos outros homens, com a mesma liberdade. 
 É esta a lei do Evangelho: Faz aos outros o que queres que te façam a ti. E esta é a lei de todos os homens. 
 Liberdade e Igualdade: Leva a Guerra de todos contra todos. 
 Homens igual em força. 
 Ser humano, o objeto, nadasse opõe. 
 Existe estado de natureza sem oposição. 
 Fazer qualquer coisa que o homem quiser. 
 Súditos: liberdade no silêncio da lei. 
 Mas não basta o fundamento jurídico. É preciso que exista um Estado dotado de espada, armado, para forçar 
os homens ao respeito. Pactos sem espadas não passam de palavras sem força para dar qualquer segurança a 
alguém. Proteção da força armada. 
 As leis de natureza são contrárias às nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para o orgulho e a 
vingança. Se não for instituído um poder suficientemente grande para nossa segurança, cada um confiará 
apenas em sua própria força e capacidade, como proteção contra os outros. 
 O Poder do Estado tem que ser pleno. O Estado medieval não conhecia poder absoluto, nem soberania – os 
poderes do rei eram contrabalançados pelos da nobreza, das cidades, dos Parlamentos. 
 Para Hobbes, a sociedade nasce com o Estado. Sem Estado não há sociedade. 
 A única maneira de instituir um tal poder comum é conferir toda sua força e poder a um homem, ou assembleia 
de homens que possa reduzir suas vontades a uma só. Designa um representante de todos nos direitos da vida 
e segurança: a paz. 
 A essência do Estado: uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os 
outros, foi instituída de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar 
conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. 
 Estado: direito e legitimidade para o uso da força. 
 A tradição contratualista distingue o contrato de associação (pelo qual se forma a sociedade) do contrato de 
submissão (que institui um poder político, um governo, e é firmado entre “a sociedade” e o “príncipe”). 
 Não existe primeiro a sociedade, e depois o poder (o Estado). Sem governo nós nos matamos uns aos outros. 
Por isso o poder do governante tem que ser ilimitado. Pois, se ele sofrer alguma limitação, então quem irá 
julgar se o príncipe continua príncipe ou não – e portanto, será ele que julga, a autoridade suprema. Não há 
alternativa: ou o poder é absoluto, ou continuamos na condição de guerra. 
 O soberano não assina o contrato, este é firmado pelos que vão se tornar súditos. Disso resulta que ele seja 
isento de qualquer obrigação. 
 No contrato social na concepção de Hobbes: 
 Aqueles que estão submetidos a um monarca não podem sem licença deste renunciar à monarquia 
 O súdito não pode contrariar o soberano; 
 É injusto questionar o soberano; 
 Dado que por instituição é autor de tudo que seu soberano fizer 
 Não pode haver quebra do pacto da parte do soberano, portanto nenhum dos súditos pode libertar-se da 
sujeição 
 Não pode acusar o soberano de injúrias. 
 O poder absoluto é dado ao soberano. 
 Aquele que detém o poder soberano não pode justamente ser morto, nem de qualquer outra maneira 
pode ser punido por seus súditos 
Para Hobbes, o Direito de propriedade é feito após contrato social, e é controlado pelo soberano, que tem direito 
de intervir na propriedade. Direito que foi contestado pelos liberais. 
Para Hobbes, o direito da propriedade privada pertence ao soberano, sendo ele o responsável por distribuir a 
terra. Como Hobbes escreve em um momentono qual a burguesia está em ascensão, ela irá considerá-lo um autor 
maldito, pois defende a ideia de que as terras não devem ficar sob a guarda de um soberano. 
JOHN LOCKE E O INDIVIDUALISMO LIBERAL 
 O individualismo é uma opinião que demonstra a declaração do indivíduo ante a sociedade e o Estado. 
Liberdade, propriedade privada e limitação do poder do Estado e a ideologia do individualismo forma seu 
alicerce sobre a igualdade e a liberdade, quando desprezam a camada social e todos os homens passam a ser 
iguais e livres diante o Estado. 
 Na filosofia política de John Locke, as pessoas são todas iguais por natureza, por isso viviam em harmonia. 
 O século XVII foi marcado pelo antagonismo entre a Coroa e o Parlamento, controlados, respectivamente, pela 
dinastia Stuart, defensora do absolutismo, e a burguesia ascendente, partidária do liberalismo. Locke era 
opositor dos Stuart. 
 Esse conflito assumiu também conotações religiosas. Finalmente, a crise político-religiosa foi agravada pela 
rivalidade econômica entre os beneficiários dos privilégios e monopólios mercantilistas e os setores que 
advogavam a liberdade de comércio e de produção. 
 A Revolução Puritana, como foram denominados esses eventos, culminou com a execução de Carlos I e a 
implantação da república na Inglaterra. 
 O Protetorado de Cromwell, transformou a Inglaterra numa grande potência naval e comercial. Em 1660 a 
morte do Lorde Protetor envolveu o país numa crise política cuja solução, para evitar uma nova guerra civil, 
foi a restauração da monarquia e o retorno dos Stuart ao trono inglês. 
 Durante a Restauração (1660-88) reativou-se o conflito entre a Coroa e o Parlamento, que se opunha à política 
pró-católica e pró-francesa dos Stuart. Em 1680, no reinado de Carlos II, o Parlamento cindiu-se em dois 
partidos, os Tories e os Whigs, representando, respectivamente, os conservadores e os liberais. 
 A crise da Restauração chegou ao auge no reinado de Jaime, II, soberano católico e absolutista. Os abusos reais 
levaram à união dos Tories e Whigs que, aliando-se a Guilherme de Orange, chefe de Estado da Holanda e genro 
de Jaime II, organizaram uma conspiração contra o monarca "papista". 
 O Segundo tratado é uma justificação ex post facto da Revolução Gloriosa, onde Locke fundamenta a 
legitimidade da deposição de Jaime II por Guilherme de Orange e pelo Parlamento com base na doutrina do 
direito de resistência. 
 A Revolução Gloriosa assinalou o triunfo do liberalismo político sobre o absolutismo e, com a aprovação do 
Bill of Rights em 1689, assegurou a supremacia legal do Parlamento sobre a realeza e instituiu na Inglaterra 
uma monarquia limitada. 
 Além de defensor da liberdade e da tolerância religiosas, Locke é considerado o fundador do empirismo, 
doutrina segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência. Como filósofo, Locke é conhecido pela 
teoria da tábula rasa do conhecimento, desenvolvida no Ensaio sobre o entendimento humano. 
 Tratados do governo Civil: 
 O Primeiro tratado é uma refutação do Patriarca, que defende o direito divino dos reis com base no princípio 
da autoridade paterna que Adão, supostamente o primeiro pai e o primeiro rei, legará à sua descendência. 
 O Segundo tratado é um ensaio sobre a origem, extensão e objetivo do governo civil. Nele, Locke sustenta a 
tese de que nem a tradição nem a força, mas apenas o consentimento expresso dos governados é a única fonte 
do poder político legítimo. 
 No plano teórico, o Segundo tratado constitui um importante marco da história do pensamento político, e, a 
nível histórico concreto, exerceu enorme influência sobre as revoluções liberais da época moderna. 
 Locke é um dos principais representantes do jusnaturalismo ou teoria dos direitos naturais e afirma, ao 
contrário da doutrina aristotélica, que a existência do indivíduo é anterior ao surgimento da sociedade e do 
Estado. 
 O estado de natureza era uma situação real e historicamente determinada pela qual passara, ainda que em 
épocas diversas, a maior parte da humanidade e na qual se encontravam ainda alguns povos. 
 Esse estado de natureza diferia do estado de guerra hobbesiano, baseado na insegurança e na violência, por 
ser um estado de relativa paz, concórdia e harmonia. 
 Nesse estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam da propriedade que, numa primeira 
acepção genérica utilizada por Locke, designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos 
naturais do ser humano. 
 Para Locke, ao contrário de Hobbes, a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo uma instituição 
anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado. 
 O homem era naturalmente livre e proprietários de sua pessoa e de seu trabalho. Como a terra fora dada por 
Deus em comum a todos os homens, ao incorporar seu trabalho à matéria bruta que se encontrava em estado 
natural o homem tornava-a sua propriedade privada. O trabalho era, na concepção de Locke, o fundamento 
originário da propriedade. 
 Com o dinheiro surgiu o comércio e também uma nova forma de aquisição da propriedade, que, além do 
trabalho, poderia ser adquirida pela compra. O uso da moeda levou, finalmente, à concentração da riqueza e à 
distribuição desigual dos bens entre os homens. 
 A concepção de Locke, segundo a qual "é na realidade o trabalho que provoca a diferença de valor em tudo 
quanto existe", pode ser considerada, em certa medida, como precursora da teoria do valor - trabalho, 
desenvolvida por Smith e Ricardo, economistas do liberalismo clássico. 
 O Contrato Social: 
 O estado de natureza é relativamente pacífico. É a necessidade de superar esses inconvenientes que leva os 
homens a se unirem e estabelecerem livremente entre si o contrato social. 
 O objetivo do Estado civil é a preservação da propriedade e a proteção da comunidade tanto dos perigos 
internos quanto das invasões estrangeiras. 
 O passo seguinte é a escolha pela comunidade de uma determinada forma de governo. Na escolha do governo 
a unanimidade do contrato originário cede lugar ao princípio da maioria, ao mesmo tempo em que são 
respeitados os direitos da minoria. 
 Independentemente da forma de governo (monarquia, oligarquia, democracia ou misto), “todo o governo não 
possui outra finalidade além da conservação da propriedade”. 
 Definida a forma de governo, cabe igualmente à maioria escolher o poder legislativo, que Locke, conferindo-
lhe uma superioridade sobre os demais poderes, denomina de poder supremo. 
 Quando o executivo ou o legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a propriedade, o governo deixa 
de cumprir o fim a que fora destinado, tornando-se ilegal e degenerando em tirania. O que define a tirania é o 
exercício do poder para além do direito, visando o interesse próprio e não o bem público ou comum. 
 A violação deliberada e sistemática da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem 
amparo legal colocam o governo em estado de guerra contra a sociedade e os governantes em rebelião contra 
os governados, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência à opressão e à tirania. 
 Através dos princípios de um direito natural preexistente ao Estado, baseado no consenso, de subordinação 
do poder executivo ao poder legislativo, de um poder limitado, de direito de resistência, Locke expôs as 
diretrizes fundamentais do Estado liberal. 
MONTESQUIEL 
 A obra mais importante de Montesquieu: L'Esprit des Lois (O Espirito das Leis). 
 Montesquieu propõe o problema de saber se há leis gerais que presidem à formação e ao desenvolvimento da 
sociedade humana, de modo geral, e das sociedades, consideradas em particular, procurando incluira análise 
da natureza dos governos que não pertencem ao mundo europeu. 
 O foco é a explicação da variedade das sociedades humanas e seus respectivos governos, não só no tempo mas 
também no espaço. 
 Várias disciplinas lhe atribuem o caráter de precursor, ora como pai da sociologia, ora como inspirador do 
determinismo geográfico, e como aquele que na ciência política, desenvolveu a teoria dos 3 poderes, que ainda 
hoje permanece como uma das condições de funcionamento do estado de direito. 
 Membro da nobreza, o objeto de sua reflexão é como tirar partido de certas características do poder nos 
regimes monárquicos, para dotar de maior estabilidade os regimes que viriam a resultar das revoluções 
democráticas. 
 Concepção de lei 
 “Relações necessárias que derivam da natureza das coisas” – rompe com a tradicional submissão da política à 
teologia e estabelece uma ponte com a física newtoniana 
 Todos os seres têm suas próprias leis: a divindade, o mundo material, as inteligências superiores ao homem, 
os animais, os seres humanos". 
 Todos os seres do mundo (inclusive Deus) são governados por leis e é possível enunciar uma lei sempre que 
há relações necessárias entre dois seres, de modo que, dado um deles, não pode deixar de haver também o 
outro. 
 Há, portanto, uma razão primitiva, e as leis são as relações entre ela e os vários seres, bem como as relações 
destes últimos entre si. 
 Mas Montesquieu não considera o universo do homem da mesma forma como o físico considera o universo 
natural: o mundo da inteligência está bem longe de ser tão bem governado quanto o mundo físico. Por quê? 
Devido ao fato de que o homem se inclina, pela sua própria natureza, a desobedecer às leis naturais. 
 Consequência: para assegurar o respeito às leis naturais, os homens foram obrigados a dar-se outras leis - as 
leis positivas, promulgadas em todas as sociedades pela autoridade à qual incumbe manter a coesão do grupo. 
 O universo do homem é influenciado pela lei natural, comum a todos, e por leis positivas - que, devendo 
adaptar-se às diferentes modalidades de organização social, divergem de povo para povo. 
 O objetivo de Montesquieu é o Espírito das leis, isto é a relação entre as leis positivas e “diversas coisas”, como 
o clima, as dimensões do Estado, a organização do comércio, as relações entre as classes. 
 Causas da variedade das leis são de três categorias: "físicas" ou "naturais", como o clima, a maior ou menor 
fertilidade do solo; "econômico-sociais" como o modo de subsistência (distinguindo-se, sob este prisma, os 
povos selvagens, caçadores; bárbaros, pastores; civis; agricultores e depois comerciantes); e espirituais", 
como a religião 
 As formas de governo 
 Os pensadores contratualistas estão fundamentalmente preocupados com a natureza do poder político (o 
Contrato Social). Montesquieu está fundamentalmente preocupado com a estabilidade dos governos, 
retomando a problemática de Maquiavel, que discute as condições de manutenção de poder. 
 Duas dimensões do funcionamento político das instituições: a natureza e o princípio de governo. 
 Natureza do governo: quem detém o poder. 
 Republicano – no qual todo o povo, ou pelo menos uma parte, detém o poder supremo (democracia ou 
aristocracia) 
 Monárquico – no qual governa uma só pessoa, de acordo com leis fixas e estabelecidas 
 Despótico – governa a vontade de um só, sem leis ou freios 
 
 Princípio de governo: a paixão que o move, o modo de funcionamento dos governos, ou seja, como o poder é 
exercido. 
 O princípio da monarquia é a honra; 
 O princípio da república é a virtude; 
 O princípio do despotismo é o medo 
 
 O despotismo, apoiado no medo, seria menos que um regime político, quase uma extensão do estado de 
natureza, onde os homens atuam movidos pelo instinto de sobrevivência. 
 A honra é uma paixão social. Ela corresponde a um sentimento de classe, a paixão da desigualdade, o amor aos 
privilégios e prerrogativas que caracterizam a nobreza. 
 Só a virtude é uma paixão propriamente política: ela nada mais é do que espírito cívico, a supremacia do bem 
público sobre os interesses particulares. 
 Tanto na república como no despotismo, todos são iguais. 
 O governo republicano é muito frágil, porque repousa na virtude dos homens. Tudo o que contribui para 
diversificar o povo e aumentar a distância cultural e de interesses entre suas classes, conspira contra a 
prevalência do bem público. 
 A monarquia não precisa da virtude, e mesmo as paixões desonestas da nobreza a favorecem, pois ela repousa 
em instituições. 
 Na Monarquia, são as instituições que contêm os impulsos da autoridade executiva e os apetites dos poderes 
intermediários, o poder está dividido, o poder contraria o poder, esta é a chave da moderação (estabilidade). 
 Os 3 poderes 
 Montesquieu não defendia a restauração dos privilégios da nobreza, tratava-se de procurar, naquilo que 
confere estabilidade à monarquia, algo que possa substituir o poder moderador que resultava do papel da 
nobreza. 
 Teoria da separação de poderes, ou equipotência: a condição para o Estado de Direito é a separação dos 
poderes executivo, legislativo e judiciário e a independência entre eles, de forma que essas 3 funções deveriam 
ser dotadas de igual poder. 
 Montesquieu ressalta a interpenetração das funções judiciárias, legislativas e executivas. A separação de 
poderes tem outra significação: trata-se de assegurar a existência de um poder que seja capaz de contrariar 
outro poder. É um problema político de correlação de forças, e não um problema jurídico-administrativo, de 
organização de funções. 
 A estabilidade do regime ideal está em que a correlação entre as forças reais da sociedade possa se expressar 
também nas instituições políticas. 
 Ela aponta para a necessidade de arranjos institucionais que impeçam que alguma força política possa a priori 
prevalecer sobre as demais. 
ROSSEAU 
 Iluminismo – difusão do saber como meio mais eficaz para se pôr fim à superstição, à ignorância, ao império 
da opinião e do preconceito. 
 Prêmio da Academia de Dijon com a dissertação sobre o tema: O restabelecimento das ciências e das artes 
teria contribuído para aprimorar os costumes? 
 Rousseau responde negativamente a essa questão, posição que é bem diferente do espírito da época. 
 A crítica às ciências e às artes, contudo, não significa uma recusa do que seria a verdadeira ciência. Sua crítica 
é à ciência que se pratica mais por orgulho do que por um amor ao saber, o que contribui para piorar as coisas. 
A verdadeira filosofia é a virtude, e para conhecer suas leis basta voltar-se para si mesmo e ouvir a voz da 
consciência. 
 Uma vez que já não se encontram homens virtuosos, as ciências e a arte, embora tenham contribuído para a 
corrupção dos costumes, pode, no entanto, impedir que a corrupção seja ainda maior. 
 Não se trata mais de levar as pessoas a agirem bem, basta distraí-las de praticarem o mal. 
 Filósofo à margem dos grandes nomes e avesso aos grandes salões e às cortes. Nem por isso estaria afastado 
das polêmicas de sua época. Contribui para a Enciclopédia de Diderot com artigos sobre a arte e a música. 
O estado de natureza e o pacto social 
 “Sobre a origem da desigualdade e da propriedade privada” 
 Objetivo de construir a história hipotética da humanidade. 
 Esta seria a que culmina com a legitimação da desigualdade, quando o rico apresenta a proposta do pacto. 
 Unamo-nos para defender os fracos da opressão, conter os ambiciosos e assegurar a cada um a posse daquilo 
que lhe pertence, instituamos regulamentos de justiça e de paz, aos quais todos sejam obrigados a conformar-
se, que não abram exceção para ninguéme que, submetendo igualmente a deveres mútuos o poderoso e o 
fraco, reparem de certo modo os caprichos da fortuna. Numa palavra, em lugar de voltar nossas forças contra 
nós mesmos, reunamo-nos num poder supremo que nos governe segundas sábias leis, que protejam e 
defendam todos os membros da associação, expulsem os inimigos comuns e nos mantenham em concórdia 
etc. 
 "o homem nasce livre e em toda parte encontra-se a ferros" 
 O que pretende estabelecer no Contrato social são as condições de possibilidade de um pacto legítimo, através 
do qual os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, ganhem, em troca, a liberdade civil. 
 O fundamental é a condição de igualdade das partes contratantes: a alienação total de cada associado, com 
todos os seus direitos, à comunidade toda, porque em primeiro lugar, cada um dando-se completamente, a 
condição é igual para todos e sendo a condição igual para todos, ninguém se interessa por tomar onerosa para 
os demais. 
 O corpo soberano que surge após o contrato é o único a determinar o modo de forma de distribuição da 
propriedade, como uma de suas atribuições possíveis, já que a alienação da propriedade de cada parte 
contratante foi total e sem reservas 
 Um povo só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis num clima de igualdade, de tal 
modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo 
e de cada cidadão, como partes do poder soberano. Isto é, uma submissão à vontade geral e não à vontade de 
um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos. 
 “Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo é um ato de liberdade. 
 
 
A vontade e a representação 
 Este processo de legitimação, da fundação do corpo político deverá estender-se também para a máquina 
política em funcionamento. É preciso que o ato de vontade que fundou o corpo político se realize. A 
necessidade de se criarem os mecanismos adequados para a realização desses fins. Esta tarefa caberá ao corpo 
administrativo do Estado. 
GOVERNO é definido como: 
 Funcionário do soberano 
 Órgão limitado pelo poder do povo e não como um corpo autônomo ou então como o próprio poder máximo, 
confundindo-se nesse caso com o soberano. 
 Qualquer forma de governo que se venha a adotar terá que submeter-se ao poder soberano do povo. Neste 
sentido, as formas clássicas de governo, a monarquia, a aristocracia e a democracia, teriam um papel 
secundário dentro do Estado e poderiam variar ou combinar-se de acordo com as características do país. 
 Riscos da instituição do governo: sua tendência a degenerar. O governo tende a ocupar o lugar do Soberano. 
Ao invés de submeter-se ao povo, o governo tende a subjuga-lo. 
Representação política 
 Rousseau não admite a representação ao nível da soberania. Uma vontade não se representa. O exercício da 
vontade geral através de representantes significa uma sobreposição de vontades. 
 Mas Rousseau reconheceria a necessidade de representantes ao nível do governo. É preciso vigilância 
desdobrada sobre o executivo e os representantes, cuja tendência é a de agirem em nome de si mesmos e não 
em nome daqueles que representam. Seria conveniente que fossem trocados com certa frequência para não 
se perpetuarem em suas funções. 
 Rousseau estaria propondo um outro tipo de sociedade e acreditando numa ação política transformadora? 
Rousseau tem certa incredulidade quanto à recuperação da liberdade por povos que já a perderam 
completamente. 
 Não se deve tomar a exceção pela regra. As revoluções são exceções na vida dos povos. O Contrato Social é 
uma análise do modo de funcionamento da engrenagem política e de suas condições de legitimidade que se 
transformou em manual prático de política.

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