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Direito_Administrativo_-_Aula_01

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Aula 01 
Direito Administrativo I 
Prof. André Henrique 
 
Bibliografia: 
 Curso de Dir. Adm. – Celso Antônio Bandeira de Mello – Ed. Malheiros 
 Direito Administrativo – Maria Sylvia Zanella Di Pietro – Ed. Atlas 
 Direito Administrativo Brasileiro – Hely Lopes Meirelles – Ed. Malheiros 
 Direito Administrativo – Diogenes Gasparini – Ed. Saraiva 
 Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Ed. Impetus 
Ementa: 
Primeiro bimestre: Direito Administrativo – introdução. Princípios do Direito 
Administrativo. Administração pública: estrutura administrativa. 
Segundo bimestre: Poderes Administrativos. Atos administrativos. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
1. INTRODUÇÃO 
Direito é um conjunto de normas jurídicas (regras), impostas coativamente pelo Estado, 
para possibilitar uma coexistência pacífica dos indivíduos (harmonia e fraternidade). 
Para fins didáticos, o direito é dividido em ramo do direito interno (se preocupa com as 
relações internas) e ramo do direito externo (direito internacional- define as regras das 
relações externas, entre as diversas nações e seus indivíduos). 
O direito interno ainda é dividido  
 em público (a finalidade primordial é a regulação dos interesses estatais e sociais, 
só alcançando as condutas individuais de forma indireta. O direito público se 
preocupa com a atuação do Estado na satisfação do interesse público. A principal 
característica é a existência de uma desigualdade jurídica entre os polos dessas 
relações); e 
 em privado (autonomia da vontade - ele se preocupa com a regulamentação dos 
interesses individuais, como forma de possibilitar o convívio das pessoas em 
sociedade e uma harmônica fruição de seus bens, quer seja entre os interesses 
individuais ou entre os interesses individuais e estatais). Relação entre 
particulares. 
O Direito Administrativo é um ramo do Direito interno, do Direito Público, pois ele rege 
a organização e o exercício estatal para a satisfação do interesse público. Trata-se de um 
ramo do Direito Público. Qual o foco deste último? Ao pensar em público  aflora a 
idéia de atuação do Estado a fim de satisfazer o interesse público. 
Obs.: Regra de direito público é também de ordem pública, mas encontramos também 
regra de ordem pública no direito privado. Assim, o conceito de ordem pública é mais 
amplo do que o conceito de direito público, e não são termos sinônimos. Ordem Pública 
são regras convencionadas pelas partes, inafastáveis pelo Estado. 
2. ORIGEM 
Di Pietro – Séc. XVIII e XIX – Formação do chamado estado de direito. 
Idade média: Inexistência de estado e de limitação do poder dos Reis. 
Início da idade moderna: absolutismo – inexistência de regras administrativas: 
Fim do absolutismo: Início do constitucionalismo e do direito administrativo. 
Direito francês: 
Termo inicial do direito administrativo: Lei de 28 pluviosa do Ano VIII (1800) – 
Organizou juridicamente a Administração Pública na França – Pós revolução francesa. 
Ampliação da separação dos poderes: Criação do contencioso administrativo. 
Criação do Conselho do Estado Francês: separou a análise das questões administrativas e 
das questões civis com legislações distintas (Caso Agnés Blanco – 1873 – Definiu 
competência administrativa). 
Primeiro estado a reconhecer o direito administrativo como matéria independente. 
Obs: O direito administrativos alemão e italiano, embora não tenham surgido de um 
processo revolucionários como o francês, mas sim de um processo evolutivo, foi 
fortemente influenciado pelo francês. 
Direito anglo-americano: 
Baseado na common law (decisões judiciárias), diferente da statute law (legislação). 
Separação de poderes inferior à francesa (poder judiciário exerce controle sobre a 
administração pública). 
Aqui, o direito administrativo nasceu de uma exigência da própria sociedade moderna, 
mas não de um processo revolucionário. 
Direito brasileiro 
Período imperial – surgimento das cadeiras de direito administrativo das universidades. 
Período republicano – evolução do direito administrativo: Constituição de 1934 – 
consolidação do direito administrativo. 
3. CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO: 
É certo que os manuais trazem longos conceitos, definições, em razão da indefinição do 
objeto do Dir. Administrativo em si. Assim, vários conceitos e teorias foram criadas. 
Vamos analisar as teorias, bem como a sua eventual aplicação no ordenamento jurídico 
brasileiro. 
Teorias: 
1. Escola Legalista (ou Exegética, empírica ou caótica): Surgiu na França. o Direito 
Administrativo limita-se ao estudo de leis e sua interpretação. Não foi adotada no Brasil. 
A lei não é a única fonte do direito administrativo. A doutrina brasileira reconhece que 
vamos estudar as leis sim, mas vamos somar a análise dos princípios. Com base no 
binômio: princípio + lei. Surgiram várias teorias. Vejamos: 
2. Escola do Serviço Público: o Direito Administrativo estuda toda atuação prestada pelo 
Estado (serviço público, que era praticamente todo o serviço prestado pelo estado). Essa 
ideia era abrangente demais, não foi adotada pelo Brasil. O direito administrativo não 
estuda serviço privado prestado pelo Estado, não sendo tão amplo assim. Essa teoria não 
serve, além do mais, ela exclui outros institutos do direito administrativo como os bens 
públicos e a intervenção na propriedade. Ademais, também temos os at 
os da administração pública e não tão-somente atos administrativos. 
3. Critério do Poder Executivo: o Direito Administrativo só se preocupa com a atuação 
do Poder Executivo, ignorando o Legislativo e o Judiciário. A teoria do CRITÉRIO 
ADMINISTRATIVO* é insuficiente, já que o direito administrativo estuda os três poderes 
estatais, desde que estejam administrando. *CAI MUITO EM CONCURSO, CONTUDO 
TRATA-SE DE CRITÉRIO SUPERADO. ATÉ FCC JÁ INDAGOU. 
4. Critério das Relações jurídicas: o Direito Administrativo tem como objeto o estudo de 
todas as relações jurídicas do Estado (administração e administrados). Critica-se essa 
teoria, pois o Dir. Adm. não estuda todas as relações jurídicas do Estado, caso contrário, 
excluiríamos os outros Poderes como o Legislativo e o Judiciário. Ademais, há questões 
de âmbito exclusivamente privado. Se o Dir. Adm. estudasse tudo, prejudicaria os outros 
ramos. Por óbvio, tal critério também não corresponde com nosso ordenamento. 
Agora veremos algumas teorias que foram adotadas pelo Brasil, mas foram tidas como 
incompletas/insuficiente. 
✔ Critério Teleológico: o Direito Administrativo é um sistema de princípios 
jurídicos que regula as atividades concretas do estado para cumprimento de seus 
fins, na busca do interesse comum (Oswaldo Aranha Bandeira de Mello). Esse 
critério significa que o direito administrativo representa um conjunto harmônico 
de regras e princípios. Esse critério é insuficiente. É verdade tal conceito, porém não 
fala sobre o que rege, o que permite, “o quê?”. *Cai muito em concurso. 
✔ Critério Residual (ou também Negativo): o Direito Administrativo é definido por 
exclusão, uma vez que tem por objeto aquilo que não é atividade legislativa, nem 
judiciária (Tito Prates da Fonseca). Também é um critério insuficiente. 
✔ Critério da Distinção entre a atividade jurídica e a atividade social do Estado. 
Direito administrativo é “o conjunto dos princípios que regulam a atividade 
jurídica não contenciosa do Estado e a constituição dos órgãos e meios de sua ação 
em geral” (Mário Masagão e José Cretella Júnior). Nesse conceito, O Direito 
Administrativo estuda a atividade jurídica e não a atividade social do Estado. É 
muito pobre para ser conceito de Direito Adm. Por óbvio, não estudados a política, 
mas estudados a sua viabilização. Ex: fome zero, mas como será paga a bolsa 
família a fim de combater a fome? 
Critério da Administração Pública (HELY LOPES MEIRELLES- *conceitomais 
importante): 
Conceito: conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e 
as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins 
desejados pelo Estado. 
É o conceito moderno de Direito Administrativo, que o determina como: conjunto 
harmônico de princípios e regras critério teleológico  (traduz o que chamamos hoje 
de regime jurídico administrativo) que legitimam a disciplina administrativa, estudando 
os seus órgãos, agentes e a sua atividade, de forma direta (sem provocação), concreta 
critério residual e imediata critério da distinção  (função jurídica do Estado) a 
realizar os fins desejados pelo Estado. 
Direta  Independe de provocação. Exemplo de forma indireta, que depende de 
provocação é a função jurisdicional. 
Concreta  Exclui a função legislativa do Estado, pois é abstrata. (Ex.: Legislar). 
Imediata Exclui a função social do Estado (Atividade Social), assim fica com os 
cuidados da atividade jurídica do Estado. 
Obs: Quem define os fins/objetivos do Estado é o Direito Constitucional e o Direito 
Administrativo apenas viabilizam esses fins. 
O Poder Judiciário precisa de provocação, agindo, assim, de forma indireta. 
O Poder Legislativo é quem cria normas abstratas. 
A forma mediata do Estado agir está ligada com sua função social, como por exemplo, 
com a escolha da política pública. 
Situações x exemplos: 
Nomeação de servidor é  concreta 
Desapropriação é um ato  concreto. Situação concreta. 
Multa trânsito  ato concreto. 
Logo, não tem a ver com a atividade abstrata do Estado. A função abstrata por 
excelência é a legislativa. 
Fechar padaria suja  direta. Ato direto. 
Obs: Prof. Celso Antônio critica essa teoria, pois afirma que, embora o direito 
administrativo possa ser definido como o “ramo do direito público que disciplina a 
função administrativa e os órgãos que o exercem”, tal conceito é defeituoso, porque 
consideraria a integralidade de tudo o que estivesse compreendido na função 
administrativa, o que não ocorre, tendo em vista que uma parcela dessas atividades é 
tratada por outros ramos do direito, como o Direito Tributário, Financeiro, 
Previdenciário e outros. 
Função administrativa: “atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e 
imediatamente os fins desejados pelo Estado”. 
4. RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DO DIREITO E COM AS CIÊNCIAS SOCIAIS 
Com o Direito Constitucional o Direito Administrativo mantém estreita afinidade e 
íntimas relações, uma vez que ambos cuidam da mesma entidade: o Estado. 
Diversificam-se em que o Direito Constitucional se interessa pela estrutura estatal e 
pela instituição política do governo, ao passo que o Direito Administrativo cuida, tão-
somente, da organização interna dos órgãos da Administração, de seu pessoal e do 
funcionamento de seus serviços, de modo, a satisfazer as finalidades que lhe são 
constitucionalmente atribuídas. Daí termos afirmado que o Direito Constitucional faz a 
anatomia do Estado, cuidando de suas formas, de sua estrutura, de sua substância, no 
aspecto estático, enquanto o Direito Administrativo estuda-o na sua movimentação, na 
sua dinâmica. 
Com o Direito Tributário e com o Financeiro são sensíveis as relações do Direito 
Administrativo, dado que as atividades vinculadas à imposição e arrecadação de 
tributos, à realização da receita e efetivação das despesas públicas, são eminentemente 
administrativas. 
Com o Direito Penal a intimidade do Direito Administrativo persiste sob muitos 
aspectos, a despeito de atuarem em campos bem diferentes (ilícitos penais praticados 
pelos servidores públicos). Certo é que o ilícito administrativo não se confunde com o 
ilícito penal, assentando cada qual em fundamentos e normas diversas. Mas não é 
menos verdade que a própria Lei Penal, em muitos casos, tais como nos crimes contra a 
Administração Pública (CP, arts. 312 a 327), subordina a definição do delito à 
conceituação de atos e fatos administrativos. Noutros casos, chega, mesmo, a relegar à 
Administração prerrogativas do Direito Penal, como ocorre na caracterização de 
infrações dependentes das chamadas normas penais em branco. 
Com o Direito Processual (Civil e Penal) o Direito Administrativo mantém intercâmbio 
de princípios aplicáveis a ambas as disciplinas, na regulamentação de suas respectivas 
jurisdições (Processo Administrativo Disciplinar). Se, por um lado, a Justiça Comum não 
dispensa algumas normas administrativas na movimentação dos feitos, por outro, a 
jurisdição administrativa serve-se de princípios tipicamente processuais para nortear o 
julgamento de seus recursos. Não raro, são as próprias leis administrativas que 
determinam a aplicação de normas processuais comuns e princípios gerais do Direito 
Judiciário aos casos análogos da Administração. 
Com o Direito do Trabalho, a ligação está no empregado público (exerce função 
pública, mas é regido pela CLT). 
Com do Direito Previdenciário, a relação é com as instituições de previdência e 
assistência ao assalariado, já que tais organizações são instituídas, entre nós, como 
autarquias administrativas. 
Com o Direito Eleitoral, o Direito Administrativo tem muitos pontos de contato na 
organização da votação e apuração dos pleitos, no funcionamento dos partidos políticos, 
no ordenamento e fiscalização da propaganda partidária e em outros assuntos de 
caráter nitidamente administrativo, embora da competência da Justiça Eleitoral. Pode-se 
afirmar, mesmo, que toda a parte formal dos atos eleitorais permanece sob a regência do 
Direito Administrativo, uma vez que aquele Direito não dispõe de métodos próprios 
para a execução das atividades que lhe são reservadas. Seus princípios específicos só 
alcançam os aspectos materiais dos atos eleitorais e o julgamento de seus recursos, 
sabido que a Justiça Eleitoral é parte integrante do Poder Judiciário (CF, arts. 118 a 121). 
Com o Direito Civil e Comercial as relações do Direito Administrativo são intensíssimas, 
principalmente no que se refere aos contratos e obrigações do Poder Público com o 
particular. A influência do Direito Privado sobre o Direito Público chega a tal ponto que, 
em alguns países, aquele absorveu durante muito tempo o próprio Direito 
Administrativo, impedindo sua formação e desenvolvimento, como agudamente 
observou Dicey no Direito anglo-norte-americano. 
Com as Ciências Sociais o Direito Administrativo mantém estreitas relações, 
principalmente com a Sociologia, com a Economia Política, com a Ciência das Finanças 
e com a Estatística. Como disciplinas sociais, ou antropológicas, atuam no mesmo campo 
do Direito - a sociedade -, apenas com rumos e propósitos diversos. Enquanto as 
Ciências Jurídicas visam a estabelecer normas coercitivas de conduta, as Ciências Sociais 
(não jurídicas) preocupam-se com a formulação de princípios doutrinários, deduzidos 
dos fenômenos naturais que constituem o objeto de seus estudos, mas desprovidos de 
coação estatal. A estas Ciências o Direito Administrativo pede achegas para o 
aperfeiçoamento de seus institutos e de suas normas, visando a ajustá-los, cada vez mais 
e melhor, aos fins desejados pelo Estado, na conformidade da ordem jurídica 
preestabelecida. 
Com as Ciências Políticas, também há inter-relação, (rumos políticos nas atividades 
administrativas). 
 
FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Fonte é aquilo que provoca uma regra do direito administrativo. 
Primárias: nascedouro do direito 
Secundárias: instrumentos assessórios 
Leis 
É fonte primária (única fonte primária). Lei em sentido amplo (CF, LC, MP, LO e outras 
espécies normativas) e toda e qualquer espécie normativa, desde que respeite a relação 
de compatibilidade vertical, haja vista que nosso sistema está posto em forma 
hierarquizada. Frisa-nos que os atos administrativos estão na base da pirâmide.Assim, a 
norma inferior precisa ser compatível com o ato superior (logo, o ato conforme a lei  
a lei conforme a CF). 
Segundo o STF, o nosso ordenamento jurídico é organizado numa estrutura com norma 
superior e norma inferior, e por isso é escalonado, hierarquizado. É a lei que traça os 
limites de atuação dos indivíduos e do próprio Estado nas atividades administrativas, 
devido ao seu conteúdo normativo e obrigatório. 
Topo da estrutura normativa: Constituição federal; 
Corpo da estrutura normativa: Leis Complementares e leis ordinárias; 
Base da estrutura normativa: Regulamentos. 
Da forma acima, o STF determinou que a legislação brasileira deve observar uma 
relação de compatibilidade vertical. 
 
Doutrina 
É fonte secundária. É o conjunto de idéias e trabalhos emanados dos nossos estudiosos 
administrativistas. Por ser a doutrina altamente divergente, a jurisprudência, 
principalmente no direito administrativo, “ajuda” nas soluções de opiniões 
contraditórias. Frisa-se que nossas leis são esparsas e não codificadas. 
Jurisprudência 
É fonte secundária. São decisões judiciais reiteradas num mesmo sentido. A 
jurisprudência consolidada, cristalizada faz originar uma súmula (efeito orientativo), 
como regra. A partir da EC/45 algumas súmulas podem vincular, mas para tanto a 
súmula deve passar por um procedimento próprio (frisa-se que as vinculantes provêm 
do STF), as quais são constituídas quando o assunto já foi amplamente discutido (em 
tese). 
Quanto à “repercussão geral” é certo que também tem efeito vinculante, o mesmo poder 
(leading case). A questão de repercussão geral advém quando determinados casos são 
considerados importantes ou ocorrem em grande quantidade junto aos tribunais 
superiores. 
Costumes 
É fonte secundária. É a prática habitual, reiterada da administração pública, capaz de 
estabelecer padrão obrigatório de comportamento. Sua repentina alteração pode causar 
instabilidade social e incertezas. O nosso costume não cria obrigação nem desobriga-
nos de certo ato jurídico, como por exemplo, o pagamento de um tributo. 
Obs: Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia costume de praxe administrativa: 
 Costume: Uso e convicção generalizada, necessariamente cogente; 
 Praxe administrativa: Prática burocrática rotineira (não cogente). 
Princípios gerais do Direito 
É fonte secundária. São vigas mestras do ordenamento jurídico. Em regra, estão 
implícitas, embora possam ser regras expressas. Estão no alicerce do nosso ordenamento 
jurídico. Ex: sujeito causa dano a outrem terá de indenizar; não precisa de norma 
expressa, pois isso é óbvio. Outro exemplo é a vedação do enriquecimento ilícito sem 
causa; e, ainda, o de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. 
 
SISTEMAS ADMINISTRATIVOS 
Sistema administrativo é o regime adotado pelo Estado para o controle dos atos 
administrativos ilegais ou ilegítimos praticados pelo Poder Público em seus vários níveis 
de governo. Alguns autores preferem chamar de mecanismos de controle. 
1. Sistema francês ou do contencioso administrativo 
Os atos administrativos só podem ser revistos pela própria administração pública. Aqui, 
o Poder Judiciário julga as questões comuns, enquanto as demandas que envolvam 
interesse Administrativo são julgadas por órgão administrativos encabeçados pelo 
chamado Conselho de estado. Excepcionalmente, o Judiciário pode controlar o ato 
administrativo quando, por exemplo: 
 Se tratar de atividade pública de caráter privado (aquela feita pelo Estado em que 
regime é privado); 
 Ações ligadas ao estado e a capacidade das pessoas; 
 Repressão penal; 
 Propriedade privada. 
2. Jurisdição única ou sistema inglês 
O Poder Judiciário é quem revê; controla; dá a palavra final. Há um monopólio do poder 
judiciário da função jurisdicional. É adotado no Brasil, havendo algumas decisões 
administrativas no nosso ordenamento, como o PAD (é exceção e só faz coisa julgada 
administrativa***, ou seja, sem definitividade, uma vez que essa decisão pode ser revista 
pelo poder judiciário). 
***coisa julgada administrativa é a impossibilidade de mudança dentro da administração 
pública. Não é uma verdadeira intangibilidade jurídica, pois nada impede a sua 
modificação na via judicial. 
Afinal, o Princípio da Inafastabilidade de Jurisdição ou da Unicidade de Jurisdição – 
princípio de direito fundamental (CF/88) – é a base do sistema adotado na Jurisdição 
Única. 
Obs: É considerada cláusula pétrea (seu fim atacaria a tripartição de poderes). 
O Brasil já tentou introduzir o sistema Francês em 1977 por meio da EC n. 07. Contudo, 
ela foi inoperante e não saiu da esfera teórica. 
A doutrina (HLM) diz não ser possível a criação de um SISTEMA MISTO, pois a mistura 
entre eles é algo natural. O critério existente é o da predominância.  já foi objeto de 
questão da FCC a possibilidade de adoção do chamado SISTEMA MISTO. 
Há duas situações em que se exige o exaurimento no âmbito administrativo: a justiça 
desportiva e o Habeas Data. 
 
ESTADO, GOVERNO, PODER EXECUTIVO, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, PODER 
PÚBLICO 
Importante definir: Estado, governo, Poder executivo, Administração Pública, 
administração pública (minúscula), poder executivo (minúscula) 
O Estado é pessoa jurídica de direito público* formado pelos elementos: soberania 
(expressa a supremacia na ordem interna e representa a independência na ordem 
externa); território; e povo. 
*tem personalidade jurídica  aptidão para ser sujeito de direito e obrigações. 
O Estado pode organizar politicamente seu território em central (estado unitário) ou em 
descentralizado (estado federado, já que os poderes coexistem distintamente – 
conveniência). A forma de estado brasileiro é a Federação. 
Estado de direito é o estado politicamente organizado que se submete e cumpre suas 
próprias leis. 
O Estado é dividido em poderes (divisão estrutural interna) destinados as execuções de 
certas funções (não há exclusividade no exercício dessas funções – lembrar das funções 
típicas e atípicas. 
Função típica de estado é função principal, para a qual o poder é criado. 
Função secundária é aquela não principal, mas exercida de forma subsidiária. 
Montesquieu dividiu os poderes organicamente em: 
 Legislativo (legislativa e fiscaliza), 
 Executivo (administrativa – execução do ordenamento vigente – resolução do dia-
a-dia); e 
 Judiciário (jurisdicional – pacificação dos conflitos no caso concreto). 
Poder Legislativo: Tem como função típica a função legislativa. Quanto á prática da 
função legislativa, esta é função abstrata, geral, de aplicação “erga omnes”. Esta função 
tem o poder de inovar o ordenamento legislativo (cria leis). 
Poder judiciário: Tem como função típica a função judiciária. Esta é função, em regra, 
concreta, agindo excepcionalmente, de forma abstrata, no que tange ao controle de 
constitucionalidade originário. A atuação é indireta, pois que depende de provocação. 
Em regra, o poder judiciário não tem o condão de novar o ordenamento jurídico, muito 
embora inúmeras decisões do STF tem inovado o ordenamento. A função jurisdicional 
também tem a criação da intangibilidade jurídica, uma vez que produz a coisa julgada. 
Poder executivo: Já no que atine ao poder executivo, este é o complexo de órgãos estatais 
verticalmente estruturados sob direção superior do “Chefe do Executivo” (Presidente da 
República, Governador ou Prefeito, dependendo da esfera federativa analisada), e que 
exerce a função administrativa. Esta é função concreta, direta, não inovadora em 
relação ao ordenamento jurídico e revisível pelo poder judiciário, posto que suas 
decisões não produzem os efeitos da coisa julgada, qual seja, intangibilidade jurídica. 
Obs: Frisa-se que o mestre Celso Antônio Bandeira de Melo, assim como outros autores 
modernos,afirmam existir uma quarta função, qual seja, a função de governo. 
A FUNÇÃO DE GOVERNO ou função política (doutrina moderna), refere-se à atividade 
de governo que não se mistura com as demais, por serem consideradas mais 
importantes e incapazes de serem incluídas naquelas. Exemplo: guerra, paz, estado de 
defesa, estado de sítio, veto presidencial. Nenhum desses exemplos são coisas do 
cotidiano. 
Governo, em um conceito moderno, é a cúpula diretiva do estado, conjunto de órgãos 
constitucionais responsáveis pela função política do Estado, cuja composição pode ser 
modificada mediante eleições. É a direção, comando. O governo deve ser soberano, ou 
seja, independente internacionalmente e supremo na ordem interna. 
Sistema de governo é a forma com que se dá a relação entre o Poder Legislativo e o 
Poder Executivo (presidencialismo e parlamentarismo). 
Forma de governo é o meio com que se dá a instituição do poder na sociedade, bem 
como a relação entre governantes e governados. 
Função pública é a atividade exercida em nome e no interesse do povo. Função 
administrativa é a aplicação da lei, ex officio, aos casos concretos, para sanar interesse 
coletivo. 
Administração Pública (com iniciais maiúsculas) é a estrutura, a máquina do estado. 
Possui, pela doutrina, dois enfoques diferentes: formal/orgânico/subjetivo, o qual diz 
respeitos aos órgãos aos agentes, entidades e bens do estado; material/objetivo, o qual 
diz respeitos a atividade administrativa. Aqui, não interessa a qual poder pertença ou a 
qual organismo estatal (ex: STF constituindo uma comissão de licitação para contratar 
determinada prestadora de serviço). 
Administração pública (com as iniciais minúsculas), é expressão que designa a atividade 
consistente na defesa concreta do interesse público. Este conceito se confunde com o de 
atividade administrativa, mas se refere à entes que não fazem parte da Administração 
Pública mas que exercem funções de interesse público em nome da Administração. Ex: 
Concessionárias e permissionárias de serviço público exercem administração pública, 
mas não fazem parte da Administração Pública. 
Poder público. Em sentido orgânico ou subjetivo, segundo Diogo de Figueiredo Moreira 
Neto, é “o complexo de órgãos e funções, caracterizado pela coerção, destinado a 
assegurar uma ordem jurídica, em certa organização política considerada”. Pode-se 
dizer que o autor considera Poder Público, em sentido subjetivo, como sinônimo de 
Estado. Porém, na acepção funcional ou objetiva, poder público significaria a própria 
coerção característica da organização estatal. 
 
TAREFA DA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA 
 
1ª) O exercício do poder de polícia: foi a primeira missão fundamental conferida à 
Administração, ainda durante o século XIX, período do chamado “Estado-Polícia” ou 
“Estado-Gendarme”. O poder de polícia consiste na limitação e no condicionamento, 
pelo Estado, da liberdade e propriedade privadas em favor do interesse público; 
 
2ª) A prestação de serviços públicos: na primeira metade do século XX, especialmente 
após a Primeira Guerra Mundial (1914 -1918), as denominadas Constituições Sociais 
(mexicana, de 1917 e alemã, ou de Weimar, de 1919) passaram a atribuir ao Estado 
funções positivas (o poder de polícia é função negativa, limitadora) de prestação de 
serviços públicos, como o oferecimento de transporte coletivo, água canalizada e 
energia elétrica; 
 
3ª) A realização de atividades de fomento: já na segunda metade do século XX, a 
Administração Pública passou também a incentivar setores sociais específicos, 
estimulando o desenvolvimento da ordem social e econômica.

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