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Aula 01 Direito Administrativo I Prof. André Henrique Bibliografia: Curso de Dir. Adm. – Celso Antônio Bandeira de Mello – Ed. Malheiros Direito Administrativo – Maria Sylvia Zanella Di Pietro – Ed. Atlas Direito Administrativo Brasileiro – Hely Lopes Meirelles – Ed. Malheiros Direito Administrativo – Diogenes Gasparini – Ed. Saraiva Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Ed. Impetus Ementa: Primeiro bimestre: Direito Administrativo – introdução. Princípios do Direito Administrativo. Administração pública: estrutura administrativa. Segundo bimestre: Poderes Administrativos. Atos administrativos. DIREITO ADMINISTRATIVO 1. INTRODUÇÃO Direito é um conjunto de normas jurídicas (regras), impostas coativamente pelo Estado, para possibilitar uma coexistência pacífica dos indivíduos (harmonia e fraternidade). Para fins didáticos, o direito é dividido em ramo do direito interno (se preocupa com as relações internas) e ramo do direito externo (direito internacional- define as regras das relações externas, entre as diversas nações e seus indivíduos). O direito interno ainda é dividido em público (a finalidade primordial é a regulação dos interesses estatais e sociais, só alcançando as condutas individuais de forma indireta. O direito público se preocupa com a atuação do Estado na satisfação do interesse público. A principal característica é a existência de uma desigualdade jurídica entre os polos dessas relações); e em privado (autonomia da vontade - ele se preocupa com a regulamentação dos interesses individuais, como forma de possibilitar o convívio das pessoas em sociedade e uma harmônica fruição de seus bens, quer seja entre os interesses individuais ou entre os interesses individuais e estatais). Relação entre particulares. O Direito Administrativo é um ramo do Direito interno, do Direito Público, pois ele rege a organização e o exercício estatal para a satisfação do interesse público. Trata-se de um ramo do Direito Público. Qual o foco deste último? Ao pensar em público aflora a idéia de atuação do Estado a fim de satisfazer o interesse público. Obs.: Regra de direito público é também de ordem pública, mas encontramos também regra de ordem pública no direito privado. Assim, o conceito de ordem pública é mais amplo do que o conceito de direito público, e não são termos sinônimos. Ordem Pública são regras convencionadas pelas partes, inafastáveis pelo Estado. 2. ORIGEM Di Pietro – Séc. XVIII e XIX – Formação do chamado estado de direito. Idade média: Inexistência de estado e de limitação do poder dos Reis. Início da idade moderna: absolutismo – inexistência de regras administrativas: Fim do absolutismo: Início do constitucionalismo e do direito administrativo. Direito francês: Termo inicial do direito administrativo: Lei de 28 pluviosa do Ano VIII (1800) – Organizou juridicamente a Administração Pública na França – Pós revolução francesa. Ampliação da separação dos poderes: Criação do contencioso administrativo. Criação do Conselho do Estado Francês: separou a análise das questões administrativas e das questões civis com legislações distintas (Caso Agnés Blanco – 1873 – Definiu competência administrativa). Primeiro estado a reconhecer o direito administrativo como matéria independente. Obs: O direito administrativos alemão e italiano, embora não tenham surgido de um processo revolucionários como o francês, mas sim de um processo evolutivo, foi fortemente influenciado pelo francês. Direito anglo-americano: Baseado na common law (decisões judiciárias), diferente da statute law (legislação). Separação de poderes inferior à francesa (poder judiciário exerce controle sobre a administração pública). Aqui, o direito administrativo nasceu de uma exigência da própria sociedade moderna, mas não de um processo revolucionário. Direito brasileiro Período imperial – surgimento das cadeiras de direito administrativo das universidades. Período republicano – evolução do direito administrativo: Constituição de 1934 – consolidação do direito administrativo. 3. CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO: É certo que os manuais trazem longos conceitos, definições, em razão da indefinição do objeto do Dir. Administrativo em si. Assim, vários conceitos e teorias foram criadas. Vamos analisar as teorias, bem como a sua eventual aplicação no ordenamento jurídico brasileiro. Teorias: 1. Escola Legalista (ou Exegética, empírica ou caótica): Surgiu na França. o Direito Administrativo limita-se ao estudo de leis e sua interpretação. Não foi adotada no Brasil. A lei não é a única fonte do direito administrativo. A doutrina brasileira reconhece que vamos estudar as leis sim, mas vamos somar a análise dos princípios. Com base no binômio: princípio + lei. Surgiram várias teorias. Vejamos: 2. Escola do Serviço Público: o Direito Administrativo estuda toda atuação prestada pelo Estado (serviço público, que era praticamente todo o serviço prestado pelo estado). Essa ideia era abrangente demais, não foi adotada pelo Brasil. O direito administrativo não estuda serviço privado prestado pelo Estado, não sendo tão amplo assim. Essa teoria não serve, além do mais, ela exclui outros institutos do direito administrativo como os bens públicos e a intervenção na propriedade. Ademais, também temos os at os da administração pública e não tão-somente atos administrativos. 3. Critério do Poder Executivo: o Direito Administrativo só se preocupa com a atuação do Poder Executivo, ignorando o Legislativo e o Judiciário. A teoria do CRITÉRIO ADMINISTRATIVO* é insuficiente, já que o direito administrativo estuda os três poderes estatais, desde que estejam administrando. *CAI MUITO EM CONCURSO, CONTUDO TRATA-SE DE CRITÉRIO SUPERADO. ATÉ FCC JÁ INDAGOU. 4. Critério das Relações jurídicas: o Direito Administrativo tem como objeto o estudo de todas as relações jurídicas do Estado (administração e administrados). Critica-se essa teoria, pois o Dir. Adm. não estuda todas as relações jurídicas do Estado, caso contrário, excluiríamos os outros Poderes como o Legislativo e o Judiciário. Ademais, há questões de âmbito exclusivamente privado. Se o Dir. Adm. estudasse tudo, prejudicaria os outros ramos. Por óbvio, tal critério também não corresponde com nosso ordenamento. Agora veremos algumas teorias que foram adotadas pelo Brasil, mas foram tidas como incompletas/insuficiente. ✔ Critério Teleológico: o Direito Administrativo é um sistema de princípios jurídicos que regula as atividades concretas do estado para cumprimento de seus fins, na busca do interesse comum (Oswaldo Aranha Bandeira de Mello). Esse critério significa que o direito administrativo representa um conjunto harmônico de regras e princípios. Esse critério é insuficiente. É verdade tal conceito, porém não fala sobre o que rege, o que permite, “o quê?”. *Cai muito em concurso. ✔ Critério Residual (ou também Negativo): o Direito Administrativo é definido por exclusão, uma vez que tem por objeto aquilo que não é atividade legislativa, nem judiciária (Tito Prates da Fonseca). Também é um critério insuficiente. ✔ Critério da Distinção entre a atividade jurídica e a atividade social do Estado. Direito administrativo é “o conjunto dos princípios que regulam a atividade jurídica não contenciosa do Estado e a constituição dos órgãos e meios de sua ação em geral” (Mário Masagão e José Cretella Júnior). Nesse conceito, O Direito Administrativo estuda a atividade jurídica e não a atividade social do Estado. É muito pobre para ser conceito de Direito Adm. Por óbvio, não estudados a política, mas estudados a sua viabilização. Ex: fome zero, mas como será paga a bolsa família a fim de combater a fome? Critério da Administração Pública (HELY LOPES MEIRELLES- *conceitomais importante): Conceito: conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado. É o conceito moderno de Direito Administrativo, que o determina como: conjunto harmônico de princípios e regras critério teleológico (traduz o que chamamos hoje de regime jurídico administrativo) que legitimam a disciplina administrativa, estudando os seus órgãos, agentes e a sua atividade, de forma direta (sem provocação), concreta critério residual e imediata critério da distinção (função jurídica do Estado) a realizar os fins desejados pelo Estado. Direta Independe de provocação. Exemplo de forma indireta, que depende de provocação é a função jurisdicional. Concreta Exclui a função legislativa do Estado, pois é abstrata. (Ex.: Legislar). Imediata Exclui a função social do Estado (Atividade Social), assim fica com os cuidados da atividade jurídica do Estado. Obs: Quem define os fins/objetivos do Estado é o Direito Constitucional e o Direito Administrativo apenas viabilizam esses fins. O Poder Judiciário precisa de provocação, agindo, assim, de forma indireta. O Poder Legislativo é quem cria normas abstratas. A forma mediata do Estado agir está ligada com sua função social, como por exemplo, com a escolha da política pública. Situações x exemplos: Nomeação de servidor é concreta Desapropriação é um ato concreto. Situação concreta. Multa trânsito ato concreto. Logo, não tem a ver com a atividade abstrata do Estado. A função abstrata por excelência é a legislativa. Fechar padaria suja direta. Ato direto. Obs: Prof. Celso Antônio critica essa teoria, pois afirma que, embora o direito administrativo possa ser definido como o “ramo do direito público que disciplina a função administrativa e os órgãos que o exercem”, tal conceito é defeituoso, porque consideraria a integralidade de tudo o que estivesse compreendido na função administrativa, o que não ocorre, tendo em vista que uma parcela dessas atividades é tratada por outros ramos do direito, como o Direito Tributário, Financeiro, Previdenciário e outros. Função administrativa: “atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado”. 4. RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DO DIREITO E COM AS CIÊNCIAS SOCIAIS Com o Direito Constitucional o Direito Administrativo mantém estreita afinidade e íntimas relações, uma vez que ambos cuidam da mesma entidade: o Estado. Diversificam-se em que o Direito Constitucional se interessa pela estrutura estatal e pela instituição política do governo, ao passo que o Direito Administrativo cuida, tão- somente, da organização interna dos órgãos da Administração, de seu pessoal e do funcionamento de seus serviços, de modo, a satisfazer as finalidades que lhe são constitucionalmente atribuídas. Daí termos afirmado que o Direito Constitucional faz a anatomia do Estado, cuidando de suas formas, de sua estrutura, de sua substância, no aspecto estático, enquanto o Direito Administrativo estuda-o na sua movimentação, na sua dinâmica. Com o Direito Tributário e com o Financeiro são sensíveis as relações do Direito Administrativo, dado que as atividades vinculadas à imposição e arrecadação de tributos, à realização da receita e efetivação das despesas públicas, são eminentemente administrativas. Com o Direito Penal a intimidade do Direito Administrativo persiste sob muitos aspectos, a despeito de atuarem em campos bem diferentes (ilícitos penais praticados pelos servidores públicos). Certo é que o ilícito administrativo não se confunde com o ilícito penal, assentando cada qual em fundamentos e normas diversas. Mas não é menos verdade que a própria Lei Penal, em muitos casos, tais como nos crimes contra a Administração Pública (CP, arts. 312 a 327), subordina a definição do delito à conceituação de atos e fatos administrativos. Noutros casos, chega, mesmo, a relegar à Administração prerrogativas do Direito Penal, como ocorre na caracterização de infrações dependentes das chamadas normas penais em branco. Com o Direito Processual (Civil e Penal) o Direito Administrativo mantém intercâmbio de princípios aplicáveis a ambas as disciplinas, na regulamentação de suas respectivas jurisdições (Processo Administrativo Disciplinar). Se, por um lado, a Justiça Comum não dispensa algumas normas administrativas na movimentação dos feitos, por outro, a jurisdição administrativa serve-se de princípios tipicamente processuais para nortear o julgamento de seus recursos. Não raro, são as próprias leis administrativas que determinam a aplicação de normas processuais comuns e princípios gerais do Direito Judiciário aos casos análogos da Administração. Com o Direito do Trabalho, a ligação está no empregado público (exerce função pública, mas é regido pela CLT). Com do Direito Previdenciário, a relação é com as instituições de previdência e assistência ao assalariado, já que tais organizações são instituídas, entre nós, como autarquias administrativas. Com o Direito Eleitoral, o Direito Administrativo tem muitos pontos de contato na organização da votação e apuração dos pleitos, no funcionamento dos partidos políticos, no ordenamento e fiscalização da propaganda partidária e em outros assuntos de caráter nitidamente administrativo, embora da competência da Justiça Eleitoral. Pode-se afirmar, mesmo, que toda a parte formal dos atos eleitorais permanece sob a regência do Direito Administrativo, uma vez que aquele Direito não dispõe de métodos próprios para a execução das atividades que lhe são reservadas. Seus princípios específicos só alcançam os aspectos materiais dos atos eleitorais e o julgamento de seus recursos, sabido que a Justiça Eleitoral é parte integrante do Poder Judiciário (CF, arts. 118 a 121). Com o Direito Civil e Comercial as relações do Direito Administrativo são intensíssimas, principalmente no que se refere aos contratos e obrigações do Poder Público com o particular. A influência do Direito Privado sobre o Direito Público chega a tal ponto que, em alguns países, aquele absorveu durante muito tempo o próprio Direito Administrativo, impedindo sua formação e desenvolvimento, como agudamente observou Dicey no Direito anglo-norte-americano. Com as Ciências Sociais o Direito Administrativo mantém estreitas relações, principalmente com a Sociologia, com a Economia Política, com a Ciência das Finanças e com a Estatística. Como disciplinas sociais, ou antropológicas, atuam no mesmo campo do Direito - a sociedade -, apenas com rumos e propósitos diversos. Enquanto as Ciências Jurídicas visam a estabelecer normas coercitivas de conduta, as Ciências Sociais (não jurídicas) preocupam-se com a formulação de princípios doutrinários, deduzidos dos fenômenos naturais que constituem o objeto de seus estudos, mas desprovidos de coação estatal. A estas Ciências o Direito Administrativo pede achegas para o aperfeiçoamento de seus institutos e de suas normas, visando a ajustá-los, cada vez mais e melhor, aos fins desejados pelo Estado, na conformidade da ordem jurídica preestabelecida. Com as Ciências Políticas, também há inter-relação, (rumos políticos nas atividades administrativas). FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO Fonte é aquilo que provoca uma regra do direito administrativo. Primárias: nascedouro do direito Secundárias: instrumentos assessórios Leis É fonte primária (única fonte primária). Lei em sentido amplo (CF, LC, MP, LO e outras espécies normativas) e toda e qualquer espécie normativa, desde que respeite a relação de compatibilidade vertical, haja vista que nosso sistema está posto em forma hierarquizada. Frisa-nos que os atos administrativos estão na base da pirâmide.Assim, a norma inferior precisa ser compatível com o ato superior (logo, o ato conforme a lei a lei conforme a CF). Segundo o STF, o nosso ordenamento jurídico é organizado numa estrutura com norma superior e norma inferior, e por isso é escalonado, hierarquizado. É a lei que traça os limites de atuação dos indivíduos e do próprio Estado nas atividades administrativas, devido ao seu conteúdo normativo e obrigatório. Topo da estrutura normativa: Constituição federal; Corpo da estrutura normativa: Leis Complementares e leis ordinárias; Base da estrutura normativa: Regulamentos. Da forma acima, o STF determinou que a legislação brasileira deve observar uma relação de compatibilidade vertical. Doutrina É fonte secundária. É o conjunto de idéias e trabalhos emanados dos nossos estudiosos administrativistas. Por ser a doutrina altamente divergente, a jurisprudência, principalmente no direito administrativo, “ajuda” nas soluções de opiniões contraditórias. Frisa-se que nossas leis são esparsas e não codificadas. Jurisprudência É fonte secundária. São decisões judiciais reiteradas num mesmo sentido. A jurisprudência consolidada, cristalizada faz originar uma súmula (efeito orientativo), como regra. A partir da EC/45 algumas súmulas podem vincular, mas para tanto a súmula deve passar por um procedimento próprio (frisa-se que as vinculantes provêm do STF), as quais são constituídas quando o assunto já foi amplamente discutido (em tese). Quanto à “repercussão geral” é certo que também tem efeito vinculante, o mesmo poder (leading case). A questão de repercussão geral advém quando determinados casos são considerados importantes ou ocorrem em grande quantidade junto aos tribunais superiores. Costumes É fonte secundária. É a prática habitual, reiterada da administração pública, capaz de estabelecer padrão obrigatório de comportamento. Sua repentina alteração pode causar instabilidade social e incertezas. O nosso costume não cria obrigação nem desobriga- nos de certo ato jurídico, como por exemplo, o pagamento de um tributo. Obs: Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia costume de praxe administrativa: Costume: Uso e convicção generalizada, necessariamente cogente; Praxe administrativa: Prática burocrática rotineira (não cogente). Princípios gerais do Direito É fonte secundária. São vigas mestras do ordenamento jurídico. Em regra, estão implícitas, embora possam ser regras expressas. Estão no alicerce do nosso ordenamento jurídico. Ex: sujeito causa dano a outrem terá de indenizar; não precisa de norma expressa, pois isso é óbvio. Outro exemplo é a vedação do enriquecimento ilícito sem causa; e, ainda, o de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. SISTEMAS ADMINISTRATIVOS Sistema administrativo é o regime adotado pelo Estado para o controle dos atos administrativos ilegais ou ilegítimos praticados pelo Poder Público em seus vários níveis de governo. Alguns autores preferem chamar de mecanismos de controle. 1. Sistema francês ou do contencioso administrativo Os atos administrativos só podem ser revistos pela própria administração pública. Aqui, o Poder Judiciário julga as questões comuns, enquanto as demandas que envolvam interesse Administrativo são julgadas por órgão administrativos encabeçados pelo chamado Conselho de estado. Excepcionalmente, o Judiciário pode controlar o ato administrativo quando, por exemplo: Se tratar de atividade pública de caráter privado (aquela feita pelo Estado em que regime é privado); Ações ligadas ao estado e a capacidade das pessoas; Repressão penal; Propriedade privada. 2. Jurisdição única ou sistema inglês O Poder Judiciário é quem revê; controla; dá a palavra final. Há um monopólio do poder judiciário da função jurisdicional. É adotado no Brasil, havendo algumas decisões administrativas no nosso ordenamento, como o PAD (é exceção e só faz coisa julgada administrativa***, ou seja, sem definitividade, uma vez que essa decisão pode ser revista pelo poder judiciário). ***coisa julgada administrativa é a impossibilidade de mudança dentro da administração pública. Não é uma verdadeira intangibilidade jurídica, pois nada impede a sua modificação na via judicial. Afinal, o Princípio da Inafastabilidade de Jurisdição ou da Unicidade de Jurisdição – princípio de direito fundamental (CF/88) – é a base do sistema adotado na Jurisdição Única. Obs: É considerada cláusula pétrea (seu fim atacaria a tripartição de poderes). O Brasil já tentou introduzir o sistema Francês em 1977 por meio da EC n. 07. Contudo, ela foi inoperante e não saiu da esfera teórica. A doutrina (HLM) diz não ser possível a criação de um SISTEMA MISTO, pois a mistura entre eles é algo natural. O critério existente é o da predominância. já foi objeto de questão da FCC a possibilidade de adoção do chamado SISTEMA MISTO. Há duas situações em que se exige o exaurimento no âmbito administrativo: a justiça desportiva e o Habeas Data. ESTADO, GOVERNO, PODER EXECUTIVO, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, PODER PÚBLICO Importante definir: Estado, governo, Poder executivo, Administração Pública, administração pública (minúscula), poder executivo (minúscula) O Estado é pessoa jurídica de direito público* formado pelos elementos: soberania (expressa a supremacia na ordem interna e representa a independência na ordem externa); território; e povo. *tem personalidade jurídica aptidão para ser sujeito de direito e obrigações. O Estado pode organizar politicamente seu território em central (estado unitário) ou em descentralizado (estado federado, já que os poderes coexistem distintamente – conveniência). A forma de estado brasileiro é a Federação. Estado de direito é o estado politicamente organizado que se submete e cumpre suas próprias leis. O Estado é dividido em poderes (divisão estrutural interna) destinados as execuções de certas funções (não há exclusividade no exercício dessas funções – lembrar das funções típicas e atípicas. Função típica de estado é função principal, para a qual o poder é criado. Função secundária é aquela não principal, mas exercida de forma subsidiária. Montesquieu dividiu os poderes organicamente em: Legislativo (legislativa e fiscaliza), Executivo (administrativa – execução do ordenamento vigente – resolução do dia- a-dia); e Judiciário (jurisdicional – pacificação dos conflitos no caso concreto). Poder Legislativo: Tem como função típica a função legislativa. Quanto á prática da função legislativa, esta é função abstrata, geral, de aplicação “erga omnes”. Esta função tem o poder de inovar o ordenamento legislativo (cria leis). Poder judiciário: Tem como função típica a função judiciária. Esta é função, em regra, concreta, agindo excepcionalmente, de forma abstrata, no que tange ao controle de constitucionalidade originário. A atuação é indireta, pois que depende de provocação. Em regra, o poder judiciário não tem o condão de novar o ordenamento jurídico, muito embora inúmeras decisões do STF tem inovado o ordenamento. A função jurisdicional também tem a criação da intangibilidade jurídica, uma vez que produz a coisa julgada. Poder executivo: Já no que atine ao poder executivo, este é o complexo de órgãos estatais verticalmente estruturados sob direção superior do “Chefe do Executivo” (Presidente da República, Governador ou Prefeito, dependendo da esfera federativa analisada), e que exerce a função administrativa. Esta é função concreta, direta, não inovadora em relação ao ordenamento jurídico e revisível pelo poder judiciário, posto que suas decisões não produzem os efeitos da coisa julgada, qual seja, intangibilidade jurídica. Obs: Frisa-se que o mestre Celso Antônio Bandeira de Melo, assim como outros autores modernos,afirmam existir uma quarta função, qual seja, a função de governo. A FUNÇÃO DE GOVERNO ou função política (doutrina moderna), refere-se à atividade de governo que não se mistura com as demais, por serem consideradas mais importantes e incapazes de serem incluídas naquelas. Exemplo: guerra, paz, estado de defesa, estado de sítio, veto presidencial. Nenhum desses exemplos são coisas do cotidiano. Governo, em um conceito moderno, é a cúpula diretiva do estado, conjunto de órgãos constitucionais responsáveis pela função política do Estado, cuja composição pode ser modificada mediante eleições. É a direção, comando. O governo deve ser soberano, ou seja, independente internacionalmente e supremo na ordem interna. Sistema de governo é a forma com que se dá a relação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo (presidencialismo e parlamentarismo). Forma de governo é o meio com que se dá a instituição do poder na sociedade, bem como a relação entre governantes e governados. Função pública é a atividade exercida em nome e no interesse do povo. Função administrativa é a aplicação da lei, ex officio, aos casos concretos, para sanar interesse coletivo. Administração Pública (com iniciais maiúsculas) é a estrutura, a máquina do estado. Possui, pela doutrina, dois enfoques diferentes: formal/orgânico/subjetivo, o qual diz respeitos aos órgãos aos agentes, entidades e bens do estado; material/objetivo, o qual diz respeitos a atividade administrativa. Aqui, não interessa a qual poder pertença ou a qual organismo estatal (ex: STF constituindo uma comissão de licitação para contratar determinada prestadora de serviço). Administração pública (com as iniciais minúsculas), é expressão que designa a atividade consistente na defesa concreta do interesse público. Este conceito se confunde com o de atividade administrativa, mas se refere à entes que não fazem parte da Administração Pública mas que exercem funções de interesse público em nome da Administração. Ex: Concessionárias e permissionárias de serviço público exercem administração pública, mas não fazem parte da Administração Pública. Poder público. Em sentido orgânico ou subjetivo, segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto, é “o complexo de órgãos e funções, caracterizado pela coerção, destinado a assegurar uma ordem jurídica, em certa organização política considerada”. Pode-se dizer que o autor considera Poder Público, em sentido subjetivo, como sinônimo de Estado. Porém, na acepção funcional ou objetiva, poder público significaria a própria coerção característica da organização estatal. TAREFA DA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA 1ª) O exercício do poder de polícia: foi a primeira missão fundamental conferida à Administração, ainda durante o século XIX, período do chamado “Estado-Polícia” ou “Estado-Gendarme”. O poder de polícia consiste na limitação e no condicionamento, pelo Estado, da liberdade e propriedade privadas em favor do interesse público; 2ª) A prestação de serviços públicos: na primeira metade do século XX, especialmente após a Primeira Guerra Mundial (1914 -1918), as denominadas Constituições Sociais (mexicana, de 1917 e alemã, ou de Weimar, de 1919) passaram a atribuir ao Estado funções positivas (o poder de polícia é função negativa, limitadora) de prestação de serviços públicos, como o oferecimento de transporte coletivo, água canalizada e energia elétrica; 3ª) A realização de atividades de fomento: já na segunda metade do século XX, a Administração Pública passou também a incentivar setores sociais específicos, estimulando o desenvolvimento da ordem social e econômica.
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