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Hipótese O primeiro passo para começar a realizar ou organizar um projeto de pesquisa é identificar um problema que seja passível de resolução, pelos métodos usados na pesquisa científica. A resolução do problema ou a identificação de respostas para esses problemas é o objetivo principal da pesquisa. Mas, quando inicialmente pensamos nesses problemas e na quantidade de direções e opções para responder as questões levantadas durante a pesquisa, torna-se claro que é inviável tentar desenvolver projetos de pesquisa com tantas opções e variações de respostas. Por isso, o pesquisador deve formular uma hipótese para a resolução ou explicação do fato estudado na pesquisa, antes mesmo de começar a trabalhar na busca por informações. Isso significa que a pesquisa precisa ter a resposta para o problema antes mesmo de começar? Com a definição da hipótese, o pesquisador está propondo uma resolução para o problema proposto, que deve ser avaliado e testado durante a pesquisa. A proposição de uma hipótese vai de encontro com algo que muitos ainda relutam em aceitar. O resultado de uma pesquisa científica pode testar uma hipótese para mostrar que a mesma é falsa. Nem sempre os resultados encontrados durante o processo se mostram verdadeiros. Isso acaba fazendo com que muitas pessoas não consigam formular hipóteses que podem eventualmente resultar em proposições falsas. Nesse tipo de assunto não é errado ou vergonhoso formular proposições para problemas que podem se tornar falsos. Esse é inclusive um dos métodos necessários para propor soluções novas para problemas do cotidiano. O que determina se uma pesquisa é boa, é a maneira com que o pesquisador conduz essa pesquisa e não o seu resultado. Como formular uma hipótese? O grande desafio de formular uma hipótese é que o processo que faz com que um pesquisador chegue até a proposição, é de natureza criativa. Sim, para conseguir formular uma hipótese o pesquisador precisa fazer um grande exercício de imaginação, e colocar o seu lado criativo para trabalhar na formulação de soluções novas ou proposições que ninguém havia pensado, para os problemas do cotidiano. Você muito provavelmente já deve ter conhecido os chamados gênios da história humana em que se enquadram Newton, Einstein, Galileu e muitos outros personagens que são classificados como tal. Em vários dos casos esses gênios conseguiram esse “título” devido à proposição de hipóteses inovadoras para explicar problemas ou o funcionamento do nosso universo. Mas, nada teria adiantado criar essas proposições se os mesmos não fossem capazes de provar que suas hipóteses não eram verdadeiras usando os métodos da pesquisa científica. Em algumas situações esse tipo de explicação é resultante de diversos cálculos matemáticos, ou mesmo experiências em campo como foi o caso da teoria da relatividade de Einstein. A formulação de uma hipótese pode eventualmente contestar outra pesquisa realizada anteriormente. Foi o caso de Einstein que achava que a lei de gravitação universal de Newton estava incompleta, e com a teoria geral da relatividade ele propôs que a gravidade dos corpos celestes atrai a luz, assim como Newton afirmou, mas deforma o espaço/tempo ao seu redor. Nesse caso, a proposta de Einstein só poderia ser comprovada com um experimento realizado em 1919, que consiste na fotografia de estrelas durante um eclipse, para provar que a luz dessas estrelas era desviada pela atração gravitacional. Esse exemplo da hipótese de Einstein é um excelente exemplo de como uma pesquisa pode ser iniciada com uma proposição que contesta outra. O que torna o físico alemão um gênio é que ele conseguiu provar a sua hipótese. Talvez os cálculos e problemas relacionados à gravitação de corpos celestes não sejam o melhor exemplo para descrever a importância de uma hipótese. Existem diversos exemplos de pesquisas que tiveram hipóteses inovadoras e que impactam nas nossas vidas até hoje. Como é o caso da pesquisa realizada pelo médico Ignaz Phillip Semmelweis (1818-1865). O nome dele pode parecer estranho para você, mas uma hipótese formulada por ele ainda no século 19 muda o nosso comportamento até hoje. Muito provavelmente você deve ter lavado as mãos em algum momento do dia hoje. Caso não tenha feito isso ainda hoje, corra e faça o mais rápido possível! Esse é um hábito extremamente saudável e higiênico. É senso comum para todos no século XXI que o ato de lavar as mãos é extremamente importante para manter a higiene e evitar infecções, principalmente para as pessoas da área de saúde. Na época em que Semmelweis trabalhava em hospitais no século 19, a organização e trabalhos dos médicos era bem diferente do que conhecemos hoje. Durante o trabalho dos médicos daquela época, os mesmos não lavavam as mãos no decorrer do dia e também não havia a separação de funções entre os médicos. Portanto, o mesmo médico que realizada autópsias em cadáveres pela manhã, estava ajudando no parto de pacientes no período da tarde. O que Semmelweis percebeu no seu cotidiano no hospital é que os médicos e parteiras que lavassem as mãos constantemente, durante o trabalho de parto, fazia com que as pacientes morressem menos. Sim, a taxa de mortalidade na época era bastante alta, mas o simples ato de lavar as mãos fazia com que as pessoas morressem menos no hospital. Isso foi concebido usando apenas a observação, depois de muito observar essa situação e perceber que as causas das mortes estavam relacionadas com a higienização das mãos, o que fez com que ele formulasse uma hipótese inicial para explicar o problema. Também, ao fazer as autópsias das pessoas mortas nos procedimentos e comparar as informações com o resultado da autópsia de um amigo médico, morto devido a um corte acidental durante uma autópsia que o fez contrair uma infecção pela falta de higienização do bisturi, ele conseguiu chegar à sua hipótese. A sua proposta era de que o simples ato de lavar as mãos e higienizar os instrumentos usados em procedimentos médicos reduzia a mortalidade. Essa foi a hipótese que mais tarde foi comprovada por meio de estudos e testes baseados apenas em estatísticas, pois naquela época a tecnologia ainda não era suficientemente desenvolvida para realizar as comprovações por meio de microscópios, ou outras análises que determinassem a contaminação do material. No início a sua proposta não foi aceita pela comunidade médica, sendo que o próprio Semmelweis foi rotulado como louco, e acabou se cortando com um bisturi contaminado, para provar que o mesma causaria uma infecção. O resultado disso é que o próprio pesquisador acabou morrendo para provar que a sua hipótese era verdadeira. Mas, depois desse caso, foi estipulado que os médicos deveriam lavar as mãos constantemente durante os procedimentos, e os instrumentais seriam fervidos em água para eliminar contaminações. O caso de Semmelweis é um excelente exemplo de como é possível conseguir chegar até uma hipótese. A maneira mais simples e intuitiva que podemos usar para formular hipóteses é usando a simples observação. Basta começar a observar as ações e processos que acontecem ao seu redor - imagine os problemas que poderiam ser resolvidos e coloque a sua imaginação para funcionar. Além da observação, podemos formular hipóteses usando: • Resultados de outras pesquisas: Esse é um princípio muito comum no meio acadêmico, em que uma hipótese é formulada para contestar o resultado de outra pesquisa, ou mesmo confirmar algo que foi verificado em áreas relacionadas. Para conseguir formular hipóteses com base em outras pesquisas, é importante acompanhar o resultado das mesmas em publicações científicas. • Teorias: Com o entendimento sobre as teorias que explicam o funcionamento do nosso universo eas relações entre processos, podemos formular hipóteses que tenham apoio ou contestem a existência desse tipo de afirmação. Aqui é importante separar a teoria em si dos resultados de outras pesquisas. Essas teorias podem não ter relação alguma com pesquisas científicas. • Intuição: A história da ciência está repleta de descobertas importantes que foram fruto de pura intuição por parte dos seus autores. A intuição está fortemente relacionada com a observação, mas não são a mesma coisa. Como as proposições baseadas apenas em intuição não têm aplicação imediata em projetos de pesquisa, é necessário fazer um estudo breve para atestar que o “palpite” baseado em intuição pode ser realmente aplicado em projetos de pesquisa. Características de uma hipótese que pode ser testada A formulação de uma hipótese pode parecer simples, mas assim como acontece com a redação dos problemas de pesquisa, a hipótese precisa ser passível de teste e verificação pelos processos científicos. Caso essa proposta não possa ser testada, a mesma deve ser descartada para o projeto. Uma prática muito comum para pesquisadores mais experientes é a formulação de diversas hipóteses para resolver o mesmo problema. Depois de muita análise e rápidos estudos, o pesquisador começa a descartar as hipóteses que não podem ser testadas pelos métodos científicos. No final ele acaba apenas com as hipóteses que podem ser testadas e aplicadas em pesquisa. Quais as características de uma hipótese que pode ser testada? Para ajudar na formulação desse tipo de hipótese, podemos selecionar aquelas com as seguintes características: • Conceitualmente clara: Os conceitos envolvidos na formulação da hipótese devem estar claros para qualquer pessoa que venha a ler o relatório de pesquisa. Por exemplo, considere que a pesquisa esteja relacionada com economia, e a hipótese faça relação com o conceito de consumo. Qual a medida que será usada para determinar se uma pessoa é consumista? Será usada a frequência de compras, ou o gasto semanal? • Específica:Em algumas situações a redação da hipótese pode estar clara, mas as palavras e termos usados são tão generalistas que fica difícil testar as mesmas em projetos de pesquisa. Por exemplo, considere que a pesquisa seja relacionada com a condição social das famílias. Quando é possível determinar que uma família é rica? Qual o limite entre a família rica e de classe média? Esse é um tipo de hipótese que pode usar termos claros, mas não é específico. • Evitar julgamento de valores: Assim como acontece com a formulação de problemas de pesquisa, a formulação de hipóteses deve evitar ao máximo o uso de julgamentos subjetivos na proposição. A dificuldade em testar esse tipo de hipótese é que as mesmas não podem ser testadas e comprovadas pelos métodos científicos. • Deve ser parcimoniosa: A hipótese escolhida deve ser a que melhor resolve o problema proposto, mas também a mais simples de ser aplicada. Caso o mesmo problema possa ser resolvido usando duas hipóteses muito semelhantes, sempre deve ser dada preferência para a hipótese mais simples. • Relacionada com técnicas disponíveis: Na escolha da hipótese que deve ser aplicada na resolução dos problemas, o pesquisador deve observar se a proposta realizada na hipótese pode ser testada e avaliada pelos métodos científicos. Caso não seja possível realizar coleta de dados com as técnicas existentes, o pesquisador pode trabalhar na criação de novas técnicas para análise da hipótese proposta. Caso contrário, é recomendável alterar a hipótese para que a mesma pode ser testada usando as técnicas e procedimentos existentes. • Relacionada com uma teoria: A formulação de hipóteses deve estar relacionada com uma teoria existente, para facilitar a generalização das mesmas. Caso isso não tenha sido considerado na formulação da hipótese, será difícil aplicar os resultados, mesmo que a afirmação seja verdadeira. Com base nessas características será possível trabalhar na criação e formulação de hipóteses para o projeto de pesquisa. Um aspecto relacionado com a criação de hipóteses que ainda não foi abordado nessa aula, é a real necessidade desse tipo de proposição nas pesquisas. As hipóteses são realmente necessárias? A princípio todo o projeto de pesquisa deve ter uma hipótese, mas nem sempre a proposição é explicitamente declarada no texto da pesquisa. Por exemplo, as pesquisas que têm como objetivo a descrição de um determinado fenômeno acabam não tendo a hipótese descrita de maneira explicita. Mas, isso não significa que ela não existe! Nesses casos a hipótese está relacionada nos objetivos da pesquisa. Mesmo sem ser explícita, ela deve estar sempre presente nos projetos de pesquisa. Classificação das Hipóteses Para ajudar a compreender como as hipóteses podem ser formuladas, existe uma classificação simples que separa as hipóteses por tipos. Essa classificação divide as hipóteses em quatro tipos diferentes que são: • Hipóteses casuísticas: Nesse tipo de hipótese a pesquisa tenta afirmar que um determinado objeto ou pessoa tem características específicas. Essa hipótese é extremamente comum em pesquisas históricas. Por exemplo, você poderia formular uma hipótese em que afirmaria que Pedro Álvares Cabral era Espanhol e não Português. Só faltaria coletar dados e provar que a sua hipótese é verdadeira. • Hipóteses referentes à frequência de acontecimentos: Aqui temos um tipo de hipótese comum em estudos sociais. Por exemplo, poderíamos propor uma hipótese que relacionada a idade e gênero de um grupo social com suas atividades de consumo. Por exemplo, a hipótese poderia afirmar que adolescentes do sexo feminino entre 15 e 18 anos consomem mais roupas que adolescentes do sexo masculino na mesma idade. Antes de explicar os dois últimos tipos de hipótese, é importante definir um dos termos mais usados entre pesquisadores para propor problemas e explicar as suas causas. A chamada “variável” corresponde a qualquer tipo de elemento que pode assumir diferentes valores ou significados em diferentes contextos ou situações. Sempre que temos uma situação em que valores podem ser alterados, teremos uma variável. • Hipóteses que estabelecem relação de associação entre variáveis: Nas hipóteses em que existe uma proposta relacionando duas variáveis, o pesquisador propõe que o relacionamento entre os valores pode determinar a maneira com que o problema ou situações acontecem. Por exemplo, usando novamente a pesquisa social é possível determinar que o grau de instrução de uma pessoa está relacionado com a sua renda. Nessa pesquisa foram relacionadas duas variáveis que são o grau de instrução e a renda. Uma delas abrange diversas categorias que são ensino médio, graduação e outros. Já a renda pode ser classificada usando números que determinam os ganhos anuais. Nesse caso a hipótese é baseada na relação direta entre as duas variáveis, e qualquer alteração em uma delas pode modificar o resultado da afirmação proposta na pesquisa. • Hipóteses que estabelecem relação de dependência entre duas ou mais variáveis: Aqui o relacionamento de variáveis é levado mais ainda em consideração do que apenas o simples conjunto de valores que uma variável determina na outra. A maneira com que os dados estão organizados nesse caso determina que as variáveis inclusive determinam os valores entre si, com relacionamentos quase sempre assimétricos. Problema e Hipótese Depois de passar pelo conteúdo dessa aula, deve ficar mais simples vislumbrar o papel da hipótese para qualquer projeto de pesquisa científica. Assim como acontece com a escolha do problema que deve ser tratado no projeto, a hipótese pode ser determinante para o processo como um todo. No ambienteacadêmico é mais simples começar a trabalhar com hipóteses em projetos de pesquisa, pois estamos em um ambiente multidisciplinar que deixa o trabalho de pesquisa muito mais rápido de preparar. A pesquisa por informações e principalmente opiniões de pessoas formadas nas mais diversas áreas, seria muito dispendiosa em termos de tempo fora desse ambiente. Caso você tenha que formular um projeto para seu trabalho de conclusão de curso, pense em hipóteses que permitam uma coleta de dados e análise que esteja dentro da sua realidade. Para hipóteses que não estão claras ou ainda deixam dúvidas, a melhor coisa a fazer é apresentar as idéias para seus professores e tentar chegar até a proposição ideal. Assim como foi citado no texto dessa aula, o ideal é trabalhar com várias hipóteses para a resolução de um problema, e dentro das necessidades e escopo de uma , selecionar a hipótese que pode ser melhor testada e acompanhada na pesquisa. Qual o segredo para conseguir formular boas hipóteses? A melhor dica ou conselho que alguém poderia dar para ajudar na formulação de hipóteses é aliar a observação do seu ambiente, isso inclui as áreas e procedimentos comuns à sua área, com leitura constante. Lembre que a maioria das hipóteses é embasada fortemente em teorias e conceitos existentes, mesmo que seja para contestar esse tipo de informação. Sem conhecer as teorias ou os assuntos pertinentes da área de humanas, exatas ou saúde ficará difícil formular boas hipóteses. Referências sobre personagens históricos citados no texto: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciTechnol/article/viewArticle/3023
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