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Direito Grego Antigo

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DIREITO GREGO ANTIGO
Édipo, Electra, Antígona, não são fantasmas de um passado ilusório, continuam vivos, ao nosso lado, compondo o coro da realidade, refletindo sempre na conexão que criaram, proporcionando persistente ansiedade, presente em força, equilíbrio, paciência e coragem. 
Se nas artes, na filosofia, na própria formação do ideal político de igualdade, a civilização helênica soube tão bem transmitir estes impulsos perante o mundo antigo, a nem tanto alcançaram os seus institutos de direito, tanto na área privada ou quanto com a ordem judicial.
Porém, um simples esforço no estudo às fontes, permite concluir que, uma vez que a convivência social se achava enraizada à consciência ética e à índole do povo grego, aos seus hábitos, costumes ocorreu uma elaboração jurídica viva e abundante. Aristóteles afirma que “o homem é, por natureza, um animal social” enquanto o que se afasta, desta forma de agir, “não conhece tribo, lei ou morada” 
Logo, o direito grego deve ser examinado em concordância com a estrutura da pólis: se as cidades-estados, orgulham-se de suas características típicas, da mesma forma, o pensamento jurídico com as relações estabelecidas entre os seus cidadãos, voltados, todos, para um sentimento de justiça. Ugo Enrico Paoli, ao tratar do direito ático (grego), deixa claro que, ao apreciá-lo, não basta limitar-se, apenas, ao estudo formal da lei e do quanto ela dispõe: é preciso ir mais além, saber qual a reação causada ao povo para o qual se dirigiu, saber quais os efeitos que causou, se realmente chegou a ser utilizada com proveito.
FONTES DO DIREITO
Da análise do direito grego, é certo que a maior parte de suas fontes acabou por se perder; e a precariedade de informações dificulta uma reconstituição completa e precisa a respeito de suas leis e instituições. Por isso, lamenta-se Rodolphe Dareste, o pesquisador só tem à frente fragmentos desordenados ou fontes mediatas, sobrando-lhe elaborar, por indução, uma imagem incorreta do direito que à época se redigiu e se aplicou.
E quais são estas fontes? Em primeiro lugar, entre outros, trechos constantes das obras de Platão e Aristóteles, existem fragmentos das orações deixadas pelos retóricos, Demóstenes, Ésquines, Lísias, Antifonte. Mas não há como acolher por verdadeiro o que ali se diz, já que os filósofos poderiam estar se referindo a uma sociedade incerta, ideal, e não real, assim, não podendo se afirmar, com segurança, ao que corresponde a estrutura administrativa e judiciária do período; pois verifica-se que estes autores usam a expressão “dever ser”, o que não significa dizer que “é”.
Por sua vez, os discursos proferidos pelos oradores nos debates nos tribunais, nem sempre estariam seguindo, o originário espírito da lei; como a argumentação não se fazia para convencer juízes, mas sim os jurados leigos, capazes de impressionar o público para o qual aquela se dirigia.
Informações escritas sobre a sociedade e o direito grego podem ser obtidas em diversos suportes como louça, mosaicos, escritos em couro e cerâmica, tábuas de cera, madeira e cerâmica, etc.
Embora sustentada em texto legal, a interpretação podia se afastar do critério aplicado pelo legislador. Como exemplo, verifica-se que, Demóstenes afirmava com certeza e segurança, que a lei é clara, e recusa toda ação quando já ocorridas a quitação e a desobrigação do compromisso anteriormente assumido. 
Mas, ao lado destas defesas circunscritas ao âmbito jurídico, é possível colher informações de valia nos textos literários em geral, tal como mais expressiva nas comédias de Aristófanes, quando este retrata alguns momentos da sociedade ateniense (grega), criticando e ridicularizando determinadas situações causadas pelas constantes crises que a abalaram; assim, por exemplo, na comédia “As vespas”, aponta as corrupções do sistema judiciário, ao tempo da guerra do Peloponeso refugiados da campanha sobreviviam praticamente de favor, e suas as funções de jurados, não se cumpriam com a esperada imparcialidade; assim como as vespas, tais juízes ganhavam a vida à custa de picar e perseguir os cidadãos, de preferência os mais ricos, “servindo-se dos ferrões de seu transitório poder” 
DA FAMÍLIA À CIDADE-ESTADO
 A família é o elemento constitutivo da cidade; representa “a associação religiosa e política das famílias e das tribos, assim diz Fustel de Coulanges. Mas, assim como sucede com a família romana, a grega há de ser vista, também, sob dois enfoques: o primeiro, mais restrito, do lar, reduzido ao marido e pai, à mulher, filhos, agregados, escravos; e o segundo, em sentido mais amplo, abrangendo todos os membros do mesmo grupo, descendentes de um ancestral comum, distante, na maioria das vezes, mítico.
Esta última comunidade, atua nos dois ângulos, seja o religioso, pelo culto aos antepassados, seja o político, na discussão e decisão de seus interesses quotidianos: por isso, estes ou tribos, reúnem-se em assembleias, ditam normas de conduta, estabelecem os princípios fundamentais pelos quais irão administrar e regular seus direitos e deveres, visando à proteção e convivência pacífica dos que a integram nos estreitos laços de solidariedade familiar.
Nesta sequência, encontramos, o dέmoV (démos) designação que abarca tanto o território, quanto a população que o habita. Logo, a evolução alcança finalmente a (pόliV), a cidade, que lhes dá a necessária conformação política e unidade.
A cidade caracteriza-se por ser um tipo de organização reunida ao centro urbano, que atinge a periferia, os aldeamentos vizinhos, ocasionalmente o porto. 
A cidade, vista como cidade-estado é, uma comunidade de limites mais amplos do que os geográficos, composta pelos cidadãos livres que ali habitam; goza de autonomia administrativa, política e econômica, estabelecendo legislação própria, regulamentando seus interesses de natureza interna e externa, exercendo poderes autônomos e de soberania.
Dois são os princípios que regem a cidade-estado, para o alcance da democracia: igualdade de direitos perante a lei, isonomia, e liberdade de conduta, eleutéria (libertador). Mas, liberdade, não significa fazer o que quiser, pois aquela há de vir definida, pelo que dispõe a lei. 
Se o homem não tem condições de se realizar a não ser que se associe e se organize em comunidade, esta é a razão de ser da cidade, a qual virá protegê-lo, e a sua família, fornecendo-lhe estabilidade e segurança, com vistas à preservação dos princípios que as movem.
Em relação aos direitos, acrescenta-se aquele pelo qual tem o cidadão o direito de expressar livremente o seu pensamento, expor sua queixa em público, é a isegoria (democracia) frequentemente afirmada na composição dos conselhos e tribunais colegiados. Isegoria: Consiste no princípio igualdade do direito de manifestação.
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA
O fundamento da democracia se apoia na soberania popular, expressa pela viva voz dos cidadãos, no exercício de suas funções públicas, no direito de haver bancada e voto nos tribunais, na participação nas assembleias e conselhos.
No sentido de resguardar o equilíbrio entre a liberdade individual e o poder público, a atividade da cidade-estado desenvolve-se por meio de três órgãos coletivos principais, aos poderes executivo, legislativo e judiciário.
A Boulé ou Conselho dos Quinhentos, vinha composto por cidadãos escolhidos por sorte; em Atenas eles cuidavam de questões religiosas, financeiras, diplomáticas, militares. Seus membros, ao assumir o encargo, deviam jurar fidelidade às leis da cidade, não as contrariando e nem agindo em desacordo com os interesses da democracia. Redigiam e preparavam decretos, enviando-os à assembleia popular, para discussão e aprovação.
Entre outras atribuições, incumbiam-se, também, de controlar a atividade dos magistrados, por meio da docimasia (dokimasίa). Docimasia: investigação que se fazia em Atenas da vida particular de um cidadão eleito para determinado cargo público antes que ele assumisse suas funções. Por outro lado, quando necessário, especialmente em casos urgentes,os membros do conselho que compunham a junta administrativa que periodicamente se revezava entre as tribos, expediam decretos para imediata aplicação.
As sessões eram públicas, mas não existia participação de outros cidadãos senão daqueles que compunham o corpo do Conselho.
Já a Eclésia, ou assembleia popular, da democracia, ao contrário, reunia cidadãos maiores de dezoito anos, do sexo masculino, no pleno exercício de seus direitos políticos, muitas vezes empenhados em seus afazeres no comércio, ou ainda, aproveitando a oportunidade da estação propícia à navegação, onde o movimento no porto era sempre maior. Não se contavam, por igual, aqueles que residiam em sítio mais afastado, tudo isto levando, por consequência, a uma defasagem no número de seis mil participantes possíveis de exercerem o direito de voto.
Os assuntos englobavam matéria relativa à política externa, como tratados e alianças com cidades semelhantes, recepção às embaixadas, ou temas de maior gravidade e urgência, como a declaração de guerra; e no tocante à administração interna, provisões e armazenamento de cereais, tributos, confisco de bens, ostracismo. 
Reunidos em local amplo, capaz de abrigar considerável população, procediam abertamente as votações, erguendo uma das mãos; outras vezes, faziam-no em segredo, marcando a escolha em algum objeto, normalmente, na parte lisa das ostras. Daí a palavra ostracismo medida pela qual se votava o exílio de um cidadão, a bem do interesse público, geralmente um político, que ameaçasse a democracia, era votado para ser banido ou exilado, por um período de dez anos.
Outra sanção era a atimia: perda total ou parcial dos direitos civis. A total, dirigia-se aos condenados por crimes em geral, alguns graves, outros nem tanto. A parcial, ficava reduzida à restrição que a sentença determinara. Uma terceira possibilidade alcançava os devedores do cofre: atuando mais como coerção do que pena, a princípio vigorava provisoriamente, até que solvido o pagamento. Persistindo a mora, convertia-se em definitiva, duplicando-se a dívida e se executando o débito, pelo confisco dos bens.
Finalmente o Elieu ou Tribunal dos Heliastas, júri popular, composto de até 6.000 cidadãos, escolhidos por sorte, entre os que tivessem mais de trinta anos, e se colocassem à disposição da cidade para exercer estas importantes funções. As decisões emanadas deste órgão, justamente por constituírem a expressão da vontade e soberania popular, eram definitivas, não admitiam recurso algum; sua jurisdição e competência, estendia-se tanto às causas públicas como às privadas.
A par destes tribunais, compunha-se a organização judiciária de inúmeros magistrados, com atribuições definidas, entre os quais: os tesmotetas, incumbidos de promover a revisão das leis e presidir as demandas que envolviam interesses de ordem pública: os eisagogueis, juízes para as causas comerciais que exigiam pronta solução, restrita aos meses em que o Mediterrâneo não oferecia perigo à navegação e à carga transportada.
Além destes, o demarca e o polemarca. O demarca era o principal magistrado do dέmoV (território e população que habita), incluindo-se entre suas múltiplas funções aquela de zelar pelo cumprimento da justiça e em especial das sentenças proferidas nas questões postas entre as partes. Na verdade, cada cidadão estava inscrito no registro de seu dέmoV o que era facilitava localizá-lo, na hipótese de se pretender chamá-lo à juízo. Já o polemarca era o juiz que atendia às causas em que em pelo menos uma das partes era estrangeiro.
A importância que se emprestava às magistraturas administrativas e judiciárias da cidade-estado, Aristóteles, na “Política” e na “Ética à Nicômaco”; evidencia que as preocupações ali existentes são as mesmas, mostram-se tão atuais como hoje em dia:
“... O primeiro cargo necessário é aquele que se refere ao mercado, para o qual deve haver uma magistratura que vigie os contratos e para que estes se executem regularmente; pois de uma maneira geral todas as cidades têm necessidade de comprar e vender para suprir suas necessidades... outro cargo é aquele que cuida dos edifícios públicos e privados da cidade, para que estejam em condições, conservando-os e reparando-os, assim como aos caminhos... outra magistratura registra os contratos privados e as decisões dos tribunais... e depois desta, talvez a mais necessária e difícil, entre todas, é a que se ocupa da execução das penas consignadas nesses registros... se é difícil pelos muitos ódios que possa acarretar, é necessária, porque de nada serve que se realizem processos para determinar o que é justo, mas não se executem as decisões ali proferidas...” (Política)
E no que diz respeito à responsabilidade e alcance do poder de decisão do juiz: “Por isso, sempre que há uma controvérsia, recorre-se ao juiz: ir ao juiz, significa ir à justiça, pois o juiz é como se fosse a imagem viva da justiça; ao restabelecer a igualdade, age como se, de uma linha cortada em partes desiguais, tira da maior a parte que excede, atando-a à parte menor... e quando o todo se divide entre duas partes iguais, costuma-se dizer que cada um tem o que é seu...” (Ética à Nicômaco).
O LEGADO DA GRÉCIA
Impressiona a agilidade com que atendiam os interesses públicos e ao ideal democrático, bem como a praticidade com que os solucionavam, na linguagem viva da justiça extraída das decisões derivadas dos tribunais colegiados. Exemplo disso encontra-se até hoje na designação dos juízes especiais para dirimir causas de natureza comercial, que exigiam deslinde mais célere, dada a possibilidade do dano, na hipótese do retardo.
Reconhece-se como enorme influência da civilização grega em todos os povos da antiguidade, em especial Roma, estabelecendo não apenas naqueles aspectos artísticos e literários, mas também para aqueles que as formularam, que serviriam de exemplo e norma para as gerações seguintes, inclusive no tocante ao direito. Basta apontar a expedição dos decênviros romanos (jurista encarregado de codificar as leis) e a contribuição grega na elaboração da Lei das Doze Tábuas. Em meados do séc. V a.C, enquanto a república romana encontrava-se na fase inicial de sua expansão, o predomínio ático, estendera pelo mediterrâneo, abarcando a península itálica sob a denominação de Magna Grécia.
Outro fator relevante seria o desenvolvimento da atividade pretoriana (proteção da parte central do acampamento de uma legião romana onde ficavam instalados os oficiais), fundadas nos princípios da justiça, que vieram sacudir a rigidez imposta pelo regime das ações da lei.
Mesmo diante o Direito Privado, segundo Aristóteles, a contribuição grega persiste da denominação de alguns institutos e modos de agir: ao ajuste voluntário estabelecido na compra e venda, empréstimo, fiança, depósito, locação, hipoteca, entre outras, que melhor tenham se estruturado no direito romano clássico e pós-clássico.
Ainda, os chamados bens parafernais, ou seja, aqueles trazidos pela mulher ao contrair matrimônio, que não se confunde com dote.
Mais ainda, na difusão e propagação do helenismo: a democracia, a representação proporcional, a tripartição dos poderes e revezamento dos seus dirigentes no que se refere aos ideias de liberdade e igualdade com que honravam e souberam conduzir os seus propósitos.
Aristóteles diz: “O fundamento da constituição democrática é a liberdade. Costuma afirmar-se isso, sob alegação de que apenas nesse regime se goza de liberdade; esse é, o objetivo que visa a democracia. Uma das características da liberdade reside em ser governado e governar à vez.
A justiça democrática consiste na igualdade segundo o número e não segundo o mérito. De tal noção de justiça resulta que a soberania estará necessariamente no povo e que a opinião da maioria deverá ser o fim a conseguir e deverá ser a justiça. (…) Como resultado disso, nas democracias, os pobres são mais poderosos do que os ricos: são em maior número e a autoridade soberana está na maioria. Esse é, pois, um sinal de liberdade que todos os democratas colocam comomarca do regime (…).
Outra (característica da democracia) é viver como se quer, pois dizem que isto é o resultado da liberdade, já que é próprio do escravo viver como não quer. ”
É que a igualdade não consiste em os pobres possuírem mais poder do que os ricos ou serem os únicos detentores da soberania, mas terem todos, uns e outros, por igual, de acordo com o número. Deste modo poderiam considerar que estavam asseguradas na Constituição a igualdade e a liberdade.”

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