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História do Direito

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História do Direito
I - Introdução
História e Direito, disciplinas que, aparentemente, não se comunicam. Objetivos diferentes, métodos diferentes, escolas autônomas, tudo parece distanciá-las, a não permitir visão de conjunto. Será isso verdade?
Se encararmos a história como relato sequenciado, cronológico, de atos e fatos, pura e simplesmente, talvez não tenhamos condições de identificar possibilidades de encontrar quaisquer traços de união. Se partirmos de suposição criacionista do direito, como se tivesse sido concebido e concedido divinamente, impassível, insuscetível de alterações, como regras estanques, prontas e acabadas, imutáveis no tempo e no espaço, seria instituição insuscetível de história.
Mas história é mero e desapaixonado relato? Direito é apenas um conjunto de regras, de concepção supra-humana, dadas para regular a vida na terra? O ser humano, como a abelha, nasce sabendo do seu destino, preparado para única tarefa, que realiza à perfeição, e nada mais? A experiência comum nos diz que nada disso é verdadeiro: a história não é apenas relato; o direito é concebido e transformado pela sociedade; o ser humano é ser capaz de transformação, de si e do mudo circunstante.
II - História
A compreensão da História demanda mais que a mera compartimentação e distribuição de fatos relevantes, comprovados ou supostos, em uma tábua de saberes. Por igual, a simples intenção de perpetuação de pessoas e relatos memoráveis não alcança o status histórico. Há muito mais. Homens não descansam e instituições são devotadas ao descobrimento e comprovação de verdades ou de suposições que, saindo da especulação, do folclore ou da mitologia ganham o mundo dos livros dotados de autoridade e aceitação. A fantasia de um tempo pode transfigurar-se em realidade demonstrada pela quase magia do método.
Cogitar da História é compor relações de tempo: passado, presente e futuro. Não se trata de qualquer cogitação, mas de relacionar elementos sensíveis de diversas áreas. Afinal, o homem não existe por si, mas em um contexto, aquilo que se poderia nominar por tempo histórico. Koselleck, em melhor forma, expressou:[1: KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado, traducción Norberto Smilg, Barcelona: Ediciones Paidós, 1993, p. 14.]
Ya hay que poner en duda la singularidad de un único tiempo histórico, que se ha de diferenciar del tiempo natural mensurable. Pues el tiempo histórico, si es que el concepto tiene un sentido propio, está vinculado a unidades políticas y sociales de acción, a hombres concretos que actúan y sufren, a sus instituciones y organizaciones.
Mais que a verdade demonstrada e do contexto formador do tempo histórico, colhe-se, ainda, a periodização como necessária à formação daquilo que se convencionou ser a História. Tempo, contexto e periodização, permitindo a formulação de um passado contínuo. Verdade, contexto e periodização tornam-se componentes de uma experiência que se acumula e relata metodicamente, descortinando o porvir como horizonte possível, a que denominamos expectativas. Se o cristianismo limitou a possibilidade de descompasso entre experiência e expectativa, o gradativo descolamento de uma em relação a outra construiu a modernidade.[2: LE GOFF, Jacques. A História Deve Ser Dividida em Pedaços? Tradução Nicia Adan Bonatti, 1ª edição, São Paulo: Editora Unesp, 2015, p. 33.][3: KOSELLECK, op. cit., pp. 342/3.]
O Brasil não se tornou colônia de Portugal porque estava escrito em documentos esotéricos, cuja leitura se reservava somente a iniciados. Nossos indígenas não foram massacrados e escravizados por ordem divina. O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves não se estabeleceu por concessão caprichosa de D. João, Príncipe Regente. A independência nacional não foi um movimento de espada às margens do rio Ipiranga. Esses, e tantos outros acontecimentos, justificam-se por séries infinitas de acontecimentos precedentes e circunstâncias de momento, mas todos foram transformadores da sociedade, da vida cotidiana, do meio ambiente e das possibilidades dos habitantes desse torrão conhecido como Brasil.
O conhecimento do passado não traz riscos, a não ser para a ignorância e suas justificativas. Por definição, o passado não se modifica, mas seu conhecimento evolui, transforma-se, aperfeiçoa-se incessantemente. A história desmancha sigilos diplomáticos, negociais, familiares ou de governo, processa trocas de informações, abomina a dissimulação, busca a verdade, perquire documentos e testemunhos, duvida, afasta mentiras duradouras, não compactua com o misticismo e exige demonstrações. O caminho do historiador é, portanto, metódico e, por vezes, áspero.[4: BLOCH, Marc Leopold Benjamin, Apologia da História, ou, o ofício do historiador, prefácio Jacques Le Goff, apresentação à edição brasileira Lilia Moritz Schwarcz, tradução André Teles, Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p.75. ]
III – O Bem e o Mal
As culturas e civilizações não se sucederam sob as mesmas e eternas regras de convivência. Cada cultura, ou civilização, escolheu e formulou, politicamente, as regras para a convivência em seu meio. É verdade que certas regras são comuns a múltiplos povos, em diversos tempos, como as interdições sexuais, embora com adaptações, conforme a experiência de cada povo ou Nação. O Direito é experiência exclusiva, mas onde quer que se estabeleça, tem por fundamento a distinção entre o bem e o mal, a virtude e o pecado. O que serão esses extremos sobre os quais se construíram culturas, civilizações, religiões, moral, ética e direito?
Em interessante livro, de pequenas dimensões, mas profundo e consolador, Sacha Calmon discorre, com pertinência, sobre o mal natural e o mal moral. O primeiro, decorrente das forças inventáveis da física, manifestado sob forma de ocorrências de maior ou menor impacto sobre a vida humana, causando prejuízos materiais e imateriais. São trovões, descargas elétricas, raios, incêndios, terremotos, trombas d'água, secas, marés, furações, tornados, tempestades de areia, monções, alternâncias do equilíbrio do clima, das qualidades da água e da terra, infestações e pragas que ocorrem sem interferência humana. Fatos da natureza, acts of God, nada há que fazer, a não ser recomeçar a vida, enterrar os mortos, tratar os feridos, recuperar os campos, plantar para novamente colher. Por essas ocorrências não há quem culpar, Deus não pode ser responsabilizado, pois seus desígnios são superiores e incompreensíveis pela humanidade. Chorar, orar, resignar-se ou padecer de corpo e mente enfermiços, não há muito mais o que fazer, trate-se de pessoa religiosa ou ateia.[5: COELHO, Sacha Calmon Navarro, Breve História do Mal, Belo Horizonte: S. Calmon Navarro Coelho, 2013, p2. 21/8.]
Há o mal cuja causa é imputável ao homem, por ação ou omissão, que rende ensejo à responsabilização, reprovação pela qual se impõe uma sanção, um castigo, retribuição, correspectividade que apascenta a coletividade. Trata-se de condutas, tais como violar as regras de trânsito, causando um acidente automobilístico; depositar excesso de rejeitos minerais em barragem, e causar acidente ecológico; açular um cão para atacar pessoa indefesa, e provocar lesões corporais ou a morte a alguém; infligir danos psicológicos a alguém; deixar de pagar obrigações civis pontualmente. Ilícito, delito, pecado, conduta voltada à violação de regras de conduta, sejam de natureza religiosa, jurídica ou de mera etiqueta. 
Regras, normas, princípios, limitações que atingem a ampla liberdade de agir são construídas ou instituídas supostamente em favor da coletividade, para permitir que a vida social se faça coerente, o quanto possível harmônica, coesa. Religião, Moral e Direito, indistintos no período neolítico, ocuparam domínios próprios e especializados na civilização.
História e Direito, a partir do elemento comum, o ser humano, podem celebrar convívio a partir da categoria da cultura, que nos permite transformar, intencionalmente ou não, a realidade ao nosso redor. A História do Direito permitirá conhecer o fenômeno jurídico de acordocom as ideias, necessidades e vocações de cada momento do evoluir humano. De alguma forma, realizará o que se encontra inscrito no pórtico do Templo de Apolo, em Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. E o fará no sentido da criação tipicamente humana das regras de Direito, suas mutações, aperfeiçoamento e expiração, ao longo da experiência humana na Terra.

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