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VALTER LUIZ DE MACEDO 
 
 
 
 
PROVÍNCIA FLUMINENSE: 
um território a serviço da nação. 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Instituto 
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte 
dos requisitos necessários à obtenção do grau de 
Doutor em Planejamento Urbano e Regional. 
 
 
 
 
Orientadora: Prof. Dra. Fania Fridman 
 Doutora em Economia pela Universidade 
 de Paris VIII, França 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2008 
 
 
 
2 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
M121p Macedo, Valter Luiz de. 
 Província fluminense : um território a serviço da nação / 
 Valter Luiz de Macedo. – 2008. 
 238 f. : il. ; 30 cm. 
 
 Orientador: Fania Fridman. 
 Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de 
 Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e 
 Regional, 2008. 
 Bibliografia: f. 205-226. 
 
 1. Planejamento regional – Rio de Janeiro (Estado). 
 2. Território nacional. 3. Cidades e vilas – História. 
 4. Rio de Janeiro (Estado) - História. I. Fridman, Fania. 
 II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de 
 Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. III. Título. 
 
 CDD: 981.53 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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VALTER LUIZ DE MACEDO 
 
 
 
 
PROVÍNCIA FLUMINENSE: 
um território a serviço da nação. 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Instituto 
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte 
dos requisitos necessários à obtenção do grau de 
Doutor em Planejamento Urbano e Regional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Dedico este êxito à Roberta Azevedo da Silva por toda a base afetiva e apoio 
constante e incondicional para a sua realização e por sua companhia, amor e 
amizade em todos os momentos da minha vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Como registrar os meus agradecimentos aqui? 
 
Para não esquecer de ninguém, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram 
para que este trabalho pudesse ser construído. 
 
Em especial, à minha orientadora Fania Fridman por todos os exemplos e incentivos 
constantes em nossa intensa e já duradoura trajetória de pesquisa e amizade. 
 
Também ao professor Maurício de A. Abreu (IGEO/UFRJ) pela sua presteza e 
consideração ao aceitar irrestritamente participar da minha banca examinadora, 
acrescentando-a em muito com as suas observações e presença. 
 
 
 
 
 
 
 
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O primeiro cuidado de um individuo e de uma Nação he sua conservação. 
Primeiro se existe, para depois curar-se do modo de existir. O primeiro objecto he 
vital, o modo de existir he segundário. 
 
João Calda Vianna, Relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro 
 
 
 
 
 
Quer se situe em 1558 ou no ano da graça de 1958, trata-se, para 
quem quer compreender o mundo, de definir uma hierarquia de forças, 
de correntes, de movimentos particulares; depois, apreender de novo 
uma constelação de conjunto. (...) Cada ‘atualidade’ reúne movimentos 
de origem, de ritmo diferentes: o tempo de hoje data, ao mesmo tempo, 
de ontem, de anteontem, de outrora. 
 
Fernand Braudel, Escritos sobre a História 
 
 
 
 
7 
RESUMO 
 
 
Nossa pesquisa toma por contexto o processo de organização territorial brasileira a 
partir dos interesses internos pós-Independência, quando surge um ideário de 
Nação, para investigar as práticas que consolidaram a integração do território da 
província fluminense. Partimos da hipótese de que a política territorial imperial visava 
o fortalecimento de uma unidade nacional e procuramos observar que tal objetivo 
extrapolava a ordem econômica assentada na produção agrícola, apontando para o 
papel preponderante desempenhado pelas cidades, que, em redes, serviram de 
instrumentos de regulação e de controle sobre suas regiões. Consideramos que o 
ideal de Nação desenvolvido serviu como retórica para o controle territorial e que o 
projeto nacional implementado foi, em essência, um projeto de natureza urbana 
articulado em um contexto regional. Por envolver a Corte e congregar a maior parte 
da nobreza e da renda do Império, além da constatação de que o seu número de 
núcleos urbanos triplicou no período considerado, admitimos o território fluminense e 
sua sociedade nobiliárquica e estratificada como laboratório para nosso trabalho. 
Nossa intenção consiste no estudo do processo de integração entre distintas 
regiões, entre produção e comércio, potencializado pelo advento das ferrovias, mas 
não iniciado através delas. Visamos, no conjunto das “ideologias geográficas” que 
nortearam o período imperial brasileiro e seu projeto nacional, identificar a natureza 
do espaço produzido no caso fluminense. 
 
Palavras-Chave: Província Fluminense. Território. Nação. Cidade e Região. 
Planejamento territorial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
ABSTRACT 
 
 
The context of our research is the process of the Brazilian territorial organization 
through investigating the practices which solidified the integration of the lands of the 
fluminense province, from the internal interests during the period of post 
independence, when an idea of creating a Nation came up. We started from the 
hypothesis that the imperial territorial policy aimed at strenghthening a national unity 
and tried to observe that such objective overstepped the economical order settled in 
the agricultural production, pointed to the preponderant role played by the cities, 
which served as means of regulation and control over their regions. We considered 
that the ideal of a developed Nation served as a rhetoric for the territorial control and 
that the implemented national project was urban in essence, which was articulated in 
a regional context. We took the fluminense territory and its noble stratified society as 
a laboratory for our work, because the Court was involved and thus it congregated 
the most part of the nobility and the gains of the Empire. Besides, the triplication of 
urban centers was an evidence during that period. We mean to study the process of 
integration between distinct regions, between production and trade, powered but not 
started by the coming of the railroads. We aimed at identifying the nature of the 
development of the fluminense area in the set of the “geographical ideologies” which 
directed the Brazilian imperial period and its national project. 
 
Key-Words: Fluminense Province. Territory. Nation. City and Region. Territorial 
Planning. 
 
 
 
 
 
 
 
9 
LISTA DE FIGURAS E QUADROS 
 
 
 
 
 
Figura 1: Surgimento e evolução de núcleos urbanos coloniais a partir de um marco religioso. 123 
Figura 2: Organograma da Administração Provincial 1834/1840 155 
Figura 3: Organograma da Administração Provincial 1841/1846 156 
Figura 4: Organograma da Administração Provincial 1846/1858 157 
Figura 5: Organograma da Administração Provincial 1859/1875 158 
Figura 6.1: Organograma da Administração Provincial 1876/1889 (1) 159 
Figura 6.2: Organograma da Administração Provincial 1876/1889 (2) 160 
 
 
 
 
 
 
Quadro 1: Inserção do Império em distintas periodizaçõesda História do Brasil 99 
Quadro 2: Comarcas, municípios e freguesias na província fluminense (1843) 145 
Quadro 3: Obras de infra-estrutura de circulação na província fluminense em 1843. 177 
Quadro 4: Legiões da Guarda Nacional na província fluminense em 1843. 184 
Quadro 5: Distritos eleitorais da província fluminense e Corte (1856). 185 
Quadro 6: Datas para entrega dos saldos de arrecadação provincial (1882). 191 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
LISTA DE TABELAS E MAPAS 
 
 
 
 
Tabela 1: Percentual brasileiro na produção mundial de café (1820-1889). 51 
Tabela 2: Principais produtos brasileiros para exportação - % (1821-1890). 51 
Tabela 3: Vilas e cidades fluminenses criadas durante o período colonial. 126 
Tabela 4: Principais receitas da província fluminense no ano financeiro 1841/1842 133 
Tabela 5: Participações das províncias nas rendas gerais do Império (1859/1864) 133 
Tabela 6: Vilas e cidades fluminenses criadas durante o período imperial 136 
Tabela 7: Receitas da província fluminense por repartições (1841/1842 e 1843/1844) 189 
 
 
 
 
Mapa 1: América Latina em 1830 69 
Mapa 2: Desmembramentos da Capitania de São Paulo no século XVIII 102 
Mapa 3: Divisão político-administrativa e povoamento em 1822 106 
Mapa 4: Comarcas, municípios e freguesias na província fluminense (1843) 125 
Mapa 5: “Certões” na Capitania do Rio de Janeiro no final do século XVIII 128 
Mapa 6: Caminhos freguesias e aldeias na região de Vassouras no início do século XIX 135 
Mapa 7: Aldeias, freguesias, vilas e núcleos coloniais na região de Campos (meados XIX) 143 
Mapa 8: Comarcas na província fluminense (século XIX) 148 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
SUMÁRIO 
 
 
Introdução ........................................................................................................... 
 
 
12 
1. A pesquisa e seus caminhos.......................................................................... 
1.1. O viés geográfico-histórico ........................................................................ 
1.2. Posturas diante do objeto .......................................................................... 
 
 
18 
20 
29 
2. Território e cidade no Brasil imperial............................................................ 
2.1. Notas sobre o período imperial brasileiro .................................................. 
2.2. Do conceito de nação ao projeto nacional brasileiro ................................. 
2.3. A base material da nação .......................................................................... 
 
 
34 
36 
62 
97 
3. Cidade e nação na província fluminense...................................................... 
3.1. O território legado ...................................................................................... 
3.2. O movimento da economia fluminense e suas cidades............................. 
3.3. Operacionalizando o território.................................................................... 
 
 
117 
118 
131 
149 
Considerações Finais ......................................................................................... 
 
 
200 
Referências Bibliográficas ................................................................................. 
Fontes de dados primários.................................................................................... 
 
 
205 
219 
Anexos 
1. Os gabinetes do Segundo Reinado................................................................... 
2. Reprodução de “A grande política” ................................................................... 
 
 
 
227 
228 
Apêndices 
1. Justiça no Brasil e no Rio de Janeiro................................................................ 
2. Listagem dos Presidentes da Província Fluminense......................................... 
 
 
230 
233 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
Introdução 
 
 
 
Quando da transição do Brasil colonial para o Império, o termo “brasileiro” que, 
muitas vezes, era confundido com o termo “brasiliense”, denotava, em alguns 
casos, apenas aquele aqui nascido e, em outros, aquele aqui estabelecido, distante 
que estava da sua acepção moderna de identidade coletiva. Tal distância era 
compreendida pelo caráter secundário que esta questão mantinha quando da 
subjugação do Brasil à sua metrópole. No que se refere ao vasto território e a 
despeito do esforço português, a ocupação ainda era rarefeita, concentrada na faixa 
litorânea, pouco articulada e formada por aglomerados urbanos simplórios. A capital 
não fugia à regra. 
Estes dois exemplos, capturados do cotidiano social e da base física da 
colônia, mostram alguns dos obstáculos a serem superados a partir de 1822 quando 
a proclamada independência exigiria um “pensar” e um “fazer” a respeito da 
emancipação política do novo país. Processo este que, ancorado nas iniciativas do 
liberalismo nascente europeu no que se referia à formação de unidades políticas 
constitucionais, prontamente adotou a bandeira da Nação. 
No entanto, aqui, o projeto nacional defendido estava assentado na 
manutenção de características estruturais do momento histórico anterior como a 
forte desigualdade de classes e a escravidão. Marca principal da construção do 
Estado imperial brasileiro, o conservadorismo das elites dominantes assegurou uma 
configuração política ímpar no contexto da América Latina. A viabilidade da 
monarquia constitucional naquele momento foi garantida pelo viés patrimonialista e 
pelo receio de revoltas escravas como o fora no Haiti ou de radicalizações 
republicanas como se assistiu em toda a vizinhança. 
Inaugurada nestes termos, a nação a ser criada teria que encontrar meios para 
se fazer “brasileira” e abranger e ser soberana sobre seu território. Para além da 
manutenção da saúde econômica, assentada na produção agrícola, seus mentores 
deveriam preocupar-se com questões como a conquista de fronteiras, a 
manutenção da ordem, a gerência do espaço interno e suas relações, a 
arrecadação de impostos, a imposição de um credo, a unificação da língua e a 
 
 
 
13 
“civilização” dos seus membros, tomada à moda dos preceitos europeus de 
sociedade. Neste contexto, uma questão relevante passou a ser a integração 
territorial e a configuração a ser adotada para o emergente espaço nacional. Nossos 
estudos têm apontado para uma política imperial voltada para o fortalecimento desta 
unidade através da instituição de vilas e cidades. 
É exatamente diante da envergadura de tal projeto que, a nosso ver, o espaço 
urbano foi tomado como elemento-chave pelos seus idealizadores que se serviram 
da Nação como retórica para a manutenção do controle social e territorial nas 
formas até então consagradas. Isto é, sem maiores rupturas. Para o trato de tal 
questão, consideramos indispensável a pesquisa sobre a gênese da nação 
brasileira, sua organização, suas normas, seus agentes e conflitos sociais, 
sobretudo o papel da aristocracia que, concentrando a riqueza da Nação, era 
agraciada com títulos nobiliárquicos e constituía a força política de apoio ao Império. 
Neste caminhar, os núcleos urbanos (sobretudo as cidades) foram tomados como 
centro do exercício do poder concentrando funções tanto administrativas quanto de 
controle (inclusive social). E se a integração do todo físico da nação era questão de 
ordem, foram tomados também como nós na rede de comunicações e de 
transportes que haveria de ser montada. 
Nos discursos e políticas nacionalistas daquele momento, o sentimento de 
pertencimento ao Brasil e a identificação com o “ser” brasileiro emanariam dos 
ambientes urbanos, pois deveriam comportar símbolos e sistemas de representação 
do novo nível de progresso e civilidade aser alcançado. Mais ainda: seria o meio 
para se atingir a integração do território, assegurando as áreas de fronteira e 
ocupando suas imensas áreas a partir das diretrizes estabelecidas na sede da Corte 
centralizadora. 
Falamos, no plano ideológico, de um projeto civilizatório que pretendia criar 
uma história e uma identidade nacional brasileira e, no plano espacial, de uma rede 
urbana e seus nós como forma de regulação e controle sobre as regiões. 
Consideramos o ideal nacional apresentado como um projeto urbano em essência, 
pois foi utilizado intencionalmente como símbolo em um projeto de controle 
territorial. 
Afirmamos que o processo de unificação do território brasileiro foi pensado 
como meta que seria alcançada através da constituição de cidades, visto que é por 
meio do conjunto delas que a produção, circulação e o consumo (no plano 
 
 
 
14 
econômico) e a dominação (a partir da representação simbólica dos valores que 
seriam emanados) acontecem efetivamente. Parece-nos que tal processo se 
verificou no entorno imediato da capital imperial e, deste modo, originaram-se as 
bases para a sua integração observada com descontinuidades nas décadas 
posteriores. 
A ocupação no Brasil do século XIX se deu, em boa parte, através de uma 
política de instituição de núcleos coloniais que objetivavam uma conquista do 
território baseada no elemento étnico europeu que responderia pelo uso técnico do 
espaço e pelo idealizado branqueamento da população. Por lei, todos os municípios 
do Império teriam a obrigação de instituir um núcleo colonial e, em cada um deles, 
uma vila. Estudos recentes revelam que muitos desses núcleos implantados no 
período, e que contavam com funções econômicas e finalidades geopolíticas e 
civilizatórias previamente definidas, vieram a constituir-se em cidades que, 
articulando-se aos demais núcleos urbanos ou diretamente à Corte, conformariam 
uma rede (incipiente, mas integradora por possibilitar as comunicações 
pretendidas). Nestes temos, o território fluminense e sua sociedade nobiliárquica e 
estratificada configuram um laboratório para tal estudo. Afora a experiência dos 
núcleos coloniais, foi significativo o número de vilas que no período imperial foram 
elevadas à categoria de cidade. Por um processo ou por outro, a área do atual 
Estado do Rio de Janeiro viu o seu número de núcleos urbanos (fossem cidades ou 
vilas) mais que triplicar entre o final do período colonial e a década de 1890. 
Sabemos que a ocupação do interior da província fluminense se iniciou durante 
o século XVIII por conta da atividade mineradora nas Gerais. A abertura de 
caminhos e a instalação de pousos durante o percurso caracterizaram uma certa 
“empresa povoadora” controlada direta ou indiretamente pelo Estado que visava a 
conquista do solo para satisfação do mercado interno e estrangeiro. Com objetivos 
similares, importantes vias partindo da cidade do Rio de Janeiro ou chegando até 
ela desenhavam o mapa das comunicações estabelecidas até então entre a Capital 
e sua hinterlândia, seja em traçado “direto” rumo às minas (através de localidades 
como Petrópolis e Três Rios) ou mais “circulares” como os que atingiam São Paulo 
ou os que exploravam o baixo curso do rio Paraíba do Sul, na atual região norte do 
Estado. 
Abertos por particulares através de cláusula nas cartas de sesmarias e, em 
muitos casos, aproveitando o traçado derivado de antigas vias de circulação 
 
 
 
15 
indígena, tais caminhos foram essenciais para o estabelecimento de comunicações 
e fluxos de mercadorias entre diversas localidades. Também, por estes caminhos, 
surgiram aglomerados, pontos de feiras periódicas, vilas, cidades, sítios, fazendas, 
além de outras estradas tributárias. E, sem precedentes, esta dinâmica 
condicionada pela prática de abertura de novas vias de circulação foi intensificada 
com a atividade cafeeira. 
Observamos ainda que um comércio de gêneros alimentícios e de animais 
que, originário das Minas Gerais se articulava com o Rio de Janeiro, deu origem a 
um setor de subsistência mercantil também responsável pela ocupação do interior 
fluminense. Os recursos e os caminhos das tropas tiveram destaque na expansão 
da economia cafeeira e de seus valores sociais. Por estas vias de penetração, 
fornecia-se à capital parte dos gêneros agrícolas que ela consumia, circulavam 
informações e estabeleciam-se engenhos e demais fazendas de café. A articulação 
entre produção e comércio, viabilizada pelo crescente número de vias de circulação 
propiciou também a instalação de núcleos de povoamento, como mencionado. 
Desta forma, podemos entender que desde os primórdios da ocupação e 
exploração do território fluminense o eixo principal das atividades realizadas eram 
as estradas coloniais, tendência que persistiu durante o século XIX quando as 
grandes fazendas cafeicultoras no Vale do Paraíba e o dinamismo açucareiro na 
região de Campos dos Goytacazes desempenharam papel de referência no “mapa 
das interações possíveis”, ostentando a riqueza que sustentou o Império. De 
contrapartida, algumas áreas da província, como o litoral sul em torno de Angra dos 
Reis e Parati, viveram momento de decadência e isolamento por conta de novas 
dinâmicas econômicas em outros locais e seus correspondentes eixos espaciais. 
Sobre estas questões, ressaltamos a articulação de uma renda fundiária 
brasileira e um capital produtivo internacional para a construção de ferrovias que 
viriam agilizar a produção e consolidar uma infra-estrutura de transportes. O ponto a 
ser considerado aqui é o que marca um processo de integração entre produção e 
comércio entre distintas regiões, potencializado pelo advento das ferrovias, mas não 
iniciado através delas. Vias de circulação e de comunicação, mesmo que mais 
lentas, já estavam delineadas como testemunho da lógica social, política e 
econômica em vigor no território. No entanto, e o caso fluminense nos mostra, a 
“rede” pensada e estabelecida não fugia de sua definição teórica e afirmava o 
caráter seletivo do espaço tornado território. 
 
 
 
16 
O respeitado geógrafo Roberto Lobato Corrêa já apontou a lacuna existente 
nos estudos sobre a estruturação do território brasileiro no que se refere à questão 
das redes estabelecidas nos sucessivos momentos históricos. Foi adiante ao 
afirmar que a análise acerca da organização sócio-espacial brasileira seria 
enriquecida se compreendida à luz das relações entre rede urbana e oligarquias 
rurais. Nossa intenção, assim, consiste em enfatizar o espaço fluminense, 
pesquisando a organização territorial pensada para tal província, uma vez que não 
se trata apenas do surgimento de núcleos articulados e com funções distintas, mas 
de uma intenção no âmbito de um projeto maior. 
A despeito da visão de que as práticas de planejamento territorial têm uma 
tradição associada ao século XX, parece-nos relevante considerar as discussões 
atuais em fóruns de História do Urbanismo e de Planejamento Urbano e Regional 
que mostram que programas de ação governamental e intervenções de base 
urbana no espaço brasileiro são mais antigos. As implicações deste fato nos levam 
a novos entendimentos sobre a ordenação do “chão” fluminense. 
Buscamos compreender a base territorial do planejamento político imperial e 
observamos tal questão a partir do viés geográfico-histórico. Em outras palavras, 
buscamos nas políticas territoriais e nos espaços produzidos as “ideologias 
geográficas” que nortearam o império brasileiro quando de seu projeto nacional, 
avaliando até que ponto as idéias de cidade e região foram efetivamente 
operacionalizadas e relacionadas. Como dito, nossa lupa centra atenção no caso 
fluminense. 
Para tanto, esta tese está estruturada em três partes. Na primeira delas, 
buscamos assinalar nossas posturas metodológicas diante do objeto e indicar os 
caminhos tomadospela pesquisa. Nosso objeto se mostra aqui através de suas 
principais características e questões sugeridas. A intenção é fundamentar a 
necessidade de um olhar para os processos envolvidos através de suas relações 
com a “ampla escala”. Também o é indicar a centralidade que o entendimento sobre 
os mecanismos de representação e consciência do espaço assumem neste 
trabalho. 
Este, ao considerar a hipótese de um projeto nacional de unidade territorial a 
partir de um urbano simbólico e também materialidade em suas relações com a 
região em que se insere, aponta para duas questões operacionais imprescindíveis: 
a compreensão desse ideário nacional e a configuração espacial que ele alude. 
 
 
 
17 
Neste sentido, a segunda parte deste trabalho busca indicar as especificidades da 
cena brasileira no período em tela buscando perceber o território como reflexo e 
condição em cada momento. Entendemos que este esforço não seria possível sem 
uma leitura sobre o arcabouço teórico a respeito da nação e do território e o fizemos 
de forma a inserir o nosso objeto na própria discussão e não apenas na sua 
seqüência. 
A terceira e última parte desta tese resgata as considerações realizadas nas 
unidades anteriores sobre a província do Rio de Janeiro a partir dos dados que nos 
permitiram alinhar a pesquisa. Não se trata porém de apresentar nosso objeto neste 
momento, mas de verificá-lo a partir das suas informações específicas. Aqui, 
discursos do poder executivo, planos de infraestrutura física, documentos 
administrativos, textos de lei, entre outros documentos, são examinados para se 
buscar um entendimento sobre a conformação territorial fluminense em um contexto 
em que o Estado monárquico brasileiro buscava ser nacional nos moldes de 
sociedades que construíam a sua nação a partir de realidades outras. É a captura 
desse descompasso que julgamos poder observar na escala da província. 
 
 
 
 
 
18 
1. A pesquisa e seus caminhos 
 
 
 
Analisar o processo histórico de formação do território fluminense durante o 
século XIX, quando se realizou no Brasil a efetivação de um projeto nacional 
significa observar como determinadas frações desse território passaram a se 
configurar como espaços delimitados e diferenciados no contexto político, 
econômico e social da província durante o período imperial. Tal temática torna-se 
oportuna quando observamos que há um hiato na literatura sobre o Estado do Rio 
de Janeiro naquilo que se refere à sua conformação territorial, não nos oferecendo 
uma informação precisa sobre sua constituição. 
Tentando contribuir para o preenchimento desta lacuna, o campo problemático 
de nossa pesquisa pode ser enunciado como a relação entre o projeto de 
constituição de Nação no Brasil pós-Independência e o processo de organização 
urbana e territorial fluminense. Trabalharemos especificamente com a idéia de que o 
projeto nacional pretendido para o Brasil independente pode ser visto como aquele 
que, na base territorial, considera o urbano como mecanismo de articulação das 
esferas regionais e, na vertente simbólica, pensa este urbano como instrumento 
civilizatório. Através deste foco, observamos que se o processo de articulação do 
território fluminense se deu através de uma economia agrícola e da consolidação de 
uma aristocracia composta por senhores rurais que giravam em torno do poder 
central, tal processo só poderia acontecer pela constituição de uma rede de cidades, 
visto que é através dela que produção, circulação, consumo e dominação política 
efetivamente acontecem. 
Assim, partimos da premissa de que existiu uma relação direta entre cidade, 
região e a política territorial imperial e, para dar conta de uma análise por este viés, 
temos a consciência de que o nosso esforço deverá conjugar uma dimensão 
temporal ao estudo de uma dada forma de organização do espaço. Seguindo os 
ensinamentos de Santos (1985), quando nos alerta da “geografização” dos espaços 
produzidos como resultado de um conjunto de variáveis que interagem entre si e que 
mudam no transcurso da história dos lugares, pensamos priorizar os sistemas que 
se sucedem em detrimento dos fatos isolados. 
 
 
 
19 
No contexto da expansão econômica européia no período considerado, 
indicamos as seguintes questões em nosso trabalho: 1) A partir da política colonial 
portuguesa de gestão do espaço, pensamos nos termos do processo de 
organização territorial fluminense que passam a vigorar no período pós-
Independência do Brasil, quando dos ideais nacionalistas; 2) Entendido que, do jogo 
político em torno do Estado Imperial, consolidaram-se determinadas forças que 
definiram os moldes da construção de valores e de espaços unificados, assinalamos 
a emergência de um projeto centralizador/civilizador de base territorial urbana e 
regional; 3) Por tal premissa, importante será entender as características de tal 
política centralizadora no espaço que envolve a então capital do Brasil e sua 
hinterlândia mais imediata, correspondente ao atual Estado do Rio de Janeiro; 4) 
Ademais, há de se considerar as formas de ação dos atores envolvidos (Estado, 
nobreza cafeeira e do açúcar e demais proprietários de escravos e de terras) para a 
manutenção do prestígio e da legitimidade; e 5) Reflexo dos interesses em pauta, 
pensamos na importância conferida às vias de comunicação e de circulação para a 
unidade a ser dada ao território fluminense, reportando-nos aqui à operacionalidade 
de uma rede urbana que permitiria a dinamização de distintas regiões comandadas 
pela sede do poder imperial e que, diminuindo a autonomia municipal, possibilitou 
arranjos políticos em torno de interesses regionais. 
Tais questionamentos revelam os objetivos da tese. Em primeiro lugar, 
relembramos que nosso trabalho está atento ao fato de que “o tema rede urbana e 
oligarquias rurais parece ser de extrema relevância para se compreender a 
organização sócio-espacial brasileira” (CORRÊA, 1998, p. 114), apresentando um 
estudo sobre o território fluminense que se insere nos debates atuais sobre as 
determinações históricas da urbanização brasileira. Em última análise, visamos 
somar esforços no sentido de apresentar um “olhar” sobre o processo de ocupação 
territorial na província do Rio de Janeiro que articula as dimensões do local e do 
regional em um contexto de afirmação nacional. Nosso trabalho, ao tentar cumprir 
seus objetivos e abordar as questões listadas, terá que buscar na 
interdisciplinaridade o tratamento de seus marcos teóricos. Se já enfatizamos que 
será priorizado o olhar da “geografia retrospectiva” nos moldes apresentados por 
autores como Azevedo (1956, 1957a), Abreu (1996) e Moraes (2002), também é 
verdade que não poderemos nos distanciar de campos disciplinares como o das 
Ciências Políticas (no que se relaciona com as discussões sobre “nação”, “Estado” 
 
 
 
20 
e “poder”), do Urbanismo em sua interface com a História (“urbanização pretérita”, 
Império no Brasil) e com a própria Geografia (“território”, “rede geográfica”, “rede 
urbana”, “região”). 
Ao indicarmos tais campos, fica assinalado que nosso estudo sugere a hipótese 
de que podemos pensar em um projeto nacional de unidade territorial a partir de um 
urbano simbólico e também materialidade que considera a dimensão política da 
região em que se insere. Dialogamos inicialmente com os escritos do historiador 
francês Fernand Braudel e sua defesa em nome de uma “ampla escala” para se 
compreender a História e, de forma específica, com os textos do geógrafo brasileiro 
Antonio Carlos Robert Moraes quando discute a questão da representação e da 
consciência do espaço. 
 
 
 
1.1. O viés geográfico-histórico 
 
Na linhagem da revolução metodológica no campo dos estudos históricos a 
partir da revista Annales d’histoire Économique et Sociale, publicada na Françaem 
1929 por Lucien Febvre e Marc Bloch, os trabalhos de Braudel o alçaram ao posto 
de principal continuador e herdeiro de uma nova maneira de se conceber e escrever 
a História. Aberto sem concessões à interdisciplinaridade em uma proposta em que 
a Geografia e a Economia se revestiam de um interesse especial, Braudel ampliou a 
dimensão do historiador ao observar o caminhar das sociedades humanas através 
de seus variados ritmos, superando o método tradicional de olhar para o passado 
através da escala humana, da ação dos “grandes homens”. Sem se desfazer do 
interesse por esses relatos, ele concebe níveis distintos para os tempos da História, 
centrando atenção nos processos mais extensos do que o da vida dos indivíduos. 
Em última análise, ele buscava a relação entre os fatos e as estruturas que modelam 
as sociedades, sejam elas materiais ou relativas às mentalidades. Com esta nova 
postura metodológica, a História mudou de objeto uma vez que mudou de 
temporalidade. Nas palavras do próprio autor: 
 
A recente ruptura com as formas tradicionais da história do século XIX 
não foi uma ruptura total com o tempo curto. Sabe-se que ela 
 
 
 
21 
redundou em benefício da história econômica e social, em detrimento 
da história política. Daí, uma reviravolta e uma inegável renovação; 
daí, inevitavelmente, modificações de método, deslocamentos de 
centros de interesses com a aparição de uma história quantitativa que, 
certamente, não disse sua última palavra (BRAUDEL, 1992, p. 47). 
 
Neste processo de mudanças, a influência desempenhada por outras ciências 
no grupo dos Annales muito se deveu ao monumental texto, organizado em 1903, do 
geógrafo Vidal de la Blache sobre a história francesa. Neste trabalho, que no 
contexto daquele país visava fundar um patriotismo legitimador da República, o autor 
partia do território para construir a idéia de um grupo social que, limitado e 
condicionado por circunstâncias objetivas do meio geográfico, havia constituído uma 
pátria e um Estado. Não que Vidal de la Blache visse no meio impedimentos para os 
impulsos sociais, mas lembrava dele como uma resistência a ser percebida e 
impossível de ser dissociada da História. Assim, o tempo dos homens encontrava o 
“atrito” do espaço, mas não o espaço através do determinismo físico defendido pela 
Geografia que se fazia na Alemanha e que se afirmava como referência em tempos 
de institucionalização desta ciência.1 Ao romper com esta corrente, acabou tomado 
como influência no processo através do qual os historiadores descobriam no espaço 
o elemento responsável por uma maior densidade do tempo histórico. 
Em particular, para Braudel, a Geografia passou a configurar um instrumental 
de trabalho que o possibilitaria encontrar as realidades mais lentas e importantes no 
trato explicativo sobre as características observadas nos seus objetos de estudo. 
Importante frisar que este instrumental passava agora a ser manuseado de forma 
completamente distinta da tradição, uma vez que não mais se oferecia apenas para 
descrição introdutória do meio físico a ser considerado. Nas obras assim 
organizadas, estas introduções geográficas à História viam o espaço como palco 
para os acontecimentos das sociedades. Através de Braudel, o espaço passou a ser 
considerado também no âmbito da análise histórica como elemento condicionante e 
reflexo da ação humana. 
Este caminho possibilitou a mais importante mudança metodológica sentida na 
História durante o século XX e aproximou de vez os textos dos Annales dos 
 
1
 Seguindo Moraes (1991), é paradigmático o fato de, no contexto de afirmação dos Estados 
Nacionais europeus, ter sido exatamente a Alemanha (com sua tardia unificação política) o principal 
locus de desenvolvimento da reflexão geográfica. É verdadeiro dizer que tal ciência encontrou 
expressivo desenvolvimento e reconhecimento exatamente nos países que dificuldades encontraram 
neste processo. 
 
 
 
22 
geógrafos de ponta, notadamente franceses e alemães. Destes últimos, por 
exemplo, Braudel tomou a habitual tríplice divisão da Geografia em “espaço”, 
“economia” e “sociedade” como base analítica para o seu principal trabalho (“O 
Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Philippe II”) e suas postulações 
quanto à episteme da História. 
Para ele, esta tríplice divisão se confirma quando enfatiza que a História para 
ser vista em “ampla escala” deve ser decomposta em três planos escalonados que 
se referem aos distintos tempos em que transcorrem os acontecimentos estudados: 
um “tempo geográfico”, um “tempo social” e um “tempo individual”. O primeiro se 
refere à “história quase imóvel, a do homem em suas relações com o meio que o 
cerca; uma história lenta no seu transcorrer e a transformar-se, feita com freqüência 
de retornos insistentes, de ciclos incessantemente recomeçados”, o segundo tempo 
à “história lentamente ritmada, (...) dos grupos [sociais] e dos agrupamentos” e o 
terceiro tempo que se refere à história tradicional, da dimensão do indivíduo, a 
história ocorrencial, dos eventos, “uma história com oscilações breves, rápidas, 
nervosas” (BRAUDEL, 1992, p. 13-14). 
Ao discorrer sobre este último, ele o considerou como “agitação de superfície” e 
alertou: 
 
Desconfiemos dessa história ainda ardente, tal como os 
contemporâneos a sentiram, descreveram, viveram, no ritmo de sua 
vida, breve como a nossa. Ela tem a dimensão de suas cóleras, de 
seus sonhos e de suas ilusões. (...) Os acontecimentos retumbantes 
não são amiúde mais que instantes, que manifestações dos largos 
destinos e só se explicam por eles (BRAUDEL, 1992, p. 14-15). 
 
Ao falar ainda sobre a apropriação da História pelas demais ciências sociais, 
enfatizou que a tendência era a de desconhecer um aspecto da realidade importante 
para a primeira: a duração social, os “tempos múltiplos e contraditórios da vida dos 
homens, que não são apenas a substância do passado, mas também o estofo da 
vida social atual” (BRAUDEL, 1992, p. 43). E, neste sentido, para ele, que deu 
ênfase ao fato de que “nada é mais importante, no centro da realidade social do que 
a oposição viva, íntima, repetida indefinidamente entre o instante e o tempo lento a 
escoar-se”, a conclusão a ser concebida ressaltava que os estudos importantes 
realizados por historiadores vinham contribuindo para a afirmação da multiplicidade 
 
 
 
23 
do tempo e da centralidade do “tempo longo” para as análises mais profícuas. Neste 
sentido, é emblemática a seguinte citação: 
 
Todo trabalho histórico decompõe o tempo decorrido, escolhe entre 
suas realidades cronológicas, segundo preferências e opções 
exclusivas mais ou menos conscientes. A história tradicional, atenta 
ao tempo breve, ao indivíduo, ao evento, habituou-nos há muito tempo 
à sua narrativa precipitada, dramática, de fôlego curto (BRAUDEL, 
1992, p. 44). 
 
E defendendo a “grande medida” como mecanismo de superação a este 
entrave, enfatizou que a “nova história econômica e social” articula ao relato ou 
“recitativo tradicional” um interesse pela “conjuntura que põe em questão o passado 
por largas fatias: dez, vinte ou cinqüenta anos”, chamando a atenção para sua 
premissa de que “bem além desse segundo recitativo, situa-se uma história de 
respiração mais contida ainda, e desta vez, de amplitude secular: a história de longa, 
e mesmo, de longuíssima duração” (BRAUDEL, 1992, p. 44). 
Nestes termos, o autor passava a considerar como essencial o entendimento 
das estruturas na compreensão voltada para o passado mais distante e que 
persistia. Convém, no entanto, salientar que, aqui, ele tratou de diferenciar sua idéia 
do próprio estruturalismo afirmando que: 
 
Por estrutura, os observadores do social entendem uma organização, 
uma coerência, relações bastante fixasentre realidade e massas 
sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é sem dúvida, 
articulação, arquitetura, porém mais ainda, uma realidade que o tempo 
utiliza mal e veicula mui longamente. Certas estruturas, por viverem 
muito tempo, tornam-se elementos estáveis de uma infinidade de 
gerações; atravancam a história, incomodam-na, portanto, 
comandando-lhe o escoamento. Outras estão mais prontas a se 
esfarelar. Mas todas são ao mesmo tempo, sustentáculos e 
obstáculos. Obstáculos, assinalam-se como limites (envolventes, no 
sentido matemático) dos quais o homem e suas experiências não 
podem libertar-se. Pensai na dificuldade de quebrar certos quadros 
geográficos, certas realidades biológicas, certos limites da 
produtividade, até mesmo, estas ou aquelas coerções espirituais: os 
quadros mentais também são prisões de longa duração (BRAUDEL, 
1992, p. 49-50). 
 
Ao pensar desta forma, Braudel avançou em relação aos pioneiros da Annales 
olhando para a História como um conjunto de rupturas e continuidades. Para ele, ela 
traz não apenas o que muda (como pensava Marc Bloch), mas também 
 
 
 
24 
permanências. Assim, pode compreendê-la como globalidade, marcada pela 
dialética permanente entre mudança e não-mudança e associá-la a uma constante 
interdisciplinaridade para o seu entendimento. E, neste sentido, dois outros 
conceitos que ele associa à sua idéia de tempo longo e que são fundamentais em 
nosso trabalho são os de “civilização” e o de “economia-mundo”. 
O primeiro deles, cuja definição remonta do século XVIII, é, para o autor, a 
própria tradução da “larga medida” por traduzir pares como estrutura-conjuntura e 
instante-duração através de sua idéia de oposição à barbárie. O segundo conceito, 
proveniente do pensamento alemão, interage com a questão da vida material em 
sua relação com a história econômica e diz respeito às distintas regiões do planeta 
integradas pela atividade econômica. 
Nestes termos, se constrói a globalidade defendida em sua nova História. Para 
o caso de crítica ou incompreensão, Braudel esclarece recorrendo ao quadro da 
Europa entre os séculos XIV e XVIII e olhando, especificamente, para os seus 
numerosos surtos de progresso e repetidos abalos de crises agrícolas estacionais: 
 
A dificuldade, por um paradoxo apenas aparente, é discernir a longa 
duração no domínio onde a pesquisa histórica acaba de obter seus 
inegáveis sucessos: o domínio econômico. Ciclos, interciclos, crises 
estruturais ocultam aqui as regularidades, as permanências de 
sistema, alguns disseram de civilizações (...) evoquei após alguns 
outros, os traços principais do capitalismo comercial para a Europa 
Ocidental, etapa de longa duração. Não obstante todas as 
modificações evidentes que os percorrem, esses quatro ou cinco 
séculos de vida econômica tiveram uma certa coerência, até a 
agitação do século XVIII e da revolução industrial da qual ainda não 
saímos. Alguns traços lhes são comuns e permanecem imutáveis, 
enquanto que em torno deles, entre outras continuidades, mil rupturas 
e agitações renovavam o aspecto do mundo (BRAUDEL, 1992, p. 51-
52). 
 
Em síntese, a História decorrente dos escritos de Braudel é aquela que se 
impõe por constantes variações e continuidades e na qual importantes eventos 
nestes ciclos nem sempre são percebidos se a medida para a análise for a curta e 
tênue escala temporal humana. Para o autor, os três tempos indicados devem ser 
considerados pelo pesquisador para que ele fuja do inadmissível “erro historizante” 
que consiste em trabalhar com uma dessas escalas em detrimento das demais. 
Marcada a influência em nosso trabalho de uma análise histórica que perceba 
também a longa duração, o outro ponto a ser destacado se refere à visão da 
 
 
 
25 
Geografia como materialidade e representação. E, neste contexto, foi importante no 
olhar sobre o nosso objeto a relação que Robert Moraes aponta entre a História do 
Brasil e a questão do território (MORAES, 1988, 1991 e 2002). Com apoio decisivo 
nestes textos, caminhamos na busca por um entendimento das determinações 
geográficas de um momento específico do Brasil. Ao tentar a compreensão das 
bases territoriais do discurso e das políticas imperiais, enfatizamos a dimensão 
espacial como norteadora de pressupostos básicos do nosso processo histórico. 
Nesses textos, ao discutir de modo sistemático o tema da representação e da 
consciência do espaço, o autor distinguiu três níveis de sua abordagem: o do 
“horizonte geográfico”, o do “pensamento geográfico” e o das “ideologias 
geográficas”. A primeira destas abordagens faz referência ao conhecimento do 
senso geral sobre o meio físico da superfície terrestre e está circunscrita ao conjunto 
de informações geográficas do indivíduo comum. No estágio mais elaborado de 
construção mental, o “pensamento geográfico” diz respeito àquela abordagem 
constituída pelo discurso do saber culto e pelas representações sistemáticas e 
normatizadas da consciência do espaço do planeta. Por sua vez, o autor considera 
como “ideologias geográficas” o conjunto de representações sobre o espaço com um 
caráter político explícito, conferindo ao território uma importância fundamental no 
debate sobre as relações entre política e cultura e desvendando os diferentes usos 
ideológicos da Geografia em momentos importantes da História. 
Não é sem propósito que o autor, atentando para o contexto de afirmação das 
nações européias, afirma que: 
 
Na verdade, as teorias modernas dessa disciplina foram, em muito, 
veículos de legitimação das nacionalidades e dos respectivos projetos 
nacionais. O discurso geográfico foi, sem dúvida, um elemento central 
na consolidação do sentimento de pátria. Pode-se mesmo dizer que 
esse seria o principal núcleo divulgador da idéia da identidade pelo 
espaço (MORAES, 1991, p. 166). 
 
A valorização dos atributos espaciais como base para as formulações 
ideológicas de medidas de cunho político caracteriza o uso do território como 
suporte e produto destas ações e, de uma forma geral, este processo resulta na 
valorização de determinadas partes do território em detrimento das demais. Além do 
mais, por esta análise, podemos perceber que o “pensamento geográfico” pode 
constituir-se em veículo para as “ideologias geográficas”, mesmo que estas sejam 
 
 
 
26 
antagônicas entre si. Interessa-nos, em particular, perceber como e quais temas 
desta ciência estiveram presentes nos diversos tipos de representações discursivas 
que emanam da vida política brasileira em determinados momentos de sua trajetória. 
Entender tal questão requer pensar inicialmente que, de acordo com Moraes, 
todo grupo ou indivíduo social carrega consigo uma forma particular de 
representação do espaço e é decorrente dela que cada um projeta suas 
intervenções materiais no meio concreto. Toda representação do espaço, portanto, 
acaba por denotar uma ação política, pois se insere na produção material das 
sociedades e na disputa por formas hegemônicas de ação entre os mesmos grupos 
ou indivíduos sociais. 
Se adotarmos uma concepção gramsciana de hegemonia na qual ela é 
entendida como uma situação de domínio de uma dada classe ou indivíduo através 
do controle tanto das condições intelectuais quanto materiais de produção, 
“universalizando” seus interesses, perceberemos a centralidade do conceito de 
“ideologias geográficas” para a reflexão sobre a produção material dos territórios, 
tomados também como locus dos sistemas de representação dominante. Pensamos 
ser esta ótica apontada eficaz para avaliar as questões do nosso trabalho, sobretudo 
por ser o período imperial rico na construção de símbolos e sistemas de 
representação para afirmação dos propósitos da nação que estava sendo 
implantada. 
A partir desta noção de “ideologia geográfica”, outros textos fundamentais para 
a análisee compreensão da carga simbólica dos espaços se somaram em nosso 
estudo, como os escritos de Milton Santos e de Pierre Bourdieu. Seguindo a linha 
que discute tal questão a partir das ideologias dominantes, Santos (1999) nos 
lembra que a totalidade social é composta por aspectos de realidade e de ideologia 
e que esta última é importante ao produzir símbolos que assumem forma de objetos 
concretos ou de discursos criadores do real. Lembramos ainda das “representações 
objectais” definidas teoricamente por Bourdieu (1989) que se materializam em 
coisas ou atos a partir de manipulações simbólicas que alvejam a determinação das 
representações mentais que baseiam os interesses e os pressupostos dos agentes 
sociais. Corroborando a idéia já apresentada, é importante reafirmar que, na base 
das construções concretas está uma ideologia hegemônica e que a realidade é 
densa de metáforas e se impõe através da produção recorrente de imagens e do 
 
 
 
27 
imaginário que, naturalizando um pensamento dominante, o faz passar por único 
(SANTOS, 2000). 
Ao considerar tais questões a partir ainda desse olhar miltoniano, pensamos 
que a análise dos fatos deve ser travada de maneira a perceber que o próprio 
movimento da sociedade que se estuda transforma a significação de suas variáveis 
constitutivas e “por isso mesmo, a cada nova divisão do trabalho, a cada nova 
transformação social, há, paralelamente, para os fabricantes de significados, uma 
exigência de renovação das ideologias e dos universos simbólicos, ao mesmo 
tempo em que, aos outros, tornam-se possíveis o entendimento do processo e a 
busca de um sentido” (SANTOS, 1999, p. 103). 
No nosso estudo em particular, tais indicações impõem considerar que refletir 
sobre a organização espacial em um território (sobretudo no que se refere à 
conformação de sua rede urbana) significa considerar o discurso dominante e sua 
gama de representações. Perguntamo-nos sobre as lógicas que norteiam a 
conformação das morfologias espaciais, em especial aquelas concentradoras, 
observando, por exemplo, o padrão de urbanização estabelecido, as relações da 
economia imperial com a Europa e o modelo de desenvolvimento das economias 
regionais. Ao eleger o modo como se redesenhou a rede de cidades fluminenses, 
intentamos superar a prática comum de se considerar as variáveis econômicas 
como determinantes nas dinâmicas territoriais e considerar a organização do 
sistema urbano não como resultante, mas como parte constitutiva nos processos de 
mudança na província e no império. A dinâmica e as alternativas de localização da 
atividade econômica, bem como os movimentos da população, constituem-se em 
aspectos indutores importantes e conformaram um território em constante 
transformação. O movimento da economia associado às políticas de urbanização 
acabou por imprimir formas fazendo-se valer de um conjunto de representações 
como as de “sociedade moderna” e “nação”. 
Por último, vale lembrar que, ao centrar nossa atenção na temática da rede 
urbana, temos a consciência de que operamos com escalas ou, de forma mais 
enfática, trabalhamos com o “problema da escala” tal como enunciado por Castro 
(1995), que ressaltou ser esta uma estratégia de compreensão do real via 
representação. Assim, nos é imposta a obrigação de laborar continuamente com a 
mudança de escalas tanto cartográficas quanto as conceituais (ora a da rede 
urbana, do espaço urbano e ora a da província). E com este rol de preceitos, é 
 
 
 
28 
sempre oportuno resgatar Roberto Lobato Corrêa e o seu alerta de que o 
importante, para o pesquisador, é não perder de vista as relações entre os modos 
como o urbano pode ser geograficamente analisado, não esquecendo ainda de que 
“a operação escalar não introduz uma visão deformada, geradora de dicotomia, 
mas, ao contrário, ressalta as ricas possibilidades de se analisar o mundo real, o 
urbano no caso, em dois níveis conceituais complementares” (CORRÊA, 2003, p. 
136). O objetivo é o de chamar a atenção para os processos sociais que ocorrendo 
no âmbito da rede urbana, conformam o espaço urbano ou vice-versa, entendendo 
que tais conexões entre escalas impõem uma análise que as utilize como método 
para dar unidade ao estudo do espaço tomado como objeto de pesquisa. 
Podemos ainda resgatar a primeira citação desta unidade para reafirmar os 
cuidados tomados para um trabalho consciente das variáveis que interagem entre si 
e que podem mudar no transcurso da história dos lugares. Para cada aspecto desta 
atenção, um grupo de indicações teóricas foi buscado para a nossa tentativa de 
integração das diferentes escalas (inclusive de temporalidade) de análise. Afinal: 
 
(...) não se pode fazer uma interpretação válida dos sistemas locais 
na escala local. Eventos à escala mundial, sejam os de hoje ou os de 
ontem, contribuem mais para o entendimento dos subespaços que os 
fenômenos locais. Estes últimos não são mais que o resultado, direto 
ou indireto, de forças cuja gestação ocorre à distância. Isto não 
impede que estes subespaços sejam dotados de alguma autonomia 
em razão do peso da inércia gerada pelas forças produzidas ou 
amalgamadas localmente (SANTOS, 1985, p. 22). 
 
Os autores citados até o momento se somam nesta citação e nos mostram que 
não existe uma escala ideal para a análise da realidade, uma vez que esta é 
complexa e demanda soluções práticas para o entendimento do objeto. No mais, 
sabemos que a cada enfoque sua variação ocorrerá pela importância e abrangência 
das ações de cada grupo de atores sociais envolvidos. Por esta imposição envolver 
juízo de valores, algumas posturas do texto merecem indicação. Assim, ressaltados 
até aqui os pressupostos que orientam o nosso trabalho de tese, justificando a 
opção pelo método geográfico-histórico e destacando a importância do discurso e 
das escalas para o processo explicativo a respeito da formação territorial 
fluminense, cabe indicar a seguir as posturas diante do objeto de pesquisa, 
fortalecendo o caminho a ser trilhado. 
 
 
 
 
29 
1.2. Posturas diante do objeto 
 
Já havíamos dito que a área do atual Estado do Rio de Janeiro viu o seu 
número de núcleos urbanos mais que triplicar entre o final do período colonial e a 
década de 1890. Para sermos mais precisos, nela existiam 15 aglomerados urbanos 
(entre cidades e vilas) antes de 1822 e, no pós-1889, já havia um total de 48 sedes 
de municípios (CIDE, 1998). Se de caráter espontâneo, conveniente ou racional2, o 
fato é que esse acréscimo carece de um entendimento no contexto do período 
imperial brasileiro. E, no olhar para o nosso objeto e nossas questões, pensamos 
nas janelas reflexivas propostas por importantes autores que têm se debruçado 
sobre os “movimentos do pensamento” a serem considerados no trato prático e 
metodológico da pesquisa nas ciências sociais. Em particular, nos apoiamos em 
Bourdieu et al (2004) e em Lefèbvre (1995). 
Por um lado, temos nos primeiros autores a radicalidade da crítica no sentido 
de que eles defendem a reflexão sobre a efetiva relevância social e histórica do 
trabalho do pesquisador, enfatizando que este é um ser com maneira específica de 
pensar em relação aos demais membros do seu tempo e espaço. Desta forma, 
assinalam a preocupação com uma análise constante do trabalho como medida 
fundamental para se fugir da mecanização em que podem se transformar os 
preceitos do método e para que não se ceda ao risco das prenoções e da 
naturalização dos termos. O método do racionalismo aplicado, defendido pelos 
autores, confirma e constrói um novo objeto real a cada momento da pesquisa, uma 
vez que prega que os atos epistemológicos não são lineares e que, portanto, as 
operações de pesquisa se consubstanciam na dialética teoria/verificação. E nela, as 
teorias podem ser reconstruídas o tempo todo pelas especificidades do objeto.Por outro lado, Lefèbvre, mesmo centrado no pensamento dialético, não 
descarta de forma alguma o pensamento lógico, reconhecendo que sua construção 
foi momento importante na história do conhecimento humano e continua 
fundamental quando é necessário classificar, definir, organizar e distinguir 
metodicamente os conteúdos do conhecimento. No entanto, e confirmando o que já 
havíamos construído anteriormente, o autor enfatiza que a lógica formal parte da 
 
2
 Entre os estudiosos, no que se refere especificamente à formação urbana mineira, existe uma 
discussão sobre o caráter deste processo, existindo a defesa por um urbanismo espontâneo (Robert 
Smith e Sylvio de Vasconcellos), conveniente (Rodrigo Bastos e Cláudia Damasceno Fonseca) ou 
racional (Nestor Goulart Reis) (LIMA, 2006). 
 
 
 
30 
não contradição (do que não muda, da estabilidade), sendo mais apropriada para a 
pesquisa científica a lógica dialética por partir do princípio da contradição e 
totalidade, segundo a qual a realidade é essencialmente processo, mudança, devir. 
Partindo do pressuposto de que estamos sempre diante de verdades parciais, 
Lefèbvre define um conjunto de categorias pelas quais o pensamento se move e 
que consubstanciam tensões analíticas entre pares de termos polares, opostos e 
indissoluvelmente relacionados. São eles: entendimento-razão, verdade-erro, 
absoluto-relativo e mediato-imediato. A título de exemplo, no caso da primeira 
tensão, o autor discorre sobre qual pensamento estará transitando da 
decomposição de seu objeto em elementos para a restauração da unidade desse 
mesmo objeto. O entendimento, aplicado aos objetos do conhecimento, buscará 
definir seus elementos constitutivos que, por sua vez, isolados, tomam vida própria. 
O pensamento em movimento recorre à razão no sentido de reconstituir o todo e a 
razão irá proceder a esta reconstituição a partir da compreensão de como cada um 
dos detalhes contribui para a constituição do todo. Desta forma, para ele, o 
conhecimento se afirma, transitando ainda pelos demais pares analíticos. 
As orientações indicadas até aqui não são mais que exercícios de vigilância 
epistemológica que devemos incorporar ao nosso processo de pesquisa. Assim, 
necessárias se fazem algumas reflexões. Em primeiro lugar, exercitando a 
radicalidade da crítica a partir de Bourdieu et al (2004), vemos que, ao olharmos 
para o nosso objeto de pesquisa, constatamos que a relevância do nosso trabalho 
reside no fato de que, no contexto dos debates afins, ele caminha para a afirmativa 
de que o controle do território fluminense no século XIX se deu através de uma 
política de instituição de núcleos urbanos dotados de funções regionais 
diferenciadas. 
Até então, pensávamos que esta assertiva, considerada no projeto como uma 
hipótese, era bastante para a realização do trabalho, observando apenas as 
determinações para a criação de vilas e cidades. No entanto, quando nos dirigimos 
ao objeto, percebemos que a idéia de algo semelhante a uma rede de cidades 
pressupõe mais que os pontos físicos, implica as relações entre eles. A partir daí, o 
tratamento teórico a respeito dessa rede teria que dar conta efetivamente da 
natureza dessas relações e de suas informações e dados. Esta imposição do objeto 
nos levaria para o questionamento sobre a posição ocupada pelo empírico em 
nosso trabalho. 
 
 
 
31 
Indagando sobre a natureza da tarefa analítica assumida em nossa pesquisa, 
ficou nítida a necessidade de investigação sobre as premissas alegadas para a 
criação por parte do governo imperial de vilas e cidades no território em questão. 
Tal universo de investigação nos permite perceber que a tarefa analítica assumida 
em nosso projeto se baseia em questões que devem ser pensadas tanto em sua 
totalidade quanto na conexão dos seus elementos, acionando algumas das “regras 
práticas” do método proposto por Lefèbvre (1995). Cabe ressaltar o contexto das 
nossas questões para que possamos respondê-las. 
Ao olharmos para o nosso objeto, enumeramos os seguintes fenômenos que 
especificam o seu campo problemático: instituição de políticas de estruturação do 
território para definição de fronteiras, articulação, integração e ordenação segundo 
propósito pré-estabelecido (autorização para aberturas de caminhos, criação de 
vilas e cidades, solicitação para abertura de portos fluviais, incremento nos fluxos de 
pessoas e produtos no território são alguns exemplos). Estes fenômenos, por sua 
vez, suscitam determinados agentes: o Imperador, os Presidentes da Província e os 
“homens bons”3, representantes das Câmaras Municipais e, ao mesmo tempo, 
senhores de terras e de escravos que, em sua maioria, eram agraciados com títulos 
nobiliárquicos e constituíam a força política e econômica de apoio ao Império. 
No tratamento empírico do nosso objeto, ficou evidente a necessidade do trato 
teórico e metodológico das seguintes categorias-chave: a natureza do Estado em 
vigor no período em questão (imperial, centrado no poder moderador e com 
discurso nacionalista e integracionista), sua estrutura e distinções em relação ao 
período anterior; a imbricação entre esferas da produção econômica e influências, 
inclusive sociais, como norteadoras das relações de poder observadas no período 
em estudo (interesses imediatistas nas práticas e discurso pseudo-nacionalista); e 
as formas de uso do território fluminense, então sob os princípios de Nação e de 
centralização do poder (políticas de ordenação territorial via instituição de núcleos 
urbanos). 
Em relação à estrutura do Estado em vigor no período considerado, a própria 
Constituição Imperial denota a forma jurídico-institucional tomada, sendo ajustada a 
cada momento via decretos promulgados que ora ampliavam, ora descentralizavam 
o poder de decisão conferido ao Moderador, ora delegavam autonomia para as 
 
3
 Este termo era adotado desde o período colonial para designar todo aquele que possuía projeção 
social, geralmente pertencente à classe proprietária de terras e de escravos negros ou indígenas. 
 
 
 
32 
localidades, ora as submetiam ao crivo do poder central em movimentos que 
funcionam como termômetro dos seguidos levantes revolucionários ocorridos e das 
pressões exercidas também pela “boa sociedade”4 do Império. 
No que se refere às políticas de ordenação territorial, consideramos como 
indicadores os decretos criando núcleos urbanos (vilas ou cidades), aldeias de 
povoamento e núcleos coloniais ou promovendo arraiais e vilas a status superiores 
na hierarquia urbana, anunciando licitação para abertura de caminhos e/ou criação 
de vilas e benfeitorias territoriais (pontes, aterramentos, portos, etc). Também são 
indicadores os Registros de Terras das diversas paróquias e freguesias da província 
a respeito de sua dinâmica fundiária. 
Estes aspectos específicos podem ser compreendidos, segundo Lefèbvre, a 
partir da consciência de que todo objeto é totalidade e “unidade de contraditórios” e, 
desta forma, lembramos que as condições econômicas e políticas vigentes no 
nosso recorte temporal mantinham as contradições entre grupos concorrentes e o 
Estado Imperial, além de estarem também presentes internamente em ambos os 
casos. A articulação do território fluminense não ocorreu de maneira homogênea 
nem atendendo a todos os interesses em questão. Observar este fato nos permite 
fugir do risco da generalização. 
No mais, ressaltemos que a lógica clássica cultiva o pensamento linear, 
racional, buscando superar incertezas e dúvidas para se chegar à segurança de 
“verdades” incontestáveis. A lógica dialética, por sua vez, considera a incerteza e o 
contraditório como as bases da natureza do conhecimento e da realidade. Por esta 
premissa, percebemos que todo conhecimento julgadoobjetivo, na verdade, se 
inicia na esfera da subjetividade ficando registrado que nossas posturas e 
vigilâncias em relação ao objeto de pesquisa se inserem em um contexto em que 
não nos interessa o pragmatismo do método, mas o seu entendimento como 
instrumento de reflexão. 
Por fim, ao avançar nestas questões de caráter teórico e metodológico, 
apontamos também para novos papéis do empírico em nosso trabalho e, 
novamente seguindo as “regras práticas”, conseguimos aprofundar o nosso objeto 
ao agregar a ele um novo ângulo analítico. Ao fazermos uso da expressão “ação 
 
4
 “Resgatada das reminiscências de Francisco de Paula Ferreira Rezende (1832-93) por Ilmar Mattos, 
a expressão procura designar a reduzida elite econômica, política e cultural do Império, que partilhava 
códigos de valores e de comportamento modelados na concepção européia de civilização” (NEVES, 
2002a, p. 95). 
 
 
 
33 
organizadora do território”, estamos nos referindo, em outras palavras, a uma 
prática planejadora por parte do Estado visto que havia uma intencionalidade e 
seletividade no uso do território. No entanto, sabemos ser “planejamento” um 
conceito, uma construção datada e de uso direcionado. Atentamos, aqui, para o 
problema da “naturalização dos termos”, da necessidade de superação das “pré-
noções” e para a importância do par dialético “imediato/mediato”. Achamos que a 
pesquisa histórica apresenta grandes impasses metodológicos. Mas, ganhamos a 
consciência de que não poderemos olhar para o passado, procurando nele o 
presente e os seus termos. A tarefa parece ser a de atingir o século XIX e suas 
lógicas, “distinguindo seus movimentos longos e impulsos breves”, fugindo das 
naturalizações e buscando as conexões que revelem o específico em nosso objeto. 
O primeiro passo será dado a seguir. 
 
 
 
 
 
34 
2. Território e cidade no Brasil imperial 
 
 
 
Analisar o período imperial brasileiro através de suas premissas e realizações 
não tem sido tarefa fácil para os estudiosos, por conta das múltiplas nuances que 
carrega. No entanto, importantes obras têm lançado luz sobre este momento 
definidor de muitas das características atuais do Brasil e entre elas podemos citar 
como referência para o debate os trabalhos de fôlego de Nelson Werneck Sodré 
(1935), José Murilo de Carvalho (1988), Ilmar Mattos (1994), Richard Graham 
(1997), Demétrio Magnoli (1997) e Lília Moritz Schwarcz (2000). 
Do conjunto destas contribuições, entendemos que a ruptura do Brasil com os 
coloniais laços de dominação pressupunha, evidentemente, a construção de um 
novo Estado. Mais ainda: o novo arranjo institucional a ser montado estaria 
fatalmente assentado em arraigados traços do conservadorismo que marcava o 
arranjo social existente até então. O que nos chama a atenção é o fato de que não 
são apenas os laços de sociabilidade estabelecidos que se manterão a partir da 
Independência, mas também a forte relação (diríamos, a centralidade) já 
estabelecida entre a dimensão espacial e a conformação desta sociabilidade. 
Além do contexto histórico, que se inseria em um movimento externo de 
expansão territorial e de ocupação de espaços, o desenvolvimento econômico, 
político, social e cultural da colônia também fora pautado na apropriação de “novas” 
terras de tal forma que todas as dimensões do poder passavam necessariamente 
pela propriedade fundiária. Queremos enfatizar, a manutenção desta premissa 
mesmo diante da emancipação em relação a Portugal e diante do fato que, apesar 
dela, o Brasil ainda não havia se desvencilhado das frentes de povoamento. 
A questão espacial é reforçada, então, com o advento da construção de um 
novo Estado e, voltando aos autores enumerados, com a emergência de um projeto 
nacional que lhe dará forma e a necessária e imposta identidade brasileira. Em uma 
sociedade marcada por uma espacialidade latente que lhe imprimia uma dinâmica 
social notadamente desigual e coercitiva, as representações da nação muitas vezes 
foram reduzidas à consideração do país como apenas território (MORAES, 1988), 
 
 
 
35 
justificando a busca pela unidade e por (mais) controle. Pensamos na importância 
das cidades exatamente neste momento. 
Assim, em nosso trabalho, mister se faz reunir os principais elementos que 
definiram o Brasil depois de sua emancipação política no que alude, em especial, ao 
contexto e fatos do Império que nos permitem refletir sobre a centralização 
administrativa e o uso do território. Tal contexto se refere ao momento vivido na 
Europa ao qual estávamos estreitamente relacionados. Se lembrarmos que, em boa 
parte daquele continente, a industrialização e a urbanização foram a marca do 
século XIX, estaremos fazendo alusão a uma conjuntura de mudanças que vinha 
tomando corpo e que, ocorrendo também no âmbito das relações sociais, deu 
origem a um modelo específico de sociedade instituída como “moderna”. 
De forma meramente pedagógica, podemos apresentar esta sociedade a partir 
das seguintes características gerais que se contrapõem àquelas “tradicionais”: 
capitalismo como modo de produção, especialização de funções, diversidade de 
valores individuais (diversidade ética, religiosa e normativa), estratificação social por 
critério econômico, questionamento das bases da hierarquia social e alcance 
crescente na escala mundial.5 
No escopo dessas características estão processos como o ritmo inédito de 
desenvolvimento tecnológico atingido por estas sociedades, o rompimento dos 
antigos vínculos entre as atividades mundanas e a religião, a ascensão da 
burguesia ao poder, o surgimento de ideologias proletárias, o desenvolvimento das 
ciências, a expansão de sua influência e interconexão a quase todo o planeta6 e o 
surgimento de novos marcos institucionais no âmbito dessas sociedades. A respeito 
deste último processo, destacamos que: 
 
Algumas formas sociais modernas simplesmente não se encontram 
em períodos históricos precedentes, tais como o sistema político do 
 
5
 Não se pode esquecer o fato de que “sociedade moderna” encontra nas ciências sociais diferentes 
acepções. No entanto, os clássicos da Sociologia, através de caminhos distintos, são unânimes 
quanto ao seu caráter conflituoso. Para Durkheim, o conflito provém da grande e progressiva divisão 
do trabalho, exigindo novos mecanismos de integração social como a normatização, a educação e a 
produção da consciência do pertencimento ao todo. Marx a definia por suas relações de produção, 
sendo a própria sociedade capitalista e seus mecanismos de exploração das classes sociais que 
expõem os limites da igualdade e liberdade. Por último, Weber a concebia pela ótica do conflito de 
valores, uma vez que notava nela a ausência de unidade em termos de justiça, ética e estética, 
decorrente que era de um longo processo de racionalização das atividades humanas. 
6
 Santos (1994) afirma que o nível técnico alcançado por aquelas sociedades permitia a consideração 
de alguns territórios com espaços internacionalizados, diferente do que ocorria na maior parte do 
planeta (já conhecido pela humanidade). 
 
 
 
36 
Estado-Nação, a dependência por atacado da produção de fontes de 
energia inanimadas ou a completa transformação em mercadoria de 
produtos e trabalho assalariado. Outras têm apenas uma 
continuidade especiosa como ordens sociais pré-existentes. Um 
exemplo é a cidade. Os modernos assentamentos urbanos 
freqüentemente incorporam os lugares das cidades tradicionais e isto 
faz parecer que meramente expandiram-se a partir delas. Na 
verdade, o urbanismo moderno é ordenado segundo princípios 
completamente diferentes dos que estabeleceram a cidade pré -
moderna em relação ao campo em períodos anteriores (GIDDENS, 
1991, p.16).Aqui estão alguns pressupostos da idéia de “nação” e suas imbricações com o 
território. E, mais especificamente, com as cidades (modernas ou que assim 
desejem ser). Neste sentido, ler a construção conceitual do primeiro termo nos dará 
suporte para as reflexões sobre nosso objeto no que ele nos suscita em particular. 
Por isso, esta unidade da tese se estrutura a partir das relações entre tais conceitos 
no recorte temporal indicado e na constante relação entre o Brasil e suas 
determinações externas. 
Se lembrarmos que a Geo-História proposta considera um duplo vínculo entre 
homem e natureza, assimilando as diferentes velocidades próprias dos processos 
históricos, e observando-as em diferentes escalas, perceberemos que determinadas 
realidades podem ser simultâneas e não necessariamente contemporâneas. Uma 
vez que estávamos fortemente vinculados à Europa, mas em uma posição 
subalterna em qualquer aspecto que se considerasse, olhar para o Império do Brasil 
significa apreender, no contexto dos países de formação colonial, seus processos de 
longa duração e os seus impulsos breves, que denotam suas particularidades. 
Sigamos os fatos para tentar destacar o rebatimento das transformações materiais e 
intelectuais européias na realidade que efetivamente nos interessa. 
 
 
 
2.1. Notas sobre o período imperial brasileiro 
 
A despeito da Inconfidência Mineira, no final do século XVIII, ou da abertura 
dos portos “às nações amigas” em 1808, o processo de independência brasileira 
começou a tomar faces concretas quando do regresso de D. João VI a Portugal em 
agosto de 1821. Desde a criação do Reino Unido no Brasil, seis anos antes, as elites 
 
 
 
37 
portuguesas haviam se empenhado por medidas que diminuíssem a importância 
brasileira frente ao império lusitano cujo evento mais relevante foi a Revolução do 
Porto em 1820 e a conseqüente convocação das Cortes Gerais Extraordinárias e 
Constituintes da Nação Portuguesa no ano seguinte, forçando a volta do rei a 
Lisboa. 
Ao sair do Brasil, D. João VI deixou seu filho Pedro no papel de príncipe-
regente pensando em uma continuidade administrativa e política. No entanto, a 
realidade não tardaria em mostrar novos caminhos uma vez que a aristocracia 
latifundiária brasileira começou a observar na figura de D. Pedro a saída para uma 
independência pacífica, pois o seu apoio impediria a atuação dos grupos 
republicanos e abolicionistas e, ainda, a participação das camadas populares no 
processo separatista. Diante do que ocorria nas demais regiões da América, 
apostavam na manutenção da monarquia como garantia da unidade do país contra 
possíveis movimentos revolucionários que pleiteassem a divisão territorial. 
Contrariando os interesses de Portugal, sobretudo os propósitos 
recolonizadores, D. Pedro iniciou uma série de reformas políticas e administrativas 
que encaminhariam o Brasil para um confronto com as ordens vindas de D. João VI. 
Estão, do início de 1822, entre elas, a nomeação de José Bonifácio (líder da 
bancada brasileira nas Cortes Constituintes em Lisboa e ardoroso defensor da 
independência e de uma monarquia constitucional, mesclando posições liberais e 
conservadoras) para o cargo de Ministro do Reino e Estrangeiros (o mais alto 
ocupado até então por um brasileiro) e a criação do Conselho de Procuradores 
Gerais das Províncias do Brasil (uma espécie de parlamento que examinaria as 
decisões vindas das Cortes, julgando a sua aplicabilidade na colônia). Em seguida, 
recebeu amplo apoio da maçonaria do Rio de Janeiro, instituição de grande 
influência nos movimentos de independência, através da condecoração com o título 
de Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil. 
Se, por um lado, D. Pedro continuava a tomar medidas de cunho rebelde como 
o decreto que qualificava como inimigas as tropas portuguesas desembarcadas no 
Brasil sem o seu consentimento e o Manifesto às Nações Amigas, escrito por 
Bonifácio, que assegurava o Brasil como “reino irmão de Portugal”, por outro lado, D. 
João VI ampliava sua política de controle da colônia, anulando a convocação da 
Constituinte proposta por seu filho para substituir o Conselho de Procuradores; 
 
 
 
38 
ameaçando o envio de tropas militares e exigindo o imediato retorno do príncipe-
regente a Portugal. 
Incentivado pelo Ministro do Reino e por sua esposa Leopoldina, proclama a 
separação do Brasil em relação à Portugal, sendo coroado D. Pedro I no final 
daquele 1822.7 Diferentemente de toda a América espanhola, o Brasil marcaria a 
sua passagem do período colonial para a independência de forma pacífica por conta 
de uma série de motivos específicos: o trono brasileiro passaria a ser ocupado por 
um nobre da mesma casa reinante da antiga metrópole da qual era herdeiro em 
linha direta de sua coroa e, sobretudo, a manutenção de uma ordem estruturada em 
privilégios das elites, notadamente a manutenção do trabalho escravo. O Brasil, que 
teve sua independência formal reconhecida internacionalmente apenas a partir do 
Tratado de Paz e Amizade com Portugal de 1825, se configurou como o único país 
independente da América do Sul adepto da escravidão como força de trabalho 
característica e a única monarquia instaurada no continente no pós-emancipação. 
 
Na tentativa de garantir e criar uma nova nação, (...) as elites do sul 
do país apostavam claramente na monarquia e na conformação de 
uma ritualística local. A realeza aparecia, em tal contexto, como o 
único sistema capaz de assegurar a unidade do vasto território e 
impedir o fantasma do desmembramento vivido pelas ex-colônias 
espanholas. É nesse sentido que a monarquia se transforma em um 
símbolo fundamental em face da fragilidade da situação 
(SCHWARCZ, 2000, p. 18). 
 
No entanto, consolidar a independência do Brasil não foi missão fácil para D. 
Pedro I que tinha que enfrentar os movimentos no interior das províncias que 
contestavam sua autoridade e os embates na elaboração daquela que seria a 
primeira constituição brasileira. Era necessário, portanto, um governo de equilíbrio, 
discernimento e de apoio popular, mas os tons assumidos foram os da centralização 
e do despotismo, minando sua base de apoio político ao desagradar interesses 
provinciais. O primeiro grande embate ocorreu durante a Assembléia Constituinte 
quando os grupos que o haviam apoiado iniciam a luta por interesses específicos e 
trazem à tona três nítidas tendências políticas: a liberal (que, mesmo formada por 
moderados e radicais, defendia uma monarquia constitucionalista que limitasse os 
poderes do imperador ao reconhecer o legislativo como representante legítimo da 
 
7
 Como tudo era discurso, D. Pedro foi coroado imperador, sugerindo, apesar do direito monárquico, 
uma aproximação maior com um desejo popular que o título de rei não comportaria. 
 
 
 
39 
nação a ser construída), a conservadora (que defendia um executivo forte e 
centralizado pelo monarca como mecanismo institucional para manter a ordem social 
e a unidade do Império) e a republicana (que, mesmo sem maior expressão, estaria 
presente em todos os movimentos de oposição que caracterizaram o período). 
Instalada em março de 1823 e presidida por Antônio Carlos Ribeiro de 
Andrada, irmão de Bonifácio, a nossa primeira Assembléia Constituinte foi formada 
por 80 deputados (dos quais bacharéis, padres, magistrados e senhores de terras e 
de escravos formavam o conjunto) que, representando as províncias eram, na 
maioria, comprometidos com ideais liberais. Este fato logo gerou um mal estar nos 
trabalhos diante do poder absoluto pretendido por D. Pedro I. Mesmo assim, esses 
seguiram em meio às discussões quanto à autoridade do imperador na Constituinte 
e à cidadania dos portugueses residentes no Brasil (fato que assumiu contornos 
críticos e ocasionou a separação

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