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O DESTINO DA TRADIÇÃO REVOLUCIONÁRIA

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
DAYANE CORREA LOREIRO
AMANDA MARTELLI KAMINSKI
O DESTINO DA TRADIÇÃO REVOLUCIONÁRIA:
uma abordagem da reflexão arendtiana na visão de Claudia Drucker
Tijucas
2016
DAYANE CORREA LOREIRO
AMANDA MARTELLI KAMINSKI
O DESTINO DA TRADIÇÃO REVOLUCIONÁRIA:
uma abordagem da reflexão arendtiana na visão de Claudia Drucker
Trabalho realizado como requisito de avaliação para disciplina de Linguagem Jurídica no primeiro período do curso de Direito pela Universidade Do Vale do Itajaí.
Professora: Ana Maria Cordeiro
Tijucas
2016
SUMÁRIO
 1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................3
2 AUTO-INCOMPREENSÃO DO ESPÍRITO REVOLUCIONÁRIO.....................3
2.1 A INFLUÊNCIA DOS MOVIMENTOS SECULARES NO CAMPO POLÍTICO.........................................................................................................................4
2.2 ENTENDENDO O PROBLEMA DO COMEÇO.......................................................6
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................7
4 REFERÊNCIAS...........................................................................................................9
5 GLOSSÁRIO..............................................................................................................10
6 ANEXO A....................................................................................................................11
7 ANEXO B....................................................................................................................13
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho sintetiza a abordagem de Claudia Drucker, escritora, filósofa e docente associada da Universidade Federal de Santa Catarina, referente à concepção de Hannah Arendt, filósofa política alemã de origem judaica, a cerca dos movimentos revolucionários.
O texto intitulado O Destino da Tradição Revolucionaria: auto-incompreensão ou impossibilidade ontológica? permite alicerçar nosso entendimento à luz do pensamento arendtiano. Embora deparamo-nos com a complexidade que a reflexão trazida por Arendt suscita, o objetivo deste estudo pauta de modo sintetizado os apontamentos elencados no trabalho de Drucker. 
De encontro à indagação da autora, evidenciado no título citado, buscaremos na reflexão de Arendt subsídios para ler o fracasso da tradição revolucionária como um problema de auto-incompreensão, assim deduzido por Drucker como o grande dilema da abordagem arendtiana. 
Que este ensaio seja o primeiro passo a produzir conhecimentos para que possamos refletir sobre uma das mais influentes filósofas do século XX, conhecida também como pensadora da liberdade.
2 AUTO-INCOMPREENSÃO DO EPÍRITO REVOLUCIONÁRIO
O pensamento arendtiano manifesta a importância dos movimentos revolucionários, porém faz ressalvas quanto às reais mudanças preteridas por seus idealizadores. Ou seja, os movimentos seculares em si não significa o fim das antigas tradições. Reforça Drucker (2003, p. 196): “nem por isso temos razões para esperar que o fim da tradição e de suas categorias, por si só, vá inaugurar novas formas de viver em comum”. 
2.1 A INFLUÊNCIA DOS MOVIMENTOS SECULARES NO CAMPO POLÍTICO
O impacto da secularização sobre o pensamento político preconiza o que podemos chamar de descrença da fé. Significa que a política deixou de passar estritamente pelo julgo dos critérios absolutos da religião. Com o advento da ciência e dada sua credibilidade, tornou-se insustentável uma governabilidade baseada apenas nos pressupostos religiosos. 
A consequência política do processo de secularização é que não apelamos mais a normas extramundanas para direcionar a prática, tais como o direito divino, ou instância como o suposto julgamento da nossa alma imortal após a morte. A fé não é mais uma força operativa na vida dos homens (DRUCKER, 2003, p. 198).
Entretanto, os movimentos seculares, sobretudo os impulsionados pelos revolucionários do século XVIII, suscitaram um libertar-se do ajuizamento metafísico. Porém, Arendt faz pontual observação sobre o ato revolucionário, entendendo ser caracterizado por dois estágios: liberação e liberdade. O primeiro caracterizado pela reação a opressão, embora seja a ideia central instituir a liberdade, difere do segundo que tem como fundamento o poder de tomar iniciativas. Seu pensamento é iluminado pela fala de Thomas Jefferson, democrata norte-americano que diz ser ‘liberdade política ou significa o direito de participar no governo ou então não significa nada’ (ARENDT, 1998, p.218 apud DRUCKER, 2003, p. 199).
Se a intenção dos revolucionários era emancipar o ideal libertador, sustentar essa conquista requereria a preservação da liberdade. Para que essa luta se concretizasse, ela deveria garantir condições aos movimentos à participação ativa nos interesses públicos. Sendo assim, seria preciso uma forma de governo que garantisse estabilidade politica, tornando-se indispensável à criação de uma república, simbolizando os anseios do povo. Alude Drucker (2003, p. 199) a respeito: “a preocupação dos revolucionários em criar corpos políticos estáveis revela a sua preocupação em criar uma moldura de estabilidade, sempre a serviço da participação ativa”.
O que Arendt suscita em seu parecer, é a tentativa dos revolucionários de criar instituições que permitissem a participação popular, mas seus resultados aparentaram bem diferentes dos esperados. A seu ver, a história das revoluções baseadas nos movimentos libertários são restaurações de um sistema já estabelecido. Assim como acontece quando formatamos um microcomputador, apagam-se todos os programas que embasam o sistema de funcionamento. Porém, restabelecer a sua funcionalidade e melhorar seu desempenho requer a reinstalação dos mesmos.
A Revolução Francesa é o exemplo de revolução que teve como desfecho a restauração, segundo a reflexão aredtiana. Embora fosse o lema principal a liberdade, num primeiro momento os franceses não conseguem estabelecer uma forma legitima de organização e governabilidade. ‘o infortúnio principal e trágico da Revolução Francesa foi que nenhuma das assembleias constituintes pôde angariar autoridade suficiente para promulgar a lei do país’ (ARENDT, 1998, p. 165 apud DRUCKER, 2003, p. 199).[1: Ver anexo B. REVOLUÇÃO FRANCESA. In: WIKIPEDIA enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa. ]
 Caso similar foi a Revolução Americana que não produziu resultados permanentes. Os primeiros passos da independência começa pela colonização, marcada pela experiência da participação política direta, espécie de associações, forma encontrada pelas colônias de se articularem e legitimar autoridades constituídas. Embora pairasse uma atmosfera de liberdade, não se constituía um corpo político respaldado pelo poder real nem numa figura de Estado-nação. Após muitas tratativas e consequentemente muito sangue derramado, instituiu-se uma organização social livre. [2: Ver anexo A. CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO AMERICANA. In: WIKIPEDIA enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_Americana#Conseq.C3.AAncias. ]
Apesar da estrutura social ter permanecido inalterada ( o norte continuou capitalista e no sul a escravidão foi mantida), A Guerra da Independência dos Estados Unidos é chamada de revolução por ter instituído, na Constituição de 1787, vigente até hoje, uma república federal, a soberania da nação, e a divisão tripartida dos poderes (WIKIPEDIA/ORG, 2009). 
Entretanto, a Revolução americana não foi um começo radicalmente novo na visão de Arendt, pelo fato de os problemas que antes combatidos pelos revolucionários americanos, ainda permaneciam enraizados na nova organização. “Assim, a revolução americana terminou na rotina e petrificação que acontecem quandoa convivência entre estabilidade institucional se tornam impossível” (DRUCKER, 2003, p. 201).
Tanto os franceses como os americanos, inicialmente buscam a liberdade, mas não conseguem estabelecer a partir dos movimentos revolucionários uma forma legítima de se organizarem conforme o espírito idealizador, porém tiveram que recorrer a regimentos outrora estabelecidos.
Conforme menciona Drucker (2003, p.201) “não se pode dizer que as revoluções não mudaram o mundo; elas só não mudaram no sentido de aumentar a participação política ativa”. Ou seja, os ideais revolucionários que viam na liberdade o viés da participação ativa para as decisões do governo; em estabelecer relações sólidas de igualdade, encontraram limitações ao passo que tentam fundar suas estruturas, buscando assim nas tradicionais formas de governo a base para gerir as tratativas politico/sociais. 
2.2 ENTENDENDO O PROBLEMA DO COMEÇO	 
A indagação de Arendt é em compreender como a fundação de um corpo político seria possível sem recorrer aos princípios transcendentais e às tradições passadas. No entanto crê que a revolução abriu portas para que o ser humano começasse a criar novos caminhos, novos rumos para a política, onde as vozes não fossem caladas, porque o ser humano é um ser capaz de causar a interrupção histórica, desviar seu fluxo contínuo para regar solos mais férteis. Isso seria inspiração para a invenção de novas instituições. 
O problema central apontado nesta reflexão é que os revolucionários seriam incapazes de formular princípios para que a fundação legítima de um governo fosse instituído, tanto que até hoje os movimentos revolucionários não conseguem estabelecer suas idealizações. Para Arendt, o problema seria evitado se, desde o começo, tivessem uma consciência clara das justificativas e dos princípios da nova organização, sendo que para legitimá-la, estes deveriam estar embasados naquilo que ela chama de ‘’‘contrato horizontal’, em que os participantes não se unem para transferir o seu poder a um governante, mas para constituir e somar o poder da própria república” (DRUCKER, 2003, p. 203).
 Em outro âmbito, a reflexão arendtiana vê-se num dilema ao entender que o pensamento dos homens da revolução é como uma perdição, pois estes nem poderiam apelar para as leis divinas, tampouco sustentar seus princípios puramente mundanos. É o que ela chama “de ‘problema do começo’. O começo é ‘um evento desconectado que irrompe dentro da sequência contínua do tempo histórico’” (ARENDT, 1998, p.204-205 apud Drucker, 2003, p. 206).
 Toda constituição criada pelas formas revolucionárias começa a partir do nada e aos poucos vai adquirindo seu princípio e sua legitimidade. O problema visto por Arendt e respaldado por Drucker é que a tradição revolucionária não conseguiu auto-justificar seus princípios e muito menos encontrar uma instituição apropriada.
Para Arendt o fracasso da tradição revolucionaria só seria superado se levasse em conta sua reflexão sobre a concepção de tempo, o qual conceitua como tempo instante e tempo hiato.
O primeiro instante é um começo que se institui a si, aquele que não é determinado por nenhum evento anterior, ele pode criar um tempo diferente, uma época livre de peso do passado, onde só através dele pode-se estabelecer uma mudança histórica.
No Tempo hiato os homens da revolução usaram como modelo os períodos de servidão e fim da escravidão para tentar compreender a sua própria situação, e foi a partir daí, que eles encontraram algo em comum que seria um tempo hiato, um intervalo entre o fim da antiga ordem e o começo da nova, seria um ‘tempo sem tempo’. Porém esse novo começo ‘não é consequência automática do fim’. Segundo Arendt é necessário um meio de transição para que seja totalmente absorvido ou uma adaptação no tempo cotidiano. (ARENDT, 1998, p.205 apud DRUCKER, 2003, P. 210).
No entendimento arendtiano não há regras e procedimentos para a revolução e sim uma adaptação entre estabilidade e mudança. Outro ponto a observar é a sua insistência na tese de que o fracasso da tradição revolucionaria é a única consequência para o caráter da modernidade política.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os movimentos revolucionários, sobretudos os que marcaram os séculos XVIII, XIX, XX, apontaram para um novo agir e pensar. Entretanto, no campo político, segundo analise de Hannah Arendt, estes acontecimentos provocaram uma colisão com as formas tradicionais de governo, porém o ocorrido não significou uma politica revolucionaria.
As manifestações revolucionárias têm como práticas o ataque aos costumes e às tradições, mas em si não sustentam as intenções idealizadas, pois o combate à opressão, mesmo pautado no princípio da liberdade, caracteriza-se por um estágio de libertação, não no ato fundador da mesma.
As ideologias de movimentos revolucionários sempre propagaram a liberdade, vista como à participação ativa nas decisões do governo de estabelecer relações sólidas; condições dignas e de igualdade para todos. Esses princípios encontraram suas limitações nas novas formas de estruturação social, buscando nos tradicionais regimes a base para administrar às relações humanas.
 A reflexão arendtiana apontou para o dilema encontrado pelos movimentos rvolucionários. Entretanto, a escritora e filósofa Claudia Drucker permite-nos analisar que Arendt observa uma solução, mas não propõe em nenhum momento um modelo ou modo para se formar um espaço público permanentemente aberto.
Contudo, podemos refletir a cerca de como se organizam os movimentos políticos em nossos dias e que suas formas estruturais são decorrentes de uma tradição que carga o espírito revolucionário numa tentativa de materializar-se. 
REFERÊNCIAS
DRUCKER, Claudia. O Destino Da Tradição Revolucionária: atuo-incompreensão ou impossibilidade ontológica?. In: BINOTTO, Newton; MORAIS, Eduardo Jardim de (Orgs.). Hannah Arendt: diálogos, reflexões, memórias. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. p. 196-213. 
FERREIRA, A. B. H. Minidicionário Aurélio: da língua portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
REVOLUÇÃO AMERICANA. In: WIKIPEDIA enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_Americana#Conseq.C3.AAncias. Acesso em: 27 abr. 2016. 
REVOLUÇÃO FRANCESA. In: WIKIPEDIA enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa. Acesso em: 27 abr. 2016. 
GLOSSÁRIO
A
ALUDE – v.t. fazer alusão; referir-se, reportar-se (FERREIRA, 1993, p.25). 
ANGARIAR – v.t.1. Obter, pedindo a um e a outro. 2. Granjear (FERREIRA, 1993, p.31).
H
HIATO - sm.Gram.1. Encontro de duas vogais pertencentes sílabas distintas. 2. Intervalos (FERREIRA, 1993, p.286).
M
METAFÍSICOS – adj. 1. Relativo à metafísica. 2. Transcendente (FERREIRA, 1993, p.361).
MUNDANOS - adj.1. Relativo ao mundo (considerado este pelo lado material); terreno, terrestre. 2. Dado a gozos ou prazeres materiais (FERREIRA, 1993, p.376).
P
PRECONIZA – de preconizar v.t.1. Apregoar com louvor 2. Recomendar louvando (FERREIRA, 1993, p.437).
S
SUSCITARAM – de suscitar v.t. 1. Fazer nascer, 2. Causar, provocar (FERREIRA, 1993, p.521).
	ANEXO A
CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO AMERICANA
Declaração da Independência dos Estados Unidos.
Pela primeira vez na história da expansão europeia, uma colônia tornava-se independente dos países por meio de um ato revolucionário. E fazia-o não só proclamando ao mundo, no documento histórico aprovado no 4 de Julho, o direito à independência e à livre escolha de cada povo e de cada pessoa ("o direito à vida, à liberdade e à procura da felicidade" são definidos como inalienáveis e de origem divina), mas ainda construindo uma federação de estados dotados de uma grande autonomia e aprovando uma constituição política (a primeira da História mundial) onde se consignavam os direitos individuais dos cidadãos, se definiam os limites dos poderes dos diversos estados e do governo federal, e se estabelecia um sistema de equilíbrio entre os poderes legislativo,judiciário e executivo de modo a impedir a supremacia de qualquer deles, além de outras disposições inovadoras. O sucesso norte-americano foi descrito como tendo influenciado a Revolução Francesa (1789) e as subsequentes revoluções na Europa e América do Sul.
Os pensamentos iluministas influenciaram no novo governo americano (o governo Babalistíco).
A Revolução Americana de 1776 teve suas raízes com a assinatura do Tratado de Paris que em 1763 acabou por finalizar a Guerra dos sete anos.
Ao final do começo do conflito, o território do Canadá foi incorporado pela Inglaterra. Neste contexto, as treze colônias representadas por Massachusetts, Rhode Island,Connecticut, New Hampshire, Nova Jersey, Nova York, Pensilvânia, Delaware, Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia começaram a ter seguidos e crescentes conflitos com a metrópole, pois devido aos enormes gastos com a guerra, a Metrópole inicia uma maior exploração sobre essas áreas. As colônias finalmente desencadeariam o desejo e a declaração de independência, em 4 de julho de 1776, e a Guerra de independência dos Estados Unidos. A guerra teria fim em 1783, quando a independência dos Estados Unidos foi reconhecida pelo Reino Unido no Tratado de Paris de 1783. Apesar da estrutura social ter permanecido inalterada (o norte continuou capitalista e no sul a escravidão foi mantida), a Guerra da Independência dos Estados Unidos é chamada de revolução por ter instituído, na Constituição de 1787, vigente até hoje, uma república federal, a soberania da nação, e divisão tripartida dos poderes. Além disso, influenciou as revoluções liberais que aconteceriam na Europa, como a Revolução Francesa.
ANEXO B
A RVOLUÇÃO FRANCESA
Revolução Francesa (em francês: Révolution Française, 1789-1799) foi um período de intensa agitação política e social naFrança, que teve um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu. A monarquia absolutista que tinha governado a nação durante séculos entrou em colapso em apenas três anos. A sociedade francesa passou por uma transformação épica, quando privilégios feudais, aristocráticos e religiosos evaporaram-se sobre um ataque sustentado de grupos políticos radicais, das massas nas ruas e de camponeses na região rural do país.[1] Antigos ideais da tradição e da hierarquia de monarcas, aristocratas e da Igreja Católica foram abruptamente derrubados pelos novos princípios de Liberté, Égalité, Fraternité(em português: liberdade, igualdade e fraternidade). As casas reais da Europa ficaram aterrorizadas com a revolução e iniciaram um movimento contrário que até 1814 tinha restaurado a antiga monarquia, mas muitas reformas importantes tornaram-se permanentes. O mesmo aconteceu com os antagonismos entre os partidários e inimigos da revolução, que lutaram politicamente ao longo dos próximos dois séculos.
Em meio a uma crise fiscal, o povo francês estava cada vez mais irritado com a incompetência do rei Luís XVI e com a indiferença contínua e a decadência da aristocracia do país. Esse ressentimento, aliado aos cada vez mais populares ideais iluministas, alimentaram sentimentos radicais e a revolução começou em 1789, com a convocação dos Estados Gerais em maio. O primeiro ano da revolução foi marcado pela proclamação, por membros do Terceiro Estado, do Juramento do Jogo da Péla em junho, pelaTomada da Bastilha em julho, pela aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em agosto e por uma épica marcha sobre Versalhes, que obrigou a corte real a voltar para Paris em outubro. Os anos seguintes foram dominados por lutas entre várias assembleias liberais e de direita feitas por apoiantes da monarquia no sentido de travar grandes reformas no país.
A Primeira República Francesa foi proclamada em setembro de 1792 e o rei Luís XVI foi executado no ano seguinte. As ameaças externas moldaram o curso da revolução. As guerras revolucionárias francesas começaram em 1792 e, finalmente, apresentaram espetaculares vitórias que facilitaram a conquista da Península Itálica, dos Países Baixos e da maioria dos territórios a oeste doReno pela França, feitos que os governos franceses anteriores nunca conseguiram realizar ao longo de séculos. Internamente, os sentimentos populares radicalizaram a revolução significativamente, culminando com a ascensão de Maximilien Robespierre, dosjacobinos e de uma ditadura virtual imposta pelo Comitê de Salvação Pública, que estabeleceu o chamado Reino de Terror entre 1793 e 1794, período no qual entre 16 mil e 40 mil pessoas foram mortas.[2] Após a queda dos jacobinos e a execução de Robespierre, o Diretório assumiu o controle do Estado francês em 1795 e manteve o poder até 1799, quando foi substituído pelo Consulado em 1799, sob o comando de Napoleão Bonaparte.
A era moderna tem se desdobrado na sombra dos ideais conquistados pela Revolução Francesa. O crescimento das repúblicas e das democracias liberais ao redor do mundo, a difusão do secularismo, o desenvolvimento das ideologias modernas e a invenção da guerra total[3] tiveram o seu nascimento durante a revolução. Eventos subsequentes que podem ser rastreados com a revolução incluem as Guerras Napoleônicas, duas restaurações separadas da monarquia (a primeira em 1814 e a segunda, a Restauração Bourbon, em 1815), e duas revoluções adicionais (1830 e 1848) ajudaram a moldar a França moderna.

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