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12.DIREITO PROCESSUAL PENAL

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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 
 
 
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 DIREITO CONSTITUCIONA 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 
 
 
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 DIREITO CONSTITUCIONA 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
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SUMÁRIO 
 
1. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ....................................................................... 03 
2. INQUÉRITO POLICIAL (I.P.) ............................................................................................. 04 
3. AÇÃO PENAL ................................................................................................................... 10 
4. AÇÃO CIVIL ..................................................................................................................... 18 
5. JURISDIÇÃO .................................................................................................................... 21 
6. COMPETÊNCIA ................................................................................................................ 22 
7. SUJEITOS PROCESSUAIS ................................................................................................. 30 
8. ATOS PROCESSUAIS E PRAZOS ...................................................................................... 34 
9. VÍCIOS PROCESSUAIS ..................................................................................................... 37 
10. TEORIA GERAL DA PROVA ........................................................................................... 40 
11 PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA6 LIBERDADE PROVISÓRIA ...................... 53 
12. PROCEDIMENTOS ......................................................................................................... 70 
13. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS ....................................................................................... 79 
14. SENTENÇA PENAL ......................................................................................................... 83 
15. TEORIA GERAL DOS RECURSOS ................................................................................... 85 
16. AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO ..................................................................... 105 
17. QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES ......................................................................... 112 
18. JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS.................................................................................. 118 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1.1 LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO – PRINCÍPIO DA 
TERRITORIALIDADE 
De acordo com o art. 1° do CPP, a lei processual penal se aplica em todo território brasileiro, 
consagrando, assim, o princípio da territorialidade. 
O próprio dispositivo, entretanto, traz algumas ressalvas com relação à aplicação desse 
princípio quando relativos: 
a) a tratados, convenções e regras de direito internacional; 
b) à jurisdição política. Ocorre, dentre outras hipóteses, nos casos dos incisos I e II, do art. 52 
da CRFB, em que a competência para processar determinadas autoridades (Presidente e o Vice-
Presidente da República, Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, do Exército e da 
Aeronáutica, Ministros do Supremo Tribunal Federal) é deslocada do Poder Judiciário para o Poder 
Legislativo (Senado Federal); 
c) aos processos de competência da Justiça Militar; 
d) aos processos de competência do Tribunal Especial (o extinto Tribunal de Segurança 
Nacional, previsto no art. 122, nº 17, da Constituição de 1937); 
e) aos processos por crimes de imprensa (esta ressalva se encontra superada, porque a Lei de 
Imprensa (Lei n.º 5.250/67) teve a eficácia de vários dispositivos suspensa liminarmente em sede da 
Ação de Descumprimento de Preceitos Fundamentais n.º 130-7/DF.). 
 
Quadro comparativo do princípio da territorialidade no CP e no CPP 
Art. 5º do Código Penal Art. 1º do Código de Processo Penal 
Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de 
convenções, tratados e regras de direito 
internacional, ao crime cometido no território 
nacional. 
 O processo penal reger-se-á, em todo o 
território brasileiro, por este Código, [...]. 
 
1.2 LEI PROCESSUAL NO TEMPO – TEMPUS REGIT ACTUM OU 
PRINCÍPIO DO EFEITO IMEDIATO 
O art. 2° do CPP, referindo-se sobre o tema, dispõe que a lei processual penal será aplicada 
desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência de lei anterior. Com isso, 
conclui-se que a lei processual penal tem caráter irretroativo. Incide, portanto, o princípio da tempus 
regit actum (o tempo rege o ato). 
 
Observação importante: 
A doutrina adverte que em se tratando de leis penais heterotópicas e híbridas (mistas ou de 
dupla previsão), admite-se a sua retroatividade, aplicando-se as regras do art. 5º, inc. XL, CRFB e 2° e 
parágrafo único do CP. 
 
 
 
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As leis penais heterotópicas são assim denominadas porque, embora ostentem “rótulo” 
processual (previstas no CPP), possuem conteúdo material, ou seja, disposições penais. Da mesma 
forma, quando previstas no Código Penal e dispõem sobre regras processuais. Dito de outra forma: 
“não é porque determinada norma se encontra no CPP que ela é de cunho processual”. Neste 
ambiente são encontradas as leis processuais penais materiais. 
As leis penais híbridas (mistas ou de dupla previsão), por seu turno, são as que contemplam 
institutos que possuem, ao mesmo tempo, natureza penal e processual. A decadência, por exemplo, 
é instituto previsto tanto no CP (art. 103) quanto no CPP (art. 38). Como se trata de causa extintiva 
de punibilidade (art. 107, inc. IV, CP) deve ser tratada como norma de direito penal, submetendo-se, 
portanto, a retroatividade e ultra-atividade benéfica (art. 5º. Inc. XL, CRFB c/c art. 2º, CP). 
 
 
 
 
2.1 CONCEITO / NATUREZA JURÍDICA / PRESIDÊNCIA / FINALIDADE 
O inquérito policial é um procedimento administrativo (natureza jurídica) conduzido pela 
polícia judiciária (presidência) e voltado à apuração de uma infração penal e de sua autoria 
(finalidade), a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. 
 
2.2 INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAIS 
O parágrafo único do art. 4º do CPP dispõe que “a competência definida neste artigo não 
excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função”. 
Podem-se citar, dentre outros, os seguintes exemplos de inquéritos extrapoliciais: 
a) Inquérito policial militar – IPM (art. 9º do Decreto-lei n.º 1.002/69). 
b) Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI (art. 58, § 3º, CRFB). 
c) Inquérito Civil (art. 129, inc. III, CRFB). 
d) Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF (arts. 14 e 15 da Lei n.º 9.613/98). 
e) Banco Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários – CVM (art. 7º, 
parágrafo único, Lei Complementar n.º 105/01). 
f) Poder Judiciário, em seus membros (art. 33, parágrafo único, Lei Complementar n.º 35/79). 
g) Ministério Público, em seus membros (art. 41, parágrafo único, Lei n.º 8.625/93). 
h) Polícia legislativa (Súmula n.º 397 do STF). 
i) Inquérito para expulsão de estrangeiro (art. 70 da Lei n.º 6.815/80). 
j) Polícia ambiental - Lei 9.605/1998 
l) SIPAER - Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos- Lei 12.970/2014 
m) Procedimento de Investigação Criminal (PIC) - investigação promovida diretamente pelo 
Ministério Público: questão tormentosa na doutrina e na jurisprudência diz respeito à 
 
 
 
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possibilidade de o Ministério Público promover investigação criminal, dispensando a atuação 
da polícia judiciária. Os argumentos desfavoráveis são embasados na falta de previsão 
constitucional explícita e de controle externo. Os favoráveis são fundamentados na teoria 
(doutrina ou tese) dos poderes implícitos, de origem norte-americana, que repousa na ideia de 
que quando a CRFB atribui ao MP diversas funções relacionadas à persecução criminal, 
confere-lhe, implicitamente, os mecanismos e instrumentos para o atingimento de seus 
objetivos, sob pena de se ver esvaziado em suas atribuições institucionais. A PEC 37 que 
propunha acabar com a discussão foi arquivado nos chamados "movimentos de junho". A 
questão encontra-se, ainda, em pauta no STF, razão pela qual sugere-se o leitor ficar atento ao 
julgamento. 
 
2.3 COMPETÊNCIA X ATRIBUIÇÃO 
Na redação original do caput do artigo 4º havia referência ao vocábulo “jurisdição”, o que foi 
alterado pela Lei 9.043/95, substituindo-se, com acerto, para “circunscrição”. 
Assim, a autoridade policial tem atribuição e não competência. A atribuição da autoridade 
policial será realizada dentre de limites que são chamados de “circunscrição”. 
 
2.4 CARACTERÍSTICAS DO I.P 
Oficialidade – art. 4º do CPP: O inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no caso, a autoridade policial. É 
uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais (art. 4º, CPP c/c art. 144, §§ 1º, IV, 4º, CRFB). 
Obrigatoriedade – art. 5º, caput, do CPP: Tendo recebido a notícia de uma infração penal que, em tese, ocorreu, a 
autoridade está obrigada a promover a instauração do inquérito para apurar o fato e sua autoria. Isso se depreende do 
caput do art. 5º do CPP que utiliza a expressão “o inquérito será iniciado”. 
Oficiosidade – art. 5º, inciso I, do CPP: Esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou legalidade. Sendo um 
crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade tem o dever de promover o inquérito policial ex officio, 
independente de qualquer espécie de provocação. 
Escrito / formal – art. 9º do CPP: Todas as peças do inquérito policial serão processado num só, reduzidas a escrito ou 
datilografadas e, nesse caso, rubricadas pela autoridade. 
Indisponibilidade – art. 17 do CPP: Uma vez instaurado, não pode, sob hipótese alguma, ser arquivado pela autoridade 
policial. 
Sigiloso – art. 20 do CPP: A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo 
interesse da sociedade. O acesso do advogado, entretanto, é assegurado no EOAB (art. 7º, inc. XIV, L. 8.906/1994) e pela 
Súmula Vinculante 14 do STF, cabendo o manejo de mandado de segurança (art. 5º, LXIX, CRFB c/c L. 12.016/2009) em 
caso de negativa de vista, bem como de reclamação ao STF, em face do desrespeito à Súmula Vinculante (art. 103-A, § 3º, 
CRFB). 
Incomunicabilidade – art. 21 do CPP: A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e 
somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. 
Dispensável (prescindível) – art. 39, § 5º, do CPP: O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a 
representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal. 
Substituível pelo T.C.: em caso de infração de menor potencial ofensivo, assim entendidas as contravenções penais e os 
crimes em que a pena máxima cominada em abstrato não excede a dois anos, a instauração do IP dá lugar à lavratura de 
T.C. (arts. 61 e 69 da L. 9.099/1995), salvo em caso de violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 41, L. 
11.340/2006) e da lesão corporal culposa de trânsito com embriaguez ao volante, participação em competição não-
autorizada ("racha") e estando o veículo a 50 km/h ou mais acima da máxima permitida para avia (art. 291, L. 
9.503/1997). 
 
 
 
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Inquisitivo (inquisitório): Desta característica decorrem cinco reflexos: 1. o descabimento do contraditório; 2. a limitação 
da defesa (só cabe a autodefesa, ou seja, a realizada pelo próprio investigado); 3. a imposição do sigilo; 4. a 
impossibilidade de se arguir a suspeição do delegado de polícia (art. 107, CPP) e; 5. a não-intromissão de pessoas 
estranhas durante a feitura dos atos investigativos. 
Autoritariedade: significa que o próprio delegado pode determinar a realização de certos atos, independentemente da 
chancela do juiz, como é o caso de expedir mandados de intimação, requisitar perícias etc. 
Discricionariedade: a autoridade policial é livre para eleger os procedimentos investigatórios que julgar aptos e 
suficientes para o esclarecimento da autoria. 
Instrumentalidade: a finalidade primordial do inquérito policial é a apuração das infrações penais e sua autoria para 
subsidiar a formalização de eventual acusação. 
Filtro: O IP realiza, ainda, uma verdadeira “filtragem” daquilo que, efetivamente, aportará no Poder Judiciário. 
 
 Observações importantes: 
1. O sigilo não alcança o advogado (art. 7º, inciso XIV, da Lei n. 8.906/94), nem o Ministério 
Público (arts. 26, IV, e 41, VIII, da LONMP), tampouco o Judiciário. Qualquer afronta ao direito do 
advogado é enfrentada pelo mandado de segurança. Tem-se admitido o enfrentamento do tema 
pela via do habeas corpus (HC 82.534 do STF e HC 44.165 do STJ). Pela Súmula Vinculante n.º 14, o 
STF proclamou que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos 
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com 
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.” Assim, para 
garantir a autoridade dessa orientação jurisprudencial, cabe reclamação ao STF, nos termos dos arts. 
102, inc. I, “l”, e 103-A, § 3º, da CRFB. 
2. A doutrina majoritária entende que o art. 21 do CPP não foi recepcionado pela Constituição 
Federal, que no seu art. 136, § 3º, IV, veda a incomunicabilidade durante o Estado de Defesa e, por isso, 
não devendo ser admitida num estado de absoluta normalidade. De qualquer forma, essa 
incomunicabilidade jamais se estenderia ao advogado (Lei 8.906/94, art. 7º, III). 
3. Embora não se admita o contraditório no inquérito policial, o indiciado pode exercer a 
autodefesa que, segundo a doutrina, é classificada em positiva ou negativa. 
 
2.5 NOTITIA CRIMINIS 
A notitia criminis (notícia do crime) é forma pela qual a autoridade policial toma 
conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente criminoso. 
 Notitia criminis de cognição direta ou imediata: Ocorre quando a autoridade policial 
toma conhecimento direto do crime por meio de suas atividades rotineiras, de investigação por 
ela mesma procedida, pela imprensa etc. É também chamada de notitia criminis espontânea ou 
inqualificada. 
 Notitia criminis de cognição indireta ou mediata: Ocorre quando a autoridade policial 
toma conhecimento do crime por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do delito, 
como, por exemplo, a delatio criminis, (art. 5º, II, e §§ 1º, 3º e 5º, CPP), a requisição da 
autoridade judiciária ou do Ministério Público (art. 5º, II, CPP) ou do Ministro da Justiça (art. 7º, 
§ 3º, b e art. 141, I, c/c § único do art. 145, todos do Código Penal), e a representação do 
ofendido (art. 5º, § 4º, CPP). Também chamada de notitia criminis provocada ouqualificada. 
 Notitia criminis de cognição coercitiva: Ocorre no caso de prisão em flagrante. 
 
 
 
 
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2.6 INICIATIVA E INSTAURAÇÃO DO I.P 
 Crime de ação penal pública incondicionada: de ofício; mediante requisição da autoridade judiciária ou do 
Ministério Público; a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo (art. 5º I/II, CPP). 
 Crime de ação penal pública condicionada: representação do ofendido (art. 5º, § 4º, CPP) e requisição do 
Ministro da Justiça. 
 Crime de ação penal de iniciativa privada: requerimento do ofendido (art. 5º § 5º, CPP). 
 
Observações importantes: 
1. Parte da doutrina entende ser possível que a autoridade policial negue a instauração do 
inquérito requisitado por membro do Ministério Público ou por Juiz de Direito (ou Federal), desde 
que se trate de exigência manifestamente ilegal. No mesmo sentido, já decidiu o STF (RE 205.473-AL, 
2ª T., rel. Carlos Velloso, 15.12.1998, v.u., RTJ 173/640). 
2. Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o 
Chefe de Polícia (art. 5º, § 2º, CPP). Parte da doutrina entende que cabe ao requerente solicitar ao 
Ministério Público que requisite a instauração do inquérito, situação em que a autoridade policial 
estaria obrigada a atender. 
 
2.7 PEÇAS INAUGURAIS DO I.P 
Portaria: Documento em que o delegado faz a narração sucinta do fato criminoso de que tomou conhecimento, 
referência `data, hora e local, o enquadramento penal provisório e determina as providências preliminares a 
serem adotadas diante do caso. 
Auto de prisão em flagrante – APF: Documento lavrado diante da autuação do preso em flagrante. 
Requisição do Juiz ou do MP: Documento por intermédio do qual o Juiz ou o Promotor de Justiça requisita a 
instauração de inquérito policial. Normalmente é utilizado o ofício para esse propósito. 
Requerimento do ofendido: Documento por intermédio do qual o ofendido, ou seu representante legal, 
requer/autoriza a instauração de inquérito policial em face de crimes de ação penal privada. 
Representação do ofendido ou de seu representante legal: Trata-se da manifestação de vontade do ofendido ou 
de seu representante legal, necessária para a instauração do inquérito policial diante do cometimento de crimes 
de ação penal condicionada à representação. 
 
2.8 DILIGÊNCIAS DO I.P 
Conservação do local do crime: serve para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada 
dos peritos criminais. A L. 5.970/1973 autoriza o desfazimento, em caso de acidente de trânsito, para prestar 
socorro aos feridos e para desobstruir o tráfego. 
Apreensão dos objetos: que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais. 
Coleta de todas as provas: que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias. 
Oitiva do ofendido: para esclarecimento dos fatos e suas circunstâncias. 
Oitiva do indiciado: com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, do CPP, 
devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura. 
 
 
 
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Reconhecimento de pessoas e coisas: para esclarecer dúvidas sobre pessoas ou objetos do crime. 
Acareações: para esclarecer dúvidas sobre divergências encontradas nos depoimentos dos indiciados, vítimas ou 
testemunhas. 
Perícias: sempre que a infração deixar vestígios. 
Identificação criminal: somente nas hipóteses previstas em lei (Lei n.º 12.037/09) em face de determinação 
constitucional (art. 5º, inc. LVIII, CRFB). 
Averiguação da vida pregressa: sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua 
atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que 
contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. 
 
Observação importante: 
A doutrina majoritária entende que o artigo 15 do CPP, que exigia curador para indiciado com 
idade entre 18 e 21 anos, perdeu sua aplicação por analogia à revogação do art. 194 do mesmo 
diploma (pela Lei 10.792/03) e em razão do artigo 5º do novo Código Civil que equiparou a 
maioridade civil à penal. 
 
2.9 VALOR DOS ELEMENTOS COLHIDOS NO I.P. 
Questão assente na doutrina e na jurisprudência é sobre o valor que pode ser atribuído às 
provas produzidas no âmbito do inquérito policial. Com isso, é de se afirmar que o valor probatório 
que a investigação preliminar possui é, de regra, relativo, não podendo, o juiz, fundamentar sua 
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas 
cautelares, não repetíveis e antecipadas, nos termos do art. 155 do CPP, cuja carga probatória é 
diferenciada. 
 
2.10 VÍCIOS DO I.P 
No inquérito policial, por não ser um ato de natureza jurisdicional, mas mero procedimento de 
caráter informativo, os vícios, por acaso existentes, não acarretam nulidades processuais, não 
atingindo, dessa forma, a ação penal. Assim, como bem acentuou o STF (HC 73.271-SP, 1ª Turma, Rel. 
Min. Celso de Mello, DJU, 4.10.1996), eventuais vícios formais concernentes ao inquérito não têm o 
condão de infirmar a validade jurídica do subsequente processo penal condenatório. 
 
2.11 ENCERRAMENTO DO I.P 
a) Relatório 
Concluídas todas as diligências a autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado 
e enviará os autos ao juiz competente. No relatório, o delegado poderá indicar as testemunhas que 
não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. Quando o fato for 
de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos 
autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. 
b) Objetos apreendidos 
Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os 
autos do inquérito. 
 
 
 
 
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c) Prazos para a conclusão do I.P 
 Regra geral (art. 10 do CPP): Indiciado preso: 10 dias improrrogáveis. Indiciado solto: 30 dias prorrogáveis. 
 Crimes contra a economia popular (art. 10, § 1º, da Lei 1.521/51): Indiciado preso ou solto: 10 dias 
improrrogáveis. 
 Drogas (art. 51 da Lei 11.343/06): Indiciado preso: 30 dias. Indiciado solto: 90 dias. Obs. Os prazos podem ser 
duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia 
judiciária. 
 Justiça Militar – IPM (art. 20 do Dec.Lei 1.002/69 – CPPM): Indiciado preso: 20 dias improrrogáveis. Indiciado 
solto: 40 dias, prorrogáveis por mais 20 dias na forma da lei. 
 Justiça Federal (art. 66 da Lei 5.010/66): Indiciado preso: 15 dias, podendo ser prorrogado por mais 15 dias, a 
pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial. Indiciado solto: adota-se a regra geral do indiciado 
solto. 
d) Destinatários do I.P: 
Os destinatários imediatos ou diretos são o Ministério Público (nos crimes de ação penal 
pública) e o ofendido (nos de ação penal privada). O destinatário mediado ou indireto, por seu turno, 
á a autoridade judiciária. 
 
2.12 ARQUIVAMENTO DO I.P 
 Atribuições do MP com o Inquérito Policial: Oferecer a denúncia; requerer/requisitar novas 
diligências (imprescindíveis ao oferecimento da denúncia); requerer o arquivamento do 
inquérito ou remessa ao juízo competente. 
 Autoridade competente ao arquivamento: Somentea autoridade judiciária (Juiz de Direito ou 
Juiz Federal), a requerimento do MP. 
 Juiz não concorda com o pedido de arquivamento do MP: Caso o juiz entenda pela 
propositura da ação penal, deverá, com observância no art. 28 do CPP, remeter o inquérito ao 
Procurador-Geral de Justiça (na esfera federal, às Câmaras de Coordenação e Revisão do 
Ministério Público Federal, art. 62, IV, LC 75/93). 
 Possibilidades do PGJ: oferecer a denúncia; designar outro Promotor de Justiça para oferecê-
la; entender pelo arquivamento, hipótese esta, que vincula o magistrado. 
 Arquivamento implícito ou tácito: Trata-se de criação doutrinária em razão de duas situações 
distintas: 1. A autoridade policial conclui ter havido hipótese de concurso de crimes e o 
Ministério Público deixar de imputar uma das condutas sem justificar (arquivamento implícito 
objetivo). 2. A autoridade policial conclui ter havido hipótese de concurso de agentes e o 
Ministério Público deixar de denunciar a um deles sem justificar (arquivamento implícito 
subjetivo). Não basta, entretanto, a omissão do Ministério Público para que se verifique a 
consumação do arquivamento. É imprescindível que o Juiz também seja omisso. Com efeito, ao 
analisar a denúncia e seu lastro probatório, o Juiz, verificando o lapso do Promotor de Justiça, 
terá duas opções: a) abre vista dos autos ao Promotor para que se manifeste sobre a omissão, 
ou b) invoca o artigo 28 do Código de Processo Penal, remetendo os autos ao Procurador-Geral 
de Justiça. 
 Força (carga) da decisão que determina o arquivamento: A decisão que determina o 
arquivamento faz, de regra, coisa julgada formal. Em se tratando, entretanto, de atipicidade e 
de causa extintiva de punibilidade (ex.: prescrição e decadência) também faz coisa julgada 
material. 
 
 
 
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Observação importante: Não existe arquivamento em ação privada, pois o pedido de 
arquivamento feito pela vítima significa renúncia, acarretando a extinção da punibilidade (art. 107, 
inc. V, do CP). 
 
2.13 INVESTIGAÇÃO POSTERIOR AO ENCERRAMENTO DO I.P 
Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base 
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver 
notícia, de acordo com o art. 18, CPP e Súmula 524 do STF. 
 
 
 
 
 
3.1 CONCEITO 
A ação penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do Direito Penal Objetivo ao caso 
concreto. 
 
 
 
Representação 
 
Ação penal 
 
 
 
Incondicionada 
Peça acusatória 
Autor 
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Pública 
 
 
 
Privada 
 
 
 
Condicionada 
 
Requisição do Min. 
Justiça 
 
Exclusiva 
 
Personalíssima 
 
Subsidiária da 
Pública 
 
Querelante 
 
MP 
 
 
Queixa 
 
Denúncia 
 
 
 
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3.2 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL 
A ação penal encontra respaldo no art. 5º, inc. XXXV, da CRFB, que contempla o princípio da 
inafastabilidade (inderrogabilidade) da jurisdição, o qual estatui que “a lei não excluirá da apreciação 
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. 
 
3.3 CARACTERÍSTICAS 
A ação penal pode ser caracterizada como: a) direito autônomo, pois não se confunde com o 
direito material que se pretende tutelar; b) direito abstrato, uma vez que independe do autor ter ou 
não razão ao final do processo; c) direito instrumental, tendo em vista que serve como meio para se 
alcançar um fim, que é a satisfação da pretensão deduzida; d) direito subjetivo, pois o titular pode 
exigir do Estado-Juiz a prestação jurisdicional; e) direito público, pois a atividade jurisdicional que se 
pretende buscar é de natureza pública, dirige-se contra o Estado e em face do réu. 
 
3.4 NATUREZA JURÍDICA 
Tem prevalecido na doutrina que, não obstante o Código Penal também dispor sobre a 
matéria, a ação penal apresenta natureza processual. 
 
3.5 ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL 
A divisão das espécies de ação penal é mais comumente identificada pelo critério subjetivo, ou 
seja, levando em consideração a qualidade do sujeito que detém a titularidade. Dispõe o art. 100 do 
CP que “a ação é pública, salvo quando a lei expressamente a declare privativa do ofendido”. 
 
3.6 PRINCÍPIOS INFORMADORES DA AÇÃO PENAL 
Ação penal pública Ação penal de iniciativa privada 
Obrigatoriedade: presentes os indícios de 
autoria e de materialidade e ausentes as 
causas extintivas de punibilidade, o 
Representante do MP está obrigado a oferecer 
denúncia. 
Oportunidade (ou conveniência): 
diferentemente do MP, o ofendido tem a 
faculdade de propor, ou não, a ação penal. 
Este princípio justifica os institutos da 
decadência e da renúncia. 
 Indisponibilidade: o Ministério Público 
não pode desistir do curso da ação intentada 
(art. 42 do CPP), tampouco do recurso 
interposto (art. 576 do CPP). 
 Disponibilidade: o querelante pode 
desistir de prosseguir com a ação penal, pelos 
institutos do perdão do ofendido ou da 
perempção. 
Divisibilidade: embora não seja tema pacífico na 
doutrina, tem prevalecido no STF e no STJ a 
aplicação do princípio da divisibilidade na ação 
penal pública. 
 Indivisibilidade: no caso de concurso de 
agentes, a queixa deverá ser oferecida contra 
todos os coautores, não podendo o autor 
escolher contra quem intentará com a ação 
penal, devendo o MP zelar pela indivisibilidade 
(arts. 48, 49 e 51 do CPP). 
Intranscendência: a ação penal só pode ser 
proposta contra a pessoa a quem se imputa a 
prática do delito. 
Idem 
Oficialidade: o titular da ação pública é o MP, 
instituição oficial, pertencente ao Estado. 
Sem correspondente. 
Autoritariedade: o MP, na titularidade da ação 
penal, goza de status de autoridade pública. 
Sem correspondente. 
 
 
 
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Observações importantes: 
1. A obrigatoriedade da ação penal para o MP cede diante das hipóteses de transação penal 
(art. 98, inc. I, da CRFB c/c art. 76 da Lei 9.099/1995) nas infrações de menor potencial ofensivo; 
acordo de leniência, brandura ou doçura (art. 87 da Lei 12.529/2011) nos crimes contra a ordem 
econômica, tipificados na Lei no 8.137/1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática 
de cartel, tais como os tipificados na Lei no 8.666/1993, e os tipificados no art. 288 do Código Penal; 
colaboração premiada (art. 4º, § 4º, Lei 12.850/2013) nos crimes de organização criminosa; termo de 
ajustamento de conduta (Lei 7.347/1985) em crimes ambientais; parcelamento do débito (art. 9º da 
Lei 10.684/2003) nos crimes tributários; e das causas de exclusão da tipicidade - atipificantes 
(princípio da insignificância, adequação social e falta de imputação objetiva). 
2. A transação penal depois de oferecida a denúncia e suspensão condicional do processo 
(arts. 79 e 89 da Lei 9.099/95) constitui exceção ao princípio da indisponibilidade. 
3. Parte da doutrina entende que vige para a ação penal pública o princípio da indivisibilidade 
que rege a ação penal privada que, aliás, tem previsão no art. 48 do CPP. 
4. A doutrina diverge sobre a possibilidade de o MP aditar a queixa para incluir o que foi 
deixado de fora, prevalecendo que lhe cabe alertar o juízo sobre a omissão, que será interpretadacomo renúncia tácita. Esta é a posição do STF (informativo 354). 
 
3.7 TITULARES E PEÇAS INICIAIS 
Ação penal pública Ação penal privada 
Titular 
Ministério Público O próprio ofendido 
Peça exordial 
Denúncia Queixa-crime 
 
3.8 CONDIÇÕES DA AÇÃO 
São requisitos subordinantes do exercício da ação penal. Constituem-se pela: possibilidade 
jurídica do pedido, interesse de agir, legitimidade; e alguns, ainda, consideram a justa causa. 
 Possibilidade jurídica do pedido: A providência jurisdicional requerida ao Poder Judiciário somente se 
apresentará viável caso o ordenamento, em abstrato, expressamente a admitir, ou seja, que o fato narrado na 
denúncia ou queixa esteja previsto na lei penal como crime ou contravenção (fato típico). 
 Interesse de agir: Esta condição da ação é configurada pelo trinômio necessidade, utilidade e 
adequação. A ação só pode ser admitida quando houver indícios de autoria e de materialidade a ensejar sua 
propositura, e desde que não esteja extinta a punibilidade pela prescrição ou qualquer outra causa. 
 Legitimidade para agir: Relaciona-se com as partes que podem ocupar os pólos ativo e passivo da 
relação processual. O Ministério Público, em regra, é o ocupante do pólo ativo quando a ação penal for pública 
(salvo no caso da ação penal privada subsidiária da pública). No que se refere à ação penal privada, a 
legitimidade ativa pertence ao ofendido ou ao seu representante legal. No pólo passivo, de regra o legitimado é 
uma pessoa física maior de 18 anos e, excepcionalmente, nas condutas lesivas ao meio ambiente, a pessoa 
jurídica (art. 225, § 3º, CRFB c/c art. 3º, L. 9.605/1998). 
 
 
 
 
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Observação importante: Parte da doutrina considera a justa causa como uma quarta condição 
da ação, exigindo, assim, a existência de um mínimo de suporte probatório que fundamente a 
acusação. Observe-se, entretanto, que a doutrina majoritária não a reconhece como condição 
autônoma e que o art. 395, inc. III, do CPP, a inclui como causa de rejeição da denúncia ou queixa. 
 
3.9 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 
Podem ser divididos em pressupostos de existência e em pressupostos de validade. 
 
Pressupostos de existência Pressupostos de validade 
Em face deste pressuposto exige-se a verificação de 
uma demanda, de um órgão jurisdicional e de partes 
dotadas com personalidade jurídica. 
Relacionam-se com a regularidade dos atos praticados 
– são compostos por: legitimatio ad processum; Juiz 
não suspeito e competente para o julgamento do 
feito; ausência de litispendência, coisa julgada, 
perempção (entre outros vícios que podem acarretar 
na nulidade do processo). 
 
3.10 AÇÃO PENAL PÚBLICA 
Ação penal pública é aquela que deve ser promovida pelo Ministério Público, nos termos do 
art. 257, inc. I, do CPP. 
Incondicionada Condicionada 
É a regra e proposta independentemente da vontade 
ou interferência de quem quer que seja, bastando que 
concorram as condições da ação e os pressupostos 
processuais. 
Sua propositura depende da manifestação de vontade 
do ofendido (ou de seu representante legal) ou da 
requisição do Ministro da Justiça. 
 
Prazo para oferecimento da ação penal pública 
Como regra geral, o prazo para o oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 
cinco dias, contados da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito 
policial e de quinze dias, se o réu estiver solto ou afiançado, consoante se verifica no art. 46 do CPP. 
Existem, entretanto, prazos especiais para o oferecimento de denúncia: 
 Crime eleitoral (art. 357 da Lei 4.737/65): dez dias 
 Crime contra a economia popular (art. 10, § 2º, da Lei 1.521/51): dois dias 
 Crime de abuso de autoridade (art. 13 da Lei 4.898/65): 48 horas. Atualmente, a 
hipótese é disciplinada pela L. 9.099/1995, o que prejudica o prazo da Lei de Abuso. 
 Drogas (art. 54 da Lei 11.343/06): 10 dias 
 
 Observação importante: O não-oferecimento da denúncia no prazo legal, em se tratando de 
réu preso, ocasiona o constrangimento ilegal, com o consequente relaxamento da prisão (art. 5º, 
LXV, CRFB). O excesso de prazo para o oferecimento da exordial acusatória não acarreta a sua 
invalidação, possibilitando, contudo, que seja oferecida pelo ofendido ou seu representante legal 
queixa subsidiária (art. 5º, LIX, CRFB). 
 
 
 
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3.10.1 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO 
 O que é representação? É uma manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante 
legal, que funciona para a instauração do inquérito policial e para o oferecimento da denúncia. 
 Natureza jurídica da representação: Prevalece na doutrina que é condição de procedibilidade 
da ação penal. 
 Forma de identificar: Pela expressão “somente se procede mediante representação”. 
 Quem pode representar? De regra, o ofendido maior de 18 anos e capaz mentalmente. 
Se o ofendido for menor de 18 anos ou portador de deficiência mental, a representação deverá 
ser exercida pelo seu representante legal. 
Se o ofendido menor ou incapaz não tiver representante legal, o juiz poderá nomear, de ofício ou 
a requerimento do MP, curador especial para decidir sobre a representação. 
A mesma providência é tomada no caso de os interesses da vítima colidirem com os de seu 
representante legal. 
Se o ofendido falece ou é declarado ausente, o direito de representação passará ao CCADI – 
cônjuge (ou companheiro), ascendente, descendente ou irmão. 
No caso de o ofendido ser pessoa jurídica, a representação será exercida pela pessoa indicada no 
respectivo contrato ou estatuto social (art. 37, CPP). 
 Prazo para representar: Regra: seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a saber 
quem foi o autor do crime (arts. 38 do CPP e 103 do CP). 
 A quem se dirige a representação? Pode ser dirigida ao Juiz, ao Ministério Público ou ao 
Delegado de Polícia (art. 39 do CPP). 
 Retratação: De regra, a representação será retratável até o oferecimento da denúncia (arts. 25 
do CPP e 102 do CP). Em se tratando de violência doméstica e familiar contra a mulher, a Lei 
Maria da Penha admite a renúncia (retratação) da representação até o recebimento da denúncia 
(art. 16 da Lei n.º 11.340/06). 
 Retratação da retratação: Prevalece na doutrina de que é possível, desde que no prazo 
decadencial. 
 Renúncia da representação: É possível na hipótese de composição civil dos danos (art. 74, § 
único da Lei 9.099/95) e em caso de violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 16 da Lei 
n.º 11.340/06). 
 
Observações importantes: Se a representação não for exercida no prazo ocorre a decadência, 
causa extintiva de punibilidade (art. 107, IV, do CP). Inclui-se, na contagem, o dia do início e exclui-se 
o dia final (art. 10 do CP). Em se tratando de prazo decadencial, não se interrompe, não se suspende 
e não se prorroga. No crime continuado o prazo deve ser contado individualmente, ou seja, em 
relação a cada crime. 
 
3.10.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO 
MINISTRO DA JUSTIÇA 
A titularidade para o exercício da ação penal continua pertencendo ao Ministério Público, 
contudo o oferecimento da denúncia fica subordinado a um ato político, qual seja, a requisição do 
Ministro da Justiça. 
 
 
 
 
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 Hipóteses de cabimento: Crimes praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do Brasil 
(art. 7º, §3º,“b”, do CP) e crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República 
ou chefe de governo estrangeiro (arts. 141, inc. I c/c 145, § único, do CP). 
 Prazo para oferecimento da requisição: Como o Código de Processo Penal é omisso, a 
doutrina entende que o Ministro da Justiça poderá oferecê-la a qualquer tempo, enquanto não 
estiver extinta a punibilidade do agente. 
 Retratação: Não há consenso na doutrina. Parte a admite por analogia ao art. 25 do CPP e 
porque se trata de ato administrativo que pode ser revisto pela autoridade que o editou. Outra 
parte não admite por falta de previsão legal e porque a requisição deve revestir-se de 
seriedade. 
 Vinculação do MP: Em face da sua independência funcional o MP não está obrigado a 
oferecer a denúncia a partir da requisição do Ministro da Justiça, podendo, até mesmo, 
requerer o arquivamento das peças de informação. 
 
3.11 AÇÃO PENAL PRIVADA 
Ação penal privada é aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere à 
vítima ou a quem legalmente a represente a legitimidade para propositura da ação penal (jus 
persequendi in juditio ou jus accusationis)¸conservando, contudo, a titularidade do direito de punir 
(jus puniendi). Tem por fundamento a cautela contra a streptus judicii (escândalo do processo), ou 
seja, tenta evitar que o processo provoque no ofendido um mal maior que a impunidade do 
criminoso, em decorrência do não-ajuizamento da ação penal. Pode ser subdividida em: 
exclusivamente privada ou propriamente dita; personalíssima; subsidiária da pública. 
 
3.11.1 AÇÃO PRIVADA PERSONALÍSSIMA 
 Titular: Somente o ofendido pode exercer o direito de ação, não havendo possibilidade, diante 
de sua morte, a transferência desse direito aos sucessores. 
 Hipótese de cabimento: A única hipótese é a do crime do artigo 236 do Código Penal. 
 Condição de procedibilidade: O exercício da ação depende do trânsito em julgado da sentença 
que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento (art. 236, § único, CP). 
 Prazo: Seis meses, a contar do trânsito em julgado da sentença anulatória do casamento. 
 
3.11.2 AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA 
 Fundamento constitucional: art. 5º, inc. LIX, da CRFB; 
 Enquadramento legal: arts. 29 do CPP, art. 100, § 3º, do CP, 80 da Lei 8.078/90. 
 Hipótese de cabimento: Inércia do MP, ou seja, quando não oferece a denúncia (promove o 
arquivamento do I.P., ou requisita diligências) no prazo legal. 
 Possibilidades (atribuições) do MP antes do recebimento da queixa: antes de receber a queixa 
o juiz abre vista ao MP que pode aditá-la, repudiá-la ou oferecer denúncia substitutiva (art. 29, 
CPP). 
 
 
 
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 Possibilidades (atribuições) do MP depois do recebimento da queixa (no curso da ação): nesta 
espécie de ação o MP não fica alijado de suas funções constitucionais, podendo exercer todo e 
qualquer ato necessário ao bom andamento do processo como fazer alegações, interpor e 
arrazoar recursos etc. e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação 
como parte principal. 
 Prazo: Seis meses, contados da data em que se escoar o prazo do MP para as providências que 
lhe são cabíveis (art. 38 do CPP). 
 
 
3.11.3 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NA AÇÃO PENAL PRIVADA 
Na ação penal privada, a renúncia do direito de queixa, a perempção, a decadência e o perdão 
do ofendido extinguem o direito de punir do Estado. 
 Decadência 
 Fundamento legal: arts. 38 do CPP, 103 e 107, inc. IV, do CP. 
 Conceito: É a perda do direito de ação pelo decurso do prazo sem o oferecimento da queixa. 
 Prazo: Seis meses, a contar do conhecimento da autoria do crime, ou em se tratando de 
queixa-crime subsidiária à denúncia, do dia em que se esgotar o prazo legal para que o MP 
ofereça a inicial acusatória (artigos 38 do CPP e 103 do CP). 
 
Observação importante: Conta-se o prazo conforme o artigo 10 do CP, computando-se o dia 
do início e excluindo-se o do vencimento. O prazo decadencial é fatal, não se interrompe, suspende 
ou prorroga. 
 
 Perempção 
 Fundamento legal: art. 60 do CPP. 
 Conceito: É a sanção aplicada ao querelante desidioso, consistente na perda do direito de 
prosseguir na ação penal privada, acarretando a extinção da punibilidade do querelado. 
 Oportunidade: Depois de iniciada a ação privada. 
 Hipóteses – art. 60 do CPP: I - quando, iniciada a ação penal, o querelante deixar de 
promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o 
querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no 
processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, 
ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo 
justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o 
pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, 
esta se extinguir sem deixar sucessor. 
 Renúncia 
 Fundamento legal: arts. 49 e 50 do CPP e art. 104 do CP. 
 Conceito: É o instituto por intermédio do qual o ofendido (ou seu representante legal, ou 
sucessores, quando o caso) abdica (abre mão) do direito de ação contra o autor do crime. 
 
 
 
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 Espécies: Expressa: quando constar em declaração expressa assinada pelo ofendido, seu 
representante legal, ou procurador com poderes especiais. Tácita: quando o ofendido deixa 
escoar o prazo decadencial sem oferecer a queixa, ou quando pratica atos incompatíveis com 
seu interesse de processar o autor da infração penal. 
 Oportunidade: Antes de iniciada a ação privada. 
 Aceitação do autor do crime: Independe. É, portanto, ato unilateral. 
 Extensão: A renúncia se estende a todos os autores do crime (princípio da indivisibilidade). 
 Fundamento: A renúncia se justifica pelo princípio da oportunidade. 
 
 Perdão do ofendido 
 Fundamento legal: arts. 51 a 59 do CPP, 105 e 106 do CP. 
 Conceito: É o instituto por intermédio do qual o querelante (autor da ação penal) desiste da 
continuação do processo, perdoando o querelado. 
 Espécies: Expresso, tácito, judicial e extrajudicial. 
 Oportunidade: Depois de iniciada a ação privada. 
 Aceitação do autor do crime: Depende. É, portanto, ato bilateral. 
 Extensão: O perdão do ofendido se estende a todos os autores do crime (princípio da 
indivisibilidade), salvo ao que o recusar. 
 Fundamento: O perdão do ofendido se justifica pelo princípio da disponibilidade. 
 
3.12 DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME 
São as peças iniciais da ação penal, pública e privada. Por meio delas é levado ao órgão 
judiciário o conhecimento da existência de uma infração penal, sendo requerido, através de 
manifestação expressa de vontade, a aplicação da lei penal. A denúncia é a peça acusatória inicial da 
ação penal pública (incondicionada ou condicionada), enquanto que a queixa é a peça inicial da ação 
penal privada (qualquer que seja a sua modalidade). 
 
 Requisitos formais – art. 41 do CPP: exposição do fato criminoso, com todas as suas 
circunstâncias; qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo; 
classificação do crime; e rol das testemunhas (quando necessário). 
 Causas de rejeição – art. 395 do CPP: a peça acusatória será rejeitada quando for 
manifestamente inepta; faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação 
penal; ou faltar justa causa para o exercício da ação penal.a 
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4.1 A OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR 
A prática da infração penal faz surgir para o Estado o poder/dever de apurá-la e de puni-la (jus 
puniendi). Para a vítima surge o direito à indenização pelos danos decorrentes da infração penal. 
 
4.2 RESPONSABILIDADE CIVIL 
O Código Civil determina que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito” (art. 186) e que “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo” (art. 927). 
 
4.3 REFLEXOS PENAIS 
O Código Penal apresenta como um dos efeitos extrapenais automáticos e obrigatórios da 
condenação, “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (art. 91, inc. I). O 
Código de Processo Penal, por seu turno, determina que “O juiz, ao proferir sentença condenatória 
fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos 
sofridos pelo ofendido” (art. 387, inc. IV). 
 
4.4 NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA 
DEFINITIVA E A INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS 
Nos termos do art. 475-N, inc. II, do Código de Processo Civil, a sentença penal condenatória 
transitada em julgado tem força (natureza) de título executivo judicial. A responsabilidade civil é 
independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre 
quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal (art. 935, CC). 
 
4.5 SITUAÇÕES QUE IMPEDEM A INSTAURAÇÃO DA AÇÃO CIVIL 
Em três hipóteses a sentença penal absolutória fará coisa julgada no cível, impossibilitando a 
instauração de ação de indenização: quando restar provada a inexistência do fato (art. 386, inc. I, 
CPP), quando restar provado que o réu não concorreu para a infração penal (art. 386, inc. IV, CPP), e 
quando fundamentada em excludentes de ilicitude (art. 386, inc. VI, CPP): 
a) Sentença absolutória por inexistência do fato ou negativa de autoria: Quando restar 
provada a inexistência do fato ou que o réu não concorreu para a infração penal, a sentença penal 
absolutória faz coisa julgada no cível, impedindo a propositura de ação indenizatória. Tal conclusão 
se depreende da parte final do art. 935 do Código Civil, bem como do art. 66, CPP que determina 
“Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não 
tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato”. 
b) Sentença absolutória por excludentes de ilicitude: O art. 65 do CPP determina que “Faz 
coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de 
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de 
direito”. 
 
 
 
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O art. 188 do Código Civil determina que “Não constituem atos ilícitos os praticados em 
legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido (inc. I) e a deterioração ou 
destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente (inc. II)”. O aludido 
dispositivo esclarece ainda que “No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as 
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável 
para a remoção do perigo (parágrafo único)”. 
A justificativa é que na verificação de alguma das excludentes de ilicitude o fato praticado é 
lícito, afastando-se o dever de indenizar. Assim, em caso de absolvição pela verificação de uma causa 
de justificação (art. 23, CP), com fundamento no art. 386, inc. VI, do CPP, não cabe, de regra, a 
propositura de ação civil indenizatória. 
Observa-se, entretanto, que em três hipóteses, mesmo em caso de absolvição, caberá a 
instauração da ação cível: 
 Estado de necessidade agressivo: Nos termos do art. 24 do Código Penal “considera-se em 
estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua 
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas 
circunstâncias, não era razoável exigir-se”. Quanto ao titular do direito (bem, interesse) sacrificado, o 
estado de necessidade pode ser classificado em defensivo e agressivo. Configura-se estado de 
necessidade defensivo quando o autor do fato necessitado sacrifica o bem do causador da situação 
de perigo. O estado de necessidade agressivo ocorre quando o autor do fato necessitado sacrifica o 
bem de pessoa inocente, ou seja, que não causou a situação de perigo. No último caso, o autor do 
fato necessitado deverá reparar o dano causado ao terceiro inocente, tendo direito de ação 
regressiva contra o causador do perigo (arts. 188, inc. II, 929 e 930 do Código Civil). Assim, é correto 
afirmar que cabe indenização por ato lícito. 
 Legítima defesa com erro na execução (“aberratio ictus”): Ocorre quando para repelir a 
injusta agressão, o agente “erra o alvo”, ou seja, atinge pessoa diversa da pretendida. A hipótese 
retrata erro na execução (“aberratio ictus”) que, nos termos do art. 73 do Código Penal, “Quando, 
por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que 
pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, 
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código.”. Dessa forma, tendo agido ao abrigo da 
excludente da ilicitude, o agente não será responsabilizado penalmente, não ficando isento, 
entretanto, de reparar eventuais danos civis. 
 Descriminantes putativas por erro de tipo: Ocorre quando, por erro plenamente justificado 
pelas circunstâncias, o agente supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não 
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Esta 
hipótese comporta o estado de necessidade putativa, a legítima defesa putativa, o exercício regular 
de direito putativo e o estrito cumprimento do dever legal putativo. Neste caso, cabe ação de 
indenização por parte do ofendido. 
 
4.6 CAUSAS QUE NÃO IMPEDEM A INSTAURAÇÃO DA AÇÃO CIVIL 
O art. 67, CPP determina que não impedirão a propositura da ação civil o despacho de 
arquivamento do inquérito ou das peças de informação (inc. I), a decisão que julgar extinta a 
punibilidade (inc. II) e a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime 
(inc. III). 
 
 
 
 
 
 
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4.7 ALTERNATIVAS DA VÍTIMA 
Para se ver ressarcido, o ofendido dispõe de duas opções: ação de execução da sentença penal 
condenatória (art. 63, CPP) e ação civil ex delicto autônoma, ordinária ou de conhecimento (art. 64, 
CPP), conforme se verá adiante. 
 
4.8 LEGITIMADOS 
Em qualquer caso, a legitimidade ativa será a mesma, havendo variação, entretanto, no que 
diz respeito à legitimidade passiva. 
 Legitimação ativa: a legitimidade para a propositura da ação de execução ex delicto e da 
ação civil de conhecimento é do próprio ofendido, seu representante legal ou herdeiros (art. 63, 
CPP). 
 Vítima pobre: O art. 68 do CPP determina que “Quando o titular do direito à reparação do 
dano for pobre (art. 32, §§ 1º e 2º), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 
64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público. O entendimento doutrinário1 e 
jurisprudencial2 atualmente dominante é nosentido de que o Ministério Público só é legitimado a 
agir “quando, embora existente no Estado, os serviços da Defensoria Pública não se mostram 
suficientes para a efetiva defesa da vítima carente”. 
 Legitimação passiva: A diferença é que, enquanto a ação de execução da sentença 
condenatória (art. 63) só pode ser intentada em desfavor do réu condenado, na ação civil de 
conhecimento, pode figurar no pólo passivo as pessoas elencadas no art. 932 do Código Civil, ou seja, 
os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia (inc. I), o tutor e 
o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições (inc. II), o empregador 
ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes 
competir, ou em razão dele (inc. III), os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos 
onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e 
educandos (inc. IV), bem como os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, 
até a concorrente quantia (inc. V). 
 
4.9 AÇÃO DE EXECUÇÃO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA 
(AÇÃO DE EXECUÇÃO EX DELICTO) 
a) Previsão legal: Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a 
execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou 
seus herdeiros. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo 
valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação 
para a apuração do dano efetivamente sofrido (art. 63, CPP). 
b) Pressuposto: conforme se verifica no dispositivo legal o pressuposto básico para a 
propositura da aludida ação é o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, que se 
constituirá em título executivo judicial (art. 475-N, inc. II, CPC). 
Apuração do valor: O CPP determina que “O juiz, ao proferir sentença condenatória fixará 
valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos 
pelo ofendido” (art. 387, inc. IV). A partir do trânsito em julgado da sentença penal condenatória o 
ofendido pode ingressar, de pronto, com a ação de execução ex delicto no juízo cível. Considerando-
se que nem sempre o valor fixado pelo juízo criminal corresponde ao verdadeiro prejuízo suportado 
pela vítima, nada impede que esta busque a apuração da diferença no juízo cível. Outra não é a 
disposição do art. 63, parágrafo único, CPP que determina que “Transitada em julgado a sentença 
condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do 
art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido”. 
 
1 AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Op. Cit., p. 257. 
2 STJ, AgRg no Ag 509.967/GO, 4ªT., DJ. 20.03.2006. 
 
 
 
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4.10 OBJETO DE INDENIZAÇÃO 
O art. 387, inc. IV, CPP faz referência genérica a “danos” e a “prejuízo” sem explicitar o objeto 
de indenização. A doutrina diverge: uma parte entende que as referidas expressões só refletem os 
danos materiais3, enquanto outra corrente acrescenta, além dos danos patrimoniais, os morais4. 
 
4.11 AÇÃO CIVIL AUTÔNOMA EX DELICTO (AÇÃO ORDINÁRIA DE 
INDENIZAÇÃO) 
a) Previsão legal: Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do 
dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável 
civil (art. 64, caput, CPP). 
b) Possibilidade de suspensão da ação cível: Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá 
suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela (art. 64, parágrafo único, CPP). 
 Razão de ser: Como demonstrado anteriormente, há situações que a decisão do juízo 
criminal faz coisa julgada no juízo cível: quando restar provada a inexistência do fato (art. 386, inc. I, 
CPP), quando restar provado que o réu não concorreu para a infração penal (art. 386, inc. IV, CPP), e 
quando fundamentada em excludentes de ilicitude (art. 386, inc. VI, CPP). 
 Prazo: a doutrina diverge sobre o prazo máximo de suspensão da ação civil. Parte entende 
que é de um ano, nos termos do art. 265, inc. IV, “a”, e § 5º, CPC5. AVENA entende que tal disposição 
não se aplica ao art. 64, parágrafo único, CPP, devendo a ação civil ficar suspensa até que se decida a 
questão criminal6. 
c) Competência: O CPC determina que “Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de 
delito, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato (art. 100, parágrafo único)”. 
Nada impede, entretanto, que seja eleito para a propositura da ação de reparação o foro do 
domicílio do réu (art. 94, caput, CPC). 
 
 
 
 
 
A palavra jurisdição, oriunda do vocábulo jurisdictio, que significa “dizer o 
direito”, caracteriza-se por ser uma atividade desenvolvida pelos órgãos 
jurisdicionais do Estado, com o intuito de solucionar conflitos, aplicando, 
para tanto, o direito objetivo a uma situação litigiosa concreta. 
 
5.1 PRINCÍPIOS 
Princípio da Investidura - A jurisdição só será exercida por quem tenha sido regularmente 
investido na autoridade de juiz. A jurisdição é um monopólio do Estado, o qual a exerce por meio de 
seus órgãos ou agentes que são pessoas físicas: os juízes. 
 
3 FULLER, Paulo Henrique Aranda. JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. MACHADO, Ângela C. Cangiano. Processo Penal. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2010, p. 83. 
4 AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Op. Cit., p. 248 
5 FULLER, Paulo Henrique Aranda. JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. MACHADO, Ângela C. Cangiano. Op. Cit., p. 82. 
6 AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Op. Cit., 2009, p. 256 
 
 
 
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Princípio da Aderência ao Território – A jurisdição é prestada segundo alguns limites 
territoriais previamente estabelecidos pela lei. 
Princípio da Indelegabilidade – O órgão investido na competência jurisdicional não pode 
delegar suas funções para um outro órgão. Cumpre ressaltar que a expedição de carta precatória não 
pode ser considerada como uma delegação, uma vez que incorre, nessa hipótese, a questão da 
observância da prestação jurisdicional nos seus limites territoriais. 
Princípio da Inevitabilidade – Os órgãos jurisdicionais, por serem uma emanação do próprio 
poder estatal soberano, impõem-se sobre as partes independentemente de suas vontades. Existe a 
sujeição delas perante o Estado-Juiz. Não há como evitar que sobre elas e suas esferas de direitos se 
exerça a autoridade estatal. 
Princípio da Inafastabilidade – Garantia de acesso à justiça, com a consequente solução da 
pretensão posta em juízo. Não pode a lei excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou 
ameaça a direito. Não pode, do mesmo modo, o juiz, a pretexto de lacuna ou obscuridade da lei, 
escusar-se de proferir decisão. Princípio interligado com o disposto no art. 5.º, XXXV, da CRFB. 
Princípio do Juiz Natural – Ninguém poderá ser privado do direito de ser julgado por juiz 
independente e imparcial, indicado pelas normas constitucionais e legais. Refere o art. 5.º, LIII, da 
CRFB, que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. O que 
interessa é a anterioridade na definição, por lei, de quem será competente para apreciar 
determinadas matérias, casos. Com isso, extrai-se serem vedados os tribunais de exceção (art. 5.º, 
XXXVII, da CRFB). 
Princípio da Inércia – A função jurisdicional só pode atuarmediante provocação das partes, 
não sendo lícito ao juiz instaurar ações penais de ofício. 
 
 
 
 
 
Competência pode ser definida como a medida e o limite da jurisdição, 
dentro dos quais o órgão judicial pode atuar. Ou seja, delimita o exercício da 
jurisdição para o juiz. 
 
6.1 ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA 
Em relação à competência, levam-se em consideração três aspectos diferentes: a) “ratione 
materiae” – estabelecida em razão da natureza do crime praticado; b) “ratione personae” – de 
acordo com a qualidade das pessoas incriminadas; c) “ratione loci” – de acordo com o local em que 
foi praticado ou consumado o crime, ou o local da residência do seu autor. Dessa forma, estabelece o 
art. 69 do CPP que a competência é determinada em razão: I e II – do lugar da infração, e do 
domicílio ou residência do réu (ratione loci); III – da natureza da infração (ratione materiae); IV – da 
distribuição; V – da conexão ou continência; VI – da prevenção; VII – da prerrogativa de função 
(ratione personae). 
 
 
 
 
 
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6.2 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR DA INFRAÇÃO 
Existem três teorias a respeito do lugar do crime: a) teoria da atividade – lugar do crime é o da 
ação ou omissão, sendo irrelevante o lugar da produção do resultado; b) teoria do resultado – lugar 
do crime é o lugar em que foi produzido o resultado, sendo irrelevante o local da conduta; c) teoria 
da ubiquidade – lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado. Seguindo a regra do art. 
70, caput, do CPP, verifica-se que a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se 
consumar a infração (competência ratione loci), ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for 
praticado o último ato de execução. 
Desse modo, percebe-se que, de maneira geral, foi adotada pela sistemática processual penal 
brasileira, para determinar o foro competente para a ação penal, a teoria do resultado7. O § 1.º do 
art. 70 estipula que, iniciada a execução no território nacional, se a infração se consumar fora dele, a 
competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de 
execução. De modo inverso, o § 2.º, desse mesmo diploma legal, determina que, quando o último 
ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o 
crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. Cumpre ressaltar que 
esses parágrafos do art. 70 do CPP adotam a teoria da ubiquidade, em consonância com o disposto 
no art. 6.º do CP, uma vez que o Brasil tem o interesse em punir o delito cujo início (ação) ou fim 
(resultado) deu-se em seu território. 
Menciona o § 3.º do art. 70, com o objetivo de sanar qualquer dúvida em relação ao foro 
competente para processar o feito, que, quando incerto o limite territorial entre duas ou mais 
jurisdições ou, quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas 
de duas ou mais jurisdições, a competência fimar-se-á pela prevenção. Do mesmo modo, aplicando a 
mesma regra anterior, o art. 71 do CPP elucida que na hipótese de infração continuada ou 
permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência será firmada pela 
prevenção. 
Com isso, importante a observância de algumas regras específicas relacionadas ao tema: a) 
Súmula 521 do STF: “o foro competente para o processo e o julgamento dos crimes de estelionato, 
sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a 
recusa do pagamento pelo sacado”; b) no crime de apropriação indébita, será competente o juízo do 
local onde se operou a inversão do animus da posse; c) Súmula 48 do STJ: “compete ao juízo do local 
da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante 
falsificação de cheque”; d) nos crimes qualificados pelo resultado tem-se entendido que o foro 
competente é o da ação ou omissão8; e) Súmula 151 do STJ: “a competência para o processo e 
julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do 
lugar da apreensão dos bens”. 
 
6.3 COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU 
A competência será fixada pelo domicílio ou residência do réu quando não for conhecido o 
lugar da infração (art. 72 do CPP). É também denominada de competência supletiva ou subsidiária. 
Nesse propósito, refere ainda a lei que, se o réu tiver mais de uma residência, a competência será 
firmada pela prevenção. Contudo, se não possuir nenhuma residência ou for ignorado o seu 
paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. Tratando-se de ação 
 
7 Cumpre ressaltar que esse dispositivo do CPP não conflita com os arts. 4.º e 6.º, ambos do CP. O primeiro, refere-se ao tempo do crime 
(teoria da atividade) que traz como consequência a fixação de outros pontos relevantes, que não a competência, tais como a 
imputabilidade penal do agente e a incidência de qualificadoras ou agravantes, por exemplo: o segundo artigo, por sua vez, que emprega a 
teoria da ubiquidade, refere-se à aplicação da norma penal no espaço, quando o crime atingir mais de uma nação. 
8 Ver a doutrina de Tourinho Filho a respeito do tema. Manual de Processo Penal. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 260. Decisão recente 
do STJ no HC 22.295/MS publicado em 17-12-2007, , entendeu que no caso de latrocínio seria o local da morte, evento mais grave. 
 
 
 
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penal privada exclusiva excepciona a lei, facultando ao querelante o seu ajuizamento perante o foro 
do domicílio ou residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração (art. 73 do CPP). 
 
6.4 COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO 
Após a determinação do foro competente para o processo e julgamento da ação penal, deve-
se estabelecer qual a Justiça competente em razão da natureza da infração. Assim, pode ser tanto 
especial – Justiça Militar (arts. 122 a 124 da CRFB) e Justiça Eleitoral (arts. 118 a 121 da CRFB) – como 
comum – Justiça Federal (arts. 106 a 110 da CRFB) e Justiça Estadual– competência residual. Vale 
atentar, ainda, para a competência política do Senado Federal – atividade jurisdicional atípica – que 
se caracteriza por processar e julgar o Presidente da República, o Vice, o Procurador-Geral da 
República, os Ministros do STF e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade, e os 
Ministros de Estado nestes mesmos crimes desde que conexos aos do presidente ou do vice (art. 52, 
I e II, da CRFB). 
Com isso, cumpre sublinhar que, de acordo com o CPP, art. 74, a competência pela natureza da 
infração será regulada pelas leis de organização judiciária (federal ou estadual), salvo a competência 
privativa do Tribunal do Júri, determinada pela CRFB. De acordo com o art. 5.º, XXXVIII, d, da Magna 
Carta, cabe a este Tribunal (tanto na esfera estadual quanto na esfera federal) julgar os delitos 
dolosos contra a vida. Cumpre salientar que tanto o homicídio culposo quanto o latrocínio não serão 
julgados perante o júri 
Regra de importante análise é a insculpida no § 3.º do art. 74 do CPP, no sentido de que se o 
Juiz da pronúncia (1.ª fase do procedimento do júri) desclassificar a infração para outra atribuída à 
competência de juiz singular, a este remeterá o feito. Agora, se a desclassificação foi feita pelo 
próprio Tribunal do Júri (2.ª fase do procedimento do júri), em plenário, caberá ao seu presidente 
proferir a decisão, regra geral. 
Sobre essa matéria, importante o destaque de alguns pontos: a) os crimesdolosos contra a 
vida praticados por militares dos estados contra civil são de competência da justiça do júri (art. 125 § 
4º da CRFB ); b) compete à justiça militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda 
que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa – Súmula 78 do STJ; c) Súmula 172 do 
STJ – “compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda 
que praticado em serviço”; d) compete à justiça comum estadual processar e julgar civil acusado de 
prática de crime contra instituições militares estaduais – Súmula 53 do STJ; e) compete à justiça 
federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando 
relacionados com o exercício da função – Súmula 147 do STJ. Tratando-se de crime doloso contra a 
vida, o julgamento competirá ao Tribunal do Júri de âmbito federal; f) compete à justiça comum 
estadual processar e julgar crime em que indígena figura como autor ou vítima – Súmula 140 do STJ. 
 
6.5 COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO E PREVENÇÃO 
Quando na mesma circunscrição judiciária houver mais de um juiz igualmente competente, 
esta se dará pela distribuição (art. 75 do CPP). A distribuição, na verdade, consiste em processo 
aleatório de escolha por meio de sorteio. De outra banda, toda vez que concorrendo dois ou mais 
juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros 
na prática de algum ato do processo (ato decisório) ou de medida a este relativa, ainda que anterior 
ao oferecimento da denúncia ou da queixa, a competência será fixada pelo critério da prevenção 
(art. 83 do CPP). Assim, prevenção pode ser entendida como uma prefixação da competência pelo 
juiz, em razão de ter determinado alguma medida ou praticado algum ato necessário ao processo ou 
inquérito antes de qualquer outro igualmente competente (ato decisório). Como já referido, a 
prevenção firma a competência do crime continuado ou permanente, ainda, quando praticados em 
território de duas ou mais jurisdições, ou incerto o limite territorial 
 
 
 
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6.6 COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA 
Conexão pode ser entendida como o nexo, a dependência recíproca que os fatos guardam 
entre si. Existem diferentes espécies de competência por conexão, as quais podem ser divididas em: 
Intersubjetivas – Apresenta-se sob três modalidades: a) conexão intersubjetiva por 
simultaneidade (art. 76, I, 1.ª parte, do CPP) – ocorre quando duas ou mais infrações forem 
praticadas ao mesmo tempo por várias pessoas em concurso. Exemplo: torcedores que depredam o 
estádio de futebol, sem ajuste prévio; b) conexão intersubjetiva por concurso (art. 76, I, 2.ª parte, do 
CPP) – ocorre quando duas ou mais infrações forem praticadas por várias pessoas em concurso, 
embora diverso o tempo e o lugar. Exemplo: quadrilha que trafica entorpecentes em vários pontos 
da cidade, com ajuste prévio; c) conexão intersubjetiva por reciprocidade (art. 76, I, última parte, do 
CPP) – ocorre quando duas ou mais infrações forem praticadas por duas ou mais pessoas, umas 
contra as outras. Exemplo: torcidas organizadas de times rivais com identificação dos agressores e 
condutas. 
Objetiva, lógica ou material – (art. 76, II, do CPP): refere-se ao vínculo em relação à motivação 
do crime, podendo ser: a) teleológica – quando uma infração tiver sido praticada para facilitar a 
execução de outra; b) consequencial – quando uma infração tiver sido praticada para ocultar, 
garantir vantagem ou impunidade de outra; c) instrumental ou probatória (art. 76, III, do CPP) – 
quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova 
de outra infração. 
Haverá continência, por sua vez, quando uma causa, situação jurídica, estiver contida na outra 
não sendo possível a separação. Pode ser de duas espécies: a) por cumulação subjetiva (art. 77, I, do 
CPP) – ocorre quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração. É a hipótese do 
concurso de agentes, contida no art. 29 do CP; b) por cumulação objetiva – ocorre nos casos de 
infração cometida em concurso formal (art. 70 do CP), aberratio ictus (art. 73 do CP) e aberratio 
delicti (art. 74 do CP). 
Cumpre ressaltar que a conexão e a continência não são consideradas como critérios de 
fixação da competência, mas sim da sua prorrogação, maioria da doutrina. Assim, uma vez 
reconhecidas, trazem como efeitos: a reunião das ações penais em um mesmo processo, bem como 
a prorrogação da competência. Imperiosa, desse modo, é a análise das regras contidas no art. 78 do 
CPP que são utilizadas para determinar qual o juízo prevalente na hipótese de reunião dos processos 
por conexão ou continência: 
I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, 
prevalecerá a competência do júri; II – no concurso de jurisdições da mesma categoria: a) 
preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do 
lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual 
gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; III – no concurso de 
jurisdições de diversas categorias predominará a de maior graduação; IV – no concurso entre a 
jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. 
Há casos, porém, que essa reunião dos processos não poderá ocorrer, operando-se a 
separação obrigatória: a) no concurso entre a jurisdição comum e a militar; b) concurso entre a 
jurisdição comum e a do juízo de menores; c) cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, 
em relação a algum co-réu, sobrevier doença mental após o fato criminoso (caso previsto no art. 152 
do CPP), conforme estabelece o art. 79 do CPP 
 O art. 80 do CPP, por sua vez, expõe que será facultativa a separação dos processos nas 
seguintes situações: a) quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou 
de lugar diferentes; b) quando houver grande quantidade de réus; c) para evitar o prolongamento da 
 
 
 
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 
 
 
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 DIREITO CONSTITUCIONA 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
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prisão provisória de qualquer deles; d) quando houver qualquer outro motivo relevante. Já o art. 81 
do CPP fixa a regra da chamada perpetuatio jurisdicionis, nos seguintes termos: 
[...] verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da 
sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que 
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente 
em relação aos demais processos. (grifo nosso) 
 
6.7 COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 
Conforme dispõe o art. 84 do CPP, a competência pela prerrogativa de função pertence ao STF, 
ao STJ, aos TRFs e ao Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas 
que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. Assim, distribui-se a 
competência ratione personae da seguinte forma: a) STF – compete processar e julgar originalmente, 
nas infrações penais comuns, seus próprios Ministros, o Presidente da República, o Vice, os membros 
do Congresso Nacional e o Procurador-Geral da República. Nas infrações penais comuns e nos crimes 
de responsabilidade, tem competência para processar e julgar os Ministros de Estado, os 
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica – salvo se o crime de responsabilidade for 
conexo ao do presidente ou vice, caso em que a competência será do Senado – os membros dos 
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática

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