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Caro aluno. Cara aluna. Bem vindo e bem vinda à disciplina Psicologia Jurídica on line. A disciplina tem como principal assunto a subjetividade (campo da psicologia) e a normatividade (campo do direito). Estudando Psicologia Jurídica, você, futuro profissional do direito, ou seja, advogado, promotor ou juiz, será capacitado para desempenhar a função de interlocutor nos conflitos oriundos das relações humanas na Justiça (Justiça Penal e Cível e da Infância e Juventude), no sistema prisional (prisões, hospital de custódia, acompanhamento aos egressos), e nos serviços e programas de atendimento à criança, ao adolescente e à família (conselhos de direitos da criança e do adolescente, conselhos tutelares, abrigos temporários, famílias de apoio). Nosso objetivo é que você goste da disciplina e que você aprenda bastante. Será você quem administrará seu próprio tempo. Nossa sugestão é que você dedique ao menos duas horas por semana para esta disciplina, estudando os textos sugeridos e realizando os exercícios de auto-avaliação. Uma boa forma de fazer isso é planejar o que estudar, semana a semana. Para facilitar seu trabalho, apresentamos na tabela abaixo, os assuntos que deverão ser estudados e, para cada assunto, a leitura fundamental exigida e a leitura complementar sugerida. No mínimo você deverá buscar entender bem o conteúdo da leitura fundamental. Essa compreensão será maior, se você acompanhar, também, a leitura complementar. Você mesmo perceberá isso, ao longo dos estudos. a – Conteúdo (assuntos) e leituras sugeridas Módulos Leitura fundamental Leitura complementar O sujeito de direito e o aparato psíquico: lei, comportamento, história e inconsciente BOCK, A.M.B., e.a. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. Cap. 4, Cap. 5 FREUD, S. Totem e Tabu. (1912-13). Obras completas. Vol. XIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006. (Cap. IV) Família e cultura: sexualidade e Complexo de Édipo BOCK, A.M.B., e.a. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. Cap 13 ROUDINESCO, E. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Cap. 7 e Cap. 8. Freud, o ego, o id e o superego: a tradição da BOCK, A.M.B. e.a. Psicologias: uma FREUD, S. Novas conferências introdutórias UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:10 O sujeito de direito e o aparato psíquico: lei, comportamento história e inconsciente Lei, cultura e subjetividade Quando refletimos sobre o que nos faz humanos e sobre a importância do direito para isso, podemos constatar que o ser humano é imerso na cultura. Não somos simples animais, somos, como já dizia Aristóteles, animais sociais. Vivemos em sociedade e somos, portanto, obrigados a atender a suas normas. Sem exagero podemos dizer que as normas nos fazem humanos. Mas, que normas são esses? Ora, normas não são necessariamente leis. Existem os costumes, existe a moral e existem outras normas que nos obrigam a guardar os limites eu a cultura humana nos impõe. Assim, o ser humano, desde que nasce, deve apreender a falar. Toda cultura se expressa pela fala e pelo fato de que a criança, desde que nasce, é falada e deve apreender a decifrar as palavras que lhe são dirigidas. Não só isso. A criança vai apreender, aos poucos, a falar ao invés de agir. Mais ainda, o fato de sermos como humanos seres da fala, nos confere uma identidade, no sentido jurídico e psíquico. Ter um nome é fundamental para uma criança. É um direito tão elementar que nas mais diversas culturas há um rito para se dar um nome ao ser humano que acaba de nascer. O nome identifica a família à qual pertence e, numa sociedade patriarcal identifica o pertencimento ao pai. “O nome de um homem,” diz Sigmund Freud em sua obra Totem e Tabu, “é o componente principal de sua personalidade, talvez mesmo uma parte de sua alma.”[1] Ser humano significa receber os benesses da cultura, mas também seus limites. Como juristas estudamos o conjunto de normas e princípios que formas os limites de nosso ser como humanos. A questão como a cultura nos influencia na nossa maneira de pensar, sentir, agir e como, mais ainda, contribui para a constituição e o funcionamento de nosso aparato psíquico, é abordada pelas diversas teorias no campo do saber que constitui a psicologia. Apresentamos, no que segue, três linhas teóricas a respeito da psique humana que são bastante difundidas no Brasil, o seja: o behaviorismo (Burrhus Frederic Skinner), a psicologia sócio-histórica (Lev Vygotsky) e a psicanálise (Sigmund Freud). Burrhus Frederic Skinner e o comportamento como ponto de partida do estudo da psique: behaviorismo O estudo do comportamento (do inglês behavior) é o cerne de uma corrente na psicologia que estuda a psique humana baseando-se num método científico experimental. A intensão de John B Watson, fundador do behaviorismo, era dar à psicologia um estatuto de objetividade, separando-a da filosofia. Objeto da psicologia é, portanto, o comportamento “entendido como interação entre indivíduo e ambiente”.[2] O cientista mais importante dessa escola da psicologia é Burrhus Frederic Skinner, conhecido suas experiências sobre as possibilidades de modificação do comportamento. O behaviorismo distingue o comportamento basicamente entre comportamento respondente e comportamento operante. Quem corta uma cebola e, consequentemente, chora, recebeu um estímulo que provocou um reflexo. Chorar cortando cebola é um comportamento não apreendido, reflexo ou respondente . Diferentemente, o comportamento operante provoca efeitos sobre o mundo em redor. Ele permite que o ambiente se modifique. O comportamento operante visa o aprendizado, sobre tudo pela satisfação. Embora as penas também modifiquem o comportamento, consideradas contraproducentes são pouco preconizadas. Há, para os behavioristas, portanto, a possibilidade de uma modificação do comportamento pela modificação cognitiva. As terapias cognitivo-comportamentais identificam e corrigem UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:11 Módulo 2_Família e cultura: sexualidade e Complexo de Édipo Para o antropólogo Claude Levi-Strauss, a família é constitutiva para a sociedade humana. E, tendo um núcleo, a família permite uma rede de laços sociais assentados em trocas materiais e de mulheres e, a partir dessa mudança, vem a sobrevivência do ser humano como ser cultural. Daí deriva a importância social da proibição de incesto, pois permite o estabelecimento dos laços socais, para além do grupo familiar baseada em diferenças sexuais. Assim, a proibição do incesto aparece como uma espécie de norma-mãe constitutiva para a convivência humana, garantida não somente pela força da lei, como também pela educação que os pais e as pessoas que se colocam no lugar dos pais dispensam aos filhos. A educação contribui, assim, segundo Sigmund Freud, para a formação do que chama de “Super Ego”, via identificação. A família burguesa constitui o contexto histórico da psicanálise. Para Sigmund Freud o neurótico é personagem de um verdadeiro romance familiar que, não por coincidência, guarda uma semelhança com a tragédia Édipo Rei, escrita pelo dramaturgo grego Sófocles em torno de 427 a.C. Édipo, o filho que, sem saber, mata o pai, torna-se marido da mãe e rei de Thebas, infringindo com seu ato incestuoso a lei que garante a estrutura social, biológica, política e familiar daquela sociedade,embaralhando a ordem e descobrindo a verdade. Por esse motivo sente uma culpa inconsciente que vai si tornar verdadeira sina da humanidade. O desejo pela mãe e o desejo da morte do pai geram no sujeito uma culpa tão insuportável que deve ser recalcada. Responsável pelo recalque do complexo de Édipo, cuja teoria perpassa a obra de Freud, é o Super-Ego. Como o filho, diz Freud, não pode tomar o lugar do pai, mas, por outro lado deve identificar-se com ele, resolve esse conflito interno, mediante a criação de uma instância paterna no inconsciente, o super-ego. Na teoria psicanalítica de Sigmund Freud, o pai é, portanto, uma figura central inscrita no inconsciente. Ele representa a cultura que, por sua vez, só é possível se há a lei. Assim, enquanto Édipo vive o drama do assassinato do pai e adquire a consequente culpa por tê-lo matado como tragédia individual, os filhos assassinos do pai da horda – em Totem e Tabu – constroem a parir do ato assassino a cultura que tem , por assim dizer, como espinha dorsal a lei. O assassinato do pai, possuidor de todas as mulheres, gera duas normas fundamentais: a proibição de matar o totem, o animal que é simbolicamente colocado no lugar do pai, e a proibição do incesto, a abstinência em relação a todas as mulheres do mesmo clan de irmãos. Cientes do perigo que corre qualquer um quando se coloca no lugar do pai, os irmãos fazem um pacto: criam laços sociais a partir da lei que manda “ Não matarás”.. Em outras palavras, não há cultura sem essa renúncia convencionada pela sociedade dos “irmãos”. Não há sociedade sem o direito como uma das formas de regulação da renúncia civilizada, como escreve Freud na obra O mal estar na civilização. A renúncia à satisfação das pulsões, exigida pela convivência em sociedade, tem um preço alto para o indivíduo. Gera a neurose que uns conseguem sublimar na cultura, criando ciência, arte, idéias, enquanto que outros, não. A repressão e o recalque que a cultura exige como preço da convivência podem ser a causa de agressões, de uma inimizade latente na sociedade. UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:11 Freud, o Ego, o Id e o Superego: a tradição da moral e da Lei Para os estudiosos do direito talvez a parte mais interessante da psicanálise seja a metapsicologia. Sigmund Freud percebia , principalmente depois da Primeira Guerra Mundial, que havia necessidade de refinar a distinção entre consciência e inconsciente e criar o que se convenciona chamar de Segunda Tópica. Freud passava a atender pessoas traumatizadas pelas cenas de violência presenciadas na Primeira Guerra Mundial e se questionavas porque os seres humanos, que aparentemente deveriam buscar prazer, se envolvem em guerras. Chegou à conclusão de que o ser humano obedecia inconscientemente a duas pulsões: a pulsão de vida e de morte. Freud chama a pulsão de vida ( ligada à sexualidade e a reprodução) de Eros, a de morte (ligada à agressividade e destruição) de Tânatos . Com procura repetir experiências prazerosas, o ser humano busca também experiências desprazerosas , no limite a agressividade e morte, numa tentativa de resolver um conflito inconsciente. As nossas pulsões são forças anárquicas e buscam a realização. Atuam no que Freud chama de “Id” (nem feminino, nem masculino, como “it” em inglês), algo sobre o qual não temos controle. Dizemos muitas vezes, quando agimos sem pensar: “foi mais forte que eu”. Daí a necessidade da lei de manter as pulsões sob controle. Para que haja a convivência numa sociedade civilizada, a imposição da lei, a castração, procura, portanto, não somente regular a sexualidade como também impedir que a agressividade se manifeste. Podemos chamar o Ego, o eu, grosso modo, com a consciência. Pelo Ego estamos ligados à realidade, o mundo, no qual vivemos cujas limitações somos obrigados a aceitar. No entanto, Ego não é suficiente para segurar as pulsões. O que mantém as pulsões sob controle é para Freud o que chama de Superego que se “localiza” entre o Ego e o Id. Para quem estuda a lei, o superego é especialmente interessante, porque o Superego representa a lei no inconsciente. Como para Freud a lei é instaurada pelo pai, o Superego é a instância paterna no inconsciente. Não se trata do pai, no sentido natural, mas no sentido cultural, simbólico. Pai, padre, juiz, patrão e outras figuras paterna são representantes de uma cultura orientada na figura do pai. Obedecer ao Superego evita a frustração de ser chamado à ordem o tempo todo. Cabe ainda dizer que “a lei” no sentido freudiano, não é a lei no sentido técnico jurídico. O que chama de lei são as normas da civilização que podem ser encontradas também na moral. Obedecer a lei é importante para manter a violência sob controle. Mas tem outro lado: a lei delimita nossa sexualidade. Como vimos na abordagem do Complexo de Édipo, há a interdição da mãe ou do pai. Além disso, existe uma moral sexual que, dependendo da sociedade na qual vivemos nos impõe limites à maneira como vivemos nossa sexualidade. Cabe ainda dizer que Freud diz que a tradição da lei ocorre via Superego de geração para geração. É uma herança cultural subjetiva que a cada geração é questionada e modificada, pois cada geração tem sua chance de se reposicionar diante da lei, modificando-a, criando uma cultura mais rica ... ou mais agressiva. Lidar com as pulsões, a realidade, a consciência e o Superego gera no ser humano sentimentos confusos. Essa confusão se expressa nas nossas doenças psíquicas. Freud chega a dizer que, o ser humano “é um animal doente”. Questão dissertativa: 1. O superego é a instância da lei do pai no inconsciente. Como ele se constitui ao longo da primeira infância? UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:11 Neurose, psicose, perversão: psicopatologia e normalidade Cabe, de início fazer algumas reflexões sobre a questão da doença mental. A legislação brasileira usa o termo “doença mental”, por exemplo, no art. 26 do Código Penal, para estabelecer a inimputabilidade penal. Podemos deduzir do uso do termo “doença mental” que a legislação acompanha a visão da medicina e de algumas teorias do campo do saber da psicologia que diferenciam a doença mental da normalidade. Isso faz sentido, pois, o direito tradicionalmente trata da norma. Dependendo da abordagem que se adota a respeito da psique pode se dizer que a doença mental é uma “desorganização do mundo interior”.[1] Essa é a posição da medicina que elabora a distinção, tal como o direito o faz, entre saúde e doença mental. Há verdadeiros códigos que estabelecem para os médicos os protocolos para encontrarem os diagnósticos e as terapêuticas. No entanto, a diferenciação entre doença e saúde mental encontra seus críticos. Dois grandes críticos da psiquiatria merecem ser citados nesse contexto: Michel Foucault e Franco Basaglia. Resumidamente, o que criticam é que “o saber científico e suas técnicas surgem, ..., comprometidos com os grupos que querem manter determinada ordem social”.[2] Essas e outras razão levaram Franco Basaglia a criar a Antipsiquiatria, um movimento que no Brasil está sendo fundamental na transformação dos “manicômios” em clínicas especializadas, nas quais se procura respeitar a cidadania do doente. Do ponto de vista da psicanálise, a diferença entre “doente” e “normal” é apenas uma questão da maneira como cada um de nós lida com suas angústias. Para Sigmund Freud, o ser humano é um “animal doente”, porque a civilização exige sacrifícios que causam conflitos inconscientes. Freudcontribuiu para o estudo das doenças mentais, dividindo seu imenso campo de estudo m três estruturas psíquicas: neurose, psicose e perversão. Quem pesquisa a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), as encontrará descritas dentre inúmeros outros quadros de doenças. Para Freud, as estruturas psíquicas manifestam o jeito como cada um se posiciona diante da angústia causada pela castração que a civilização impõe. As estruturas psíquicas são, em outras palavras, “as diferentes maneiras de posicionar-se diante da lei do desejo”.[3] Neurose Quem sofre de uma neurose obsessiva tenta resolver os conflitos internos entre a lei e o desejo, negando o desejo, tentando obedecer cegamente à lei. São pessoas “certinhas” que sofrem, por exemplo, de timidez, porque não se permitem manifestar o que desejam. Defendem-se do mundo que os angustia por suas surpresas e por suas contingências, permanecendo nos limites das normas sociais, do senso comum. O conflito entre a obediência à lei e o desejo pode levar o sujeito, por exemplo, a apresentar sintomas comportamentais repetitivos ou a viver paralisado por dúvidas e pelo medo de agir. A neurose histérica pressupõe uma posição diante da lei do desejo que questiona sua legitimidade. Inconscientemente, a pessoa que sofre de histeria quer ser chamado à ordem. Acredita que um dia vai realizar seu desejo dentro da civilização que, por hora, lhe nega essa realização. Característica para a neurose histérica é a insatisfação generalizada, rebeldia, a falta de concentração. Muitas vezes, a insatisfação converte-se em dores no corpo sem fundo orgânico. A neurose de angústia, cujo traço principal é a fobia causada por objetos, tem sua origem no mesmo fato que é causa das histerias histérica e obsessiva, ou seja, o desejo sexual infantil recalcado. No fundo, o que causa a neurose de angústia, é medo de castração, medo da sexualidade que pode, frequentemente, manifestar-se na adolescência. Quando uma pessoa sofre de uma psicose maníaco-depressiva, na medicina chamada de transtorno bipolar, ela vive fases alternadas de aparente “normalidade”, de euforia e de melancolia. As fases de euforia e de melancolia são desencadeadas pelo que na psiquiatria UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:12 A família vista pela psicologia jurídica: do pátrio poder aos laços amorosos contemporâneos A família que acabamos de conhecer nos módulos anteriores, sobre tudo pela teoria psicanalítica de Sigmund Freud que elabora o Complexo de Édipo como sendo a chave de compreensão da psique e que desenvolve uma topologia, de acordo com a qual encontramos a lei como uma das instâncias do inconsciente (o superego), tem seu correlato no antigo Código Civil brasileiro de 1916. Nele, o pai aparece como a figura dominante da família, a ele cabe o pátrio poder. Contrário à concepção que hoje temos da família, a família tradicional regrada pelo antigo código civil é uma família nuclear. Impensável uma família que não seja composta por pai, mãe e filhos! Impensável, essa família não ser constituída pelo casamento. Na lógica patriarcal da antiga legislação civil, o pátrio poder constitui na família uma hierarquia a partir da figura do pai. O homem é o chefe da sociedade conjugal. A mulher casada é relativamente incapaz. A separação do casal não possível e, quando ocorre investiga-se a culpa pelo fracasso do casamento. Além disso, desconfia-se da capacidade das mulheres criarem os filhos homens. A guarda do filho varão, a partir dos 6 anos de idade, fica com o pai. Estamos, portanto, diante de um código moral assimétrico sexual, que , durante o século XX vai perdendo suas feições. Depois das duas grandes guerras, em toda parte do mundo, mulheres assumem postos de comando. No lugar dos homens (não podemos esquecer que muito morreram nas guerras), o Estado faz a função do provedor, função essa que se expressa no direito social. A emancipação feminina a invenção de meios anticoncepcionais mais seguros, as mulheres tornam-se mais independentes e encaram com ais facilidade uma eventual separação do casamento. O divórcio implica um afastamento pais e filhos. Novas formas de convívio familiar dão lugar à família nuclear e, consequentemente, Complexo de Édipo deixou de ser a chave de compreensão do inconsciente. A Constituição Federal de 1988 dá conta dessas mudanças, quando desenha nos artigos 226 e seguintes a nova família que está sob a proteção da Lei. A família contemporânea pode ser biparental, constituída por casamento ou união estável, para muitos, heterossexual ou homossexual, uma vez que o Supremo Tribunal Federal, em 2011, reconheceu a união estável homossexual. Por Resolução do Conselho Nacional de Justiça, os cartórios do Brasil não podem mais recusar a celebraçlão de casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo. Finalmente, a Constituição reconhece também a família monoparental, aquela constituída por um dos pais e seu(s) filho(s). Com isso, a Lei brasileira permite a constituição e reconstituição livre da família, não mais obrigada a seguir um único modelo previsto em lei. Diante disso, o pátrio poder cede também a uma forma mais igualitária de gerir a família: o poder familiar. O Código Civil de 2002, que entrou em vigor em 2003, pressupõe a igualdade dos cônjuges. Prevê a dissolução da sociedade conjugal no caso da impossibilidade de comunhão de vida. Além disso, prevê, apesar da separação do casal a manutenção do vínculo de pais e filhos pela guarda compartilhada. Esse vínculo é caro ao UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:12 Como já foi visto, as teorias predominantes na psicologia concordam em um ponto: o ser humano é um ser cultural. Por isso, a lei e a cultura são formadores do sujeito. Consequentemente, a infância deve ser vista no contexto cultural. A infância na lei: menor como objeto de direito Se a infância é um construção cultural, ser criança é diferente de uma época para outra, como a constituição e a estrutura da família também varia com o tempo, como vimos. Só há uma infância no direito a partir da modernidade e da industrialização. Antes disso, as crianças eram tratadas como pequenos adultos. Marca dessa descoberta de infância é o “Health and Moral of Aprentices Act” , de 1802, que proíbe o trabalho infantil e preconiza o aprendizado. A visão da família do início do século XX, no Brasil, com seu modelo patriarcal e moralizante, forma ideia sobre a infância, quando estabelece a diferença entre a “normalidade” e a “anormalidade” da situação irregular no Código de Menores (de 1927 e de 1979) No Código de Menores, a criança em situação irregular é tida como um objeto de direito . Segundo esse código, cabe ao Estado fazer com que os menores e as famílias que não obedecem ao padrão da família estabelecida pelo Código Civil da época se enquadrem nesse padrão higienista de uma família normal. A criança cidadão na Convenção dos Direitos da Criança Hoje, parece óbvio o fato de a criança ser uma cidadã. Não há “menores” a serem tutelados e administrados por “maiores”, mas seres humanos que nascem cidadãos. A cidadania é, por assim dizer, o presente de boas vindas que a sociedade prepara para os recém- nascidos. Não resta dúvida para determinar o início da infância no nascimento. A questão é como a lei define a infância e a adolescência, já que, hoje, não há clareza sobre o assunto, já que a adolescência é “esticada” até a idade madura. Pela Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização da NaçõesUnidas criança é “todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que em conformidade coma lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes”. Em seu preâmbulo, a Convenção sobre os Direitos da Criança sublinha a importância da dignidade e dos direitos iguais e inalienáveis de “todos os membros da família humana” . Com isso, já deixa entender que a criança cresce numa família “como grupo fundamental da sociedade e ambiente natural para o crescimento e o bem estar de todos os seus membros, e em particular das crianças”. Cabe aos pais, aos demais membros da família ampliada ou à comunidade a responsabilidade de “proporcionar à criança instrução e orientação adequadas e acordes com a evolução de sua capacidade, no exercício dos direitos reconhecidos” (art. 5º). A família e, no sentido mais amplo, a comunidade, têm, portanto, uma dupla função: a de inserir a criança na cultura e a de defender seus direitos, uma vez que a criança está limitada na capacidade do exercício de seus direitos. No topo do elenco dos direitos fundamentais está o direito à vida (art. 6º) que implica a responsabilidade do Estado de não somente garantir a sobrevivência, como também o desenvolvimento da criança. Vida humana é, portanto, mais do que vida no sentido biológico. Implica, por lei, a inserção da criança na cultura. Assim, a Convenção da ONU garante à criança um nome e uma nacionalidade, em outras palavras, uma identidade, no sentido jurídico e psíquico. Essa identidade está estreitamente ligada à família e ao direito de “conhecer os pais e ser cuidada por eles” (art. 7º). O Estado é obrigado, pelo art. 8º, a preservar a identidade, a nacionalidade, o nome e as relações familiares da criança e do adolescente com suas leis e políticas públicas. Por outro lado, a criança tem, hoje, o direito de formular seus próprios pontos de vista. UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:12 Lei, violência contra a mulher e as questões de gênero Maria da Penha é o nome de uma lei que traz uma série de medidas para não só punir, como impedir que acontecessem agressões contra mulheres cometidas pelos próprios companheiros. Por que esse nome de mulher? Maria da Penha é uma senhora que estudou, formou-se na universidade e casou-se com um professor universitário. Como para muitas mulheres, o casamento tornou-se um pesadelo. Maria da Penha era agredida pelo marido que tentou por duas vezes mata-la. Mas à diferença da maioria das vítimas de agressões no âmbito doméstico, Maria da Penha lutou para conseguir que, em 2006, fosse promulgada a lei que não só pune mais severamente os crimes cometidos no lar, como também procura fazer com que esses crimes não sejam facilitados , ou, então não aconteçam. Para abordar a questão da violência contra a mulher é importante esclarecer o uso de dois conceitos por estudos sociológicos e antropológicos: sexo e gênero. Do ponto de vista da biologia (e , consequentemente, da medicina), a distinção entre homens e mulheres se faz a partir da determinação do sexo. Para a biologia, os órgãos sexuais são determinantes para dizer se alguém nasce menino ou menina. Já a sociologia e a antropologia que têm como objeto de estudo a sociedade e a cultura humanas empregam o conceito de gênero, uma vez que o que ser homem ou mulher é uma construção cultural. As fitas rosas ou azuis no berço de um bebê são exemplo dessa construção a partir da cultura que faz de um ser humano um homem ou uma mulher. As mais diversas propostas da psicologia reconhecem a diferença biológica e cultural entre homens e mulheres. Assim o faz, por exemplo, a proposta psicanalítica lacaniana que analisa as diferentes “posições discursivas” entre homens e mulheres. Isso quer dizer em outras palavras que homens e mulheres pensam, falam e agem de maneira diferente. Nesse contexto é importante dizer que o jeito de ser masculino ainda é muito predominante nas mais diversas culturas, inclusiva na nossa. Ainda valorizam o pai como orientador da linguagem. Para dar um exemplo: corriqueiramente dizemos “o juiz”, “o presidente”, “o patrão” para marcar posições de poder como posições masculinas, nem que estas sejam ocupadas por mulheres. À posição masculina na linguagem não escapam nem homens nem mulheres. Quem vai negar que o pai é importante para nortear o filho? Quem vai negar a importância da ordem para a convivência em sociedade? Quem pode descartar o uso da razão e da lógica para a ciência e o conhecimento em geral? Nem homens, nem mulheres. No entanto, há traços no jeito de ser das mulheres que escapam do jeito de ser masculino. As mulheres prezam a diferença, a emoção, a mística. No entanto, o que as mulheres prezam, é historicamente descartado como sendo “loucura”, “bruxaria”, “sem valor”. Por que isso é importante de saber? Porque o jeito feminino de ser assusta e pode ser uma das mais diversas razões da agressão contra mulheres. Na lógica masculina, lógica essa que exige do homem o sacrifício da satisfação junto à mãe ( para lembrarmos do Complexo de Édipo masculino), o homem procura, ainda que na fantasia, aquilo que crê ter perdido, quando foi separado da mãe: o objeto do seu desejo, a mulher. Nesse sentido, no sentido da sexualidade masculina, a mulher é um objeto. É só passar numa banca de revistas e ler o conteúdo das revistas masculinas e femininas. Pois as mulheres, por outro lado oferecem-se como objetos do desejo masculino. Essa relação entre procurar um objeto e ser um objeto do desejo não é natural, é cultural. No entanto, há um problema: o belo objeto do desejo pode tornar-se desejo, o reverso do objeto do desejo, pode tornar-se, enfim, descartável. Os homens e as mulheres podem aceitar essas diferenças culturais e superar as divergências na maneira de ser de cada um pelo amor . Ou não. UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:13 Psicologia jurídica na execução penal De início, cabe indagar: o que é crime? Pois, o conceito de crime, de criminoso, de pena e de prisão variam no tempo e no espaço . Em outras palavras: o que foi crime outrora, hoje não é mais. Penas foram aplicadas e abolidas. Novas penas são aplicadas para novos crimes. O tema merece, portanto, uma abordagem crítica, tal como foi realizada, por exemplo, pelo psicólogo e filósofo francês Michel Foucault , cuja obra influenciou as reflexões contemporâneas sobre o sistema prisional. Resumindo essas reflexões, podemos dizer que a prisão, a principal pena aplicada aos que cometem crimes aos olhos da sociedade é um poderoso meio de marginalização daquilo das chamadas “classes perigosas” . Quais são essas classes perigosas? Ao final da Idade Média europeia, com a nascente sociedade do trabalho , começou-se a valorizar quem trabalhasse. Nem sempre foi assim. Durante toda antiguidade e boa parte da Idade Média, o trabalho era desvalorizado, era o próprio castigo, como lembra a própria palavra trabalho, cuja raiz latina é tripalium , o tridente, instrumento de tortura. Com a valorização do trabalho há, consequentemente, a marginalização da vagabundagem. Os pobres, soltos no mundo, são recolhidos em casas de pobres, onde aprendem a obedecer à disciplina do trabalho. Assim, operários, mulheres , vagabundos e criminosos são indiscriminadamente recolhidos, cadastrados e tratados para fazerem funcionar as primeiras fábricas na França. [1] Vistas por essa ótica, as classes marginalizadas são aquelas, nas quais não se pode confiar e sobre as quais se quer adquirir ocontrole social. Essa desconfiança foi, no Brasil, dirigida aos escravos negros, presos por sua condição de serem objetos de compra e venda. Sendo estranhos, “assombravam” a vida da elite. É interessante fazer aqui um parêntese e mencionar um ensaio de Sigmund Freud, O estranho, no qual descreve a mescla entre angústia e atração que o estranho nos provoca e que “aprisionamos” pelo recalque no inconsciente. Seria prisão uma forma de “recalque” de contradições conflitos não resolvidas pela sociedade? Hoje, os criminosos que mais preocupam a sociedade no Brasil são os traficantes. Verdadeiras guerras travam-se entre o Estado e os traficantes de drogas ilícitas. Mas não somente as classes consideradas perigosas mudam ao longo da história e dependendo do lugar. Há também mudanças no tipo de pena para os que são considerados criminosos. Visam o corpo na sociedade feudal , na qual preferencialmente se aplicava o suplício e a pena de morte. Visam a liberdade na sociedade industrial e os bens na sociedade pós-moderna que muitas vezes substitui a pena privativa de liberdade por severas multas. Como já foi visto, a pena privativa de liberdade nasce junto às outras instituições, tal como a fábrica, que visam a disciplina. Para Michel Foucault, têm como metáfora o chamado Panópticum de Bentham. Nele, as pessoas estão num campo de visibilidades. Podem ser vistas e controladas sem ver quem as controla. Com isso, espera-se, introjetam a disciplina que as faz funcionar adequadamente na sociedade moderna que tem como valor moral central o trabalho produtivo . A falta de disciplina é perigosa. Vai à contramão da sociedade burguesa. Assim, com a burguesia nasce também o conceito de delinquente. Delinquente não é somente o cidadão criminoso que lesa um direito de outro cidadão, mas aquele que se revolta contra a ordem do Estado. Não somente a vítima tem um direito ver seu agressor sendo punido. A própria sociedade tem interesse na reclusão do ator. Essa serve, na concepção moderna, para vigiar, isolar, controlar e educar o detento que deve ser futuramente reintegrado à sociedade. A prisão serve, portanto, o como uma tecnologia corretiva a partir de uma questão subjetiva : personalidade do preso. A partir de um diagnóstico do preso é estabelecida sua terapêutica e o prognóstico para sua ressocialização bem sucedida. Na Lei de Execução Penal brasileira, esse processo está na mão da Comissão Técnica de Classificação - CTC . Médicos, psicólogos e assistentes sociais emitem laudos que permitem diagnosticar o preso e prognosticar se ele tem UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteú... http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1 de 1 22/09/2015 15:13
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