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Livro-Texto Unidade III PSICOLOGIA JURIDICA

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Unidade III
Unidade III
MÓDULO VI
Do menor ao jovem cidadão: a criança, o adolescente e sua família 
Como já foi visto, as teorias predominantes na psicologia concordam em um ponto: o ser humano é 
um ser cultural. Por isso, a lei e a cultura são formadores do sujeito. Consequentemente, a infância deve 
ser vista no contexto cultural.
É fato que a criança em desenvolvimento necessita da convivência familiar, a fim de que possa 
concluir o estágio de formação da sua personalidade de forma completa e sadia. No entanto, o direito 
à convivência familiar não se esgota no poder-dever dos pais de manter os filhos em sua guarda e 
companhia, pois “garantir ao filho a convivência familiar significa respeitar seu direito de personalidade 
e garantir-lhe a dignidade, na medida em que depende de seus genitores não só materialmente”.
A infância na lei: menor como objeto de direito
Se a infância é uma construção cultural, ser criança é diferente de uma época para outra, como 
a constituição e a estrutura da família também varia com o tempo, como vimos. Só há uma infância 
no direito a partir da modernidade e da industrialização. Antes disso, as crianças eram tratadas como 
pequenos adultos. Marca dessa descoberta de infância é o “Health and Moral of Aprentices Act”, de 
1802, que proíbe o trabalho infantil e preconiza o aprendizado.
A visão da família do início do século XX, no Brasil, com seu modelo patriarcal e moralizante, forma 
ideia sobre a infância, quando estabelece a diferença entre a “normalidade” e a “anormalidade” da 
situação irregular no Código de Menores (de 1927 e de 1979). No Código de Menores, a criança em 
situação irregular é tida como um objeto de direito. Segundo esse código, cabe ao Estado fazer com 
que os menores e as famílias que não obedecem ao padrão da família estabelecida pelo Código Civil da 
época se enquadrem nesse padrão higienista de uma família normal.
A criança cidadã na Convenção dos Direitos da Criança
Hoje, parece óbvio o fato de a criança ser uma cidadã. Não há “menores” a serem tutelados e 
administrados por “maiores”, mas seres humanos que nascem cidadãos. A cidadania é, por assim dizer, 
o presente de boas-vindas que a sociedade prepara para os recém-nascidos. Não resta dúvida para 
determinar o início da infância no nascimento. A questão é como a lei define a infância e a adolescência, 
já que, hoje, não há clareza sobre o assunto, já que a adolescência é “esticada” até a idade madura.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Pela Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização da Nações Unidas, criança é “todo ser 
humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que em conformidade com a lei aplicável à criança, 
a maioridade seja alcançada antes”. Em seu preâmbulo, a Convenção sobre os Direitos da Criança 
sublinha a importância da dignidade e dos direitos iguais e inalienáveis de “todos os membros da família 
humana”. Com isso, já deixa entender que a criança cresce em uma família “como grupo fundamental 
da sociedade e ambiente natural para o crescimento e o bem-estar de todos os seus membros, e em 
particular das crianças”. Cabe aos pais, aos demais membros da família ampliada ou à comunidade a 
responsabilidade de “proporcionar à criança instrução e orientação adequadas e acordes com a evolução 
de sua capacidade, no exercício dos direitos reconhecidos” (art. 5º). A família e, no sentido mais amplo, 
a comunidade, têm, portanto, uma dupla função: a de inserir a criança na cultura e a de defender seus 
direitos, uma vez que a criança está limitada na capacidade do exercício de seus direitos. No topo do 
elenco dos direitos fundamentais está o direito à vida (art. 6º) que implica a responsabilidade do Estado 
de não somente garantir a sobrevivência, como também o desenvolvimento da criança. Vida humana 
é, portanto, mais do que vida no sentido biológico. Implica, por lei, a inserção da criança na cultura. 
Assim, a Convenção da ONU garante à criança um nome e uma nacionalidade, em outras palavras, 
uma identidade, no sentido jurídico e psíquico. Essa identidade está estreitamente ligada à família e ao 
direito de “conhecer os pais e ser cuidada por eles” (art. 7º). O Estado é obrigado, pelo art. 8º, a preservar 
a identidade, a nacionalidade, o nome e as relações familiares da criança e do adolescente com suas leis 
e políticas públicas.
Por outro lado, a criança tem, hoje, o direito de formular seus próprios pontos de vista. Deve ser ouvida 
em todos os assuntos que lhe dizem respeito (art. 12). Liberdade de expressão, de crença, de associação, 
de reunião pacífica, inviolabilidade de seu lar, de sua correspondência e de sua honra constam do rol 
de direitos tanto quanto a proteção contra violência, assistência, saúde, lazer e educação. A Convenção 
enfatiza, em seu art. 29, o exercício dos direitos culturais, sobretudo ao direito à educação.[1] É importante 
apontar para alguns aspectos desse artigo. Em primeiro lugar, reflete a ideia do desenvolvimento da 
personalidade na infância e na adolescência. Diferencia dos conceitos de “aptidões” e de “capacidade 
mental” o conceito de “personalidade”. Finalidade da educação é de “imbuir respeito” aos direitos 
humanos, aos seus pais e aos valores culturais de seu país e de civilizações diferentes da sua. Se, por um 
lado, o respeito aos pais remonta à lei desde os tempos bíblicos, o respeito aos valores culturais nacionais 
é exigido desde a modernidade, o respeito aos valores de pessoas e civilizações diferentes reflete um 
dever moral considerado essencial para a convivência na sociedade contemporânea globalizada. Trata-
se de um dever moral, uma vez que a Convenção lança um ideal a ser seguido pelos Estados, pela família 
e sociedade e pelos próprios jovens.
Jovens em conflito com a lei têm, no art. 40, os direitos e as garantias processuais assegurados aos 
adultos acusados de ter cometido delitos: a presunção da inocência e o direito do contrário, dentre 
outros. Vale destacar o item 3 do artigo que recomenda à legislação nacional levar em consideração uma 
“a) [...] idade mínima antes da qual se presumirá que a criança não tem capacidade para infringir as leis 
penais; b) a adoção [...] de medidas para tratar dessas crianças sem recorrer a procedimentos judiciais, 
[...].” Dever do Estado é, portanto, disponibilizar um conjunto de instituições e programas alternativas 
às penas sofridas pelos adultos. Medidas para o tratamento das crianças e dos adolescentes “fora da lei” 
decorrem, portanto, do exercício dos direitos humanos que visam à sua “dignidade humana”, como quer 
a lei internacional.
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Unidade III
O Estatuto da Criança e do Adolescente
O ECA, consequência e regulamento dos artigos 226 ss da Constituição Federal de 1988, estende 
sobre a criança e o adolescente uma verdadeira rede de proteção que tem como núcleo a família e 
a rede familiar, passa pela comunidade, representada pelas organizações não governamentais, pela 
sociedade que se faz representar nos conselhos tutelares, até o Estado que ampara os direitos dos 
jovens pela administração pública e pela Justiça da Infância e da Juventude. Criado e promulgado 
quase que concomitantemente som a Convenção da ONU, o Estatuto da Criança e do Adolescente 
– ECA – traz mudanças paradigmáticas no trato de crianças e adolescentes que “gozam de todos os 
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana” (art. 3º, do ECA). Merecem a atenção da família, da 
comunidade, da sociedade e do Estado, enfim, sua “proteção integral” (art. 1º, do ECA).
A ideia da função repressiva, punitiva e discriminatória do Estado cede, portanto, a outra, a da 
dignidade e da cidadania da criança e do adolescente. Quando o jovementra em conflito com a lei, 
quem merece proteção é a criança ou o adolescente. Diferentemente da Convenção da ONU, o Estatuto 
faz a distinção entre a criança, “a pessoa até doze anos de idade incompletos” e o adolescente, pessoa 
“entre doze e dezoito anos de idade” (art. 2º, do ECA). As medidas protetivas no art. 101, do estatuto, são 
aplicadas às crianças em situação de risco. O risco é descrito no art. 98 como sendo ameaça ou violação 
dos direitos reconhecidos no próprio estatuto. A ameaça pode partir da sociedade e do Estado, dos pais 
ou responsáveis ou, ainda, da “própria conduta” da criança e do adolescente. Quando a criança ou o 
adolescente entra em conflito com a lei, são aplicadas as medidas socioeducativas, previstas no art. 112. 
Essas medidas já têm o sabor amargo de penalidades quando o próprio adolescente se colocar em uma 
situação de risco. A criança, obviamente, pode cometer delitos. No entanto, presume-se que a criança 
não sabe o que faz, enquanto o adolescente tem capacidade para saber, mas não o discernimento 
pleno “para entender o caráter ilícito do fato e governar a própria conduta”.[2] Se ele passa, aos 18 
anos, a entender ou não o caráter ilícito é uma questão que, até para a Justiça, não está clara. Não 
há como estabelecer um critério genérico para diferenciar se um jovem é imputável ou não.[3] O ECA 
prevê, portanto, para jovens infratores da lei até 18 anos a possiblidade de “requisição de tratamento 
médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial” (inciso V ) e da “inclusão em 
programa comunitário ou oficial de auxílio à família , à criança e ao adolescente” (inciso IV, do art. 101, 
do ECA). Em casos excepcionais, essas medidas podem ser aplicadas a jovens de até 21 anos (parágrafo 
único, do art. 2º).
O Estatuto da Criança e do Adolescente no seu art. 24 preceitua que “a perda do poder familiar 
serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, 
bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que se alude o 
artigo 22 (guarda, sustento e educação dos filhos cabem aos pais)”. Educação ao invés de punição, 
tratamento ao invés de disciplina, assim determina a lei. Aparentemente inaugurou novas práticas de 
a Justiça lidar com crianças e adolescentes infratores da lei. Mas, no cotidiano, a mudança da lei por si 
só não implica mudanças de postura dos envolvidos. “Há, particularmente, uma alteração do discurso, 
que busca corrigir uma discriminação, que, por essa via se fazia das crianças em condições de pobreza, 
abandono e infração, quer eram invariavelmente referidas como menores, sob vigência do Código (de 
Menores). [...] No entanto, o que se pode notar é que há algo de absurdamente resistente, no plano dos 
discursos e práticas concretas, que insiste em permanecer.”[4]
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PSICOLOGIA JURÍDICA
[1] Art. 29. Os Estados Partes reconhecem que a educação deverá estar orientada no sentido de:
a) Desenvolver a personalidade, as aptidões e a capacidade mental e física da criança em todo seu potencial;
b) Imbuir na criança o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, bem como aos princípios 
consagrados na Carta das Nações Unidas;
c) Imbuir na criança o respeito aos seus pais, à sua própria identidade cultural, ao seu idioma e seus valores, aos 
valores nacionais do país que reside, aos do eventual país de origem, e aos das civilizações diferentes da sua;
d) Preparar a criança para assumir uma vida responsável numa sociedade livre, com espírito de compreensão, 
paz, tolerância, igualdade de sexos e amizade entre todos os povos, grupos étnicos, nacionais e religiosos, e 
pessoas de origem indígena;
e) Imbuir na criança o respeito ao meio ambiente.
[2] AMARANTE, Napoleão, X. do. Comentário ao art. 104 do Estatuto da Criança e do Adolescente. In: CURY, Munyr 
(org.). Estatuto da Criança e do Adolescente: Comentários jurídicos e sociais. 11ª e. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 499.
[3] AMARANTE, Napoleão, X. do. Comentário ao art. 104 do Estatuto da Criança e do Adolescente. In: CURY, Munyr 
(org.). Estatuto da Criança e do Adolescente: Comentários jurídicos e sociais. 11ª e. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 501.
[4] GUIRADO, Marlene. Em instituições para adolescentes em conflito com a lei, o que pode a nossa vão psicologia? 
IN: GONÇALVES, Hebe Signorini & BRANDÃO, Eduardo Ponte. Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU, 2004, 
p. 263.
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Unidade III
MÓDULO VII
Lei, violência contra mulher e as questões de gênero
Maria da Penha é o nome de uma lei que traz uma série de medidas para não só punir, como impedir 
que aconteçam agressões contra mulheres cometidas pelos próprios companheiros. Por que esse nome 
de mulher? Maria da Penha é uma senhora que estudou, formou-se na universidade e casou-se com 
um professor universitário. Como para muitas mulheres, o casamento tornou-se um pesadelo. Maria 
da Penha era agredida pelo marido que tentou por duas vezes matá-la. Mas à diferença da maioria das 
vítimas de agressões no âmbito doméstico, Maria da Penha lutou para conseguir que, em 2006, fosse 
promulgada a lei que não só pune mais severamente os crimes cometidos no lar, como também procura 
fazer com que esses crimes não sejam facilitados ou, então, não aconteçam. 
Para abordar a questão da violência contra a mulher é importante esclarecer o uso de dois 
conceitos por estudos sociológicos e antropológicos: sexo e gênero. Do ponto de vista da biologia (e, 
consequentemente, da medicina), a distinção entre homens e mulheres se faz a partir da determinação 
do sexo. Para a biologia, os órgãos sexuais são determinantes para dizer se alguém nasce menino ou 
menina. Já a sociologia e a antropologia que têm como objeto de estudo a sociedade e a cultura humanas 
empregam o conceito de gênero, uma vez que o que é ser homem ou mulher é uma construção cultural. 
As fitas rosa ou azuis no berço de um bebê são exemplo dessa construção a partir da cultura que faz de 
um ser humano um homem ou uma mulher. 
As mais diversas propostas da psicologia reconhecem a diferença biológica e cultural entre homens e 
mulheres. Assim o faz, por exemplo, a proposta psicanalítica lacaniana que analisa as diferentes “posições 
discursivas” entre homens e mulheres. Isso quer dizer, em outras palavras, que homens e mulheres pensam, 
falam e agem de maneira diferente. Nesse contexto é importante dizer que o jeito de ser masculino ainda é 
muito predominante nas mais diversas culturas, inclusive na nossa. Ainda valorizam o pai como orientador 
da linguagem. Para dar um exemplo: corriqueiramente dizemos “o juiz”, “o presidente”, “o patrão” para 
marcar posições de poder como posições masculinas, nem que essas sejam ocupadas por mulheres.
À posição masculina na linguagem não escapam nem homens nem mulheres. Quem vai negar que o pai é 
importante para nortear o filho? Quem vai negar a importância da ordem para a convivência em sociedade? 
Quem pode descartar o uso da razão e da lógica para a ciência e o conhecimento em geral? Nem homens, 
nem mulheres. No entanto, há traços no jeito de ser das mulheres que escapam do jeito de ser masculino. As 
mulheres prezam a diferença, a emoção, a mística. No entanto, o que as mulheres prezam é historicamente 
descartado como sendo “loucura”, “bruxaria”, “sem valor”. Por que isso é importante de saber? Porque o jeito 
feminino de ser assusta e pode ser uma das mais diversas razões da agressão contra mulheres. Na lógica 
masculina, lógica essa que exige do homem o sacrifício da satisfação junto à mãe (para lembrarmos do 
Complexo de Édipo masculino), o homem procura, ainda que na fantasia, aquilo que crê ter perdido, quando 
foi separado da mãe: o objeto do seu desejo, a mulher. Nesse sentido,no sentido da sexualidade masculina, 
a mulher é um objeto. É só passar em uma banca de revistas e ler o conteúdo das revistas masculinas e 
femininas. Pois as mulheres, por outro lado, oferecem-se como objetos do desejo masculino. Essa relação 
entre procurar um objeto e ser um objeto do desejo não é natural, é cultural. No entanto, há um problema: o 
belo objeto do desejo pode tornar-se desejo, o reverso do objeto do desejo, pode tornar-se, enfim, descartável.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Os homens e as mulheres podem aceitar essas diferenças culturais e superar as divergências na 
maneira de ser de cada um pelo amor. Ou não. Infelizmente, a insatisfação e a estranheza de um em 
relação ao outro pode gerar angústia e violência. A mulher, antes lindo objeto de satisfação, vira dejeto. 
Mas, como mesmo “mulher objeto” não se deixa dominar completamente, instaura-se uma relação entre 
o casal que “mescla de violência, sedução, afeto, presentes, arrependimento” [1]. Juntam-se a esses dados 
subjetivos a dependência econômica da mulher e a legitimação social do “crime em defesa da honra”. 
Mas, em decorrência principalmente das questões afetivas envolvidas, o casal entra em um círculo 
vicioso de discussão, agressão, queixa na delegacia, arrependimento, sedução e retirada da queixa para, 
depois de algum tempo, retomar o ciclo.
A Lei 11340/2006, a Lei Maria da Penha, trata de qualquer agressão contra a mulher, não somente 
a física. Uma agressão verbal pode ser violência psicológica. Uma relação sexual indesejada pode ser 
qualificada como violência sexual, deixar a mulher sem recursos, violência patrimonial, e assim por 
diante. Se uma mulher se encontra nessa situação, a Justiça deve tomar medidas para afastar a mulher 
de seu parceiro agressor.
Finalmente, em qualquer hipótese de agressão contra a mulher, a lei garante, dentre outras medidas 
o atendimento por equipe multidisciplinar que possa oferecer um tratamento. Finalidade é retirar a 
mulher não do lar, mas da posição de vítima, do dejeto, na qual ela mesma se coloca, para que ela possa 
tornar-se sujeito de sua própria ação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MORGADO, R. Mulheres em situação de violência doméstica: limites e possibilidades de enfrentamento. 
In: BRANDÃO, E. & GONÇALVES, H. Psicologia jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: Nau, 2004.
[1] MORGADO, R. Mulheres em situação de violência doméstica: limites e possibilidades de 
enfrentamento. In: BRANDÃO, E. & GONÇALVES, H. Psicologia jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: Nau, 
2004, p. 315.
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Unidade III
MÓDULO VIII
Psicologia Jurídica na execução penal 
De início, cabe indagar: o que é crime? O conceito de crime, de criminoso, de pena e de prisão varia no 
tempo e no espaço. Em outras palavras: o que foi crime outrora, hoje não é mais. Penas foram aplicadas 
e abolidas. Novas penas são aplicadas para novos crimes. O tema merece, portanto, uma abordagem 
crítica, tal como foi realizada, por exemplo, pelo psicólogo e filósofo francês Michel Foucault, cuja obra 
influenciou as reflexões contemporâneas sobre o sistema prisional. Resumindo essas reflexões, podemos 
dizer que a prisão, a principal pena aplicada aos que cometem crimes aos olhos da sociedade é um 
poderoso meio de marginalização daquilo das chamadas “classes perigosas”. 
Quais são essas classes perigosas? Ao final da Idade Média europeia, com a nascente sociedade do 
trabalho, começou-se a valorizar quem trabalhasse. Nem sempre foi assim. Durante toda Antiguidade 
e boa parte da Idade Média, o trabalho era desvalorizado, era o próprio castigo, como lembra a própria 
palavra trabalho, cuja raiz latina é tripalium, o tridente, instrumento de tortura. Com a valorização do 
trabalho há, consequentemente, a marginalização da vagabundagem. Os pobres, soltos no mundo, são 
recolhidos em casas de pobres, em que aprendem a obedecer à disciplina do trabalho. Assim, operários, 
mulheres, vagabundos e criminosos são indiscriminadamente recolhidos, cadastrados e tratados para 
fazerem funcionar as primeiras fábricas na França.[1]
Vistas por essa ótica, as classes marginalizadas são aquelas, nas quais não se pode confiar e sobre 
as quais se quer adquirir o controle social. Essa desconfiança foi, no Brasil, dirigida aos escravos negros, 
presos por sua condição de serem objetos de compra e venda. Sendo estranhos, “assombravam” a vida da 
elite. É interessante fazer aqui um parêntese e mencionar um ensaio de Sigmund Freud, “O estranho”, no 
qual descreve a mescla entre angústia e atração que o estranho nos provoca e que “aprisionamos” pelo 
recalque no inconsciente. Seria prisão uma forma de “recalque” de contradições conflitos não resolvidos 
pela sociedade? Hoje, os criminosos que mais preocupam a sociedade no Brasil são os traficantes. 
Verdadeiras guerras travam-se entre o Estado e os traficantes de drogas ilícitas.
Mas não somente as classes consideradas perigosas mudam ao longo da história e dependendo 
do lugar. Há também mudanças no tipo de pena para os que são considerados criminosos. Visam ao 
corpo na sociedade feudal, na qual preferencialmente se aplicava o suplício e a pena de morte. Visam à 
liberdade na sociedade industrial e aos bens na sociedade pós-moderna que, muitas vezes, substitui a pena 
privativa de liberdade por severas multas. Como já foi visto, a pena privativa de liberdade nasce junto às 
outras instituições, tal como a fábrica, que visam à disciplina. Para Michel Foucault, têm como metáfora o 
chamado Panópticum de Bentham. Nele, as pessoas estão em um campo de visibilidades. Podem ser vistas 
e controladas sem ver quem as controla. Com isso, espera-se, introjetam a disciplina que as faz funcionar 
adequadamente na sociedade moderna que tem como valor moral central o trabalho produtivo. A falta 
de disciplina é perigosa. Vai à contramão da sociedade burguesa. Assim, com a burguesia nasce também 
o conceito de delinquente. Delinquente não é somente o cidadão criminoso que lesa um direito de outro 
cidadão, mas aquele que se revolta contra a ordem do Estado. Não somente a vítima tem um direito ver 
seu agressor sendo punido. A própria sociedade tem interesse na reclusão do ator. Essa serve, na concepção 
moderna, para vigiar, isolar, controlar e educar o detento que deve ser futuramente reintegrado à sociedade.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
A prisão serve, portanto, como uma tecnologia corretiva a partir de uma questão subjetiva: 
personalidade do preso. A partir de um diagnóstico do preso é estabelecida sua terapêutica e o prognóstico 
para sua ressocialização bem-sucedida. Na Lei de Execução Penal brasileira, esse processo está na mão 
da Comissão Técnica de Classificação - CTC. Médicos, psicólogos e assistentes sociais emitem laudos 
que permitem diagnosticar o preso e prognosticar se ele tem condições de futuramente se reintegrar 
na sociedade. A atuação dos profissionais que compõem a CTC encontra críticas. Quais critérios que se 
adota para fazer o diagnóstico? Quais para fazer o prognóstico? Será que os juízes responsáveis pela 
execução penal simplesmente avalizam os laudos técnicos? Como o “tratamento penal” leva em conta 
possíveis causas subjetivas do crime: conflitos pessoais e familiares, problemas econômicos e sociais? 
Hoje estão em discussão as possibilidades de como o preso pode ser respeitado como sujeito de 
direito. Apesar da Lei de Execução Penal não prever um direito do preso à assistência psicológica, 
possibilidades de tratamento individual, subjetiva e consentida são preconizadas. [2] Para a psicanálise 
contemporânea, há como responsabilizar, ao invés de culpar por um tratamento não genérico, mas 
singular, que visa a uma mudança de postura.Nesse tratamento, o inconsciente deixa de ser justificativa 
para o crime. O tratamento aposta na possibilidade de o ser humano mudar de vida, de encontrar saídas 
não pelo crime, pela criatividade transformadora do mundo.
Conceito psicológico da conduta delituosa
Para o jurista, um delito é todo ato (positivo ou negativo) de caráter voluntário que se afasta das 
normas estabelecidas pela legislação do Estado, de maneira que, quando transgredida, encontrem 
uma qualificação predeterminada nas leis de caráter penal. Para o filósofo, um delito é todo ato 
que não se ajusta aos princípios da ética. E para o psicólogo? Que saibamos, esse último não tentou 
estabelecer um critério definido do ato delituoso de seu ponto de vista e se acha mais preocupado 
com a tarefa de compreender os delitos (descobrindo sua motivação) que com a de defini-los. Mas, 
não obstante, é claro, com a consequência de seus trabalhos nesse campo (psicologia criminológica) 
elaborou um conceito psicológico do ato delituoso, independentemente do jurista e não todo 
identificável com o do filósofo ou moralista. A moderna tendência de incluir a psicologia cada vez 
mais na biologia geral faz com que o psicólogo atual conceba essa questão de um ponto de vista 
essencialmente biológico, integrando o denominado ato delituoso na cadeia das ações pessoais, 
de modo que, para ele, o que constitui o motivo da atuação jurídica não representa mais que um 
episódio – nem sempre significante – na vida psíquica do indivíduo. Não é possível julgar um delito 
sem compreendê-lo, mas para isso é preciso não só conhecer os antecedentes da situação, mas 
também o valor de todos os fatores determinantes da reação pessoal que antes estudamos; e esse 
é o trabalho psicológico que compete ao jurista realizar se quiser merecer esse nome. Os delitos 
aparentemente iguais e determinados pelas mesmas circunstâncias extremas podem, no entanto, 
ter uma significação inteiramente distinta e devem, por conseguinte, ser julgados e condenados de 
um modo absolutamente deferente.
Ainda discutem os penalistas se há de castigar de acordo com os resultados ou com a intenção do 
ato delituoso. Por que não castigar de acordo com sua motivação psicológica? Pela simples razão de 
que lhes é desconhecida na maioria dos casos. Em contrapartida, a sanção jurídica de um ato delituoso 
não pode ser concebida sob o estreito campo do castigo. A sanção não deve ser uma vingança que a 
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Unidade III
sociedade tome contra o indivíduo que a ofendeu, mas um recurso por meio do qual aquela trata de 
conseguir com que esse recobre ulteriormente a normalidade de sua conduta. Nesse ponto, estão de 
acordo todos os penalistas modernos e por isso procuram implantar a teoria psicológica da ação penal, 
mais com boa fé do que com acerto, via de regra. Isso porque na escolha da pena – e sobretudo na sua 
aplicação devem colaborar os técnicos da psicologia anormal, social, jurídica e pedagógica se quiser 
conseguir um efeito verdadeiramente útil a ação penal.
Para o psicólogo, como dissemos antes, o delito é um episódio incidental; para o jurista é, 
na maioria dos casos, o tema central de sua atuação. Há nesse aspecto a mesma diferença de 
critério que existe entre família e o médico quando no curso de uma enfermidade crônica, uma 
tuberculose, por exemplo, se produz complicação ou aparece um sintoma agudo e teatral, uma 
hemorragia, por exemplo. Então, enquanto o médico, que leva em conta a constituição do paciente 
e a evolução anterior de seu processo, dita suas ordens e concebe seus planos sem se preocupar 
com esse incidente, a família agita-se e trata de aplicar soluções heroicas ante a gravidade do 
acontecimento: “tudo para salvar o doente”. Mas a vida dele não depende tanto do curso de sua 
hemorragia como da modificação das profundas e invisíveis lesões que a preparam e deram origem. 
Igualmente, o futuro de um delinquente se acha menos condicionado pela qualificação que mereça 
seu delito no Código do que pela ação que sobre sua consciência moral exerçam os acontecimentos 
provocados pela intervenção criminológica.
Considerando o delito do ponto de vista psicológico, chegamos à conclusão de que a execução 
representa uma consequência absolutamente lógica e fatal do conflito de forças e fatores que o 
determinaram: os mesmos mecanismos psicológicos intervêm tanto na execução dos atos legais 
quanto na dos atos delituosos, mas nunca poderemos compreender esse caráter predeterminado 
das ações humanas se descuidarmos do estudo de qualquer dos nove fatores (variáveis) que as 
determinam. Compreender e explicar um delito equivale a encontrar o valor das incógnitas na 
equação responsável pela conduta pessoal ante a situação delituosa. Eis aqui a tarefa fundamental 
do jurista: diante de qualquer ato contra a lei, determinar o papel que desempenhou em sua 
execução: a) a constituição corporal; b) o temperamento; c) a inteligência; d) o caráter; e) a 
experiência anterior; f) a constelação; g) a situação externa desencadeante; h) o tipo médio da 
reação coletiva aplicável à situação; i) o modo de percepção da situação por parte do delinquente. 
Tenha-se em conta que esses nove fatores podem, em cada caso, comportar-se de um modo distinto 
(positivo ou negativo, isto é, favorecendo ou impedindo) e somar-se ou contrapor-se, formando 
o que denominamos “complexos determinantes” da ação ou ações delituosas. Só agora podemos 
começar a entrever quão complicado problema é o de julgar, do ponto de vista psicológico-legal, 
a conduta humana. E só agora podemos ter uma ideia de quão deficientemente se procede ainda, 
na maioria dos casos, nas ações forenses. 
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PSICOLOGIA JURÍDICA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FORBES, Jorge. Inconsciente e responsabilidade: psicanálise do século XXI. São Paulo: Manole, 2012. 
Cap. 2.
KOLKER, Tânia. A atuação dos psicólogos no sistema penal. In: BRANDÃO, E. P. & GONÇALVES, H. S. 
Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Nau, 2004.
MIRA Y LOPEZ, Emilio. Manual de psicologia jurídica. Campinas, SP: Servanda Editora, 2015.Cap. VI.
[1] PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres, prisioneiros. trad. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1988.
[2] CARVALHO, Salo de. O papel da perícia psicológica na execução penal. In: BRANDÃO, E.P. & 
GONÇALVES, H. S. Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Nau, 2004.
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