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O socialismo de Durkheim

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O socialismo de Durkheim é em essência o "socialismo" de Comte, que se resume a duas palavras-chave: organização e moralização. O socialismo é uma organização da vida coletiva que teria por objeto e consequência a integração dos indivíduos em instancias sociais ou em comunidades dotadas de autoridade moral, capazes, portanto, de preencher uma função educativa.
"Chamamos de socialista toda doutrina que proponha a incorporação de todas as funções econômicas, ou de algumas delas, que na verdade estão dispersas, os centros diretores e conscientes da sociedade". "O socialismo não se reduz a uma questão de salário, ou como se disse, de estômago. É antes de tudo uma aspiração à reorganização do corpo social, tendo o efeito de mudar a situação do aparelho industrial no conjunto do organismo, tirá-lo da sombra onde funciona automaticamente, chamando-o à luz e ao controle da consciência. Pode-se porem, perceber desde já que esta aspiração não é sentida apenas pelas classes inferiores, mas também pelo próprio Estado, que à medida que a atividade econômica se torna um fator mais importante da vida em geral, é levado pela força das coisas, pelas necessidades vitais da mais alta importância, a inspecionar e regulamentar mais suas manifestações."
As doutrinas socialistas, ao contrário, acentuam o caráter primordial da atividade econômica; em vez de almejar o retorno de uma vida simples e frugal, procuram na abundancia e no desenvolvimento da capacidade produtiva a solução das dificuldades sociais.
De acordo com Durkheim, as doutrinas socialistas não se definem pela negação da propriedade privada ou pelas reivindicações dos trabalhadores, ou ainda pelo desejo das classes superiores ou dos dirigentes do Estado de melhorar a condição dos mais desfavorecidos. 
A revolução francesa foi um antecedente necessário do desenvolvimento das doutrinas socialistas, cuja origem pode ser identificada em certos fenômenos do século XVIII. Esta ideia nasceu depois da Revolução por que esta subverteu a ordem social e difundiu o sentimento de crise, levando os homens de pensamento à busca das causas dessa crise.
Para Durkheim, a questão social é antes de tudo uma questão de organização, mas, também, um problema de moralização. 
As funções econômicas precisam estar submetidas a um poder político e moral e esse poder descobre-se nos grupos profissionais. A solução do problema social está na reconstituição dos grupos profissionais, as antigas corporações, para que exerçam uma autoridade sobre os indivíduos e regularizem a vida econômica, moralizando-a. Os grupos profissionais, as corporações reconstituídas, constituirão um intermediário entre os indivíduos e o Estado, pois serão dotados da autoridade social e moral necessária para reestabelecer a disciplina, sem a qual os homens deixar levar pela infinidade de seus desejos.
Assim, a sociologia pode trazer uma solução cientifica ao problema social, e compreende-se que Durkheim possa ter tomado como ponto de partida de suas pesquisas uma questão filosófica que comandava o problema político, e que tenha encontrado na sociologia o substituto de uma doutrina socialista.
De acordo com Durkheim, o socialismo, a sociologia e a renovação religiosa coincidiram, no começo do século XIX, por que são características da mesma crise. O socialismo propõe um problema de organização social, o esforço de renovação religiosa é uma reação ao enfraquecimento das crenças tradicionais e a sociologia é o desenvolvimento do espírito científico e também uma tentativa de encontrar resposta aos problemas enunciados pelo socialismo, pelo enfraquecimento das crenças religiosas, pelos esforços de renovação espiritual.
Durkheim tenta explicar cientificamente as causas do movimento socialista, mostrar o que há de verdade nas doutrinas socialistas, indicar, com base na ciência, em que condições será possível solucionar o que chamamos de problema social. 
Visto por Durkheim, o tema central do socialismo é, portanto, a organização e não a luta de classes. Seu objetivo é a criação de grupos profissionais, e não a transformação do estatuto da propriedade.
A definição da democracia que Durkheim nos propõe implica que a ordem política, isto é, do comando e da autoridade, não passe de um fenômeno secundário no conjunto da sociedade; que a própria democracia, que etimologicamente significa o poder do povo, se caracterize não pela organização apropriada do comando, mas por certos traços das funções governamentais, de grau de comunicação entre a massa e os governantes. 
Durkheim adotava uma definição mais sociológica do que política da democracia, por que supunha que a consciência governamental e a comunicação entre o Estado e as massas só se pudessem efetivar por meio dos procedimentos que observava na sociedade liberal, e no regime representativo.
Durkheim se preocupa a tal ponto em dar à função governamental uma capacidade de deliberação e reflexão, que é pouco favorável ao sufrágio universal num só grau. Evoca a crise das sociedades modernas provocada pelo choque direto entre indivíduos isolados e um Estado todo-poderoso, quer reintroduzir um elemento intermediário entre o os indivíduos e o Estado; quer que a sociedade seja mais orgânica, evitando ao mesmo tempo o Estado totalitário e os indivíduos dispersos e impotentes. 
A educação é, em essência, um fenômeno social, e consiste em socializar os indivíduos. Educar uma criança é prepara-la ou força-la a participar de uma ou de várias comunidades, as teorias da educação de Durkheim se inspiram nas mesmas concepções do homem e da sociedade que encontramos em todos os seus livros.
As teorias de educação de Durkheim se inspiram nas mesmas concepções do homem e da sociedade que encontramos em todos seus livros. Formar os indivíduos, tendo em vista sua integração na sociedade, é torná-los conscientes das normas que devem orientar a conduta de cada um e do valor imanente e transcendente das coletividades às quais cada um de nós pertence, ou deverá pertencer.
As sociedades modernas continuam a precisas da autoridade própria da consciência coletiva, mas são elas, ao mesmo tempo, que fazem com que o indivíduo realize sua personalidade. Considerada como meio ambiente, a sociedade condiciona o sistema de educação; todo sistema de educação exprime uma sociedade e responde a certas exigências sociais, mas tem igualmente a função de perpetuar os valores da coletividade. Considerada como causa, a estrutura social determina a estrutura do sistema de educação, e este tem por objetivo associar os indivíduos a coletividade, convencendo-os a tomar como objeto do seu respeito, ou de seu devotamento, a própria sociedade.

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