Buscar

Agrario

Prévia do material em texto

Direito Agrário
O Instituto IOB nasce a partir da experiência de 
mais de 40 anos da IOB no desenvolvimento 
de conteúdos, serviços de consultoria e cursos de 
excelência.
Por intermédio do Instituto IOB, é possível 
acesso a diversos cursos por meio de ambientes 
de aprendizado estruturados por diferentes 
tecnologias.
As obras que compõem os cursos preparatórios 
do Instituto foram desenvolvidas com o objetivo 
de sintetizar os principais pontos destacados nas 
videoaulas.
institutoiob.com.br
Direito Agrário / Obra organizada pelo Instituto IOB - 
São Paulo: Editora IOB, 2011, 2ª edição.
ISBN 978-85-8079-082-5
Informamos que é de inteira 
responsabilidade do autor a emissão 
dos conceitos.
Nenhuma parte desta publicação 
poderá ser reproduzida por qualquer 
meio ou forma sem a prévia 
autorização do Instituto IOB.
A violação dos direitos autorais é 
crime estabelecido na Lei nº 
9.610/1998 e punido pelo art. 184 
do Código Penal.
Sumário
Capítulo 1 — Direito Agrário, 5
1. História da propriedade no Brasil, 5
2. Introdução ao Direito Agrário, 6
3. Função social da propriedade agrária, 7
4. Institutos de direito agrário, 9
5. Classificação do imóvel rural, 9
6. Classificação do imóvel rural pela dimensão e proteção à pequena 
propriedade, 11
7. Política agrícola, 13
8. ITR - Imposto sobre Território Rural, 14
9. Desapropriação para fins de reforma agrária, 15
10. Regras do processo de desapropriação agrária, 17
11. Pontos polêmicos da reforma agrária, 18
12. Desapropriação judicial do art. 1.228, §§ 4º e 5º do CC, 19
13. Enunciados do CJF sobre desapropriação judicial agrária, terras devolutas 
e públicas, 21
14. Aquisição de terras por estrangeiros e usucapião agrária, 23
15. Usucapião agrária e requisitos pessoais, reais e formais da usucapião, 24
Capítulo 1
Direito Agrário
1. História da propriedade no Brasil
1.1 Apresentação
Neste capítulo, iniciaremos o estudo do Direito Agrário; assim, inicialmente 
devemos observar um pouco da história da propriedade no Brasil.
1.2 Síntese
Estudar a propriedade faz com que haja necessidade de que se estude a história 
da propriedade no Brasil.
Temos que lembrar a respeito do Tratado de Tordesilhas, que foi assinado na 
povoação de castelhana de Tordesilhas em 1494 por Portugal e Espanha.
Esse tratado estabelecia limites dos territórios a serem descobertos, chamados de 
novo mundo, que seria dividido entre esses países, os quais na época eram as maiores 
potências marítimas da época.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
6
Assim, Portugal descobriu o Brasil, tendo que colonizá-lo, com o receio de inva-
são de outros países. Dessa forma, para poder explorar essas riquezas, Portugal come-
çou a colonização.
O primeiro governador-geral do Brasil recebeu o dever de promover a coloniza-
ção utilizando-se do regime de sesmarias, em que se concedia o domínio útil de terras 
para certas pessoas mediante pagamento de tributos para a coroa portuguesa (dízimo), 
tributo mascarado; instituto jurídico português desde 1375.
No Brasil, o sesmeiro era o titular da sesmaria, a fim de garantir a plantation 
açucareira. A principal função desse sistema era de estimular a produção e quando o 
titular não o fazia, seu direito de posse podia ser extinto.
Pode ser considerada variante do instrumento enfiteuse romana, por meio do 
qual se dividia a propriedade em dois tipos: domínio direto, emitente ou útil e indire-
to. Dessa forma, uma parte era do senhorio, que cedeu o domínio à enfiteuse.
Em troca do domínio direto, acabou aceitando uma série de requisitos, inclusive 
de pagar uma pensão anual ao cedente e, caso não o fizesse, o domínio voltaria a esse.
Aquele que não pagasse os tributos caía em comisso. Então, quando a pessoa caía 
em comisso, o imóvel voltava à Coroa, a qual poderia fornecê-lo a outros.
O sistema sesmarial perdurou até 17 de julho de 1822. A data se deu poucos 
meses antes da Proclamação da Independência.
Dessa maneira, a posse passou a campear livremente no Brasil, onde houve a pro-
mulgação da lei de terras, que ratificou formalmente o regime das posses e instituiu 
a compra como única forma de obtenção de terras.
2. Introdução ao Direito Agrário
2.1 Apresentação
Neste capítulo, adentrando diretamente no Direito Agrário, veremos uma intro-
dução acerca deste tema.
2.2 Síntese
A Emenda Constitucional nº 46, de 1964 incluiu a desapropriação para fins de 
reforma agrária.
A Lei nº 4.504/1964 (Estatuto da Terra) foi o primeiro dogma que trouxe real-
mente o Direito Agrário; porém, hoje é defasado. Contudo, nota-se que será impor-
tante para o concurso público.
Temos como conceito de Direito Agrário o conjunto de princípios e normas, de 
direito público e privado, que visa disciplinar as relações emergentes da atividade 
agrária, com base na função social da propriedade.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
7
O conceito apresenta quatro elementos. O primeiro é o conjunto de princípios e 
normas. O direito agrário é um ramo autônomo e essa autonomia é estudada de di-
ferentes prismas (autonomia legislativa, em razão de ter leis específicas e autonomia 
científica, porque o direito agrário contém institutos próprios). Específicos a ele, há, 
por exemplo, o ITR, os contratos agrários, etc.
Não existe no direito agrário autonomia jurisdicional. O art. 126 da CF determi-
nou a criação de varas especializadas para resolução de conflitos agrários.
Nota-se que isto de nada adiantará, pois os magistrados serão remanejados de 
outras varas, não havendo a devida especialização. 
No estado do Pará, as varas especializadas funcionam, sendo que o Tribunal de 
Justiça fornece treinamento aos juízes remanejados, e desse modo teríamos uma si-
tuação diferente.
Ainda assim, para ser criada a autonomia, deveria ser criada uma justiça agrária, 
a exemplo da trabalhista e assim não existe.
O segundo elemento é Direito Público e Privado. Trata-se de uma dicotomia 
que já está superada, pois com a constitucionalização, as regras do direito privado 
são interpretadas à luz da CF e assim há uma simbiose do que é público e privado.
Verifica-se uma mescla destes, podendo ser dado como exemplo o ITR. Está den-
tro do direito público por se tratar de Direito Tributário. Já os contratos agrários estão 
no direito privado.
Outro elemento é a atividade agrária, é o denominador comum do direito agrário, 
já que esta atividade estabelece a segurança alimentar (também cai em prova).
A segurança alimentar se dá pela estabilidade no país da produção de alimentos 
para a população, sem a necessidade de importação. Trata-se de autossustentabilidade, 
sendo que todo o consumido é colhido de dentro do país.
O quarto elemento é a função social, a qual é reverenciada no direito agrário, pois 
contribui para que o imóvel seja um bem de produção de matéria-prima. Assim, é o 
eixo central do direito agrário. 
O primeiro diploma a demonstrar este elemento “função social da propriedade” 
foi o Estatuto da Terra de 1964. Esta ideia foi tida como comunista pela época e foi 
deixada de lado. A CF mexicana em 1917 e alemã de Weimar em 1919 já tinham ado-
tado a função social da propriedade. Hoje esta função está descrita no art. 186 da CF. 
3. Função social da propriedade agrária
3.1 Apresentação 
Neste capítulo, aprofundando o estudo do Direito Agrário, veremos questões 
sobre a função social da propriedade agrária.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
8
3.2 Síntese
A função social da propriedade agrária é o elemento central do direito agrário, 
ajuda para que o imóvel possa ser um bem de produção de alimento e de matéria-
-prima. Desta forma, a ideia é que se atinja a segurança alimentar.
O primeiro diploma legal brasileiro que trouxe esse conceito foi o Estatuto da 
Terra e, como vimos, não foi o período ideal, pois era consideradaideia comunista.
Esta função social está no art. 186 da CF que diz: A função social é cumprida 
quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de 
exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio 
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Alguns elementos devem ser observados. O primeiro elemento é o elemento pro-
dução, previsto no art. 186, inciso I. É aquele que fala do uso adequado e racional 
da produtividade. Tem por objetivo que o imóvel se torne produtivo, buscando-se, 
assim, a segurança alimentar, gerando impostos, empregos, etc.
O segundo elemento é o elemento ecologia, previsto no art. 186, inciso II. Tra-
balha a ideia de preservação e conservação dos recursos naturais, sendo que as em-
presas agrárias têm que ter uma responsabilidade social, tendo que evitar a poluição 
ambiental. Assim, se a produção tem algum efeito ao meio ambiente (efeitos para a 
terra, contaminação do solo, rios, etc.) esta tem que buscar outra maneira de fazê-la. 
Não se pode pensar então em produtividade a qualquer custo. 
O terceiro elemento é o social, nos termos do art. 186, inciso III. Faz com que 
a produção respeite as relações de trabalho, sendo que a produção deve observar 
as normas do direito do trabalho, acatando os salários condizentes, equipamentos 
de proteção e segurança, etc. Em nosso país, ainda existem trabalhos quase escra-
vos, com salários baixíssimos e sem nenhuma outra regra do direito do trabalho.
O último elemento é o bem-estar, previsto no art. 186, inciso IV. Estabelece o 
bem-estar entre o empregado e empregador, devendo existir uma cordialidade entre 
ambos.
O art. 186 determina que a função social exija a presença simultânea dos quatro 
elementos. Assim, discute-se se é possível desapropriar propriedade produtiva, caso 
não haja os outros elementos, o que veremos em unidade específica.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
9
4. Institutos de direito agrário
4.1 Apresentação 
Neste capítulo, continuando o estudo do Direito Agrário, veremos como se dividem 
e quais são os institutos do direito agrário.
4.2 Síntese
O primeiro instituto é a classificação do imóvel rural e proteção à pequena proprie-
dade, art. 185 da CF e art. 4º da Lei Material da Reforma Agrária (Lei nº 8.629/1993).
O segundo é a política agrícola, que consta nos arts. 184 a 191 da CF.
O terceiro instituto é o ITR progressivo, devendo ser analisada a Lei nº 9.393/1996 
e o art. 153, inciso IV, § 4º da CF.
O quarto instituto é a desapropriação agrária por interesse social para fins de 
reforma agrária, nos termos do art. 184 e seguintes da CF.
O quinto instituto traz as terras públicas, em que se incluem as terras devolutas 
do art. 189 da CF, terra dos índios, prevista no art. 231 da CF e quilombos (ainda 
existem em nosso país), nos termos do art. 68 do ADCT.
O sexto instituto é a usucapião rural ou agrária; está previsto no art. 191 da CF, 
reproduzido no art. 1.239 do CC.
O sétimo instituto é regulamentação da aquisição de terras por estrangeiros. Há 
uma preocupação em relação à soberania nacional e, assim, deve haver esta regula-
mentação. Tem que se observar o tipo de produção, se haverá exportação, etc., sendo 
buscada a segurança alimentar. 
Desta forma, 30% são o máximo dentro dos municípios que podem ser adquiridos 
pelos estrangeiros. Hoje, estes se organizam em pessoas jurídicas e compram além do 
previsto, sendo imperiosa uma normalização pública neste sentido.
O oitavo instituto são os contratos agrários que estimulam a produtividade e de-
sestimulam a improdutividade. Como exemplos, têm-se o arrendamento rural, com 
o objetivo de dar produtividade do imóvel e a parceria agrícola (parceria agrícola ou 
de agronegócio (pecuária). 
5. Classificação do imóvel rural
5.1 Apresentação 
Neste capítulo, veremos uma importante questão para o concurso público: a 
classificação de imóvel rural.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
10
5.2 Síntese
O imóvel rural pode ser classificado de duas formas: pela natureza e pela dimensão.
Pela natureza, pode ser urbano ou rural. Neste estudo, nos interessa o imóvel rural, 
mas temos que entender a classificação para diferenciar estes imóveis.
Esta diferença por natureza é feita por dois subcritérios: localização e destinação. 
Quanto ao subcritério da localização, deve ser verificado se o imóvel está locali-
zado na zona urbana (imóvel urbano) ou na zona rural (imóvel rural). 
O plano diretor municipal é o responsável por delimitar onde está a zona urbana. 
O art. 32 do CTN nos ajuda a entender onde é esta zona urbana; diz então que a 
zona urbana exige pelo menos dois requisitos deste artigo. 
Dispõe o artigo: O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade 
predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou 
a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, 
localizado na zona urbana do Município.
§ 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei 
municipal; observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em 
pelo menos 2 (dois) dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público:
I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II - abastecimento de água;
III - sistema de esgotos sanitários;
IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição do-
miciliar;
V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilô-
metros do imóvel considerado.
Assim, segundo o art. 29 do CTN, se define zona rural por exclusão, ou seja, é 
aquela que não é urbana.
Este critério da localização é adotado em duas situações: pelo CTN em relação 
ao IPTU e ITR e pela CF nas modalidades de usucapião urbana e agrária, de acordo 
com os arts. 183 e 194.
O segundo subcritério é o da destinação prevista no art. 4º da Lei Material da 
Reforma Agrária, lei que usa este critério: Estabelece o art. 4º Para os efeitos desta 
lei, conceituam-se:
I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua loca-
lização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa 
vegetal, florestal ou agroindustrial;
II - Pequena Propriedade - o imóvel rural:
a) de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais (...)
III - Média Propriedade - o imóvel rural:
a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais; (...)
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
11
Parágrafo único. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária 
a pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra 
propriedade rural.
Por estes critérios, pode-se dizer que imóvel rural é aquele que tem atividade 
agrária, e isto é importante independentemente da localização. 
Para se ter a atividade agrária, são necessários dois elementos: processo agrobio-
lógico (interação do homem com a natureza, buscando a produção de alimento e 
matéria-prima) e risco correlato (o trabalho do produtor pode sofrer interferência dos 
fatos naturais, tendo o risco de não dar certo).
6. Classificação do imóvel rural pela dimensão e 
proteção à pequena propriedade
6.1 Apresentação 
Neste capítulo, continuando com a classificação do imóvel rural, veremos sua 
classificação por dimensão e a proteção à pequena propriedade.
6.2 Síntese
A classificação do imóvel por sua dimensão pode ocorrer mediante de duas for-
mas: pelo Estatuto da Terra e pela CF. O Estatuto da Terra está derrogado, mas é 
importante para fins de entendimento da matéria.
A Leinº 4.504/1964 classifica o módulo fiscal e representa a chamada proprieda-
de familiar (conceito moderno advindo do estatuto, que falava sobre o módulo rural, 
sendo que o art. 4º, inciso II diz que propriedade familiar é: II - “Propriedade Fami-
liar”, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famí-
lia, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso 
social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e 
eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros. 
O conceito de módulo rural é derivado do conceito de propriedade familiar e sen-
do uma unidade de medida expressa em hectares, diz respeito ao imóvel suficiente 
para exploração de uma família com até quatro pessoas. 
O Estatuto prevê várias dimensões. O minifúndio é a propriedade menor que um 
módulo rural, não permite cumprimento de função social. 
Existe, ainda, a empresa rural (de um a seiscentos módulos rurais); o latifúndio 
que é subdividido, por dimensão (acima de 600 módulos rurais, propriedade dos la-
tifundiários) e por exploração (são imóveis improdutivos que não atendem a função 
social da propriedade, independentemente de seu tamanho).
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
12
Ressalte-se que minifúndios e latifúndios podem ser desapropriados, os demais não.
Dispõe o art. 4º: Para os efeitos desta Lei, definem-se:
I - “Imóvel Rural”, o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua 
localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial, 
quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada;
II - “Propriedade Familiar”, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado 
pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes 
a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada 
região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros;
III - “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior;
IV - “Minifúndio”, o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da pro-
priedade familiar;
V - “Latifúndio”, o imóvel rural que:
a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1º, alínea “b”, desta 
Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a 
que se destine;
b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou su-
perior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em re-
lação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, 
ou seja deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão 
no conceito de empresa rural;
VI - “Empresa Rural” é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública 
ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condi-
ção de rendimento econômico ...vetado... da região em que se situe e que explore 
área mínima agricultável do imóvel segundo padrões fixados, pública e previamente, 
pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas cultivadas, as pastagens, 
as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias;
VII - “Parceleiro”, aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em área destina-
da à Reforma Agrária ou à colonização pública ou privada;
VIII - “Cooperativa Integral de Reforma Agrária (CIRA)”, toda sociedade coo-
perativa mista, de natureza civil, ...vetado... criada nas áreas prioritárias de Reforma 
Agrária, contando temporariamente com a contribuição financeira e técnica do Po-
der Público, através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, com a finalidade de 
industrializar, beneficiar, preparar e padronizar a produção agropecuária, bem como 
realizar os demais objetivos previstos na legislação vigente;
IX - “Colonização”, toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promo-
ver o aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar 
ou através de Cooperativas. 
Parágrafo único. Não se considera latifúndio:
a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características reco-
mendem, sob o ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racional-
mente realizada, mediante planejamento adequado;
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
13
b) o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação 
florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamen-
to, pelo órgão competente da administração pública.
Esta classificação não foi totalmente recepcionada pela CF/1988. O art. 185 da 
CF e a Lei Material da Reforma Agrária (Lei nº 8.629/1993) estabeleceram a proprie-
dade rural pequena, média e grande.
Propriedade pequena é composta por um a quatro módulos fiscais, média supe-
rior a quatro e inferior a dezesseis módulos fiscais e grande, maior ou igual a dezesseis 
módulos fiscais.
Módulo fiscal é a unidade de medida expressa em hectares fixada em cada muni-
cípio, observando diversos fatores: função, tipo de exploração, modo, etc., diferente 
do conceito de propriedade familiar.
Existe diferença entre o módulo rural previsto no Estatuto da Terra e módulo 
fiscal (CF e Lei Material da Reforma Agrária).
O módulo fiscal é estabelecido para cada município, refletindo a área mediana 
dos imóveis rurais do município. Isso porque, a pequena propriedade não pode ser 
objeto de reforma agrária e a grande só poderá ser objeto se não for cumprida sua 
função social.
A proteção à pequena propriedade, prevista no art. 5º, XXVI da CF, estabelece 
que é impenhorável: XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, 
desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de 
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de fi-
nanciar o seu desenvolvimento. Portanto, é exemplo de bem de família, desde que os 
créditos decorram da atividade produtiva.
7. Política agrícola
7.1 Apresentação 
Neste capítulo, veremos que, dentro do Direito Agrário, devem existir políticas 
agrícolas, que buscam a segurança alimentar do país.
7.2 Síntese
A política agrícola é inerente somente à União e possui algumas características. A 
primeira é a segurança alimentar, prevista no art. 187 da CF. Para poder existir, são 
necessárias políticas do Poder Público, como: incentivos fiscais; créditos aos produto-
res (abertura de linhas de crédito para produção agrária) por meio do BNDES; preços 
compatíveis com o custo da produção; e garantia de comercialização.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
14
É preciso que haja incentivo à pesquisa e à tecnologia, para que esta produção 
esteja sempre atualizada à tecnologia de ponta.
Ainda, é necessária assistência técnica e de extensão rural, pois permite aos agri-
cultores estarem atualizados acerca das necessidades inerentes a suas funções.
O seguro agrícola também demonstra ser relevante, já que os produtores estão 
sujeitos à perda de plantações, de suas produções. 
Outro fator importante é o cooperativismo, organizações em cooperativas, esti-
mulando a livre concorrência e melhor distribuição dos produtos.
Temos, ainda, a eletrificação e irrigação (necessidade para a devida produção).
Habitação para o trabalhador rural, no campo, demonstra ser mais um relevante 
ponto a respeito do assunto.
Também é importante o ITR progressivo (art. 153, VI e § 4º da CF); faz parte da 
política agrícola que controlará o que deve ser objeto da produção, mesmo que de 
forma indireta.
Assim, este tem o objetivo de desestimular as propriedades improdutivas. Não 
incide sobre pequenas glebas rurais, quando o proprietário não possui outro imóvel. 
Ainda, será fiscalizado ou cobrado pelo município.
Temos o instituto da usucapião agrária (art. 191 da CF), que permite a circulação 
da propriedadeprodutiva a quem queira produzir.
A política urbana é feita por meio de plano diretor municipal, mediante o qual se 
verifica se a propriedade está ou não cumprindo sua função social. Assim, pode ser ve-
rificada a usucapião urbana (art. 183), o IPTU progressivo e a edificação compulsória 
por meio de obrigação de fazer.
8. ITR - Imposto sobre Território Rural
8.1 Apresentação 
Neste capítulo, veremos o conceito e peculiaridades do ITR, o Imposto Territorial 
Rural.
8.2 Síntese
O ITR está previsto no art. 153, inciso VI, § 4º da CF e na Lei nº 9.393/1996. 
Trata-se de um estímulo à propriedade produtiva, pois a CF permite a variação de 
alíquotas e imunidades para as pequenas propriedades.
O ITR é um tributo de competência federal, mas o art. 158 da CF permite a 
distribuição. Desta forma, 50% do valor ficam com a União e os demais 50%, para 
o município. 
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
15
Tal regra estabelece a divisão das receitas do ITR; o regramento foi modificado 
pela EC nº 42. Além do disposto acima, a EC permite que o município faça um con-
vênio com a União para verificar os valores e arrecadar tributos. Quando é feito este 
convênio, o município poderá ficar com 100% do valor arrecadado.
Ressalte-se que mesmo sendo feito convênio, somente lei federal poderá discipli-
nar a respeito dos elementos deste tributo.
O ITR possui alguns elementos. O primeiro é o fato gerador do tributo, que, neste 
caso, é a posse, domínio útil ou a propriedade de imóvel rural em 1º de janeiro.
Nota-se que o imóvel rural será definido para fim de incidência do ITR de acordo 
com a sua localização.
O segundo elemento é a base de cálculo, que é o valor da terra nua tributável 
(VTN), devendo ser retiradas da base de cálculo as áreas não aproveitáveis, as quais 
são chamadas de reserva legal.
As áreas de reserva legal podem corresponder de 20% a 50% da área sem apro-
veitamento.
A alíquota do ITR pode variar até 20%, dependendo da produtividade, ficando a 
menor alíquota para as terras menores e mais produtivas.
O sujeito ativo do tributo é a União, que por meio da Procuradoria da Fazenda 
Nacional cobrará o tributo e por intermédio da Secretaria da Receita Federal admi-
nistrará. Vale lembrar que o Incra cobrava o tributo até o ano de 1992.
O sujeito passivo do tributo é o proprietário ou possuidor do imóvel ou da área, 
lembrando que a CF estabelece que as pequenas propriedades rurais são imunes ao 
ITR.
O ITR não incide sobre pequenas glebas rurais, nos casos de exploração pela 
família ou que seja o único bem. 
Ressalte-se que são pequenas glebas rurais os imóveis com tamanho igual ou in-
ferior a cem hectares, se localizados em município compreendido na Amazônia Oci-
dental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense, mas cinquenta hectares 
se localizado em município compreendido no Polígono das Secas ou na Amazônia 
Oriental e trinta hectares se localizado em qualquer outro município.
São isentos do tributo os imóveis que estiverem inscritos em programa oficial de 
reforma agrária e atenda a outros requisitos. A previsão legal que dispõe a respeito da 
isenção encontra-se no art. 3º da Lei nº 9.393/1996.
9. Desapropriação para fins de reforma agrária
9.1 Apresentação 
Neste capítulo, vemos um importante instituto do Direito Agrário, a desapro-
priação para fins da reforma agrária.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
16
9.2 Síntese
A CF chama este tipo de desapropriação de desapropriação por interesse social, 
pois originalmente será por necessidade pública ou interesse público. 
A competência material para desapropriação para fins de reforma agrária é da 
União, pois tem obrigação de cuidar deste setor público. Todavia, quem realiza é o 
Incra (competência administrativa).
O STJ entende que a competência material é exclusiva da União, não cabendo 
aos estados promover este tipo de desapropriação.
Para fins de reforma agrária, a competência jurisdicional é da Justiça Federal, 
nos termos do art. 109, inciso I da CF, porém, aplica-se subsidiariamente o art. 95 
do CPC.
O conceito trazido por Caio Mário da Silva Pereira é de que se trata de mutação 
dominial compulsória, já que a pessoa, pelo desejo da União, perde a propriedade 
compulsoriamente. 
O art. 5º e incisos XXII e XXIII da CF/1988, protegem o direito de propriedade 
(garantia de conservação da propriedade), estabelecendo que só haja esta proteção 
caso se respeite a função social da propriedade.
O inciso XXIV dispõe que “a lei estabelecerá o procedimento para desapropria-
ção por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e 
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”. 
O art. 182 da Carta Magna dispõe acerca da desapropriação para fins de reforma 
urbana. 
Já o art. 184 da CF trata da desapropriação para fins de reforma agrária, trazendo 
em seu caput: “Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de re-
forma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante 
prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação 
do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua 
emissão, e cuja utilização será definida em lei.”
Dispõe o § 3º do dispositivo: “Cabe à lei complementar estabelecer procedimen-
to contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação.”
O § 4º traz que: “O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da 
dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de 
reforma agrária no exercício.”
Já o § 5º do mesmo artigo dispõe: “São isentas de impostos federais, estaduais 
e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de 
reforma agrária.”
Outra exceção ao art. 5º, inciso XXIV é o confisco de terras, nos termos do art. 
243 da CF: “As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas 
ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente 
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
17
destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e 
medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras 
sanções previstas em lei.”
Estas são as exceções quanto à forma de pagamento presente no art. 5º, inciso 
XXIV da CF, lembrando que no confisco não há pagamento algum, exceção também 
à garantia constitucional da propriedade.
10. Regras do processo de desapropriação agrária
10.1 Apresentação 
Neste capítulo, continuando o estudo da desapropriação, veremos como ocorre 
o processo de desapropriação agrária.
10.2 Síntese
Sobre as regras processuais a respeito da desapropriação agrária, o art. 184 da CF 
previu que a lei complementar iria estabelecer o processo. A Lei Complementar 
nº 76/1993 ficou conhecida como lei processual da reforma agrária.
A função social se baseia na produção, na ecologia e, obviamente, no social. O 
Incra verifica tais elementos mediante o procedimento administrativo denominado 
vistoria prévia.
Indaga-se se seria possível a desapropriação de terra produtiva. Para o questiona-
mento, existem duas correntes que abordam o assunto. 
Para José Afonso da Silva, tem-se que interpretar literalmente o texto constitucional, 
ou seja, ela nunca poderá ser desapropriada por este motivo. 
Já a outra corrente entende que o art. 185 da CF deve ser interpretado em harmo-
nia com os arts. 184 e 186 da CF. Assim, a imunidade somente valerá caso cumpra a 
função social, observando todos os elementos (corrente majoritária).
São diversas as fases do processo de desapropriação, nos termos da LC nº 76/1993 
e da Lei nº 8.629/1993. A primeira é a fase da vistoria prévia, é um processo adminis-
trativo realizado pelo Incra, que ingressa no imóvel everifica se os requisitos consti-
tucionais da função social estão sendo observados. 
Nota-se que o agrimensor foi substituído pelo GPS, pois este fornece informações 
precisas a respeito da propriedade.
A Medida Provisória nº 2.183, que alterou a Lei nº 8.629/1993, estabeleceu o 
contraditório para a fase da vistoria prévia; assim, segundo o STF, existe o direito 
ao contraditório nesta fase. 
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
18
A segunda fase é denominada fase do decreto expropriatório, que será feito pelo 
Presidente da República. Caso alguém queira questionar este decreto, deverá recor-
rer ao STF por meio de mandado de segurança, já que se trata de um ato administra-
tivo exclusivo e indelegável do Presidente da República, havendo prazo decadencial 
de dois anos. 
A ação judicial parte do pressuposto de que não houve um acordo entre as partes. 
Para que haja desapropriação judicial, é preciso que alguns itens sejam observados.
O primeiro item é a legitimidade ativa, sendo o Incra autor da ação. Quanto à 
legitimidade passiva, esta seria do proprietário do imóvel rural. 
O rito a ser seguido é o rito sumário, nos termos da Lei Complementar nº 76/1993.
Os requisitos da petição inicial devem seguir o art. 282 do CPC, bem como pedi-
do de desapropriação, no qual deverá haver o pedido do registro de imóvel no nome 
do Incra, não havendo o ITR por se tratar de hipótese de isenção.
A natureza jurídica da ação é constitutiva e o valor da causa será o valor da indeni-
zação ofertada (em dinheiro para as benfeitorias). Deve ser realizada a devida perícia 
na terra para que se saiba a respeito dos valores das benfeitorias.
Devem ser observados os devidos documentos: laudo de vistoria prévia, certidão 
imobiliária, mapa da área, texto do decreto expropriatório, depósito judicial. 
O Incra poderá entrar liminarmente na posse no início do processo, autorizando 
ao juiz o levantamento de 80% do valor depositado a título de indenização por ben-
feitorias (parte incontroversa).
Ressalte-se que a mesma decisão que determina a averbação da existência da 
ação judicial no registro imobiliário para dar publicidade e proteger os interesses do 
terceiro de boa-fé, antes da citação, vai mostrar que o proprietário perderá a posse.
11. Pontos polêmicos da reforma agrária
11.1 Apresentação 
Veremos neste capítulo algumas peculiaridades da reforma agrária.
11.2 Síntese
Primeiramente, é preciso que se faça um resumo das fases do processo de desa-
propriação.
A primeira fase traz a vistoria prévia, que pode ser feita por fotografia, por satélite 
ou por GPS.
A segunda fase é denominada fase do decreto expropriatório.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
19
A terceira fase é a da ação judicial. Já forão estudados a legitimidade ativa; legiti-
midade passiva; rito; requisitos da petição inicial; natureza jurídica da ação; valor da 
causa e os documentos que acompanham a petição inicial.
É preciso lembrar que pode ser concedida liminar de imissão na posse, ou seja, o 
juiz poderá liminarmente conceder imissão provisória da posse para o Incra. Assim, 
a pessoa é retirada da posse, podendo levantar 80% do depósito referente à parte 
incontroversa. 
A mesma decisão determina a averbação da existência da ação judicial no registro 
imobiliário, para que haja publicidade e proteção ao terceiro de boa-fé.
Neste processo, antes mesmo da citação, o proprietário perde a posse. Depois da 
imissão na posse, a contestação deverá ser ofertada no prazo de quinze dias e a reali-
zação de audiência de tentativa de conciliação será obrigatória.
Se esta for infrutífera, poderá ser designada perícia para nova avaliação do imóvel.
Na sequência, o juiz designará audiência de instrução e julgamento. O motivo 
da desapropriação é um dos objetos da ação, devendo o juiz verificar se este objeto é 
ou não legítimo, sendo que da sentença que julga procedente a ação cabe recurso de 
apelação, a qual será recebida somente no efeito devolutivo.
O primeiro ponto polêmico é que é comum o proprietário, ao ver que será de-
sapropriado, ingressar com ação declaratória de cumprimento da função social da 
sociedade cumulada com pedido de tutela antecipada, tendo o objetivo de suspender 
qualquer ação do Poder Público no que se refere à desapropriação.
Outro ponto polêmico é que é possível apresentar projetos agropecuários em que 
o proprietário se compromete a fazer investimentos para cumprir a função social 
dentro de um período de cinco anos. O problema é que o proprietário confessa que 
não está dando cumprimento à função social da propriedade.
Outro aspecto controvertido é que é proibida a desapropriação de áreas ocupadas 
ou invadidas que deixaram de ser produtivas. O STF se manifestou a respeito do as-
sunto no Mandado de Segurança nº 23.323, que foi publicado no Informativo nº 175. 
Tal situação também foi objeto de discussão na ADIn nº 2.313.
Assim, por conta da improdutividade momentânea, não poderá o imóvel ser de-
sapropriado.
12. Desapropriação judicial do art. 1.228, §§ 4º e 
5º do CC
12.1 Apresentação 
Neste capítulo, veremos outra forma de desapropriação, para assim podermos 
diferenciá-la da regra vista anteriormente.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
20
12.2 Síntese
A desapropriação judicial é diferente da desapropriação para fins de reforma agrá-
ria. A desapropriação judicial se dá por sentença, feita pelo juiz, tendo uma sentença 
e não um decreto expropriatório.
O art. 1.228 dispõe: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da 
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou 
detenha.”
Seu § 4º traz que: “O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel 
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais 
de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, 
em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse 
social e econômico relevante.”
O § 5º estabelece: “No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa inde-
nização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o 
registro do imóvel em nome dos possuidores.”
Miguel Reale colocou ser esta a forma mais correta de desapropriação, sendo a 
melhor inovação trazida pelo novo CC.
O professor Carlos Alberto Dabus Maluf diz que as regras contidas nesses pará-
grafos abalam o direito de propriedade, impondo dano ao proprietário, já que nem 
sempre a indenização será justa.
Judith Martins Costa entende que a regra é digna de nota, pois no país temos pro-
blemas no direito fundiário. A pessoa que está na posse está permitindo que o imóvel 
cumpra sua função social. 
Assim, discute-se se este instituto é constitucional ou não, sendo que ordinariamen-
te o ato de expropriação é executivo e passou a ser também do Poder Judiciário, porém, 
não afronta princípio algum constitucional, segundo o Enunciado nº 82 do CJF.
Alguns doutrinadores chamam de usucapião coletiva, todavia, a nomenclatura não 
é correta, uma vez que não é do instituto da usucapião o pagamento de indenização.
Nota-se que o dispositivo trata de imóvel reivindicado, exigindo a ação reivindica-
tória. O Enunciado nº 310 do CJF diz que: “Interpreta-se extensivamente a expressão 
“imóvel reivindicado” (art. 1.228, § 4º), abrangendo pretensões tanto no juízo petitó-
rio quanto no possessório.”
Este dispositivo fala também em extensa área, não especificada pelo legislador. O 
Incra fornece subsídios ao magistrado para que a análise seja feita.
Outro requisito previsto no dispositivo é ser considerado pelo juiz como de inte-
resse social e econômico relevante. O magistrado verificará tais fatores.
Uma situação interessante é: O imóvel está ocupado por uma pessoa e o juiz 
decide que esta posse está longe da relevância economia e interessesocial. Seria o 
proprietário merecedor de retornar à posse? De acordo com o Enunciado nº 306 
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
21
do CNJ: “A situação descrita no § 4º do art. 1.228 do Código Civil enseja a improce-
dência do pedido reivindicatório.” 
O § 4º fala em boa-fé, que é aquela em que a pessoa desconhece o vício da posse. 
O Enunciado nº 309 do CJF, diz que: “O conceito de posse de boa-fé de que trata o 
art. 1.201 do Código Civil não se aplica ao instituto previsto no § 4º do art. 1.228.” O 
conceito empregado aqui é o de boa-fé objetiva e não subjetiva.
O Enunciado nº 84 do CJF que diz: “A defesa fundada no direito de aquisição 
com base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser 
arguida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento 
da indenização.” 
Corre-se o risco de as partes não poderem pagar a indenização, e, assim, como a 
ação será julgada improcedente, o Poder Público deverá arcar. Poderá, ainda, o Poder 
Público desapropriar e receber parceladamente dos possuidores.
13. Enunciados do CJF sobre desapropriação 
judicial agrária, terras devolutas e públicas
13.1 Apresentação 
Neste capítulo, continuando o estudo do direito agrário, veremos os Enuncia-
dos do CJF que tratam da desapropriação judicial agrária, terras devolutas e 
públicas.
13.2 Síntese
Dispõe o Enunciado nº 83: “Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder 
Público, não são aplicáveis as disposições constantes dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do 
novo Código Civil.” Como o bem público não pode ser alienado, em regra, não po-
deria sofrer a situação de desapropriação.
Estabelece o Enunciado nº 84: “A defesa fundada no direito de aquisição com 
base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser argui-
da pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento da 
indenização.”
Se os possuidores forem de baixa renda, como vimos, as despesas serão arcadas 
pelo Poder Público, de acordo com o Enunciado nº 308: “A justa indenização devida 
ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá 
ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas públicas de refor-
ma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa renda e desde que tenha 
havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os possuidores 
de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil.” 
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
22
O Enunciado nº 240 dispõe: “A justa indenização a que alude o parágrafo 5º do 
art. 1.228 não tem como critério valorativo, necessariamente, a avaliação técnica 
lastreada no mercado imobiliário, sendo indevidos os juros compensatórios.” 
Já o Enunciado nº 241 determina: “O registro da sentença em ação reivindica-
tória, que opera a transferência da propriedade para o nome dos possuidores, com 
fundamento no interesse social (art. 1.228, § 5º), é condicionada ao pagamento da 
respectiva indenização, cujo prazo será fixado pelo juiz.” 
Deve-se observar o prazo para pagar esta indenização, pois se não for paga ocorrerá 
prescrição e não haverá mais a possibilidade de cobrar este valor.
O Enunciado nº 304 estabelece: “São aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do 
art. 1.228 do Código Civil às ações reivindicatórias relativas a bens públicos domini-
cais, mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I Jornada de Direito Civil, no que 
concerne às demais classificações dos bens públicos.”
O Enunciado nº 305 prescreve: “Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do 
art. 1.228 do Código Civil, o Ministério Público tem o poder-dever de atuação nas 
hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que envolvam relevante interesse 
público, determinado pela natureza dos bens jurídicos envolvidos.”
O Enunciado nº 307 dispõe: “Na desapropriação judicial (art. 1.228, § 4º), poderá 
o juiz determinar a intervenção dos órgãos públicos competentes para o licenciamento 
ambiental e urbanístico.”
O Enunciado nº 311 fixa: “Caso não seja pago o preço fixado para a desapropriação 
judicial, e ultrapassado o prazo prescricional para se exigir o crédito correspondente, 
estará autorizada a expedição de mandado para registro da propriedade em favor dos 
possuidores.”
Terras públicas é gênero, camada de terras públicas lato sensu, todas aquelas per-
tencentes ao Poder Público, incluindo as chamadas terras devolutas.
As terras devolutas são espécies de terras públicas lato sensu. Existem duas 
espécies de terras públicas. As stricto sensu são aquelas em que os bens determinados 
são de bem público especial ou patrimonial. Exemplo: fazenda de propriedade da 
Administração Pública para fins de pesquisa.
As terras públicas em sentido amplo são as terras devolutas, áreas que não passaram 
do patrimônio público para o particular de forma legítima.
No Brasil, utiliza-se o princípio da posse histórica das terras, entendendo que 
as terras têm origem pública. Assim, as terras devolutas são aquelas adquiridas pelo 
Estado Brasileiro por sucessão à Coroa Portuguesa, tendo em vista os fatos históricos.
A faixa de fronteira, exemplo de terra pública, está tipificada no art. 20, § 2º da 
CF: “A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras 
terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa 
do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.”
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
23
14. Aquisição de terras por estrangeiros e 
usucapião agrária
14.1 Apresentação 
Neste capítulo, veremos dois institutos importantes e relativos ao direito agrário, 
a aquisição de terras por estrangeiros e a usucapião agrária.
14.2 Síntese
Aquisição de terras rurais por estrangeiros está prevista no art. 190 da CF: “A lei 
regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa 
física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização 
do Congresso Nacional.”
Nota-se que este artigo limita esta aquisição ou arrendamento, sendo que a restrição 
tem o objetivo de proteger nossa soberania nacional. Assim, estabelece-se em lei que 
o estrangeiro não pode ser proprietário de mais de 30% de uma propriedade rural 
(tanto pessoa física quanto jurídica estrangeira).
É possível termos empresas nacionais com capital estrangeiro, pois estas não são 
consideradas empresas estrangeiras.
O CC e a CF/1988 trazem modalidades de usucapião. A primeira seria a usuca-
pião extraordinária de bem imóvel, de acordo com o art. 1.238 do CC, não havendo 
restrição para bem imóvel urbano ou rural, ou seja, traz como único requisito a posse 
ininterrupta e sem oposição pelo prazo de quinze anos, independentemente de justo 
título e boa-fé.
O parágrafo único do dispositivo diz que é possível reduzir o prazo para dez anos 
se houver posse qualificada e moradia ou investimento de caráter produtivo.
Outra modalidade é a usucapião ordinária de bem imóvel, descrita no art. 1.242 
do CC: “Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontes-
tadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.”
Seu parágrafo único também permite redução de prazo, quando o possuidor dá 
cumprimento à função social da propriedade. Tem como requisitos: aquisição onerosa, 
registro de título cancelado, posse qualificada, estabelecendo no imóvel moradia ou 
investimentos de caráter social e produtivo.
Os requisitos da usucapião do art. 1.240 do CC são: área urbana de até duzentos 
e cinquenta metros quadrados; prazo de cinco anos; posse ininterrupta e sem oposi-
ção; imóvel utilizado para moradia e o possuidor não pode ser proprietário de imóvel 
urbano ou rural.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
24
15. Usucapião agrária e requisitos pessoais,reais e formais da usucapião
15.1 Apresentação 
Neste capítulo, finalizando o estudo do Direito Agrário, veremos mais alguns 
dos requisitos para a decretação da usucapião.
15.2 Síntese
A usucapião agrária ou rural está prevista no art. 191 da CF, o qual foi reproduzi-
do pelo art. 1.239 do CC. 
O art. 191 da CF traz os requisitos. O primeiro é área localizada em zona rural, 
sendo adotado o critério da localização.
A área não pode ultrapassar cinquenta hectares. Ainda, o prazo de posse é de 
cinco anos, devendo a posse ser ininterrupta e sem oposição.
O imóvel deve ser utilizado para moradia e também o possuidor não pode ser 
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Além da moradia, o possuidor deverá tornar a terra produtiva (posse pro labore ou 
posse trabalho). Trata-se da posse qualificada.
A usucapião do Estatuto da Cidade é a chamada usucapião coletiva (art. 10). É 
uma modalidade que traz como requisitos: área localizada em zona urbana, com 
mais de 250 m²; área ocupada por população de baixa renda; área utilizada para 
moradia; posse por cinco anos ininterruptos e sem oposição; impossibilidade de iden-
tificar o que é de cada possuidor; necessidade de litisconsórcio ativo necessário; os 
possuidores não podem ser proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
A usucapião que nos interessa é aquela que pode ser aplicada no direito agrário. 
Os requisitos da usucapião são vários. O primeiro é que o usucapiente deve exer-
cer posse com animus domini. 
O segundo é que a pessoa que quer usucapir não pode ser proprietária de outro 
imóvel urbano ou rural na modalidade rural.
Observe-se que qualquer direito real de coisa alheia de gozo ou fruição pode ser 
usucapido. Exemplo: servidão e usufruto.
Quanto à natureza jurídica, temos prazo com natureza prescricional. Trata-se de 
prescrição aquisitiva. Por conta de tal prazo, tanto a doutrina quanto a jurisprudência 
entendem que se aplicam as regras de prescrição extintiva (arts. 197, 198, 199 e 202).
Quanto aos requisitos reais, temos que a usucapião exclui bens públicos. 
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
25
A CF fala em cinquenta hectares. Assim, o que aconteceria com uma pessoa 
que pretende usucapir quinhentos hectares? A jurisprudência admite que a ação seja 
julgada parcialmente procedente, uma vez que a área excedente pode ser objeto de 
uma nova ação de usucapião.
Se o sujeito entra com ação requerendo cinquenta e um hectares, por exemplo, 
a jurisprudência atual entende que o pedido deve ser julgado totalmente procedente.
Quanto aos requisitos formais, a usucapião extraordinária e ordinária de bem 
imóvel permite a junção de posses inter vivos ou causa mortis, de acordo com o art. 
1.243, que dispõe: “O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos 
artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), con-
tanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título 
e de boa-fé.”
Na usucapião rural e na usucapião urbana, não será possível a junção de posse, 
só sendo permitida a junção causa mortis.
Por fim, o processo de qualquer modalidade de usucapião é regido pelo art. 941 
e seguintes do CPC.
D
ire
ito
 A
gr
ár
io
26

Continue navegando