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Do Pagamento

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DOS EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES – DO PAGAMENTO
Base legal: Art.304 , CC/02
Conceito: 
Pagamento, no sentido técnico, refere-se ao cumprimento voluntário (ou adimplemento em sentido estrito) da prestação (‘solutio’), qualquer que seja a espécie da obrigação, aplicando-se os paradigmas da eticidade, da socialidade e da operabilidade. Afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 270) que “o pagamento não pode ser visto apenas como uma obrigação do devedor. Trata-se, também, de um direito subjetivo de exoneração do débito, sendo garantido pelo ordenamento jurídico, através de medidas hábeis, a compelir o credor ao recebimento pontual”.
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É controvertida na doutrina, tendo as seguintes definições:
Silvio Rodrigues e Carlos Roberto Gonçalves: Ato Jurídico;
b) Orlando Gomes: afirma não ser possível qualificar uniformemente o pagamento, dependendo a análise da qualidade da prestação e de quem o realizou. No seu entender, quando feito por terceiro é negócio jurídico.
c) Demais doutrinadores: ato jurídico ‘stricto sensu’
Quanto ao principal efeito é unânime, pois consiste em extinguir a obrigação, é preciso que estejam presentes os seguintes elementos de validade: existência do vínculo obrigacional; intenção de solvê-lo (‘animus solvendi’); cumprimento da prestação; pessoa que efetua o pagamento (‘solvens’); pessoa que recebe o pagamento (‘accipiens’)
Da Natureza Jurídica
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Condições Subjetivas do Pagamento
Ensina Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 162) que “sujeitos do cumprimento da obrigação são as partes que atuam no momento da execução da obrigação. Sujeito ativo é aquele que faz o pagamento, o solvens; sujeito passivo, o que recebe o pagamento, o accipiens”.
Quem deve pagar
A regra é que quem paga é o devedor obrigado, no entanto, o art. 304, CC, autoriza que qualquer interessado na extinção do vínculo possa fazê-lo (exceto se a obrigação for personalíssima). A lei considera que podem realizar o pagamento também:
a)    Terceiro interessado: quem tem interesse jurídico na extinção da dívida, como por exemplo, o fiador, o avalista, o sublocatário, o herdeiro.
 O terceiro interessado que paga a dívida sub-roga-se nos direitos do credor. Trata-se de sub-rogação pleno iure (art. 346, III, CC).
Opondo-se o credor a receber o pagamento de terceiro interessado, poderá este consignar em pagamento em nome próprio.
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b)    Terceiro não interessado: é quem tem interesse apenas moral (ou não jurídico) na extinção da dívida.
O terceiro não interessado que paga a dívida em nome próprio terá direito de reembolso (art. 305, CC/02 ação ‘in rem verso’, art. 884, CC/02); no entanto, se realizou o pagamento em nome do devedor perderá este direito, sendo considerado o ato mera liberalidade.
O terceiro não interessado só pode consignar em pagamento se o fizer em nome e à conta do devedor (trata-se de hipótese de legitimação extraordinária) e se não houver oposição deste (art. 304, parágrafo único, CC/02). Nestes casos, o terceiro será considerado representante ou gestor de negócios.
A oposição de devedor ao pagamento não significa proibição ao credor de recebê-lo. A oposição apenas retira o direito deste terceiro de consignar em pagamento.
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O pagamento feito por terceiro não interessado com desconhecimento ou oposição do devedor não obriga a reembolsar se provar que tinha meios para elidir totalmente a dívida (art. 306, CC/02).
Se o terceiro não interessado realiza o pagamento antes do vencimento da dívida, só poderá cobrá-la após o advento do termo ou condição (art. 305, parágrafo único, CC/02).
Há, no entanto, duas situações em que o terceiro não interessado sub-rogar-se-á nos direitos do credor: a) em caso de sub-rogação convencional (acordo com o credor, art. 347, I, CC/02); b) quando fizer o pagamento de dívida de devedor fiduciante perante o credor fiduciário (art. 1.368, CC/02).
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Pagamento feito com transmissão de propriedade
O art. 307, CC/02, afirma que só terá eficácia o pagamento que importar transmissão de propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto. 
“se a coisa for imóvel, algumas regras especiais precisam ser obedecidas:
 1) Menor sob poder familiar, é necessário autorização judicial para o pagamento; 
2) Menor tutelado ou Maior Curatelado, não é possível o pagamento porque a alienação neste caso só pode ser feita em hasta pública, a não ser que tenha havido prévia autorização judicial para constituição da obrigação;
4) se a pessoa for casada, tem que ter outorga conjugal; 
5) se for pessoa jurídica, tem que ter aprovação do órgão deliberativo, salvo previsão em contrário do estatuto; 
6) se for pessoa jurídica de direito público, tem que ter autorização legal”.
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IMPORTANTE
Se o devedor deu em pagamento coisa fungível (art. 85, CC/02) não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e a consumiu, ainda que o solvente não tivesse direito a aliená-la. Nestes casos, o verdadeiro proprietário só poderá reclamar daquele que entregou ilicitamente a coisa a outrem.
Vale ainda lembrar o disposto nos arts. 1.268, §1º. 1.420, §1º., CC, que autoriza a validade do pagamento realizado por quem não era titular do direito real (alienação ‘non domino’) se o adquirente (credor) estiver de boa-fé e o alienante (devedor) viera a adquirir, posteriormente, o domínio.
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A quem se deve pagar 
Ao Credor Originário – Art. 308, CC/02;
a.     Feito a terceiro quando ratificado pelo credor (art. 308, CC/02). A ratificação gera efeitos ‘ex tunc’.
b.     Feito a terceiro se demonstrado que reverteu em benefício do credor (art. 308, CC/02). O ônus de demonstrar que o benefício reverteu em benefício do credor é do devedor.
c.     Feito a credor putativo (art. 309, CC/02 – aplicação da teoria da aparência) que é aquele que tem aparência de ser o verdadeiro credor. Exige-se a boa-fé do devedor e a escusabilidade do erro para que o pagamento seja válido e eficaz.
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Uma vez que a quitação exige capacidade, o pagamento diretamente feito a credor incapaz será ineficaz, salvo:
Se o devedor demonstrar que o pagamento reverteu em benefício do incapaz (art. 310, CC/02;
- Se o devedor desconhecia a incapacidade (erro escusável);
- Se o relativamente incapaz em razão da idade dolosamente ocultou sua idade ou se declarou maior (art. 180, CC/02);
- Também não é válido o pagamento feito pelo devedor a credor de crédito hipotecado se tinha sido intimado da penhora feita (art. 312, CC/02).  Nestes casos, o pagamento não pode ser oposto aos terceiros que poderão constranger o devedor a pagar novamente.
O devedor estando em dúvida a quem deve realizar o pagamento, sugere-se que realize a consignação em pagamento para que evite pagar mal e pagar duas vezes.
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CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PAGAMENTO
O credor não é obrigado a receber prestação diversa da devida, ainda que mais valiosa (art. 313, CC/02 – vetor qualitativo da obrigação); 
 ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou (art. 314, CC/02 – Princ. da Indivisibilidade);
As despesas de entrega, quitação e qualquer outra decorrente do fato pagamento correm por conta do devedor, salvo disposição expressa em contrário (art. 325, CC/02).
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PROVA DO PAGAMENTO
A quitação é uma declaração unilateral, escrita e revogável, emitida pelo credor, de que a prestação foi efetuada e o devedor está liberado (Carlos Roberto Gonçalves, 2010, p. 260). 
A quitação regular é um direito do devedor que poderá, inclusive,
reter o pagamento ou consigná-lo caso o credor se negue a dá-la (arts. 319 e 335, I, CC/02), constituindo-se este último em mora (art. 394, CC/02).
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A quitação pode ser total ou parcial. Se o pagamento extingue, definitivamente, a relação jurídica obrigacional, a quitação libera completamente o devedor, denominando-se plena ou total. 
Há quitação parcial: 
1º.) quando o credor admite receber parceladamente dívida que pode exigir por inteiro; 
2º.) quando o pagamento deve ser efetuado em quotas periódicas. O devedor permanece vinculado, sendo liberado apenas da parcela quitada.
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São requisitos de validade da quitação
Base Legal: Art. 320, CC/02
Valor e espécie da dívida quitada; 
nome do devedor ou quem por este pagou;
tempo do pagamento; lugar do pagamento; 
assinatura do credor ou seu representante (art. 320, CC/02).
OBS.: Faltando qualquer destes requisitos e atendendo ao princípio da boa-fé objetiva não se invalida se de seus termos ou circunstâncias resultar haver sido paga a dívida, o que leva a doutrina a questionar se a quitação é negócio jurídico solene como se depreende do ‘caput’ ou se é negócio jurídico de forma livre como se pode deduzir do parágrafo único do art. 320, CC/02.
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Tópicos Extras
O recibo (instrumento de quitação) é um dos meios de prova do pagamento, mas inexistindo este, outros meios poderão ser admitidos como, por exemplo, a menção em livros do credor e o cheque nominal, entre outros (arts. 212 e 225, CC). Além disso, a lei estabelece as seguintes presunções ‘iuris tantum’ de pagamento:
Quando a dívida é representada por título de crédito que se encontra na posse do devedor (art. 324, CC). O credor pode provar em até sessenta dias a falta do pagamento;
·     Se o título foi perdido poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido. Esta declaração não será oponível a terceiro detentor de boa-fé (art. 321, CC).
Quando o pagamento é feito em quotas sucessivas (mensais, semanais...), existindo quitação de qualquer delas ou da última (art. 322, CC).
Quando há quitação do capital sem reserva dos juros, que se presumem pagos (arts. 323 e 354, CC). Vale informar que há controvérsia na doutrina se esta presunção é ‘iuris tantum’ (ex. Caio Mário da Silva Pereira) ou ‘iuris et de iure’ (ex. Carvalho Santos), tendo prevalecido a primeira posição.
Outras presunções: inutilização do título da dívida quitável com sua devolução; entrega do bem.
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LUGAR DO PAGAMENTO
Não havendo previsão convencional ou legal em contrário, presume-se como local do cumprimento da obrigação o domicílio do devedor (dívida queráble), conforme determina o art. 327, CC/02 (princípio do favor debitoris). 
Havendo mudança no domicílio do devedor o credor pode manter o local originariamente fixado e, se isso não for possível, deverá o devedor arcar com as despesas decorrentes da alteração de seu domicílio.
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Designados dois ou mais lugares para o cumprimento da obrigação o credor pode escolher qualquer deles, desde que cientifique o devedor em tempo hábil para providenciar o pagamento. Caso o credor não realize a notificação, poderá o devedor realizar validamente o pagamento em qualquer dos lugares (art. 327, parágrafo único, CC).
Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor (art. 329, CC - aplicação evidente do princípio da função social). No entanto, se o fato constituir caso fortuito ou força maior não gerará dever de indenizar se não houver mora ou se o devedor por estes fatos não se tiver responsabilizado (arts. 393 e 399, CC).
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O costume pode alterar o lugar do pagamento convencionalmente estabelecido, tornando uma dívida portável (quando o pagamento é realizado no domicílio do credor) em quesível e vice-versa. O art. 330, CC/02, afirma que o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor ao previsto contratualmente (aplicação do princípio ‘venire contra factum proprio’).
Se o pagamento constituir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a um imóvel (como por exemplo, execução de serviços, recuperação, obras...), far-se-á no lugar onde situado o bem (art. 328, CC/02).
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TEMPO DO PAGAMENTO
O devedor além de ter que saber onde deve cumprir a obrigação, precisa conhecer quando deve ser cumprida. As obrigações em que não se ajustou prazo (obrigações puras e simples) para o vencimento são exigíveis imediatamente (arts. 134 e 331, CC/02 – princípio da satisfação imediata).
 
As obrigações com termo certo devem ser cumpridas nesta ocasião independente de notificação (‘dies interpellat pro homine’). O implemento do termo, por si, já equivale a uma interpelação.
 
Tendo sido estipulada condição suspensiva é preciso notificar o devedor sobre o seu implemento para que seja exigível o seu cumprimento (art. 332, CC/02). O ônus da prova da ciência é imputado ao credor.
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O art. 333, CC/02, prevê situações em que pode ocorrer a antecipação do vencimento:
 a) no caso de falência do devedor, ou de concursos de credores; 
b) se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; 
c) se cessarem, ou se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. 
OBS.: Ressalta-se que havendo solidariedade passiva a antecipação do vencimento não abrangerá os devedores solventes. Junte-se a estas, as hipóteses do art. 1.425, CC/02, que serão estudadas em Direito Civil IV.
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Exercícios:
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