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COMO FUI PARA A IMO To´pico: Teoria dos Nu´meros Leandro Farias 22 de julho de 2016 Cap´ıtulo 1 Divisibilidade I Nesta sec¸a˜o, vamos aplicar os crite´rios de divisibilidade de forma mais efici- ente, ale´m de aprender uma nova notac¸a˜o para a divisibilidade. 1.1 Conceitos Iniciais Teorema 1.1.1 (Algoritmo da Divisa˜o) Para quaisquer inteiro a e b, com b > 0, enta˜o existe um u´nico par (q, r) de inteiros tais que b = aq + r, sendo 0 ≤ r < a (1.1) Demonstrac¸a˜o Considere o conjunto S de inteiros na˜o negativos definido da seguinte forma S = {a− bn | n ∈ Z e a− bn ≥ 0} (1.2) Pelo Princ´ıpio da Boa Ordenac¸a˜o, sabemos que S tem um elemento mı´nimo, digamos que seja r. Primeiramente, observe que a− bq = r ⇒ a = bq + r , com 0 ≤ r (1.3) O segundo fato e´ que r < b, pois caso contra´rio ter´ıamos 0 < r − b < r e r − b = (a− bq)− b = a− b(q + 1) ∈ Z (1.4) um absurdo, pois supomos que r = minS. Portanto 0 < r < b e o teorema esta´ provado. Definic¸a˜o Sejam a e b nu´meros inteiros, com a 6= 0. Quando a divide b, representamos por a|b (1.5) Proposic¸a˜o 1.1.2 Sejam a, b, c e d nu´meros inteiros. Enta˜o, (a) Se d|a e d|b enta˜o d|(ax+ by), sendo x, y ∈ Z. (b) Se a|b e b|c enta˜o a|c. 1 1.1. CONCEITOS INICIAIS Demonstrac¸a˜o Perceba que (a) Por definic¸a˜o, a = d.a0 ⇒ a.x = d.(a0x) b = d.b0 ⇒ b.y = d.(b0y) Logo, ax+ by = d.(a0x+ b0y)⇒ d|(ax+ by) (b) Por definic¸a˜o, b = a.a0 ⇒ b.b0 = a.(a0.b0) c = b.b0 ⇒ c = a.(a0.b0) assim, pela definic¸a˜o de divisibilidade, conclu´ımos que a|c. Proposic¸a˜o 1.1.3 Todo natural e´ o produto de um ı´mpar e uma poteˆncia de 2. Demonstrac¸a˜o Utilizaremos induc¸a˜o para resolver. Assim, faremos o passo a passo: (a) Casos iniciais: para • n = 1 enta˜o n = 20 × 1. • n = 2 enta˜o n = 21 × 1. • n = 3 enta˜o n = 20 × 3. (b) Hipo´tese: suponha que todo k, com 1 ≤ k ≤ n, possa ser escrito como uma poteˆncia de 2 vezes um ı´mpar. (c) Passo indutivo: vamos dividir em dois casos • Se n+ 1 for ı´mpar, enta˜o n+ 1 = 20 × (n+ 1) e o problema acaba. • Se n+ 1 for par, enta˜o n+ 1 = 2× (n+ 1)/2, sendo que n+ 1 2 ≤ n⇔ n+ 1 ≤ 2n⇔ 1 ≤ n (1.6) enta˜o (n+ 1)/2 se encaixa na nossa hipo´tese de induc¸a˜o, o que nos permite concluir que n+ 1 2 = 2r × s , sendo s ı´mpar (1.7) ou seja, n+ 1 = 2r+1 × s, conforme quer´ıamos. Proposic¸a˜o 1.1.4 (Decomposic¸a˜o bina´ria) Todo n natural e´ soma de poteˆncias distintas de 2. Demonstrac¸a˜o O racioc´ınio e´ indutivo. Assim, (a) Casos iniciais: se Leandro Farias 2 fariasmaia@gmail.com 1.1. CONCEITOS INICIAIS • n = 1 enta˜o n = 20. • n = 2 enta˜o n = 21. • n = 3 enta˜o n = 21 + 20. • n = 4 enta˜o n = 22. (b) Hipo´tese indutiva: suponha que todo k, 1 ≤ k ≤ n − 1, possa ser escrito como soma de poteˆncias distintas de dois. (c) Passo indutivo: seja p = blog2 nc, ou seja, p e´ tal que 2p ≤ n < 2p+1 (1.8) Vamos olhar para o nu´mero n − 2p. Esse nu´mero satisfaz a hipo´tese de induc¸a˜o, pois n− 2p < 2p ⇔ n < 2p+1 (1.9) Da´ı esse nu´mero pode ser escrito como soma de poteˆncias distintas de dois. Ale´m disso, a maior poteˆncia e´ estritamente menor que 2p, uma vez que n− 2p < 2p. Dessa forma, se n− 2p = j∑ i=1 2ri , com ra 6= rb e max{ri}1≤i≤j < p (1.10) podemos concluir que n = 2p + j∑ i=1 2ri (1.11) com ra 6= rb e ri < p, o que conclui a questa˜o. Proposic¸a˜o 1.1.5 (Decomposic¸a˜o Canoˆnica) Todo nu´mero n pode ser escrito como n = pα11 p α2 2 . . . p αm m (1.12) sendo pi, para 1 ≤ i ≤ m, primo e pi 6= pj, para 1 < i < j < m. Definic¸a˜o Sejam n um inteiro positivo e p um divisor primo de n. A maior poteˆncia de p que divide n e´ presentado por α, onde pα ∣∣∣∣∣∣n (1.13) Proposic¸a˜o 1.1.6 Seja n um inteiro positivo, cuja fatorac¸a˜o canoˆnica e´ dada por n = pα11 p α2 2 . . . p αm m (1.14) enta˜o a soma dos divisores positivos de n e´ dada por D(n) = pα1+11 − 1 p1 − 1 × pα2+12 − 1 p2 − 1 × . . .× pαm+1m − 1 pm − 1 (1.15) Leandro Farias 3 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS Demonstrac¸a˜o Seja d um divisor de n. Assim, todos os fatores primos de d tambe´m sa˜o de n. Ale´m disso, suponha que pk ∣∣∣d e pβk ∣∣∣∣∣∣d (1.16) enta˜o podemos concluir que β ≤ αk. Portanto, perceba que todo divisor de n tem a seguinte representac¸a˜o canoˆnica d = pβ11 p β2 2 . . . p βm m (1.17) sendo βi ≤ αi, com 1 ≤ i ≤ m. Dessa forma, ao expandirmos a expressa˜o( 1 + p1 + . . .+ p α1 1 )( 1 + p2 + . . .+ p α2 2 ) . . . ( 1 + pm + . . .+ p αm m ) (1.18) observamos que ha´ todos os divisores positivo de n e como 1 + pi + . . .+ p αi i = pαi+1i − 1 pi − 1 (1.19) conclu´ımos o que quer´ıamos. 1.2 Resoluc¸a˜o de Exerc´ıcios Problema 1.2.1 C2003-P2 Sejam a1 = 19 e a2 = 98. Para n > 0, defina an+2 como sendo o resto de (an + an+1) por 100. Qual o resto de a 2 1 + a 2 2 + . . .+ a 2 1998 por 8? Soluc¸a˜o Primeiramente, note que para sabermos o resto de k2 por 8 basta sabermos o resto de k por 4. Assim, se 4 | k ± 1 ⇒ 8 | k2 − 1 4 | k ⇒ 8 | k2 4 | k + 2 ⇒ 8 | k2 − 4 Agora, perceba que em algum momento os restos se repetira˜o. Como 4 | 100, enta˜o vamos analisar essa peridiocidade atrave´s da divisa˜o por 4. Temos 4 | a1 + 1 ⇒ 8 | a21 − 1 4 | a2 + 2 ⇒ 8 | a22 + 4 4 | a3 − 1 ⇒ 8 | a23 − 1 4 | a4 + 1 ⇒ 8 | a24 − 1 4 | a5 + 0 ⇒ 8 | a25 4 | a6 + 1 ⇒ 8 | a26 − 1 4 | a7 + 1 ⇒ 8 | a21 − 1 4 | a8 + 2 ⇒ 8 | a21 4 | a1 − 1 ⇒ 8 | a21 − 1 Leandro Farias 4 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS assim, temos um ciclo de tamanho 6. Como 1998 = 6× 333, nossa soma inicial deixa resto 333× (+1 + 4 + 1 + 1 + 0 + 1) = 8× 333 (1.20) que e´ divis´ıvel por 8, deixando resto 0. Problema 1.2.2 C2003-P5 Prove que para quaisquer inteiros a1, a2, ..., an, o nu´mero: |a1 − a2|+ |a2 − a3|+ ...+ |an − a1| e´ par. Soluc¸a˜o Perceba que para qualquer inteiro x 2 ∣∣∣|x|+ x (1.21) pois se x e´ na˜o negativo enta˜o |x|+ x = 2x e se x e´ negativo enta˜o |x|+ x = 0. Dessa forma, a expressa˜o em questa˜o apresenta o mesmo resto por 2 que (a1 − a2) + (a2 − a3) + . . .+ (an − a1) = 0 (1.22) ou seja, nossa expressa˜o e´ par. Problema 1.2.3 C2003-P8 Encontre o menor inteiro positivo k tal que 224 + k e´ divis´ıvel por 127. Soluc¸a˜o Primeiramente perceba que 127 = 27 − 1. Agora, sabemos que 221 − 1 = (27)3 − 1 = (27 − 1) ( k=2∑ k=0 27k ) (1.23) ou seja, 27 − 1 ∣∣∣221 − 1. Note, ainda, que 224 = 8 × 221 = 8 × (221 − 1) + 8. Portanto, queremos k tal que 27 − 1 ∣∣∣8× (221 − 1) + 8⇔ 27 − 1∣∣∣k + 8 (1.24) enta˜o o menor k positivo e´ 27 − 1− 8 = 119. Problema 1.2.4 C2003-P3 (Ru´ssia/97) Os nu´meros de 1 a 37 foram escritos em uma linha de modo que a soma dos nu´meros nas n primeiras posic¸o˜es e´ divisivel pelo nu´mero na posic¸a˜o n + 1, para n ∈ {1, 2, . . . , 36}. Sabemos que o primeiro e´ 37 e que o segundo e´ 1, ache o terceiro nu´mero. Soluc¸a˜o Seja a o terceiro elemento. Assim, por hipo´tese a ∣∣∣1 + 37⇒ a∣∣∣38⇒ a = 1, 2, 19 ou 38 (1.25) Como a ≤ 37 ja´ sabemos que a 6= 38. Como o primeiro e´ 1, logo a 6= 1. Assim nos resta saber se a = 2 ou 19. Leandro Farias 5 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS Vamos olhar para o u´ltimo elemento dessa fila. Suponha que seja b. Enta˜o, por hipo´tete b ∣∣∣(1 + 2 + . . . 37− b)⇒ b∣∣∣1 + 2 + . . .+ 37⇒ b∣∣∣37× 19 (1.26) dessa forma, b = 1, 19 ou 37, pore´m 1 e 37 sa˜o o primeiro e o segundo, respec- tivamente, elemento da lista. Logo b = 19 e, como consequeˆncia, a = 2. Problema 1.2.5 C2003-P24 (Irlanda/98) Encontre todos os inteiros n que possuam exatamente 16 divisores inteiros positivos d1, d2, d3, ..., d16 tais que 1 = d1 < d2 < d3 < ..... < d16 e d6 = 18, d9 − d8 = 17. Soluc¸a˜o Como d6 = 18 = 2 × 32 e os 6 divisores positivos ded6 tambe´m sa˜o de n, podemos concluir que d1 = 1, d2 = 2, d3 = 3, d4 = 6 e d5 = 9. Podemos concluir tambe´m que se existir outro primo que divide n, esse primo devera´ ser maior do que 18, uma vez que di, com 1 ≤ i ≤ 6, ja´ tem seus valores estabelecidos. Vamos agora utilizar o fato que n tem 16 divisores positivo. Ora, isso nos faz concluir que existe apenas duas possibilidades para n: 2× 37 ou 2× 33 × p, sendo p um primo maior que 18. • Se n = 2 × 37. Mas isso nos faz ter d9 = 162 e d7 = 27, que na˜o pode acontecer, uma vez que d9 − d7 = 17. • Se n = 2× 33 × p. Vamos separar em algums casos para descobrir valores de di, para i > 6. – Se 18 < p < 27. Enta˜o d7 = p, d8 = 27 e d9 = 2p (esse u´ltimo pois 2p < 54). Logo 2p− 27 = 17⇒ 2p = 44⇒ p = 22 (1.27) um absurdo. – Se 27 < p < 54. Enta˜o d7 = 27, d8 = p e d9 = 54. Logo 54− p = 17⇒ p = 37 (1.28) – Se 54 < p. Enta˜o d7 = 27, d8 = 54 e d9 = p. Logo p− 54 = 17⇒ p = 71 (1.29) Portanto p = 37 ou p = 71. Problema 1.2.6 (Teorema de Fermat) Sejam p um nu´mero primo e a um nu´mero inteiro. Demonstre que p ∣∣∣ap − a (1.30) Leandro Farias 6 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS Soluc¸a˜o Utilizaremos o conceito de induc¸a˜o para nos auxiliar a concluir o pro- blema. A induc¸a˜o sera´ feita em a. Mas antes, vamos fazer a parte o caso p = 2. Ora, de imediato sabemos que 2 ∣∣∣a(a− 1) e o caso esta´ solucionado. Agora considere p > 2. Perceba que se a for negativo, basta tomarmos b = −a que o problema fica o mesmo, pois ap − a = (−b)p − (−b) = −bp + b = −(bp − b) (1.31) recaindo no caso a positivo. Portanto basta mostrarmos para a > 0. Conforme o processo de induc¸a˜o estabelece, faremos os treˆs passos de induc¸a˜o: a) Casos Iniciais: para a = 0 e a = 1, verifica-se facilmente a veracidade do Teorema. b) Hipo´tese de Induc¸a˜o: suponha que p ∣∣∣bp − b para 0 ≤ b ≤ a. c) Passo indutivo: Perceba que (a+ 1)p − (a+ 1) = (ap − a) + p−1∑ k=1 ( p k ) (1.32) Por hipo´tese de induc¸a˜o ja´ sabemos que p ∣∣∣ap − a. Agora veja que( p k ) = p! k!(p− k)! (1.33) e como p | p!, p - k! e p - (p− k)!, conclu´ımos que p ∣∣∣(p k ) , para 1 ≤ k ≤ p− 1 (1.34) portanto p ∣∣∣(a+ 1)p − (a+ 1) e, por induc¸a˜o, podemos garantir a veracidade do Teorema. Problema 1.2.7 C2003-P26 Sejam n > 2 e k inteiros positivos. Prove que (n− 1)2 ∣∣∣nk − 1⇔ n− 1∣∣∣k (1.35) Soluc¸a˜o Perceba que nk − 1 = ((n− 1) + 1)k − 1 = (n− 1)× k + k∑ i=2 ( k i ) (n− 1)i (1.36) sabemos que (n− 1)2 ∣∣∣(n− 1)i, para 2 ≤ i ≤ k, ou seja, (n− 1)2 ∣∣∣ k∑ i=2 ( k i ) (n− 1)i (1.37) Assim podemos afirmar que (n− 1)2 ∣∣∣nk − 1⇔ (n− 1)2∣∣∣(n− 1)× k ⇔ n− 1∣∣∣k (1.38) Leandro Farias 7 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS Problema 1.2.8 Prove que, para cada n natural, o produto (n+ 1)(n+ 2) . . . (2n) (1.39) e´ divis´ıvel por 2n. Soluc¸a˜o Perceba que (n+ 1)(n+ 2) . . . (2n) = (2n)! n! (1.40) para cada k, com 1 ≤ k ≤ n, no fator n!, existe o fator 2k em (2n)!. Logo, (n+ 1)(n+ 2) . . . (2n) = 2n × 1× 3× . . . (2n− 1) (1.41) o que conclui nossa soluc¸a˜o. Problema 1.2.9 C2003-P28 A soma digital D(n) de um inteiro positivo n e´ definida recursivamente como segue: D(n) = { n , se 1 ≤ n ≤ 9 D(a1 + a2 + . . .+ am) , se 10 ≤ n (1.42) Demonstre que para qualquer n tem-se que D(1234× n) = D(n) Soluc¸a˜o Primeiramente, perceba que D(n) e´ um nu´mero de um d´ıgito. Perceba tambe´m que n e D(n) tem o mesmo resto da divisa˜o por 9, uma vez que em cada passo e´ comparado o nu´mero com a soma de seus d´ıgitos. Consequentemente, D(n) e´ o resto da divisa˜o de n por 9. Como 1234× n deixa o mesmo resto que (1+2+3+4)×n = 10×n por 9, e 10×n deixa o mesmo resto que n na divisa˜o por 9, conclu´ımos que D(1234× n) = D(n) (1.43) Problema 1.2.10 C2003-P80 (Teste IMO Brasil) Determine todos os inteiros positivos m e n com n ≥ m tal que • m2 − n2 ∣∣∣n2 +m; • n2 −m ∣∣∣m2 + n Soluc¸a˜o O segundo item nos permite concluir que n2 −m ≤ m2 + n⇒ n2 − n ≤ m2 +m⇒ n(n− 1) +m+ 1 ≤ (m+ 1)2 (1.44) Sabemos que n(n− 1) e´ uma func¸a˜o crescente. Caso n > m+ 1 enta˜o n(n− 1) +m+ 1 > (m+ 1)m+m+ 1 = m2 + 2m+ 1 = (m+ 1)2 (1.45) o que e´ um absurdo. Portanto n = m ou n = m + 1. Caso n = m + 1, atrave´s da equac¸a˜o 1 obtemos n2 −m2 ∣∣∣n2 +m⇒ 2m+ 1∣∣∣m2 + 3m+ 1 (1.46) Leandro Farias 8 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS ou seja, 2m+ 1 ∣∣∣(m2 + 3m+ 1)2− (2m+ 1)m = 5m+ 2 (1.47) utilizando as propriedades da divisibilidade, 2m+ 1 ∣∣∣− (5m+ 2)2 + (2m+ 1)5⇒ 2m+ 1∣∣∣1 (1.48) ou seja, na˜o existe m ∈ N nesse caso. Caso n = m, na˜o existe soluc¸a˜o, pois n2 −m2 = 0 que na˜o divide nenhum inteiro na˜o nulo. Logo na˜o ha´ soluc¸o˜es. Problema 1.2.11 C2003-P129 (Ru´ssia/2002) Um nu´mero de quatro algarismo e´ escrito em um quadro negro. E´ permitido adicionar 1 ou subtrair 1 de quaiquer dois algarismos adjacentes, desde que eles sejam diferentes de 9 e 0, ou seja, na˜o pode adicionar 1 ao 9 nem subtrair 1 de 0. Partindo de 1234, e´ possivel obtermos 2002 apo´s efetuarmos essas operac¸o˜es? Soluc¸a˜o Perceba que a operac¸a˜o deixa o resto da divisa˜o por 11 do nu´mero ini- cial constante. Como os dois nu´meros no enunciado apresentam resto distintos, na˜o e´ poss´ıvel obter um a partir do outro. Problema 1.2.12 C2004-P21 (Hungria/2001) Sejam m,n inteiros tais que 1 ≤ m ≤ n. Prove que m e´ um divisor de: n× m−1∑ k=0 (−1)k ( n k ) Soluc¸a˜o Vamos tentar reduzir o valor desse somato´rio. Atrave´s da Relac¸a˜o de Stifel, sabemos que ( n 0 ) = ( n− 1 0 ) ( n 1 ) = ( n− 1 1 ) + ( n− 1 0 ) ( n 2 ) = ( n− 1 2 ) + ( n− 1 1 ) ...( n m− 1 ) = ( n− 1 m− 1 ) + ( n− 1 m− 2 ) Potanto, nosso somato´rio, em mo´dulo, se reduz para n× ( n− 1 m− 1 ) = n× (n− 1)! (m− 1)!(n−m)! = m× n× (n− 1)! m!(n−m)! = m× ( n m ) (1.49) que e´ divis´ıvel por m. Leandro Farias 9 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS Problema 1.2.13 C2004-P12 (Cone Sul/2003) Considere a sequeˆncia {an} definida da seguinte maneira: a1 = 1, a2 = 3, an+2 = 2an+1an + 1, para todo inteiro n ≥ 1. Prove que a ma´xima poteˆncia de 2 que divide a4006 − a4005 e´ 22003. Soluc¸a˜o Vamos fazer alguns casos iniciais para estudar como se comporta essa sequeˆncia, ale´m da nova sequeˆncia xk = ak − ak−1. Temos • a1 = 1, a2 = 3 e x2 = 2 • a3 = 7 e x3 = 4 • a4 = 43 e x4 = 36 Vamos mostrar por induc¸a˜o que 2n ∣∣∣∣∣∣x2n e 2n+1∣∣∣x2n+1. Os casos iniciais sa˜o verdade. Suponha enta˜o que nossa hipo´tese de induc¸a˜o seja va´lida. Queremos mostrar que 2n+1 ∣∣∣∣∣∣x2n+2 e 2n+2∣∣∣x2n+3 (1.50) Ora, pela pro´pria definic¸a˜o de an temos que x2n+2 = a2n+2 − a2n+1 (1.51) e, conforme hipo´tese de formac¸a˜o da sequeˆncia, x2n+2 = (2a2n+1a2n + 1)− (2a2na2n−1 + 1) = 2a2n(a2n+1 − a2n−1) (1.52) Assim, vamos determinar qual a maior poteˆncia de 2 que divide a2n+1 − a2n−1. Pela nossa hipo´tese de induc¸a˜o, sabemos que x2n+1 = 2 n+1k1 e x2n = 2 nk2 (1.53) sendo k2 ı´mpar. Portanto, a2n+1 − a2n−1 = x2n+1 + x2n = 2n(2k1 + k2) (1.54) assim, uma vez que k2 e´ ı´mpar, podemos concluir que 2 n ∣∣∣∣∣∣(a2n+1 − a2n−1), o que nos permite afirmar que 2n+1 ∣∣∣∣∣∣x2n+2 ja´ que an e´ ı´mpar. Agora, vamos a segunda parte da nossa induc¸a˜o. Perceba que x2n+3 = a2n+3 − a2n+2 = 2a2n+1(a2n+2 − a2n) (1.55) mas sabemos que x2n+2 = 2 n+1k1 e x2n+1 = 2 n+1k2 (1.56) logo a2n+2 − a2n = x2n+2 − x2n+1 = 2n+1(k1 − k2) (1.57) portanto 2n+2 ∣∣∣x2n+3 e, conforme o princ´ıpio da induc¸a˜o, o problema esta´ solu- cionado. Leandro Farias 10 fariasmaia@gmail.com 1.2. RESOLUC¸A˜O DE EXERCI´CIOS Problema 1.2.14 C2004-P4 (Poloˆnia/1992) Parao natural n > 0, seja S(n) a soma dos divisores positivos de n. Prove que para todo inteiro n > 1, o produto S(n− 1)S(n)S(n+ 1) e´ par. Soluc¸a˜o Suponha que n− 1 = a∏ i=1 pαii , n = b∏ i=1 qβii , n+ 1 = c∏ i=1 rγii (1.58) Vamos dividir em dois casos para que possamos identificar o mdc entre n− 1 e n+ 1. a) Caso n− 1 e n+ 1 forem ı´mpares. Enta˜o, perceba que para S(n − 1)S(n)S(n + 1) seja ı´mpar, e´ preciso que S(n− 1) e S(n+ 1) sejam ı´mpares. Mas sabemos que S(n− 1) = a∏ i=1 (1 + pi + . . .+ p αi i ) (1.59) e para que S(n− 1) seja ı´mpar, para cada 1 ≤ i ≤ a, a soma 1 + pi + . . .+ p αi i (1.60) deve ser ı´mpar, ou seja, αi deve ser par, uma vez que pi 6= 2. Logo n−1 deve ser quadrado perfeito. Analogamente, para que S(n + 1) seja ı´mpar, enta˜o n + 1 deve ser quadrado perfeito. Mas isso e´ um absurdo, pois na˜o existem dois quadrados perfeitos cuja diferenc¸a seja 2. b) Caso n− 1 e n+ 1 forem pares. Enta˜o, analogamente ao que foi feito para o n − 1 no caso (a), conclu´ımos que n deve ser quadrado perfeito. Agora vamo estudar n−1 e n+1. Perceba que apenas um deles 21 e´ a maior poteˆncia de 2 que o divide, pois mdc(n− 1, n+ 1) = 2. Vamos dividir em mais dois casos i) se 21 ∣∣∣∣∣∣n− 1. Enta˜o, do mesmo racioc´ınio utilizado no item (a) podemos garantir que (n − 1)/2 sera´ um quadrado perfeito. Perceba que a poteˆncia de 2 que divide n+1 pode ser 2par ou 2impar o que nos permite concluir que n+1 e´ quadrado perfeito ou (n+ 1)/2. Nos resta testar esses dois casos. Suponha primeiro que n+ 1 seja quadrado perfeito. Como n tambe´m e´ quadrado perfeito, so´ existe a possibilidade n = 0, mas assim (n−1)/2 = −1/2 quado perfeito. Suponha agora aque (n+ 1)/2 seja quadrado perfeito. Como (n− 1)/2 tambe´m e´ quadrado perfeito, so´ existe a possibilidade (n− 1)/2 = 0, ou seja, n = 1. Mas n > 1, por hipo´tese. ii) se 21 ∣∣∣∣∣∣n+ 1. Analogamente, (n+1)/2 e´ quadrado perfeito e devemos separar em dois casos: n− 1 e´ quadrado perfeito ou (n− 1)/2 e´ quadrado perfeito. Em ambos os casos e´ fa´cil ver que chegaremos a um absurdo. Leandro Farias 11 fariasmaia@gmail.com 1.3. PROBLEMAS PROPOSTOS 1.3 Problemas Propostos C2003-P28 Problema 7. Determine todos os inteiros positivos x e y tais que x2 − 200! = y! C2003-P29 Problema 8. Mostre que dados 5 inteiros quaisquer na˜o necessariamente dis- tintos, podemos sempre escolher treˆs deles tais que sua soma e´ divisilvel por 3. C2003-P35 Problema 9 ( Primo de Mersene ). Sejam os inteiros a e n, com n 6= 2 e a 6= 2. Se an − 1 e´ primo, enta˜o a = 2 e n e´ primo. C2003-P38 Problema 10. Se 2n + 1 e´ primo e n > 2, enta˜o 2n + 1 e´ composto. C2003-P39 Problema 11. Mostre que se 2n + 1 e´ primo, sendo n ∈ N e n > 0, enta˜o n deve ser uma poteˆncia de 2. C2003-P40 Problema 12. Prove que: 641 ∣∣∣232 + 1 C2003-P41 Problema 13. Seja n = 2p−1(2p − 1) e seja 2p − 1 um nu´mero primo. Prove que a soma dos divisores positivos de n e´ 2n. C2003-P44 Problema 14. Seja an = 11...11 um nu´mero que apresenta n 1’s. Prove que se an e´ primo, enta˜o n e´ primo. C2003-P47 Problema 15 Provar que para todo inteiro positivo n o nu´mero an = 2903 n − 803n − 464n + 261n e´ divis´ıvel por 1897. C2003-P50 Problema 16 Demonstre que n∏ k=1 (a+ k) e´ divisivel por n!. Leandro Farias 12 fariasmaia@gmail.com 1.3. PROBLEMAS PROPOSTOS C2003-P60 Problema 17 Dados seis inteiros quaiquer, nunhum dos quais mu´ltiplo de 11, mostre que ou ha´ dois deles que deixam um mesmo resto quando divididos por 11 ou ha´ dois deles cuja soma e´ um multiplo de 11. C2003-P61 Problema 18 (Ru´ssia). Sa˜o dados 15 nu´meros inteiros de 2 a 1992, dois a dois primos entre si, mostre que ao menos um desses nu´meros e´ primo. Leandro Farias 13 fariasmaia@gmail.com 1.3. PROBLEMAS PROPOSTOS Dicas Problema 1 Problema 2 Problema 3 Problema 4 e 5 Problema 6 Problema 7 Leandro Farias 14 fariasmaia@gmail.com 1.3. PROBLEMAS PROPOSTOS Soluc¸a˜o dos Problemas Propostos Leandro Farias 15 fariasmaia@gmail.com 1.3. PROBLEMAS PROPOSTOS Refereˆncias Bibliogra´ficas [1] Notas de aula do Professor Emanuel Carneiro. [2] Artigo de desigualdades do Prof Caminha na Eureka nr ?. [3] Putnam and Beyond [4] www.mathlinks.ro [5] Notas de aula do Prof Shine Leandro Farias 16 fariasmaia@gmail.com
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