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Apostila 4

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Título II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Capítulo I
DO FURTO
1. FURTO
Artigo 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
1.1. Conceito
Furtar significa apoderar-se ou assenhorar-se de coisa pertencente a outrem.
1.2. Posse vigiada
É a segunda hipótese de subtração de coisa alheia. O autor se apossa do bem sem a autorização da vítima (exemplo: o vendedor entrega uma joia para o cliente experimentar e este foge assim que a recebe). Para que ocorra a posse vigiada, basta que o agente tenha recebido o bem em determinado local e que não tenha obtido autorização para dali sair com ele. Havendo posse desvigiada ocorrerá o crime de apropriação indébita.
1.3. Sujeito ativo e passivo
Pode ser sujeito ativo ou passivo qualquer pessoa. Exemplificativamente, o ladrão que subtrai coisa já furtada de outro ladrão também comete furto, embora a vítima não seja o legítimo dono do objeto.
1.4. Objeto material
O objeto material é a coisa alheia móvel. Coisa móvel é aquela que pode ser transportada. Aviões e navios são considerados bens imóveis pelo Código Civil, para fins de registro de hipoteca, mas móveis na lei penal.
É possível a subtração de partes que compõem o imóvel, como telhas, janelas, portas etc.
Animais domésticos ou domesticados, quando possuírem dono, e os semoventes (bois, porcos, cabras) podem ser objeto de furto. O furto de gado é conhecido como abigeato.
A extração de terra ou areia de forma clandestina em imóvel alheio, bem como a retirada de árvores, desde que não constitua crime ambiental, é considerada furto.
É necessário que a coisa tenha dono. Não há furto quando se tratar de res nullius (coisa que não pertence a ninguém), de res derelicta (coisa abandonada) ou de res desperdicta (coisa perdida). Na verdade, poderá se caracterizar apropriação de coisa achada (art. 169).
O cadáver pode ser objeto material do crime de furto, caso tenha valor econômico e esteja na posse legítima de alguém (exemplo: subtrair o corpo pertencente a um museu que o exibe por motivos científicos e didáticos). Não sendo este o caso, a subtração do cadáver poder constituir crime contra o respeito aos mortos.
Comete exercício arbitrário das próprias razões (art. 345), e não furto, aquele que retoma veículo ou qualquer outro objeto que vendeu e de que não recebeu o preço avençado.
1.5. Elemento subjetivo
O elemento subjetivo é o dolo, entendendo alguns doutrinadores ser ele específico diante da intenção de ter o autor a coisa para si ou para outrem. Não existe a modalidade culposa para este tipo penal.
1.6. Consumação
O furto é crime material, exigindo-se para tanto o resultado naturalístico, ou seja, sua consumação dá-se com a posse tranquila da coisa ou com a sua saída da esfera de vigilância do dono.
1.7. Causa de aumento de pena
§ 1º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Segundo alguns doutrinadores não se trata de noite, mas do período em que a cidade ou o local se aquieta e as pessoas repousam, geralmente bem depois do anoitecer, conforme os costumes do lugar. É pacífico o entendimento de que não se aplica o dispositivo em análise no caso de estabelecimento comercial e nem no furto qualificado.
1.8. Furto privilegiado
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
O furto privilegiado tem como premissas a primariedade do réu e o valor inferior a um salário mínimo da coisa furtada, segundo a jurisprudência, aplicando-se assim a pena mais branda.
1.9. Furto de energia elétrica
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Energia elétrica ou outras que tenham valor econômico (nuclear, térmica, genética etc.) são equiparadas à coisa móvel. Exemplificativamente, quem faz uma ligação clandestina, evitando ou fraudando o medidor de energia elétrica, está praticando furto. Nesta hipótese, o delito é permanente porque sua consumação se prolonga no tempo, ou seja, enquanto o desvio estiver sendo feito, está se consumando a subtração de energia elétrica.
Quanto a interceptação ou recepção dos sinais de TV a cabo, há uma divergência doutrinária e jurisprudencial, com alguns julgados entendendo que é furto de energia e outros não (STF).
1.10. Outras espécies de furto
a) Furto quase-nulo – não existe um valor mensurável (exemplo: um clips), entendendo a doutrina que não há tipicidade.
b) Furto de bagatela – existe algum valor, mas este é irrelevante (exemplo: uma dúzia de ovos). Há tipicidade, contudo, geralmente o juiz aplica o perdão judicial.
c) Furto de uso – não constitui crime. Ocorre quando se evidencia a intenção de devolver a coisa alheia intacta, após breve uso, no mesmo local onde se encontrava. Torna-se indispensável que a vítima não descubra a subtração antes da devolução do bem, pois, se se constata que a coisa de sua propriedade foi levada, e registra-se a ocorrência, dá-se o furto por consumado. Se o uso for prolongado caracteriza-se o crime, assim também tendo sido decidido no caso de automóvel abandonado em local distante ou danificado.
d) Furto famélico – é a subtração de alimento para matar a fome, o que, para a maioria, não constitui crime.
e) Furto familiar – é o praticado contra cônjuge ou parentes próximos. Cabe isenção de pena e o procedimento se dá mediante representação.
2. FURTO QUALIFICADO
§ 4º - A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior.
2.1. Qualificadoras
Para qualificar o furto basta somente uma qualificadora, servindo as demais, se houver, como agravantes adicionais comuns.
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
Considera-se obstáculo aquilo que protege a res furtiva de modo predeterminado (exemplos: alarmes, cadeados, cofres), de modo natural (exemplos: portas, paredes) ou de modo intrínseco à própria coisa (exemplo: vidros de um automóvel). No entanto, para alguns doutrinadores, a quebra de partes da própria coisa não caracteriza a qualificadora.
Não há que se falar em rompimento de obstáculo se este é apenas contornado, como no caso do desligamento de alarme, por exemplo. Também não ocorre a qualificadora se a destruição é praticada após a consumação do furto, podendo haver eventual crime de dano. Para configuração desta qualificadora exige-se prova pericial.
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
Abuso de confiança é caracterizado quando existe uma real e efetiva confiança da vítima no agente, que propicie acesso fácil à coisa a ser furtada. Portanto, não basta a simples convivência ou a relação de emprego.
Fraude existe quando o agente usa de algum ardil (distração da vítima) para facilitar o acesso à coisa (exemplo: o meliante se faz passar por agente de saúde para ter acesso ao interior da casa da vítima).
Escalada ocorre com o uso de escada, corda ou por qualquer outro meio anormal de acesso ao local a ser furtado, inclusive por túnel. É necessário que haja esforço considerável, ou seja, pular uma muretanão caracteriza a escalada.
Destreza exige uma especial habilidade do agente para subtrair o que a vítima leva nos bolsos ou junto ao corpo (exemplo: batedores de carteira). No entanto, não se configura a qualificadora se a vítima estava embriagada ou dormindo. A trombada não configura destreza, mas crime de roubo, se o ataque for diretamente direcionado contra a vítima.
III - com emprego de chave falsa;
Chave falsa é qualquer instrumento apto a abrir fechaduras (exemplos: arames, clips, ferros curvos, michas), bem como a cópia de chave feita sem autorização do proprietário. A ligação direta efetuada em veículos não é considerada chave falsa.
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
A qualificadora abrange a coautoria e a participação, e é objetiva, não importando se um dos agentes é inimputável ou não identificado. No entanto, a participação posterior não configura a qualificadora, podendo ocorrer o favorecimento real (art. 349). No caso de quadrilha ou bando, dá-se o concurso material.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior.
Para se configurar a qualificadora em exame exige-se o ingresso efetivo em outro estado ou país, não bastando a intenção ou a tentativa do agente de levar o veículo até lá. Não se inclui o Distrito Federal, que foi omitido, pois a lei penal não admite interpretação extensiva.
2.2. Furto privilegiado-qualificado
Súmula 511 do STJ – É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
3. FURTO DE COISA COMUM
Artigo 156 – Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum.
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
3.1. Objeto jurídico
É o patrimônio, que pode ser a propriedade ou a posse, desde que legítimas.
3.2. Elemento subjetivo
É o dolo específico, pois exige-se a finalidade específica de agir, ou seja, para si ou para outrem, não havendo a modalidade culposa.
3.3. Sujeito ativo e passivo
Trata-se de crime próprio, que só pode ser cometido por determinada pessoa (condômino, coerdeiro ou sócio) em detrimento do detentor legítimo da coisa. A res furtiva não é completamente alheia, mas pertencente a mais de uma pessoa. Porquanto os sujeitos ativos e passivos são próprios.
3.4. Consumação
A consumação ocorre igualmente às demais modalidades de furto, ou seja, posse tranquila da res furtiva ou saída da esfera de disponibilidade do detentor da coisa (exemplo: um dos coerdeiros resolve levar para sua casa, indevidamente, determinado bem que pertence igualmente aos outros herdeiros e que está sob detenção legítima do inventariante). Admite a tentativa.
3.5. Classificação doutrinária
	Próprio
	
	Material
	
	De forma livre
	
	Comissivo
	
	Instantâneo
	
	De dano
	Consuma-se com a lesão ao bem juridicamente tutelado.
	Unissubjetivo ou de concurso eventual
	
	Plurissubsistente
	
Capítulo II
DO ROUBO E DA EXTORSÃO
1. ROUBO
Artigo 157 – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.
Pena – reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de 1/3 até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 a 15 anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos, sem prejuízo da multa.
1.1. Conceito
É um crime complexo, por conter em si mais de uma figura penal, como a violência, a grave ameaça, o furto ou o constrangimento ilegal. No roubo, o agente domina a vítima, pelo emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio, para viabilizar a subtração.
Grave ameaça pode ser exercida por palavras, gestos ou atos, mas deve ser específica, de perigo imediato, caracterizando-se pela promessa de mal grave e iminente a ser provocado contra o dono do bem ou terceiro.
A simulação de arma ou a utilização de arma de brinquedo constituem grave ameaça, haja vista que possuem poder intimidatório. Configuram o crime de roubo, mas não o qualificam.
Violência pode dar-se por constrangimento ilegal, vias de fato ou até lesões corporais leves. Deve ser dirigida contra a pessoa (o próprio dono ou terceiro) e nunca apenas contra a coisa.
Qualquer meio capaz de reduzir a possibilidade de resistência é elemento normativo, que pode ocorrer com a aplicação de soníferos ou hipnose, por exemplo. Ocorre a subjugação da vítima, sem a utilização de violência ou grave ameaça, caracterizando a violência imprópria.
1.2. Elementares
O roubo contém as mesmas elementares do furto, quais sejam:
a) subtração como conduta típica;
b) coisa móvel como objeto material;
c) circunstância de a coisa ser alheia como elemento normativo;
d) finalidade de assenhoramento definitivo, para si ou para outrem, como elemento subjetivo.
1.3. Objeto jurídico
É o patrimônio, a integridade física, a liberdade individual e a vida.
1.4. Elemento subjetivo
É o dolo específico, caracterizado pela intenção de obter a coisa para si ou para outrem.
1.5. Sujeito ativo
Qualquer pessoa, admitindo-se a coautoria e a participação, não sendo necessário que todos os envolvidos realizem todos os atos de execução, podendo haver divisão de tarefas.
1.6. Sujeito passivo
É o proprietário, o possuidor ou o detentor do bem, que sofra prejuízo econômico, e também aqueles que sofram a violência ou a grave ameaça, ainda que não tenham prejuízo patrimonial, sendo possível a existência de várias vítimas num só roubo. A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de roubo na condição de dona dos valores subtraídos.
CONCURSO DE CRIMES
Se o agente em um único contexto fático emprega grave ameaça contra duas pessoas e subtrai bens de ambas, responde por dois crimes de roubo, em concurso formal (art. 70 do CPB), já que houve uma só ação e duas lesões patrimoniais;
O agente aborda uma pessoa na esquina e rouba seu dinheiro. Minutos depois aborda outra pessoa na próxima esquina e também subtrai seus pertences. Ocorrerá crime continuado pois vemos a incidência de dois crimes em dois contextos fáticos distintos (art. 71 CPB);
Se o agente aborda só uma pessoa e apena contra ela emprega a grave ameaça, mas acaba subtraindo objetos desta e de terceiro, que também se encontravam em seu poder, responde por dois crimes de roubo em concurso formal, desde que saiba que os objetos pertenciam a vítimas distintas;
Se o agente comete roubo em residência subtraindo objetos pertencentes ao corpo familiar como um todo (aparelho de som , TV, etc), comete crime único. Entretanto, se manifestar o desejo de subtrair objetos individualizados de cada um dos integrantes, haverá concurso formal.
Consuma-se com a posse da coisa ou com a retirada da coisa do campo de ação da vítima ou com a obtenção de um poder de fato sobre a coisa, sempre com violência ou ameaça. Os tribunais superioresjá decidiram que o roubo ocorre no momento em que o agente se apossa do bem da vítima.
Cabe tentativa, com a prática de violência ou ameaça, falhando a subtração ou a posse da coisa, por motivos alheios a vontade do agente.
ROUBO DE USO – por serem afetadas, além do patrimônio, a incolumidade física e a liberdade da vítima pelo emprego de violência ou grave ameaça, não se reconhece a existência da intenção de uso como hipótese de atipicidade. Da mesma forma, também não ocorrerá a modalidade de roubo privilegiado e o princípio da insignificância, ainda que o réu seja primário e a coisa roubada seja de pequeno valor.
ROUBO PRÓPRIO – o emprego da violência e da grave ameaça se dá durante a subtração do bem. Constituem meio para subjugar a vítima e viabilizar a subtração.
Roubo impróprio
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
ROUBO IMPRÓPRIO – a violência ou ameaça ocorre depois da subtração (logo depois), para garantir a posse da coisa ou a impunidade. O agente queria praticar um furto e já havia se apoderado do bem visado, contudo, LOGO APÓS a subtração, ele emprega violência ou grave ameaça a fim de garantir sua impunidade ou a detenção do bem. Não permitido a utilização de qualquer outro meio que diminua a resistência da vítima, senão a violência ou grave ameaça.
Ressalte-se que a violência ou grave ameaça tem que ocorrer LOGO APÓS a subtração, ou seja, num lapso temporal curto (imediato). Se, por acaso, ocorrer a subtração e tendo o agente conseguido deixar o local do crime tranquilamente e a violência ou grave ameaça ocorrer depois, fora do mesmo contexto fático, ocorrerá delitos distintos, ou seja, furto e ameaça ou lesões corporais, em concurso material.
A finalidade do agente ao empregar a violência ou grave ameaça é para garantir a sua impunidade ou a detenção da coisa para si ou para outrem.
Neste caso a consumação ocorre no exato momento em que é empregada a violência ou grave ameaça contra vítima, ainda que o agente não tenha finalidade de garantir a impunidade ou a detenção do bem. Ex. o agente retira a carteira da vítima e esta, percebendo o ocorrido, exige sua restituição, momento em que é agredida fisicamente ou ameaçada. A tentativa é admissível, segundo HELENO FRAGOSO, citando o seguinte exemplo: o agente, tendo completado a subtração, é preso após tentar o emprego de violência ou da ameaça para assegurar a posse da coisa ou a impunidade.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
§ 2º - A pena aumenta-se de 1/3 até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
São aplicáveis tanto para o roubo próprio quanto ao impróprio.
É bastante comum que o juiz reconheça duas ou mais causas de aumento (emprego de arma e concurso de agentes), no entanto, só poderá aplicar um aumento, nos termos do artigo 68, § único do CPB.
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
Abrange o emprego de armas próprias (instrumentos de ataque e defesa – revólver, espada, punhais, etc) e armas impróprias (instrumentos feitos para outra finalidade – facas, machados, foices, etc). a razão do aumento é a maior potencialidade lesiva da conduta. Só existe na arma verdadeira, portanto, os simulacros e as armas de brinquedo não configuram o aumento de pena.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
Aplica-se o aumento ainda que o juiz condene uma só pessoa na sentença, desde que haja prova do envolvimento de outra, sendo ela menor de idade, ter morrido ou fugido e não identificada.
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
É necessário que o agente tenha plena ciência de que está roubando alguém nessas condições. Inexiste o dolo eventual.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior;
Similar ao furto qualificado.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
Não se confunde com privação de liberdade. Está última, a privação de liberdade é duradoura. No caso do roubo a privação de liberdade ocorre por um curto lapso temporal. Ex. roubo de automóvel em que a vítima, após a abordagem, fica coma vítima dentro do veículo por breve espaço de tempo, unicamente para que possa sair do local. Entretanto, se a vítima fica por tempo considerável ocorrerá crime de roubo em concurso material com sequestro ou cárcere privado.
ROUBO QUALIFICADO
§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 a 15 anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos, sem prejuízo da multa.
As lesões corporais leves em decorrência da violência empregada ficam absorvidas pelo roubo. Admite a forma preterdolosa.
ROUBO QUALIFICADO – MORTE
É a figura conhecida por LATROCÍNIO, que se dá quando o agente provoca a morte da vítima durante o roubo. Aplica-se tanto no roubo próprio quanto no impróprio. É delito de natureza hedionda ( lei 8072/90), portanto, não se admite anistia, graça ou indulto. O regime inicial de cumprimento de pena deve ser necessariamente o fechado. A progressão de regime ocorrerá após o cumprimento de 2/5 da pena, se primário e 3/5, se reincidente. O livramento condicional será possível após o cumprimento de 2/3 da pena e se o agente não reincidente em crime específico.
O latrocínio admite a figura PRETERDOLOSA (ROUBO COM MORTE CULPOSA).
COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO – A súmula 603 do STF diz que a competencia para processar e julgar o latrocínio é do juiz singular, em razão de sua natureza patrimonial.
Quando duas ou mais pessoas são mortas, mas apenas um patrimônio é lesado, a doutrina e a jurisprudência dominantes são no sentido de que há crime único.
Pode ocorrer que o autor mate a vítima por outro motivo e não por vontade de roubar. Então, após matar a vítima, em nova empreitada, resolver furta-la. Desta feita, ocorrerá crime de homicídio em concurso material com delito de furto. É o caso do filho que, em desentendimento com o pai, mata o genitor e, depois, simula que ladrões entraram em sua casa, oportunidade em que subtrai alguns objetos para dar maior credibilidade.
O latrocínio é crime complexo porque em seu bojo estão duas figuras que atinge mais de um bem jurídico: PATRIMÔNIO e VIDA.
SITUAÇÕES SOBRE A CONSUMAÇÃO DO LATROCÍNIO
a) Subtração e morte se consumam – latrocínio consumado;
b) Subtração tentada e morte consumada – latrocínio consumado (súmula 610 do STF );
c) Subtração e morte tentadas – latrocínio tentado;
d) Subtração consumada e morte tentada – latrocínio tentado, segundo jurisprudência e doutrina dominante – HELENO FRAGOSO.
REQUISITOS PARA O LATROCÍNIO
a) Morte seja decorrente da violência empregada pelo agente;
b) A violência causadora da morte tenha sido empregada durante o contexto fático do roubo;
c) Que haja nexo causal entre a violência provocadora da morte e o roubo em andamento (empregada em razão do roubo).
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa
SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa ( a vítima ou terceiro), entretanto, se durante o roubo um dos criminosos mata o comparsa, por desavença ligada ao crime, ocorrerá roubo em concurso material com homicídio. Por outro lado, se pretendia matar a vítima e por erro de pontaria (aberratio ictus) vem a atingir o parceiro de crime, responderá por latrocínio, devendo o autor ser punido como se tivesse matado quem pretendia.
2. EXTORSÃO
Artigo 158 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuitode obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa.
Pena – reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de 1/3 até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 a 12 anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
A conduta consiste em coagir a vítima a fazer algo (entregar dinheiro ou outro bem qualquer, fazer compras para o agente, etc), tolerar que se faça ( permitir que o agente rasgue um documento, fazer uso de um imóvel sem pagar, etc) ou deixar de fazer alguma coisa (não entrar com alguma ação judicial, etc).
O delito mais comum é a extorsão por meio de telefonema em que o agente simula ter sequestrado alguém da família da vítima, exigindo que se faça um depósito em dinheiro ou créditos de telefonia celular, etc.
As formas de execução da extorsão (violência e grave ameaça) se assemelha ao roubo.
DIFERENÇA ENTRE EXTORSÃO, CONSTRANGIMENTO ILEGAL, EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES , ESTELIONATO E ROUBO
A intenção de obter INDEVIDA VANTAGEM ECONÔMICA é o que diferencia a extorsão do constrangimento ilegal e do exercício arbitrário das próprias razões.
No constrangimento ilegal o agente emprega violência ou grave ameaça para força a vítima a fazer ou não fazer algo, sem uma intenção definida, portanto, o dolo é genérico. Na extorsão o dolo é específico.
No exercício arbitrário das próprias razões o agente emprega violência ou grave ameaça para cobrar o que lhe é DEVIDO. Na extorsão a vantagem é indevida.
No estelionato a vítima entrega o bem em razão de engano proporcionado pelo autor através de fraude. Na extorsão aquela é obrigada a entregar algo ao agente.
No roubo o agente toma por si mesmo o bem, enquanto na extorsão , aquele faz com que a vítima lhe entregue, ou ponha a sua disposição ou se renuncie em seu favor. No ROUBO a obrigação da vítima em entregar o bem não é imprescindível, pois, o autor pode tomá-la ou, sob violência ou grave ameaça, fazer com a vítima lhe entregue naquele momento, pois, se não o fizer o autor pode lhe tomar a qualquer momento. Na extorsão, quando a vítima entrega o bem ou demonstra sua colaboração, esta ação tem que ser imprescindível, pois, caso contrário o autor não conseguiria o seu intento. É muito comum na extorsão feita à distância (carta, e-mail, telefonema, internet, etc) ou quando estando autor e vítima próximos , necessita de ato pessoal da vítima (assinar um cheque, fornecer senha de cartão bancário, etc).
OBJETO JURÍDICO – O objeto jurídico tutelado pelo direito penal é o patrimônio, a incolumidade física e a liberdade individual.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO – tanto aqueles que sofrem violência física ou grave ameaça quanto aqueles que sofrerem lesão patrimonial.
CONSUMAÇÃO – a extorsão é crime formal porque a ação nuclear é CONSTRANGER a vítima a fazer, tolerar ou deixar de fazer, ou seja, quando a vítima assume um comportamento positivo ou negativo contra a sua vontade. Desta feita, o delito se consuma independentemente da obtenção da vantagem.
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de 1/3 até metade.
a) Cometido por duas ou mais pessoas – exige-se que pelo menos duas pessoas pratiquem atos executórios para que a pena seja agravada;
b) Com emprego de arma – conceito igual ao crime de roubo;
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
Praticada mediante lesões corporais graves e morte – conceito igual ao crime de roubo;
EXTORSÃO QUALIFICADA (SEQUESTRO RELÂMPAGO)
§ 3º - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 a 12 anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
Prevalece a interpretação de que se trata de crime de extorsão por ser imprescindível a colaboração da vítima em fornecer senha, nos casos em que a mesma é arrebatada, tem sua liberdade restringida e obrigada a fornecer sua senha para saques em caixas eletrônicos e para efetuar compras com cartão bancário.
A lei 11923/2009 pacificou esse entendimento transformando o sequestro relâmpago em figura qualificada do crime de extorsão.
DIFERENÇA ENTRE EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E SEQUESTRO RELAMPAGO
No primeiro o resgate é exigido de outras pessoas e no segundo da própria vítima.
Haverá concurso de crimes se o autor, primeiramente roubar a vítima, levando celulares, veículo, dinheiro, posteriormente, reter a mesma para proceder saques com sua senha e cartões bancários. Haverá concurso formal impróprio, ou seja, uma só ação surgirá dois ou mais crimes contra o patrimônio.
3. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO
Artigo 159 – Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.
Pena – reclusão, de 8 a 15 anos.
§ 1º - Se o sequestro dura mais de 24 horas, se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena – reclusão, de 12 a 20 anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave.
Pena – reclusão, de 16 a 24 anos.
§ 3º - Se resulta a morte.
Pena – reclusão, de 24 a 30 anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.
OBJETO JURÍDICO – o objeto jurídico tutelado pelo direito penal é o patrimônio e a liberdade, portanto, é crime complexo.
Abrange também o cárcere privado, em que a vítima fica trancafiada em local totalmente fechado. Normalmente a captura se dá com o emprego de violência ou grave ameaça, o mesmo ocorrendo para sua manutenção no cativeiro. O termo sequestrar deixa implícito a violência ou grave ameaça e também engloba as hipóteses em que a vítima não pode, por qualquer motivo, oferecer resistência (pequena idade, doença, etc.).
Exige que o sequestro seja de uma pessoa, portanto a captura de animal de estimação seguida de pedido de resgate para não matar o animal configura crime de extorsão.
TIPO SUBJETIVO – é o dolo específico de obter vantagem econômica ou qualquer vantagem da mesma espécie. Portanto, o sequestro de uma criança com o objetivo de manter relações sexuais com sua mãe, configura a crime de estupro em concurso material com sequestro (artigo 148).
Damásio de Jesus diverge desse entendimento, entendendo que há extorsão mediante sequestro. No entanto, o delito em espécie é expressamente definido em lei como crime contra o patrimônio.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa.
CONSUMAÇÃO
A consumação se dá no exato momento em que a vítima é capturada, privada de sua liberdade, ainda que os sequestradores não consigam receber ou pedir o resgate, desde que a intenção seja esta. É necessário que a vítima seja privado de sua liberdade por tempo relevante, senão poderá ocorrer a modalidade tentada.
O efetivo pagamento é mero exaurimento do crime de extorsão mediante sequestro.
É delito permanente, cuja consumação se prolonga com o tempo. Enquanto a vítima permanecer em poder dos sequestradores o delito está ocorrendo, assim a prisão em flagrante poderá ocorrer a qualquer momento.
COMPETÊNCIA
A competência para a apuração é a do local onde se deu a captura, nos termos do artigo70 do CPP.
De acordo com o artigo 71 do CPP, tratando-se de infração permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência se dará por prevenção.
QUALIFICADORAS DECORRENTES DE LESÃO GRAVE OU MORTE
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave.
Pena – reclusão, de 16 a 24 anos.
§ 3º - Se resulta a morte.
Pena – reclusão, de 24 a 30 anos.
Só incidirão quando o resultado agravador for provocado na própria pessoa sequestrada. Assim, havendo morte de uma terceira pessoa haverá concurso material entre os crimes de homicídio qualificado e extorsão mediante sequestro.
As qualificadoras se aplicam tanto no dolo quanto na culpa em relação ao resultado agravador.
Havendo o reconhecimento de mais de uma qualificadora de gravidade distinta, deverá ser considerada a mais grave.
DELAÇÃO EFICAZ
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.
Instituto criado para facilitar a apuração do delito, prevê a obtenção de benefício ao agente que, por INICIATIVA PRÓPRIA OU QUANDO QUESTIONADO PELA AUTORIDADE, prestar informações que efetivamente facilitem a localização e libertação do sequestrado.
4. EXTORSÃO INDIRETA
Artigo 160 – Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Pena – reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.
OBJETO JURÍDICO – O patrimônio e, indiretamente, a administração da justiça, que pode ser afetada em caso de apresentação do documento fraudulento às autoridades.
Destina-se a coibir os expedientes opressivos praticados por agiotas, para garantir-se contra o risco do dinheiro emprestado. Temos como exemplo o de induzir o necessitado cliente a assinar contrato simulado de depósito ou assinar cheques sem a provisão de fundos.
REQUISITOS
a) Exigência ou recebimento de documento que possa dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou terceiro – impõe a entrega do documento como condição da entrega do dinheiro ou aperfeiçoamento de um contrato qualquer (compra e venda, locação, etc.). Na modalidade RECEBER a iniciativa é da vítima, que procura o agente, faz a proposta e a entrega do documento para garantir a concretização do negócio que pretende;
b) Intenção de garantir ameaçadoramente o pagamento da dívida - a vítima, para obter o crédito, simula um “corpo de delito” de uma infração penal qualquer (falsifica cheque, falsifica assinatura, elabora documento em que confessa um crime qualquer) e entrega o documento ao agente, que, de posse deste, tem uma maior garantia de seu crédito. A vítima vê-se fortemente impelida a não deixar passar o vencimento da dívida sem o pagamento, em razão do risco de ser processada criminalmente.
c) ABUSO DA SITUAÇÃO DE NECESSIDADE FINANCEIRA DA VÍTIMA.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa, mas na maioria das vezes é o agiota.
SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa.
CONSUMAÇÃO – com a exigência do documento. A sua elaboração e sua entrega é mero exaurimento. É delito formal.
Na modalidade receber o delito se consuma com o recebimento do documento pelo autor, portanto, é crime material.
A tentativa é admissível.
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA.
Capítulo III
DA USURPAÇÃO
O capítulo em apreço protege o patrimônio no que concerne aos bens imóveis. Na impossibilidade real de se furtar um imóvel, que não é sujeito à remoção, nem tampouco foge totalmente à esfera de vigilância da vítima utilizou-se o termo usurpação, que significa a conduta de quem adquire alguma coisa com fraude ou indevidamente.
1. ALTERAÇÃO DE LIMITES
Artigo 161 – Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia.
Pena – detenção, de 1 a 6 meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
A ação consiste em suprimir ou deslocar tapume(cerca ou uma vedação feita com tábuas ou outro material utilizado para separar propriedades imóveis), marco (sinal demarcatório, ou seja, pedras, piquetes, postes, arvores, tocos de madeira, padrões, etc.) ou qualquer outro sinal indicativo da linha divisória em propriedade imóvel, para dela se apossar, no todo ou em parte.
Uma corrente entende que se trata de crime próprio, que só pode ser praticado pelo proprietário do imóvel contíguo. Para outra corrente, porém, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que tenha interesse na ação, ou seja, possuidor ou futuro comprador do imóvel contíguo, um herdeiro ou até mesmo um co-proprietário contra o outro, no caso de terem partes demarcadas.
É crime formal. Consuma-se na supressão ou deslocamento do sinal divisório, mesmo sem o proveito do agente. Admite-se tentativa.
O elemento subjetivo é o dolo específico, com a finalidade de apropria-se de coisa alheia imóvel.
Objeto jurídico é o patrimônio.
Classificação doutrinária – crime próprio ou comum (conforme entendimento doutrinário), formal, comissivo, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente.
2. USURPAÇÃO DE ÁGUAS
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;
Configura-se com no desvio ou represamento de águas alheias, em proveito próprio ou de outrem e em detrimento de uma propriedade pública ou privada. As águas são não as que no momento se acham na propriedade da vítima, como também as que por ela vão passar. Podem ser águas correntes ou estagnadas, perenes ou temporárias, nascentes ou pluviais e até subterrâneas. A ação deve envolver massa significativa de águas.
É crime formal e se consuma com o desvio ou represamento, admitindo-se tentativa.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o passivo é o proprietário de algum leito ou curso de água.
Elemento subjetivo é o dolo específico, não existindo a modalidade culposa.
A classificação doutrinária é a mesma para a alteração de limites, exceto quanto ao sujeito ativo.
3. ESBULHO POSSESSÓRIO
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
Consiste na invasão de terreno ou edifício alheio, para apossamento, COM VIOLENCIA A PESSOA OU GRAVE AMEAÇA, ou concurso de mais de duas pessoas. Esbulhar é tomar posse (dolo direto) de modo a expulsar o possuidor.
O concurso de agentes serve para tipificar o crime. A cooperação criminosa entre os agentes pode ser de presença física ou meramente intelectual ou de auxílio.
Não tipifica o crime a invasão pacífica, sem violência ou grave ameaça e, ainda, sem concurso de agentes. A mera turbação, sem intenção de esbulho, também não tipifica o crime.
Sujeito ativo é qualquer pessoa e o passivo é a pessoa que detém a posse de um imóvel.
Elemento subjetivo é o dolo específico. Não se admite a modalidade culposa.
Já se decidiu nos tribunais que a invasão de propriedade rural com finalidade ou sob pretexto de pressionar as autoridades a dinamizar a reforma agrária não configura o crime em apreço porque está ausente o elemento subjetivo do tipo.
Objeto jurídico é o patrimônio e também a incolumidade física, bem como a liberdade do indivíduo.
Classificação doutrinária – crime comum, formal, de forma livre, comissivo, instantâneo, unissubjetivo, ou plurissubjetivo, plurissubsistente. Admite-se tentativa.
Nas hipóteses do artigo acima e seus incisos a ação penal será publica se o direito for em prejuízo de propriedade pública ou se houver violência. Mas será privada no delito em prejuízo de propriedade particular e se não houve violência. O interesse público limita-se à propriedade pública ou à forma de violenta de cometimento do delito.4. SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE MARCA EM ANIMAIS
Artigo 162 – Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade.
Pena – detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa.
Comete o crime quem suprime ou altera marca ou sinal em gado ou rebanho alheios, mas o tipo não abrange animais sem marcação. Pressupõe a intenção em apropriar-se dos animais ( uma forma de usurpação).
Objeto jurídico é a propriedade dos semoventes.
É crime formal, consuma-se com a alteração ou a supressão mencionada, mesmo em relação a um só animal. Admite-se tentativa.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, enquanto o passivo é o proprietário das reses.
Elemento subjetivo é o dolo genérico, não se punindo a modalidade culposa.
Classificação doutrinaria – crime comum, formal, de forma livre, comissivo, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente.
Capítulo IV
DO DANO
1. DANO
Artigo 163 – Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Pena – detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
O dano consiste na destruição, inutilização ou deterioração de coisa alheia, de modo a prejudicar a sua utilidade, o seu valor ou a sua substância. Dá-se por ação ou omissão, contudo, nesta última, deve ser intencional, ou seja, o agente deve encontrar-se na condição de garante.
Objeto jurídico é a propriedade ou patrimônio.
Elemento subjetivo é o dolo genérico, não existe a modalidade culposa.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o proprietário, que poderá incidir no artigo 346.
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor.
O coproprietário pode praticar o crime, tratando-se de coisa infungível ou de coisa fungível na medida em que ultrapasse seu quinhão.
Consuma-se com a ocorrência do dano. É crime material, admitindo-se a tentativa.
Classificação doutrinária – crime comum, material, de forma livre, comissivo, comissivo por omissão, instantâneo, de dano, unissubjetivo, plurissubsistente.
2. DANO QUALIFICADO
Parágrafo único – Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima.
Pena – detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Algumas considerações
a) Preso que danifica cadeia para fugir, segundo a doutrina, responde pelo crime de dano qualificado, pois, não se exige qualquer elemento subjetivo específico no tipo penal, contudo, o STF já decidiu que a conduta do preso que destrói, inutiliza ou deteriora os obstáculos materiais com o objetivo de fuga não comete o crime por que se encontra ausente à finalidade especial de agir, ou seja, o propósito de causar prejuízo ao titular do objeto material.
b) Motivo egoístico é um particular motivo torpe, pois, quem danifica patrimônio alheio somente para satisfazer um capricho ou incentivar um desejo de vingança ou ódio pela vítima deve responder mais gravemente pelo que faz, assim ensina a doutrina. Ex. agente destrói motocicleta do colega de classe somente para ser o único da turma a ter aquele tipo de veículo.
3. INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA
Artigo 164 – Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo.
Pena – detenção, de 15 dias a 6 meses, ou multa.
A ação consiste no pastoreio ilegítimo ou abusivo,ou seja, levar animais para propriedade alheia (rural ou urbana) e ali deixa-los, sem consentimento de quem de direito. Basta um só animal, entendendo-se que o termo animais fora utilizado como gênero. No entanto este único animal deve causar prejuízo ou dano no local.
O fato só é crime se resultar prejuízo. Trata-se de uma condição inserida como elemento objetivo do tipo.
A tentativa é irrelevante; ou há prejuízo e o crime é consumado, ou não há prejuízo e fato é atípico.
SUJEITO ATIVO – é qualquer pessoa, independente de ser dono do animal ou não.
SUJEITO PASSIVO – é o proprietário do lugar onde os animais foram introduzidos.
Elemento subjetivo é dolo genérico, inexistindo a forma culposa, se o ingresso ocorrer por falta de cuidado do dono não haverá crime. Não deve haver o propósito de causar dano, pois, se caso existisse a conduta seria do artigo 163 do CPB.
OBJETO JURÍDICO – o patrimônio.
CONSUMAÇÃO – no instante que o animal provoca o dano na propriedade alheia. A doutrina entende ser impossível a tentativa, pois, se ocorre o resultado danoso, que é elementar do crime, o delito está consumado.
A AÇÃO PENAL SERÁ PRIVADA conforme os termos do artigo 167 do CPB.
4. DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO
Artigo 165 – Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico.
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.
Delito revogado pela lei 9605/98 que trata dos crimes ambientais.
5. ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO
Artigo 166 – Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei.
Pena – detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa.
Delito revogado pela lei 9605/98 que trata dos crimes ambientais.
6. AÇÃO PENAL
Artigo 167 – Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa.
Capítulo V
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
1. APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Artigo 168 – Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção.
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
É um crime normalmente marcado pela quebra de confiança, uma vez que a vítima espontaneamente entrega o bem ao agente e autoriza que ele deixe o local em seu poder, e este, depois de estar na posse ou detenção, inverte seu ânimo em relação ao objeto, passando a se comportar como dono. A vítima entrega uma posse transitória ao agente e, este não restitui o bem.
CONCEITO DE POSSE E DETENÇÃO DIANTE DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
a) Possuidor é quem tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade (artigo 1196 CC).
b) Detentor é aquele que, achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
REQUISITOS PARA A APROPRIAÇÃO INDÉBITA
a) Entrega do bem pela vítima, de livre, consciente (não induzida a erro) e espontânea vontade - a vítima entrega o bem porque quer, à pessoa certa e no montante correto.
b) Posse e detenção desvigiada – basta que a vítima entregue o bem ao agente e autoriza que ele deixe o local em seu poder. Se houver vigilância e o autor retirar o bem do local será furto.
c) Boa-fé do agente ao receber o bem - o dolo deve ser posterior ao recebimento do bem. Se for antes haverá estelionato.
d) Inversão de ânimo - é o momento da consumação do delito, pois desaparece a boa-fé por parte do agente e surge a má-fé, o dolo de se tornar dono daquilo que é mero possuidor ou detentor. Ocorre em duas situações:
- Pratica ato de disposição que somente poderia ser efetuado pelo proprietário (venda, locação, doação, etc). É conhecida por APROPRIAÇÃO INDÉBITA PROPRIAMENTE DITA e difere do crime de DISPOSIÇÃO DE COISA ALHEIA COMO PRÓPRIA, pois neste crime o autor não possuía a posse ou a detenção da coisa;
- Pela recusa na devolução do bem à vítima ou de entrega ao destinatário a quem o bem fora direcionado (negativa de restituição).
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa que tenha a posse ou a detenção lícita do bem alheio.
SUJEITO PASSIVO – quem sofre o prejuízo. O proprietário, o possuidor, o usufrutuário, etc.
CONSUMAÇÃO – consuma-se com a inversão do ânimo.
TIPO SUBJETIVO – é o dolo de tornar-se dono daquilo que é mero possuidorou detentor. Pressupõe ANIMUS REM SIBI HABENDI – intenção de não restituir a coisa alheia ao dono.
APROPRIAÇÃO DE USO – não constitui crime. Isso ocorre quando alguém tem a posse ou a detenção de um bem alheio, mas não está autorizado a fazer uso dele, porém, o faz, mas imediatamente a restitui na sua integralidade. É o que ocorre quando o dono de uma oficina mecânica usa o carro de um cliente que o deixa em poder para reparos, mas, quando o proprietário vai buscar no dia seguinte o encontra em perfeito estado e com a mesma quantidade de combustível.
O esquecimento na devolução do bem não constitui crime por falta de dolo.
Apenas as coisas móveis podem ser objeto do crime, pois, sendo imóvel poderia constituir esbulho possessório, dependendo da situação.
2. AUMENTO DE PENA
§ 1º - A pena é aumentada de 1/3, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
Nesse caso a doutrina ocorre no caso de deposito miserável em que o agente recebeu a posse ou detenção de coisa alheia para evitar que elas pereçam porque o dono não tem onde guardá-la em razão de incêndio ou inundação. Também por equiparação, que se refere as bagagens dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde estiverem. Nas situações em que as bagagens ficam sob a responsabilidade dos funcionários do hotel.
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Em razão de ofício (pintor, mecânico, pedreiro, etc), emprego (vendedor de loja, Office-boy, etc) ou profissão (predominantemente técnico e intelectual – arquiteto, advogado, médico, etc).
3. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
Artigo 168 A – Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional.
Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2º - É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 3º - É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios;
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
4. APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA DA NATUREZA
Artigo 169 – Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza.
Pena – detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa.
Parágrafo único – na mesma pena incorre:
5. APROPRIAÇÃO DE TESOURO
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio;
6. APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 dias.
Artigo 170 – Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
APROPRIAÇÃO INDÉBIDA PREVIDENCIÁRIA
Com previsão legal na lei 9983/2000, com a seguinte conduta: “DEIXAR DE REPASSAR À PREVIDENCIA SOCIAL AS CONTRIBUIÇÕES RECOLHIDAS DOS CONTRIBUINTES, NO PRAZO E FORMAL LEGAL OU CONVENCIONAL”.
OBJETO JURÍDICO – tutela o patrimônio de todos os cidadãos assegurados pelo INSS.
Conduta consiste em reter a contribuição social que já foi descontada do contribuinte, mas não foi repassada ao sistema previdenciário dentro do prazo.
Trata-se de crime doloso, portanto, o atraso eventual não constitui crime.
SUJEITO ATIVO – o responsável por recolher a contribuição e repassá-lo ao sistema previdenciário.
SUJEITO PASSIVO – o ESTADO (INSS).
CONSUMAÇÃO – com o decurso do prazo para o recolhimento, desde que doloso.
Pela sua natureza fiscal ou equiparados, os tribunais superiores já entenderam que a ação penal só poderá ser intentada após o esgotamento da via administrativa, ou seja, somente após o lançamento definitivo é que a denúncia pode ser oferecida, momento em iniciará a contagem do prazo prescricional.
EXTINÇAO DA PUNIBILIDADE
- Se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devida à Previdência Social, de acordo com a legislação, antes do início da ação fiscal. A ação fiscal se inicia com a notificação pessoal do contribuinte a respeito de sua instauração;
- Se a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débito, inclusive acessórios;
PERDÃO JUDICIAL E PRIVILÉGIO
O Juiz pode deixar de aplicar a pena (perdão judicial) ou aplicar somente a de multa (figura privilegiada) se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
- Tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios;
- O valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como o mínimo para ajuizamento de suas execuções fiscais.
APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA DA NATUREZA
OBJETO JURÍDICO – tutela a propriedade.
Apropriação de coisa havida por erro – ocorre quando a vítima, espontaneamente, entrega o bem ao agente. No entanto, a vítima está em erro, pois, tem a falsa percepção da realidade, e entrega o bem ao autor. O erro não foi criado pelo agente, podendo ser:
- A pessoa destinatária do bem – o objeto deveria ser entregue a uma pessoa e a vítima, por erro, entrega a outra;
- À coisa entregue. Ocorre quando uma pessoa compra um bem de menor valor e, por erro, os funcionários da loja colocam no embrulho objeto muito mais valioso e o agente, ao abrir o pacote em casa, resolve não devolver;
- À existência de obrigação – a pessoa se engana, achando que deve entregar um bem ou valor a terceiro, quando isso não é necessário. Ex. pagar uma dívida duas vezes, sem lembrar que já pagou.
IMPORTANTE – para a configuração do crime é necessário que o agente recebe o bem de boa fé e só perceba o equívoco da vítima quando já está de posse ou detenção do bem e, a partir daí, resolve se apoderar do mesmo. O dolo é posterior.
Apropriação de coisa havida por caso fortuito ou força da natureza – pressupondo um acontecimento acidental e inevitável.
Caso fortuito – alguma participação humana – ex. bois que ingressam em propriedade alheia porque alguém esqueceu a porteira aberta;
Força da natureza – vendaval que leva objetos para a casa do vizinho ou aumento do volume das águas de um rio que levam um barco até a propriedade alheia. O delito só ocorrerá se o agente, ao perceber o que ocorreu, se nega a devolver os bens.
APROPRIAÇÃO DE TESOURO
Esse delito é uma norma penal em branco, pois, tem regra no CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. O artigo 1264 estabelece que o depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não hajamemória, uma vez localizado casualmente, será dividido por igual entre o proprietário do prédio onde o fato ocorreu e quem o encontrou. Ex. jardineiro que ao plantar uma árvore, encontra uma caixa com joias enterradas.
Já o artigo 1265 do CC, fala que o tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado. Assim, quem se apodera do tesouro comete crime de furto. O delito de apropriação de tesouro somente se aplica àquele que casualmente o encontrou em propriedade alheia e, tendo de dividi-lo pela metade com o dono do imóvel, acaba apropriando-se, no todo ou em parte, da quota do proprietário.
APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA
A conduta é apropriar-se de coisa perdida pelo proprietário ou possuidor em local público (ruas, avenidas, praças, etc) ou aberto ao público (ônibus, metrôs, casas de espetáculos, etc.). assim o objeto está fora da esfera de vigilância do dono.
O objeto esquecido em local público ou aberto ao público é considerado coisa perdida, mas, se o esquecimento ocorreu em local privado, o apoderamento constitui furto.
Quem encontra coisa abandonada não comete crime algum, já que esta não possui dono, pois, este se desinteressou e jogou fora.
A conduta típica desse crime pressupõe a finalidade de ter a coisa para si de forma definitiva (ANIMUS REM SIBI HABENDI).
É considerado crime à prazo,pois, a lei confere prazo de quinze dias para a devolução do bem encontrado, diretamente ao dono ou às autoridades. Antes o fato será atípico.
OBJETO JURÍDICO – o patrimônio.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa.
TIPO SUBJETIVO – é o dolo direto.
CONSUMAÇÃO – no momento em que deixa de restituir o bem ao dono ou a autoridade (autoridade policial ou judicial). É crime omissivo próprio, portanto, não se admite tentativa.
AÇÃO PENAL – pública incondicionada.
APROPRIAÇÃO PRIVILEGIADA
Ocorre quando a coisa apropriada é de pequeno valor e o autor for réu primário. O juiz poderá substituir a pena de reclusão por detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar apenas multa. É aplicado a todos os crimes do capítulo da apropriação indébita, exceto na apropriação indébita previdenciária.
Capítulo VI
DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
1. ESTELIONATO
Artigo 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.
Pena – reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, de 500 mil réis a 10 contos de réis.
O estelionato é um crime marcado pelo emprego de fraude, uma vez que o agente, valendo-se de algum ardil, consegue enganar a vítima e convencê-la a entregar-lhe algum bem e, na sequência, locupleta-se ilicitamente do objeto.
ARTIFÍCIO – o agente lança mão de algum artifício, faz uso de algum objeto para ajudá-lo no golpe. Ex.: o golpe do bilhete premiado. Também pode consistir em disfarces, efeitos especiais, etc.
ARDIL – conversa enganosa, ou seja, o agente engana a vítima com mentiras. Ex.: pedido de doações da entidades inexistentes, com doações em conta-corrente (conto do vigário).
QUALQUER OUTRO MEIO FRAUDULENTO – podemos citar o silêncio, quando malicioso ou intencional que, de tal forma, leva a vítima a permanecer em erro preexistente. Ex.: a vítima entrega um bem ao autor achando que é outra pessoa e, o agente, ciente disto, silencia e o recebe.
O objetivo do autor é induzir ou manter alguém em erro para auferir vantagem ilícita. Quando falamos em alguém entendemos no ser humano. Portanto, a utilização de cartão clonado para enganar o programa de computador para sacar dinheiro, sem autorização, da conta da vítima. O prejuízo pode ser da pessoa enganada ou de terceiro.
TORPEZA BILATERAL – ocorre quando a vítima também age de má-fé, ou seja, quando ela também visa obter vantagem econômica ilícita, não necessariamente em prejuízo da outra parte. Segundo entendimento doutrinário pacificado, o crime persiste independentemente da torpeza bilateral.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa. Tanto aquele que emprega a fraude como aquele que DOLOSAMENTE recebe a vantagem ilícita. Admite coautoria e participação. Ex. A e B, combinados previamente, colocam o crime em prática, sendo que A convence C entregar um objeto a B que, após recebe-lo, desaparece com o bem.
SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa. Os que sofrem o prejuízo patrimonial e todos os que foram enganados pela fraude. Visa pessoa determinada.
TIPO SUBJETIVO – dolo direto específico, de auferir vantagem ilícita induzindo alguém a erro.
CONSUMAÇÃO – é crime material, portanto, consuma-se quando o agente aufere vantagem ilícita. Pressupõe duplo resultado: vantagem do agente e prejuízo da vítima, que são normalmente concomitantes. Se isso não acontecer é possível que a vítima sofra o prejuízo e o agente não aufira vantagem. Desta feita, temos o estelionato tentado. É fato raro, no entanto, pode acontecer. Cita-se como exemplo o golpe aplicado pelo agente em que a vítima tem depositar dinheiro em alguma conta bancária. Pode ocorrer que no momento do depósito a vítima erre o número da conta e deposito noutra diferente da informada pela agente. Assim, ocorrerá tentativa de estelionato, apesar do prejuízo da vítima, porque o agente não auferiu vantagem. Lado outro, se a pessoa possuidora da conta, cujo engano da vítima, ocorreu o depósito por erro, ficar com o dinheiro, incorrerá em crime de apropriação de coisa havida por erro.
TENTATIVA – é admitida de três formas:
a) O agente emprega a fraude e não consegue enganar a vítima;
b) O agente emprega a fraude, engana a vítima, mas ela acaba não entregando o bem;
c) O agente emprega a fraude, engana a vítima, ela entrega os valores, mas estes não chegam ao agente.
IMPORTANTE – a fraude tem ser idônea, ou seja, capaz de enganar a vítima (homem médio). Caso isso, não acontece será fato atípico.
DISTINÇÕES
a) Estelionato e crime contra a economia popular – no estelionato o agente emprega a fraude visando a obtenção de vantagem ilícita em prejuízo alheio, contudo, visa a pessoa ou pessoas determinadas. Por isso, é necessário a identificação da vítima. No crime contra a economia popular o agente visa pessoas indeterminadas, como na adulteração da balança de mercadoria, de produtos, bombas de posto de gasolina, etc.
b) Estelionato e abuso de incapazes – No primeiro a vítima tem que ser capaz (tenha discernimento), não ocorrendo isso será crime de abuso de incapazes.
c) Estelionato e furto de energia – a doutrina costuma distinguir a conduta da seguinte forma: quando o agente capta, clandestinamente, a energia da rede pública ou do vizinho, o crime é de furto. Entretanto, se ele já é cliente (usuário) da empresa fornecedora e adultera o relógio de luz, o crime é de estelionato.
d) Estelionato e falsificação de documento - o STJ já sumulou (súmula 17) que o documento falsificado, quando constitui elemento para a prática de estelionato, é absorvido pelo estelionato.
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
Se o réu é primário e de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme dispõe no artigo 155, §2º.
2. DISPOSIÇÃO DE COISA ALHEIA COMO PRÓPRIA
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;
O agente se passa por dono de certo bem (móvel ou imóvel) e o negocia com terceiro de boa-fé sem possuir autorização do dono, causando assim , prejuízo ao adquirente.
O delito se consuma no instante em que o agente recebe o preço. No caso de locação, a consumação se dá com o recebimento do valor do aluguel.
A tentativa é plenamente possível.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO – é quem adquire, aluga ou recebe o bem em garantia sem saber que não pertence ao agente. Também será sujeitopassivo o verdadeiro dono.
A elaboração de compromisso de compra e venda por parte de quem não é dono não constitui o crime em análise, mas ESTELIONATO CAPUT, caso haja obtenção de vantagem ilícita.
3. ALIENAÇÃO OU ONERAÇÃO FRAUDULENTA DE COISA PRÓPRIA
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
As condutas típicas são as mesmas do parágrafo anterior. No crime em análise, o objeto pertence ao agente, contudo, está gravado de cláusula de inalienabilidade ou de ônus, ou cuida-se de coisa litigiosa ou de imóvel que o agente prometeu vender parceladamente a outrem.
Não haverá crime se o agente realizar o negócio após cientificar a outra parte acerca das circunstâncias que envolvem o bem, uma vez que o texto legal estabelece como elementar do crime o SILÊNCIAO ENTRE AS PARTES.
COISA INALIENÁVEL – é aquela que não pode ser vendida em razão de determinação legal, convenção (doação com cláusula de inalienabilidade, por ex.) ou disposição testamentária.
COISA GRAVADA DE ÔNUS – é aquela sobre a qual pesa um direito real em decorrência de cláusula contratual ou disposição legal (art. 1225 CC) - HIPOTECA OU ANTICRESE, por exemplo.
BEM LITIGIOSO – é aquele objeto de discussão judicial (usucapião contestado, reinvidicação, etc)
4. DEFRAUDAÇÃO DE PENHOR
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
O penhor é um direito real em que a coisa móvel dada em garantia fica sujeita ao cumprimento de obrigação. Uma pessoa empresta dinheiro a outra, e o devedor entrega joias ao credor como garantia de dívida. O devedor continua sendo o dono dos bens, mas eles ficam na posse do credor, de modo que, não havendo pagamento da dívida, as joias serão usadas para esse fim – serão vendidas pelo credor, por exemplo. De acordo com o artigo 1431 CC, o devedor continua na posse do bem e tem a obrigação de guardar e conservar.
O crime ocorre quando o devedor está em poder do bem empenhado e o vende, permuta, doa ou, de alguma maneira o inviabiliza como garantida de dívida – destruindo-o, ocultando-o, inutilizando-o, consumindo-o, etc.
SUJEITO ATIVO – somente o devedor.
SUJEITO PASSIVO – é o credor que, com a defraudação, fica sem a garantia de sua dívida.
CONSUMAÇÃO – no momento da defraudação (desfalque, enganação). A tentativa é possível.
Garantia real gravada em bem móvel. O credor pignoratício possui preferência no recebimento da dívida em face da entrega da garantia em caso de inadimplência ou descumprimento da obrigação assumida pelo pelo devedor original.
José foi a Caixa Econômica Federal para adquirir um emprêstimo de R$1.000,00, cujo pagamento deverá ocorrer em 03 meses, a partir da data da liberação do recurso. José deixou como garantia um anel de ouro avaliado em R$1.500,00. A CEF é a credora pignoratícia e o José o devedor pignoratício. Caso a dívida não seja quitata no prazo contratual, o bem dado em garantia será transferido para o credor pignoratício
5. FRAUDE NA ENTREGA DE COISA
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Pressupõe uma situação jurídica envolvendo duas pessoas, em que uma tem o dever de entregar objeto, móvel ou imóvel a outra, porém, modifica fraudulentamente, de modo que possa prejudicar a outra parte. A modificação deve recair sobre a substância (natureza da coisa – entregar vidro no lugar de cristal), qualidade ( entregar a mesma mercadoria, no entanto de pior qualidade – objeto usado ao invés de novo) ou quantidade (dimensão e peso menores).
Para a consumação exige-se a efetiva entrega do bem à vítima. Portanto, o ato de defraudar o bem antes da entrega é considerado ato preparatório. A tentativa é admissível quando o agente não consegue entregar o bem.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa, mas tem que ser determinada.
6. FRAUDE PARA RECEBIMENTO DE INDENIZAÇÃO OU VALOR DE SEGURO
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
É necessário que haja prévio contrato de seguro em vigor. Pode ocorrer das seguintes formas:
a) DESTRUIR ou OCULTAR – no todo ou em parte, coisa própria(móvel ou imóvel). Ex. quem não quer mais o carro ou precisa de dinheiro, ateia fogo no automóvel ou o esconde, alegando que fora furtado;
b) LESIONAR O PRÓPRIO CORPO OU SAÚDE - o agente se autolesiona, mas faz parecer à seguradora que foi vítima de agressão ou acidente;
c) AGRAVAR AS CONSEQUENCIAS DA LESÃO OU DOENÇA - provocar infecção em um ferimento para que ocorra gangrena na perna e a necessidade de amputação.
CONSUMAÇÃO - O crime se consuma quando o agente age dessa forma, independente do recebimento do seguro. A tentativa é admissível.
SUJEITO ATIVO – o segurado (crime próprio).
SUJEITO PASSIVO – a seguradora.
OBJETO JURÍDICO – o patrimônio da seguradora.
7. FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
Ocorre em duas condutas:
a) Emitir cheque sem fundos – ciente que não existe o dinheiro e a vítima, acreditando na boa-fé do agente, entrega a mercadoria;
b) Frustrar o pagamento do cheque – existe o dinheiro no momento da emissão do cheque, contudo, antes do saque pela vítima, o agente retira o dinheiro ou emite ordem de sustação.
IMPORTANTE
Sendo cheque especial a emissão desde o valor tem que ultrapassar o limite.
O cheque é uma ordem de pagamento à vista, por isso, o cheque pré-datado não configura fraude no pagamento por meio de cheque porque presume-se que a vítima aceitou receber o valor na data aprazada. O cheque deixa de figurar como ordem de pagamento à vista e vira título de crédito, segundo entende a doutrina. Podem ocorrer duas situações:
a) Se ficar provado que o agente emitiu o cheque de má-fé, com a intenção, desde o início, de obter vantagem ilícita, responde por ESTELIONATO COMUM;
b) Se não for feita tal prova, o fato será considerado atípico.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa (titular da conta-corrente)
SUJEITO PASSIVO – a pessoa que sofre o prejuízo em decorrência da recusa de pagamento por parte do banco sacado.
CONSUMAÇÃO – no momento em que o banco recusa o pagamento. Lugar onde correrá a ação penal. A tentativa é admissível.
A súmula 554 do STF entendeu que o pagamento do valor do cheque, antes do oferecimento da denúncia, retira a justa causa para a ação penal. Esta súmula não se aplica as demais modalidades de estelionato.
9. DUPLICATA SIMULADA
Artigo 172 – Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
Pena – detenção, de 2 a 4 anos, e multa.
Nas vendas a prazo, com a emissão da nota ou da fatura, é possível que o vendedor emita uma duplicata, que, por tratar-se de título de crédito, pode ser colocada em circulação.
Desta forma, o vendedor pode descontar antecipadamente o valor da venda nela contido com terceira pessoa (normalmente bancos), e esta, por ocasião do vencimento, receber do comprador.
A duplicata também pode ser emitida em decorrência da prestação de serviços.
Se a DUPLICATA, FATURA ou NOTA DE VENDA for emitida sem que corresponda a uma efetiva venda ou serviço prestado, poderá gerar prejuízo para quem a desconte.
Isto porque, na data do vencimento, é evidente que a pessoa que consta no título como adquirente da mercadoria ou destinatário do serviço prestado irá se recusar a efetuar o pagamento, pois não há o que ser pago.
Alguns empresários passaram a ter como comportamento costumeiro emitir duplicata simulada, descontá-lajunto ao banco para obter capital e, na data do vencimento, pagar, por eles próprios, o valor respectivo, sem que o banco e a pessoa apontada como compradora ou prestadora de serviços fiquem sabendo disso.
Assim, não houve prejuízo financeiro, no entanto, o empresário lançou mão de meio fraudulento (a elaboração de cártula contendo informação falsa).
Trata-se de crime formal, no entanto, não se consuma somente com o preenchimento. Na emissão o autor deve colocar a duplicata em CIRCULAÇÃO.
A doutrina entende que não há possibilidade de se admitir a tentativa.
O sujeito ativo é aquele que emite dolosamente o documento simulado.
O sujeito passivo é quem desconta o título e o sacado no título apontado no título, que corre o risco de ser protestado.
É crime especial, portanto, absorve a FALSIDADE IDEOLÓGICA.
Parágrafo único – Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas.
Este crime somente só tem autonomia se o autor da falsificação do livro não emite efetivamente qualquer duplicata simulada baseada na escrituração falsa, pois, se o fizer responderá apenas pela figura do caput.
Consuma-se com a falsificação ou adulteração, independentemente da obtenção de qualquer vantagem ou provocação de prejuízo a outrem.
10. ABUSO DE INCAPAZES
Artigo 173 – Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro.
Pena – reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.
Abusar significa aproveitar-se de alguém. O agente deve valer-se da necessidade, paixão ou inexperiência de pessoa menor de 18 anos ou portadora de doença mental e, assim, convence-la a praticar um ato jurídico que possa produzir efeito em seu próprio prejuízo ou em prejuízo de terceiro. Não é necessário a utilização de fraude para enganar a vítima, bastando que o agente se aproveite da reduzida capacidade da vítima nos atos da vida civil. O autor convence a vítima, em proveito próprio ou alheio, a praticar ato em detrimento dele ou de terceiro. O agente deve saber da incapacidade da vítima. EX. a menor, ora apaixonada pelo namorado, é convencida pelo mesmo a vender suas joias para que ele compre uma motocicleta para si (namorado) ou aquele que induz pessoa de idade avançada, em estado senil e doente, a outorgar-lhe escritura de imóvel de sua propriedade.
Consuma-se com o próprio ato pela vítima, ainda que dele não tenha efetiva vantagem para o agente ou terceiro. A tentativa é possível.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO – o menor de idade ou pessoa portadora de alienação ou debilidade mental.
11. INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO
Artigo 174 – Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa.
Pena – reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.
Se assemelha ao delito anterior, com duas diferenças. A primeira a inferioridade mental, referindo-se a pessoa simplória ou pobre de espírito (não chegando a ser louca ou débil mental). A segunda, o induzimento não é para ato prejudicial qualquer, mas especificamente para jogo, aposta ou especulação com títulos e mercadorias . Pressupõe uma situação de abuso, contudo, nesta modalidade a vítima é pessoa inexperiente (com pouca vivência nos negócios), simples (humilde, sem malícia) ou com desenvolvimento mental deficiente (índice de inteligência aquém do normal).
OBJETO JURIDICO – visa a proteger o patrimonio de pessoas rústicas, simplórias, ignorantes.
CONSUMAÇÃO – com a prática do ato pela vítima, independente da obtenção da vantagem. O crime existe ainda que a vítima tenha obtido lucro.
12. FRAUDE NO COMÉRCIO
Artigo 175 – Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra.
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade.
Pena – reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
13. OUTRAS FRAUDES
Artigo 176 – Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento.
Pena – detenção, de 15 dias a 2 meses, ou multa.
Parágrafo único – Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
A lei refere-se genericamente a restaurante, abrangendo lanchonetes, cafés, bares e outros estabelecimentos que sirvam refeição. Engloba a ingestão de bebidas.
Da mesma forma, refere-se a hotel, abrangendo pousadas, pensões, etc.
O tipo penal exige que o agente realize as condutas típicas sem dispor de recursos para efetuar o pagamento naquele instante. Não há crime se o agente tem recurso, mas não paga por motivo diverso. Não se configura nas chamadas “penduras”(realizadas por estudantes de direito no dia 11 de agosto , porque eles tem os recursos para pagar, apenas se recusam a fazê-lo por julgarem-se convidados do estabelecimento em homenagem ao dia em que se comemora a inauguração dos cursos de direito no País. Desta forma os autores o fazem com o intuito de brincadeira.
Também não configura quando o agente se recusa a efetuar o pagamento por discordar do valor da conta.
TIPO SUBJETIVO – dolo direto 
A ação penal será pública condicionada à representação.
O perdão judicial poderá ser concedido pelo juiz se o prejuízo for pequeno.
Havendo estado famélico, o fato não será considerado crime em face do estado de necessidade.
16. FRAUDE À EXECUÇÃO
Artigo 179 – Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas.
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.
Parágrafo único – Somente se procede mediante queixa.
Pressuposto desse crime é a existência de uma sentença a ser executada ou uma ação executiva em andamento. O agente, com a intenção de fraudar a execução, desfaz-se de seus bens por meio de uma das condutas, descritas na lei (alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou, ainda simulando dívidas.
SUJEITO ATIVO – é o devedor. Se for empresário e for decretada sua quebra, o ato caracterizará crime falimentar (artigo 168 da lei 11101/2005).
Trata-se de crime material que somente se consuma quando a vítima sofre algum prejuízo patrimonial em consequencia da atitude do agente. A tentativa é possivel quando o sujeito pratica o ato, mas não consegue fraudar a execução por existirem outros bens que garantem o direito do credor.
É delito de ação privada. Se a fraude atingir execução promovida pela União, Estado ou Município, a ação será pública incondicionada.
Capítulo VII
DA RECEPTAÇÃO
1. RECEPTAÇÃO
Artigo 180 – Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e
A receptação é um dos delitos mais importantes do Título dos crimes contra o Patrimônio. Divide-se em DOLOSA e CULPOSA
RECEPTAÇÃO DOLOSA 
Divide-se em
A)SIMPLES – podendo ser própria ou imprópria;
B)QUALIFICADA.
C)AGRAVADA.
D) PRIVILEGIADA.
RECEPTAÇÃO PRÓPRIA
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime.
A realização de uma só conduta já é suficiente para configurar o crime, mas a prática

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