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Direio Civil Aula 08 Material de Apoio Magistratura

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Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Direito Civil 
 Professor: José Simão 
Aula: 08 | Data: 09/03/2015 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES 
1. Regras da obrigação de dar 
2. Regras da obrigação de dar coisa certa 
3. Obrigação de restituir e perda da coisa certa 
 
 
 Depositário infiel 
O Brasil assinou e ratificou em 1992 o pacto de São José da Costa Rica pelo qual a prisão civil só é admitida para o 
devedor de alimentos. A orientação histórica do STF segundo o ministro Moreira Alves era que o tratado não tem 
força de alterar a Constituição logo a prisão permanece possível. Contudo o próprio STF mudou de orientação em 
2005/2006 em que se releu o papel dos tratados que versão sobre direitos humanos e prevaleceu o 
entendimento do ministro Gilmar Mendes: O tratado tem caráter supra legal, ou seja, se coloca entre a 
Constituição e a legislação infraconstitucional impermeabilizando os efeitos – ineficácia de toda legislação 
infraconstitucional. Logo a prisão do depositário infiel desaparece do sistema. 
 
Obs.: Impossível se admitir também a reforma da Constituição para restabelecer tal prisão, pois isto feriria a 
proibição do retrocesso (Rex. 349.703; Rex. 466.343). Posteriormente veio a Súmula Vinculante n.º 25 do STF e a 
Súmula 419 do STJ. 
 
SV n.º25: É ilícita a prisão do depositário infiel, qualquer que seja a 
modalidade de depósito. 
 
STJ, 419: Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel. 
 
Conclusão: A orientação atual decorre da repersonalização do direito privado, em que a pessoa humana ocupa o 
centro do sistema e o patrimônio perde o lugar de destaque. 
 
 
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES 
 
A obrigação de dar consiste em uma entrega, tradição. A obrigação de fazer consiste em uma atividade humana. 
Assim se o devedor entrega o que está pronto a obrigação é de dar, mas se o devedor faz e depois entrega a 
obrigação é de fazer. 
 
 
 
 
 
 
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1. Regras da obrigação de dar 
 
1ª Regra: No Brasil o simples contrato não transfere a propriedade. No caso dos bens móveis a transferência se 
dá pela entrega, tradição. No caso de imóveis a propriedade se transfere pelo registro do título no registro de 
imóveis. 
 
Obs.: Acertado o preço e a coisa a ser vendida forma-se o contrato de compra e venda que não transfere a 
propriedade do bem móvel até que ocorrer a entrega. A propriedade do carro só se transfere com a entrega ficta 
da chave sendo irrelevante o nome do proprietário junto ao Detran. 
 
2ª Regra: “rest perit domino” 
O proprietário tem as vantagens e os riscos de ser proprietário. 
 
3ª Regra: Para aplicação dos artigos 233 e seguintes do CC será devedor aquele que tem que entregar a coisa e 
credor quem pode exigir a sua entrega. 
 
 
2. Regras da obrigação de dar coisa certa 
A obrigação de dar coisa certa também é chamada obrigação específica. 
O objeto é determinado e só ele pode ser entregue para o cumprimento da prestação. 
 
1ª Regra (art. 233 do CC): O dispositivo prevê que o acessório segue o principal. Trata-se de princípio da natureza 
(princípio gravitacional) e que independe de regra expressa. Alias lembra Moreira Alves que o Código só precisa 
ressaltar as exceções, ou seja, quando o acessório não segue o principal. 
 
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela 
embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou 
das circunstâncias do caso. 
 
Obs.: Existe a pertença, que apesar de não seguir o principal, é bem acessório. A pertença só segue principal por 
força de lei, pela vontade das partes ou pela circunstância do negócio (art. 94 do CC). 
 
Pertença são bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam de modo duradouro ao uso, serviço ou 
aformoseamento de outro. A parte integrante se retirada danifica o principal, a pertença não, pois tem 
autonomia (art. 93, CC). Ex.: Elevador quanto ao prédio; Tapetes quanto ao imóvel. 
 
Dica: Os móveis que podem ser retirados sem danificar o principal são pertenças. No interior quando se vende a 
fazenda com porteira fechada, ficam as pertenças. 
 
 
 
 
 
 
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2ª Regra (art. 234 do CC): Perda ou perecimento da coisa certa 
O objeto deixa de existir ou perde sua utilidade. 
 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem 
culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição 
suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas às partes; se a 
perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo 
equivalente e mais perdas e danos. 
 
a) Sem culpa do devedor (caso fortuito ou de força maior): Se a coisa se perde antes da entrega, sem culpa do 
devedor a obrigação se extingue, se resolve e as partes voltam ao “statu quo ante” (estado anterior). O devedor 
não responde por perdas e danos, ou seja, não paga indenização. 
 
Obs.: Se o comprador já pagou o preço o vendedor deverá a restituição, pois é ele quem sofre a perda, não se 
trata de indenização, mas de retorno ao estado anterior. 
 
b) Com culpa do devedor: Culpa em sentido amplo inclui dolo (prejuízo causado com intenção) e culpa em 
sentido estrito (prejuízo causado sem intenção). Havendo culpa o devedor responde pelo equivalente (valor em 
dinheiro da prestação mais perdas e danos), isso significa que o devedor responde pelos danos emergentes e 
lucro cessantes. 
 
 
3ª Regra: Deterioração da coisa certa antes da entrega 
O objeto ainda existe, é útil, mas tem seu valor reduzido. 
 
a) Sem culpa do devedor (art. 235 do CC): O credor terá à opção de desfazimento do negócio (resolução) ou ficar 
com a coisa no estado em que se encontra, com abatimento do preço. Não há perdas e danos. 
 
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o 
credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço 
o valor que perdeu. 
 
b) Com culpa do devedor (art. 236, CC). O credor pode optar entre o equivalente mais perdas e danos ou a coisa 
no estado em que se encontra mais perdas e danos. 
 
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o 
equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito 
a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e 
danos. 
 
 1ª Regra de ouro das obrigações 
Só há pagamento de perdas e danos (indenização) se o devedor ágil com culpa 
 
 
 
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3. Obrigação de restituir e perda da coisa certa (art. 238, CC) 
 
Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa 
do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a 
obrigação se resolverão, ressalvados os seus direitos até o dia da 
perda. 
 
a) Sem culpa do devedor: A obrigação se extingue e o devedor não responde pelo valor do equivalente, ou seja, 
quem sofre a perda é o proprietário. 
 
Obs.: O Código Civil admite que o devedor por contrato assuma a responsabilidade pelo fortuito ou força maior. 
 
b) Com culpa do devedor (art. 239, CC): O devedor responde pelo valor da coisa (equivalente), mais perdas e 
danos. 
 
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este 
pelo equivalente, mais perdas e danos.

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