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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Civil Professor: José Simão Aulas: 20 e 21 | Data: 19/05/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO REGIME DE BENS 1. Motivos mais comuns para mudança de regime 2. Separação obrigatória de bens e mudança de regime 3. Regras Gerais dos Regimes de Bens 4. Comunhão Parcial de bens 5. Comunhão Universal de bens 6. Participação final nos aquestos 7. Separação de bens REGIME DE BENS 1. Motivos mais comuns para mudança de regime 1) o regime de bens afeta a concorrência sucessória, logo, a mudança tem por fim alterar esta questão; 2) o antigo código civil não proibia sociedade entre cônjuges, já o atual não permite se os cônjuges forem casados por separação obrigatória ou comunhão universal (artigo 977, CC). As sociedades existentes antes da vigência do CC permanecem regulares (plano da validade pelo princípio “tempus regit actum”), nesse sentido enunciado 204 do CJF e parecer jurídico 125/03 do Departamento Nacional do Registro do Comércio. Contudo, para evitar insegurança, alguns cônjuges casados por comunhão universal têm pedido a mudança do regime; 3) A mudança não pode prejudicar terceiros. O código resolve a questão no plano da eficácia, ou seja, ainda que a mudança prejudique terceiros, ela é existente e válida, mas parcialmente ineficaz apenas quanto ao terceiro prejudicado e eficaz quanto às demais pessoas. Não há possibilidade de o terceiro prejudicado impedir a mudança ou invalida-la, pois não tem interesse jurídico já que não é prejudicado, logo, a publicação de editais e/ou juntada de certidões negativas, são providências inúteis, pois o terceiro jamais será prejudicado – RESP 776.455/RS. Obs.: a sentença que altera o regime de bens não retroage ao início do casamento, seus efeitos são ex nunc, ou seja, da data do casamento até a mudança prevalecem as regras do primeiro regime e após a mudança as regras do segundo. Se o casal casado por comunhão universal mudasse para separação total e a decisão retroagisse, haveria ofensa ao direito adquirido de propriedade. Obs.: não cabe, pela boa técnica, partilha de bens que é própria da morte ou do divórcio. Se o juiz autorizá-la, a partilha pode ser fonte de fraudes, logo o problema não é a mudança do regime. 2. Separação obrigatória de bens e mudança de regime 1) desaparecendo após o casamento a causa suspensiva, os cônjuges podem pedir a mudança do regime; 2) no casamento de menores, autorizado pelo juiz, ao completar a maioridade os menores podem pedir a mudança; Página 2 de 7 3) e os maiores de 70 anos? a) para a grande parte da doutrina a regra é inconstitucional, pois sem qualquer razão, reputa a pessoa incapaz de realizar suas escolhas – Maria Berenice Dias; b) se o casamento foi precedido de união estável iniciada antes dos 70 anos, temos duas consequências: 1ª) por pedido judicial na habilitação matrimonial o casal pode ter livre escolha do regime; 2ª) se o regime já foi imposto, podem pedir a mudança; Obs.: a teleologia da norma é evitar casamento com fins patrimoniais (“golpe do baú”), o que não ocorre com a prévia união estável. c) se o casamento ocorreu quando a idade de imposição era de 60 anos, lei 12.344/10, mas ainda não atingiu 70 anos, a mudança é permitida, já que o casal poderia divorciar-se e casar novamente com livre escolha de regime. 3. Regras Gerais dos Regimes de Bens Artigos 1639 a 1657, CC. 1) artigo 1647 – outorga ou vênia conjugal: quando prestada pela mulher é chamada de uxória e pelo marido é chamada de marital. A regra geral é a liberdade do cônjuge na prática dos negócios jurídicos, contudo, para alguns negócios, é necessária a outorga conjugal. A outorga é necessária em quase todos os regimes, menos na separação absoluta em que prevalece a liberdade do cônjuge. Separação absoluta nasce do pacto antenupcial. A sanção é a anulabilidade do negócio jurídico que se sujeita ao prazo decadencial de 2 anos cujo início se dá com a extinção da sociedade conjugal. Negócios jurídicos em que a concordância é necessária: a) prestar fiança ou aval: artigo 1647, III. Para os comercialistas o aval sem outorga é apenas ineficaz, ou seja, inoponível ao cônjuge que não a prestou – enunciado 114 do CJF, contudo, a orientação do STJ é que o aval é anulável, ou seja, desaparece do mundo jurídico, não produzindo efeitos – RESP 1.368.752. Súmula 332 do STJ: a fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica ineficácia total da garantia. Obs.: não atinge os bens do fiador nem do cônjuge. b) fazer doação de bens comuns, desde que não seja remuneratória: artigo 1647, IV. A doação remuneratória é onerosa e é feita por agradecimento a uma vantagem recebida pelo doador. Exemplo de doação remuneratória: vou ao médico, ele não me cobra a consulta, então entrego para ele uma caixa com vinho e gravata. Página 3 de 7 c) alienar ou gravar de ônus reais bem imóvel: artigo 1647, I. Alienar é transferir a propriedade e gravar de ônus real é criar um direito real sobre coisa alheia (exemplo: servidão, superfície, hipoteca). A regra só se aplica para imóveis. A questão deve ser compreendida à luz dos regimes de bens: - na comunhão universal não se fala em outorga, pois sendo o bem comum, os cônjuges são co-vendedores; Exemplo: a casa na comunhão universal é dos dois, se decidem vender, um é vendedor e o outro co-devedor, afinal o imóvel é dos dois, não é necessário anuência de um dos cônjuges, os dois são vendedores. - na separação total, como a liberdade é plena, desnecessária a outorga; Exemplo: o marido pode vender sua casa sem anuência da mulher e vice-versa, a separação é total. - na comunhão parcial, se for o bem comum a ser alienado o cônjuge é co-vendedor, se for o bem particular o cônjuge é apenas anuente. Razão da regra: a proteção da família para todos os negócios que podem prejudica-la. Exemplo: marido tem os bens dele antes do casamento, mulher tem os bens dela antes do casamento, no casamento adquirem bens juntos. Quanto aos bens comuns a serem vendidos, os dois serão vendedores. Mas se o marido recebe um apartamento de herança e quer vende-lo, deve haver anuência de sua esposa. Na participação final nos aquestos o código admite que o pacto antenupcial preveja desnecessidade de outorga para alienação de imóveis particulares. Obs: somente este regime permite tal acordo, nos demais a dispensa de outorga por pacto é nula, pois a norma é de ordem pública. 4. Comunhão Parcial de bens É chamada de regime supletivo ou regime legal, pois prevalece na ausência ou na invalidade do pacto antenupcial. O regime tem por regra o que prevê o artigo 1658, ou seja, os bens existentes até o momento do casamento não se comunicam (bens particulares), mas os adquiridos após o casamento são bens comuns. O artigo 1659 traz as exceções, ou seja, os bens posteriores ao casamento que não se comunicam. Bens que não se comunicam na comunhão parcial de bens: - Os bens recebidos por herança e doação, bem como os subrrogados (substituídos) em seu lugar; - os bens anteriores ao casamento e os subrrogados; - as obrigações posteriores ao casamento, salvo se reverteram em proveito do casal. As obrigações provenientes de ato ilícito podem: 1- não trazer qualquer benefício e nesta hipótese só responde o cônjuge que praticou o ilícito; Exemplo: marido bate o seu próprio carro. 2- o ilícito pode reverter em benefício apenas do cônjuge que o praticou e nesta hipótese o outro cônjuge por nada responde; Exemplo: marido dá desfalque na empresa e gasta o dinheiro com sua amante. 3- o ilícito é praticado por um, mas beneficia ambos. O cônjuge beneficiadosó responde no limite do benefício. Exemplo: marido dá desfalque na empresa e adquire um bem, a esposa só responde pela meação. Ler: Artigo 932, CC: Página 4 de 7 Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Não entra na comunhão parcial de bens: - bens de uso pessoal, afinal tais bens são inúteis para o outro cônjuge; - instrumentos de profissão, pois tais bens garantem sua subsistência e de sua família; - livros; - proveitos do trabalho dos cônjuges, as pensões, o meio-soldo (benefício que o militar recebe quando deixa a ativa) e o montepio (é o benefício pago pelo Estado ao herdeiro do servidor falecido). O dispositivo nasce da proteção da mulher casada numa época em que o marido exercia a chefia da sociedade conjugal e podia administrar o patrimônio dela. Contudo, atualmente a interpretação do dispositivo leva a uma incoerência, pois se o salário é bem particular, o que se adquire com ele também o é e isto acabaria com a comunhão parcial. Solução: doutrina e jurisprudência admitem que o direito ao proveito não se comunica. Contudo, quando este se patrimonialista, passa a ser bem comum. Exemplo: salário ao ser depositado na conta. FGTS se comunica? O STJ tem entendimento pelo qual o FGTS e as demais verbas trabalhistas que deveriam ter sido pagas no curso do casamento, mas não foram se comunicam quando pagas por decisão judicial – RESP 646.529. Bens que entram na comunhão (artigo 1660) parcial de bens: são os chamados bens comuns: a) os adquiridos na constância do casamento ainda que em nome de um dos cônjuges; Obs: não importa a questão do esforço comum e é irrelevante a contribuição direta ou indireta na aquisição do bem, logo, pouco importa se no empréstimo se declarou renda superior do marido e inferior da mulher. Página 5 de 7 b) os bens adquiridos por fato eventual com ou sem o esforço do outro cônjuge; Exemplo: loteria, sorteio, concurso etc. Exemplo: A recompensa paga na promessa de recompensa, acessões. c) os bens havidos por doação ou herança em favor de ambos os cônjuges; Pontes de Miranda explica que na realidade não há comunhão, mas sim condomínio. d) as benfeitorias construídas durante o casamento sobre o bem particular; e) os frutos produzidos durante o casamento pelos bens particulares. Obs.: os dois últimos excepcionam a regra pela qual o acessório segue o principal. Obs.: a correção monetária é a reposição do valor de compra da moeda que se altera pela inflação, logo, é principal, já os juros são acessórios, ou seja, frutos civis produzidos pelo capital e estes se comunicam. Bens móveis - Artigo 1662: quanto aos bens móveis, presumem-se comuns, salvo prova em contrário. Art. 1.662. No regime da comunhão parcial, presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móveis, quando não se provar que o foram em data anterior. 5. Comunhão Universal de bens Artigos 1667 e seguintes do CC. O mais amplo dos regimes, pois se comunicam todos os bens presentes no momento do casamento, bem como os adquiridos posteriormente a qualquer título. As grandes diferenças para a comunhão parcial são: 1) passam a ser comuns os bens existentes no momento do casamento; 2) os bens havidos por doação ou herança se comunicam, o cônjuge é meeiro da herança recebida pelo outro. Quanto às dívidas, da leitura dos artigos 1667 e 1668, III, as dívidas anteriores ao casamento não se comunicam, salvo duas hipóteses: 1) dívidas relativas aos aprestos (despesas com o próprio casamento); 2) as que reverterem em benefício do casal (exemplo: financiamento para aquisição da casa própria ou de um carro). Bens que se excluem da comunhão universal (artigo 1668) – bens particulares: a) os bens contidos no artigo 1668, V: bens de uso pessoal, livros, proveitos etc; b) bens gravados com cláusula de incomunicabilidade. Existem três cláusulas restritivas: 1- inalienabilidade: impede que a propriedade do bem seja transferida para terceiros; 2- impenhorabilidade: impede que o bem seja dado em garantia (penhor, hipoteca) ou penhorado pelos credores do proprietário; 3- incomunicabilidade: apenas afasta o bem da comunhão, mas não impede sua venda ou que seja dado em garantia. Página 6 de 7 A inalienabilidade implica automaticamente em impenhorabilidade e incomunicabilidade. Artigo 1911, CC e súmula 49 do STF. Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros. SÚMULA 49 A cláusula de inalienabilidade inclui a incomunicabilidade dos bens. Obs.: pelo artigo 1848 do CC, se a cláusula recair sobre a legítima, o testador deve motiva-la, justifica-la, sob pena de não valer. O motivo pode ser de qualquer natureza. Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima. Artigo 1669, CC – os frutos produzidos durante o casamento pelos bens particulares se comunicam. Art. 1.669. A incomunicabilidade dos bens enumerados no artigo antecedente não se estende aos frutos, quando se percebam ou vençam durante o casamento. 6. Participação final nos aquestos Artigo 1672 a 1686, CC. O regime tem por base duas premissas: 1) durante o período do casamento prevalece a separação de bens; 2) quando do término do casamento surge meação quanto aos aquestos (bens onerosamente adquiridos no curso do casamento). Obs.: o regime parece ter um defeito de concepção, pois durante a comunhão de vidas não há comunhão de bens e cessada a comunhão de vidas começa a de bens. O código menciona em alguns dispositivos que o cônjuge tem meação quando na realidade, ao final do casamento, ele terá uma participação, ou seja, um sistema de crédito em que o cônjuge com aquesto de valor superior paga ao outro a diferença para igualar os aquestos. Exemplo: marido adquire um imóvel de 100.000, mulher adquire um imóvel de 80.000, deve o marido (que tem o imóvel de valor superior) pagar 10.000 para a mulher, para que cada um iguale no valor de 90.000. Obs.: deste crédito podem ser abatidas as dívidas pessoais de um cônjuge pagas pelo outro. Página 7 de 7 Exemplo: abater a dívida se um cônjuge pagou o IPVA do carro do outro. 7. Separação de bens 1) Separação Convencional: nasce do pacto antenupcial, artigos 1687 e 1688, CC. Basta o pacto mencionar a separação de bens para que esta seja total/absoluta e gera apenas bens particulares. Obs: Se marido e mulher adquirirem conjuntamente o bem, serão condôminos e não comunheiros. 2) Separação obrigatória ou legal: próxima aula.
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