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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Legislação Penal Especial Professor: Paulo Fuller Aula: 02 | Data: 23/04/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 1. Conceito 2. Organização Criminosa x Associação Criminosa x Associação para o tráfico 3. Crime autônomo de Organização Criminosa 4. Tipo penal equiparado 5. Perda automática do cargo 6. Alcance da lei 7. Parte processual ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS Lei 12.850/2013. 1. Conceito Artigo 1º, §1º - a definição contém três componentes cumulativos: Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. § 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. a) pessoal: organização criminosa pressupõe concurso de agentes necessário, essa lei exige quatro ou mais pessoas para a configuração da organização criminosa. Obs: essa lei modificou o artigo 288 do CP que se contenta com o concurso necessário de três ou mais pessoas. b) estrutural: associação de quatro ou mais pessoas estruturada e caracterizada pela divisão de tarefas ainda que informal. c) finalístico ou teleológico: com o objetivo de obter vantagem proveniente de infrações penais de dois tipos: 1) infrações penais transnacionais (é irrelevante a pena máxima cominada) ou 2) infração penal nacional (pena máxima abstrata superior a 4 anos (a pena tem que ser maior que 4 anos, igual a 4 anos não configura)). Página 2 de 4 2. Organização Criminosa x Associação Criminosa x Associação para o tráfico Organização Criminosa Associação Criminosa Associação para o tráfico Artigo 1º, §1º, lei 12.850/13 Artigo 288 do CP Artigo 35, lei 11343/06 4 ou mais pessoas 3 ou mais pessoas 2 ou mais pessoas Estruturada e com divisão de tarefas Não exige estrutura ou divisão de tarefas, se contenta com estabilidade e permanência Basta a estabilidade e permanência, não se exige a estrutura ou divisão de tarefas Obter vantagem de infrações penais: 1) transnacionais ou 2) nacionais com pena máxima cominada necessariamente superior a 4 anos Finalidade de cometer crimes (irrelevante se são crimes transnacionais ou nacionais e é também irrelevante a pena máxima) Finalidade de cometer crimes de tráfico: artigo 33 “caput”, artigo 33, §1º, artigo 34, artigo 36, todos da lei 11.343/06 3. Crime autônomo de Organização Criminosa Artigo 2º - reclusão de 3 a 8 anos. Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. Condutas: a) promover; b) constituir; c) financiar; d) integrar organização criminosa. O tipo penal promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa é definido fora do tipo, ou seja, está disposto no artigo 2º, mas é definido no artigo 1º, §1º (que é um complemento exigido no tipo), portanto é uma norma penal em branco do tipo homogênea (ou em sentido amplo ou imprópria) porque é relação de mesma norma, o complemento e o tipo penal estão na mesma lei. - Relação heterogênea (também chamada de própria) ocorre na lei de antidrogas em que é necessária portaria da ANVISA para complementá-la, ou seja, o completo está fora da lei do tipo penal. Trata-se de norma penal em branco homogênea, pois tanto o tipo penal como o seu complemento estão situados em normas de mesma hierarquia normativa (lei federal). Além de homogênea é homóloga ou univitelina: afinal o tipo penal e o complemento estão situados no mesmo diploma legal. Página 3 de 4 O preceito secundário do artigo 2º estabelece concurso de crimes necessário entre o tipo penal de organização criminosa e as infrações penais que vierem a ser praticadas por meio dela, ou seja, haverá concurso material necessário em relação às infrações que venham a ser praticadas por meio da organização. 4. Tipo penal equiparado Artigo 2º, §1º - nas mesmas incorre (pena de reclusão de 3 a 8 anos e multa) quem embaraça ou impede a investigação de ação que supõe ser organização criminosa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. A persecução penal possui duas fases: - Investigação criminal (por meio do PIC (procedimento investigatório criminal feito pelo membro do Ministério Público) ou através do inquérito); - Após haverá a ação penal onde se desenvolve o processo. O tipo penal do artigo 2º, §1º abrange a primeira fase da persecução penal, ou seja, somente a fase da investigação criminal (porque supõem-se que impediu ou embaraçou as investigações para que se desenvolvesse a ação penal). Guilherme Nucci entende ser admissível a interpretação extensiva da elementar investigação, para nela também abranger a fase subsequente da ação penal ou do processo propriamente dito (se abrange o menos que a investigação, abrange o mais que é ação penal). 5. Perda automática do cargo Regra geral: artigo 92, parágrafo único do CP. A perda do cargo não é efeito automático, devendo ser declarada na sentença por meio de motivação específica e declarada expressamente em capítulo próprio na sentença. Exceção: a perda automática do cargo se verifica no crime de organização criminosa, basta transitar em julgado a sentença condenatória para que haja a perda automática do cargo, independe de motivação do juiz. A perda automática do cargo também ocorre na lei de tortura: artigo 1º, §5º da lei 9455/97. Na lei de tortura a interdição dura o dobro da pena aplicada. Nos crimes de organização criminosa a perda automática está no artigo 2º, §6º. A interdição ocorre num prazo fixo de 8 anos (independe da pena aplicada no caso concreto), contados depois do cumprimento da pena imposta. § 6o A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena. Página 4 de 4 6. Alcance da lei § 2o Esta Lei se aplica também: I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território nacional. 1) Casos de organização criminosa (artigo 1º, §1º); 2) Extensão: artigo 1º, §2º - esta lei se aplica a outros casos que não sejam organização criminosa, a extensão somente abrange a parte processual da lei: I- infração penal prevista em tratado internacional e configurar um crime à distância (infração penal de espaço máximo). Crime à distância: consideram-se à distância ou de espaço máximo aquelas infrações cuja execução começaem um país e cuja consumação ocorre ou deveria ocorrer em outro. II- ações terroristas. 7. Parte processual Artigo 3º - meios de obtenção de prova. Aplica-se para a organização criminosa e para as figuras de extensão do artigo 1º, §2º. São meios de obtenção de prova: 1) colaboração premiada: próxima aula. Artigo 3º, I + artigos 4º a 7º.
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