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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Penal Parte Especial Professor: Victor Gonçalves Aula: 07 | Data: 22/05/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Apropriação Indébita 2. Estelionato CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Apropriação Indébita (art. 168, CP) O crime consiste em apropriar-se de coisa alheia móvel de que tem a posse ou detenção. A pena é de reclusão de 1 a 4 anos e multa. Art. 168, CP - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Dependendo do destino dado pelo agente à coisa alheia no momento da inversão o ânimo, a apropriação se classifica em: a. Negativa de restituição: Quando o agente fica com o bem para ele. b. Apropriação propriamente dita: Quando o agente pratica ato de disposição sem autorização do dono. Ex.: Vender ou doar o bem. Tentativa A doutrina salienta que a tentativa só é possível na segunda modalidade. Quando alguém recebe um cofre ou algo similar trancado, com a incumbência de transportá-lo e no trajeto o arromba para se apoderar dos valores nele contido – comete furto qualificado pelo arrombamento. Não se tipifica a apropriação indébita porque o fato de o cofre estar trancado significa que o sujeito não tinha posse do conteúdo do cofre. c. Apropriação indébita de uso: Não constitui crime pela ausência do dolo de locupletamento ilícito. Ocorre quando alguém tem posse de coisa alheia e dela faz uso sem autorização, mas em seguida restitui. É possível a apropriação indébita de coisa fungível (ex.: dinheiro), exceto se a pessoa tiver recebido o bem fungível em razão de contrato de mutuo ou de depósito. – Apropriação Indébita Majorada (art. 168, §1º, CP) São causas de aumento de 1/3. I. Se o agente recebeu o bem em depósito necessário (art. 647, CC). É o caso do chamado depósito miserável, em que uma terceira pessoa fica na posse dos bens móveis da vítima em razão de uma inundação, incêndio ou desgraça particular do dono. Página 2 de 4 II. Se o agente recebeu o bem na condição de tutor, curador, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial. Este inciso II também menciona o liquidatário e o síndico da falência, porém houve revogação tácita pela lei falimentar de 2005. A figura do síndico foi substituída pela do administrador judicial, mas caso este se aproprie de bens da massa falida comete o crime do art. 173 da Lei de Falências. III. Em razão de emprego, profissão ou ofício. Aplica-se sempre que a pessoa tiver recebido o bem em razão do seu trabalho. Se toda via tratar-se de funcionário público que tenha recebido o bem em razão de suas funções o crime será de peculato apropriação (art. 312, “caput”, CP). – Apropriação Privilegiada (art. 170) Aplicam-se as mesmas regras do furto privilegiado 2. Estelionato (art. 171, CP) O crime consiste em obter para si ou para outrem vantagem ilícita em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artificio, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. A pena é de reclusão de 1 a 5 anos e multa. Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. . Artificio: É o emprego de algum objeto, algum artefato, para enganar a vítima. . Ardil: Significa enganar a vítima apenas com conversa. . Qualquer outra fraude: Abrange o silêncio como forma de execução do estelionato. Se alguém percebe que, por engano, a vítima está prestes a lhe entregar algo e fica quieto para que a entrega se concretize, comete estelionato, porque manteve a vítima em erro mediante fraude (o silêncio). Por sua vez se a vítima espontaneamente incorre em erro e entrega o bem a outrem, mas este só percebe o engano depois de já estar na posse, responderá pelo crime do artigo 169, “caput”, caso resolva não devolver, é o crime de apropriação de coisa havida por erro. Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Neste crime não há emprego de fraude e o dolo é posterior, distinguindo-se do estelionato nesses dois aspectos. Página 3 de 4 O tipo penal do estelionato exige duplo resultado, ou seja, exige o prejuízo da vítima e a vantagem ilícita do golpista. Em razão do texto legal o crime só se consuma no momento da obtenção da vantagem. Se a vítima sofre o prejuízo em uma comarca e o agente obtém a vantagem em outra comarca, será nesta última que o crime deve ser apurado. Se a vítima remete bens ou valores que toda via se extraviam e o agente não obtém a vantagem, considera-se tentado o estelionato. Existem outras hipóteses de tentativa: - O agente emprega uma fraude capaz de enganar, mas a vítima não é ludibriada. Ex.: A vítima é alertada por terceiro. - O agente engana a vítima, mas ela descobre o golpe e não entrega os valores. Quando a fraude empregada é completamente ineficaz temos crime impossível por absoluta ineficácia do meio. Na analise desta ineficácia da fraude levamos em conta a vítima escolhida no caso concreto. Quem emprega fraude para obter vantagem ilícita responde por estelionato, mas se a vantagem visada é lícita, é devida, o crime é de exercício arbitrário das próprias razão (art. 345, CP). Como o tipo penal do estelionato exige a provocação do prejuízo alheio, tal crime pressupõe a existência de vítima ou vítimas determinadas. O emprego de fraude para receber vantagem em detrimento de pessoas indeterminadas configura crime contra a economia popular da Lei 1.521/51 no seu art. 2º, XI. Quem banca jogo de azar pratica o artigo 50 da Lei das Contravenções Penais. Se, entretanto, tiver empregado a fraude para inviabilizar a vitória do apostador o crime é de estelionato. Quando a fraude consiste em dizer que os valores se destinam a um funcionário público qualquer, temos uma das hipóteses do crime de tráfico de influência (art. 332, CP). Caso tal fraude seja empregada a pretexto de influir em juiz, jurado, promotor, funcionário da justiça ou testemunha o crime será de exploração de prestigio (art. 357, CP). – Fraude no Pagamento por Meio de Cheque Este crime previsto no art. 171, §2º, inciso VI do Código Penal abrange somente duas condutas: a. Emitir cheque sem fundos b. Emitir cheque com fundos e em seguida frustrar seu pagamento (ex.: sustação) Obs.: Qualquer outro golpe dado com cheque caracteriza o estelionato comum do art. 171, “caput”. Ex.: Falsificação de cheque alheio; Emissão de cheque de conta encerrada. Página 4 de 4 Estas figuras criminosas possuem as mesmas penas, mas a diferenciação é muito importante, pelas seguintes razões: . De acordo com as Súmulas 521 do STF e 244 do STJ o crime de emissão de cheque sem fundos só se consuma quando o banco sacado recusa o pagamento, sendo apurado, portanto, no local em que se situa tal banco (basta uma recusa para a consumação). STF, 521. O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. STJ, 244. Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos. . O crime de estelionato comum mediante falsificação de cheque se consuma, e é apurado,no local da obtenção da vantagem visada. Neste sentido existe a Súmula 48 do STJ. STJ. 48. Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. . De acordo com a Súmula 554 do STF o pagamento do cheque emitido sem fundos exclui a justa causa para sua propositura, gerando a extinção da punibilidade. De acordo com Tribunais Superiores tal Súmula não se aplica ao estelionato comum com falsificação de cheque, em relação ao qual incide a causa de diminuição de pena do art. 16 do CP chamada arrependimento posterior, e neste caso a redução é de 1/3 a 2/3. STF. 554. O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. Nos termos da Súmula 17 do STJ o crime de falsidade documental do cheque (art. 297, CP) fica absorvido pelo estelionato, por ser considerado crime meio. STJ, 17. Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, e por este absorvido. Cheque é ordem de pagamento avista e quando for usado fora de sua natureza inviabiliza o crime do art. 171, §2º, VI, que é especifico de cheques. Ex.: Emissão de cheque pré-datado (ou pós-datado, de acordo com a doutrina) ou cheque dado com garantia de dívida. Caso fique provado que desde o principio já havia a intenção de não honrar o valor do cheque pré-datado o emitente responde por estelionato comum. Segundo a Súmula 246 do STF o crime do §2º, VI, só se configura se a conduta for dolosa, se o agente visar uma vantagem ilícita. STF. 246. Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos.
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