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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Processual Civil Professor: Eduardo Francisco Aula: 01 | Data: 27/04/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO TEORIA GERAL DO PROCESSO 1. Jurisdição 2. Princípios da Jurisdição Twitter: @profeduardomp Email: eduardo.francisco@damasio.com Bibliografia: 1) Esquematizado Marcos Vinicius, 2) Daniel Amorim + anotações de aula. TEORIA GERAL DO PROCESSO 1. Jurisdição 1) Meios de solução de conflito: a) autotutela b) autocomposição ambas são formas de solução pelas partes. c) heterocomposição (solução por terceiro) são formas de heterocomposição: - arbitragem - tribunais administrativos - jurisdição a) Autotutela: é a solução pela força que em regra é proibida e é crime, mas, excepcionalmente é autorizado pela lei. Exemplos: 1º - defesa direta da posse ou desforço físico imediato; 2º - autoexecutoriedade dos atos administrativos baseados no poder de polícia (fiscal que ingressa na residência para verificar foco de dengue não precisa de mandado judicial, pode adentrar pelo poder de polícia); 3º - legítima defesa do direito penal. Mesmo quando autorizada, a parte que se sentir prejudicada pode recorrer ao judiciário que punirá eventual excesso. b) Autocomposição: é a solução pelo consenso. Página 2 de 5 Espécies de autocomposição: - Quanto ao sacrifício voluntário: 1- sacrifício unilateral: no caso de renúncia e no caso de submissão; 2- sacrifício bilateral (transação): concessões recíprocas. - Quanto à forma: 1- acordo direto entre as partes; 2- por intermédio de terceiro que auxilia as partes a chegarem num acordo. São formas de autocomposição por intermédio de terceiro: 1- conciliação: conciliador; 2- mediação: mediador; 3- acordo auxiliado pelo juízo. A doutrina diverge sobre as diferenças entre mediação e conciliação, mas a principal diferença está na atuação do terceiro. O novo CPC prevê: 1- conciliação quando as partes não tinham vínculo anterior para que o conciliador apresente alternativas para a solução do conflito; 2- a mediação será usada quando já havia vínculo anterior entre as partes em conflito e o mediador tem o papel de pontuar o conflito e estimular as partes a chegarem a uma solução consensual. A autocomposição gera um acordo que deve ser no mínimo um negócio jurídico (perfeito), só poderá ser revisto pelo Poder Judiciário quanto aos seus requisitos formais de existência e validade através de uma ação anulatória (artigo 486 do CPC). Não cabe ação rescisória. A lei incentiva a autocomposição (tanto o CPC atual quanto o CPC em “vacatio”): 1- prevendo várias oportunidades; 2- valorizando o acordo porque a transação referendada pelo MP, pela defensoria pública e pelos advogados é título extrajudicial (artigo 585, II, CPC). Não esquecer do TAC/CAC – o termo de ajustamento de conduta nada mais é que um acordo. O acordo extrajudicial e a conciliação em juízo homologados pelo juiz serão título judicial (artigo 475-N, III e V, CPC). Requisitos para a autocomposição: - partes capazes; - consenso; - direito disponível pelo menos quanto à forma de exercício (exemplo: alimentos e reparação ambiental). c) Tribunais administrativos São órgãos do Poder Executivo que substituem as partes e com imparcialidade decide o conflito. Exemplo: justiça desportiva; agências reguladoras (julgam o conflito entre os consumidores e a concessionária). Página 3 de 5 Em regra os tribunais administrativos são facultativos porque a parte pode recorrer direto ao judiciário, salvo a justiça desportiva (é obrigado a passar pelo tribunal desportivo). As decisões dos tribunais administrativos não geram coisa julgada material e sempre podem ser revistas pelo Poder Judiciário. Mesmo sendo facultativo, se o processo administrativo é capaz de suspender a lesão, ameaça ou o ilícito, na sua pendência falta interesse de agir para a via judicial (isso é pacífico na justiça federal), é por isso que não cabe ação tributária enquanto há processo pendente no CARF e não cabe ação previdenciária enquanto pendente o pedido no INSS (o INSS não é tribunal administrativo apesar de o raciocínio ser o mesmo). d) Arbitragem: é a solução imposta por terceiro particular. Requisitos da arbitragem: - partes maiores e capazes; - direito patrimonial disponível; - ajuste prévio (convenção de arbitragem). Espécies da convenção de arbitragem: 1- cláusula compromissória: é o item do contrato prevendo eventual arbitragem; 2- compromisso arbitral: é o ajuste que cria a arbitragem para o caso concreto. Deve ser analisada a partir da Lei 9307/96. A convenção de arbitragem (nas duas espécies) é a única preliminar que não pode ser conhecida de ofício, artigo 301, §4º, CPC. A lei diz que o árbitro é juiz de fato e de direito. A lei também diz que a sentença arbitral é título judicial e que a sentença arbitral é imutável, a sentença arbitral não pode ser revista pelo Poder Judiciário que no máximo pode anular a sentença em ação própria por vício formal. A partir daí a doutrina diverge: a) para alguns arbitragem é jurisdição e gera coisa julgada (a tendência é se tornar maioria); b) para outros é apenas o equivalente jurisdicional. Não é jurisdição porque esta é indelegável. Por isso, não há coisa julgada, mas apenas imutabilidade. e) Jurisdição: é a solução estatal do conflito pelo Poder Judiciário que o faz com substitutividade, imparcialidade e definitividade. A coisa julgada material é um efeito ou atributo exclusivo da jurisdição. Características da Jurisdição: - é UNA, ou seja, é um poder do Estado único e indivisível; - é imparcial; - é exercida mediante processo; - não admite controle externo; - lide; - substitutividade (é substitutiva); - é inerte; - é definitiva. Lide real é conflito de interesse entre as partes. Lide presumida ocorre quando a pretensão é resistida pela lei, ou seja, o interesse das partes é comum, mas a lei proíbe a solução extrajudicial. Página 4 de 5 Exemplo: divórcio consensual com filho menor. Em regra a jurisdição será exercida em razão de uma lide real ou presumida, mas a rigor nem sempre será necessária uma lide, basta uma situação concreta. Esta situação concreta pode ser: 1- uma lide; 2- um risco de lesão (ações preventivas); 3- situação individual relevante (retificação de nome, divórcio consensual sem filhos). A jurisdição é substitutiva, ou seja, o juiz ao exercer a jurisdição substitui as partes ou interessados na solução do conflito. Não haverá substitutividade: 1- quando o juiz se limita a homologar a autocomposição; 2- na execução indireta feita por meios de coerção, o juiz força o próprio devedor a satisfazer a obrigação. Exemplo: execução de pensão com ameaça de prisão. A inércia está no artigo 2º do CPC, em regra a jurisdição só atua quando provocada pela parte ou interessado. Há exceções em que o juiz instaura um processo de ofício: 1- inventário: artigo 989, CPC; 2- alguns procedimentos de jurisdição voluntária (exemplo: artigos 1114, 1129 e 1142, todos do CPC). A jurisdição é definitiva porque gera coisa julgada, mas nem sempre gerará coisa julgada. Não haverá coisa julgada (doutrina clássica): 1- na execução: porque o juiz só satisfaz; 2- na cautelar: porque o juiz só decide sobre urgência; 3- nas relações jurídicas continuativas: artigo 471, I, CPC; 4- na jurisdição voluntária: artigo 1109, CPC; 5- no processo coletivo quando a ação é improcedente por falta de provas. Na execução a grande maioria e a jurisprudência entendem que não há coisa julgada.Bedacchi entende que há coisa julgada quando a extinção se baseia nos incisos do artigo 794 que coincidem com o artigo 269. A maioria entende que na cautelar não há coisa julgada, salvo quando o juiz decreta prescrição ou decadência do direito material. Tem aumentado a doutrina que entende que há coisa julgada, mas quanto ao mérito da cautelar (que não atinge o mérito da ação principal). Nas relações continuativas e na jurisdição voluntária toda doutrina clássica dizia que não há coisa julgada. A partir de Dinamarco a maioria reconhece que há coisa julgada e o artigo 471, I e o artigo 1109 permitem obter uma nova decisão com base em outra ação se surgir fato ou circunstâncias novas (nova causa de pedir). Exemplo: após a sentença de alimentos transitada em julgado só será possível rever o valor da pensão se houver alteração da necessidade e/ou da possibilidade. Exemplo: decretada a interdição após o transito em julgado só será possível uma nova decisão se alterada a condição do interdito. Página 5 de 5 2. Princípios da Jurisdição 1) Princípio do Juiz natural: finalidade de garantir julgamento imparcial, proíbe tribunais de exceção e proíbe a parte de escolher o juízo. O juiz natural deve ter: - investidura; - competência; - imparcialidade. A doutrina clássica entende que para garantir esse princípio o julgamento tem que ser feito por um órgão existente e competência fixada antes do fato a ser julgado. A rigor a anterioridade garante a imparcialidade, mas não é indispensável – o julgamento por um órgão criado posteriormente ou com competência fixada após o fato a ser julgado não fere o princípio do juiz natural se o critério de competência for objetivo e impessoal.
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