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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CÁLCULO II - PROJETO NEWTON AULA 18 Assunto: Funções Implícitas, Teorema das Funções Implícitas Palavras-chaves: funções, funções implícitas, derivação implícita Funções implícitas (continuação) Sejam F (x, y) = 0 uma equação nas variáveis x e y. O terorema das funções implícitas garante que se 1. F é uma função de classe C1 em um aberto A, 2. existe x0, y0 ∈ A com F (x0, y0) = 0 e 3. ∂F ∂y (x0, y0) 6= 0, então há uma função y = f(x) definida implicitamente por F (x, y) = 0 e dy dx = − ∂F ∂x (x, f(x)) ∂F ∂y (x, f(x)) A função f está definida em um intervalo aberto I que contém x0 e toma valores em um intervalo aberto J que contém y0, isto é, f : I → J . Se substituirmos a terceira hipótese do teorema das funções implícitas por ∂F ∂x (x0, y0) 6= 0, concluiremos que existirá uma função x = ϕ(y) diferenciável e definida implicitamente por F (x, y) = 0 tal que dx dy = − ∂F ∂y (ϕ(y), y) ∂F ∂x (ϕ(y), y) A função ϕ está definida em um intervalo aberto J que contém y0 e toma valores em um intervalo aberto I que contém x0,ou seja, f : J → I Exemplo 1 Para ilustrar que foi dito, voltemos a considerar a equação x2 + y2 = 1 ou x2 + y2 − 1 = 0. Tomemos F (x, y) = x2 + y2 − 1 que é de classe C1 em R2, pois as derivadas parciais ∂F ∂x (x, y) = 2x e ∂F ∂y (x, y) = 2y são contínuas. Consideremos o ponto ( 1 2 , √ 3 2 ) . Temos que F ( 1 2 , √ 3 2 ) = ( 1 2 )2 + (√ 3 2 )2 − 1 = 1 4 + 3 4 − 1 = 0 e ∂F ∂y ( 1 2 , √ 3 2 ) = 2. √ 3 2 = √ 3 6= 0. Então pelo teorema das funções implícitas existem intervalos abertos I e J com 1 2 ∈ I e √ 3 2 ∈ J e existe uma função f : I → J que satisfaz F (x, f(x)) = 0, para todo x ∈ I (ou seja, f está definida implicitamente pela equação x2 + y2 − 1 = 0) e f ′(x) = − ∂F ∂x (x, f(x)) ∂F ∂y (x, f(x)) , y = f(x) Neste caso, podemos tomar I = (0, 1), J = (0, 1) e f(x) = √ 1− x2 Observamos também que ∂F ∂x ( 1 2 , √ 3 2 ) = 2. 1 2 = 1 6= 0 Portanto existem intervalos abertos I e J com 1 2 ∈ I e √ 3 2 ∈ J e existe uma função ϕ : J → I que satisfaz F (ϕ(y), y) = 0 (isto é, ϕ está definida implicitamente por F (x, y) = 0) e ϕ′(y) = − ∂F ∂y (ϕ(y), y) ∂F ∂x (ϕ(y), y) , x = ϕ(y) Podemos considerar I = (0, 1), J = (0, 1) e f(x) = √ 1− y2 Consideremos agora o ponto (1, 0). Temos 2 F (1, 0) = 12 + 02 − 1 = 0 e ∂F ∂y (1, 0) = 2.0 = 0 Assim, não podemos aplicar a primeira versão do teorema das funções implícitas para esse ponto. De fato, não é possível encontrar intervalos abertos I e J com 1 ∈ I e o 0 ∈ J e uma função f : I → J que esteja definida implicitamente pela equação x2 = y2 − 1 = 0 Como ∂F ∂x (1, 0) = 2.1 = 2 6= 0, é possível para esse ponto aplicar a segunda versão do teorema das funções implícitas e concluir que existe intervalos abertos I e J com 1 ∈ I e o 0 ∈ J e existe uma função ϕ : J → I que satisfaz F (ϕ(y), y) = 0, para todo y ∈ J(ϕ está definida implicitamente por F (x, y) = 0). Podemos considerar I = ( 1 2 , √ 3 2 ) , J =( − √ 3 2 , √ 3 2 ) e ϕ(y) = √ 1− y2. Situações semelhantes ocorrem com os pontos (0, 1), (−1, 0) e (0,−1) Geralmente os pontos que satisfazem uma equação F (x, y) = 0 constituem uma curva no plano. Exemplo 2 A curva x2 + y2 = 1 representam a circunferência de centro em (0, 0) e raio 1. Tal curva pode ser parametrizada por α(t) = (cos t, sin t), 0 ≤ t ≤ 2pi Se estivermos intervalos somente na parte dessa circunferência contida no primeiro e segundo quandrante, poderíamos parametrizar essa parte por α(x) = (x, √ 1− x2), −1 ≤ x ≤ 1 Se o nosso interesse fosse na parte dessa circunferência contida no primeiro e no quarto quadrante, então tal parte poderia ser parametrizada por α(y) = ( √ 1− y2, y), −1 ≤ y ≤ 1 Observemos que as funções y = √ 1− x2 e x = √ 1− y2 estão definidas implicitamente por x2 = y2 = 1 Exemplo 3 Os pontos que satisfazem a equação y − x2 = 0 constituem uma parábola, que pode ser parame- trizada por 3 α(x) = (x, x2), x ∈ R Entretanto, há equações que não representam curvas, ou porque nenhum ponto satisfaz a equação, ou porque somente alguns poucos pontos satisfazem a equação. Exemplo 4 As seguintes equações não representam curvas no plano. 1. x2 + y2 = −1, não é satisfeita por nenhum ponto 2. x2 x2 + y2 + sin(x+ y) = 0 só é satisfeita por (0, 0) 3. xy = x2 + y2 só é satisfeita por (0, 0) O teorema das funções implícitas pode ser usado para determinarmos se uma equação F (x, y) = 0 representa uma curva, pois F satisfaz as três condições desse teorema com ∂F ∂y (x0, y0) 6= 0, então todos os pontos do gráfico da função y = f(x) (cuja existência é determinada pelo teorema) satisfazem a equaação, e assim, esse gráfico é representado pela equação. Uma parametrização para essa curva é dada por α(x) = (x, f(x)), x ∈ I Se tivermos ∂F ∂x (x0, y0) 6= 0, então os pontos do gráfico de ϕ são satisfeitos pela equação e a curva pode ser parametrizada por α(y) = (ϕ(y), y), y ∈ J Exemplo 5 Mostre que a equação y4 + x2y2 + x4 = 3 representa uma curva no plano e determine equações para a reta tangente a essa curva no ponto (1, 1). Resolução Escrevamos F (x, y) = y4 + x2y2 + x4 − 3. Temos ∂F ∂x (x, y) = 2xy2 + 4x3 e ∂F ∂y (x, y) = 4y3 + 2x2y Portanto, F é de classe C1 em R2. Temos também que F (1, 1) = 14 + 12.12 + 14 − 3 = 0 ∂F ∂y (1, 1) = 4.13 + 2.12.1 = 6 6= 0 4 Logo existe uma função diferenciável y = f(x) definida em um aberto I que contém 1. Assim, a equação representa uma curva que pode ser parametrizada por α(x) = (x, f(x)), x ∈ I Determinemos o vetor tangente a essa curva no ponto (1, 1). Sabe-se que: α′(x) = (1, f ′(x)) f ′(x) = − ∂F ∂x (x, y) ∂F ∂y (x, y) , y = f(x) Portanto f ′(x) = −2xy 2 + 4x3 4y3 + 2x2y , y = f(x) e x = 1⇒ y = f(1) = 1. Então f ′(1) = −2.1.1 2 + 4.13 4.13 + 2.12.1 = −6 6 = −1 Logo α′(1) = (1,−1) Além disso, α(1) = (1, f(1)) = (1, 1). Queremos determinar a reta que passa por α(1) e tem direção do vetor α′(1). Assim, teremos que (x, y) = α(1) + λα′(1), λ ∈ R = (1, 1) + λ(1,−1) = (1 + λ, 1− λ) Portanto { x = 1 + λ y = 1− λ Conclui-se que λ = x− 1 e λ = 1− y Logo 5 x− 1 = 1− y ⇒ y = −x+ 2 Podemos isolar o y (ou o x) na equação y4 + x2y2 + x4 = 3 escrevendo-a da forma y4 + x2y2 + x4 − 3 e a considerando como uma equaação biquadrada em y (ou em x) s2 + x2s+ x4 − 3 = 0; s = y2 Assim teremos que: s = −x2 ±√(x2)2 − 4.1.(x4 − 3) 2.1 = −x2 ±√x4 − 4x4 + 12 2 = −x2 ±√12− 3x4 2 Como s é não negativo, devemos considerar apenas s = −x2 +√12− 3x4 2 Portanto, y2 = −x2 +√12− 3x4 2 ⇒ y = ± √ −x2 +√12− 3x4 2 Exemplo 6 Consideremos agora a equação x2 + y2 + z2 = 1 nas variáveis x, y e z. Essa equação representa a esfera de centro na origem e raio 1. Isolando z nessa equação, obtemos: z = ± √ 1− x2 − y2 6 Portanto, z = √ 1− x2 − y2 ou z = − √ 1− x2 − y2 Diremos então que a equação x2 + y2 + z2 = 1 define implicitamente duas funções de duas variáveis f(x, y) = √ 1− x2 − y2 e g(x, y) = − √ 1− x2 − y2 O gráfico de f(x, y) é a parte da esfera que está acima do plano xy O gráfico de g(x, y) é a parte da esfera que está abaixo do plano xy Podemos obter as derivadas parciais dessas funções por dois processos. Por exemplo, vamos obter as deri- vadas parciais de f(x, y). 1◦ Processo Seja f(x, y) = √ 1− x2 − y2. Então ∂f ∂x (x, y) = 1 2 √ 1− x2 − y2 .(−2x) = − x√ 1− x2 − y2 ∂f ∂y (x, y) = 12 √ 1− x2 − y2 .(−2y) = − y√ 1− x2 − y2 2◦ Processo Consideramos z como função de x e y e derivamos os dois membros da equação. Assim, em relação a x, teremos: ∂ ∂x (x2 + y2 + z2) = ∂ ∂x (1) 2x+ 2z ∂z ∂x = 0 ∂z ∂x = −x z Portanto ∂z ∂x = − x√ 1− x2 − y2 Em relação a y: 7 ∂ ∂y (x2 + y2 + z2) = ∂ ∂y (1) 2y + 2z ∂z ∂y = 0 ∂z ∂y = −y z Portanto ∂z ∂y = − y√ 1− x2 − y2 Seja F (x, y, z) = 0 uma equação nas variáveis x, y e z e seja z = f(x, y) uma função. Dizemos que a função f(x, y) está definida implicitamente pela equação F (x, y, z) = 0 se F (x, y, f(x, y)) = 0. Derivando, em relação a x, ambos os membros de F (x, y, f(x, y)) = 0, obtemos: ∂ ∂x [F (x, y, f(x, y))] = ∂ ∂x [0] então ∂F ∂x (x, y, f(x, y)) ∂x ∂x + ∂F ∂y (x, y, f(x, y)) ∂y ∂x + ∂F ∂z (x, y, f(x, y)) ∂z ∂x = 0 Como ∂x ∂x = 1 e ∂y ∂x = 0, temos ∂z ∂x = − ∂F ∂x (x, y, f(x, y)) ∂F ∂z (x, y, f(x, y)) ou ∂z ∂x = − ∂F ∂x (x, y, z) ∂F ∂z (x, y, z) , z = f(x, y) Analogamente temos: ∂z ∂y = − ∂F ∂y (x, y, z) ∂F ∂z (x, y, z) , z = f(x, y) Teorema 1 (Teorema das funções implícitas. Caso F (x, y, z) = 0) Sejam F (x, y, z) uma função definida em um conjunto aberto A ⊂ R3 e (x0, y0, z0) ∈ A. Se 8 1. F é de classe C1 em A, 2. F (x0, y0, z0) = 0 e 3. ∂F ∂z (x0, y0, z0) 6= 0, então existem uma bola aberta, com (x0, y0) ∈ B, um intervalo aberto J , com z0 ∈ J e uma função diferenciável f : B → J que satisfaz F (x, y, f(x, y)) = 0, e ∂f ∂x (x, y) = − ∂F ∂x (x, y, f(x, y)) ∂F ∂z (x, y, f(x, y)) ∂f ∂y (x, y) = − ∂F ∂y (x, y, f(x, y)) ∂F ∂z (x, y, f(x, y)) Esse teorema possui duas outras versões se substituirmos a terceira hipótese, primeiro por ∂F ∂y (x0, y0, z0) 6= 0, e depois por ∂F ∂x (x0, y0, z0) 6= 0. Concluímos que se uma equação F (x, y, z) = 0 satisfaz as condições desse teorema das funções implícitas, então essa equação define implicitamente pelo menos uma função e representa uma superfície no R3, que é localmente o gráfico de uma função. Exemplo 7 Mostre que a equação ex+y+z + xyz = 1 define implicitamente uma função diferenciável z = z(x, y) e expresse ∂z ∂x e ∂z ∂y em termos de x, y e z. Resolução: Seja F (x, y, z) = ex+y+z + xyz − 1 Temos que ∂F ∂x (x, y, z) = ex+y+z + yz ∂F ∂y (x, y, z) = ex+y+z + xz ∂F ∂z (x, y, z) = ex+y+z + xy 9 Portanto, F (x, y, z) é de classe C1 em R3. Temos também que F (1, 0, 0) = 0 ∂F ∂y (1, 0, 0) = 1 6= 0 Portanto, F (x, y, z) = 0 define implicitamente uma função diferenciável z = z(x, y) e ∂z ∂x (x, y) = − ∂F ∂x (x, y, z) ∂F ∂z (x, y, z) = − e x+y+z + yz ex+y+z + xy ∂z ∂y (x, y) = − ∂F ∂y (x, y, z) ∂F ∂z (x, y, z) = −e x+y+z + xz ex+y+z + xy 10
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