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como a Pedagogia Institucional de F Oury, A. Vasquez, M. Labat, e outros, na França. Generalizando, pode-se dizer que são tentativas antipedagógicas que pretendem modificar ou destruir a instituição do ensino, substituindo-a por opções participativas ou co-gestivas (ver Co- Gestão*). Entretanto, é possível que seja a proposta de G. Lapassade e R. Lourau de uma autogestão* pedagógica (primeiro parcialmente, como contra-instituição, e depois generalizada) a forma mais conspícua de antipedagogia que se possa conceber, na qual os alunos assumem integralmente o curso da institucionalização da aprendizagem. ANTIPRODUÇÃO: as potências produtivas de todo tipo – naturais, psíquicas e sociais (em especial as instituintes*) –, são capturadas pelas grandes entidades de controle e reprodução* (por exemplo: o Estado, o Capital etc.) e suas forças são voltadas contra si mesmas, levando-as à repetição estéril ou autodestruição. As potências singulares, que o sistema dominante não está em condições de assimilar para transformar em bens, serviços ou valores alienados (mercadorias) e incorporá-las à sua lógica, são alvos dos mecanismos repressivos que eliminam mais ou menos deliberadamente as que não conseguem capturar. ANTIPSIQU1ATRIA: nascido junto à grande corrente de crítica cultural e politica dos anos 60 nos Estados Unidos e Europa, este Movimento, mais ou me nos radical, de impugnação do objeto (doença mental) assim como das teorias e métodos da Psiquiatria e da Psicopatologia, impulsionou uma profunda revolução nesse campo. Seus máximos representantes – Thomas Szasz e I. Goffman nos Estados Unidos, Michel Foucault, FélixGuattari e R. Castel na França, Ronald Laing e D. Cooper na Inglaterra, F. Basaglia na Itália e E. Pichon Rivière na Argentina – insistiram na idéia de que as qualificações" científicas" da loucura e da parafernália de recursos variavelmente violentos destinados a tratá-la não seriam senão eufemismos da alienação política, econômica e cultural da sociedade moderna. A maioria desses autores, que estiveram reunidos em um Congresso no Rio de Janeiro, em 1978, foram mentores ou participantes do Movimento Institucionalista *. ATRAVESSAMENTO: a rede social do instituído*-organizado* estabelecido, cuja função prevalente é a reprodução do sistema, atua em 138 ▲ conjunto. Cada uma dessas entidades opera na outra, pela outra, para a outra, desde a outra. Esse entrelaçamento, interpenetração e articulação de orientação conservadora, serve à exploração*, dominação* e mistificação*, apresentando-as como necessárias e benéficas. AUTO-ANÁLISE: processo de produção e re-apropriação, por parte dos coletivos autogestionários (ver Autogestão*), de um saber acerca de si mesmos, suas necessidades, desejos, demandas, problemas, soluções e limites. Esse saber se acha em geral apagado, desqualificado e subordinado pelos saberes científico-disciplinários, que não só estão em boa medida a serviço das entidades dominantes (Estado, CapitaL Raça ete.), como também operam com critérios de Verdade e Eficiência, que são imanentes aos valores de tais entidades. A auto-análise possibilita aos coletivos o conhecimento e a enunciação das causas de sua alienação*. AUTO DISSOLUÇÃO: O lnstitucionalismo* enfatiza que os grupos, organizações* e movimentos instituintes* (em outra terminologia: revolucionário-produtivo-desejantes) devem constituir morfologias sociais estritamente funcionais, subordinadas e coerentes com suas utopias ativas*. Um dispositivo* instituinte ou um grupo-sujeito*, protagonista de um processo transformador, deve ter sempre presente sua natureza transitória e "finita". Tal consciência é precondição para seu bom funcionamento, que implica conjurar os riscos de cristalização do instituído. Quando um conjunto instituinte cumpriu todos os seus objetivos, ou quando constata que não está mais conseguindo isso com a "identidade" que se deu, deve ser capaz de autodissolver-se para não se perpetuar como uma finalidade em si mesma. AUTOGESTÃO: é, ao mesmo tempo, o processo e o resultado da organização independente que os coletivos se dão pora gerenciar sua vida. As comunidades instituem-se, organizam-se e se estabelecem de maneiras livres e originais, dando-se os dispositivos* necessários para gerenciar suos condições e lnodos de existência. Todo processo instituinte*-organizante* implica uma certa divisão técnica do trabalho, assim como alguma especialização nas operações de planejamento, decisão e execução. Essas diferenças podem implicar hierarquias, mas as mesmas não envolvem escalas de poder. Os conhecimentos essenciais são compartilhados e as decisões importantes tomadas coletivamente. As hierarquias correspondem a diferenças de potência, peculiaridades e capacidades produtivas que visam sempre ser funcionais para a vontade comunitária. CAMPO DE ANÁLISE: é o perímetro escolhido como objeto para aplicar o aparelho conceitual disponível destinado a entender o campo de intervenção*: a inteligência acerca de como ele funciona, a articulação de 139 ▲ suas determinações, a forma como são gerados seus efeitos etc. Este aparelho conceitual pode constituir-se de materiais teóricos muito heterogêneos, dependendo da sua eficiência para fazer a "leitura" do campo de intervenção*. O campo de análise não está delimitado segundo um perímetro que coincida com a definição empírica ou "oficial" (instituída e organizada) de um segmento social. Quanto mais amplo o campo de análise, mais possibilidades existem de entendimento do campo de intervenção, por mais aparentemente pequeno que este seja. CAMPO DE INTERVENÇÃO: é o perímetro que delimitará o espaço dentro do qual se planejarão e executarão estratégias *, logísticas *, táticas * e técnicas * que, por sua vez, deverão operar neste âmbito específico para transformá-lo de acordo com as metas propostas. Está em estreita dependência do campo de análise*, desde o qual será compreendido, pensado. Só se intervém quando se compreende, sendo que posteriormente se compreende à medida que se intervém. O campo de intervenção pode ser muito amplo ou restrito a um estabelecimento ou organização (escola, sindicato, empresa etc.). CAPTURA E RECUPERAÇÃO: o instituído*-organizado*-estabelecido, em especial o Estado, o grande Capital, as classes e grupos dominantes, procuram detectar, classificar e apropriar-se de toda e qualquer singularidade e força produ tiva. Quando o conseguem, as incorporam à lógica acumulativa do Sistema, fundamentalmente transformando as linhas de fuga revolucionário-desejantes e seus produtos (ver Desejo*) em mercadorias. Quando o aparato de captura e recuperação falha, as mencionadas entidades operam de forma repressiva ou supressiva, inibindo ou destruindo as forças produtivas, em especial as instituintes*. CLANDESTINIDADE: remete a modos de existência social cuja característica principal é serem sigilosos, ocultos ou secretos. As idéias, pessoas, organizações ou movimentos deste tipo podem somar a condição de opositores,