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ANÁLISE ECONOMICA DE SISTEMA AGROFLORESTAL NO PROJETO DE ASSENTAMENTO PILÃO POENTE, ANAPU – PA Dionízia Moura AMORIM¹ 1 Loirena do Carmo Moura SOUSA¹ Nágilla Gabriella Barbosa EUZÉBIO¹ Nayra Glaís Pereira TRINDADE¹ Thaynara Viana CAVALCANTE¹ RESUMO Os sistemas agroflorestais são alternativas de uso da terra, que podem ser ecológica e economicamente viáveis na Amazônia. Este trabalho tem como objetivo avaliar economicamente o sistema agroflorestal adotado por um produtor rural no município de Anapu - PA. Os critérios avaliados foram: Valor Presente Líquido (VPL), Relação Custo-Benefício (RB/C) e Taxa Interna de Retorno (TIR). O custo com colheita, beneficiamento e com tratos culturais representam 73% da composição dos custos totais. O sistema agroflorestal analisado apresentou fluxo de caixa com regularidade de receitas ao longo do período considerado, apresentando uma renda líquida total de R$ 1.089.722,72 ha-1 após 40 anos. PALAVRAS-CHAVE: análise econômica; sistema agroflorestal; fluxo de caixa. ABSTRACT Agroforestry systems are alternative land use, which can be ecologically and economically viable in the Amazon. This study aims to evaluate the economics of agroforestry system adopted by a farmer in the town of Anapu - PA. The criteria were: net present value (NPV), cost/benefit analysis (C/B) and internal rate of return (IRR). The cost of harvesting, processing and cultivation represent 73% of the composition of total costs. The agroforestry system cash flow analysis presented regularly revenue over the period considered, with a total net income of R $ 1,089,722.72 ha-1 after 40 years. KEY-WORDS: economic analysis; agroforestry system; cash flow. 1 Discentes do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Pará - UFPA/Campus Altamira. Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 2 Segundo Miranda e Valentim (2000), os sistemas agroflorestais são alternativas de uso da terra, que podem ser ecológica e economicamente viáveis na Amazônia. Cordeiro (2007) citado por Cordeiro et al. (2009), ratifica que, na região amazônica, as áreas de pastagens abandonadas, aliado ao potencial dos sistemas agroflorestais como alternativa de produção, estão atraindo o interesse de investidores, em função do real potencial para a recuperação dessas áreas e de sustentabilidade socioeconômica das unidades produtivas, sobretudo das comunidades de pequenos agricultores. Para Nair (1989) e Young (1990) citado por Abdo et al. (2008) o SAF é um sistema de uso da terra com a introdução ou retenção deliberada de árvores em associação com outras culturas perenes ou anuais e/ou animais, apresentando mútuo benefício ou alguma vantagem comparativa aos outros sistemas de agricultura resultante das interações ecológicas e econômicas. Pode apresentar várias disposições em espaço e tempo, e deve utilizar práticas de manejo compatíveis com o produtor. Os SAF podem contribuir para a solução de problemas no uso dos recursos naturais, por causa das funções biológicas, e socioeconômicos que podem cumprir. A presença de árvores no sistema traz benefícios diretos e indiretos, tais como o controle da erosão e manutenção da fertilidade 1. INTRODUÇÃO Para Rodrigues et al. (2008), no Brasil, foi a partir da década de 1970 que se iniciou o processo de transformação do setor agrícola, o que ficou conhecido como “Revolução Verde”. Sua base era a mecanização agrícola e a utilização de insumos químicos. Essa “revolução”, estimulada pelo mercado internacional e apoiada pela política de crédito rural nacional, teve como consequências a rápida exaustão dos recursos naturais, a contaminação dos solos, dos cursos de água e dos agricultores, a necessidade de maiores áreas para expansão da fronteira agrícola e o êxodo rural. Ainda, segundo Dubois et al. (1996), a política do Governo Federal para o desenvolvimento agrícola na Amazônia promoveu a conversão de grandes extensões de florestas em pastagem e, em escala menor, em monocultivos agrícolas, como: cacau, café, seringueira, pimenta-do-reino, arroz, mandioca e feijão. Diversas medidas vêm sendo adotadas com intuito de amortizar o desmatamento de novas áreas e solucionar problemas relacionados ao uso do solo, que contemplem a recuperação de áreas degradadas com a produção de alimentos, a permanência dos agricultores na propriedade e a preservação e conservação ambiental. Uma das alternativas encontradas para sanar esses problemas é a implantação dos sistemas agroflorestais (SAF). Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 3 para subsidiar os agentes de financiamento, técnicos e produtores nesse tipo de investimento na Amazônia (BENTES-GAMA et al., 2005). Segundo SMITH et al. (1998) citado por Bentes-Gama (2003) afirmam, porém, que, para que os sistemas agroflorestais sejam difundidos como sistemas de produção viáveis, e até mesmo ideais, devem-se concentrar esforços no aprimoramento do conhecimento sobre o planejamento e a otimização da sua implantação, a fim de garantir um retorno econômico desejável; isso passa, necessariamente, pelo estudo de mercados, pela análise do desenvolvimento agroindustrial regional, pelo conhecimento da organização das comunidades envolvidas na atividade, pelas condições de crédito existentes, pelo ambiente regulador e fiscal e pelas questões de posse da terra. Portanto, este estudo objetivou avaliar a viabilidade econômica de um SAF, visando orientar os agricultores durante a escolha das espécies a serem cultivadas, e incentivar a implantação do sistema, como alternativa viável de recomposição das reservas legais, recuperação de áreas abandonadas e/ou degradadas, além de proporcionar uma melhor renda familiar. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. ÁREA DE ESTUDO do solo, o aumento da biodiversidade, a diversificação da produção e o alongamento do ciclo de manejo de uma área (ENGEL, 1999). Cury e Carvalho Jr. (2011) afirma que os SAF, no início de sua implantação, requerem certo investimento, incluindo compra de mudas, sementes, contratação de mão de obra para controle de espécies invasoras, entre outros. Porém, na medida em que evoluem em seu estágio sucessional, não necessitam mais de manutenção constante, exigindo apenas pequenos desbastes e, se for de interesse do produtor, colheita dos produtos produzidos. Além disso, quanto mais diversificado o sistema, menos o produtor terá a necessidade de utilizar insumos agrícolas (agroquímicos, fertilizantes etc.), e, por conseguinte, obterá maior renda líquida constante. Em suma, a diversificaçãode produtos, a maior segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental, o incremento na fertilidade do solo e a redução gradativa nos custos de produção fazem da agrofloresta uma excelente opção para a agricultura familiar no Brasil (ARMANDO et al., 2002). Porém, constata-se que estes representam uma atividade complexa que apresenta tantos riscos e incertezas como outras atividades agrícolas e florestais mais conhecidas; partindo daí a importância de se fazerem avaliações econômicas sob condições de risco Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 4 Contudo, percebe-se a presença em maior quantidade da porção de terra mista (Latossolo vermelho- amarelo), tendo uma variação de cor, de amarelo a amarelo-avermelhado, com textura argilo-arenosa. Ao longo da extensão da propriedade, nota-se a presença de um relevo plano, havendo apenas pequenas irregularidades, caracterizadas por declives pouco acentuados. A tipologia florestal é denominada como floresta ombrófila densa, caracterizada por inúmeras espécies arbóreas de médio e grande porte. A floresta apresenta uma vasta variedade de cipós, ervas e arbustos caracterizando um sub-bosque relativamente fechado com existência de palmeiras, cipoal e uma rica camada de serapilheira. 2.2. VARIÁVEIS As variáveis de produção por espécie utilizadas neste estudo foram: Dipteryx odorata (cumaru): volume total de madeira, em m3, e número de frutos por planta; Cordia alliodora (freijó): volume total de madeira, em m3; Carapa guianensis (andiroba): volume total de madeira, em m3, e litros de óleo por planta; Khaya senegalenses (mogno africano): volume total de madeira, em m3, e peso de sementes por planta, em kg.; Musa spp. (banana): unidade por planta, em cacho; Zea mays (milho): peso de grãos secos, em kg; Oriza sativa (arroz): peso de grãos secos, em kg; e Manihot esculenta (mandioca): peso da A pesquisa foi realizada na propriedade rural do Sr. Claudinei Costa da Silva, situada no Projeto de Assentamento Pilão Poente, distante cerca de 12 km (doze quilômetro) da sede do município de Anapu, localizado no sudeste paraense. Figura 1 - Localização do município de Anapu-PA. O clima da área, assim como da região, apresenta dois períodos bem definidos ao longo do ano, uma estação seca (verão seco) caracterizada pela falta de chuvas, geralmente de maio a novembro, e uma estação chuvosa (verão chuvoso), caracterizada pela presença de chuvas periódicas, entre os meses de dezembro a abril. De acordo com dados médios estabelecidos nos últimos anos, a região apresenta uma precipitação pluviométrica anual variando entre 1.500 mm a 2.500 mm e uma temperatura média que esteve permanecendo superior a 27°C, não ultrapassando os 29,2°C. Quanto ao tipo de solo, há a predominância de solos de terra firme, como latossolo amarelo, latossolo vermelho e terra roxa. Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 5 Tabela 1 - Preço unitário dos produtos do Sistema Agroflorestal. Espécie Unidade Valor Unitário (R$) Banana cacho 8,00 Arroz kg 2,20 Milho kg 5,00 Mandioca (farinha) kg 2,60 Cacau (amêndoa) kg 4,00 Freijó m³ 200,00 Andiroba m³ 200,00 Andiroba (óleo) litro 50,00 Mogno africano m³ 2.000,00 Mogno africano (semente) kg 800,00 Cumaru m³ 300,00 Cumaru (semente) unidade 0,20 de Anapu - PA e a colheita no 40º ano. Para os demais produtos, levaram-se em conta os preços praticados na comercialização feita no Mercado Municipal e Feira livre da cidade (ver Tabela 1). farinha, em kg. Para a estimativa da receita com madeira das espécies cumaru, freijó, mogno africano e andiroba, consideraram-se o volume comercial, os preços praticados no mercado da venda de madeira em tora na região Tabela 2 - Custos com mão-de-obra por hectare do SAF estudado. Ano Quantidade Valor (R$) 0 102 5.100,00 1 73 3.650,00 2 81 4.050,00 3 31 1.550,00 4-6 58 2.900,00 7 64 3.200,00 8-12 86 4.300,00 13-39 92 4.600,00 40 34 3.400,00 Total 557 29.550,00 2.3. COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS Os custos para avaliação econômica desse estudo envolveram os coeficientes de mão-de-obra, insumos e equipamentos necessários à realização de cada atividade, sendo que, as informações sobre os coeficientes técnicos e as atividades realizadas no SAF foram obtidas do acompanhamento das atividades realizadas na propriedade de estudo (ver Tabelas 2 e 3). Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 6 Tabela 3 - Custos com insumos e equipamentos por hectare do SAF estudado. Insumos Unidade Quantidade Valor unitário (R$) TOTAL 1 - Utilização de motosserra para preparo da área Aluguel da motosserra dia 7 100,00 700,00 Combustível p/ motosserra litro 12 3,10 37,20 2 - Aquisição de sementes e mudas Semente de milho kg 30 5,00 150,00 Semente de arroz kg 30 2,00 60,00 Muda de cacau Unidade 1111 2,00 2222,00 Maniva de mandioca Unidade 5.000 0,40 2000,00 Muda de banana Unidade 416 1,00 416,00 Muda de freijó Unidade 277 6,00 1662,00 Muda de andiroba Unidade 123 8,00 984,00 Muda de mogno africano Unidade 55 10,00 550,00 Muda de cumaru Unidade 185 5,00 925,00 3 - Tratos culturais Análise de solo Unidade 1 40,00 40,00 Adubo orgânico (esterco bovino) litro 10440 0,50 5220,00 Inseticida (Decis 25 ce) litro 1 65,00 65,00 Adubo Nitromag kg 75 1,80 135,00 Adubo Cloreto de Potássio kg 50 2,00 100,00 Adubo FTE BR12 litro 30 35 1050,00 Adubo NPK (18 - 18 - 18) kg 225 1,94 436,50 4 - Colheita e Transporte 4.1 - Cacau e Culturas anuais Terçado Unidade 2 22,00 44,00 Saco de fibra de 60 kg Unidade 137 1,50 205,50 4.2 - Essências florestais - Não madeireiras Saco de fibra de 60 kg Unidade 5 1,50 7,50 Recipientes de 1 litro Unidade 173 1,00 173,00 4.3 - Essências florestais - Madeireiras Aquisição de motosserra Unidade 1 2579,00 2579,00 Gasolina litro 84 3,10 260,40 Óleo queimado litro 48 2,00 96,00 Óleo lubrificante 2T litro 5 20,00 100,00 Corrente Unidade 4 60,00 240,00 Limatão Unidade 1 4,00 4,00 Lima chata Unidade 1 7,00 7,00 TOTAL 20469,10 Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 7 através de broca ou destocamento, derruba, queima, coivara e aplicação do corretivo de solo (calcário dolomítico), que foi usado somente no 1º ano; O plantio das espécies perenes obedeceu, em geral, às seguintes etapas: balizamento das linhas de plantio, marcação e abertura de covas, adubação (N.P.K. 18-18-18 para o cacau e esterco bovino para a banana e as essências florestais) e plantio; O plantio das espécies temporárias foi realizado manualmente, por meio do semeio direto como, por exemplo, o arroz, o milho, ou por estaquia, no caso da mandioca; Os tratos culturais, como capina, roçagem, coroamento, poda edesbaste, ocorreram com diferentes frequências durante o período do SAF, impactando custos com mão-de- obra. Ressalta-se que, o aproveitamento da poda/desbaste de culturas perenes e de restos de capina/roçagem foi utilizado para adubação de cobertura; e O controle de pragas foi feito com uso de inseticida, ocorrendo somente no primeiro ano e computado entre os insumos. 2.5. TAXA DE DESCONTO Considerou-se a taxa de 7,25% a.a., como taxa de desconto básico adotado para médios produtores rurais, estabelecida em conformidade com o Programa de Financiamento do Desenvolvimento Sustentável da O cálculo dos custos e receitas para a implantação e manutenção do SAF, originou-se a partir dos preços praticados em Anapu - PA. Ressalte- se que, não se considerou a variação de preços nos períodos em análise, pois, assume-se a hipótese, que essas variações dos preços de mão-de- obra, insumos, equipamentos e produtos do SAF se neutralizam em longo prazo e mantêm uma tendência constante. De posse destes dados, elaborou-se o custo anual por hectare para a implantação do sistema agroflorestal durante um horizonte de planejamento igual a 40 anos. Nesta pesquisa não foi identificado bens de capital cuja depreciação resulte em valores significativos, uma vez que todas as operações de preparo de área, adubação, plantio, poda, desbaste, capina, roçagem e controle de pragas foram realizadas de forma manual e com baixo nível tecnológico, sendo utilizadas apenas ferramentas usuais, como facão, machado, enxada e pá, empregadas principalmente em outras atividades, como a lavoura temporária, a única exceção foi o uso da motosserra no preparo de área (alugada) e na colheita das essências florestais no 40º ano (adquirida). 2.4. DESCRIÇÃO DA UNIDADE DE PRODUÇÃO SAF As principais operações de implantação foram: O preparo de área para o estabelecimento do SAF, que foi realizado de forma manual, Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 8 Tabela 4 - Produção do SAF por hectare/ano, durante o ciclo de 40 anos. Produção Ano 01 Ano 02 Ano 03 Ano 04-06 Ano 07 Ano 08-12 Ano 13-39 Ano 40 Banana (cacho) 416 416 416 Milho (kg) 3600 3600 Arroz (kg) 2100 Farinha (kg) 1500 Cacau (kg) 1000 1000 1000 1000 1000 Freijó (m³) 370 Andiroba (m³) 250 Andiroba (litros) 172,5 172,5 172,5 Mogno Africano (m³) 162 Mogno Africano (kg) 55 55 55 Cumaru (m³) 416 Cumaru (unidade) 312000 312000 312000 31200 2.6. ESTIMATIVA DA PRODUÇÃO As receitas foram obtidas com a venda da produção de 1 hectare de sistema agroflorestal, sendo que, a comercialização das culturas anuais e dos Produtos Florestais Não Madeireiros ocorreram no mercado municipal e feira livre e a produção de madeira em serrarias do município. Os dados de produção apresentados na Tabela 4 foram estimados de forma que, mantém-se a mesma produção do ano anterior, com base em dados de produtividade média registrados no município. Amazônia (FNO - Amazônia Sustentável Rural), com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), segundo disposições do Banco da Amazônia. A taxa de desconto é de suma relevância para tornar valores presentes comparáveis a valores futuros, assim como, para representar o que se deixa de ganhar pela não aplicação do capital em outra oportunidade de investimento (REZENDE e OLIVEIRA, 2008). longo da vida útil do projeto. No presente trabalho, as despesas com a implantação (preparo da área) foram computadas no primeiro ano, e as despesas operacionais (aquisição de insumos, 2.7. FLUXO DE CAIXA O fluxo de caixa reflete as entradas e saídas dos recursos e produtos por unidade de tempo ao longo Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 9 𝐑 = 𝑅𝑗 𝑛 𝑗=0 𝐶𝑗 𝑛 𝑗=0 C0 = Custo inicial do investimento; i = Taxa de desconto; e n = Duração do projeto, em anos, ou em número de períodos de tempo. Segundo Rezende e Oliveira (2008) a característica essencial do VPL é o desconto (para o presente) de todos os fluxos de caixa esperados como resultado de uma decisão de investimento. Sendo, o valor descontado líquido do fluxo de caixa prospectivo uma medida direta da atratividade econômica relativa do investimento proposto. Dessa maneira, quanto maior o VPL mais atrativo será o projeto, em contrapartida, quando o VPL for negativo, o projeto será economicamente inviável. 2.8.2. Relação Receita/Custo (RB/C) Consiste na divisão do somatório nominal das receitas que ocorrem durante a vida útil do projeto pelo somatório nominal dos custos. Ou seja, é a proporção entre as receitas e os custos. A fórmula utilizada foi: Onde: R = Razão entre as receitas e os custos; Rj = Receitas que ocorrem durante o período do projeto; e Cj = Custos que ocorrem durante o período do projeto. 𝐕𝐏𝐋 = 𝑅𝑗 (1 + 𝑖) −𝑗 − 𝐶𝑗(1 + 𝑖) −𝑗 𝑛 𝑗=0 𝑛 𝑗=0 insumos, contratação de mão-de- obra e manutenção da propriedade rural) distribuídas ao longo do período do projeto, sendo as receitas obtidas com venda da produção computadas apenas no término de cada safra ou colheita. 2.8. MODELO ANALÍTICO A análise econômica foi realizada com a finalidade de verificar se as receitas geradas pelo SAF proposto remuneram ou não os custos necessários. Nesse sentido, os critérios avaliados foram: Valor Presente Líquido (VPL), Relação Custo-Benefício (RB/C) e Taxa Interna de Retorno (TIR), de acordo com Bentes-Gama et al. (2005), Sanguino et al. (2007) e Francez et al. (2011). 2.8.1. Valor Presente Líquido (VPL) O método do VPL utilizado nesse projeto é indicado pela diferença positiva entre receitas e custos, atualizados de acordo com a taxa de desconto de 7,25% a.a. A fórmula utilizada foi: Onde: Cj = Custo no final do ano j ou do período de tempo considerado; Rj = Receita no final do ano j ou do período de tempo considerado; Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 10 Cj = Custo no final do ano j; e n= Duração do projeto, em ano. O Sistema Agroflorestal analisado no presente trabalho somente será considerado economicamente viável se a TIR for maior que a taxa de desconto de 7,25% a.a., sendo essa taxa usualmente denominada Taxa Mínima de Atratividade (TMA). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. FLUXO DE CAIXA O Sistema Agroflorestal analisado apresentou resultados positivos desde o ano 1 (ver Figura 2), gerando uma renda líquida total de R$ 1.089.722,72 ha-1 após 40 anos. Portando, conclui-se que a combinação das espécies desse sistema apresentou rendimentos satisfatórios para o produtor rural.Este resultado é muito superior ao encontrado por Bentes-Gama et al. (2005) ao avaliar a viabilidade econômica de um SAF composto pelas espécies: freijó x banana x pimenta x cupuaçu que obteve R$ 5.609,89 ha-1 após 15 anos. 𝑅𝑗(1 + 𝐼) −𝑗 − 𝐶𝑗(1 + 𝐼) −𝑗 = 0 𝑛 𝑗=0 𝑛 𝑗=0 De acordo com Rezende e Oliveira (2008) quanto maior o valor de R, mais interessante será a opção de investimento. Dessa forma, opções com valores de R menores que a unidade são consideradas inviáveis economicamente. 2.8.3. Taxa Interna de Retorno (TIR) A Taxa Interna de Retorno foi adotada como um dos critérios de avaliação desse trabalho a fim de verificar se a rentabilidade do investimento é superior, inferior ou igual ao custo de capital que será utilizado para financiar o projeto. A TIR consiste na taxa anual de retorno do capital investido, ou seja, é a taxa de desconto que iguala o valor atual das receitas ao valor atual dos custos do projeto. A fórmula utilizada foi: Onde: I = Taxa de desconto, referindo-se algebricamente ao valor da TIR; Rj = Receita no final do ano j; -25000,00 -15000,00 -5000,00 5000,00 15000,00 25000,00 35000,00 45000,00 55000,00 65000,00 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 F lu x o d e C a ix a Anos Figura 2 - Fluxo de caixa (saldo total) do Sistema Agroflorestal adotado por produtor rural no município de Anapu - PA. Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 11 Tabela 5 - Custo total, valor total da produção e receita líquida em R$ por hectare do SAF estudado. Ano Custo de mão-de- obra (MO) Custo Insumos Frete Custo Total Atualizado Valor da Produção Receita Líquida 0 5100 14477,7 ─ 19577,70 ─ -19577,70 1 3650 461,5 285 4099,30 24193,94 20094,64 2 4050 2277,5 255 5722,64 21932,50 16209,87 3 1550 25,5 51 1318,45 5940,10 4621,65 4 2900 28,5 57 2256,46 50185,57 47929,11 5 2900 28,5 57 2103,93 46793,07 44689,15 6 2900 28,5 57 1961,70 43629,91 41668,20 7 3200 28,5 57 2012,89 40680,56 38667,67 8 4600 203 78 2788,24 67992,31 65204,07 9 4600 203 78 2599,76 63396,09 60796,33 10 4600 203 78 2424,02 59110,57 56686,56 11 4600 203 78 2260,16 55114,75 52854,60 12 4600 203 78 2107,37 51389,05 49281,68 13 4600 203 78 1964,92 47915,20 45950,28 14 4600 203 78 1832,09 44676,17 42844,09 15 4600 203 78 1708,24 41656,11 39947,87 16 4600 203 78 1592,77 38840,19 37247,43 17 4600 203 78 1485,10 36214,63 34729,54 18 4600 203 78 1384,71 33766,56 32381,85 19 4600 203 78 1291,10 31483,97 30192,87 20 4600 203 78 1203,82 29355,68 28151,86 21 4600 203 78 1122,45 27371,27 26248,82 22 4600 203 78 1046,57 25520,99 24474,42 23 4600 203 78 975,82 23795,80 22819,98 24 4600 203 78 909,86 22187,22 21277,37 25 4600 203 78 848,35 20687,39 19839,04 26 4600 203 78 791,00 19288,94 18497,94 27 4600 203 78 737,53 17985,03 17247,49 segundo ano de atividade valores positivos equivalentes a R$ 20.094,64. Esta evolução ocorre principalmente devido a produção de culturas anuais, como arroz e milho. Isto evidencia o retorno do capital investido pelo produtor já no segundo ano de atividade. Nota-se, pelos dados expressos na Tabela 5, que os custos iniciais do sistema são elevados em razão das atividades estarem relacionadas ao processo de preparo da área e implantação do SAF. Entretanto, registra-se no Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 12 28 4600 203 78 687,68 16769,25 16081,58 29 4600 203 78 641,19 15635,67 14994,48 30 4600 203 78 597,85 14578,71 13980,87 31 4600 203 78 557,43 13593,20 13035,77 32 4600 203 78 519,75 12674,32 12154,57 33 4600 203 78 484,62 11817,54 11332,93 34 4600 203 78 451,86 11018,69 10566,83 35 4600 203 78 421,31 10273,84 9852,53 36 4600 203 78 392,83 9579,33 9186,50 37 4600 203 78 366,28 8931,78 8565,50 38 4600 203 78 341,52 8328,00 7986,48 39 4600 203 78 318,43 7765,04 7446,61 40 3400 3286,4 14376 1281,20 34842,63 33561,44 Total 176850,00 27138,60 17691,00 77188,87 1166911,60 1089722,72 pelo lado social, visto que ela aumenta as relações sociais entre os membros das famílias (esposa, marido e filhos e parentes próximos) e entre as famílias locais. 3.2. CUSTOS DO SISTEMA O custo total nesse sistema correspondeu a R$ 77.188,87 (valor atualizado). O custo com colheita e beneficiamento se apresentou como o mais elevado, correspondendo a 38% dos custos totais, seguido pelos custos com tratos culturais, com 35% (ver Figura 3). Esse resultado é justificado principalmente pelo uso de máquinas/equipamentos e contratação de grande quantidade de mão-de-obra, necessários para realizar essas atividades. As espécies analisadas no sistema têm uso diversificado e representam uma oportunidade de agregar valor a partir do processamento dos produtos florestais não-madeireiros (PFNM), que possuem alta margem de produção, possibilitando satisfazer diversos segmentos de consumidores e ocupar a mão-de-obra durante todo o ano, mantendo, também, um fluxo de caixa positivo pelo período de exploração do SAF, em sua maioria. Além dos níveis de rentabilidade econômica direta do sistema analisado, é importante destacar a ocupação de mão-de-obra e a geração de emprego nas diferentes atividades realizadas desde a fase de implantação até a produção, tornando o sistema, além de produtivo, viável socialmente. Segundo Rosa (2002 apud VIEIRA et al., 2007), a produção de farinha de mandioca é uma atividade de grande importância, não somente pelo aspecto econômico, mas também Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 13 Figura 3 - Participação dos componentes do custo total no Sistema Agroflorestal adotado por produtor rural no município de Anapu - PA. 3% 11% 6% 35% 38% 7% Preparo da área Mudas e sementes Plantio Tratos culturais Colheita e beneficiamento Transporte O resultado para a Razão Benefício Custo (RB/C) foi de 15,12. Isto indica que para cada R$ 1,00 investido nesse SAF, ao final de 40 anos, tem-se um retorno líquido de R$ 13,12, atestando a viabilidade do empreendimento. Segundo Coelho (2012), aumentos na diversidade não só aumentam a produtividade como também a estabilidade, ou seja, a capacidade de manter a produtividade (ou outro parâmetro ambiental), ano após ano, dentro de valores relativamente constantes. Aplicando-se isto a agroecossistemas, significa menos riscos de perdas expressivas da produção em função de variáveis climáticas ou biológicas. 4. CONCLUSÕES O projeto agroflorestal proposto apresentou viabilidade econômica pelos critérios da RB/C, VPL e TIR, pois, através destes indicadores, pode-se observar o ganho gerado durante os 40 anos da atividade. 3.3. ANÁLISE ECONÔMICA O resultado do Valor Presente Líquido (VPL) para o sistema agroflorestal estudado foi da ordem R$ 1.089.722,72 (ver Tabela 6). Por esse critério, tem-se que o SAF apresenta viabilidade econômica, pois ao final consegue gerar uma receita líquida atualizada positiva. Tabela 6 - Indicadoreseconômicos do sistema agroflorestal implantado. Indicador Unid. Limite Valor RBC um > 1 15,12 VPL R$/ha > 0 1089722,72 TIR % > 7,25 103,94% No que diz respeito à TIR, obteve-se um valor de 103,94% de retorno, é superior à taxa mínima de atratividade (juros) de 7,25% ao ano dos recursos do FNO utilizados, demonstrado que o sistema implantado é lucrativo ou viável economicamente. Resultado superior ao encontrado por Sanguino et al. (2007) de 51,8% à uma taxa de 8% ao ano de juros, ao analisar o consórcio de cacau x cupuaçu x mogno. Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 14 BENTES-GAMA, Michelliny de Matos; SILVA, Márcio Lopes da; VILCAHUAMÁN, Luciano Javier Montoya, LOCATELLI, Marilia. Análise econômica de Sistemas Agroflorestais na Amazônia Ocidental, Machadinho d’oeste- RO. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.29, n.3, p.401-411, 2005. COELHO, Geraldo Geni. Sistemas Agroflorestais. São Carlos : RiMa Editora, 2012. 204 p. CORDEIRO, I. M. C. C.; SANTANA, A. C.; LAMEIRA, O.A.; SILVA, I. M.. Análise econômica dos sistemas de cultivo com Schizolobium parahyba var. amazonicum (Huber ex Ducke) Barneby (Paricá) e Ananas comosus var. erectifolius (L. B. Smith) Coppus & Leal (Curauá) no município de Aurora do Pará (pa), Brasil. Rev. Fac. Agron. (LUZ). 26: 243-265. 2009. CURY, R. T. S.; CARVALHO JR, O.. Manual para Restauração Florestal: Florestas de Transição. Série Boas Práticas, Vol. 5. Bélem: IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. 2011. DUBOIS, J. C. L.; VIANA, V. M.; ANDERSON, A. B. Manual Agroflorestal para a Amazônia. Vol. 1. Rio de Janeiro: REBRAF. 1996. 228 p. ENGEL, V. L. Sistemas Agroflorestais: Conceitos e Aplicações. Texto extraído de ENGEL, V. L. Introdução aos Sistemas Agroflorestais. Botucatu: FEPAF, 1999. 70 p. As espécies analisadas no SAF têm uso diversificado e representam uma oportunidade de agregar valor a partir do processamento dos produtos florestais não madeireiros, que possuem alta margem de produção, possibilitando satisfazer diversos segmentos de consumidores e ocupar a mão-de-obra durante todo o ano. Em suma, as características técnicas e econômicas adotadas no SAF, tornam-se alternativa para propiciar tanto ganhos ambientais quanto socioeconômicos para a agricultura familiar. 5. LITERATURA CITADA ABDO, M. T. V. N.; VALERI, S. V.; MARTINS, A. L. M.. Sistemas agroflorestais e Agricultura familiar: uma parceria Interessante. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária. 2008. ALVES, L. M.. Sistemas Agroflorestais (SAF’s) na restauração de ambientes degradados. Programa de Pós- graduação em Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação de Recursos Naturais. 2009. BENTES-GAMA, M. de M.. Análise técnica e econômica de sistemas agroflorestais em machadinho d’Oeste, Rondônia. Tese de Doutorado. Universidade de Viçosa. Viçosa – MG. 2003. 115 p. Análise Econômica de Sistema Agroflorestal no Projeto de Assentamento Pilão Poente, Anapu - PA 15 SANGUINO, Antonio Carlos; SANTANA, Antônio Cordeiro de; HOMMA, Alfredo Kingo Oyma, BARROS, Paulo Luiz Contente de; KATO, Osvaldo Kyohei; AMIN, Mário Miguel Garcia Herreros. Avaliação econômica de Sistemas Agroflorestais no Estado do Pará. Revista de Ciências Agrárias, Belém, n. 47, p. 71-88, 2007. VIEIRA, T.A.; ROSA, L.S.; VASCONCELOS, P.C.S.; SANTOS, M.M.; MODESTO, R.S. Sistemas agroflorestais em áreas de agricultores familiares em Igarapé- Açu, Pará: caracterização florística, implantação e manejo. Acta Amazonica, vol. 37(4), p. 549 – 558, 2007. FRANCEZ, Daniel da Costa; ROSA, Leonilde dos Santos. Viabilidade econômica de Sistemas Agroflorestais em áreas de agricultores familiares no Pará, Brasil. Revista de Ciências Agrárias, v.54, n.2, p.178-187, 2011. MIRANDA, E. M. de; VALENTIM, J. F.. Desempenho de doze espécies arbóreas nativas e introduzidas com potencial de uso múltiplo no Estado do Acre, Brasil. Acta Amazônica. 30 (3): 471 – 480. 2000. REZENDE, José Luiz Pereira de; OLIVEIRA, Antônio Donizette de. Análise econômica de projetos florestais. 2 ed. Viçosa: UFV, 386 p. 2008. RODRIGUES, E. R.; CULLEN JÚNIOR, L.; MOSCOGLIATO, A. V.; BELTRAME, T. P.. O uso do Sistema Agroflorestal Taungya na Restauração de Reservas Legais: Indicadores Econômicos. Floresta, Curitiba-PR, v. 38, n. 3, 2008.
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