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TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL

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vouserserdelegado.blogspot.com 
 
1 
PROFESSOR: LÚCIO VALENTE 
TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL 
AULA 01 
 
 
1. Introdução 
 
Dois jovens rapazes saem do local 
onde moram na periferia de Brasília. Um 
deles, com 19 anos de idade, portando uma 
pistola; o outro, com 16 anos de idade, 
portando um revólver. 
Ambos se dirigem a um posto de 
combustíveis, localizado em Taguatinga-DF, 
com a intenção de assaltá-lo. É data próxima 
ao Natal, e os bandidos querem aproveitar o 
maior movimento da data. Quando chegam 
ao local, por fatídica coincidência, ali também 
chega outro rapaz, a quem vou dar o nome de 
José. 
José estava no Distrito Federal há 
três anos, e aqui estava a convite de um 
primo que era borracheiro no mesmo posto 
de combustíveis em que ocorrem os 
acontecimentos. José, assim como seu primo, 
veio de outra unidade da federação em busca 
de melhores condições de vida. 
José, já no Distrito Federal, 
frequentou um curso profissionalizante de 
instalador de sons automotivos e passou a 
trabalhar na área. Como seu trabalho era 
muito bom e como José era muito inventivo, 
começou a prestar serviços para pessoas que 
faziam competições desse tipo. 
José começou a ganhar algum 
dinheiro. Pelo menos, o suficiente para que 
ele comprasse uma pequena casa em um 
bairro periférico de Brasília. Pretendia, como 
comentara com amigos, trazer sua esposa e 
seu filho pequeno que estavam em seu estado 
de origem. 
Com o dinheiro que ganhava 
conseguiu, além disso, um financiamento 
bancário de um carro tipo pick up, no qual 
instalou vários acessórios. Montou, do 
mesmo modo, um equipamento de som digno 
de ganhar qualquer competição que 
eventualmente participasse. 
Por uma dessas coincidências da 
vida, José estava no posto de combustíveis ao 
mesmo tempo em que ali chegavam os dois 
assaltantes. José apenas queria mostrar o 
resultado da instalação dos equipamentos ao 
primo borracheiro. Ocorre que, quando os 
dois assaltantes viram o carro, mudaram o 
foco de sua empreitada criminosa. Decidiram, 
assim, assaltar José e levar o veículo. É o que 
os bandidos chamam de cavalo doido, quer 
dizer, fora do planejamento criminoso. 
Ao abordarem a vítima, sem que 
esta demonstrasse qualquer reação, um dos 
rapazes efetuou vários disparos que 
acabaram por atingi-la, levando-a à morte. 
Esse fato verídico tem se tornado 
comum no dia-a-dia das grandes cidades 
brasileiras. 
 
O crime, como se vê, não é 
primariamente um fenômeno jurídico. É, 
antes de tudo, um fenômeno social. O que a 
ciência do Direito faz é transformar esse 
fato social em um fato com relevância 
jurídica. Da mesma forma, o casamento é um 
fato da vida real, mas que o Direito regula, 
vouserserdelegado.blogspot.com 
 
2 
transformando aquilo que é apenas um fato 
social em um fato jurídico. 
O crime é, enfim, um fenômeno 
social que o Direito tratou de regular, ou seja, 
tratou de estabelecer um sistema científico 
para que seja possível a imputação jurídico-
penal (atribuição da responsabilidade penal) 
a determinada pessoa. 
No entanto, nem sempre foi assim. 
Até a primeira teoria jurídica do crime, 
surgida por volta de 1900 na Alemanha 
(Sistema Liszt/Beling), não existiam métodos 
jurídicos para correta análise de um fato 
social danoso como esse que relatei acima. 
Então, o Juiz “A” poderia ter um 
entendimento sobre o caso completamente 
diferente de um Juiz “B”. Isso dependeria das 
convicções (filosóficas, sociológicas etc.) de 
cada um deles. 
Naquele tempo o Direito Penal (e o 
próprio Direito como um todo) não 
apresentava método próprio de estudo que o 
distinguisse de outras ciências. Não existia 
um ponto de vista puramente jurídico, ou 
seja, a análise do fato sempre levava em 
considerações ponderações do tipo: por que 
o autor matou? (consideração psicológica); 
quais são as circunstâncias sociais que levam 
um indivíduo a praticar o crime? 
(consideração sociológica); quais são as 
características inatas de um criminoso? 
(critério biológico) etc. 
Tais ponderações são muito 
importantes em determinados momentos do 
estudo do fenômeno infracional (no cálculo 
da pena, por exemplo), mas afasta o aplicador 
do Direito Penal de critérios lógicos e formais 
da solução do problema estudado. E qual é o 
problema a ser estudado pelo aplicador da lei 
penal? Simples assim: o agente praticou um 
fato típico (leia-se, é um fato descrito na lei 
penal)? Esse fato típico é contrário ao direito 
(leia-se, é ilícito)? Em sendo contrário ao 
direito, é culpável ao autor (leia-se, há 
reprovabilidade)? 
Achando respostas positivas para 
as questões acima, o aplicador da lei penal 
continua seu questionamento: considerando 
que estamos diante de um fato típico, ilícito e 
culpável, há possibilidade de se aplicar a 
punição respectiva ao autor (leia-se, é 
punível)? É possível que a pena já tenha sido 
prescrita (“caducada”), como exemplo, o que 
afastaria a punibilidade etc. 
O que vamos estudar são 
justamente as etapas que devem ser 
analisadas para que, ao final, possa-se 
afirmar que o indivíduo cometera uma 
infração penal. E, mais do que isso, se poderá 
ser punido pela infração cometida. Trata-se 
de um olhar jurídico (científico) e não apenas 
sociológico, filosófico ou biológico do 
fenômeno estudado. 
Antes de adentrarmos na teoria do 
crime, preciso que você entenda o que 
estamos estudando. Ou melhor, qual é o 
objeto do nosso estudo? 
 
2. Conceito e objeto do Direito 
Penal 
Bom, nos propusemos a estudar o 
Direito Penal. O que seria isso então? 
O Direito Penal é a ciência 
jurídica que estuda as infrações penais. 
vouserserdelegado.blogspot.com 
 
3 
Podemos afirmar, dessa forma, que 
o Direito Penal é um campo da ciência que 
tem como objeto de estudo as infrações 
(violações) às leis penais. Resta-nos decifrar 
o que seria, exatamente, “infração penal”. 
 
3. Infração Penal 
 
 
No Brasil, existem duas maneiras 
de se infringir uma lei penal (sistema 
dicotômico). Digo, existem duas 
possibilidades de se cometer uma infração 
penal. A primeira forma de se infringir a lei 
penal é através da prática de um Crime 
(sinônimo de Delito); a outra forma de 
infração penal é a Contravenção Penal. 
Resumindo, podemos dizer que 
Crime e Contravenção são espécies do 
gênero Infração Penal. 
 
 
4. Diferenças entre Crime 
(Delito) e Contravenção Penal: 
 
Uma ótima forma de se estabelecer 
distinções entre dois objetos é, 
primeiramente, descobrindo-se o que há de 
comum em ambos. Se eu quiser distinguir 
“laranja” de “tangerina”, preciso saber, antes 
de qualquer coisa, que se trata de duas frutas. 
Sabemos, nesse passo, que o Crime e a 
Contravenção possuem algo em comum. 
Ambas são formas de infração penal. 
Sabendo que laranja é uma fruta e 
que tangerina também é uma fruta, posso 
distingui-las, basicamente, de duas formas: 1º 
aspecto visual: laranjas têm aparência 
diferente de tangerinas; 2º pelo sabor: ao 
provar, posso distinguir o gosto das duas 
frutas. 
Quando trato de Crime e 
Contravenção, posso usar processo 
semelhante. Inicialmente, aprendemos que 
ambas são espécies de infrações penais. 
Agora resta-nos apontar as diferenças 
existentes entre elas: 
1º Diferença: legislativa 
Não há como saber se uma conduta 
é criminosa ou contravencional 
(contravenção penal) sem conhecer a “letra 
da lei”. A decisão sobre um fato ser 
considerado crime ou contravenção é de 
quem feza lei, leia-se, do legislador. 
Explico: a primeira grande 
diferença entre as duas infrações penais é 
o local onde estão documentadas. 
 É fácil, veja só: 
Os Crimes estão previstos no 
Código Penal (Decreto-Lei n.o 2.848/1940), 
bem como nas Leis Penais Especiais ( 
também chamadas de Leis Penais 
Extravagantes). Como exemplos dessas 
últimas, temos: crimes de drogas (Lei 
11.343/2006); crimes de arma de fogo (Lei 
10.826/03); crimes ambientais (Lei 
9.605/98); crimes de trânsito ( Lei 
9.503/98), entre muitos outros. 
Infrações Penais 
Crimes (Delitos) 
Contraveções Penais 
vouserserdelegado.blogspot.com 
 
4 
As Contravenções Penais estão 
previstas em uma lei específica, o Decreto-
Lei n.º 3.688/1941. Essa lei tem o nome de 
Lei de Contravenções Penais. 
O legislador, por meio de lei federal 
(princípio da legalidade), pode criar novos 
tipos penais (leiam-se, novos crimes), 
revogá-los, alterá-los. Pode, além disso, 
transformar uma Contravenção em Crime. É 
uma decisão meramente política. 
Existem situações que antes eram 
consideradas Contravenções, mas por 
decisão do legislador passaram a ser Crime. O 
porte de arma de fogo, por exemplo, era 
considerado contravenção e hoje, pelo 
Estatuto do Desarmamento, é considerado 
crime. Quero dizer com isso que não existe 
uma diferença conceitual entre crime e 
contravenção. 
Interessante que, falando da Lei de 
Contravenções, ela costuma tratar de 
situações muito menos graves do que o 
Código Penal. É por isso que o grande 
penalista brasileiro Nelson Hungria apelidava 
a Contravenção Penal de “crime anão”. 
 
 
2ª Diferença: Crimes são, em 
regra, mais graves. 
Uma segunda diferença, então, 
entre crime e contravenção seria o fato de 
que os crimes costumam ser mais graves 
do que as contravenções e até por isso as 
penas dos crimes são, em regra, mais 
pesadas. 
Imagine que você esteja assistindo 
a uma peça de teatro. Uma peça de 
Shakespeare, por exemplo. No meio do 
espetáculo um sujeito começa a conversar ao 
celular atrapalhando a interpretação dos 
atores. Acreditem ou não, mas existe uma 
contravenção penal nessa conduta. Veja só: 
Art. 40. Provocar tumulto ou portar-
se de modo inconveniente ou desrespeitoso, em 
solenidade ou ato oficial, em assembléia ou 
espetáculo público, se o fato não constitui 
infração penal mais grave. Pena – prisão 
simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, 
de duzentos mil réis a dois contos de réis. 
Seria um exagero considerar a 
situação acima criminosa. A reprimenda 
prevista para a Contravenção já é mais do 
que suficiente para prevenir e refrear a 
conduta. 
Muitos penalistas modernos, por 
isso, defendem que a Lei de Contravenções 
deveria ser revogada, uma vez que o Direito 
Penal não poderia se ocupar de situações de 
pequena monta, de pouca relevância para a 
vida em sociedade. 
3ª Diferença: espécies de penas 
Em decorrência da segunda 
diferença acima, é natural que a qualidade 
das penas cominadas (atribuídas) a Crimes 
seja diferente da aplicada às Contravenções. 
Os Crimes são apenados com reclusão, 
CRIMES 
Código 
Penal 
Leis Penais 
Especiais 
CONTRAVENÇÕES 
Lei de 
Contraveçõ
es Penais 
vouserserdelegado.blogspot.com 
 
5 
detenção e multa. As Contravenções com 
prisão simples e multa. 
 
 
 
Qual a diferença entre eles? 
a. Reclusão: o agente pode iniciar 
o cumprimento da pena em regime fechado, 
semi-aberto ou aberto, dependendo da pena 
concreta; 
b. Detenção: o agente pode iniciar 
o cumprimento em regime semi-aberto ou 
aberto. Caso descumpra as regras de tais 
regimes, pode regredir para o regime 
fechado, mas nunca iniciar nesse regime; 
c. Prisão Simples: Prisão 
simples é a pena cumprida sem rigor 
penitenciário em estabelecimento especial ou 
seção especial de prisão comum, em regime 
aberto ou semi-aberto. Trata-se de pena 
aplicada em face de contravenção penal (Lei 
das Contravenções Penais - Decreto Lei 
nº3.688/1941). Somente são admitidos os 
regimes aberto e semi-aberto. É vedado o 
emprego do regime fechado para o 
cumprimento de pena por contravenção 
penal, mesmo em caso de regressão. 
4ª Diferença: não se admite 
tentativa nas Contravenções Penais 
A quarta diferença é que os crimes 
podem admitir tentativa, as 
contravenções nunca admitem tentativa. 
Eu digo que os crimes podem 
admitir tentativa porque existem situações 
que não se admite tentativa em crime. Vamos 
ter uma aula específica sobre o tema, então 
vou deixar para aprofundar assunto em 
momento oportuno. Por enquanto, é 
suficiente que você saiba que as 
contravenções penais nunca admitem a 
forma tentada, pois a Lei de Contravenções 
expressamente a proíbe (art. 4º). 
 
 
5ª Diferença: princípio da 
extraterritorialidade 
O Código Penal prevê, como regra, 
o princípio da territorialidade (art. 5º, caput), 
determinando que os crimes praticados em 
território nacional devam aqui ser julgados. 
Permite, no entanto, que, em determinadas 
circunstâncias, crimes cometidos no 
estrangeiro sejam também julgados no Brasil 
(princípio da extraterritorialidade, art. 7º do 
CP) (ex.: crime contra a vida do Presidente da 
República do Brasil ocorrido no estrangeiro). 
Em resumo, o Brasil aplica como regra o 
princípio da territorialidade (crimes 
cometidos no Brasil, julgamento no Brasil), 
mas permite a extraterritorialidade (crimes 
cometidos no estrangeiro, julgamento no 
Brasil). 
A Lei de Contravenções, de outra 
forma, só admite a aplicação do princípio da 
territorialidade, não punindo condutas 
CRIMES 
Reclusão 
Detenção 
Multa 
CONTRAVENÇÕES 
Prisão 
Simples 
Multa 
CRIMES 
podem 
admitir 
tentativa 
CONTRAVENÇÕES 
nunca 
admitem 
tentativa 
vouserserdelegado.blogspot.com 
 
6 
ocorridas fora dos limites territoriais 
brasileiros. 
 
 
ESTUDAMOS ATÉ AQUI QUE: 
 
1. No Brasil há duas espécies de 
infração penal: crime (ou delito) e 
contravenção penal; 
2. Os crimes estão previstos no 
Código Penal e nas Leis Penais Especiais, 
como na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006); 
3. As contravenções estão 
previstas na Lei de Contravenções Penais; 
4. Em regra, crimes são mais 
graves que contravenções; 
5. O crime admite reclusão, 
detenção e multa; 
6. A contravenção só admite 
prisão simples e multa; 
7. Não existe possibilidade de 
tentativa em contravenção penal; 
8. Aos crimes aplica-se o 
princípio da extraterritorialidade. 
 
 
 
Teoria Geral do Crime 
1. Introdução 
O crime, como já dito, é um 
fenômeno social, ou seja, fato de natureza 
moral ou social, regido por leis especiais. Um 
sujeito, como exemplo, pretendendo matar 
um desafeto, saca uma arma de fogo e 
dispara contra a vítima ceifando-lhe a vida. 
Não podemos fracionar em 
elementos o “fenômeno crime” no sentido 
psicológico ou sociológico, assim como não 
podemos fracionar a violência, o medo, as 
paixões. O delito, no sentido que acabamos de 
expor, não interessa ao estudioso do Direito, 
mas sim ao sociólogo, ao filósofo, ao 
psicólogo, certo que pode ser objeto das mais 
variadas ciências, como a criminologia, 
política criminal, sociologia, medicina legal. 
Neste ponto, cabe-nos identificar 
corretamente quais desses fenômenos são 
jurídico-penais e quais pertencem a ciências 
outras. 
Inicialmente, cumpre esclarecer 
que o crime pode ser estudado por várias 
perspectivas, o que faz nascer os conceitos 
materiais, formais,e operacionais 
(analíticos) de crime. Entretanto, o direito 
penal somente se preocupa com esta 
última (operacional/analítico). 
 
a) Conceito Real de Crime: os 
conceitos reais de crime estão ligados ao 
objeto da Criminologia, tomando a 
perspectiva do surgimento do crime e da 
criminalidade, sob o ponto de vista 
antropológico, sociológico, político etc. 
b) Conceito Material de Crime: 
mostra o crime como violação ao bem 
jurídico penalmente protegido. Assim, 
crime é a violação do patrimônio, da vida 
etc. 
c) Conceito Formal de Crime: 
mostra o crime como violação de uma 
norma legal ameaçada com pena (ex.: 
homicídio é a violação do art. 121 do CPB). 
vouserserdelegado.blogspot.com 
 
7 
d) Conceito Operacional ou 
Analítico: crime é fato típico, ilícito e 
culpável. 
 
 
Dessa forma, devemos admitir a 
Ciência do Direito Penal como autônoma, 
com finalidades, objetos e métodos próprios, 
uma ciência com verdadeiro caráter 
dogmático e cartesiano. As demais ciências 
criminais (criminologia, política criminal) 
têm acentuado caráter causal-explicativo, 
baseiam-se exclusivamente na experiência, 
como única fonte de conhecimentos 
(empirismo). A ciência do Direito Penal é 
uma ciência de aplicação prática e o penalista 
busca métodos, técnica e fórmulas para 
solução de problemas práticos. 
Partindo deste prisma, caso 
estivéssemos em uma aula de anatomia 
humana em um curso de Medicina, 
certamente o Professor dividira 
pedagogicamente as partes do corpo humano 
para melhor apreensão da matéria (cérebro, 
sistemas funções etc.). No ensino 
fundamental aprendemos a dividi-lo em 
cabeça, tronco e membros. Certo é que não 
podemos conceber um corpo perfeito sem 
cabeça, ou sem tronco. Podemos até concebê-
lo sem membros, mas estaríamos diante de 
um corpo imperfeito. O cientista do Direito 
Penal adota método parecido para o estudo 
jurídico (e não social) do fato delituoso. 
A teoria do delito é uma 
construção teórica, que nos proporciona o 
caminho lógico para averiguar se há delito 
em cada caso concreto. 
Quando o operador do Direito (o 
Delegado, o Juiz, o Promotor, o Advogado 
etc.) se depara com um fato, quais são as 
etapas que ele deve seguir para constatar a 
realização de um ilícito com relevância 
penal? 
A resposta nos é dada pela Teoria 
Geral do Crime, que se ocupa, justamente, da 
exposição sistemática dos requisitos (ou 
fundamentos) necessários para a 
configuração do crime. 
O que eu quero dizer é que existe 
um processo, passo-a-passo, para se 
determinar se uma determinada conduta 
humana pode ou não ser considerada crime. 
“Matar Alguém” só será considerado crime, 
por exemplo, se todas as etapas forem 
preenchidas. E quais seriam essas etapas (ou 
requisitos)? É isso que vamos estudar a partir 
de agora. 
Considerando o estágio atual da 
Teoria do Delito, teremos como base de 
estudo a Teoria Finalista Tripartida de Hans 
Welzel. Teoria tripartida porque é divida em 
três partes: o crime como um fato típico, 
ilícito e culpável. 
Devo adverti-lo, no entanto, que os 
finalistas admitem outras estruturações do 
crime. Há concepções finalistas que dividem 
o crime em duas partes (teorias bipartidas). 
Na Alemanha, por exemplo, há inúmeros 
defensores da denominada concepção total 
do injusto (tipo global de injusto), em que 
o fato típico e a ilicitude se fundem em uma 
só realidade (teoria dos elementos negativos 
do tipo). No Brasil, há defensores de outra 
forma de teoria bipartida, concebendo a 
vouserserdelegado.blogspot.com 
 
8 
separação de tipicidade e ilicitude, mas 
excluindo a culpabilidade, mantendo-a como 
pressuposto para aplicação de pena (por 
todos, Damásio de Jesus). 
Por questões didáticas, elegi a 
sistema tripartido para abordagem em 
nossas aulas. Em momento próprio, tratarei 
da evolução dogmática da teoria do crime e 
nos aprofundaremos em outros sistemas 
existentes. 
Assim, a concepção que 
adotaremos será a seguinte: 
1º Fato típico: a verificação do 
enquadramento de determinada conduta 
humana em um modelo de conduta proibida 
(ex.: matar alguém); 
2º Ilicitude: estudo de regras 
permissivas que excluem a contradição da 
ação típica com o ordenamento jurídico (ex.: 
matar alguém em legítima defesa); 
3º Culpabilidade: verificação da 
reprovabilidade ou não da conduta ilícita do 
agente (ex.: matar alguém em estado de 
alucinação mental). 
 
2. Conceito analítico (segundo a 
teoria finalista tripartida) 
Lembro-me que nas aulas de 
biologia do ensino fundamental estudamos o 
corpo humano. Lembro-me, ainda, que a 
professora Mariquinha dividiu o corpo 
humano em três partes: cabeça, tronco e 
membros. Será que podemos dividir o corpo 
humano de fato? Claro que não. O corpo 
humano é um todo indivisível. 
Existe corpo humano perfeito sem 
cabeça, tronco ou membros? Claro que não. O 
que a professora Mariquinha fez foi dividir o 
nosso estudo (e não o corpo) em partes. E 
para que ela fez isso? Por óbvio, para facilitar 
a abordagem da matéria. 
Assim como o corpo humano deve 
ser dividido pelo anatomista para seu estudo, 
assim o faremos com os elementos do crime. 
Para nós, o crime é um fato típico (cabeça), 
ilícito (tronco) e culpável (membros). 
Observe o quadro a seguir: 
 
Crime é fato típico + antijurídico + 
culpável. 
 
 
 Cabeça tronco membros 
 
 
Ao mesmo tempo, vamos dar uma 
olhadela geral na estrutura do conceito 
analítico de crime. Perceba que cada 
elemento (fato típico, ilicitude e 
culpabilidade) possui subcomponentes que 
devem ser memorizados. 
 
 
 
fato típico 
conduta 
 resultado 
nexo 
causal 
tipicidade 
ilicitude 
estado de 
necessidade 
legítima 
defesa 
exercício 
regular do 
direito 
estrito 
cumprimento 
do dever legal 
culpabilidade 
imputabilidad
e 
potencial 
consciência da 
ilicitude 
exigibilidade 
de conduta 
diversa 
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9 
 
Se você conhece a estrutura da 
teoria tripartida do crime (cabeça, tronco e 
membros), vai ficar muito mais fácil 
caminhar em terreno firme. 
Pois então, já memorizou os 
elementos do crime? Não? Então, retorne e 
gaste alguns minutos lendo a tabela acima 
antes de continuar. 
Agora, resolva as seguintes 
questões de concurso: 
2.1 Do Fato Típico 
De acordo com a estrutura acima 
apresentada, o crime tem como primeiro 
elemento o fato típico e como primeiro 
subelemento a conduta humana. Tudo parte 
da conduta de um ser humano. Sim, porque o 
Direito Penal nada mais é do que um ramo do 
Direito e, portanto, regula a vida de pessoas 
em sociedade. Sem conduta humana, não há 
qualquer motivo para, sequer, a existência do 
Direito. 
 
2.1.1 Conduta 
 
Fato típico 
 
Lembre-se que o Direito Penal é 
uma ciência e, por isso, apresenta seus 
próprios conceitos. Preciso dizer isso porque 
é muito importante que você entenda as 
concepções corretas para os termos que 
utilizaremos. 
Como o Direito Penal concebe o 
termo “conduta”? 
Conduta para o Direito Penal é a 
ação ou omissão humana (a) consciente (b) 
e voluntária (c) voltada para uma 
finalidade (d). 
Temos, então, os seguintes 
elementos dentro desse conceito 
apresentado: 
. 
 
 a) Ação ou omissão deve ser 
humana (praticada por ser humano) 
O modelo de conduta que iremos 
estudar (modelo finalista) foi desenvolvido 
por Welzel, com contribuições de Maurach,Kaufmann, entre outros. Na concepção 
finalista, o ser humano age sempre 
psicologicamente com capacidade 
potencial de calcular as consequências de 
seus atos. A conduta humana não pode ser 
cega, justamente porque temos a habilidade 
de antever os possíveis sequelas que podem 
advir de nossos comportamentos. 
Quando determinada pessoa 
atropela um pedestre por ter desrespeitado o 
semáforo, pode ser implicado pelo resultado, 
justamente porque qualquer um de nós 
fato típico 
conduta 
ilicitude culpabilidade 
CONDUTA 
AÇÃO OU OMISSÃO 
HUMANA 
CONSCIENTE 
FINALIDADE 
VONTADE 
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10 
poderia antever, pelo menos, a possibilidade 
do saldo danoso. 
A capacidade de antecipação das 
consequências de suas ações é atributo que 
somente o ser humano possui. É por isso que 
somente o ser humano pratica conduta 
penalmente relevante. Nesse sentido, 
animais irracionais não têm conduta, por 
exemplo. Animais não “agridem” (mas podem 
ser utilizados como verdadeiras armas por 
seus donos). A “conduta” do cachorro de 
morder alguém só terá relevância para o 
Direito Penal se por trás desse ataque houver 
um ser humano que, por exemplo, o 
provocou ou o esqueceu solto. A conduta foi 
do homem e não do animal. 
Mas, Valente, se o crime exige uma 
conduta de ser humano, como pode uma 
pessoa jurídica (criada pelo direito, como 
uma empresa, por exemplo) cometer crimes? 
Vamos fazer igual ao esquartejador. 
Vamos por partes! 
 É verdade sim que a pessoa 
jurídica não pode praticar condutas, mas 
pode responder criminalmente por um fato. 
Como isso é possível? Calma, eu 
explico. Mas para isso vamos nos lembrar das 
aulas de Direito Constitucional. 
Como vimos, somente o ser 
humano pode praticar condutas com 
relevância para o Direito Penal. Pessoa 
Jurídica não é ser humano (óbvio), mas 
responde por crime porque a Constituição 
Federal assim permite. 
Não entendeu? Tudo bem, olha só! 
Lembra-se do conceito de Poder 
Constituinte Originário? 
O poder constituinte originário é 
aquele que tem a prerrogativa de criar uma 
nova Constituição de um Estado. Quando a 
Assembleia Nacional Constituinte promulgou 
a nossa Constituição de 1988, achou por bem 
colocar ali duas situações em que pessoas 
jurídicas poderiam responder 
criminalmente por um determinado fato. 
E o constituinte poderia ter feito 
isso? 
Poderia sim, uma vez que uma das 
características do poder que elabora uma 
nova constituição é a liberdade total para 
fazê-lo. Lembre-se que o poder constituinte é 
“originário, “incondicionado” e “ilimitado”. 
Então, hoje, temos a seguinte 
situação: 
Pessoa Jurídica pratica crime? 
Resposta: para a Teoria do Crime, 
não. Para a nossa Constituição da República 
de 1988, sim. 
E o que você vai marcar em sua 
prova? 
Ora, o que está na Constituição 
Federal, pois é assim que o CESPE, por 
exemplo, tem cobrado. 
Como vimos, então, pessoa jurídica 
pratica crime, uma vez que a Constituição da 
República assim permite. Essa permissão 
ocorre em duas situações: 
1ª hipótese: artigo 173, § 5º, CR. 
 “173. Ressalvados os casos previstos 
nesta Constituição, a exploração direta de 
atividade econômica pelo Estado só será 
permitida quando necessária aos imperativos 
da segurança nacional ou a relevante interesse 
coletivo, conforme definidos em lei.” 
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11 
(...) 
“§ 5º - A lei, sem prejuízo da 
responsabilidade individual dos dirigentes 
da pessoa jurídica, estabelecerá a 
responsabilidade desta, sujeitando-a às 
punições compatíveis com sua natureza, 
nos atos praticados contra a ordem 
econômica e financeira e contra a 
economia popular.” 
Conforme a norma constitucional 
acima apresentada, a primeira hipótese de 
atribuição de responsabilidade penal à 
pessoa jurídica seria nos crimes contra a 
ordem econômica e financeira e contra a 
economia popular. 
Essa situação ainda não pode ser 
aplicada porque, apesar de estar previsto na 
CR que pessoa jurídica pode responder por 
crimes contra a ordem econômica e 
financeira e contra a economia popular, 
ainda não existe uma lei que tenha 
complementado essa possibilidade na 
prática. Quero dizer que tem que existir uma 
lei infraconstitucional (inferior à 
Constituição) que instrumentalize essa 
hipótese prevista na Constituição Federal. 
Com efeito, a lei nº 8.137/90 
(crimes contra a ordem tributária, econômica 
e contra as relações de consumo), a Lei nº 
1521/51 (Crimes contra a economia popular) 
e Lei nº7492/86 (Crimes contra o sistema 
financeiro nacional) nada mencionam sobre 
responsabilidade penal da pessoa jurídica. 
2ª hipótese: art. 225, § 3º, CR. 
“Art. 225. Todos têm direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de 
uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao Poder 
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e 
preservá- lo para as presentes e futuras 
gerações.” 
(...) 
“§ 3º - As condutas e atividades 
consideradas lesivas ao meio ambiente 
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou 
jurídicas, a sanções penais e 
administrativas, independentemente da 
obrigação de reparar os danos causados.” 
A segunda hipótese constitucional 
está inserida no texto acima e está 
relacionada aos crimes ambientais. Ao 
contrário da primeira hipótese, o art. 225§ 3º 
da CR foi regulamentado pela Lei de Crimes 
Ambientais (Lei 9605/98). 
No Brasil, portanto, pessoas 
jurídicas podem responder criminalmente 
por crimes contra o meio-ambiente, senão 
vejamos: 
“(Art. 3º, Lei 93605/98) As pessoas 
jurídicas serão responsabilizadas 
administrativa, civil e penalmente conforme o 
disposto nesta Lei, nos casos em que a infração 
seja cometida por decisão de seu 
representante legal ou contratual, ou de 
seu órgão colegiado, no interesse ou 
benefício da sua entidade.” 
“Parágrafo único. A 
responsabilidade das pessoas jurídicas não 
exclui a das pessoas físicas, autoras, 
coautoras ou partícipes do mesmo fato.” 
 
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12 
 
 
Muito importante esse parágrafo 
único acima. Para solucionar o que eu falei 
sobre a impossibilidade da pessoa jurídica 
praticar conduta foi que a Lei Ambiental 
determinou que as pessoas físicas 
responsáveis pela pessoa jurídica em 
questão responderão em coautoria ou 
participação pelo crime desta última. 
O legislador sabe que quem 
praticou, de fato, a conduta criminosa foi uma 
pessoa física ou um grupo de pessoas físicas 
em nome da pessoa jurídica, simplesmente 
porque pessoas jurídicas não praticam 
condutas, como já dissemos. Explico, foi um 
funcionário da empresa que determinou que 
fossem jogados resíduos em um rio, agindo 
em nome da empresa e em seu benefício. 
Quem praticou o crime ambiental? 
O Funcionário em coautoria com a pessoa 
jurídica. É o que a doutrina denomina de 
TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO. 
Por essa teoria, sempre que uma 
pessoa jurídica responder por um crime 
ambiental, com ela responderá uma pessoa 
física. 
O STJ já decidiu que se admite a 
responsabilidade penal da pessoa jurídica em 
crimes ambientais desde que haja a 
imputação simultânea do ente moral e da 
pessoa física que atua em seu nome ou em 
seu benefício, uma vez que "não se pode 
compreender a responsabilização do ente 
moral dissociada da atuação de uma pessoa 
física, que age com elemento subjetivo 
próprio” (STJ, REsp 889.528/SC, Rel. Ministro 
FELIX FISCHER, DJ 18/06/2007).Essa teoria se justifica porque, 
muitas vezes, as decisões de uma pessoa 
jurídica são impessoais, dependendo do 
tamanho da empresa. É por esse motivo que a 
lei diz que a responsabilidade da pessoa 
jurídica vai ocorrer sempre que a infração for 
cometida por decisão de seu representante 
legal ou contratual, ou de seu órgão 
colegiado, no interesse ou benefício da 
sua entidade. 
 
Ocorre que, recentemente, a 1ª 
Turma do STF adotou posição um pouco 
diferente. No Informativo 714 publicou-se 
um julgado em que a Pessoa Jurídica foi 
condenada MESMO COM A ABSOLVIÇÃO 
DA PESSOA FÍSICA (RE 548181/PR, rel. Min. 
Rosa Weber, 6.8.2013). 
 
EM RESUMO, HÁ DUAS POSIÇÕES. 
 
STF 1ª TURMA: é admissível a 
condenação de pessoa jurídica pela 
prática de crime ambiental, ainda que 
absolvidas as pessoas físicas ocupantes de 
cargo de presidência ou de direção do 
órgão responsável pela prática criminosa. 
Previsão Constitucional 
para responsabilização 
criminal da Pessoa 
Jurídica 
Crimes Ambientais Crimes Financeiros 
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13 
STJ: no cometimento de delito 
ambiental, devem ser denunciados tanto a 
pessoa jurídica como a pessoa física 
(sistema ou teoria da dupla imputação). 
Isso porque a responsabilização penal da 
pessoa jurídica não pode ser desassociada 
da pessoa física - quem pratica a conduta 
com elemento subjetivo próprio (STJ, RMS 
37.293/SP, DJe 09/05/2013). 
 
 
 
b) a conduta humana deve ser 
consciente 
 Não existe conduta e, em 
consequência crime, para quem está 
inconsciente. Por exemplo, em estado de 
sonambulismo, hipnose, coma, sono 
profundo etc. 
Assisti nos noticiários um fato 
interessante. Um sujeito, na Inglaterra, 
hipnotizava a funcionária de um 
supermercado para fazer com que ela lhe 
entregasse todo o dinheiro de seu caixa. 
Perceba que, se isso for verdade mesmo, ela 
não possui conduta alguma, mas é um mero 
instrumento nas mãos do ladrão. Quem 
pratica a conduta é ele (o ladrão) e não a 
operadora de caixa. 
 
 
Cuidado só com uma coisa. Caso a 
pessoa se coloque em uma situação de 
inconsciência sabendo que pode causar 
um resultado criminoso, pode responder 
por esse resultado a título de Dolo ou 
Culpa. 
É o exemplo do caminhoneiro que 
está na estrada sem dormir faz 18 horas. 
Mesmo sabendo que pode causar um 
acidente, continua a viagem. Se dormir ao 
volante, atravessar a pista contrária e matar 
uma família inteira que vem no sentido 
contrário em outro carro vai responder 
criminalmente por essas mortes. É o que a 
doutrina chama de action libera in causa. 
A teoria da actio libera in causa (a 
ação é livre na causa) ensina que a conduta 
do caminhoneiro deve ser analisada na causa 
inicial, ou seja, antes dele dormir e causar o 
acidente. É como se perguntássemos: o 
motorista tem dolo ou culpa por ter dormido 
ao volante? A resposta é sim. Então, ele é 
culpado pelo acidente que decorreu de seu 
sono. Ele era livre para continuar a viagem ou 
não, mesmo sabendo que seria perigosa essa 
conduta. 
Teoria da Dupla 
Imputação 
a responsabilização 
penal da pessoa 
jurídica não afasta a 
da pessoa física 
responsável por ela 
Não existe conduta por falta de 
CONSCIÊNCIA 
Sono 
Sonambulismo 
Coma 
Hipnose 
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14 
É muito parecido com o que ocorre 
com aquele sujeito que vai ao bar com os 
amigos, enche a cara de cachaça, fica 
completamente embriagado e volta dirigindo 
para casa. Se ele dormir ao volante, deve 
responder por um eventual acidente uma vez 
que a ação era livre na causa, quer dizer, ele 
era livre para escolher entre dirigir ou não 
naquelas situações. 
É diferente da situação daquela 
pessoa que, dirigindo o carro, tem repentino 
e inesperado desmaio. Caso atropele uma 
pessoa, deverá responder por esse resultado? 
Agora não, porque em estado de 
inconsciência não há crime por não haver 
conduta. 
Repito: não se pune a conduta de 
quem está inconsciente, exceto se o sujeito se 
colocou nessa situação querendo ou sabendo 
que poderia praticar um crime! 
AÇÕES DE CURTO-CIRCUITO: por 
outro lado, a maioria da doutrina informa 
que as ações praticadas por explosão de 
raiva (ações de curto-circuito ou delitos 
de explosão) não se inserem dentre as 
hipóteses de ausência de consciência. 
18. voluntária: conduta requer 
vontade. O que significa “vontade”? Significa 
que o ânimo que está em minha mente 
permanece íntegro quando eu o transfiro 
para meu corpo. 
Imagine que você deseje beber 
água para matar a sede. Para tanto, você pega 
um copo com água e passa a bebê-la. Veja que 
sua VONTADE foi a de beber água, mas a sua 
FINALIDADE foi de matar a sede. São duas 
coisas completamente diferentes. Já 
falaremos da finalidade no próximo tópico. 
Importante que eu fale agora de uma situação 
que se pode afastar a vontade livre de uma 
conduta. 
Como eu afasto a vontade livre de 
alguém praticar uma conduta? Posso fazer 
isso através de coação, mais especificamente 
através da COAÇÃO FÍSICA IRRESISTÍVEL. 
19. A coação física irresistível ( 
vis corporalis ou vis absoluta): a coação 
física ocorre quando a força física de alguém 
se sobrepõe à força física de outra pessoa. 
Veja o exemplo: 
Dagmar diz para seu esposo Alceu 
que vai para a casa de uma amiga estudar. 
Por volta das 23 horas, Alceu recebe uma 
ligação de um conhecido: 
- Alceu, cadê você? 
- Uai, to aqui assistindo ao jogo do 
Vasco! 
-Cara, cadê tua mulher, a Dagmar? 
-Uai, tá na casa de uma amiga 
estudando! Por que quer saber? 
-Deixa de ser trouxa, Alceu! A 
Dagmar tá aqui no Forró no maior 
assanhamento com um sujeito! 
Alceu inconformado com a possível 
traição de Dagmar vai até o forró dirigindo 
sua caminhonete. Ao chegar ao local, o 
segurança não deixa Alceu entrar prevendo 
uma confusão no recinto. Então, Alceu invade 
o bar utilizando sua caminhonete. 
Um sujeito que não tinha nada a 
ver com a estória, é atingido pelo impacto do 
veículo e acaba por acertar um golpe no rosto 
de uma moça, uma vez que ele segurava um 
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15 
copo de cerveja em uma das mãos. A moça 
fica gravemente ferida pela “copada” dada 
por esse rapaz. 
Pergunto: de quem é a conduta? Do 
Alceu (coator) ou do rapaz (coagido)? Claro 
que do Alceu. O rapaz estava sob coação física 
irresistível. Sobre ele foi exercida uma força 
física superior as suas próprias forças. 
Quem deve responder pela lesão 
corporal causada? O Alceu, por ter praticado 
a conduta criminosa e não o rapaz que estava 
sob coação física irresistível. 
Guarde uma coisa: TODA 
CONDUTA TEM VONTADE. NÃO EXISTE 
CONDUTA SEM VONTADE! 
Não existindo vontade por 
coação física, não há “fato típico”, por falta 
de um de seus elementos. 
Por fim, deve esclarecer que existe 
outro tipo de coação, a “coação moral”, que 
será estudada mais a frente em momento 
próprio. Portanto, não se preocupe agora. 
 
 
 
Ações reflexivas: outra hipótese 
de ausência de vontade apontada pela 
doutrina é a hipótese de reações automáticas 
de defesa do corpo. Assim, no exemplo do 
sujeito que é picado no olho por uma abelha 
e, após um movimento reflexo de defesa, 
acaba por mover o braço e derrubar uma 
pessoa que estava próxima, não se identifica 
a voluntariedade criminosa. 
 
 
20. com finalidade: conduta 
requer vontade, consciência e finalidade. 
Atos sem estes elementos não podem ser 
considerados condutas penalmenterelevantes. Toda a ação humana é eivada da 
capacidade de ação final, ou seja, toda ação 
tem uma FINALIDADE. 
Isso quer dizer que toda conduta 
está direcionada para um determinado fim. 
Lembre-se que quando você bebe água, você 
tem a finalidade de matar a sede. Isso ocorre 
porque você tem sede, ou tem a ideia, de que 
a sensação de sede é uma forma de o corpo te 
avisar que você precisa de hidratação. Como 
você sabe que o melhor líquido para esse fim 
é a água, a ingere em quantidade suficiente 
para saciá-la. 
Quero dizer com isso que você sabe 
qual o processo para atingir a sua finalidade, 
a sua vontade final. Então, um dado muito 
importante sobre a finalidade humana é que 
a possibilidade de realizar uma ação 
determinada requer o conhecimento (ou a 
possibilidade de conhecimento) da 
realização fática, o que Zaffaroni denominou 
de “antecipação biocibernética”. 
Exemplificando, a conduta de 
efetuar o disparo de arma de fogo em direção 
a uma determinada pessoa está contaminada 
pela antecipação mental das consequências 
deste ato (ferimento por munição de arma de 
fogo). Está contida na conduta, também, a 
Afasta a vontade livre: 
Coação Física Irresistível 
(Vis Corporalis) 
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16 
previsibilidade do resultado morte da vítima. 
Ocorre que, caso a mãe da vítima venha a 
morrer ao ter notícia da trágica morte de seu 
filho, não podemos atribuir essa morte ao 
agente, uma vez que extrapolou o limite do 
curso causal hipotético (relação de causas e 
consequências). 
Puxa, compliquei um pouco agora? 
Deixa-me tentar ser mais claro. 
Vamos supor que Dicró queira 
matar Bezerra. Dicró, sabe que as pessoas 
respiram para viver, e que se houver 
impedimento das vias áreas de uma pessoa 
isso levará à morte. Então, Dicró aperta o 
pescoço da vítima até que esta não consiga 
respirar. 
Pois bem, a finalidade de Dicró por 
ser a de matar, dirige a sua vontade livre para 
essa finalidade, conhecendo o processo de 
causa e efeito de sua conduta (esganar e 
matar). 
É por isso que a teoria adotada pelo 
código pena é a TEORIA FINALISTA DA 
AÇÃO, pois se entende que toda a conduta 
tem vontade livre e dirigida a uma 
finalidade. 
Como último exemplo, podemos 
citar a situação do sujeito que sai de seu 
trabalho apressado para assistir ao jogo de 
futebol. Para tanto, dirige a sua vontade livre 
para essa finalidade: chegar a casa mais cedo 
para assistir ao jogo. Ocorre que nesse 
processo ele acaba acelerando o carro muito 
acima daquela de segurança da via e acaba 
por atropelar e matar alguém culposamente 
(por imprudência). Veja que a conduta dele 
teve vontade livre e finalidade. 
Esse último exemplo serve para 
confirmar que em toda a conduta, seja ela 
dolosa ou culposa, por ação ou omissão, 
possui todos os elementos acima estudados: 
 
Formas de conduta – ação e 
omissão. 
21. Conduta Comissiva (por 
ação). 
A conduta pode ser exteriorizada 
por um ato positivo (um fazer). Por 
exemplo, desferir facadas, falsificar um 
cheque, tomar um remédio abortivo, subtrair 
um objeto etc. 
A essas condutas realizadas por um 
fazer, dá-se o nome de condutas comissivas. 
É, inclusive, a forma com que a grande 
maioria dos crimes são praticados. A lei, em 
geral, descreve condutas que nos levam à 
ideia de ação, um fazer, um ato comissivo. 
Que ideia te dá a frase “matar 
alguém”, descrita no artigo 121 do Código 
Penal? Ao ler essa frase você pensa em uma 
conduta por ação ou por omissão (não fazer)? 
Claro que por fazer, por comissão. Então, em 
regra, mata-se alguém através de um ato 
positivo, um fazer (desferir facadas, tiros, 
ministrar veneno, por exemplo). 
22. Conduta Omissiva (por 
omissão) 
CONDUTA 
AÇÃO OU 
OMISSÃO 
HUMANA 
CONSCIENTE 
FINALIDADE 
VONTADE 
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17 
As infrações penais também podem 
ser praticadas por um “não fazer”. Mas o que 
seria exatamente a omissão? 
A pergunta é pertinente porque 
enquanto a ação é algo fisicamente ligado ao 
resultado, a omissão não se realiza da mesma 
forma. Digo, a ação é a colocação de força em 
apontada direção, mas a omissão, em 
princípio é um nada. 
A análise da omissão relevante 
somente pode existir no campo do direito, 
porque na realidade “o nada, nada causa”. 
Nesse sentido, a doutrina tem ensinado que a 
omissão seria uma “omissão de algo esperado 
(ou determinado) pelo direito”. Espera-se, 
por exemplo, que uma mãe amamente seu 
filho recém nascido. Caso não o faça, poderá 
responder pelo resultado morte da criança. A 
mãe, deste modo, teria frustrado uma 
determinação ou expectativa que lhe é 
imposta pelo ordenamento. Trata-se da 
“teoria da ação esperada”. Essa é a posição 
majoritária. 
23. Autores como Zaffaroni e 
Pierangeli afastam-se da teoria da ação 
esperada por considerarem que o direito não 
espera ações, e sim as proíbe ou as ordena. 
Defendem estes magníficos professores que a 
conduta é sempre por ação, mas o tipo pode 
descrever uma ação ou uma omissão (deixar 
de fazer). De tal modo, quem se nega a 
prestar socorro à criança abandonada (art. 
136, CPB), não está deixando de fazer algo, 
mas ao ir embora, efetivamente realiza uma 
ação (a de ir embora). Ao fazê-lo, deixa de 
respeitar a norma que determina o socorro a 
tal pessoa. Essa é a posição conhecida na 
doutrina com o nome de teoria do aliud 
agere ou aliud facere, que significa agir de 
outro modo, ou agir de modo diverso.1 
Independentemente da posição que 
se adote, o fato é que não existe relação física 
entre a omissão e o resultado. Ao deixar de 
prestar socorro à pessoa em perigo, o 
omitente não “causa” sua morte, apenas não a 
impede, quando deveria fazê-lo. Claro que 
existem situações em que o perigo é causado 
anteriormente pelo próprio omitente, como 
no exemplo do atropelador que deixa de 
prestar socorro. De qualquer forma, o que 
pode “causar” a morte é a ação de atropelar e 
não a consequente omissão de socorro. Em 
resumo, a omissão só é “causa” do resultado 
por força das normas jurídicas e não por 
força das leis da física. 
24. Mais adiante trataremos de 
nexo de causalidade nos crimes omissivos, 
mas adianto que nos crimes omissivos a 
relação entre a conduta de se omitir e 
eventual resultado é apenas normativa, ou 
seja, é hipoteticamente criada pela norma. 
Não existe, portanto, nexo causal físico entre 
omissão e resultado, mas apenas 
determinada relação criada pelo direito. 
Atribui-se significância ao “não fazer” por 
força da norma jurídica, pois no mundo “real” 
essa relação não existe. De qualquer forma, 
vamos voltar a esse assunto em aula 
específica. 
A omissão é tratada no direito 
penal da seguinte forma: 
 
1 Eugenio Raúl Zaffaroni, José Henrique Pierangeli. 
Manual de Direito Penal Brasileiro – 5. ed. Editora RT, pg. 510. 
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18 
a. Omissão Própria (pura) – a 
omissão própria gera os “crimes omissivos 
próprios”; 
b. omissão imprópria (impura ou 
comissiva por omissão) – a omissão 
imprópria gera “ os crimes omissivos 
impróprios, também chamados de crime 
comissivos por omissão. 
 
Não gaste seus neurônios para 
memorizar isso. Pense assim: 
25. Nos crimes omissivos 
próprios ou puros( omissão própria), a 
PRÓPRIA lei já descreve um não fazer (uma 
omissão). 
Como eu disse antes, a maioria dos 
tipos penais descreve uma conduta que dá a 
ideia de ação(homicídio, furto, falsificação 
etc.). Ocorre que alguns tipos penais nos 
trazem a ideia de uma conduta omissiva. 
Quero dizer, existem alguns crimes que a 
omissão está descrita na própria lei. Quer ver 
um exemplo? 
“Deixar de prestar assistência, 
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
criança abandonada ou extraviada, ou à 
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em 
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses 
casos, o socorro da autoridade pública.” (Art. 
135 do CPB, Omissão de Socorro). 
A expressão “deixar de” do crime 
de omissão de socorro no traz ideia de fazer 
ou não fazer? 
Não fazer. 
Então, como o crime de omissão de 
socorro já nos dá a ideia de “não fazer”, 
dissemos que esse crime é OMISSIVO 
PRÓPRIO (ou puro). 
Resumindo: NOS CRIMES 
OMISSIVOS PRÓPRIOS, A PRÓPRIA LEI 
DESCREVE UMA OMISSÃO. 
26. Mais adiante trataremos do 
crime tentado, mas existe uma informação 
que merece ser apresentada neste momento. 
A tentativa nos crimes omissivos 
próprios não será possível. Nos crimes 
omissivos impróprios dolosos, ao contrário, 
ela é plenamente viável, como estudaremos 
oportunamente. 
O problema, neste ponto, é 
conciliar o conceito de tentativa descrito no 
art. 14 do CP (“considera-se tentado o crime 
quando iniciada sua execução não se atinge o 
resultado por circunstâncias alheias à sua 
vontade”) como um não fazer. Isso se deve ao 
fato de que a norma descreve “início de 
execução”, o que denota um ato positivo, um 
fazer. A doutrina, de qualquer sorte, admite a 
tentativa na omissão imprópria, fundado na 
perda da última ou da primeira oportunidade 
de realizar a ação mandada, criando ou 
ampliando, com isso, o perigo para o bem 
protegido. 
27. Observe, por fim, que nos tipos 
omissivos próprios, como a omissão de 
socorro, a lei não proíbe uma determinada 
conduta. Na verdade, ela exige que o sujeito 
OMISSÃO 
Própria - a própria lei descreve 
um "não-fazer". 
Impróprio (comissivo por 
omissão) - a lei descreve um 
fazer, mas o autor atinge o 
resultado por omissão. 
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19 
pratique aquela conduta. Explico: o art. 121 
(homicídio) descreve uma conduta proibida. 
A norma, então, é dita “proibitiva”. O art. 135 
( omissão de socorro), ao contrário, exige que 
o agente preste socorro. A lei não proíbe, ela 
manda. Essa norma é dita “mandamental”. 
Não se exige o resultado, basta a mera 
inatividade. 
(CESPE_Procurador do 
MP_TC_GO_2007) No crime omissivo 
próprio, a consumação se verifica com a 
produção do resultado. 
Item errado. 
Resumindo: na norma proibitiva, o 
sujeito faz o que a norma proíbe; na norma 
mandamental, o sujeito não faz o que ela 
manda que ele faça. 
Veja mais dois exemplos de crimes 
omissivos próprios: 
“ Deixar, sem justa causa, de 
prover a subsistência do cônjuge, ou de filho 
menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o 
trabalho, ou de ascendente inválido ou maior 
de 60 (sessenta) anos, não lhes 
proporcionando os recursos necessários ou 
faltando ao pagamento de pensão alimentícia 
judicialmente acordada, fixada ou majorada; 
deixar, sem justa causa, de socorrer 
descendente ou ascendente, gravemente 
enfermo.” Abandono material, art. 244 do 
CPB. 
“Deixar o médico de denunciar à 
autoridade pública doença cuja notificação é 
compulsória”. Omissão de notificação de 
doença, art. 269 do CPB. 
25. Omissão Impura (imprópria 
ou crime comissivo por omissão) é quando a 
lei descreve um fazer, mas o sujeito atinge o 
resultado por um não fazer. 
Exemplo: mãe, com vontade de dar 
fim ao seu filho neonato, deixa de alimentá-lo, 
levando-o à morte. Matou (“matar” traz a 
idéia de ação) por um não fazer (não dar 
alimentos). 
Perceba que o tipo de homicídio 
traz-nos à mente uma idéia de fazer. 
Pensamos no verbo “matar” como algo que se 
faz por ação (desferir tiros, facadas, pauladas 
etc.). Ocorre que a lei admite que o verbo 
“matar” seja atingido por um “não fazer”, 
como no exemplo dado. 
Pense na seguinte proposição: É 
possível o sujeito responder pelo crime de 
estupro por um “não fazer”, aplicando-se o 
mesmo raciocínio utilizado no exemplo 
anterior? 
Agora a situação fica mais estranha, 
não é? 
Preste atenção no seguinte 
exemplo: 
Uma professora de educação 
primária percebe que sua aluna Ana, com 
doze anos de idade, está triste e cabisbaixa, 
atitude incomum para ela. A professora passa 
a conversar com a criança, quando ouve 
desta uma revelação terrível. Seu padrasto, 
Jorge, de 35 anos de idade, pediu que Ana 
praticasse sexo oral nele, no que foi atendido. 
Ana morava em um pequeno 
barraco em uma favela de Brasília, 
juntamente com seu irmão ainda bebê, além 
de sua mãe Socorro. 
Durante as investigações, 
constatou-se que Jorge praticara tal ato 
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20 
diversas vezes com Ana, sendo que Socorro, 
mesmo consciente do que ocorria, nada fazia 
para evitar a violência sexual. Também se 
verificou que Jorge contava tudo a um amigo 
e vizinho seu de nome Carlos. Este, da mesma 
forma, nada fez em socorro à criança. 
Qual a situação jurídica de Jorge, 
Ana e Carlos? 
Jorge, sem dúvida, responderá pelo 
tipo hoje descrito como “estupro de 
vulneráveis" (art. 217-A do CPB), 
provavelmente em continuidade delitiva. 
Como eu expliquei, Socorro, mesmo 
sabendo dos atos praticados por seu 
companheiro, nada fez para evitar o 
resultado. Então, deverá ela responder como 
partícipe dos estupros de Jorge. 
Mas por quê? 
Porque Socorro tinha em relação à 
Ana, por ser sua mãe, um dever especial de 
proteção ou de garantia. Socorro, mais do 
que qualquer outra pessoa, tinha o dever de 
evitar que sua filha sofresse tal violência. 
Tem ela, portanto, o dever legal de agir. 
Perceba que o tipo de estupro nos 
traz a ideia de “fazer” (comissivo), mas 
Socorro responde não por ter praticado a 
violência, mas por não tê-la evitado quando 
devia e poderia fazê-lo (omissão imprópria). 
Por isso que a doutrina denomina essa 
espécie de crime de “comissivo por omissão”. 
Só quem pode cometer o crime é quem tem o 
dever legal de agir, chamado garante ou 
garantidor da não ocorrência do resultado 
(art. 13, parágrafo 2º, CPB). 
Por fim, Carlos, apesar de tomar 
consciência da violência, não tinha nenhuma 
relação de especial dever de proteção em 
relação à Ana, motivo pelo qual deverá 
responder pela mera omissão (omissão de 
socorro, art. 135 do CPB). 
26. Dever legal (garantes) 
(norma de dever de 2º grau) 
Os crimes omissivos impróprios 
exigem do sujeito ativo certa qualidade, qual 
seja, uma especial relação de proteção com o 
bem juridicamente tutelado. Deve ele estar 
enquadrado em uma das hipóteses de 
omissão penalmente relevante descritas no 
CPB (art. 13, § 2º), quais sejam: 
a) quem tem o dever de cuidado, 
proteção e vigilância 
ex.: pais, médico, policiais, filhos 
em relação aos pais idosos, tutor etc. 
Imagine o exemplo de um delegado 
de polícia que tem conhecimento de que um 
preso recolhido na delegacia está para ser 
estuprado por outros internos, nada faz para 
evitar essa conduta. Como o delegado é 
garante ( ou seja, tem por lei o dever de 
cuidado proteção e vigilância ) do preso, caso 
não haja com possibilidade de ter agido 
para evitar o resultado, responde por 
estupro por omissão. 
Lembre-se do exemplo do estupro 
acima. A mãe era GARANTE da filha. Por esse 
motivo, caso não haja em condição de fazê-lo, 
deverá responder pelo resultado.b) quem com sua conduta 
anterior causou o perigo. Chamado de 
ingerência. 
(Delegado de Polícia/NCE-
UFRJ/PCDF/2005) No direito penal 
entende-se como ingerência : 
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21 
a) o comportamento anterior que 
cria o risco da ocorrência do resultado, 
gerando o dever de agir, que torna a omissão 
penalmente relevante; 
b) a participação de menor 
importância, que importa em causa de 
diminuição de pena; 
c) o arrependimento que, nos 
crimes sem violência ou grave ameaça à 
pessoa, motiva o agente a reparar o dano ou 
restituir a coisa até o recebimento da 
denúncia ou da queixa; 
d) a utilização de agente sem 
culpabilidade para a realização de um crime, 
importando em autoria mediata; 
e) a obediência por subalterno à 
ordem não manifestamente ilegal emanada 
de superior hierárquico. 
Item: A 
 
Ex.: Alpinista que leva um grupo 
para explorar uma montanha sem os devidos 
preparos e equipamentos de segurança. 
Ocorreu um fato em Brasília que se 
enquadra nessa hipótese: 
Um grupo de escoteiros foi fazer 
uma atividade em um parque de Brasília. 
Nessa ocasião, o chefe dos escoteiros 
determinou que os garotos, todos menores, 
fizessem uma competição no lago. Ocorre que 
um dos escoteiros não sabia nadar muito 
bem, tendo comentado tal fato ao chefe deles. 
O tal chefe determinou que ele 
pulasse no lago mesmo assim, pois era a 
forma que aprenderia a nadar. O garoto 
acabou se afogando, sem ser salvo pelo chefe 
dos escoteiros. 
Perceba que ao determinar que o 
garoto pulasse no lago, o sujeito criou um 
risco para a vítima. Ao fazer isso, tornou-se 
seu garante. 
 
c) de qualquer forma, se 
comprometeu a evitar o resultado 
Imagine que você seja aprovado no 
concurso dos seus sonhos. Já no primeiro 
mês usa a grana para dar uma viajada e 
espairecer. 
Então, compra um pacote pra 
passar o fim de semana em Caldas Novas. 
Durante o banho do sol (parece coisa de 
presidiário, né?), é interrompida por um 
moleque correndo de um lado para o outro, 
gritando, fazendo bagunça e comendo 
“cheetos bolinha”. Que beleza! 
Quem é esse moleque? Ele mesmo. 
O Alceu Júnior, filho da Dagmar com o Alceu 
(supostamente). 
Alceu tinha saído para jogar bola 
com os amigos e Dagmar foi ao clube com o 
Alceuzinho. Mas como Dagmar, você sabe, 
era muito danadinha, começou a dar mole 
para o salva-vidas do clube. 
Dagmar pede, então, que você fique 
de olho no moleque por dez minutinhos para 
que ela vá comprar um refrigerante pra ele 
(Goianinho Cola, hehe). Na verdade ela foi 
paquerar o tal salva-vidas. 
Você aceitou? 
Parabéns! Agora você é garante 
do Alceuzinho, porque você se comprometeu 
a evitar qualquer dano ao diabinho. Sacou? 
Se ele cair na piscina, meu amigo, 
minha amiga, trate de pular para salvá-lo. 
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22 
Caso contrário, você poderá responder por 
homicídio por omissão. 
 
 
PEGANDO O FIO DA MEADA! 
1. Dividimos o Crime em três 
partes: fato típico, ilicitude e 
culpabilidade; 
1. Estamos estudando o FATO 
TÍPICO; 
2. Dentro do Fato Típico 
estudamos a CONDUTA e dois de seus 
elementos (ação e omissão); 
3. A omissão pode ser própria 
(crime omissivo próprio), quando a 
própria lei descreve um não fazer; 
4. A omissão pode ser imprópria 
(crime comissivo por omissão), quando a 
lei descreve um fazer, mas o agente atinge 
o resultado por uma “não - fazer”; 
5. Somente os garantes 
respondem por omissão imprópria; 
6. os garantes são: a. quem tem, 
por lei, obrigação de cuidado proteção e 
vigilância; b. quem criou o risco do 
resultado; c. quem se comprometeu a 
evitar o resultado. 
 
Para terminar a primeira aula, me 
deixa falar só de mais uma coisa que é muito 
importante, até porque consta do edital. 
Tratam-se dos sujeitos do crime. 
Todo crime possui sujeitos 
ativos e passivos. 
Sujeitos do Crime 
27. Sujeito Ativo 
O sujeito ativo do crime é tanto 
aquele que pratica a conduta descrita no 
verbo do tipo penal (matar, subtrair, 
falsificar), como aquele que, mesmo não 
praticando o verbo o auxilia, instiga ou induz. 
 
28. Sujeito Passivo Direto, 
constante ou material 
Sujeito passivo eventual ou 
material é aquele que tem seu bem jurídico 
prejudicado. Bem jurídico é a vida, a 
liberdade, o patrimônio etc. 
O sujeito passivo pode ser o 
homem, como no Homicídio, art. 121; a 
pessoa jurídica como na Fraude para 
recebimento de indenização ou valor de 
seguro, art. 171, § 2º, V; o Estado (crimes 
contra a Administração Pública) e uma 
coletividade destituída de personalidade 
jurídica, como no Vilipêndio a cadáver, art. 
212, estes últimos são chamados crimes 
vagos. “Entidade sem personalidade jurídica” 
é, por exemplo, a família, a coletividade, a 
sociedade etc. 
Nem sempre o sujeito passivo é a 
vítima. Se eu empresto meu celular para um 
amigo, o qual é vítima de furto, continuo 
sendo o sujeito passivo. Isso porque foi meu 
bem jurídico (patrimônio) que foi atacado. 
29. Sujeito passivo constante ou 
formal: é o Estado. 
Sempre que alguém comete um 
crime, acaba por desrespeitar uma lei criada 
GARANTES 
quem tem, por lei, obrigação de 
cuidado, proteção e vigilância 
quem criou o risco do 
resultado 
quem, de qualquer forma, se 
comprometeu a evitar o resultado 
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23 
pelo Estado. Por esse motivo, diz-se que o 
Estado sempre é “vítima” indiretamente. 
Pode ocorrer de o Estado ser 
sujeito passivo direto. Lembra-se do furto 
que ocorreu no Banco Central de Fortaleza? 
Quem era o sujeito passivo? O Estado, pois o 
Banco Central é uma Autarquia Federal 
(pessoa jurídica). 
30. Não pode ser sujeito passivo 
de crime: o cadáver. 
No delito de vilipêndio à cadáver, 
art. 212 CP, o sujeito passivo é a coletividade; 
e no crime de calúnia contra os mortos ,art. 
138, § 2º, do CP, sua família. São os crimes 
vagos de que falei acima. 
 
31. Observações: 
a. Civilmente incapaz – pode ser 
sujeito passivo de crime; 
b. Recém-Nascido - pode ser sujeito 
passivo de crime (art. 123, infanticídio); 
c. Feto – também pode ser, como no 
aborto. 
d. Animais- não podem ser sujeitos 
passivos de crime. Os crimes contra a fauna 
(Lei 9.605.98) são crimes contra a 
humanidade. 
e. Crimes de subjetividade passiva 
única: o tipo penal apresenta um único 
sujeito passivo, como na ameaça (CP, art. 
147); 
f. Crimes de dupla subjetividade 
passiva: o tipo penal prevê a existência de 
dois ou mais sujeitos passivos, como ocorre 
no aborto sem consentimento da mãe (CP, 
art. 125). No caso, tanto a mãe quanto o feto 
são sujeitos passivos. 
33. PERGUNTA IMPORTANTE: 
Pode uma pessoa ser, ao mesmo tempo, 
sujeito ativo e passivo de crime? 
R. Regra geral, não. Exceção é o 
crime de Rixa (art. 137 CP). Nesse crime há 
uma briga generalizada onde todo mundo 
bate em todo mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sujeito Passivo 
Direito: titular do 
direito tutelado 
Constante ou formal: o 
Estado 
Cadáver: não pode ser sujeito passivo de 
crime 
Civilmente incapaz: pode ser sujeito 
passivo 
Feto: pode ser sujeito passivo 
Sujeito ativo e passivo simultâneo: ocorre 
na Rixa. 
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24QUESTÕES COMENTADAS 
 
1. (CESPE/ESCRIVÃO E AGENTE 
DPF 2009) São elementos do fato típico: 
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25 
conduta, resultado, nexo de causalidade, 
tipicidade e culpabilidade, de forma que, 
ausente qualquer dos elementos, a conduta 
será atípica para o direito penal, mas poderá 
ser valorada pelos outros ramos do direito, 
podendo configurar, por exemplo, ilícito 
administrativo. 
 
Comentário: 
Errado. Os elementos do fato típico 
são: CO.RE.NE.TI. CONDUTA, RESULTADO, 
NEXO CAUSAL e TIPICIDADE. 
 
2. (CESPE/ESCRIVÃO E AGENTE 
DPF 2009) Os crimes comissivos por 
omissão — também chamados de crimes 
omissivos impróprios — são aqueles para os 
quais o tipo penal descreve uma ação, mas o 
resultado é obtido por inação. 
 
Comentário: 
Correto. O exemplo clássico seria o 
da mãe que mata o próprio filho recém 
nascido por negar-lhe o peito. Lembre-se que 
só responde por esse crime quem estiver na 
posição de “garante”. 
 
3. (CESPE/ESCRIVÃO E AGENTE 
DPF 2009) Com relação à responsabilidade 
penal da pessoa jurídica, tem-se adotado a 
teoria da dupla imputação, segundo a qual se 
responsabiliza não somente a pessoa jurídica, 
mas também a pessoa física que agiu em 
nome do ente coletivo, ou seja, há a 
possibilidade de se responsabilizar 
simultaneamente a pessoa física e a jurídica. 
 
Comentário: 
Correto. Para essa teoria, sempre 
que uma pessoa jurídica responder por um 
crime ambiental, com ela responderá uma 
pessoa física. 
Cuidado. A 1ª Turma do STF 
adotou posição um pouco diferente. No 
Informativo 714 publicou-se um julgado 
em que a Pessoa Jurídica foi condenada 
MESMO COM A ABSOLVIÇÃO DA PESSOA 
FÍSICA (RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 
6.8.2013). 
 
 
4. (CESPE_Procurador do 
MP_TC_GO_2007) Relativamente ao 
sujeito ativo e ao sujeito passivo do crime, 
à tentativa e ao crime consumado, julgue 
os itens: 
De acordo com o ordenamento 
penal vigente, o homem morto pode ser 
sujeito passivo de crime. 
Comentário: 
Errado. Só quem pode ser sujeito 
passivo de crime é a pessoa viva ou o feto 
vivo. No delito de vilipêndio à cadáver, por 
exemplo, art. 212 CP, o sujeito passivo é a 
coletividade ou a família do morto. 
 “Vilipendiar cadáver ou suas 
cinzas” (art. 212 do Código Penal). 
Exemplo: escarrar sobre o cadáver. 
GABARITO: ERRADO 
 
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26 
5. (CESPE_Procurador do 
MP_TC_GO_2007) A pessoa jurídica pode ser 
sujeito ativo de crime, dependendo da sua 
responsabilização penal, consoante 
entendimento do STJ, da existência da 
intervenção de uma pessoa física que atue em 
nome e em benefício do ente moral. 
Comentário: 
Correto. Para essa teoria, sempre 
que uma pessoa jurídica responder por um 
crime ambiental, com ela responderá uma 
pessoa física. Ver observação da questão 3. 
 
6. (CESPE_Procurador do 
MP_TC_GO_2007) No crime omissivo 
próprio, a consumação se verifica com a 
produção do resultado. 
 
Comentário: Nos crimes omissivos 
próprio, aqueles em que a própria lei 
descreve um “não-fazer”, a consumação se 
verifica no momento da conduta omissiva. 
Exemplo: O sujeito vê uma pessoa acidentada 
e, podendo, não a ajuda. O crime está 
consumado, independentemente de a vítima 
vir a falecer ou não. 
GABARITO: ERRADO 
 
7. (CESPE_PROCURADOR 
ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) São 
elementos do fato típico culposo: conduta 
humana voluntária (ação/omissão), 
inobservância do cuidado objetivo 
(imprudência/negligência/imperícia), 
previsibilidade objetiva, ausência de 
previsão, resultado involuntário, nexo de 
causalidade e tipicidade. 
 
Comentário: A previsibilidade ou 
evitabilidade do resultado: todo crime 
culposo tem previsibilidade (a capacidade ou 
possibilidade de previsão). Se não há 
previsibilidade de ocorrer um crime não 
haverá culpa. Cumpre-nos observar a 
definição de Carrara de que a culpa é a 
voluntária omissão de diligência em calcular 
as conseqüências possíveis e PREVISÍVEIS do 
próprio fato. 
CORRETO 
 
8. (Delegado de Polícia/NCE-
UFRJ/PCDF/2005) No direito penal 
entende-se como ingerência : 
a) o comportamento anterior que 
cria o risco da ocorrência do resultado, 
gerando o dever de agir, que torna a omissão 
penalmente relevante; 
b) a participação de menor 
importância, que importa em causa de 
diminuição de pena; 
c) o arrependimento que, nos 
crimes sem violência ou grave ameaça à 
pessoa, motiva o agente a reparar o dano ou 
restituir a coisa até o recebimento da 
denúncia ou da queixa; 
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27 
d) a utilização de agente sem 
culpabilidade para a realização de um crime, 
importando em autoria mediata; 
e) a obediência por subalterno à 
ordem não manifestamente ilegal emanada 
de superior hierárquico. 
Comentário: Crimes omissivos 
impróprios, também chamados comissivos 
por omissão, ocorrem quando o tipo descreve 
uma ação e o resultado é atingido por uma 
inação, por exemplo, a mãe que mata o filho 
neonato por não fornecer-lhe o peito. 
Para ser responsabilizado pelo 
resultado, o agente deve estar em uma das 
situações previstas no art. 13, § 2º do CPB, 
ocasião em que será garante da não 
ocorrência do resultado. Uma dessas 
situações previstas no citado artigo é 
justamente o que a doutrina convencionou 
chamar de “ingerência”, ou seja, quando o 
dever de agir incumbe a quem com seu 
comportamento anterior, criou o risco da 
ocorrência do resultado. 
GABARITO: A 
 
9. ( CESPE – Agente de Polícia 
Federal 2004) Sujeito ativo do crime é 
aquele que realiza total ou parcialmente a 
conduta descrita na norma penal 
incriminadora, tendo de realizar 
materialmente o ato correspondente ao tipo 
para ser considerado autor ou partícipe. 
Comentário: O sujeito ativo pode 
cometer o crime como autor, coautor ou 
partícipe, conforme veremos em aula 
específica. Mas, não é necessário que o sujeito 
ativo pratique o verbo do tipo penal. Lembra-
se do crime omissivo impróprio ou comissivo 
por omissão? Pois então. 
GABARITO: ERRADO 
 
 
 
10. (CESPE – Agente de Polícia 
Federal 2004) A coação física e a coação 
moral irresistíveis afastam a própria ação, 
não respondendo o agente pelo crime. Em 
tais casos, responderá pelo crime o coator. 
Comentário: A COAÇÃO FÍSICA 
IRRESISTÍVEL, conforme estudamos, afasta a 
própria conduta, pois é elemento desta. A 
COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL, por sua vez, 
afasta a EXIGIBILIDADE DE CONDUTA 
DIVERSA, elemento do Culpabilidade. 
Estudaremos esta última em aula posterior 
deste curso. 
GABARITO: ERRADO 
 
11. ( MPE-MG - 2010 - MPE-MG – 
PROMOTOR DE JUSTIÇA ) A pessoa pode 
ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo 
de um delito em face de sua própria conduta. 
Comentário: Excepcionalmente, a 
pessoa pode ser sujeito ativo e passivo do 
crime, como ocorre no crime de Rixa 
(Participar de rixa, salvo para separar os 
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28 
contendores. Art. 137 do CPB). Neste caso, os 
participantes agridem-se mutuamente, sendo 
todos, ao mesmo tempo, agressores e 
agredidos. 
GABARITO: CERTO 
 
12. (CESPE - 2010 - TRE-BA - 
Analista Judiciário) A imputabilidade penal 
é um dos elementos que constituem a 
culpabilidade e não integra a tipicidade. 
Comentário: Com uma rápida 
análise na estrutura do crime ( veja o 
esqueleto do crime) percebe-se que a 
imputabilidade é elemento da culpabilidade. 
Estudaremos profundamentea 
imputabilidade em aula específica. 
GABARITO: CERTO 
 
13. ( CESPE - 2010 - TRE-BA - 
Analista Judiciário - Área Administrativa) 
A coação física irresistível afasta a tipicidade, 
excluindo o crime. 
Comentário: 
Correto. A coação física irresistível 
afasta a voluntariedade da conduta. Conduta 
só existe se possuir vontade. Como a conduta 
é elemento do fato típico (tipicidade em 
sentido amplo), está ficará afastada sem esse 
elemento. 
 
14. (FMP-RS - 2013 - MPE-AC - 
Analista - Processual - adaptada) No conceito 
analítico do crime, a imputabilidade penal 
constitui elemento autônomo do crime. 
 
Comentário: 
Errado. No conceito analítico do 
crime, a imputabilidade constitui 
elemento da culpabilidade, esta sim um 
elemento autônomo. 
 
15. (CESPE - 2013 - TJ-DF - 
Técnico Judiciário - Área Administrativa ) 
Considera-se crime toda ação ou omissão 
típica, antijurídica e culpável. 
 
Comentário: 
Correto. Considera-se crime 
toda ação ou omissão típica, antijurídica e 
culpável, considerando-se a teoria 
tripartida, adotada pelo Cespe. 
 
 
 
16. (FUNCAB - 2013 - PC-ES - 
Escrivão de Polícia) 
Infração penal significa: 
a) Quando um caso não previsto 
em lei é regulado por um preceito legal, que 
rege um semelhante. 
b) Ofensa real ou potencial a um 
bem jurídico, levando-se em consideração os 
elementos subjetivos do tipo, a ilicitude e a 
culpabilidade. 
c) Todos os valores ético-sociais 
que estejam a exigir uma proteção especial, 
no âmbito do direito penal, por se revelarem 
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29 
insuficientes à proteção dos outros ramos do 
direito. 
d) Quando o princípio para o caso 
omitido se deduz do espírito e do sistema do 
ordenamento jurídico, considerado em seu 
conjunto. 
e) Que o delito é sinônimo de 
contravenção penal no Brasil. 
 
Comentário: 
 
a) Errado. Quando um caso não 
previsto em lei é regulado por um preceito 
legal, que rege um semelhante, estaremos 
tratando do instituto da analogia ( e não da 
“infração penal). A analogia em Direito Penal 
somente poderá ser adotado em benefício do 
réu. 
b) Correto. A infração penal é a 
ofensa real (ex.: morte, lesão coporal etc.) ou 
potencial (ex.: tentativa) a um bem jurídico 
(vida, patrimônio etc.), levando-se em 
consideração os elementos subjetivos do tipo 
(dolo e culpa), a ilicitude e a culpabilidade. 
c) Errado. O item trata, em 
verdade, do princípio da intervenção mínima, 
segundo o qual o Direito Penal deve proteger 
somente os bens jurídicos mais importantes 
(especiais). Assim, deve ser invocado apenas 
quando a intervenção de outros ramos do 
direito não for suficiente para o controle 
social. O Direito Penal é a ultima ratio (último 
instrumento) do legislador para as soluções 
dos conflitos. A Lei Penal é enfraquecida 
todas as vezes que é chamada a intervir em 
situações em que os Direitos Civil, Comercial, 
Administrativo, por exemplo, poderiam 
trazer solução satisfativa. 
d) Errado. Trata-se, mais uma vez, 
da analogia. 
e) Errado. Adota-se no Brasil a 
teoria dicotômica, que diferencia crime de 
contravenção penal. 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL PARTE GERAL 
(SEGUNDA AULA) 
PROFESSOR LÚCIO VALENTE 
 
 
Técnica de estudo: 
1º Faça uma primeira leitura da aula, 
buscando apenas um primeiro contato 
com os tópicos. Nesse momento, sublinhe 
apenas palavras e termos desconhecidos. 
Tempo estimado: 30 min. 
2º Faça nova leitura da aula. Nesse 
momento, o aluno deve compreender 
cada ponto (perceba que divido minha 
aula em pontos, sendo que cada um traz 
uma ideia central). Descubra o significado 
dos termos desconhecidos. 
Tempo estimado: 2 a 4 horas. 
3º Faça um resumo com as ideias 
centrais de cada ponto com palavras-
chave ou na forma de perguntas e 
respostas (ex.: Ponto 10: O que é conduta? 
R: é a ação ou omissão humana consciente 
e voluntária voltada para uma finalidade). 
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30 
Tempo estimado: 1 hora. 
4º Memorize as palavras-chave ou as 
respostas. 
Tempo estimado: 1 a 2 horas. 
Obs.: peça pra alguém lhe “tomar” a 
aula ou finja que está ensinando para 
alguém o que aprendeu (seu cachorro 
pode ser um ótimo aprendiz!). 
5ª Estude as questões. Não as use como 
forma de teste. Leia cada uma buscando as 
respostas no texto da aula ou nos 
comentários respectivos. 
Tempo: 1h30min 
6º Antes da aula seguinte, revise a aula 
estudada. 
Tempo: 10 minutos. 
7º Faça revisões semanais de todas as 
aulas já estudadas. Para isso, releia seu 
resumo e só volte ao texto da aula quando 
precisar recordar determinados pontos. 
Obs.: divida o estudo da aula em, pelo 
menos, dois dias (ex.: 1º dia: leitura e 
resumo; 2º dia: memorização e questões). 
 
Antes de iniciarmos a primeira aula, 
solicito ao aluno que relembre comigo a 
estrutura do crime apresentada na aula zero 
(demonstrativa). 
Perceba que estamos estudando o fato 
típico. Dentro do fato típico estamos 
estudando a conduta. Já estudamos que a 
conduta é a “ação ou omissão, humana, 
consciente, voluntária e com finalidade”. Já 
estudamos (1) ação e omissão {própria e 
imprópria}; (2) praticada por ser humano; 
(3) consciente; (4) voluntária; (5) finalística. 
Veja o gráfico: 
 
 
1. Formas de conduta típica – Dolo e 
Culpa 
 
O estudo do dolo e da culpa no âmbito da 
conduta é uma conveniência didática. Na 
verdade, o dolo e a culpa são realidades 
típicas, leia-se, são elementos pertencentes 
ao tipo penal e não à conduta. De fato, 
podemos afirmar que José agiu com dolo ao 
matar João, mas não poderíamos dizer que 
José agiu com dolo ao beber água para matar 
a sede. Claro, porque “matar a sede” não é 
algo previsto como uma conduta típica, mas 
“matar alguém” sim. 
 
A conduta penalmente relevante deve ser 
necessariamente típica, diga-se, deve 
encontrar adequação a determinado tipo 
penal. Esse fenômeno somente pode ocorrer 
com a existência de dolo ou culpa descritos 
nos tipos penais. 
 
A conduta de disparar arma de fogo, como 
exemplo, pode ou não ter relevância típica. Se 
fato típico 
CONDUTA: (1) ação e omissão 
{própria e imprópria}; (2) praticada 
por ser humano; (3) consciente; (4) 
voluntária; (5) finalística. 
resultado 
nexo causal 
tipicidade 
ilicitude 
estado de 
necessidad
e 
legítima 
defesa 
estrito 
cumprimento 
do dever legal 
exercício 
regular do 
direito 
culpabilidade 
imputabilidade 
potencial 
consciência 
da ilicitude 
exigibilidade 
de conduta 
diversa 
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tal ação ocorrer em um stand de tiros, 
durante treinamento militar, será apenas 
mais uma conduta humana. Caso essa 
conduta ocorra em via pública (ex.: pessoa 
que efetua disparo de arma de fogo para o 
alto) encontrará adequação a um tipo 
descrito no Estatuto do Desarmamento. 
Nesse caso, a conduta dolosa está descrita no 
tipo penal, trazendo relevância para o estudo 
do dolo. 
 
Dessa forma, a abordagem que faço da 
conduta é do ponto de vista jurídico-penal. 
Não falo aqui de qualquer conduta, mas 
somente daquela com relevância típica. E 
conduta com relevância típica significa que 
ela está relacionada a determinado tipo 
penal. De tal modo, não nos interessa a 
conduta de “pular”, mas nos interessa muito a 
conduta de quem pula por sobre alguém 
causando-lhe lesões corporais. Essa última é 
conduta com relevância típica. 
 
É que os finalistas

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