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A INDENIZAÇÃO PELA SUPRESSÃO DAS HORAS EXTRAS HABITUAIS NA TERMINAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO 03/12/2013 por Fábio Túlio Barroso Advogado. Professor da FDR-UFPE, UNICAP e FACIPE. Presidente da Academia Pernambucana de Direito do Trabalho – APDT. Pós-Doutor em Direito pela Universidad de Granada, Espanha. Autor de diversas obras jurídicas. O objeto deste texto está relacionado à possibilidade de utilização da indenização prevista na Súmula nº 291 do Colendo TST, em caso de supressão das horas extras prestadas habitualmente por pelo menos um ano, com o advento da dispensa sem justa causa do obreiro. O seu conteúdo tem inclusive a intenção de provocar o debate, estabelecendo tese jurídica derivada da aplicação da natureza normativa do verbete sumulado pela mais alta corte trabalhista do país, a ser ampliada nas instâncias de discussão sobre a temática, como o presente veículo. A Súmula nº 291 do TST possui o seguinte teor: “HORAS EXTRAS. HABITUALIDADE. SUPRESSÃO. INDENIZAÇÃO. A supressão total ou parcial, pelo empregador, de serviço suplementar prestado com habitualidade, durante pelo menos 1 (um) ano, assegura ao empregado o direito à indenização correspondente ao valor de 1 (um) mês das horas suprimidas, total ou parcialmente, para cada ano ou fração igual ou superior a seis meses de prestação de serviço acima da jornada normal. O cálculo observará a média das horas suplementares nos últimos 12 (doze) meses anteriores à mudança, multiplicada pelo valor da hora extra do dia da supressão”. O conteúdo do verbete sumulado vem sendo utilizado sistematicamente pelas cortes trabalhistas apenas quando há a supressão dos serviços extraordinários pelos trabalhadores, durante a vigência do vínculo empregatício, dando o caráter indenizatório da medida supressiva patronal quando as condições de prestação de serviços em jornadas extraordinárias já se permearam tanto no cotidiano profissional, quanto no seu patrimônio jurídico e econômico decorrente da onerosidade contratual. Por sua vez, com a dispensa sem justa causa também poderá caracterizar a supressão dos serviços extraordinários prestados com habitualidade por pelo menos um ano pelo trabalhador, que naturalmente, pelos mesmos fundamentos e até por critérios humanitários, justifica o ensejo ao recebimento da indenização relacionada ao adicional de horas extras sumulado, visto que aquela condição extraordinária e patrimonial foi suprimida também dessa forma. Como é natural, a prestação de serviços habituais em sobrejornada acaba por integrar o patrimônio jurídico e o complexo salarial do empregado, visto que para esta situação excepcional está garantido o seu respectivo adicional compensador por uma ocorrência anômala do contrato de trabalho e em benefício do empregador, pois utiliza a mão de obra além do período legal ordinário permitido. A eliminação desse direito ao recebimento do adicional, inclusive pela dispensa que se deu sem justa causa, ou seja, por um ato prático de exercício da potestade empresarial, acaba por estabelecer também uma violenta ruptura da condição jurídica que dá ensejo à percepção deste valor, decorrente da prestação dos serviços em condições extraordinárias continuadas e habituais, admitindo-se também dessa maneira a devida indenização sumulada para o momento da terminação do contrato nestas condições. A utilização do teor da Súmula nº 291 do TST apenas durante a vigência do contrato de trabalho implica na limitação ao atendimento da constante e inacabada teleologia de melhoria da condição social do trabalhador presente nocaput do art. 7º da Constituição, que consubstancia nos casos previstos na nossa legislação no pagamento a mais, em forma de plus salarial, pela utilização da mão de obra em situações excepcionais, como em sobrejornada e admitida no referido verbete sumulado. Consequentemente, é de se entender a necessidade de indenização ao trabalhador que presta horas extras habituais também quando há a dispensa sem justa causa, que por sua vez, evidencia também a afronta ao princípio da continuidade da relação de emprego. De toda sorte, o ato de supressão se deu de forma unilateral, decorrente do poder empregatício, rompendo com a condição prática e jurídica que consubstanciou o patrimônio do trabalhador durante o período trabalhado na situação anômala. Além desta interpretação teleológica e sistemática a respeito da eliminação “pelo empregador, de serviço suplementar prestado com habitualidade” pelo trabalhador e a indenização prevista na súmula nº 291 do TST, tem-se resguardo também no sentido da expressão utilizada no seu texto para o respeito à necessária indenização para o trabalhador que prestava serviços extraordinários habituais e foi dispensado sem justa causa, como se segue: No Dicionário Técnico Jurídico, 9ª edição, de Deocleciano Torrieri Guimarães, Rideel, São Paulo, 2007, pág. 519, o termo supressão significa: Eliminação, ato de extinguir, suprimir (...). Já o Dicionário Novo Aurélio. O dicionário da Língua Portuguesa, 3ª edição, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, pág. 1.907, define supressão como: “Ato ou efeito de suprimir”. Já o termo Suprimir: “(...) 2. Cortar, eliminar (...). 3. Fazer com que desapareça, que se extinga; extinguir; (...) 4. Cassar, anular, abolir”. De toda sorte, há inexoravelmente a ruptura violenta da condição de recebimento de valor referente ao adicional de horas extras pelos serviços prestados com habitualidade, seja recebido ou indenizado, seja durante o vínculo ou não, mas inquestionavelmente em consequência de um ato de vontade do empregador que afronta a teleologia da norma constitucional citada e o princípio da continuidade da relação empregatícia, além da condição excepcional de trabalho, que admite indenização por ato violento que elimina a sua continuidade. Observe-se ainda que o verbete da Súmula nº 291 do TST, em que pese a sua construção, não fez nenhuma alusão ao momento em que ocorrerá a supressão das horas extras habituais, afirma apenas que será devida a indenização em caso de “supressão total ou parcial”. Logo, perfeitamente cabível a indenização prevista no conteúdo ementado, quando da terminação do contrato que é justamente um dos momentos em que se dá a supressão, desta feita total e irreversível da prestação habitual das horas extraordinárias, que constitui na caracterização da obrigação de pagar que é patrimônio do trabalhador, decorrentes justamente do desvirtuamento das suas obrigações ordinárias inerentes ao contrato de trabalho. Carta forense – acesso em 02/06/2015. http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/a-indenizacao-pela-supressao- das-horas-extras-habituais-na-terminacao-do-contrato-de-trabalho/12590
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