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Escola de Economia de São Paulo – FGV – 2010 História do Pensamento Econômico & História Econômica Geral Prof. Robert Nicol & Prof. Ramón García Fernandez Orientador: Bernardo Stuhlberger Wjuniski Trabalho conjunto – Etapa III Tema: A crise de 1929 Alunos: - Deborah Zilberman Macret - Esmeralda Sadako Kimura Gonçalves - Gabriela Mara Miyazato Szini - Thaís Mantovani Canina Índice 1) Introdução.......................................................................... 2 2) Capítulo I – Um modelo geral das crises........................... 3 3) Capítulo II – A crise de 1929..............................................8 4) Capítulo III – O Keynesianismo..........................................11 5) Conclusão.......................................................................... 15 6) Referências Bibliográficas................................................. 16 1 1) Introdução Durante este trabalho, foi procurado, essencialmente, buscar relações entre o colapso econômico que marcou o Século XX e o pensamento econômico que predominou no período a seguir. Para isso, utilizaram-se como base as ferramentas propostas por diversos autores e que serão explicadas ao decorrer do texto. Assim como afirmado por economistas e historiadores, dentre eles Charles P. Kindleberger1 e Eric Hobsbawn2, a economia é composta por ciclos econômicos. Estes são caracterizados por um grande período de expansão e prosperidade, seguido por outro de manias, bolhas, pânicos e, por fim, crises. A crise de 1929 pode ser considerada o fim de um desses períodos. No dia 29 de Outubro de 1929, com o anúncio da quebra da bolsa de Nova York, teve início o drástico período da Grande Depressão do Século XX. Tal acontecimento teve como uma de suas causas a superprodução e, por conseguinte, a falsa especulação da economia mundial. As consequências de dessa catástrofe foram devastadoras e o nível de desemprego atingiu escalas acima do esperado até então. Essa época gerou aos economistas um sentimento de descontentamento e insatisfação com a teoria proposta por eles até o momento. Um dos grandes pensadores da época foi John Maynard Keynes, e as medidas propostas por ele, em sua teoria, são, até hoje, consideradas por muitos a grande “cura” deste grande abalo econômico. De um modo geral, acredita-se que os acontecimentos dessa época influenciaram diretamente o pensamento econômico abordado posteriormente. A seguir, apresentar-se-ão, portanto, essas ideias que predominaram durante o período entre guerras. 1 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. Capítulo: 2. 2 Hobsbawn, Eric. A Era dos Extremos – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 3: “Rumo ao Abismo Econômico”. 2 2) Capítulo I – Um modelo das crises Para os economistas, em geral, alguns dados apresentam repetições. Um dos principais argumentos de Charles P. Kindleberger3 é o de que, em geral, as crises ocorrem de modo sistemático, ou seja, seguem um determinado modelo. Este raciocínio, segundo o autor, pode levantar duas críticas: a primeira consiste no fato de que cada crise é única, de modo que não faz sentido existir um modelo geral; a segunda, de que este modelo é irrelevante, pois há mudanças no ambiente econômico a todo instante. (1.1) Críticas ao modelo A resposta à primeira crítica consiste na ideia de que, obviamente, cada crise tem sua particularidade, porém a estrutura delas é sempre a mesma. Para concluir isto, basta analisar diversas crises em diferentes períodos, e, por fim, perceber que sempre ocorre a mesma sequência de fatos. A resposta à segunda crítica é a de que, mesmo havendo mudanças no ambiente econômico, o modelo é aplicável, pois é possível perceber que as crises que ocorrem em países desenvolvidos seguem o mesmo modelo das quais ocorrem em países em desenvolvimento (como, por exemplo, crises que ocorreram no Brasil, México e Argentina seguem a mesma sequência de fatos de crises como a própria crise de 1929). (1.2) O modelo fragmentado Segundo o autor, o início de uma crise consiste, primordialmente, em bolhas em mercados (tanto acionários, quanto imobiliários). Bolhas, por definição, envolvem um padrão não sustentável de variações nos preços, ou fluxos de caixa. Estas bolhas podem, portanto, resultar no aumento dos preços de ativos, e isto, por sua vez, pode ser associado a um boom na economia. Com este otimismo na economia, os bancos aumentam seus depósitos, empréstimos e capitais rapidamente. Assim, o aumento nos preços leva a um 3 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. Capítulo: 2. 3 aumento das despesas de investimento e gastos no consumo, o que, por sua vez, aquece a economia - gerando o boom -. As bolhas, geralmente, são resultantes de “manias”4. As manias são associadas a uma expansão do ciclo de negócios e a uma euforia, resultantes do aquecimento da economia. Neste período, os investidores procuram ganhos de capital, em curto prazo, por causa do aumento dos preços. Assim, não compram ativos por causa da sua utilização desnecessária. Pode-se dizer que é a primeira fase de uma especulação dos agentes, em que ainda agem racionalmente. Como alguns investidores compram estes ativos que conseguem gerar lucro rapidamente, outros também começam a comprar mais ativos, tornando, então, a ação coletiva, o que origina as manias. Pode-se dizer que é a segunda fase da especulação, em que agem de forma irracional. Neste período de otimismo, os bancos ficam mais propensos a fazer mais empréstimos e a investir mais. É importante ressaltar, também, que o aumento do investimento leva um aumento do crescimento de renda nacional. Pode-se dizer, então, que as manias envolvem certa irracionalidade, segundo o próprio autor, pois os agentes agem por impulso, e não reagem a mudanças no ambiente econômico, o que fariam se estivessem cientes das implicações de suas ações. Tudo isso se contrapõe à teoria econômica, que nos diz que os agentes econômicos são racionais e assume que não existe racionalidade perfeita. É importante ressaltar que toda mania é associada a uma expansão econômica, mas que o contrário não é válido. Esta abundante compra de ativos faz com que os preços dos ativos se elevem ainda mais, originando então as “bolhas”5. Em seguida, algum evento exógeno (considerado pelo autor um deslocamento), como, por exemplo, uma ação governamental, ou a falha de uma empresa, leva a uma pausa no aumento de preços, levando ao estouro da bolha. 4 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. 5 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey 4 Assim, alguns dos investidores, que haviam financiado a compra dos ativos, passaram a vendê-los, porque os juros sobre o financiamento se tornaram maiores do que a renda em investimento dos mesmos. Com isso, o preço destes sofre uma queda, e a pressa para vendê-los faz com que essa queda seja ainda mais acentuada, causando o pânico decorrente do estouro da bolha, que, por sua vez, causa a crise. No período em que os juros sob financiamentos se tornaram maiores do que a renda em investimentode ativo (por conta da queda dos preços), os bancos passaram a oferecer menos crédito, pois ficaram menos otimistas e mais cautelosos – assim, em tempos de expansão econômica, há mais oferta de crédito, e, em tempos de desaceleração, há uma redução –. Portanto, a mudança na mentalidade dos investidores e credores é a fonte da instabilidade do crédito. Quando os créditos parecem incertos, há uma corrida por liquidez. 5 (1.3) Questões políticas Quando manias ou bolhas começam a surgir, uma dúvida surge acerca da questão: Os governos devem ou não moderar o aumento dos preços dos ativos para diminuir as chances de uma crise surgir? Assim, quase todos os governos criaram o Banco Central como órgão regulador da economia e também emprestador de última instância para evitar a escassez de liquidez. Muitos disseram que a Crise de 29 teve tal intensidade devido à falta de emprestadores de última instância. Porém, os investidores sabem que há um apoio governamental, e então acham que podem quebrar com mais frequência. Além disso, as crises não ocorrem somente por conta da escassez de moeda, mas também por conta do crescimento do crédito, portanto essa criação não seria suficiente. Deste modo, surge um dilema quanto a esta ação governamental. Alguns sugerem que a solução adequada seria proveniente do fato do governo, além dos investidores, saber sobre a situação de uma possível crise. Ele, por fim, deveria tornar a informação pública. Por outro lado, a probabilidade dos investidores seguirem algum conselho do governo é muito pequena, então tal atitude pouco adiantaria. (1.4) Especulação Segundo Minsky6, a especulação têm duas fases (como já foi dito anteriormente): uma em que os agentes agem de forma racional, e outra, em que agem de forma irracional, originando as manias. A análise para estas duas fases sugere dois grupos de especuladores, os insiders e os outsiders. Os insiders desestabilizam a economia, elevando os preços e vendendo aos outsiders. Estes, por sua vez, compram a preços altos, e depois da queda de preços, vendem os ativos a baixos preços. Isso faz com que eles sejam, portanto, as vítimas. 6 Minsky, Hyman- citado em: Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. Capítulo: 2. 6 (1.5) Propagação da mania para outros países O aumento de renda nacional de um país provoca o aumento de suas importações, e, consequentemente, o aumento da exportação de outros países. Este último faz com que os preços subam nestes países. No mundo ideal, o aumento de crédito em um país deveria ser seguido por uma contração de crédito em outros, mas, aparentemente, não é isto que ocorre, pois os investidores em um país respondem ao aumento dos preços e lucros do exterior, exigindo mais crédito para que eles possam comprar ativos, cujos preços eles sabem que irá aumentar. (1.6) Aplicação do modelo à crise de 1929 No caso da crise de 1929, é importante citar que muitas bolhas nos mercados de ações estão relacionadas com o mercado imobiliário, pois o boom no mercado acionário de 1929, que originou a crise, foi ligado ao aumento do preço das terras, áreas residenciais e prédios comerciais. Os indivíduos têm um crescimento de renda com esse aumento de preços, e, portanto para manter sua riqueza, compram ações, e o aumento da demanda destas leva ao aumento do preço das mesmas. Foi dito anteriormente que uma das medidas que o governo poderia tomar para evitar as crises seria a de tornar as informações públicas. Porém, em 1929, Paul Warburg, um dos fundadores do Federal Reserve System, advertiu, em Fevereiro deste mesmo ano, que os preços das ações nos EUA estavam muito elevados, e, com isso, os investidores fizeram uma breve pausa, mas logo os preços retornaram a crescer. Tais ações mostraram, portanto, que tal medida é ineficiente. 7 3) Capítulo II – A Crise de 1929 A 1ª Guerra Mundial já havia chegado ao fim. As economias mundiais estavam se recuperando da temporária estagnação desse período. Entretanto, a tranquilidade que parecia vir à tona logo cedeu os palcos para o maior colapso econômico da economia. Segundo Hobsbawn7, todo sistema econômico passa por “ciclos”. Este é dado por um grande período de expansão seguido por outro de estagnação e queda. A prosperidade inicial, assim, torna-se uma bancarrota. Foi essencialmente isso que acontece no intervalo pré-1929 nos Estados Unidos. Após a 1ª Guerra Mundial, a Inglaterra e a França estavam destruídas. Os EUA puderam, portanto, tornar-se o maior credor, produtor e importador da economia mundial. Ele pôde, então, afirmar sua hegemonia frente aos demais. Frente aos acontecimentos é possível afirmar que existem duas explicações possíveis para a ruína do capitalismo: o desequilíbrio dos EUA frente os demais países e a demanda insuficiente de mercado. No período pós-1ª Guerra, os salários dos trabalhadores estadunidenses caíram. Assim, foi possível contratar mais gente nas fábricas, o que gerou um aumento na demanda e, por consequência, um aumento dos preços. Consumir, portanto, tornou-se uma “mania”8. As fábricas, a fim de suprir a procura da sociedade, começaram a produzir mais, o que gerou uma superprodução na economia. Esse ciclo de maior consumo e maior produção constituiu uma “bolha”9. Como a demanda dos cidadãos foi insuficiente para cobrir a oferta de produtos, houve uma especulação desnecessária, o que casou a ruptura da bolha. Deu-se início, assim, a crise. Por fim, no dia 29 de Outubro de 1929, a cidade de Nova York entrou em pânico. Teve seu começo, ali, a Grande Depressão do Século XX. Tal período 7 Hobsbawn, Eric. A Era dos Extremos – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 3: “Rumo ao Abismo Econômico”. 8 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. 9 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. 8 teve severas consequências, dentre elas uma de extrema importância: o desemprego. “Depois da guerra, o desemprego tem sido o mais insidioso, o mais corrosivo mal de nossa geração: é a doença social específica da civilização ocidental em nosso tempo” – Publicado pelo jornal “The Times” - 23/01/1943 – (Hobsbawn, 1995, PP.90)10. A fim de dar uma explicação sobre os acontecimentos da época, J. M. Keynes elaborou a teoria do “Pleno Emprego”. Segundo ele, caso a economia trabalhasse em pleno emprego, a demanda dos trabalhadores estimularia as economias em recessão, recuperando-as. Segundo tal economista, o desemprego é uma „política social explosiva‟, que pode acabar com as estruturas de um país. Deste modo, ele elaborou a política do “Welfare State”, que visava investir em sistemas previdenciários. Junto com essa medida, o então presidente da época, Franklin Delano Roosevelt, programou o “New Deal”, que buscava estimular a economia atrás de medidas estatais. Como disse Hobsbawn11, essa foi uma das maiores contradições da época: o país símbolo do capitalismo havia tomado medidas que iam contra os princípios de tal sistema. A economia de livre competição simplesmente não funcionou no período entre guerras. Assim, abriram-se portas para a significação de regimes nacionalistas, belicosos e agressivos na Europa – tais como o Fascismo, Nazismo e o Stalinismo. “Diante de problemas econômicos insolúveis e/ou uma classe operária cada vez mais revolucionária, a burguesia agora tinhade apelar para a força e a coerção, ou seja, para alguma coisa semelhante ao fascismo”. (Hobsbawn, 1995, PP.139)12. Os socialistas, por sua vez, afirmaram que esse ciclo é intrínseco à economia. Essa crise, em sua visão, revelou todas as contradições capitalistas 10 Hobsbawn, Eric. A Era dos Extremos – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 3: “Rumo ao Abismo Econômico”. 11 Hobsbawn, Eric. A Era dos Extremos – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 3: “Rumo ao Abismo Econômico”. 12 Hobsbawn, Eric. A Era dos Extremos – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 4: “A Queda do Liberalismo”. 9 que punham em risco a existência de um sistema econômico baseado em tais princípios. De uma coisa não há dúvidas: a destruição do liberalismo por meio século fez com que os aspectos sociais fossem considerados de maior importância frente aos aspectos econômicos. 10 4) Capítulo III – O Keynesianismo (3.1) – O Keynesianismo em si A recessão e o desemprego foram as principais consequências da crise de 1929. O modelo econômico adotado na época, o laissez-faire, parecia não estar resolvendo o problema, mas sim, agravando-o. Enquanto a teoria ortodoxa supunha a economia tendendo para o pleno emprego, a economia real continuava estagnada. Desse modo, John Maynard Keynes13 surgiu com uma nova teoria que rompe com a „teoria clássica‟ até então vigente. Em 1936, Keynes divulga “A teoria geral do emprego, dos juros e das moedas”, em que desenvolve suas ideias sobre a fonte da instabilidade do capitalismo. Primeiramente, Keynes atacava a posição do governo de adoção do padrão-ouro. A explicação para tal oposição era que, ao se amarrar a moeda ao valor do ouro, o governo retirava seu controle sobre o nível dos preços, já que a flutuação internacional do ouro torna-se responsável pelo balanço de pagamentos do país, determinando as tendências dos preços. A alternativa sugerida para este problema era uma política do governo de injeção e retirada de dinheiro do sistema bancário para, assim, manipular as taxas de juros, reduzindo a atividade econômica com o seu aumento e aumentando-a com a sua redução. De fato, as economias que tiveram recuperações mais rápidas da crise, como os EUA e a Grã-Bretanha, foram aquelas que primeiro abandonaram o padrão-ouro. Enquanto que aquelas que insistiram neste modelo, França e Polônia, por exemplo, demoraram mais para se recuperar. Portanto, aquele argumento do capítulo I de que a instabilidade do crédito era a principal causa das crises financeiras, começou a ser negligenciada, e começou a se aceitar que uma das causas do declínio da atividade econômica no primeiro semestre de 1930 foram os erros na política monetária, que acabamos de citar. 13 Feijó, Ricardo. “História do Pensamento Econômico” – 2ª edição – 2007 -. Capítulo 12: “Keynes e a evolução da macroeconomia” 11 A questão que, então, permaneceu foi por que o mercado não se ajustou automaticamente após a crise. Segundo Keynes14, deixaram de existir mecanismos capazes de levar a uma plena utilização dos recursos mediante a transformação automática da poupança em investimento. A não utilização dos recursos estava no fato de os capitalistas acreditarem que a taxa de retorno de um investimento viria com um alto nível de incerteza, ou seja, eram muitos arriscados, estavam sujeitos às ondas de pessimismo (que caracteriza a fase de pânico de uma crise). Nem mesmo a uma taxa de juros mínima (que garantiriam um risco menor) eles acreditavam que poderiam ganhar dinheiro. Essa era a situação real durante a Depressão. O dinheiro simplesmente se acumulava nos bancos; em pouco tempo, havia bilhões que podiam ser emprestados, mas não havia quem os quisessem, pois, nesta fase da crise, como foi descrito no capítulo I, os investidores estavam avessos ao risco, por conta do pânico15. A poupança superou o investimento e a economia ingressou em uma espiral descendente. Keynes não admitia que essa espiral fosse natural, nem que a depressão se resolvesse por si mesma ao longo do tempo. A saída era neutralizar o excesso de poupança, via gastos públicos. Ou seja, o governo não deveria apenas criar dinheiro, mas também assegurar sua aplicação e sua velocidade, gastando-o. Assim, Keynes sugeriu que poupança não é o mesmo investimento, o que foi contra o pensamento vigente até então. (3.2) – Visão alternativa ao Keynesianismo Há também, uma visão alternativa ao Keynesianismo, porém menos aceita pela sociedade. Esta visão consiste basicamente, na instabilidade do crédito (tão enfatizada no capítulo I). 14 Hall, John A. and Smith, Michael R. “The Political and Economic Consequences of Mr. Keynes”. 15 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey 12 Charles P. Kindleberger16, em seu livro, afirma que a velocidade no declínio da produção industrial era muito grande para se ter como causa somente as más políticas monetárias, e que, portanto, estes declínios seriam melhores explicados pela instabilidade do crédito, dado que os keynesianos ignoram. O acúmulo de dinheiro que ocorreu durante a crise de 29 pode ser visto, nesse caso, pela ótica da instabilidade do crédito: o volume de dinheiro aumenta, os investidores estão mais cautelosos, o mercado de ações cai, e o sistema de crédito congela, pois os declínios nos preços de muitas commodities e bens causaram mudanças nos padrões de consumo, e de empréstimos. Assim, há quem diga (por exemplo, Henry Simons17) que a Grande Depressão foi causada pela queda na confiança dos negócios, que levou a uma instabilidade do crédito, a mudanças na liquidez, que, por consequência, provocou efeitos sobre a oferta da moeda. Portanto, a causa principal da Grande Depressão seria a instabilidade dos créditos. A saída, para ele, era fazer com que nenhuma outra instituição que não fosse um banco pudesse criar substitutos próximos do dinheiro, pois ele estava preocupado com o caráter especulativo da sociedade e a facilidade com que se conseguissem empréstimos provindos sem ser de bancos. Vale ressaltar que esta teoria também vai contra o laissez-faire, pois mostra que deve sim ter um controle sob a economia. (3.3) – A mudança no curso da História do Pensamento Econômico Pode-se, então, perceber que a crise de 1929 ocasionou uma mudança no pensamento econômico vigente. O pensamento econômico anterior era, basicamente, o do laissez-faire, em que se acreditava que o mercado se autorregularia de acordo com os interesses individuais dos agentes. Porém, percebe-se que este modo de pensar ocasionou a própria crise, porque a crise, como qualquer outra crise, em parte se deu por conta dos agentes que 16 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. Capítulo: 4. 17 Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. Capítulo: 4. 13 estavam interessados em seu próprio lucro – e isto, pela doutrina do laissez- faire regularia o mercado, mas isto não ocorreu. Desde modo, uma mudança no pensamento era necessária, o que ocasionou então, no Keynesianismo (e mesmo a alternativa proposta ao Keynesianismo rejeita o laissez-faire). Porém, alguns autores, como,por exemplo, Clarence E. Ayres18, citam que nenhuma das condições da crise de 1929 era totalmente nova, portanto, porque não se consolidou o Keynesianismo antes? Outro argumento é o de que é difícil de criar uma nova teoria econômica simplesmente a partir de um acontecimento particular – como a crise. A resposta para isso seria a de que algo já havia ocorrido no pensamento econômico antes de 1930, que rendeu um público suscetível às sugestões feitas pelo Keynesianismo, pois, sem isso, a teoria não teria se proliferado. Porém, como isto passou despercebido, fica difícil de saber no que consiste este acontecimento. 18 Ayres, Clarence E. “The Impact of the Great Depression on Economic Thinking”. – University of Texas. 14 5) Conclusão Como visto anteriormente, este trabalho teve como principal objetivo relacionar a Grande Depressão com o pensamento econômico da época. John Maynard Keynes, por exemplo, tornou-se um dos maiores pensadores macroeconômicos de toda a história. Em sua teoria, ao afirmar que o Estado deveria intervir economicamente, Keynes rompeu com os valores do liberalismo clássico vigente na época até então. O “Estado do bem-estar social” foi um organismo político adotado por diversos países cujos principais objetivos eram a recuperação da crise. Assim como afirmado por Hobsbawn19, a crise de 1929 foi uma das maiores contradições do Século XX. O país símbolo do liberalismo clássico adotou medidas cujos propósitos se contradiziam com seus princípios básicos. O Estado intervencionista, voltado para obras estatais, substituiu a economia e a política liberal. De um modo geral, pode-se concluir, portanto, que a Grande Depressão mostrou, dentre outras coisas, a falibilidade do sistema capitalista. O sistema, por si só, tornou-se insustentável e sujeito a ciclos. As consequências de seu declínio, por sua vez, marcaram o período entre guerras e deram origem aos regimes totalitários e nacionalistas que viriam a seguir. O pensamento econômico sofreu relevantes modificações e o liberalismo clássico começou a ser contestado. 19 Hobsbawn, Eric. “A Era dos Extremos” – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 3: “Rumo ao Abismo Econômico”. 15 6) Referências Bibliográficas I) Kindleberger, Charles P. and Aliber, Robert Z. “Manias, Panics, and Crashes: A History of Financial Crises”. 2005. Published by John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey. II) Hobsbawn, Eric. “A Era dos Extremos” – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 3: “Rumo ao Abismo Econômico”. III) Hobsbawn, Eric. “A Era dos Extremos” – O breve século XX (1914-1991). – 1995 – 2ª Edição – capítulo 4: “A Queda do Liberalismo”. IV) Hall, John A. and Smith, Michael R. “The Political and Economic Consequences of Mr. Keynes”. V) Feijó, Ricardo. “História do Pensamento Econômico” – 2ª edição – 2007 -. Capítulo 12: “Keynes e a evolução da macroeconomia” VI) Ayres, Clarence E. “The Impact of the Great Depression on Economic Thinking”. – University of Texas 16 16
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