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Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe “A LEI” Aluno: Moacir José Outeiro Pinto Período: Direito – Turma 2012 - Noturno PARTE A – RESUMO DO TEXTO OU TEMA: “A suposta cisão entre lei e violência, constitui afirmativa falsa. O Estado de Direito, ao contrário dos Estados pré-capitalistas que o antecedem, detém o "monopólio da violência e do terror supremo" – o monopólio da Guerra” A lei, longe de constituir conceito antagônico à violência, é parte integrante da ordem repressiva e da organização da coação, exercida por todo o Estado. Por organizar o funcionamento da repressão física, constitui a lei, um verdadeiro código da violência pública organizada. Percebe-se, segundo pesquisas acerca do texto em resumo, que existem correntes que ignoram o papel da repressão física no funcionamento do Estado, considerando a vertente de que o Estado manipula o comportamento social por meios diversos da violência física, valendo-se de Leis de Dominação que se fundam na estrutura psicológica do indivíduo e da sociedade, na falsa noção de legalidade. Conceber legalidade e terror como fenômenos contrapostos é um erro, vez que a lei sempre acompanhou o exercício da violência e da repressão física. Apesar disso, entende-se que, nas sociedades modernas, o exercício do poder se baseia muito menos na violência e na repressão que nos mecanismos mais sutis, heterógenos à violência, das disciplinas. O Jurídico pode servir para representar de maneira, sem dúvida e não exaustiva, um poder essencialmente baseado na antecipação e na morte, evidenciando que os processos de poder, funcionam não para o direito, mas para a técnica, não para a lei, mas para a normalização, não para o castigo e sim para o Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe controle, e que se exercem em níveis e formas que ultrapassam o Estado e seus aparelhos. Exalta-se no texto, o caráter heterógeno, ou diverso, do direito, em relação ao aos novos processos de dominação que se verificam no Estado moderno, mecanismos tais que ultrapassam a figura do Estado, inserindo-se no contexto da própria materialidade histórica da sociedade. A interiorização da repressão é sustentada por Foucault em ser a moderna fenomenologia da dominação. No entantanto entende-se que o exercício do poder nos moldes de Foucault pressupõe uma mudança de paradigma, em lugar da técnica estatal de imposição da autoridade, pelo uso da coerção, surgindo o Estado de uma metodologia de persuasão, com vistas à manipulação social. Foucault , portanto traz uma subestimação do papel da lei e do Estado, ao menos no exercício do poder no seio das sociedades , em especial as modernas, sendo o aparato repressivo material (exército, polícia, Judiciário, etc.) apenas dispositivos retóricos, que moldam a interiorização da repressão. Afirma-se no texto que à convivência entre lei e violência é correta, mas discorda da teoria segundo a qual o Estado não se vale, primordialmente, da repressão material, física, para o alcance de suas consecuções. Segundo também o texto em estudo, a teoria de Foucault se baseia em uma concepção de poder que o toma não como resultante de uma violência física organizada, mas da manipulação ideológico-simbólica que organiza o consentimento, interiorizando a repressão. Tal tese teria origem na filosofia jurídica burguesa, que enxerga o Estado de direito como intrinsecamente associado à limitação da violência, tomando esta como oposta à lei. Surge-se, assim, uma filosofia do poder pautada em uma axiomática dupla, a noção do papel da repressão física e a concepção de que, no exercício do poder, ideologia e violência representam grandezas inversamente proporcionais. Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe Nesse sentido, o poder seria fruto de um consenso. ( Há de se saber de quem e de que? ) O desejo popular seria o elemento primordial da gênese do poder, desejo esse, por sua vez, resultante de um processo de manipulação ideológica que prescinde do uso da violência. A repressão psicológica, sob a técnica da violência simbólica, produziria uma identidade , ainda que essencialmente maculada entre as vontades de dominante e dominado, conduzindo a um consenso legitimo das relações de subordinação. A lei seria um símbolo representativo do ente carismático/tradicional, induzindo à obediência espontânea de quem a ela se sujeita. A problemática dessa concepção está no fato de que, ao lado da repressão ideológica, razões materiais, positivas, desempenham um papel decisivo na obtenção do consenso. De fato, a par da violência simbólica, vale-se o Estado da violência física, material, real, efetiva, organizada e mantida pela lei. Há uma corrente predominante na filosofia do poder, que subestima constantemente o papel da violência física aberta, afirmando a submissão dos dominados decorrer de técnicas psicológicas de manipulação, que acabam por organizar materialmente a submissão dos dominados. Isso é denominado como um processo de normalização, concebendo norma como a regra interior que decorre não da repressão material, mas da consciência da disciplina potencial. Atualmente, o poder se exerce ao mesmo tempo através desse direito e dessas técnicas. Que essas técnicas da disciplina, que esses discursos nascidos da disciplina invadam o direito. Que os procedimentos de normalização colonizem cada vez mais os procedimentos da lei, e é isso, que pode explicar o funcionamento global daquilo que pode ser chamado de sociedade de normalização. A lei teria função predominantemente simbólica, o que conduziria, com o decurso do tempo, a uma "regressão" do jurídico. A subestimação do papel da lei, é apenas um indício da subestimação do papel da violência aberta, considerada não efetiva em face do uso de diferentes técnicas de exercício do poder, como as disciplinas de normalização, mas como um conflito, Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe assim, a própria razão do uso da força. Em face do dissenso de parcela da comunidade, necessária se faz a intervenção efetiva, material, ante o fracasso dos instrumentos de repressão puramente ideológicos. Sob o peso da espada, o poder dominante se impõe sobre quem subjuga, fazendo uso efetivo do aparato material que exerce função meramente retórica no âmbito da repressão simbólica. Em verdade, por uma necessidade de natureza prática, a saber, a manutenção forçada da posição privilegiada na relação de poder, o Estado hoje, como sempre, materializa contra quem se opõe, sob a égide da ordem jurídica, não apenas uma violência simbólica, mas também violência efetiva, física, material. Diferentemente dos Estados pré-capitalistas, o Estado capitalista detém o monopólio da violência legítima. De fato, ao caráter de Estado de direito concentra a força organizada fundado em uma legitimidade racional-legal. A violência física aberta, exercida em situações de poder privado, exteriores ao Estado, é nitidamente reduzida com o advento do capitalismo, na medida em que o Estado calçado nessa doutrina político-econômica se reserva o monopólio da força física legítima. Como base hitstórica podemos lembrarque os Estados capitalistas europeus se formaram quase sempre pela pacificação de territórios devastados pelas guerras feudais. Com o poder político institucionalizado na figura de um Rei, que, contudo, detém o monopólio da violência, nas circunstâncias normais de dominação é a agressividade aberta menos utilizada do que nos Estados pré-capitalistas. A forma de exercício do poder, por vezes, se dá mediante regimes autoritários que encerram elevada violência física em sua manifestação cotidiana. Ademais, sob a forma autocrática, a repressão ideológica é aberta, o que pode produzir violência em níveis que beiram o insuportável. O terror supremo da guerra, sobre cuja viabilidade a decisão repousa exclusivamente nas mãos do detentor do poder político, revela que o poder moderno, a despeito de pautado no direito, pode funcionar para a morte, restando aos cidadãos apenas a submissão ao ato de violência imputado pelo Estado. Por fim, a exacerbação das lutas de classe, que se manifesta sob as mais diversas formas, verificada com constância no regime capitalista, revela a fragilidade do conceito que enxerga na lei o oposto à violência Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe do Estado. O que de fato a chancela da desigualdade econômica que realiza o direito no Estado capitalista nada mais é que pura violência, na medida em que considera ilegítima a busca pela igualdade material e aprova atos de exploração da pessoa humana. Há de se concluir que o poder e o domínio moderno baseado na violência física não é pura ilusão. Mesmo que essa violência não transpareça no exercício cotidiano do poder, como no passado, ela é mais do que nunca determinante. Sua monopolização pelo Estado induz a formas de domínio nas quais os múltiplos procedimentos de criação do consentimento desempenham o papel principal. A monopolização pelo Estado da violência legítima está em perfeita consonância com o ideal capitalista que encerra o poder na titularidade dos meios de produção. Com a desmilitarização dos setores privados e a concentração da força armada na pessoa do Estado, desloca-se a luta de classes de uma guerra civil permanente, com conflitos armados e periódicos, para um conflito político-ideológico estruturado em novas formas de organização social, como sindicatos, associações e partidos políticos. Nesse novo panorama, a violência física aberta é de eficiência relativa e a luta passa a ser pelo poder de Estado, uma vez que é ele quem detém o monopólio da força. A lei atua, nesse contexto, como organizadora da repressão, da violência física organizada, em função tanto negativa, quanto positiva. Além de um complexo de interditos e injunções positivas que o direito obriga em vista do poder. O Estado detém com a lei papel importante na organização da repressão, mas a esse não se limita, pois é igualmente eficaz nos dispositivos de criação dos “Mecanismos do Medo”, traduzindo assim a representação imaginária da sociedade e do poder da classe dominante. Enfim, a ação do Estado sempre ultrapassa a lei, pois o Estado pode, dentro de certos limites, modificar sua própria lei, o que se torna possível constatar a especificidade do Estado capitalista a partir do direito por ele produzido. A noção de Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe sistema axiomatizado, composto por normas abstratas e gerais, formais e estritamente regulamentadas é tipicamente capitalista, havendo razões lógicas para tanto, afinal, o Estado não é a simples figura de alguma lei eternal, seja ela imaginária de algum interdito universal ou de uma lei natural. A abstração, universalidade e formalidade do direito capitalista, que encobre a monopolização da violência legítima pelo Estado, opõe-se ao particularismo jurídico. A ideia de indivíduos formalmente livres e iguais atende às necessidades de uma doutrina segundo a qual há igualdade de oportunidades e liberdade de ação. A formalidade e abstração da lei, assim, estão em relação primeira com os fracionamentos reais do corpo social, à luz da individualização dos agentes no processo de trabalho capitalista. Em suas características capitalistas, a lei reúne os atributos capazes de constituir o quadro formal de coesão social, se mostrando como um dispositivo mais apto a preencher a principal função da ideologia do poder, produzindo o “cimento” que liga fortemente uma formação social sob a égide da classe dominante. A lei moderna, sob império do Direito natural, por sua vez, rechaça as justificativas pautadas no divino, fundamenta as diferenças da noção de saber, traduzida à luz da lei. É a lei, abstrata, formal, universal, que constitui a verdade dos sujeitos; é ela quem fornece a diretriz do pensamento científico-racional; é a lei que trava a luta contra a religião; é ela o que estabelece a diferença entre o público e o privado. É a lei, portanto, que promove a revolução capitalista do poder e do saber, condensada no trabalho intelectual da mente sobre o capital, não há saber e nem verdade nos indivíduos fora da lei. Por chancelar a divisão capitalista do trabalho, a lei promove o despojamento total dos agentes da produção de seu poder intelectual em proveito das classes dominantes e de seu Estado, a lei não permite questionamentos, acentua-se tão somente no interesse da classe dominante. Esta especificidade da lei e do sistema jurídico capitalista tem, portanto, seus fundamentos nas relações de produção e na divisão social capitalista do trabalho, ela se relaciona assim com as classes sociais e com a luta de classes, tais como Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe elas existem sob o capitalismo. “A lei do Estado moderno capitalista, portanto, não intervém contra a violência ou o terror. Funciona como organizador do exercício da violência, considerando-se a resistência de parcela da população. O Estado capitalista, valendo-se da lei como instrumento de organização da força, aprofundou o uso que dela fizeram os Estados que o antecederam, na medida em que monopolizou a violência legítima, centralizando o poder de guerra e de morte” É assim que a lei vem intervindo não contra a violência de Estado, mas por um papel organizador do exercício da violência, considerando-se a resistência das massas populares. Afinal, por parte das classes e frações dominantes, o direito como posição de limites expressa as relações de força no seio do bloco no poder. Ele se concretiza particularmente ao delimitar os campos de competência e de intervenção de diversos aparelhos onde dominam as classes e frações diferentes desse bloco. PARTE B – OPINIÃO DO ALUNO: Inicialmente, podemos realizar uma analogia didática e objetiva para delinearmos a conclusão sobre o complexo tema apresentado pelo filósofo Nicos Poulantzas, o que , com efeito podemos utilizar o mito grego clássico de Procusto, obtido junto as narraticas de Teseu: “Procusto, na mitologia grega era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, ele tinha uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, para a qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimentosuficiente. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe Procusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes. Continuou seu reinado de terror até que foi capturado pelo herói ateniense Teseu que, em sua última aventura, prendeu Procusto lateralmente em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe o mesmo suplício que infligia aos seus hóspedes”. Podemos substituir algumas palavras no relato deste mito para nos auxiliar na estrutura da opinião a que vamos apresentar: “O Direito Capitalista, no contexto de uma pragmática visão atual de mundo, é um bandido que vive no seio social das nações, seja de forma velada ou transparente. Em seu contexto servil à Classes Dominantes, fez haver leis de ferro, que serviam à reais, excusos e frios interesses, para a qual convidava toda a Classe Dominada a se servirem em direitos. Se o dominado fosse demasiadamente audaz e satisfeito, ele amputava o excesso positivo e favorecido da lei para ajustá-lo ao direito capitalista, e os que se sentiam repressivos à lei eram ideologicamente manipulados para aceitarem e realizarem seu comprimento. Qualquer dominado nunca se ajustava exatamente à lei imputada, porque o Direito Capitalista, secretamente, tinha duas leis diferentes , aquela que se ajustava aos vis interesses ou sua reformulação providente ao desejo do Estado. O Direito Capitalista continua seu reinado de terror e ainda não foi capturado pelo herói da verdade social, que exalta a franco e libertária sede de Direitos Reais…” Esta montagem perante ao mito grego merece mais considerações no ponto tecnicista da observação, pois nos leva a pensar se não é a lei capitalista tão sombria quanto o cruel assassino Procusto? Tal qual Procusto, satisfaz-se o direito às custas do sofrimento alheio? De fato, a satisfação da norma jurídica capitalista pressupõe a desigualdade econômica latente no sistema, tanto em sua estrutura quanto em seu contexto natural de aplicação. Como o assassino da mitologia grega, que, para satisfazer seu capricho, submetia um ser humano a sofrimento, quer o direito atual, a todo custo, a manutenção da ideologia que o sustenta, independentemente dos efeitos nefastos e do sofrimento real que acarrete a quem quer que seja. Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe Assim como o mito grego, onde o algoz procurava a justa medida cometida entre sujeito e objeto, quer o específico direito capitalista regulamentado ao extremo, o perfeito cometimento entre texto normativo e fato , expectativa absurda , porém real no mundo envolto ao capital dominante de hoje. Ambas as experiências resultam em injustiça, o sofrimento da vítima de Procusto, que era levada à morte por nunca se alcançar a exata medida entre o corpo e a cama e a impropriedade da decisão e cometimento calçado exclusivamente na lei, que gera injustiça ante a impossibilidade de previsão de uma multiplicidade de possibilidades fáticas. O protagonista antagônico do mito grego agia com violência quando era frustrada sua expectativa. Do mesmo modo, o direito capitalista intervém violentamente no plano dos fatos, forçando a situação de seu interesse. A "eficácia jurídica" da norma se manifesta em atos de violência, ou seja, limitação de direitos, perda de patrimônio, restrição da liberdade e, em alguns casos, a própria morte. Tal qual o agente Procusto, o direito capitalista moderno se vale de violência física, efetiva e real , não meramente da repressão ideológica ou simbólica, o que atuando de forma tanto negativa quanto positiva, a lei funciona, como organizadora da repressão, da violência física organizada. Tendo em vista os "conflitos" persistentes no corpo social, necessário se faz à lei comungar com a aplicação efetiva da coação física. O direito, assim, não intervém contra a violência ou o terror. Funciona como organizador do exercício da violência. Ciência Política com Teoria Geral do Estado (FD/UFMT) Professor Luiz Alberto Esteves Scaloppe Charge da revista Punch (1891) comparando a nova lei britânica das Oito horas de trabalho com a cama de Procusto. O uso efetivo da violência se mostra de modo acentuado no Estado capitalista, considerado mais agressivo que os precedentes, na medida em que é o primeiro a deter o monopólio da violência legítima. O denominado "Estado de direito" acumula, como nenhum outro, grande quantidade de meios de coação corporal, concentrando a força organizada. Enfim, é perfeitamente possível constatar a especificidade do Estado capitalista a partir do direito por ele produzido. A noção de sistema, composto por normas abstratas e gerais, formais e estritamente regulamentadas é tipicamente capitalista. A abstração, universalidade e formalidade do direito capitalista encobre a monopolização da violência legítima pelo Estado, opondo-se ao particularismo jurídico revelador das diferenças intersubjetivas. A formalidade e abstração da lei, assim, mostram-se em relação primeira com os fracionamentos reais do corpo social, à luz da individualização dos agentes no processo de trabalho capitalista. Cuiabá, 17/10/2012 MOACIR JOSÉ OUTEIRO PINTO RGA 201211211022
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