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Dinâmica social e gerações do direito Antes de abordar o assunto, torna- se obrigatório afirmar que a leitura do livro “A Era dos Direitos”, de Norberto Bobbio torna-se necessária aos que se pretendem à especialização mínima do assunto. É a partir das Revoluções Burguesas na Europa e Estados Unidos nos séculos XVII e XVIII, que se começa a desenvolver a concepção dos Direitos do Homem e do Cidadão. Embora os atenienses inventaram a democracia, não conheceram a ideia de Direitos do Homem e do Cidadão. A concepção grega de cidadania excluía a participação política das mulheres e convivia com a existência de um sistema escravocrata. Com o desenvolvimento dos níveis de consciência individual e coletiva, assim como, o aumento do controle efetivo da sociedade sobre o Estado, esses direitos passaram a ser garantidos em Declarações, Tratados, Constituições e outras legislações. Porém, a efetividade desses Direitos ainda depende de muitos esforços humanos, por meio de instrumentos de controle interno e externo por organismos nacionais e internacionais. Há uma distinção clara entre “Direitos do Homem” e “Direitos do Cidadão” No entanto, são eles a referência de transformação de uma ordem injusta, que desumaniza a existência das pessoas, numa ordem justa e humana. A expressão "Direitos do Homem" refere-se ao universal, ao que todo homem é e tem por direito, independentemente do país em que vive ou da forma de governo ali adotada. Na abordagem dos contratualistas (Hobbes, Rousseau e Locke), são direitos naturais do homem. Já "Direitos do Cidadão" diz respeito à relação do indivíduo com seu País. Assim, um indivíduo, em situações específicas, pode ter alguns de seus direitos de cidadão suspensos temporariamente, mas nunca perde os direitos do homem. Numa abordagem contratualista, os “Direitos do Cidadão” referem-se aos direitos civis”. (Direito Positivo) Os direitos do homem (humanos) são fundamentais. Trata-se das necessidades essenciais da pessoa, como a vida, igualdade, liberdade, alimentação, saúde e educação. São também considerados universais por serem válidos para todas as pessoas, independentemente de nacionalidade, etnia, gênero, classe social, religião, escolaridade, orientação sexual, idade etc.. Primeira Geração de Direitos Civis e Políticos Titularidade: o ser humano como indivíduo (singularidade). Objeto: a defesa da liberdade individual. Surgiram na Europa e nos EUA, no momento em que a burguesia se consolidou como classe social e liderou o questionamento ao poder absoluto da monarquia. Apesar dessa liderança da burguesia, esses direitos coincidiam com as aspirações dos setores populares em sua luta contra os privilégios da aristocracia. A primeira carta de direitos, o "Bill of Rights" foi formulada na Inglaterra do século XVII, nos desdobramentos de uma revolução que opôs os grandes comerciantes e proprietários de terras, com expressão no Parlamento, ao rei absolutista Jaime II e seus seguidores. A experiência do "Bill of Rights" inglês certamente inspirou os colonos norte-americanos que se rebelaram contra o domínio da Inglaterra em 1776. Em 1791, a Constituição Americana incorporou os direitos e as liberdades individuais nas suas dez primeiras emendas. Mas o documento-chave para a afirmação dos direitos humanos foi a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão" (clique aqui para ver o texto integral), proclamada na França, em 1789, no contexto de uma revolução contra o poder absoluto do rei e pelo fim dos privilégios do clero e da aristocracia (Primeiro e Segundo Estados). Nessa revolução, conhecida como Revolução Francesa, foi marcante a presença do Terceiro Estado, que incluía comerciantes, manufatureiros, artesãos e intelectuais, sob a liderança da burguesia. Essa declaração, votada pela Assembleia Nacional em 1789, proclamava a liberdade e a igualdade dos direitos de todos os homens, reivindicando seus direitos naturais e imprescritíveis (a liberdade, a propriedade, a segurança, a resistência à opressão). Diferentemente dos ingleses, que afirmaram direitos apenas para os nascidos no seu país, a declaração francesa proclamava os direitos do homem e do cidadão para a humanidade inteira, e por isso passaram a ser conhecidos como direitos universais. Vale ressaltar que, nas condições históricas da época, a ousadia francesa teve seus limites. A assembleia recusou a "Declaração sobre os Direitos das Mulheres", proposta em 1791 por Olympe de Gouges, uma poetisa que participou de Clubes Femininos na época da revolução. Além disso, havia escravidão nas colônias francesas, como o Haiti. Segunda Geração de Direitos Sociais Titularidade: o ser humano em uma categoria ou parte social (parcialidade). Objeto: a promoção da igualdade social. O crescimento das cidades, as difíceis condições de vida e trabalho dos operários e da população pobre e a marginalização da vida política favoreceram a organização dos operários em sindicatos, alimentados por novas ideias e novos projetos de organização da sociedade. Nesse contexto, sob a influência do pensamento socialista, o movimento sindical europeu questionou a enorme distância entre os princípios inscritos nas declarações de direitos e a dura realidade vivida pelos operários e outros segmentos da população. Nas lutas sociais, portanto, os operários passaram a reivindicar novos direitos, ocorrendo uma ampliação progressiva dos direitos do homem e do cidadão. Nessa luta, insistiam na necessidade da presença do Estado para garantir o efetivo exercício desses direitos a todos os que, por sua posição subalterna na sociedade, estavam impedidos de exercê-los. São também chamados de direitos sociais, econômicos e culturais e incluem, entre outros, o direito a trabalho, organização sindical, greve, estabilidade no emprego, segurança no trabalho, previdência social, saúde, educação gratuita e acesso à cultura e moradia. O documento que sintetiza essas preocupações e que se constitui na grande referência até hoje é a "Declaração Universal de Direitos Humanos", votada pela Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em 10 de dezembro de 1948. Terceira Geração de Direitos Coletivos e Difusos Titularidade: o ser humano como gênero humano (generalidade). Objeto: a defesa da humanidade e a promoção da solidariedade humana. A terceira classe ou geração de direitos é típica da legislação comunitária, que surgiu a partir dos meados do século XX. Estende-se a todos os indivíduos. Refere-se ao gênero humano. São direitos essencialmente sociais, em toda a sua compreensão e extensão: em toda a pureza e grandeza do conceito social. Defendem os valores humanos mais básicos, fundamentais e genéricos da sociedade humana. Na verdade se estendem difusamente a toda a sociedade humana, considerada indistintamente em sua generalidade. Daí, a razão por que lhes convém é o nome de direitos difusos. Essa objetivação foi condição, embora não causa, da conjunção da solidariedade comercial e privada com a cultural e política,ou seja, da globalização dos negócios privados com os públicos em um todo em que aqueles e estes cada vez mais se interpenetram e reciprocamente se influenciam. Essa conjunção abre crescente espaço para si mesma, dando força e eficácia à atuação de entidades que, de internacionais, se tornam supranacionais, no plano econômico (FMI, OMC, etc.), mercadológico (Mercosul, Nafta, Alca, etc.), político (ONU, OEA, etc.), cultural (UNESCO). O que culmina relativizando a soberania dos estados nacionais por tratados de defesa de direitos humanos ou de constituição de comunidades supranacionais. Esses tratados, quer para garantia de direitos humanos, quer para constituição de comunidades de nações, constituem assim, ao lado dos tratados internacionais clássicos e tradicionais, uma nova espécie de tratados. Esses tratados não se preserva a plenitude do Estado nacional, mas se lhe relativiza a soberania dentro de um inovador sistema político-jurídico supranacional. Esses direitos formam uma terceira geração: a) os direitos de solidariedade, como o direito à paz, ao desenvolvimento e à autodeterminação dos povos; b) a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado; c) a utilização do patrimônio comum da humanidade (o fundo dos mares, o espaço extra-atmosférico e a Antártida). a) os direitos de solidariedade, como o direito à paz e à autodeterminação dos povos; b) a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado; c) a utilização do patrimônio comum da humanidade (o fundo dos mares, o espaço extra-atmosférico e a Antártida). Quarta Geração de Direitos Bioética e Tecnologia Direitos de Quarta Geração são Direitos que ainda estão em fase de definição e não encontra consenso entre os “estudiosos das gerações de direitos”. Segundo alguns especialistas, os Direitos de Quarta Geração são apenas um desdobramento dos Direitos de Terceira Geração, abrangendo a vida permanente e saudável na Terra, ambiente equilibrado, o desenvolvimento sustentável, os direitos bioéticos (restrições éticas aos avanços tecnológicos). Para outros, seria o direito à participação e à Democracia direta, ou o direito ao acesso universal às novas tecnologias (direitos virtuais); entendem, também, como o reconhecimento dos direitos das mulheres (direitos sexuais e reprodutivos), ou como direito à paz. Para o jurista Paulo Bonavides, a quarta geração é institucionalização do Estado social : “São direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo”. Os direitos fundamentais estão na sua essência ligados intimamente, direita ou indiretamente, a valores à vida, à liberdade, à igualdade e à fraternidade ou solidariedade. Isto diz respeito ao princípio da dignidade humana. Textos extraídos BARROS, Sérgio Resende de. Noções sobre a Gerações do Direitos. www.srbarros.com.br/pt/nocoes-sobre-geracoes-de- direitos.cont BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Campus, 2004. ALVES, Eliana Calmon. As gerações dos direitos e as novas tendências. Direito Federal: Revista da Associação dos Juí-zes Federais do Brasil, v. 19, n. 64, p. 57-61, jul./set. 2000.
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