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Sete pontos fundamentais do Positivismo Jurídico 1- Abordagem: Direito como fato Se dissermos: "Está chovendo", trata-se de “juízo de fato”; se dissermos: “A chuva é romântica", estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, quanto ao raciocínio, proferimos um juízo de valor. Para o positivismo jurídico, o fato, para o Direito, é essencialmente jurídico, destituído de qualquer valoração. Portanto é avalorativo, isento de qualquer valor antropológico ou sociológico. 2- Definição do Direito: coação Quando Kelsen diz que o Direito é um ordenamento coercitivo, quer dizer que é composto por normas que regulam a coação. Kelsen assim reduziria, segundo crítica de Bobbio, o direito às normas, que podem ser definidas como aquelas que regulam o modo e a medida em que devem ser aplicadas as sanções. Assim as normas, para Kelsen, têm a função de limitação e punição (coação). Para Bobbio, as regras para o exercício da força são apenas aquelas ligadas à sanção, e não todas as normas. O objetivo de todo legislador, para ele, não é organizar a força, mas organizar a sociedade mediante a força. Bobbio defende que a força é um instrumento para a realização do Direito. Kelsen, ao contrário, sustenta que a força é o objeto de regulamentação jurídica. Por Direito deve-se entender não um conjunto de normas se tornam válidas através da força, mas um conjunto de normas que regulam o exercício da força numa determinada sociedade. 3- Fonte do Direito: preeminência da Lei O positivismo jurídico propugna pelo Império da Lei na sua forma expressa ou codificada. A legislação é a única fonte originária do Direito. A inclusão da jurisprudência e de doutrinas pressupõem uma abertura para jus-naturalismo, elemento de negação do positivismo jurídico. 4- Teoria da Norma: norma como comando (imperatividade) A norma jurídica contém uma ordem, um comando e é nisso que consiste a característica da imperatividade. Observa-se que esse comamando não é um conselho ou uma orientação. É uma ordem que, se não obedecida de forma voluntária, pode ser imposta pela força na forma de punição. Observa-se que esse comamando não é um conselho ou uma orientação. É uma ordem que pode ser imposta pela força ao não ser cumprida voluntariamente. Exemplo, a norma que obriga a circular pela direita não é uma indicação para os condutores, mas uma ordem cuja violação está sujeita a sanções jurídicas. 5- Teoria do ordenamento: unidade Conforme Hans Kelsen, um dos principais teóricos da hierarquia normativa, “O ordenamento jurídico não é, portanto, um sistema jurídico de normas igualmente ordenadas, colocadas lado a lado, mas um ordenamento escalonado de várias camadas de normas jurídicas” Costuma-se denominar, esta estrutura geométrica jurídica, Pirâmide de Kelsen, em sua homenagem. 5.1- Hierarquia Devido à presença de normas superiores e inferiores, o ordenamento jurídico tem estrutura hierárquica. As normas de um ordenamento são dispostas em ordem hierárquica. Obs- A superioridade de uma norma não diz respeito ao status e sim à competência. Um processo de produção jurídica é aquele que é percebido vendo a pirâmide hierárquica de cima para baixo: o processo pelo qual as normas superiores produzem as inferiores. Para Kelsen, trata-se da teoria escalonada do ordenamento jurídico, que serve para dar uma explicação da unidade de um ordenamento jurídico complexo. 5.1.1- Normas Fundamentais (hipotéticas ou pressupostas) Para Bobbio, “A produção jurídica “é a expressão de um poder (originário ou derivado), a execução é o cumprimento do dever”. (p. 51), referindo-se à essência da hierarquia das normas e, especificamente, à Norma Fundamental em Kelsen. Deste modo, as inferiores dependem das superiores. Subindo das normas inferiores àquelas que se encontram mais acima, chega-se a uma norma suprema, que não depende de nenhuma outra norma superior, e sobre a qual repousa a unidade do ordenamento. É a Norma Fundamental (não positivada). É ela que dá unidade ao ordenamento. Todas as fontes do direito podem ser remontadas essa mesma norma. Dado o poder constituinte como poder último, devemos pressupor uma norma, que atribua a ele a faculdade de produzir normas jurídicas. Essa norma é a norma fundamental, que atribui aos órgãos constitucionais poder de fixar normas válidas e impõe a todos aqueles aos quais se referem as normas constitucionais o dever de obedecê-las. É, então, atributiva e imperativa. Portanto, a Norma Fundamental não está expressa, é pressuposta para fundar o sistema normativo. Isso não significa que ela não exista: a ela nos referimos como o fundamento subentendido da legitimidade e validade de todo sistema normativo. Quando a Norma Fundamental diz que se deve obedecer ao poder originário, não deve absolutamente ser interpretada no sentido de que devemos nos submeter à violência, mas no sentido de que devemos nos submeter àqueles que tem poder coercitivo. 5.1.2- normas constitucionais É um o conjunto de normas que regulam os direitos, deveres e garantias dos cidadãos em relação ao Estado e a organização política de um país. É a Carta Magna, ou o Diploma Legal de estruturação e funcionamento do Ordenamento Jurídico de um país, ditado pelo poder originário (constituinte). Obs- As alterações da Constituição se fazem pela PEC (Projeto de Emenda Constitucional) votado pelo poder derivado. 5.1.3- Normas Complementares As Normas complementares são as que têm o propósito de explicitar, adicionar algo à Constituição. As Normas Complementares se diferencia-se, também, das ordinárias em razão do quorum para sua formação. As Ordinárias exigem apenas maioria simples de votos para ser aprovadas, enquanto as complementares exigem maioria absoluta. Para o STF, não há hierarquia entre ordinária e complementar, o que há são campos de atuação diversos. Porém o STJ acha que existe justamente por causa da diferença entre os quóruns, sendo a complementar, do ponto de vista da hierarquia, superior a ordinária. Obs - Baseia-se na regra da pirâmide de Kelsen, sobre a hierarquia das normas jurídicas). 5.1.4- normas ordinárias Norma ordinária - É o ato normativo primário, infraconstitucional, sendo aprovado mediante a votação de maioria simples (50% + 1 dos presentes). Na forma leiga, denomina-se apenas lei, fazendo-se necessária a inclusão do adjetivo ordinária para diferenciá-la da complementar e da lei delegada. A norma ordinária é positiva comum, de natureza interna, que regula as relações jurídicas de ordem privada. 5.1.5– normas regulamentares É a norma que se estabelece como base ou medida para a realização ou avaliação de algo, que é ou que age conforme regulamentado por lei. Se aplica às normas de estrutura e funcionamento dos entes públicos ou privados. No caso dos privados, ocorre quando há exigência legal. 5.1.6- Normas Privadas (particulares) São normas oriunda das relações entre privados, por meio de contratos,convenções, tratados (internacionais) etc. Referem-se àquelas que pertencem às relações autônomas e dependem de acordos bilaterais. São indispensáveis ao funcionamento de empresas, associações, sindicatos, entidades não governamentais (Ongs) etc. 5.2- Coerência Por definição, coerência é ausência de antinomias, ou seja, de elementos contraditórios. Para a solução de antinomias, Maria Helena Diniz aponta três critérios: o hierárquico, o cronológico e o de especialidade. Note-se que os critérios apontados são exatamente as regras do ordenamento que determinam a validade. 5.2.1- Critério Hierárquico Uma regra relevante para solução de antinomias é a hierarquia normativa. Uma norma, se conflitante formal ou materialmente com outra que lhe é superior, será inválida. Porque inválida, não comporá o ordenamento jurídico, eliminando- se assim a antinomia. 5.2.2- Critério Cronológico Por exemplo, uma norma presente talvez em todo ordenamento jurídico (pelo menos intrinsecamente) determina que a norma mais nova revogue a mais antiga: é o critério cronológico. Assim, se duas normas conflitam, prevalece a mais jovem, pois a anterior perdeu sua validade: é a revogação tácita já apresentada acima. 5.2.3- Critério Especificidade Da mesma forma, a especificidade da norma, a revogação expressa, a incompetência do normatizador etc. são meios de definir qual a norma que deva prevalecer em caso de antinomia. Assim o ordenamento jurídico, ao estabelecer suas regras de validade, indiretamente, cria a solução para seus conflitos internos. Exatamente porque duas normas incompatíveis e válidas não podem conviver, o ordenamento estabelece meios de retirar a validade de uma delas. 5.3- Completude O dogma da completude refere-se ao princípio de que o ordenamento jurídico seja completo para fornecer ao juiz, em cada caso, uma solução sem recorrer a elementos externos. Por alguns é considerado como um dos aspectos salientes do positivismo jurídico. A escola que, pela primeira vez na história, criticou o dogma da completude foi a Escola do Direito Livre, que defendia que o direito estatal não é completo, está cheio de lacunas. Para preenchê-las, é necessário confiar principalmente no poder criativo do juiz, na sociologia jurídica, nas necessidades e na vida social. 6- Método da Ciência Jurídica: interpretação da norma 6.1- Restritiva Trata-se da interpretação literal da norma legal (ipsis litteris) – Recomendável pelo positivismo jurídico 6.2- Extensivo Trata-se daquela que se estende o alcance legal de uma norma, permitindo que situações aparentemente alheias à norma sejam tangidas. - Não recomendável pelo positivismo jurídico 6.3- Analogia Legis e Juris No Direito, o uso do método analógico é muito recorrente. Partindo-se do princípio de semelhanças, confrontam-se dois ou mais objetos de conhecimento Como afirmou Carlos Maximiliano Pereira dos Santos (1873-1960), “A analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante”. Ressalte-se, também, a importância da distinção entre analogia legal e analogia jurídica. A primeira, analogia legis, relaciona- se diretamente à legislação. Trata-se da aplicação do princípio de igualdade interpretativa de uma norma vigente para situações semelhantes, conforme prevê a tradição romana: ubi eadem legis ratio, ibi eadem legis dispositio. Neste caso, a situação/objeto de analogia encontra acolhimento numa norma já existente. A segunda, a analogia iuris, refere-se à situação que não tem fundamentação em nenhum dispositivo normativo, implicando numa ausência completa de normas. Refere-se à situação onde não há sequer uma “(...) regra explícita nem caso análogo” (MAXIMILIANO). Neste caso, a solução prevista está no recurso a princípios ou espírito gerais. A norma a ser aplicada acaba sendo uma espécie de síntese extraída de um conjunto de normas. Em suma, ela, a norma, está posta de alguma forma no interior de determinado sistema de normas (material ou processual). Daí, esse recurso ser denominado analogia iuris. Limongi França (1927-) discorda dessa avaliação. Segundo ele, esse processo não pode ser caracterizado necessariamente de analógico. Os princípios gerais do Direito, juntamente com “(...) um preceito consagrado pela doutrina, pela jurisprudência, ou outra forma de expressão do direito (...), podem ser aplicados (...) ao caso concreto por via direta, sem a necessidade da utilização do processo analógico”. 7- Teoria da obediência: Gesetz ist Gesetz (Lei é Lei) Bobbio caracteriza o fetichismo da lei como a atitude dos juristas e juízes de se ater escrupulosamente aos códigos: o código é, para o juiz, um prontuário que lhe deve servir infalivelmente e do qual não se pode afastar. Norberto Bobbio considera três aspectos fundamentais para definir o positivismo jurídico: a) um certo modo de abordar o estudo do Direito; b) uma certa Teoria do Direito; c) uma certa Ideologia do Direito. Referências BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone, 1995. (Coleção elementos de Direito) ___________. Teoria do Ordenamento Jurídico. Brasília: UNB, 2000. FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. Tradução João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Ensino Superior). Título original: Reine rechtslehre. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do Direito. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. STF decide que lei ordinária pode revogar lei complementar. http://www.adrianopinto.adv.br/visualizar_artigo_impressa o.asp?cata=911&titulo=STF%20decide%20que%20lei%20 ordin%EF%BF%BDria%20pode%20revogar%20lei%20com plementar.